Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Agronegócio 1 TROL Agronegócio Michel Rebelo 1ª E di çã o Agronegócio 11 1 Evolução do Agronegócio O Início do Agronegócio O Que é Agronegócio? A Estratégia que levou ao Agronegócio Entendendo Agronegócio Financiamento do Agronegócio Consolidação Territorial do Agronegócio Tecnologia Agronegócio 12 Caro Aluno, Bem–vindo à primeira unidade, nela você vai estudar a origem do Agronegócio, sua importância o seus componentes. Objetivos da Unidade: Compreender como iniciou o Agronegócio; Identificar a importância de seus componentes para o desenvolvimento sustentável da atividade. Plano da Unidade: O Início do Agronegócio O que é Agronegócio? A Estratégia que levou ao Agronegócio Entendendo Agronegócio Financiamento do Agronegócio Consolidação Territorial do Agronegócio Tecnologia Bons Estudos! Agronegócio 13 O Início do Agronegócio Historicamente, a economia brasileira teve implicações sociais, políticas e culturais com fortes raízes junto ao agronegócio. Pode-se salientar que a exploração iniciou-se com a madeira, o Pau-brasil, que deu nome definitivo ao nosso país. O processo de colonização e crescimento do Brasil está ligado diretamente aos vários ciclos agroindustriais, como o da cana-de-açúcar, com grande desenvolvimento no Nordeste, o da borracha, que trouxe pujança à região amazônica no início do século, e mais recentemente o do café, que se tornou a mais importante fonte de poupança interna e o principal financiador do processo de industrialização. Na década de 30, o Brasil já era autossuficiente na forma de produzir alimentos, devido à maior mecanização e especialização da mão-de-obra na agricultura e à necessidade de uma visão sistêmica de produção e comercialização, buscando a eficácia, de forma a favorecer a relação custo/benefício do agronegócio. A melhoria das condições socioeconômicas da população brasileira, sobretudo com as novas tecnologias, diferenciou totalmente as propriedades rurais, principalmente nos últimos 50 anos. Assim, a produção brasileira de grãos vem batendo sucessivos recordes graças ao incremento das produtividades médias obtidas. Não houve um aumento considerável na área plantada, porém a tecnologia aplicada ao campo levou o Brasil a ter um aumento gradual nos índices de produtividade. Agronegócio 14 O que é Agronegócio? Segundo Toresan (2006) e Zylbersztajn (2000), a primeira definição de agronegócio partiu de dois professores de Harvard, que foram os pais do conceito (agribusiness): John H. Davis e Ray Goldberg. Usando as técnicas matriciais de insumo-produto, observaram que havia um novo sistema diferente do antigo, em gênero e espécie, o agribusiness, que seria o conjunto das operações de produção e distribuição de insumos e novas tecnologias agrícolas, da produção, do armazenamento, do transporte, do processamento e distribuição dos produtos agrícolas e seus derivados. Agronegócio é um conceito que se iniciou na década de 1980, e, para alguns autores, é um ponto de vista para a construção de uma ideologia de mudança do sistema latifundiário da agricultura capitalista. No Brasil, o sentido de latifúndio traz a imagem da exploração, do trabalho escravo e braçal, da extrema concentração da terra, do atraso político e econômico. É, portanto, um espaço que pode ser ocupado para o desenvolvimento do país com tecnologia e sustentabilidade (FERNANDES, 2005). A palavra agronegócio dá sentido à construção da imagem da agricultura, de forma moderna, agregando informação aos produtos e processos, ou, em outras palavras, agregando valor. Organizar-se é integrar informação. Informação é tecnologia. É a informação que permite agregar valor ao produto. O nosso agribusiness é considerado tipicamente um provedor de matérias primas para empresas que adicionam valor no âmbito internacional. Para que o sistema do agribusiness possa avançar como um todo, em meio a um mundo de mudanças, é preciso dispor de um sistema que possibilite obter informações em tempo real sobre todos os componentes do negócio e de sua integração. Agribusiness – Termo estrangeiro para o agronegócio. Agronegócio 15 A proposta do agronegócio é focada nos fornecedores de bens e serviços para a agricultura, os produtores rurais, os processadores, os transformadores e distribuidores e todos os envolvidos na geração e fluxo dos produtos de origem agrícola até o consumidor final. A ideia é que estes produtos possam ser apresentados ao agricultor de forma massificada, podendo ser em feiras ou stands (EMBRAPA). Projeto de implantação do desenvolvimento sustentável no plano plurianual (2000 a 2003). Outra característica do agronegócio é que ele proporcionará, a curto e médio prazo, grandes resultados, devido à troca de conhecimentos e teorias. Um evento desta natureza tem a intenção de juntar a prática secular com o estado da arte da agropecuária. Os órgãos públicos federais, estaduais e municipais têm a sua participação, questionando e sendo questionados, com o efetivo suporte dos futuros técnicos do agronegócio. Para Rufino (1999), o agronegócio se refere a produtos rurais com alta tecnologia que se utilizam das técnicas de produção intensiva, como a mecanização da terra e o uso de fertilizantes aumentando consideravelmente a produtividade. Por outro lado, os produtores que não utilizam estas técnicas modernas de produção obtêm uma baixa produtividade, porém, o resultado esperado é a produção em massa de produtos e serviços e a consequente diminuição de seu preço ao consumidor final. Contudo, não se deve pensar que o agronegócio é algo apenas para os grandes produtores rurais. Deve haver a participação dos agricultores altamente competitivos até os agricultores familiares. A principal diferença está na escala de produção, e os pequenos só sobreviverão caso participem ativamente do processo de cooperação entre diversos atores que formam a cadeia produtiva, principalmente entre os próprios agricultores familiares. É importante destacar que só resistirão os agricultores, pecuaristas e agroindustriais que se adequarem às novas exigências do mercado, o que significa incorporarem inovações tecnológicas e conhecimentos que os tornem mais competitivos. Desta forma, destaca-se a importância dos investimentos em Ciência & Tecnologia. EMBRAPA- Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Empresa de inovação tecnológica focada na geração de conhecimento e tecnologia para agropecuária brasileira. Agronegócio 16 Segundo Araújo (2005, p. 15), na atualidade os conceitos de “setor primário ou de agricultura perderam o sentido, porque deixou de ser somente rural, ou somente agrícola, ou somente primário”. A agricultura, ou o setor primário, que antes não dependia de outros setores, na visão do agronegócio passa a depender de muitos serviços, máquinas e insumos. Portanto, destacamos a pós-produção, quando se necessitam de armazéns, mercado atacadista, mercado varejista, exportação e toda a infraestrutura, tais como estradas, portos etc. O agronegócio passa a ser encarado como um sistema de elos, abrangendo itens como pesquisa, insumos, tecnologia de produção, transporte, processamento, distribuição e preço. Com relações Inter setoriais a montante e a jusante à unidade produtiva agrícola, formando o sistema do agribusiness ou agronegócio (ARAÚJO, 2005). Ainda segundo Araújo (2005), o agronegócio divide-se em três partes dentro de uma concepção de visão sistêmica: Inicialmente, os negócios agropecuários propriamente ditos (ou de "dentro da porteira") que representam os produtores rurais, sejam eles pequenos, médios ou grandes, constituídos na forma de pessoas físicas (fazendeiros ou camponeses) ou de pessoas jurídicas (empresas). Em segundo lugar, os negócios a montante (ou "dapré-porteira") em relação à agropecuária, representados pela indústria e comércio que fornecem insumos para os negócios agropecuários. Por exemplo, os fabricantes de fertilizantes, defensivos químicos, equipamentos etc. E em terceiro lugar, estão os negócios a jusante dos negócios agropecuários. São os negócios "após-porteira", aqueles negócios que compram os produtos agropecuários, os beneficiam, os transportam e os vendem para os consumidores finais, por exemplo: os frigoríficos, as fábricas de fiação, tecelagem e de roupas, os curtumes e as fábricas de calçados, os supermercados e varejistas de alimentos etc. Agronegócio 17 A Estratégia que levou ao Agronegócio Nos dias atuais há um vazio em termos de projetos nacionais, que realmente acenem com mudanças capazes de levar a uma aceleração de nosso crescimento econômico e a um salto significativo na qualidade de vida da população. Vale a pena, portanto, correr os olhos sobre um caso de sucesso resultante de visão estratégica, sacrifícios, talento e muita coragem. A saga do agronegócio brasileiro infla o orgulho nacional. Afinal, depois de muito tempo, nos damos conta de que não nos destacamos apenas pelo puro extrativismo (do ouro e pedras preciosas), pelo talento inato de nossa gente - no futebol, na música e no carnaval – ou dádivas da natureza - do sol e das praias maravilhosas. Somos imbatíveis também na produção de bens extremamente necessários para a população mundial: alimentos, madeiras, fibras e energia renovável. É verdade que nos ajudam, aqui também, o talento do brasileiro e a riqueza de nossos recursos naturais. Todavia, se dependêssemos apenas desses dois recursos estaríamos, a esta altura, importando até os alimentos de nosso cotidiano como o feijão e o arroz. Há muito tempo, esgotamos nossas terras férteis, nas quais Caminha constatou apressadamente que “em se plantando tudo dá”. Por volta de 1960, nossas melhores terras, localizadas no Sul, Sudeste e em lugares específicos de outras regiões já se mostravam incapazes de atender nossas necessidades básicas. Já havia quase trinta anos que se iniciara a grande marcha do campo para a cidade respondendo ao sinal dado primeiro por Getúlio Vargas e depois por Juscelino Kubitschek. Eram a urbanização e a industrialização que para se sustentar dependiam de crescentes quantidades de matérias-primas da agropecuária, que não podiam ser obtidas nas áreas tradicionais. A consequência foi a inflação e a carestia, que inviabilizavam o processo de desenvolvimento concebido por aqueles dois líderes e que se faziam sentir através de ininterruptos conflitos sociais. Além disso, era claro que a industrialização necessitava de divisas para viabilizar as importações de máquinas e componentes, que não se produziam internamente. Acontecia que os ramos comerciais da agropecuária – café, cacau, cana-de-açúcar, algodão e a soja mais tarde - estavam focados no mercado externo enquanto a produção de alimentos era apenas acessória. Havendo limitada disponibilidade de recursos – terra e capital – ou bem se exportava ou então se atendia à demanda interna. O setor agropecuário era estático dos pontos de vista tecnológico e empresarial. Agronegócio 18 Para romper essa inércia à estratégia concebida por Juscelino e assumida também pelos governos militares foi a partir dos anos 1960/70, um grande programa para modernizar a agropecuária e apoiar sua transmutação do Sul e do Sudeste para o Centro-Oeste e Norte do País. O principal símbolo foi a construção de Brasília lá perto do “fim do mundo”. Era novo chamamento ao povo para que marchasse para nova aventura, nova empreitada, repetindo a jornada dos Bandeirantes no século XVII. Desta feita não se tratava de extrair pedras preciosas ou capturar indígenas, mas criar raízes em terra inóspita e quase estéril. Foram paulistas, paranaenses, catarinenses e gaúchos, que deixavam para trás suas pequenas e médias propriedades na busca de progresso socioeconômico à custa de muito trabalho e sacrifício. Investimentos em infraestrutura, na formação de pesquisadores e em instituições geradoras de tecnologia foram realizados; financiamentos e preços subsidiados foram oferecidos para a agropecuária. Novas tecnologias foram criadas e outras já existentes em outros países foram adaptadas. Não há estimativas confiáveis de qual foi o montante desses investimentos. Mas foi muito dinheiro! Terá valido a pena tal sacrifício? Quais são os retornos econômicos e sociais que resultaram dessa mega transformação na economia e na sociedade brasileira? Em primeiro lugar, devemos ter em conta que a ajuda para o agronegócio e para outros setores praticamente encerrou-se em meados dos anos 1980, quando os recursos públicos se esgotaram e a onda de liberalização econômica atingiu com atraso a América Latina e o Brasil, em particular. Em 1980, as aplicações da União na agricultura correspondiam a 8% do orçamento, cifra que também vigorou em 1988. Já em 1989, a cifra caía para 2%, que se repete também em 2005. Trata-se de aplicação minúscula, tendo-se em conta que o setor agrícola corresponde a cerca de 10% do PIB nacional e o agronegócio a 30%. A pergunta que ficava era: será que o agronegócio vai parar em pé e avançar, agora que não contava mais com recursos públicos a ampará-lo? Para responder essa questão é necessário relembrar as razões pelas quais a sociedade havia investido tanto no agronegócio. Duas eram as razões básicas: alcançar um suprimento adequado de alimentos e matérias-primas para atender à crescente demanda da sociedade em pleno processo de industrialização e gerar as divisas que permitiriam as importações que esse processo demandava e que acumulara ao longo do tempo uma dívida externa que o país não tinha como quitar. Ainda no governo Sarney, o Brasil tivera de recorrer à moratória de sua dívida, que viria a ser renegociada apenas no governo de Itamar Franco. Agronegócio 19 Cabe então verificar como o agronegócio se saiu nesses dois quesitos a partir de 1989, quando se concretizou o fim da política de apoio ao agronegócio. Vejamos alguns dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A produção física de alimentos expandiu 68% enquanto a população cresceu 27%. Isso significa que a disponibilidade per capita de alimentos para os brasileiros cresceu 32%. O aumento médio de produtividade agrícola de cerca foi de 2,6% ao ano e para a pecuária em torno de 4% ao ano. Ao mesmo tempo, as exportações do agronegócio quase se quadruplicaram, acumulando mais de 360 bilhões de dólares, mais de 40% do total exportado pela economia brasileira como um todo. Isso permitiu pagar aproximadamente dois terços dos serviços da nossa dívida externa. Nos últimos 10 anos, a produção das nossas lavouras expandiu 45% enquanto os preços reais recebidos pelos produtores caíram 10% e aqueles aos consumidores 36%. Entendendo Agronegócio Pode-se dizer que o desempenho do agronegócio brasileiro está condicionado a fatores exógenos e endógenos ao setor. Os fatores exógenos têm origem tanto no exterior, frutos da evolução da economia internacional, como no próprio país, originando-se nas evoluções de caráter macroeconômico. Os fatores endógenos vinculam-se a iniciativas e eventos do próprio setor, muitas vezes em resposta aos fatores exógenos. Condicionantes macroeconômicos Entre os fatores exógenos, salientam-se as variáveis macroeconômicas brasileiras. O país optou por um controle forte do processo inflacionário através de taxas de juros tão altas quanto necessárias. Como consequência, a taxa de crescimento econômico tem sido baixa, em média. As taxas de juros altas têm também efeito sobre a taxa de câmbio, que, exceto em momentos de extrema Agronegócio 20 incerteza, tende a manter-se bastante valorizada. O dólar estável tem sido um instrumento importante para manter a inflação. Colaborapara que o câmbio mantenha-se valorizado o fechamento da economia brasileira às importações, com o que saldos comerciais cedo levam queda do valor das moedas estrangeiras no Brasil, gerando dificuldades ao seu exportador e à economia como um todo. As baixas taxas de crescimento e a moeda valorizada mantêm o mercado interno de produtos do agronegócio retraído, de sorte que esse setor tende a sofrer quedas substanciais de preços em períodos de crescimento mais acentuado. A tendência mais recente aponta para queda nos juros no Brasil, à medida que as metas de longo prazo de inflação sejam atendidas: não se pensa em buscar taxas abaixo de cerca de 4% daqui para frente. Com isso vai se viabilizando um crescimento, algo maior da economia. Economia internacional Na economia internacional, a marca tem sido um padrão bem mais elevado de crescimento e os juros bem mais baixos. Os países mais desenvolvidos, que controlam os juros, têm mantido suas taxas baixas diante de um comportamento modesto de crescimento do seu PIB. Nos países emergentes – exceto o Brasil, e mesmo nos países do terceiro mundo, o padrão de crescimento tem sido bem mais alto graças a grande liquidez proporcionada pelos países do primeiro bloco. Essa conjunção tem feito com que o mercado externo seja o motor do crescimento do agronegócio brasileiro. Na verdade o volume de comércio tem crescido substancialmente nos últimos cinco ou seis anos. Foi possível, inclusive, ao Brasil como um todo, recuperar suas contas externas, gerando superávits comerciais que há muito não se via. Essa tendência favorável do mercado externo deve permanecer nos próximos anos, se bem que mais atenuada. Vai ficando claro que o limite potencial de crescimento mundial vai sendo alcançado, pressionando os preços da energia, das matérias primas etc. Tendências inflacionárias começam a ser detectadas inclusive nos países do primeiro mundo que começam a aumentar suas taxas de juros de forma mais ou menos coordenada, fazendo com que os demais países ensaiem reação semelhante. PIB- Sigla para Produto Interno Bruto, e representa a soma, em valores monetários, de todos os bens e serviços finais produzidos em uma determinada região, durante um período determinado. Agronegócio 21 Papel do Estado Outra mudança exógena importante que teve lugar nos últimos 30 anos, relaciona-se ao papel do Estado na economia. No Brasil, na década de 1980 esgotou-se a era de crescimento econômico liderado pelo Estado, característica que vinha desde a era Vargas. Recursos de origem fiscal, dívida pública e puramente inflacionários financiavam as iniciativas do governo que tanto poderia assumir diretamente funções empresariais ou induzir tais iniciativas no setor privado. Quando o setor público atingiu dimensões vultosas, a dívida passou a custar cada vez mais caro (juros altos). A carga tributária alcançou níveis muito altos. Déficits fiscais tiveram que ser sucessivamente reduzidos. A meta de controlar a inflação limitou o uso de recursos monetários. Assim, no tocante ao agronegócio, o Estado passa a ter as funções básicas de regulador - produzindo normas e fiscalizando seu cumprimento; provedor de tecnologia e negociador externo. Seu desempenho não tem sido satisfatório nessas três frentes, como se tem visto nos problemas surgidos na área sanitária, na instabilidade dos recursos alocado à ciência e tecnologia e no pouco que se conseguiu nas questões de integração econômica. Paralelamente o Estado tem sido instado a socorrer agricultores durante crises periódicas, mas sua ação tem tido limitada eficácia, entre outras razões, pela escassez de recursos. O Estado ainda se reserva a missão de cuidar dos programas específicos dirigidos ao pequeno agricultor (agricultura familiar) e à reforma agrária. Também nessas áreas os resultados não têm sido bem avaliados. A reforma agrária tornou-se um processo infindável, sempre polêmico e fonte de conflitos graves. Quanto à agricultura de pequeno porte questiona-se a eficácia da estratégia de tratamento administrativo diferenciado como se não fizesse parte do agronegócio, envolvendo até diferentes ministérios. Agronegócio 22 Concentração e Verticalização no Agronegócio Entre os fatores endógenos, nascidos no próprio setor, que influenciam o desempenho do agronegócio, devem ser salientados os seguintes. O setor passa por forte concentração e verticalização a montante e a jusante da produção agropecuária. No varejo, os supermercados consolidaram-se, o mesmo acontecendo com a agroindústria, do que emergem mecanismos de transação que merecem ser destacados. Por um lado, os supermercados estabeleceram padrão de extrema concorrência pelos escassos recursos dos consumidores. Aumentos de preços têm sido evitados de todas as formas possíveis. Cria-se, assim, um mecanismo pelo qual aos produtores agropecuários resta a absorção dos impactos de custos de comercialização. Aumentos de produtividade são repassados aos consumidores na forma de menores preços, ficando os produtores – cujos preços tendem a decrescer à medida que a produtividade e a eficiência crescem – sem condições de capitalizar as reduções de custos que obtêm. É um sistema de transferência de renda dos produtores aos consumidores. Ao mesmo tempo, cresce em termos reais a renda da população mais pobre, abrindo novas oportunidades de consumo a serem exploradas pelo varejo em geral e pelo próprio sistema financeiro. Uma combinação de juros altos e prestações accessíveis é o instrumento para expandir o mercado em direção às camadas de menores rendas. Por outro lado, a concentração do agronegócio associa-se a ganhos de eficiência – graças à economia de escala – e à viabilização de nova tecnologia, com proveito tanto para o consumidor nacional como externamente no enfrentamento da extrema concorrência decorrente das forças da globalização. Agronegócio 23 Financiamento do Agronegócio Outro fator relaciona-se à questão do financiamento das atividades agropecuárias. Com a exaustão dos recursos públicos, essas atividades são de forma extensiva financiada pelos compradores de produtos e/ou fornecedores de insumos. A verticalização tem convertido tais atividades num mesmo modelo de negócio. Os custos desses financiamentos ligam-se aos juros da economia e crescem na proporção em que aumenta a procedência de recursos do setor privado. As crises que se sucedem sugerem que produtores agropecuários e grandes agroindústrias de processamento e de insumos e bens de capital não têm gerenciado adequadamente os riscos da atividade. Com isso, produtores voltam-se ao setor público para obter reescalonamento das dívidas como forma de amenizar os prejuízos daquelas agroindústrias e manter a normalidade no mercado de crédito, garantindo condições para que o agronegócio continue produzindo. Fica clara a necessidade de criação e adoção de procedimentos e mecanismos de gerenciamento de riscos e do fluxo de recursos financeiros do setor, inclusive da poupança do setor, reconhecidamente cíclica e o incentivo de novas linhas por parte do governo, principalmente via BNDES. Consolidação Territorial do Agronegócio A consolidação territorial do agronegócio – agricultores, pecuaristas, agroindústria de insumos e de processamento, ocupando a partir dos anos 1970 o Centro-Oeste e, a seguir, avançando para o Norte e o Nordeste do país. O modelo empresarial pressupõe escala maior – que o menor preço da terra viabiliza – uso intensivo de capital (máquinas e equipamentos) e tecnologia – que aumenta de forma cíclica, em geral marcada por sobre e sub investimentos, com os resultados conhecidos de alternância de euforia e depressão. A escala e a tecnologia elevadas são precondições para a sobrevivência na economia globalizada. Após o ciclo em que contava com forte apoio oficial, o agronegócio viu-seforçado a cuidar da eficiência como forma de competir num mercado internacional onde os concorrentes são protegidos por forte subsídio (como nos EUA) ou por Agronegócio 24 instrumentos que inibem o acesso (como na União Europeia). De certa forma é esse protecionismo que estabelece os limites de custos da produção nacional. Quanto maior o protecionismo, maiores as escalas produção, maiores os problemas de natureza social e ambiental (contaminação das águas, desmatamento etc.) tudo em nome de uma concorrência sem tréguas. Tecnologia O uso da tecnologia produziu acentuado aumento da produtividade da agropecuária nacional. Observou-se mudança marcante no padrão de crescimento: até o início dos anos 1980, a agricultura crescia predominantemente pelo aumento da área, mantendo quase constante a produtividade. Foi o período de ocupação de fronteiras tornada possível pelo domínio da tecnologia de produção em solos ácidos e pobres. O uso intensivo de insumos e mecanização financiados pelo crédito oficial abundante e barato – concentrados em poucas culturas e nos maiores produtores - permitiu uma expansão de 50% na área agrícola nos anos 1970, sem que a produtividade média crescesse. Com a passagem dessa fase, a agricultura passa a ter na produtividade a fonte de seu crescimento. A produção por unidade de área cresce quase 90% ao longo dos anos 1980 e 1990. São várias as evidências de incremento de produtividade também na produção animal: a redução na idade de abate de bovinos de corte de quatro anos para menos de 30 meses pelo melhoramento das pastagens e do manejo em geral; a produtividade na produção de leite cresceu 60% em litros por vaca em lactação; a idade de abate de frango caiu de sete para seis semanas com aumento de peso de 1/3. Entretanto, Preocupa observar uma aparente estagnação da produtividade das lavouras nos últimos anos: ainda não se sabe se é um fenômeno ocasional ou uma nova tendência que se forma. Teria se esgotado o estoque de tecnologia disponível? Ou teria havido uma conjunção desfavorável de eventos climáticos e de mercado? Agronegócio 25 E assim terminamos a nossa primeira unidade de estudos, agora você já sabe como iniciou o Agronegócio e a importância de seus componentes para o desenvolvimento sustentável da atividade. Leitura Complementar: BIALOSKORSKI NETO, S. Agronegócio Cooperativo. In: BATALHA, M.O. Gestão Agroindustrial. 2. ed, São Paulo: Ed. Atlas, 2001 GASQUES, J.G. et al. 2006. Gasto Público em Agricultura. Retrospectiva e Prioridades. MAPA, Assessoria de Gestão Estratégica. Brasília- DF. É HORA DE SE AVALIAR Não se esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo. Elas irão ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois às envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco! Agronegócio 26 Exercícios da Unidade 1 1. Como podemos definir o agrobusiness e como que ele pode avançar no cenário internacional? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 2. Quais são os custos e riscos do financiamento do Agronegócio? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 3. Qual a principal missão do estado para o desenvolvimento do Agronegócio? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ Agronegócio 27 Soja: Um dos Principais Componentes do Agronegócio Início da produção de soja no Brasil Causas da Expansão da Soja A Utilização da soja Matéria prima da agroindústria O Complexo: Soja no Brasil e a produção de Biodiesel 2 Agronegócio 28 A cultura de soja [Glycine max (L.) Merrill] teve origem no continente asiático, plantação rasteira que se desenvolvia na região do Rio Yangtse, ao longo do Rio Amarelo, na China. Ressalte-se que o plantio da soja teve inicio em 2838 anos a.C., fato que a história conta em seus pergaminhos escritos em língua arcaica. Neste período muitas plantas eram consideradas sagradas, juntamente com o trigo, o arroz, o centeio, o milheto e a soja, com cerimônia típica na época da semeadura e safra. Durante séculos e séculos a cultura só existiu na China, que a utilizava inicialmente como uma espécie selvagem. Já no século XV, a cultura foi introduzida na Europa, porém não com a finalidade de alimento, mas de ornamentação. As tentativas de produção da cultura na Europa fracassaram, devido ao clima extremamente frio da Europa, carência de informação e pouco conhecimento sobre a cultura e suas exigências. No final do século XIX, os Estados Unidos conseguiram desenvolver a plantação de soja comercialmente com a melhoria genética da cultura, e percebendo principalmente o valor do grão na alimentação e o grande valor de sua proteína. Assim, a cultura foi inserida no contexto agrícola norte americano. Objetivos da Unidade Compreender a importância da soja para o Agronegócio e identificar a seu desenvolvimento no Brasil. Plano da Unidade Início da produção de soja no Brasil Causas da Expansão da Soja A Utilização da soja Matéria prima da agroindústria O Complexo: Soja no Brasil e a produção de Biodiesel Bons estudos! Agronegócio 29 Início da produção de soja no Brasil A cultura de soja no Brasil é um fenômeno comparado à cultura da cana de açúcar e do café na época do Brasil Colônia, Império e República, porém gerando benefícios a toda a cadeia produtiva do agronegócio. No ano de 1882, a soja foi introduzida no Brasil, sendo o responsável direto pelos primeiros estudos o professor Gustavo Dutra, da Escola de Agronomia da Bahia. Por volta de 1992, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC), no Estado de São Paulo, iniciou uma série de estudos sobre a cultura. Nesta época, a soja era usada como forrageira e na rotação das culturas, onde os grãos colhidos destinavam-se à alimentação dos animais, não sendo ainda utilizado pelas indústrias oleaginosas. Segundo Bonato (1987), registra-se que a cultura de soja teve inicio no ano de 1914, no município de Santa Rosa, Rio Grande do Sul, onde a cultura encontrou condições ideais para o seu desenvolvimento. De acordo com Bonato (1987), somente a partir dos anos 40 que a cultura de soja adquiriu importância econômica, aparecendo os primeiros registros sobre a cultura de soja na estatística nacional em 1941, o Anuário Agrícola do Rio Grande do Sul informa que a área cultivada foi de 640 ha, com produção de 450 toneladas e rendimento de 700 kg/ha. No inicio da década de 1940, instalou-se a primeira indústria processadora de soja do Brasil, também na cidade de Santa Rosa, no estado do Rio Grande do Sul. Ainda de acordo com Bonato (1987), a cultura da soja encontrou condições ideais para o seu desenvolvimento,devido à similaridade das condições climáticas da região Sul do Brasil com as condições climáticas dos Estados Unidos, de onde vieram as primeiras sementes da soja. No ano de 1960, o governo brasileiro passou a subsidiar a produção do trigo, buscando autossuficiência do país nesta cultura. Porém, nesta mesma década, a soja se estabelece definitivamente como cultura no país, onde os estados da Região Sul eram os principais produtores, sendo o trigo plantado no inverno e soja no verão, com alta produtividade e novas tecnologias. Agronegócio 30 Apesar do significativo crescimento da produção no correr dos anos 60, foi na década seguinte que a soja consolidou- se como a principal cultura do agronegócio brasileiro, passando de 1,5 milhões de toneladas (1970) para mais de 15 milhões de toneladas (1979). Esse crescimento deveu-se, não apenas ao aumento da área cultivada (1,3 para 8,8 milhões de hectares), mas, também, ao expressivo incremento da produtividade (1,14 para 1,73t/ha), graças às novas tecnologias disponibilizadas aos produtores pela pesquisa brasileira. Mais de 80% do volume produzido na época ainda se concentrava nos três estados da Região Sul do Brasil. (Fonte www.cisoja.com.br) Nas décadas de 1980 e 1990, repetiu-se na região centro-oeste do Brasil o explosivo crescimento da produção ocorrido nas duas décadas anteriores na Região Sul, pois a soja é a cultura que teve expressivo crescimento nas últimas três décadas, conforme dados da Figura 3, a seguir: FIGURA 3: Produção brasileira de soja no período de 1976/77 a 2006/2007. Fonte: CONAB Da Figura 3, anterior, percebe-se a evolução temporal que a produção de soja vem batendo recordes consecutivos de grãos ano a ano, desde a safra de 1976/1977 até 2006/2007 há um aumento na produção de 485%. Atualmente o Brasil é o segundo maior exportador de soja do mundo. Agronegócio 31 A agroindústria de alimentos e a indústria química utilizam a soja dando origem a produtos e subprodutos. A proteína de soja dá origem a produtos comestíveis (ingredientes de padaria, massas, produtos de carne, cereais, misturas preparadas, bebidas, alimentação para bebês, confecções e alimentos dietéticos). É utilizado também pela indústria de adesivos e nutrientes, alimentação animal, adubos, formulador de espumas, fabricação de fibra, revestimento, papel emulsão de água para tintas. A soja integral é utilizada pela indústria de alimentos em geral, e o óleo cru se transforma em óleo refinado e lecitina, que dá origem a inúmeros outros subprodutos, e todos estes produtos e subprodutos são exportados para diversos países, conforme a Tabela 4, a seguir: TABELA 4: Exportação brasileira de soja para os principais países em toneladas. Item / destino / origem 2011 2012 2013 Soja grãos 19.890.466 19.247.689 22.435.071 China 6.101.943 5.678.005 7.157.546 Holanda 3.669.291 3.569.138 5.049.511 Espanha 1.569.663 1.542.159 2.089.359 Itália 773.353 862.255 1.344.951 Farinha de soja 390 172 1.437 França - - 1.072 Holanda - - 335 Nova Zelândia 129 103 11 Uruguai 14 14 11 Óleos de soja 2.485.987 2.517.244 2.697.054 Rep. Islâmica do Irã. 960.328 636.077 765.558 Índia 256.169 270.622 433.529 China 541.265 882.866 365.531 Holanda 32.208 59.501 150.749 Pellets de soja 13.602.158 14.485.621 14.421.679 Holanda 3.962.254 4.068.020 3.513.642 França 2.625.168 3.021.498 3.122.020 Alemanha 902.158 1.062.345 1.044.899 Tailândia 585.921 592.752 1.011.656 Fonte: CONAB Agronegócio 32 Da tabela 4, percebe-se que China, Holanda e Espanha são os maiores importadores dos produtos e subprodutos da soja brasileira. Para a China, que é o principal contribuidor para o crescimento da economia mundial, os produtos importados do Brasil são de baixos valores agregados. A China representa o terceiro mercado importador dos produtos brasileiros, porém, percebe-se que isto é de pouca relevância no mercado chinês. FIGURA 4: Produção de soja por regiões brasileira, no período de 1976/77 a 2006/2007 . Fonte: CONAB Da Figura 4, observa-se que na safra de 1976/1977, menos de 2% da produção nacional de soja era colhida no centro-oeste. Na década de 80, esse percentual passou para 20%; em 1990, já era superior a 40%, e, em 2006/2007, próximo dos 60%, com tendências a ocupar maior espaço a cada nova safra. Essa transformação promoveu o Estado do Mato Grosso, de produtor marginal à líder nacional de produção e de produtividade de soja. Agronegócio 33 Causas da Expansão da Soja No Brasil vários fatores contribuíram para a expansão da cultura da soja, como um dos principais componentes do agronegócio, para BONATO (1987) destaca-se: a. O ecossistema da região Sul do Brasil semelhante ao dos EUA, assim favoreceu a implantação da cultura de soja com melhoria na qualidade das sementes, com outras tecnologias na produção; b. O governo brasileiro incentivou a produção do trigo e soja nos anos 50, 60 e 70, no inverno plantava o trigo e no verão a soja, utilizando-se da mesma mão de obra e máquinas; c. A quebra de safra de grãos na Rússia e China nos anos 70, e a diminuição da pesca da anchova no Peru, pois o peixe era usado como farinha na fabricação de rações para animais, sendo substituído pelo farelo de soja pelos fabricantes do produto; d. A gordura animal é substituída por óleo vegetal, sendo saudável ao ser humano; e. A soja se torna um dos componentes importantes do agronegócio, gerando parque industrial para o processamento de soja, introduzindo tecnologia de máquinas e de insumos agrícolas, e principalmente com incentivos fiscais do governo para a melhoria da produção e estabelecimento de agroindústrias; f. Cultura de fácil mecanização; g. Para a produção, industrialização e comercialização das safras, surgem uma forma dinâmica e eficiente de apoio ao agricultor, às cooperativas; h. Incentivo a pesquisa da melhoria da semente de soja pelo governo federal e estadual, e principalmente pela iniciativa privada; i. Melhoria na infraestrutura básica para agilizar e facilitar a exportação, tais como: portuário, viário e comunicação; Agronegócio 34 j. Crescimento explosivo da cultura de soja na região centro-oeste do Brasil; k. O governo brasileiro concede incentivos fiscais para o aumento da área de plantação, também para o agricultor adquirir máquinas, construir silos, armazéns e a implantar agroindústrias; l. O valor da terra na região centro-oeste em comparação ao sul. A Utilização da soja A soja é um produto extremamente versátil, podendo ser decomposto em vários subprodutos, para a alimentação humana e de animais, sendo um produto industrial e de matéria-prima na agroindústria, a saber: Alimentação humana A farinha de soja está sendo muito utilizados na fabricação de pães, doces e na composição de massas, em chocolates e temperos para saladas, produtos de carne, cereais, misturas preparadas, bebidas, alimentação para bebês e alimentos dietéticos. A soja esta presente na composição de embutidos tais como: na carne de soja, linguiça e em salsichas especiais. O óleo de soja é processado em três produtos básicos, que são: a) Óleo refinado comestível: matéria-prima de margarinas, óleo de cozinha, maionese e temperos, gordura vegetal e produtosfarmacêuticos, como os repositores hormonais; b) Óleo refinado para fins não alimentares: ingrediente de velas, sabões, tintas, plásticos, lubrificantes, desinfetantes e inseticidas, além de matéria-prima para produção de biodiesel; c) Lecitina: usada em produtos químicos, cosméticos e têxteis, alguns alimentos e sorvetes. Agronegócio 35 Alimentação animal Da moagem dos grãos de soja é obtido o farelo da soja, representando a matéria prima mais usada em rações animais. A nutrição visa adequar às necessidades nutricionais, expressando o potencial produtivo do animal. O farelo de soja é um dos ingredientes da composição da ração, devendo sempre ser analisada as suas características nutricionais, sendo importante a qualidade do processamento. No caso das rações, o farelo é importante tanto pelo alto valor proteico como também por ser veículo na administração de antibióticos e vitaminas aos animais. Matéria prima da agroindústria Adesivos, espumas, conglomerados e caixas, fibras, alimento de abelhas e até para fabricação de cerveja e adubo, é utilizado o granulado da soja. A procura recente para substituir o diesel de petróleo, levou o Brasil a ser o pioneiro de uma fonte alternativa de combustível, o biodiesel de soja que foi pesquisado e testado pela EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuária), representa vantagens econômicas e ambientais, viabilizando aumento da oferta de emprego e de renda. O Complexo Soja no Brasil e a Produção de Biodisel O complexo soja brasileiro se consolidou em momentos de fortes mudanças do setor agrícola do país. Sua origem encontra-se nos primórdios da industrialização dos produtos agrícolas nacionais, mas enquanto setor estruturado, o complexo soja passa a ter esse perfil quando as atividades da sojicultura tornam-se totalmente integradas, a jusante e a montante, aos outros setores da economia. Por mais que os aspectos conjunturais tenham influenciado para que pudesse ter havido a expansão da soja em 1973, foi o tipo de produção, tanto em seus aspectos tecnológicos, quanto comerciais, que permitiu a continuação da expansão dessa atividade. Para Bertrand et al (1983:48), “um complexo é o resultado da convergência de interesses, ele ‘cria e reproduz um novo modelo de produção e de consumo”. Agronegócio 36 Cabe ressaltar, no caso brasileiro, a forte presença do Estado para levar a cabo a expansão da produção dessa oleaginosa, que em seu primeiro momento contava com políticas para favorecer a modernização da agricultura; em um segundo momento foram criadas medidas para que se pudesse agregar cada vez mais valor ao setor, tais como a taxação de exportação de grãos, com o objetivo de estimular cada vez mais a exportação de derivados. Em 1990, a participação dos produtos do complexo soja nas exportações (32%) foi superior à soma da participação dos demais produtos básicos (28,4%) (Roessing e Stolf,1997). Para explicar a evolução da cultura da soja no Brasil é necessário entender suas causas e racionalidade, a partir daí pode-se compreender como se deu o seu deslocamento em direção ao centro-norte. Dos primeiros anos de cultivo de soja em escala comercial, até a forte participação da produção brasileira no mercado internacional, a produção brasileira de soja concentrava-se na região tradicionalmente produtora, composta pelos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Em 1995, pela primeira vez a produção da Região Tradicional foi inferior a 70% do total colhido no País; em 2004 essa cifra foi de 36,0% - apenas a produção do estado de Mato Grosso é quase do mesmo tamanho da produção de toda Região Sul (www.conab.org.br). Outro elemento significativo da expansão da sojicultura, e dos setores a ela ligados, é o modo como esses agricultores se comportam com relação às suas atividades. Pode-se afirmar que existe uma racionalidade e uma dinâmica que lhes são próprias. Os sojicultores foram atores dinâmicos no processo de crescimento da produção dessa cultura no Brasil. Eles foram bastante responsivos às Políticas Públicas e ao mercado internacional. Com relação às políticas eles se modernizaram e se adequaram à demanda interna de produção de alimentos e matérias-primas para a indústria; com relação ao mercado internacional, eles passaram a fornecer produtos primários em forma de commodities. O sucesso dessa atividade tem como base maior o padrão tecnológico adotado. De acordo com Wehrmann (2000), os sojicultores apresentam um “comportamento-padrão”, “uma ‘racionalidade’ que faz com que não existam variações significativas no modo como essa atividade (tecnologia) é conduzida”. Agronegócio 37 À eficiência tecnológica pode-se acrescentar a propriedade dos meios de produção, a eficiência na gestão das atividades, que é baseada em “um cálculo de probabilidades que suponham a transformação do efeito passado em futuro esperado” (Bourdieu, 1983) e a propensão a migrar. No que tange a migração, pode-se afirmar que existiram, na história da sojicultura brasileira, dois momentos, e movimentos, de uma forte corrente de migração interna. A primeira saiu do Rio Grande do Sul em direção, principalmente, ao Paraná, segunda em direção a Região dos Cerrados do Centro-Oeste e a terceira em direção à Amazônia Legal (Duarte e Wehrmann, 2004 e Wehrmann e Duarte 2004). Essa migração interna, apesar de ter sido “organizada e encorajada pelo Estado, com vistas a explorar uma parte deserdada do território nacional” (Dollot, 1949), ela foi uma busca de oportunidade, por parte dos agricultores, para aumentar as superfícies cultivadas. O incremento da área cultivada com soja foi significativo no Brasil: em 1970 foram plantados 1.319 mil ha e, em 2004, 21.244 mil; o rendimento médio saltou de 1.211 Kg/ha para 2.340, no mesmo período. O parque de esmagamento de soja no Brasil também se consolidou rapidamente. De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (ABIOVE) em 1996, a capacidade de esmagadora do País era de 111.475 t/dia, sendo que em 2002 ela foi de 110.560 t/dia. Nota-se que em 1996 esse parque estava consolidado e no período seguinte, houve deslocamento das plantas industriais para regiões mais próximas da produção dos grãos, com fechamento das unidades pouco eficientes. O deslocamento do esmagamento para o centro-sul do País está dentro da racionalidade desses agentes, visto que ele está acompanhando o deslocamento da produção de grãos. Considerando-se as dimensões continentais do Brasil, a produção de biodiesel será fortemente favorecida por uma regionalização de sua produção, equilibrada com o consumo de diesel, ao longo do país. Após todos esses anos, o Brasil está preparado para ter o Biodiesel? O projeto do álcool será sustentável? (Vamos refletir sobre essas perguntas antes da próxima Unidade) Agronegócio 38 Leitura Complementar: PORTER, Michael E. Competição- Estratégias Competitivas Essenciais. Rio de Janeiro: Campus, 1999. PORTER, Michael. A estratégia Competitiva. Rio de Janeiro: Campus, 2006. É HORA DE SE AVALIAR! Lembre-se de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco! Agronegócio 39 Exercícios – Unidade 2 1 - Como foi o inicio da soja no Brasil? 2 - Como podemos utilizar a soja? 3 - A soja pode ser utilizada como matéria prima da agroindústria? Justifique. Agronegócio 40 Analise de Viabilidade Técnica e Econômica do Biodiesel no Brasil Biodiversidade brasileira como elemento diferencial Energia Oportunidadespara o uso dos óleos vegetais e o agronegócio Potencialidades da cultura do dendê Tópicos relevantes para proposta de um programa estratégico 3 Agronegócio 41 O petróleo foi uma das principais fontes de energia, em escala mundial, durante o século passado. Ainda hoje o é, dado que grande parte da base de expansão econômica (principalmente o desenvolvimento de novas tecnologias e as transações comerciais) em nível global é dependente de seus derivados. Essa dependência é evidente nos combustíveis obtidos a partir do petróleo, como o diesel, crucial para o transporte de cargas, a gasolina, de utilização preponderante no transporte individual, o óleo combustível, indispensável nas atividades industriais, e o GLP (gás liquefeito de petróleo), largamente utilizado na cocção de alimentos. Entretanto, como decorrência inevitável da utilização de um recurso natural não renovável – e, portanto, da perspectiva de seu esgotamento futuro –, aconteceram repentinas elevações dos preços do petróleo, que se traduziram em choques econômicos que afetaram todo o mundo, como os ocorridos em 1973 e 1979. Essa realidade afetou fortemente as contas externas brasileiras, pois cerca de 80% do petróleo utilizado era proveniente de importações. A busca por alternativas para a substituição do petróleo foi uma consequência desses fatos. Entre diversas alternativas (das quais a introdução do álcool combustível na matriz energética brasileira foi uma delas), encontra-se uma tentativa fracassada de substituição da alimentação de motores movidos a petrodiesel por óleos vegetais, cujos experimentos nacionais iniciaram-se no começo da década de 1980, com o lançamento, pelo Governo Federal, do Programa de Óleos Vegetais, conhecido como OVEG. No plano técnico, a substituição do óleo diesel tradicional por óleos vegetais “in natura”, mostrou-se inviável, porque testes aplicados aos motores demonstraram que esses óleos possuíam características desfavoráveis à sua utilização como combustível que se traduziam em prejuízos ao seu funcionamento. Isso ocorre principalmente porque o óleo vegetal puro tem composição molecular diversa do óleo diesel. Uma das alternativas para a solução desse problema foi a transesterificação, que consiste em reagir o óleo vegetal puro com um álcool (metanol ou etanol), na presença de um catalisador, de forma a se obter um composto denominado éster (metílico ou etílico). Esse composto, por ter cerca de 85% de sua composição química idêntica à do óleo diesel, teria maiores chances de substituí-lo. Agronegócio 42 As pesquisas técnicas à época constataram que o éster também causava problemas nos motores, se utilizado em forma pura como combustível. Chegou-se a apontar a possibilidade de utilizá-lo como aditivo ao diesel, em uma proporção máxima de 30%. Porém, além desses problemas, no plano econômico observou-se que o seu custo de produção era elevado demais, o que tornava proibitivo seu uso como forma de substituição ao diesel. Esse fato contribuiu para que esse projeto fosse abandonado. Na atualidade, o fator ambiental adquiriu importância não desprezível nas discussões sobre a obtenção e utilização de combustíveis. Além disso, os preços do petróleo, recentemente, apresentaram fortes altas. Isso ocorreu, em parte, pela sua escassez relativa, mas também por fatores intrínsecos a ele, envolvendo o modo como seus ofertantes e demandantes interagem no mercado mundial, bem como as suas elasticidades preço. Como exemplo, pode-se citar a situação em que se encontravam os preços em fins de 1998, quando o petróleo era negociado a US$10 o barril. Naquele momento, o consumo mundial era de 1,5 milhões de barris/dia menor que a produção (73,9MBD contra 75,4MBD). Em fins de 2002, os preços situavam-se aproximadamente em US$30 o barril, e a relação entre consumo e produção estava invertida em comparação ao quadro anterior, com o consumo superando em 1,6 milhões de barris/dia a produção (78,4 MBD contra 76,8MBD). Isso aconteceu por resultado do controle da oferta por parte da OPEP. No caso do petróleo, o que ocorre é que, no curto prazo, tanto a sua oferta como a sua demanda são inelásticas a preço. Em outras palavras, a quantidade demandada não sofre alterações significativas no curto prazo, como reação a um aumento brusco de preços, porque não é possível substituir, de imediato, equipamentos e motores que utilizem derivados de petróleo como combustíveis. Do lado da oferta, alterações na quantidade ofertada também não são imediatas porque o tempo de prospecção e operação de novos poços de petróleo varia entre 2 a 3 anos em terra e entre 5 a 8 anos na plataforma marítima. Contudo, outros fatores também exercem influência no comportamento dos preços do petróleo no mercado internacional. Impasses políticos, guerras ou mesmo ameaças de guerras, especulações, sazonalidades de consumo (principalmente pela utilização, no hemisfério norte, do petróleo com fins de aquecimento durante os meses de inverno) e, até mesmo, fatores psicológicos, envolvendo as expectativas de suprimento da demanda no médio e longo prazo. Agronegócio 43 O resultado final foi a escalada dos preços do petróleo, o que fez reaparecer a ideia da substituição de seus derivados. Ressurge, assim, a proposta da utilização de substitutos ao petrodiesel; mais especificamente, dos ésteres metílicos ou etílicos mencionados anteriormente, agora sob a denominação “biodiesel”. Objetivos da Unidade Compreender a importância da diversificação no uso de produtos agropecuários e a agregação de valor para um agronegócio competitivo, tratando em particular das oportunidades para o Brasil no uso sustentável de oleaginosas produzidas no País, com ênfase na cadeia produtiva do dendê como diferencial para um programa de produção de diesel biodegradável. Plano da Unidade Biodiversidade brasileira como elemento diferencial Energia Oportunidades para o uso dos óleos vegetais e o agronegócio Potencialidades da cultura do dendê Tópicos relevantes para proposta de um programa estratégico Bons estudos! Agronegócio 44 Biodiversidade brasileira como elemento diferencial O Brasil como País em desenvolvimento necessita organizar e otimizar recursos humanos, financeiros e materiais, buscando no desenvolvimento interdisciplinar o seu lugar na sociedade do século XXI. Um dos grandes desafios para o Brasil, voltados à área agrícola e pecuária, está centrado no aumento da produção considerando estratégias que envolvam o conceito dos territórios rurais, as diversidades edafo-climáticas regionais, sua biodiversidade e também as trocas globais no planeta para o consequente reflexo na geração de emprego e renda com garantia do equilíbrio entre oferta e demanda interna de produtos, bem como dos sistemas cooperativos para distribuição, aumento das exportações de produtos gerados no setor, além do uso diversificado dos produtos oriundos do campo. A biodiversidade brasileira é um fator diferencial no planeta e observa-se que a tendência atual é a do uso de alimentos que atuem não apenas como fonte de energia, mas que proporcionem também agregação de valor e diversificação quanto ao uso. Neste particular o Brasil tem uma enorme potencialidade e apresenta características regionais próprias com relação a sua biodiversidade, associadas a diferenças culturais e produtivas, o que projeta um quadro magnífico para o desenvolvimento de estudos nesse sentido. Aproveitando a variabilidade alimentar já existente e a enorme biodiversidade ainda não explorada, novos alimentos e produtos poderão ser desenvolvidos. O Brasil exporta atualmente grande quantidade de matéria-prima para outros países, que por sua vez as desenvolvem e comercializam com um valor bem superior. Esta vulnerabilidade pode ser equacionada com a introdução de um modelo sistêmicoque considere este desenvolvimento, ou parte dele, no próprio País. Aliado a essas vantagens derivadas da biodiversidade brasileira, a agricultura em escala familiar encontra diferenciais de sustentabilidade, ampliando seus horizontes com interfaces multifacetadas com outros setores da sociedade. Pequenas empresas geradas, com capacidade de industrializar produtos cuja matéria-prima possa ser suprida por pequenas propriedades, podem potencializar não somente o suprimento do mercado doméstico, como também mercados externos. Agronegócio 45 Energia Depois da própria força humana, a primeira fonte de energia que o homem utilizou foi o fogo. A técnica de utilização do fogo deve ter sido inventada por volta de 50000 a.C., com o uso de pedra e madeira. Entre 10000 e 5000 a.C. ocorreu a chamada Revolução Neolítica: o homem domesticou certos animais, que passaram a servir como fonte de energia; domesticou também certos vegetais, surgindo a agricultura e a possibilidade de uso da biomassa como fonte de energia (embora só com a Revolução Industrial tenha sido possível aproveitar com maior eficiência a energia dos vegetais). A utilização da força do vento, principalmente para a navegação, deve ter começado em torno do ano 2000 a.C. O aproveitamento da água, da força hidráulica para mover moinhos, iniciou-se em torno do século II a.C. A partir do ano 1000 d.C., ocorre a exploração mais intensa do carvão mineral. A partir de 1700 surgem importantes inovações, ligadas à Revolução Industrial: a invenção da máquina a vapor foi seu acontecimento mais importante no que se refere às fontes de energia. Por volta do final do século XIX, verifica-se o aparecimento da eletricidade, o desenvolvimento dos motores a gasolina ou demais derivados do petróleo e, dessa forma, um notável desenvolvimento nas explorações petrolíferas. Em meados do século anterior, surge a energia nuclear, sendo que a fissão nuclear (princípio de obtenção da energia nuclear) foi utilizada inicialmente para fins militares, durante a Segunda Guerra Mundial. Já do final do século XX, despontaram novas fontes de energia que poderão no futuro desempenhar o papel que o petróleo desempenhou até o momento: a energia solar? A energia das marés? A geotérmica? O hidrogênio? A eólica, ou a energia proveniente dos minerais? A biomassa? O desenvolvimento industrial está intimamente ligado ao desenvolvimento das fontes de energia. Pode-se dizer que há uma interdependência entre ambos, onde o progresso industrial é resultado da descoberta de novas fontes energéticas, que, por sua vez, ocorreram em consequência das necessidades da indústria e da sustentabilidade no planeta. Com efeito, as necessidades energéticas de um país são diretamente proporcionais ao seu grau de industrialização e cultura. Assim, as economias altamente industrializadas são grandes consumidoras de energia e precisam importar recursos energéticos frequentemente para suprir suas necessidades. Agronegócio 46 A enorme participação das fontes não renováveis na oferta mundial de energia coloca a sociedade diante de um desafio que foca a busca por fontes alternativas de energia. Ademais, isso não pode demorar a ocorrer, sob o risco de o mundo, literalmente, entrar em colapso, pelo menos se for mantido o atual modelo de vida, em que o petróleo tem uma importância vital. Há diversas fontes alternativas disponíveis, havendo a necessidade de um maior desenvolvimento tecnológico para que possam ser economicamente rentáveis e, consequentemente, utilizadas em maior escala. Provavelmente neste século XXI não se terá uma única fonte de energia predominante, como ocorreu no século XIX com o carvão e no século XX com o petróleo, embora muito ainda há para ser feito. Deverão coexistir várias fontes de energia, principalmente as renováveis e pouco poluidoras, e aquelas de origem biológica deverão conhecer uma maior expansão nas próximas décadas. Oportunidades para o uso dos óleos vegetais e o agronegócio Extraídos da mamona, do babaçu, do dendê, da soja, do algodão, do girassol e até mesmo do amendoim, os óleos vegetais constituem uma importante opção estratégica para a redução das importações de petróleo e óleo diesel do país. Com o efeito, suas características se prestam bem á utilização em motores do ciclo diesel, principalmente após sua transformação por craqueamento ou transesterificação. Hoje esta alternativa recebe suas primeiras sinalizações de viabilidade econômica, o que até recentemente tinha outra figura de mérito devido a seus custos elevados frente ao preço do petróleo, com uma produção nacional de escala reduzida, exigindo até mesmo importações sazonais de óleos vegetais para o atendimento de mercados domésticos mais rentáveis (usos industriais e alimentares). Porém, trata-se de uma opção de interesse estratégico, pois o óleo diesel, único derivado de petróleo sem substituto nacional adequado, é também omais consumido no país, constituindo-se no ponto de estrangulamento da estrutura de refino, além de ser importado diretamente do exterior. Agronegócio 47 No Brasil, em que pese à falta de investimentos em maior escala nas últimas décadas, a tecnologia do processo dos óleos vegetais ainda não está totalmente desenvolvida, mas as potencialidades são enormes, e algumas instituições como o CETEC - Centro Tecnológico de Minas Gerais, já efetuou com sucesso ensaios de emprego de óleos vegetais em motores (em mistura de até 30% com o óleo diesel, ou após transformação via craqueamento ou transesterificação, que é o processo para a transformação do óleo vegetal em biodiesel), como também a Embrapa - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, comprovando a viabilidade tecnológica de seu uso para fins energéticos. No biodiesel, a molécula de óleo vegetal é formada por três ésteres ligados a uma molécula de glicerina, o que faz dele um triglicídio. A transesterificação nada mais é do que a separação da glicerina do óleo vegetal. Cerca de 20% de uma molécula de óleo vegetal é formada por glicerina. A glicerina torna o óleo mais denso e viscoso. Durante o processo de transesterificação, a glicerina é removida do óleo vegetal, deixando o óleo mais fino e reduzindo a viscosidade. Para se produzir o biodiesel, os ésteres no óleo vegetal são separados da glicerina. Os ésteres são a base do biodiesel. Durante o processo, a glicerina é substituída pelo álcool, proveniente do etanol ou metanol. O etanol é menos agressivo que o metanol. Para se realizar a quebra da molécula, há necessidade de um catalisador, que pode ser o hidróxido de sódio ou hidróxido de potássio. Com a quebra, a glicerina se une a soda caustica (hidróxido de sódio) e decanta (por ser mais pesada que o biodiesel). O éster se liga ao álcool, formando o biodiesel. A reação do biodiesel ocorre entre um ácido (óleo vegetal) e duas bases (etanol e catalisador). A quantidade de catalisador usada no processo de fabricação do biodiesel irá depender do pH do óleo vegetal. O sucesso da reação depende da capacidade de medir o pH, ou mesmo, da acidez do óleo vegetal. Neste ponto reside as principais diferenças de parâmetros decorrentes da opção dos diferentes produtos disponíveis para o processo. Agronegócio 48 Potencialidades da cultura do dendê O dendê encontra significativa projeção frente às principais oleaginosas do mundo. Quando se fala em dendê, a primeira lembrança que nos vem é da cozinha baiana. Entretanto, o óleo de dendê é muito mais que isto, é a riqueza de algumas nações, como a Malásia e a Indonésia. O dendezeiro (Elaeis guineensis) é uma palmeira de origem africana, que apresenta melhor desenvolvimento em regiões tropicais, com clima quente e úmido, precipitação elevada e bem distribuída ao longo do ano. O fruto do dendê produz dois tipos de óleo: óleo de dendê ou de palma (palm oil,como é conhecido no mercado internacional), extraído da parte externa do fruto, o mesocarpo e o óleo de palmiste (palm kernel oil), extraído da semente, similar ao óleo de coco e de babaçu. O dendezeiro consta dos relatos dos primeiros navegadores, como parte integrante da paisagem e da cultura popular da África, desde o século XV. O uso do óleo de dendê data do tempo dos egípcios. O dendê foi introduzido no continente americano pelo comércio de escravos, tendo chegado ao Brasil no século XVII, na Bahia. Os primeiros plantios industriais de dendê datam do início do século passado. A África contava, em 1939, com apenas 14.000 hectares de plantações comerciais, enquanto que, desde 1935, os países do sudeste asiático (Malásia e Indonésia) já eram os primeiros exportadores mundiais de óleo de palma. No Brasil, as primeiras plantações industriais de dendê são do início dos anos 60, na Bahia, e logo após, no Pará e Amazônia. A expansão mundial da cultura do dendê foi apoiada por importante esforço de pesquisa agronômica, com um grande progresso sobre o aumento da produtividade. O aumento da produtividade do dendezeiro foi de 315% entre 1951 e 1991, tomando por base as produções obtidas nas primeiras plantações (com variedades do tipo Dura). Esse aumento de produção vem tanto da melhor eficiência no uso de fertilizantes, quanto do espetacular progresso do potencial genético das sementes do dendezeiro, atualmente produzidas. Entre as oleaginosas cultivadas, o dendezeiro é a planta que apresenta a maior produtividade de óleo por área cultivada, produzindo, em média, 10 vezes mais óleo do que a soja. Em condições ecológicas mais favoráveis, chega a produzir 8 toneladas de óleo por hectare no ano. Agronegócio 49 Sendo uma planta perene e de grande porte, o dendê, quando adulto, oferece perfeito recobrimento do solo, podendo ser considerado um sistema de aceitável estabilidade ecológica e de baixos impactos negativos ao ambiente. A produção da planta inicia 3 anos após o plantio e sua produção é distribuída ao longo do ano, por mais de 25 anos consecutivos, sendo considerada como excelente atividade para a geração de emprego permanente e de boa qualidade. O óleo de palma ou dendê ocupa hoje o 2° lugar em produção mundial de óleos e ácidos graxos, devendo ultrapassar a soja já nos próximos anos. Graças ao seu baixo custo de produção, boa qualidade e ampla utilização, o óleo de palma é um dos mais requeridos como matéria-prima para diferentes segmentos nas indústrias de óleo químico, farmacêuticas, de sabões e cosméticos. Seu uso principal é na alimentação humana, responsável pela absorção de 80% da produção mundial, na fabricação de margarinas, gorduras sólidas, óleo de cozinha, maionese, panificação, leite e chocolate artificiais e tantos outros produtos da indústria alimentícia e para fritura industrial. Entretanto, é o dendê que se destaca entre as opções de oleaginosas disponíveis no País, com enorme potencial para a indústria do biodiesel, o diesel biodegradável. Tópicos relevantes para proposta de um programa estratégico Um programa sustentável economicamente deve considerar os aspectos do uso de tecnologia para reduzir custos, envolvendo desde a matéria prima até os processos de produção. A matéria prima é a responsável por 60% dos custos do processo. Assim, um plano estratégico para o segmento deve considerar aspectos como: Melhoramento de oleaginosas (dendê), visando especificamente o óleo; Melhorar a seleção de variedades; Desenvolvimento do Processo de colheita, inclusive a mecanizada; Desenvolvimento do processo de cultivo e extração; Estabelecimento de um plano de negócios para os territórios rurais, regiões e País; Agronegócio 50 Estabelecimento de um programa específico de transferência de tecnologia Com foco nos territórios rurais e propriedades de economia familiar; Estabelecimento de um programa de formação de recursos humanos e Organização de equipes multi institucionais para a elaboração de um projeto Estruturante para o País; Análise de novos processos de transesterificação com vistas à redução nos Subprodutos e custos de separação; Apoio ao desenvolvimento da química do glicerol e uso dos sub-produtos; Apoio ao desenvolvimento de processos baseados na conversão Catalítica sem produção de subprodutos, principalmente para uso na escala Da agricultura familiar; Apoio ao desenvolvimento de rota etílica para maiores reduções do Dióxido de Carbono, o que contribui no processo de redução do efeito estufa no planeta; Organização de uma rede de novas empresas para a produção do biodiesel; Adequar o biodiesel de dendê para uso comercial; Fomentar políticas públicas para homologar o biodiesel de dendê no Brasil. Até que ponto você como administrador investiria no Biodiesel? O projeto é sustentável e viável? Agronegócio 51 Leitura Complementar: PORTER, Michael E. Competição- Estratégias Competitivas Essenciais. Rio de Janeiro: Ed. Campus, 1999. Desenvolvimento de processo para conversão catalítica de óleo vegetal em óleo diesel vegetal, José Roberto Rodrigues Peres, Embrapa e Universidade de Brasília, Relatório Interno e Catalogo, , 2002. É HORA DE SE AVALIAR! Lembre-se de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois às envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco! Agronegócio 52 Exercícios – Unidade 3 1 - Qual a potencialidade da cultura do dendê? 2 - Qual a importância da utilização de energia alternativa? 3 - Quais os benefícios ambientais do Biodiesel? Agronegócio 53 4 Complexo Agroindustrial Agronegócio 54 O conceito de complexo agroindustrial seja mais bem compreendido, convém oferecer alguns dados que expressam, entre outros, principalmente a evolução da produção e dos investimentos do complexo, em uma economia desenvolvida. A qualificação do complexo tem como único objetivo aprofundar a teoria sobre o mesmo, explicitando alguns aspectos estruturais que orientem a reflexão. Não mostra preocupação direta com a situação atual da economia, mas procura selecionar alguns dados quantitativos, úteis para a compreensão de conceito “complexo agroindustrial” e de seu significado dentro do setor rural e da economia. Recomenda-se a busca de dados sobre o complexo para uma análise somente intersetorial, baseado na matriz insumo-produto que detalha todas as compras e vendas do setor. A revisão teórica do fenômeno agroindustrial não acompanhou a realidade em toda sua complexidade. O termo “agricultura” era aplicado indistintamente a uma agricultura de subsistência e a uma agricultura no contexto da economia desenvolvida, sem que a confusão de conceitos criasse problema especial para a teoria econômica. Foram profissionais da área administrativa que alertaram sobre a confusão de conceitos existentes, ao ser utilizado o termo “agricultura” e criaram o termo “agribusiness”, que é o mesmo conceito de agricultura em uma economia de subsistência aplicado a uma economia desenvolvida. “agribusiness” é, portanto, uma única “Unidade Ativa”, que expressa todo conjunto de operações de um agricultor de subsistência que hoje são realizados por diversos setores especializados. Segundo Araújo, Wedekin, Pinazza (1990), a propriedade agrícola mudou sua atividade de subsistência para uma operação comercial, em que os agricultores consomem ,cada vez menos, o que produzem. O moderno agricultor é um especialista, confinado às operações de cultivo e criação. Por outro lado, as funçõesde armazenar, processar e distribuir alimento e fibra vão se transferindo, em larga escala, para organizações além da fazenda. Essas organizações transformaram-se em operações altamente especializadas. Criou-se um novo arranjo de funções fora, e a montante, da fazenda: a produção de insumos agrícolas e fatores de produção, incluindo máquinas e implementos, tratores, combustíveis, fertilizantes, suplementos para ração, vacinas e Agronegócio 55 medicamentos, sementes melhoradas, inseticidas, herbicidas, fungicidas e muitos itens mais, além de serviços bancários, técnicos de pesquisa e informação. A jusante da fazenda formou-se complexas estruturas e armazenamento, transporte, processamento, industrialização e distribuição ainda mais formidáveis. Atualmente os complexos agroindustriais brasileiros desempenham uma significativa importância na economia do país, referindo-se a todas as instituições que desenvolvem atividades, no processo de produção, elaboração e distribuição dos produtos da agricultura e pecuária, Envolvendo desde a produção e fornecimento de recursos, até que o produto final chegue às mãos dos consumidores. Entre as instituições que constituem o CAI, incluem-se, além daquelas diretamente envolvidas no processo, aquelas de apoio indireto à realização das atividades na tomada de decisões, como o governo e suas políticas e o sistema financeiro e de crédito. Müller (1982) afirma que em face da massa de necessidades e interesses de corte industrial que perpassa todos os setores do complexo agroindustrial, pode-se asseverar que a industrialização dos mesmos é a tendência predominante. Esta evidencia que as características dessa industrialização regularão a expansão ou o bloqueio dos setores industriais e agrícolas. Szmrecsányi (1983) sugere um esquema de análise do setor agropecuário que permite melhor captar suas transformações estruturais e qualitativas. Nas palavras desse autor; o setor deixa de constituir um compartimento semiautônomo e fechado, para tornar-se um sistema aberto e integrado aos setores que lhes são complementares no contexto da encomia como um todo. Objetivos da Unidade Esta unidade se situa no âmbito dos estudos de estruturas econômicas baseados na ótica dos Complexos Agroindustriais (CAI’s). A definição de complexo agroindustrial pode ser feita considerando-o como “conjunto de todas as operações que englobam a produção e distribuição dos insumos rurais, as operações em nível de exploração rural; e o armazenamento, processamento e distribuição dos produtos agrícolas e de seus subprodutos”. Agronegócio 56 O objetivo desta unidade é contribuir na linha teórica, mostrando uma visão de conjunto, baseada em uma análise do desempenho da agricultura nas últimas décadas, tendo em vista, especialmente, uma avaliação do impacto da formação dos CAI’s. Procurou-se ao longo do texto trabalhar as análises mais atualizadas do processo de “caificação” da economia agrícola, fazendo um paralelo entre a sua ocorrência e o desempenho da agricultura no período analisado. Plano da Unidade Complexo Agroindustrial ( Definição e seus setores). Complexo agroindustrial no Brasil. O setor de insumos e bens de produção para a agricultura. Distribuição. Cadeia de Produção. Sistema agroindustrial. Conclusões e Perspectivas. Bons estudos! Conceito de Serviços Conceito de Serviços Agronegócio 57 Setores do Complexo Agroindustrial Desse modo, o complexo agroindustrial é formado pelos seguintes setores (figura 1): produção agropecuária: engloba os vários tipos de cultivo e criações. ¾ instituições: envolve os vários serviços prestados ao setor agropecuário (crédito, assistência técnica, extensão, pesquisa etc.). indústria de insumos: abrange os ramos industriais e comerciais que se orientam para o atendimento das necessidades produtivas agropecuárias (corretivos, fertilizantes, defensivos, implementos, equipamentos etc.). comercialização: diz respeito aos serviços de estocagem e comercialização dos produtos agropecuários (cooperativas, atacadistas, varejistas, redes de comercialização etc.). indústria de processamento: inclui os ramos industriais com produção predominantemente baseada em matérias-primas de origem agropecuária. Figura 1: Esquema do Complexo Agroindustrial Fonte: SZMRECSÁNYI, 1983. Agronegócio 58 Cabe ressaltar que as articulações mostradas no esquema não se aplicam igualmente para os vários produtos agropecuários. No caso do feijão no Brasil, por exemplo, o produto não sofre nenhum processamento industrial, sendo encaminhado diretamente para os canais de comercialização. Por outro lado, é bom lembrar que a inserção de um particular produto dentro do complexo agroindustrial pode se alterar com o decorrer do tempo. Utilizando-se o mesmo produto como exemplo e ainda para o caso brasileiro, se o consumidor se habituar (ou for habituado) em algum momento a fazer uso de feijão enlatado, a inserção desse produto no complexo agroindustrial será outra. Ainda mais, um produto como tomate, que atualmente apresenta dois caminhos dentro do esquema, conforme seja processado ou não, talvez, no futuro, seja consumido fundamentalmente como produto transformado, deslocando a produção do tomate de mesa. Ao centrar-se à análise na relação entre a agricultura e a indústria de transformação ou agroindústria, nota-se que as formas de relacionamento podem adquirir diferentes conotações, conforme o produto considerado e o tipo de produtor agrícola envolvido. Guimarães (1979) enfatiza que os setores a jusante da agricultura impõe, à sua maneira, as quantidades e tipos de produtos mais conformes às exigências de transformação industrial. Sorj (1980) caracteriza essa necessidade da agroindústria de garantir o seu processo produtivo, quando afirma que a indústria de processamento apoia a modernização da agricultura pela necessidade de assegurar uma oferta estável e crescente de produtos com qualidade homogênea. Aponta dois fatores básicos para o funcionamento do processo produtivo na agroindústria: regularidade e qualidade adequada da matéria-prima de origem agropecuária. Contudo, não qualifica as condições em que se dá ou não a modernização. Não é a partir do simples apoio ou imposição que se pode inferir uma casualidade linear entre a existência de relação com indústria de processamento e a modernização tecnológica do produtor agropecuário. Agronegócio 59 Complexo agroindustrial no Brasil Segundo Araújo, Wedekin e Pinazza (1990), nas últimas décadas, houve profundas mudanças estruturais na agricultura brasileira. As mais significativas se operaram na produção. O chamado “setor de subsistência” perdeu muito em grandeza e significado; a agricultura de mercado se expandiu. Integrou-se progressivamente com os demais setores da economia. Da indústria passou a demandar fertilizantes químicos, máquinas e implementos e os serviços daí decorrentes. Também a sua produção orientou-se cada vez mais, ao mercado além da fronteira da fazenda. Os produtos da agropecuária passaram a ter uma demanda crescente por parte dos demais setores da economia, principalmente da agroindústria, antes de atingir o consumidor final. Excluídas algumas regiões ainda de extrema pobreza em que se pratica uma agricultura de subsistência, a agropecuária brasileira está hoje integrada com os demais setores da economia brasileira. Os setores da agropecuária e da agroindústria têm grande importância na geração de emprego no país. O emprego do CAI está dividido nas atividades “antes da agricultura” (nas indústrias mecânicas, químicas, de transporte, etc.), no setor rural e nos setores de processamento e distribuição de produtos agropecuários e seus derivados. O país ocupa posições importantes no “ranking” mundial de
Compartilhar