Buscar

Multimistura: Limitações e Riscos

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Multimistura - Parecer do Departamento Científico de Nutrologia da Sociedade Brasileira 
de Pediatria 
O Departamento Científico de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria apresenta, desde 1995, posição 
contrária à utilização da multimistura em crianças devido às limitações abaixo expostas: 
1. Limitações do ponto de vista nutricional: elevado conteúdo de ácido fítico (5 a 6% no farelo de arroz) – o 
ácido fítico é um forte agente quelante dos cátions mono e divalentes, com os quais forma complexos 
insolúveis nos alimentos, em condições de pH fisiológico. Muitos estudos mostram a relação inversa que 
existe entre o ácido e absorção de minerais, como zinco, cálcio, magnésio e ferro. A baixa biodisponibilidade 
dos minerais, como o ferro, explica a ausência de impacto da utilização da multimistura na redução dos 
índices de anemia carencial ferropriva. 
2. Limitações toxicológicas e antinutricionais: más condições sanitárias, alto grau de contaminação (coliformes 
fecais, Bacillus cereus etc), presença de aflatoxina (composto carcinogênico e altamente resistente à 
destruição pelo calor e tostagem), presença de glicosídeos cianogênicos (folha da mandioca), alta 
concentração de nitratos nas folhas, que na presença do pH gástrico convertem-se em nitritos, que são 
agentes carcinogênicos. 
3. Estudos em animais de experimentação não revelam benefícios com a utilização da multimistura no combate 
às carências nutricionais: a) Martins Bion F, Pessoa DCNP, Lapa MAG, Siqueira Campos FAC, Antunes 
NLM, Lopes SML. Uso de uma multimistura como suplementação alimentar: estudo em raros. Arch Latinoam 
Nutr 1997; 47: 242-7; b) Boaventura GT, Chiappini CCJ, Fernandes NRA, Oliveira EM. Avaliação da 
qualidade protéica de uma dieta estabelecida em Quissamã, Rio de Janeiro, adicionada ou não de 
multimistura e de pó de folha de mandioca. RevNutr, Campinas 2000; 13: 201-9; c) 
4. Estudos epidemiológicos e ensaios clínicos atuais que não mostram benefícios nutricionais com o uso da 
multimistura: a)Oliveira SMS, Costa MJC, Rivera MAM, Santos LMP, Ribeiro MLC, Soares GSF, Asciutti LS, 
Costa SFG. Impacto da multimistura no estado nutricional de pré-escolares matriculados em creches. Ver 
Nutr 2006; 19: 169-76; b) Gigante DP, Buchweitz M, Helbig E, Almeida AS, Araújo CL, Neuman NA, Victora 
C. Ensaio randomizado sobre o impacto da multimistura no estado nutricional de crianças atendidas em 
escolas de educação infantil. J Pediatr (Rio J) 2007; 83: 363-9; c) Sant’Ana LFR, Cruz ACRF, Franceschini 
SCC, Costa NMB. Efeito de uma multimistura alimentar no estado nutricional relativo ao ferro em pré-
escolares. Rev Nutr 2006; 19:445-54. 
5. Questionamento ético: qualquer programa de intervenção nutricional, especialmente em larga escala em 
crianças, só deveria ocorrer após clara demonstração de eficácia e segurança da multimistura, o que, a 
nosso ver inexiste. 
Tendo em vista o exposto, e ainda a necessidade garantida por legislação própria quanto ao controle de qualidade de 
produtos destinados à alimentação humana, consideramos inapropriada a utilização da multimistura em programas de 
alimentação infantil e combate às carências nutricionais em larga escala, especialmente em programas emergenciais 
de combate à fome, que não devem ser baseados na utilização de sub-produtos industriais sem evidências de 
benefícios e com eficácia e segurança duvidosas, pelo simples fato de serem de baixo custo 
Roseli Oselka Saccardo Sarni 
Presidente do DC de Nutrologia 
Sociedade Brasileira de Pediatria

Outros materiais