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NEGOCIAÇÃO INTERNACIONAL E SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS AULA 2 Prof. Leonardo Mèrcher 2 CONVERSA INICIAL Teorias da negociação Conhecer algumas das principais teorias que tratam da ação de negociar é importante por favorecer a criação e as escolhas estratégicas futuras. A função das teorias é de explicar a realidade e nada melhor do que compreender a negociação por análises já aplicadas empiricamente. De modo geral, as teorias tratadas nesta aula são: Teoria da Escolha Racional, Teoria de Mercado, Teorias comportamentalistas, Método de Harvard e Teoria dos Jogos de Dois Níveis. É importante saber que muitas outras teorias podem ser aplicadas no processo de negociação, mas daremos enfoque às principais teorias que também se aproximam de dinâmicas internacionais. Como buscamos compreender tanto a negociação pública (Estado e suas instituições) como a privada (empresas e demais grupos de capital privado), essas perspectivas são apresentadas em sua forma reduzida, com o intuito de serem aplicadas ao processo de negociação. Recomendamos que para maiores informações busquem artigos e livros científicos que tratem da epistemologia de suas origens, funções e aplicações em demais áreas. Esperamos que essa introdução possa auxiliar em sua formação profissional no âmbito da negociação. Portanto, os objetivos gerais em sua aprendizagem nesse momento são: identificar e compreender as principais perspectivas teóricas sobre negociação, identificar e compreender métodos recorrentes de negociação e compreender a importância do planejamento inicial para a negociação. Bons estudos! TEMA 1 – TEORIA DA ESCOLHA RACIONAL A Teoria da Escolha Racional parte do princípio que os indivíduos tomam decisões baseados na lógica do melhor ganho. Em coletivos, seria a soma dos interesses individuais que determinará o resultado final da negociação. Isso se dá porque os indivíduos, de modo geral, têm preferências que definem suas escolhas. Um gato talvez escolha entre duas notas distintas de dinheiro (2 e 100 reais, por exemplo) por critérios aleatórios. Já um adulto tende a escolher a nota que valha mais em capacidade de compra. Por isso, afirmamos que as escolhas 3 humanas são racionais e lógicas, ou seja, são fáceis de identificar padrões de escolhas mesmo entre indivíduos tão diferentes. Quando um indivíduo representa Estados ou empresas, o lado pessoal (as preferências pessoais) pode “falar mais alto” na negociação – sobretudo se não perceber punições ao retornar ao Estado/empresa sem cumprir com o interesse inicial. Isso se deve ao fato de o indivíduo racional levar em conta informações disponíveis, probabilidades de eventos e potenciais custos na escolha do melhor resultado para si. Se obter bons resultados para a empresa, terá bons resultados profissionalmente (aumento de salários, promoções, reconhecimentos etc.). Sendo assim, o indivíduo deve ser esforçar para alcançá-los. Contudo, se esse esforço agradar a empresa, mas não melhorar a situação do sujeito (por exemplo, se estiver em aviso-prévio de demissão) pode ser que os interesses pessoais na negociação “falem mais alto” do que o receio sobre a reação da empresa a qual representa. Por isso, essa teoria tenta prever ações por meios estatísticos e matemáticos de escolhas, favorecendo estratégias de negociações, tanto das partes envolvidas (instituições) como dos próprios negociadores enquanto indivíduos. TEMA 2 – TEORIA DE MERCADO Como grande conjunto de pensamentos, as perspectivas teóricas de mercado explicam os interesses dos negociadores de acordo com as dinâmicas de suas empresas nos indicadores econômicos, de finanças e do comércio. O mercado determinaria as escolhas das empresas que, por sua vez, determinariam o comportamento de seus negociadores. Se o mercado está favorável para a internacionalização, por exemplo, as empresas serão levadas a isso pela demanda externa e, automaticamente, os funcionários passarão a lidar com essa demanda buscando a internacionalização. Outro exemplo é o de uma empresa que tende a buscar a melhor posição na logística de seu mercado internacional, movendo-se para cidades portuárias ou grandes centros financeiros quase que de forma natural. As dinâmicas do mercado empurrariam as empresas e seus funcionários a tomar certas decisões, inclusive nas negociações. Portanto, mais do que conhecer os negociadores é preciso conhecer também o mercado e como as partes (empresas em negociação) se inserem nas 4 dinâmicas presentes e futuras de mercado. De modo geral, essa teoria entende a negociação como reflexo das dinâmicas de mercado e necessidades das empresas/nações diante desse cenário – e menos das dinâmicas dos indivíduos na mesa de negociação. TEMA 3 – TEORIAS COMPORTAMENTALISTAS As teorias comportamentalistas se baseiam no comportamento dos indivíduos. O comportamentalismo busca compreender a cognição, o psicológico e o emocional dos envolvidos, assim como na Teoria da Escolha Racional. Algumas explicações, por exemplo, advêm do conceito de network (rede de contatos profissionais) em que o negociador levará em consideração a sua relação com os demais, favorecendo ou prejudicando negociações como da internacionalização. Essa situação pode ser vista na Escola de Uppsala (ou Escola Nórdica sobre internacionalização). Já outras perspectivas comportamentalistas vão se preocupar com a formação e o conhecimento pessoal do indivíduo negociador. A negociação é mais resultado dos indivíduos negociadores do que do mercado e das empresas envolvidas. Isso se deve ao fato de a própria estratégia e os interesses empresariais serem elaborados por indivíduos. Dessa forma, as teorias comportamentalistas também apontam para redes de indivíduos decisores. Para negociar bem é preciso saber quem decide dentro das partes as estratégias de negociação. Negociador chefe, gestores e até indivíduos que não estão presentes na sala de negociação podem ser peças-chave para entender toda a dinâmica e reelaborar a estratégia de negociação. Dessa forma, as empresas seriam o reflexo de seus gestores – e não os gestores os reflexos apenas do mercado. TEMA 4 – MÉTODO DE HARVARD DE NEGOCIAÇÃO A Harvard Business School (EUA), por meio de seus pesquisadores, desenvolveu conceitos e estratégias de negociação para se alcançar o ‘SIM’ como resultado positivo. Além de identificar tipos de negociações (suave ou dura), Harvard traz seis critérios: I. Entenda as emoções da outra parte, como ética e preconceitos; II. Entenda o seu ‘oponente’ com cautela e não ignore seus interesses; 5 III. Transforme seu oponente em aliado, não discuta, alinhem-se; IV. Use exemplos de acordos já firmados para dar segurança; V. Adapte suas palavras e frases ao outro, repita e parafraseie o outro como demonstração de atenção e de que se importa com o tema; VI. Tenha um ‘Plano B’, dentro do melhor e do pior cenário; Esses critérios giram em torno da compreensão principal de Harvard que é a de que em uma negociação o negociador deve ir preparado para lidar com pessoas e com a dimensão interpessoal, evitando desgastar as partes. É importante ressaltar ainda que esses métodos não são os únicos da negociação internacional, mas são muito utilizados e podem auxiliar inicialmente na prática de futuros negociadores a organizar a agenda estratégica. TEMA 5 – TEORIA DOS JOGOS DE DOIS NÍVEIS Sabemos que a negociação nem sempre ocorre em uma única frente. Enquanto estamos na mesa de negociação devemos lembrar do que nossos chefes pediram, da opinião dos nossos colegas de trabalho e, em casos públicos, da opinião pública e dos nossos aliados políticos. Em negociações empresariais ou nacionais precisamos nos preocupar tanto com a mesa e as partes na negociação como com os interesses e reflexos dos resultados nocampo que representamos (empresa/nação). Segundo essa teoria, trabalhada por Putnam (2010), existiriam dois níveis de negociação (I e II), bem como o tabuleiro doméstico e o internacional. O primeiro nível seria a negociação principal (a mesa com as partes), enquanto que o segundo nível seria a negociação secundária (com nosso grupo e instituição). Já o cenário doméstico e internacional são importantes para marcar que nem sempre as regras e possibilidades em uma negociação no internacional são iguais às do cenário doméstico. Adaptando para nosso conteúdo, é possível dizer que existe a negociação principal, mas também a que foi ou será tratada quando voltarmos para nossa empresa ou nação. Mais do que ganhar uma mesa de negociação, é importante garantir resultados positivos em todas as frentes de negociação. Por isso, damos conta de que diversas negociações ocorrem simultaneamente à mesa principal. Podemos até mencionar a negociação que nós traçamos em relação à ética 6 empresarial, moral pessoal e preferências se usarmos a Teoria da Escolha Racional. NA PRÁTICA Como exercício para fixar o conteúdo, tente explicar como ocorrem as negociações em sua família ou círculo de amizades. I. Crie e observe uma negociação, que pode ser sobre compras ou permissões para sair ou visitar um determinado local ou estabelecimento comercial. II. Identifique o perfil das partes envolvidas e como elas apresentam seus argumentos (se concordam, pergunte por que concordaram tão rápido); III. Escolha uma teoria de negociação para compreender as estratégias usadas pelas partes para defenderem e justificarem as escolhas e registre o processo de análise. Com essa prática esperamos que desenvolva sua percepção analítica e possa identificar as principais ideias teóricas vistas na mesa de uma negociação. FINALIZANDO Vimos que as teorias de negociação nos auxiliam a entender o comportamento dos negociadores e suas estratégias. Vimos também que elas podem ser tanto comportamentais quanto advindas do mercado. Além disso, pudemos compreender o método de Harvard, configurado em 6 princípios estratégicos para se praticar em uma mesa de negociação. Muitas outras perspectivas teóricas sobre negociação e negociação internacional existem, mas agora você pôde conhecer as mais utilizadas na disciplina. Maiores dúvidas busque ler artigos científicos e materiais complementares que possam contribuir em sua formação profissional. Até breve! 7 REFERÊNCIAS BOFF, R. Negociação: técnicas para obtenção de resultados. Interlink, v. 2, n. 2, jul./dez. 2011. IAMIN, G. Negociação: conceitos fundamentais e negócios internacionais. Curitiba: InterSaberes, 2016. PUTNAM, R. Diplomacia e política doméstica: a lógica dos jogos de dois níveis. Revista de Sociologia e Política, Curitiba, v. 18, n. 36, p. 147-174, jun. 2010.
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