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Desenvolvimento Psicologico e Educacao Cesar Coll Vol 1 Caps 20 ao 24

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D 451 D e s e n v o lv im e n to p s ic o ló g ic o e e d u c a ç ã o [ re c u rs o e le t rô n ic o ] / C é s a r C o l l ... [e t 
a l.] ; t r a d u ç ã o F á t im a M u ra d . - 2 . e d . - D a d o s e le t rô n ic o s . - P o r to A le g re : 
A r tm e d , 2 0 0 7 .
(P s ic o lo g ia e v o lu t iv a ; v. 1 )
E d ita d o t a m b é m c o m o liv ro im p re s s o e m 2 0 0 4 
IS B N 9 7 8 - 8 5 - 3 6 3 - 0 7 7 6 - 3
1 . P s ic o lo g ia E d u c a c io n a l . I. C o ll, C ésar.
C D U 3 7 .0 1 5 .3
C a ta lo g a ç ã o n a p u b l ic a ç ã o : J u l i a n a L a g o a s C o e lh o - CRB 1 0 /1 7 9 8
Desenvolvimento 
psicológico 
e educação
1.
Psicologia
evolutiva
2a edição
César COLL 
Álvaro MARCHESI 
Jesús PALACIOS 
& colaboradores
Tradução:
Daisy Vaz de Moraes
Consultoria, supervisão e revisão técnica desta edição:
Milena da Rosa Silva 
Psicóloga. Mestre em Psicologia do 
Desenvolvimento pela UFRGS.
Versão impressa 
desta obra: 2004
2007
342 COLL, MARCHESI, PALACIOS & COLS.
QUADRO 18.3 Itens extraídos da escala EOM-EIS e referentes às áreas vocacional e ideológica
Difusão de identidade
- Não penso muito em religião. Tanto faz uma coisa ou outra.
- Ainda não escolhi a carreira que quero seguir, mas, no momento, e enquanto eu não encontre coisa melhor, 
qualquer delas me serve.
Identidade hipotecada
- Acho que penso como meus companheiros sobre política e faço a mesma coisa que eles com relação a votar e 
essas coisas.
- Faz muito tempo que meus pais decidiram a carreira ou o trabalho que tenho de seguir, e eu estou seguindo o 
plano deles.
Moratória
- Ainda não estou seguro do que a religião significa para mim. Eu gostaria de me decidir, mas ainda estou dando 
voltas.
- Ainda não me decidi profissionalmente. Há muitas carreiras que me interessam.
Conquista de identidade
- Pensei muito em minhas idéias políticas e concordo com algumas idéias de meus pais e discordo com outras.
- Demorei muito para tomar esta decisão, porém, agora sei que carreira quero seguir.
Fonte: Adams, Benniom e Huh, 1989,
um estado de moratória que terminaria na 
aquisição de uma identidade diferente. No en­
tanto, existem outras possibilidades dentro 
desse modelo progressivo, e alguns estudos 
descobriram que a trajetória mais ffeqüente é 
a seguida pelos adolescentes que, estando em 
uma identidade hipotecada, começam a ques­
tionar esses compromissos (moratória) para 
terminar substituindo-os por outros mais pes­
soais que os situam em um status de conquista 
de identidade (Kroger, 1993). Pensemos, por 
exemplo, no caso de uma menina que abando­
na as opções ideológicas que havia assumido, 
em grande parte, para corresponder às expec­
tativas de seus pais, para se decidir por novos 
compromissos políticos ou religiosos, frutos da 
reflexão e da escolha pessoal.
Ainda que o modelo progressivo repre­
sente a trajetória mais desejável, Waterman 
(1982) aponta a possibilidade de que alguns 
adolescentes sigam um modelo regressivo no 
qual se abandonam situações de identidade 
conseguida ou hipotecada, sem encontrar um 
substituto adequado para essa identidade, fi­
cando presos em uma situação de difusão de 
identidade. Igualmente, sujeitos que se encon­
tram em situação de crise ou moratória podem 
cessar sua busca sem que tenham adotado com­
promissos satisfatórios, vendo-se imersos em 
situações de difusão de identidade. Por último, 
o modelo de paralisação se referiría àqueles jo­
vens que permanecem de forma indefinida em 
situações de difusão ou que realizam escolhas 
que os situam também de forma permanente 
em uma identidade hipotecada.
Quanto ao momento em que os adoles­
centes costumam alcançar a conquista (reali­
zação) de identidade, Erikson (1968) supunha 
que a crise de identidade é algo próprio da ado­
lescência precoce, e que a evolução era resol­
vida na maioria dos casos no período com­
preendido entre os 15 e os 18 anos. No entan­
to, todos os dados de que dispomos hoje em 
dia nos indicam que essas previsões eram mui­
to otimistas, pois é no final da adolescência que 
os adolescentes começam a alcançar o status 
de moratória, sendo algo não-usual encontrar­
mos identidades conquistadas por volta dos 20 
anos. E até em alguns estudos realizados sobre 
adultos foram encontrados uma minoria de 
sujeitos em situação de conquista e porcenta­
gens altas de identidades hipotecadas. Talvez
DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO E EDUCAÇÃO, V.1 343
as condições sociais atuais não sejam as mais 
favoráveis para promover a aquisição da con­
quista da identidade pessoal, pois exercem uma 
importante pressão sobre o sujeito, limitando 
sua capacidade de escolha e criando uma ten­
são entre o indivíduo e a sociedade que tende 
a gerar alienação, confusão e perda de auten­
ticidade (Cotè, 1996; Gecas e Burke, 1995). À 
luz dos dados disponíveis, fica cada vez mais 
difícil manter a idéia da conquista da identida­
de como tarefa que culmina na adolescência. 
Sem dúvida, estamos diante de um processo 
que planta suas raízes na infância e se estende 
ao longo de todo o ciclo vital, com períodos de 
exploração e períodos de consolidação, embo­
ra os períodos em que ocorrem importantes 
mudanças contextuais, como a adolescência, 
representem um momento crítico na aquisição 
da identidade.
Defasagens na conquista da identidade
Uma das características que Erikson atri­
buiu à conquista da identidade é a globalidade 
ou integridade e coerência; no entanto, essa 
idéia não parece ser apoiada pela pesquisa, 
pois, quando se leva em conta diversas áreas 
ou domínios, não é muito comum que os sujei­
tos se encontrem no mesmo status de identi­
dade nas diferentes áreas exploradas. Assim, 
Archer (1989) encontrou que somente 5% dos 
adolescentes estudados apresentavam o mes­
mo status em todas as áreas, o que parece jo­
gar por terra a idéia da identidade como algo 
homogêneo que o sujeito alcança globalmen­
te. Em clara sintonia com a teoria focal de 
Colemam (1980), é muito razoável que a ado­
ção de compromissos em diferentes áreas ocor­
ra de forma seqüencial ao longo da adolescên­
cia. Assim, uma menina pode ter muito claras 
suas preferências nas relações interpessoais e 
religiosas (conquista), porém pode estar dan­
do voltas para escolher a carreira que quer se­
guir (moratória) e nem sequer ter se pergun­
tado quais são suas preferências políticas (di­
fusão). No entanto, apesar dessas diferenças 
entre identidades, existirá uma tendência 
evolutiva a que se vá alcançando uma certa 
integridade entre todos os componentes, e,
como ressalta Grotevant (1992), ao redor de 
um componente ou domínio que seja especial­
mente relevante para o sujeito é que os outros 
irão sendo construídos. Por exemplo, um ado­
lescente que mostre no interpessoal uma de­
terminada identidade muito pró-social e vol­
tada para o apoio dos demais pode escolher 
uma profissão que se ajuste a ela e virar um 
assistente social, defendendo também idéias 
políticas de acordo com essa orientação. Bosma 
(1992) estudou os componentes que os ado­
lescentes consideram mais relevantes diante da 
definição de sua identidade e concluiu que são 
os conteúdos relacionados com os estudos e 
com a profissão os que ocupam o primeiro lu­
gar, embora também pareça que é precisamente 
em relação aos aspectos profissionais que a 
identidade é alcançada de forma mais tardia.
Fatores que influem na 
conquista da identidade
A conquista da identidade implica a livre 
escolha pelo sujeito de uma série de opções ou 
compromissos, embora o contexto social exer­
ça uma importante pressão sobre o adolescen­
te, condicionando as escolhas que efetua. Se 
falarmos no contexto familiar, temos de ressal­
tar a influência que o tipo de relações familia­
res e os estilos parentais irão exercer sobre a 
conquista da identidade pelo adolescente. Hoje 
em dia existe um consenso generalizado de que 
os adolescentes que vivem em famílias demo­
cráticas, que lhes oferecem a oportunidade de 
expressar e de desenvolverseus próprios pon­
tos de vista e de tomar suas decisões em um 
contexto de aceitação e apoio são os que mais 
têm facilidade para alcançar um sentimento de 
identidade pessoal. São famílias que incenti­
vam em seus filhos a exploração e o processo 
de individuação. Outras situações familiares re­
presentam contextos menos favoráveis, como 
é o caso dos adolescentes que vivem em lares 
onde impera um clima excessivamente autori­
tário, ficando propensos a seguir o caminho 
que seus pais traçaram para eles e a adotar 
identidades hipotecadas. Em alguns casos, es­
ses adolescentes poderão rebelar-se contra seus 
pais e tomar suas próprias decisões, embora,
344 COLL, MARCHESI, PALACIOS & COLS.
por não contar com o apoio parental, a passa­
gem da moratória para uma situação de con­
quista de identidade seja mais difícil. Entre os 
filhos de pais permissivos também será freqüen- 
te encontrar identidades hipotecadas, já que, 
por serem adolescentes pouco acostumados a 
que seus pais exijam que eles tomem decisões, 
podem optar pela solução mais fácil e tomar 
emprestadas suas preferências; embora tam­
bém seja possível que esses adolescentes te­
nham a tendência de evitar a adoção de com­
promissos sérios, permanecendo em situações 
de difusão de identidade, algo que costuma ser 
igualmente freqüente em filhos de pais indife­
rentes (Makstrom-Adams, 1992).
Grotevant (1992) assinalou a diferença 
existente entre os componentes recebidos e os 
componentes escolhidos da identidade. Os pri­
meiros representam aqueles aspectos sobre os 
quais o sujeito não tem nenhuma possibilida­
de de escolha, como o gênero, a raça ou a cul­
tura de procedência, que irão representar o 
contexto para a escolha dos componentes res­
tantes. Assim, o fato de ser uma menina de 
raça cigana e que vive na Espanha constituirá 
o núcleo na formação de sua identidade, ao 
mesmo tempo em que condicionará as opções 
disponíveis. Portanto, o contexto social e cultu­
ral representa um fator muito influente, de 
forma que determinadas culturas muito tradi­
cionais e com normas e modelos educativos 
muito rígidos, como a cigana (ou como a de 
Samoa, para usar um outro exemplo), tendem 
a promover identidades hipotecadas na maio­
ria dos sujeitos. Em compensação, a cultura 
ocidental costuma deixar ao indivíduo uma 
maior margem de liberdade que o leva com 
ffeqüência à conquista da identidade. Além 
disso, existem algumas evidências segundo as 
quais fazer parte de uma minoria étnica repre­
senta uma desvantagem no processo de cons­
trução da identidade. Esses adolescentes de­
vem enfrentar a difícil tarefa de escolher entre 
os valores próprios de seu grupo étnico e os 
que imperam na cultura majoritária. Em alguns 
casos, a pressão do grupo por preservar suas 
próprias características de identidade será tão 
forte que seus membros se sentirão próximos 
de hipotecar sua identidade. Em outras ocasi­
ões, os sujeitos estarão imersos em uma crise 
ou moratória tão clara que pode ser resolvida 
com a regressão a uma difusão de identidade. 
Tudo isso sem se esquecer de que, freqüente- 
mente, os grupos minoritários sofrem discri­
minação por parte da cultura dominante, por 
isso seus membros têm menos alternativas a 
explorar e entre as quais escolher.
Quanto à influência do gênero, sem dúvi­
da representa um dos aspectos mais polêmicos 
em relação à aquisição da identidade. As pri­
meiras pesquisas que analisaram as diferenças 
entre meninos e meninas costumavam encon­
trar mais dificuldades entre estas, já que as mu­
lheres representavam taxas mais altas de iden­
tidades hipotecadas. No entanto, quando os es­
tudos incluem uma ampla variedade de con­
teúdos, e não somente os aspectos ideológico 
e vocacional, aparecem algumas matizações, 
pois enquanto os meninos estão na frente nos 
componentes ideológicos e intrapessoais, nos 
aspectos interpessoais são as meninas que ten­
dem a alcançar antes a conquista da identida­
de (Patterson, Sochting e Mareia, 1992). Esses 
resultados podem estar evidenciando as dife­
renças de gênero nos processos de socializa­
ção, mais restritivos para as adolescentes quan­
do se trata de aspectos profissionais; por isso é 
esperável que as diferenças sejam suavizadas 
com a mudança nas expectativas sociais para 
com a mulher. De fato, alguns estudos recen­
tes encontram entre as meninas status de iden­
tidade mais avançados do que entre os meni­
nos da mesma idade (Lacombe e Gay, 1998).
Identidade e ajustamento psicológico
No âmbito teórico desenvolvido por 
Erikson, a conquista da identidade pode ser 
considerada um requisito para um ótimo ajus­
tamento psicológico, pois representa o resul­
tado da resolução positiva da crise da adoles­
cência. O sentimento de identidade represen­
ta a integridade entre os diferentes componen­
tes que formam a personalidade do sujeito e 
serve para dotar de significado suas ações. Por 
isso, não é estranho que alguns estudos tenham 
tentado estabelecer relações entre os níveis ou
DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO E EDUCAÇÃO, V.1 345
status de identidade e determinadas caracte­
rísticas psicológicas. Ainda que a maioria des­
ses estudos seja de caráter correlacionai, e pos­
sam somente estabelecer associações e não re­
lações causais, tendem a considerar que o status 
de identidade influirá sobre o comportamento 
do sujeito como se fosse uma característica mais 
ou menos estável de sua personalidade. Foram 
encontradas relações com características so- 
cioemocionais, cognitivas e comportamentais: 
em geral, o status de conquista de identidade é 
o que aparece associado a traços mais positi­
vos, e o de difusão, a traços menos favoráveis, 
com os estados de moratória e identidade hi­
potecada ocupando posições intermediárias.
O estado de difusão é o menos adaptativo 
e que aparece mais freqüentemente associado 
a transtornos psicológicos (Watermam, 1992), 
pois esses adolescentes apresentam altos níveis 
de ansiedade e de sintomas depressivos, assim 
como uma baixa auto-estima. Em suas relações 
sociais mostram-se conformistas e influenciá­
veis, com dificuldades para o estabelecimento 
de relações de cooperação e de intimidade. 
Mostram uma orientação evitativa, pois evitam 
enfrentar os problemas e as situações conflituo­
sas. Não é de se estranhar que, entre esses ado­
lescentes, encontremos os mais altos níveis de 
consumo de drogas.
Os sujeitos com identidade hipotecada 
apresentam uma mistura de traços positivos e 
negativos. Entre os traços favoráveis é preciso 
destacar a alta auto-estima, a baixa ansiedade 
e a pouca incidência do consumo de drogas. 
Esses adolescentes compartilham com os que 
se encontram na conquista de identidade bons 
índices de bem-estar emocional, e, por isso, 
parece que, com relação a esses aspectos, o fato 
de ter adotado alguns compromissos é a variá­
vel mais relevante. Por outro lado temos de ci­
tar outras características menos positivas: as­
sim, costumam ser adolescentes excessivamen­
te obedientes e dependentes de seus pais, de­
monstrando atitudes conformistas, rígidas e 
autoritárias e mantendo relações muito este­
reotipadas; em função disso, têm dificuldade 
para estabelecer relações íntimas. Conforme as­
sinalou Berzonsky (1992), são sujeitos que 
mantêm uma orientação normativa e procu­
ram ajustar-se às expectativas defendidas por 
figuras importantes para eles, como os pais.
Algo parecido ocorre com os adolescen­
tes em moratória, nos quais também se dará 
uma combinação de traços positivos e negati­
vos. O lado menos favorável desses adolescen­
tes, representado por uma baixa auto-estima e 
um elevado nível de ansiedade e indecisão, es­
taria associado ao momento de crise que atra­
vessam, pelo que seria razoável pensar que é 
uma situação transitória. Esses adolescentes 
compartilharão muitas características positivas 
com aqueles que já alcançaram a conquista de 
identidade: as atitudes sociais flexíveis, a con­
duta pró-social e a orientação para a informa­
ção. Apresentam níveis de consumo de drogas 
um poucosuperior aos dos adolescentes com 
identidade hipotecada e inferiores aos que se 
encontram em difusão, ainda que as diferen­
ças mais importantes estejam relacionadas com 
as motivações que os levam a esse consumo, 
associadas à busca e à experimentação próprias 
da moratória (Jones, 1992).
Os sujeitos que alcançaram a conquista 
da identidade são aqueles que se mostram mais 
maduros e autônomos. São adolescentes com 
muita auto-estima e confiança em si mesmos, 
que apresentam pouca ansiedade e costumam 
ter um estado emocional favorável. Alcançam 
os níveis mais complexos de desenvolvimento 
moral e mantêm relações sociais caracteriza­
das pela cooperação e pelo apoio aos demais, 
estabelecendo relações últimas com relativa fa­
cilidade. Como nos sujeitos em moratória, 
quando é para enfrentar problemas e tomar 
decisões, manifestam uma orientação para a 
informação, mostrando-se abertos e flexíveis, 
procurando avaliar toda a informação dispo­
nível, ainda que o fato de já ter adotado uma 
série de compromissos possa limitar um pouco 
essa flexibilidade em relação a quem ainda se 
encontra em moratória. O fato de que em al­
gumas ocasiões os sujeitos em conquista de 
identidade não mostrarem características tão 
positivas, talvez nos indique que não basta le­
var em conta se o adolescente adotou ou não 
compromissos, mas também em que medida 
esses compromissos são significativos e satisfa­
tórios e se ajustam às expectativas que tinha.
346 COLL, MARCHESI, PALACIOS & COLS.
PAPÉIS E ESTEREÓTIPOS DE GÊNERO
Durante os anos da infância, os proces­
sos de socialização costumam atuar de manei­
ra eficaz, de forma que antes do início da ado­
lescência os adolescentes vão ajustando seus 
valores, atitudes e comportamentos aos papéis 
que a sociedade define para cada sexo. Após 
as mudanças físicas próprias da puberdade, 
essa pressão aumentará; por isso, não é estra­
nho que, durante esses anos da adolescência, 
os adolescentes mostrem-se muito estereotipa­
dos e evitem atividades ou comportamentos 
que possam ser considerados próprios de ou­
tro sexo: eles se mostram muito masculinos, e 
elas, muito femininas. Isso poderia explicar os 
resultados encontrados em numerosos estudos 
que apontam um aumento nos estereótipos 
sexuais durante a adolescência. No entanto, 
algumas pesquisas encontraram um certo au­
mento da flexibilidade nesses estereótipos co­
incidindo com a transição para o ensino mé­
dio (Alfieri, Ruble e Higgins, 1996). Uma ex­
plicação para isso pode ser que as mudanças 
cognitivas tendem a facilitar uma visão mais 
relativista e flexível dos papéis de gênero, po­
rém tudo parece mostrar que essa flexibilida­
de é o resultado dos esforços que os adoles­
centes realizam para se adaptar a um novo 
contexto social. As importantes mudanças que 
acompanham essa transição podem criar no 
adolescente uma certa insegurança que faça 
com que talvez esse não seja o momento mais 
adequado para defender idéias muito estereo­
tipadas sobre as diferenças entre ambos os se­
xos. Uma vez superados esses momento ini­
ciais, essa flexibilidade tende a desaparecer, e 
os estereótipos se consolidam. Ainda que as 
diferenças não sejam muito claras, os meninos 
tendem a mostrar estereótipos mais rígidos do 
que as meninas, conforme foi indicado em re­
lação à infância nos Capítulos 9 e 13.
Muitos dos estudos realizados sobre pa­
péis de gênero utilizaram o questionário Bem 
Sex Roles Inventory, elaborado por Sandra Bem 
(1974), que inclui uma série de itens referen­
tes a características tradicionalmente conside­
radas masculinas (confiança em si mesmos, in­
dependência, atividade) ou femininas (amabi- 
lidade, pró-socialidade, sensibilidade). A pon­
tuação obtida no teste permite classificar os 
sujeitos em quatro tipos: sujeitos masculinos, 
que pontuam alto em masculinidade e baixo 
em feminilidade;/emininos, que obtêm pontua­
ções altas em feminilidade e baixas na escala 
de masculinidade; os sujeitos andróginos que 
obtêm pontuações altas em ambas as dimen­
sões, enquanto os indiferenciados pontuam bai­
xo nas duas escalas, pelo que masculinidade e 
feminilidade são dimensões diferentes e não 
os pólos opostos de uma mesma dimensão.
Ainda que tradicionalmente se tenha con­
siderado que o ideal é que os meninos se mos­
trem masculinos e as meninas femininas, al­
guns estudos revelaram que a personalidade 
de tipo andrógino pode ser mais favorável, tan­
to para os homens como para as mulheres, pro­
porcionando um maior ajustamento psicológi­
co. Apesar de ser possível que, no início da ado­
lescência, os sujeitos andróginos possam ser 
incomodados ou ridicularizados por seus iguais 
ou seus pais, seus múltiplos interesses e sua 
maior flexibilidade irão permitir-lhes que se 
adaptem e que se sintam cômodos em uma 
variedade maior de situações. Não é estranho 
que esses adolescentes apresentem níveis mais 
altos de auto-estima e status de identidade mais 
avançado (Dusek, 1996).
DESENVOLVIMENTO MORAL 
Raciocínio moral
Durante os anos da adolescência ocorre­
rão importantes mudanças no âmbito do ra­
ciocínio moral. Lembremo-nos de que no mo­
delo proposto por Kolberg, exposto no Capítu­
lo 10, as pessoas progridem através de uma 
série de fases até alcançar os maiores níveis de 
desenvolvimento moral. Durante a infância, as 
crianças haviam se situado na perspectiva 
egocêntrica própria do nível pré-convencional, 
no qual o bem se definia de forma indepen­
dente da intenção do sujeito pela obediência 
literal às normas, e as razões que justificavam 
o se comportar de acordo com essas normas 
era evitar o castigo. Ainda que alguns adoles­
centes permaneçam nesse nível, a maioria de­
les começaria antes da puberdade a mostrar
DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO E EDUCAÇÃO, V.1 347
um raciocínio moral um pouco mais avança­
do, situando-se no que Kolberg denominou de 
nível convencional, descrito no Capítulo 14. 
Agora os adolescentes irão elaborar suas opi­
niões morais baseando-se nas expectativas do 
grupo social, e as razões para seguir as regras 
sociais são conseguir a aprovação dos demais 
e uma opinião favorável sobre seu comporta­
mento como membro de uma coletividade. Na 
primeira fase desse nível procurariam se mos­
trar diante dos demais como um bom menino, 
ou uma boa menina. Mais adiante, na fase mais 
avançada desse nível convencional, surge uma 
maior orientação pela lei e pela ordem, que 
devem ser respeitadas pelo bem da comunida­
de. Muitos adolescentes superam a visão 
egocêntrica própria da infância para se situa­
rem em uma perspectiva social de membro de 
uma sociedade que julga os comportamentos 
a partir do bem coletivo.
Existem várias razões que justificam esse 
avanço no desenvolvimento do juízo moral. Se 
levarmos em conta que, no modelo proposto 
por Kolhberg, o desenvolvimento cognitivo re­
presenta um fator necessário, ainda que não 
suficiente, para que ocorram avanços no ra­
ciocínio moral, é lógico que as novas capacida­
des cognitivas alcançadas durante o período 
das operações formais tenham sua repercus­
são sobre o juízo moral. Assim, enquanto a ca­
pacidade para pensar de forma abstrata per­
mitirá o surgimento da preocupação pelo con­
ceito de justiça ou bem social, o desenvolvi­
mento da habilidade para adotar perspectivas 
diferentes da própria aumentará a preocupa­
ção pela opinião dos demais e pelas conseqüên- 
cias de seus atos sobre outras pessoas. Junto a 
esses avanços cognitivos, é preciso considerar 
que, durante os anos da adolescência, são fre- 
qüentes as discussões com os pais e companhei­
ros sobre diversos temas sociais e morais, que 
podem produzir no adolescente o conflito ou o 
desequilíbrio que o leve a mudar sua forma de 
raciocinar sobre os dilemas morais.
Ainda que a maioria dos adolescentes e 
dos adultos permaneça nesse nível de desen­
volvimento moral, alguns sujeitos, durante a 
adolescência tardia, ou já na idade adulta, evo­
luirão em direção a última fase no desenvolvi­
mento do raciocínio moral: o nível pós-conven-
cional. Nessenível, os comportamentos serão 
julgados a partir de princípios ou de direitos 
humanos universais que estão acima das nor­
mas sociais. Portanto, o indivíduo se situa em 
uma perspectiva acima da sociedade, construin­
do princípios que predominam sobre os social­
mente estabelecidos.
A teoria de Kolberg recebeu um impor­
tante apoio empírico; no entanto, alguns as­
pectos receberam críticas consideráveis. Uma 
das questões mais criticadas está ligada ao es­
casso número de sujeitos que ascendem ao ní­
vel pós-convencional, sobretudo em socieda­
des menos desenvolvidas e regidas por formas 
de governo não-democráticas, o que coloca sob 
suspeita a universalidade desses níveis. O ou­
tro aspecto que recebeu importantes críticas 
está ligado ao viés masculino dessa teoria. O 
fato de Kohlberg ter construído seu modelo a 
partir de entrevistas com homens, dificulta sua 
fácil extrapolação para m ulheres. Carol 
Gilligan, uma colaboradora de Kohlberg, 
baseando-se em entrevistas com meninas e mu­
lheres, encontrou algumas diferenças de gêne­
ro. Assim, enquanto os meninos parecem mais 
preocupados pela justiça como conceito abs­
trato e pelo fato de que as pessoas sejam trata­
das de forma justa e de acordo com as normas 
ou regras sociais, as meninas costumam inter­
pretar os dilemas morais a partir de uma pers­
pectiva interpessoal, mostrando-se mais preo­
cupadas com suas relações com os outros e com 
sua responsabilidade para satisfazer as neces­
sidades dos demais. Gilligan (1982) propôs um 
modelo alternativo ao de Kohlberg, modelo que 
explicaria o desenvolvimento do raciocínio mo­
ral entre o sexo feminino. Esse modelo inclui 
três níveis paralelos ou equiparáveis aos níveis 
pré-convencional, convencional e pós-conven- 
cional. No primeiro nível, a preocupação da 
mulher seria a sobrevivência e seus próprios 
interesses. No segundo, o mais característico 
da adolescência, a necessidade de agradar às 
outras pessoas tem prioridade sobre os inte­
resses próprios; as adolescentes e as mulheres 
começam a se responsabilizar pelo cuidado de 
outros e procuram conseguir um equilíbrio en­
tre permanecer leais a si mesmas e atender as 
necessidades dos demais. A busca desse equi­
líbrio pode fazer com que a adolescência seja
348 COLL, MARCHESI, PALACIOS & COLS.
uma época especialmente estressante para as 
meninas, já que percebem que esse interesse 
pelos demais é pouco considerado em uma so­
ciedade machista que valoriza mais a competi­
tividade e o êxito. No terceiro e último nível, 
dificilmente alcançável por mulheres adoles­
centes e adultas, consegue-se esse equilíbrio 
entre a satisfação das necessidades próprias e 
das dos demais, e se desenvolve uma perspec­
tiva universal em que as mulheres se perce­
bem como pessoas capacitadas que participam 
ativamente da tomada de decisões. O modelo 
de Gilligan recebeu um apoio empírico insufi­
ciente, pois alguns estudos não encontraram 
diferenças entre meninos e meninas. Talvez 
ambas as perspectivas, a centrada nos demais 
e a centrada na justiça como conceito abstra­
to, sejam complementares e estejam presentes 
tanto em homens como em mulheres.
Comportamento moral: conduta 
pró-social e atos anti-sociais
Com relação às mudanças no comporta­
mento moral, as coisas são um pouco menos 
claras do que quando a questão é o raciocínio 
moral, sendo os dados um pouco mais contra­
ditórios. Em termos gerais, pode-se dizer que 
a maioria dos estudos realizados sobre adoles­
centes encontra relação, ainda que fraca, en­
tre os maiores níveis de raciocínio moral e com­
portamentos mais adequados do ponto de vis­
ta moral. No entanto, surge o paradoxo de que 
com a chegada da adolescência e junto ao já 
comentado avanço no juízo moral, aumentam 
tanto os comportamentos de caráter pró-social 
como as condutas anti-sociais e delituosas, o 
que uma vez mais evidencia o caráter ambiva­
lente dessa etapa evolutiva.
Em relação à conduta pró-social, a maio­
ria dos estudos encontra um aumento em suas 
manifestações ao longo da adolescência, ain­
da que não faltem pesquisas que não detec­
tam variações significativas associadas à ida­
de (Fabes e Eisenberg, 1998). Parece que os 
que tendem a aumentar são alguns dos com­
portamentos pró-sociais, mas não todos. As­
sim, é mais provável que os adolescentes se 
comprometam em atividades de ajuda que ne­
cessitam de recursos e de capacidades que não 
tinham nos anos anteriores; por exemplo, as 
doações e a participação em organizações não- 
govemamentais ou em atividades de volunta­
riado experimentam um claro aumento, sobre­
tudo a partir da adolescência média (Martin e 
Velarde, 1996). Existem algumas variáveis que 
aparecem associadas ao comportamento pró- 
social durante a adolescência, como o dispor 
de um raciocínio moral mais desenvolvido e 
de níveis mais altos de empatia, auto-estima 
e competência social. Também os pais demo­
cráticos e que proporcionam apoio continu­
am sendo um fator relevante (Eisenberg, 
1991). Embora não existam importantes di­
ferenças de gênero, podemos ressaltar que, 
enquanto os meninos costumam se envolver 
mais em ações instrumentais de ajuda, como 
intervir em situações perigosas ou arriscadas, 
as meninas tendem a proporcionar apoio ver­
bal e emocional.
Porém, junto a esse aumento nos com­
portamentos de ajuda aos demais, ocorrerá um 
aumento significativo de condutas mais ina­
dequadas. Ainda que as pesquisas indiquem 
que os comportamentos agressivos menos se­
veros tendem a diminuir em relação aos anos 
anteriores, a incidência dos atos violentos e 
delituosos experimenta um crescimento subs­
tancial (Coie e Dodge, 1998). Muitos compor­
tamentos anti sociais aparecem durante os anos 
anteriores à puberdade, manifestando-se fun­
damentalmente no contexto familiar e esco­
lar; porém, com a chegada da adolescência, 
esses atos anti sociais vão intensificando-se, al­
cançando a máxima incidência por volta dos 
17 anos, para, a partir desse momento, come­
çar a diminuir, de forma que durante a maturi­
dade precoce esses comportamentos terão de­
saparecido na maior parte dos sujeitos. As di­
ferenças de gênero na conduta delitiva são muito 
chamativas; assim, além da maior incidência 
geral entre o sexo masculino, encontramos que, 
enquanto os meninos costumam se envolver em 
atividades mais graves e violentas, como rou­
bos de carros, furtos ou assaltos, entre as meni­
nas são mais ffeqüentes a cleptomania, as fu­
gas de casa ou os delitos de caráter sexual. Fa­
tores como a falta de supervisão e o controle 
familiar, a escassa comunicação com os pais, o
DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO E EDUCAÇÃO, V.1 349
fracasso escolar e um contexto social e cultural 
que reforce as atitudes anti-sociais favorecerão 
o surgimento de comportamentos delituosos.
A primeira vista podería ser paradoxal que 
essa ampliação da conduta anti-social ocorresse 
em momentos nos quais se observa um claro 
avanço no raciocínio moral. No entanto, é pre­
ciso considerar a influência de certas variáveis 
pessoais e situacionais que também mudam 
durante a adolescência. Por exemplo, David 
Elkind (1985) destacou o papel que podem 
exercer as limitações cognitivas relacionadas 
ao egocentrismo próprio desse período, ao qual 
já aludimos no Capítulo 16. Esse autor deno­
minou de hipocrisia aparente a tendência que 
mostram muitos adolescentes para pensar que 
não têm de aceitar as mesmas normas que con­
sideram apropriadas para os demais, o que, em 
muitas ocasiões, evidencia uma clara discre­
pância entre os ideais do jovem e sua conduta: 
é como se o simples fato de pensar nesses ide­
ais bastasse para consegui-los, sem a necessi­
dade de se esforçar pessoalmente. Essa carac­
terística estaria ligada ao fato de que, ainda 
que os adolescentes já tenham a capacidade 
para pensar em termos abstratos, para eles ain­
da é complicado passar dos princípios abstra­
tos para situações concretas, explicando-se, 
assim, determinados comportamentos juvenis 
contraditórios, como protestar contra a conta­
minaçãomediante uma passeata dominical que 
supõe uma clara degradação do lugar pelo qual 
transcorre, ou manifestar-se de forma violenta 
a favor da paz. Outros fatores que podem in­
fluenciar no aumento das atividades anti-so- 
ciais estão relacionados à necessidade que os 
adolescentes em moratória têm de experimen­
tar novas situações, ou com a menor supervi­
são que existe sobre seus comportamentos por 
parte de pais e educadores durante esses anos 
em que os adolescentes não assumiram as res­
ponsabilidades próprias dos adultos.
Desenvolvimento social 
durante a adolescência
ALFREDO OLIVA
Existe um fio condutor que liga a infân­
cia à adolescência e evita que os adolescentes 
se incorporem sem bagagem nessa nova eta­
pa, garantindo que as relações sociais que es­
tabeleçam tenham uma certa continuidade 
com as que mantiveram nos anos anteriores. 
É muito provável que os adolescentes que se 
mostravam sociáveis e carinhosos quando 
crianças continuem sendo, enquanto os mais 
retraídos continuarão lutando contra sua ti­
midez; as famílias que, depois da puberdade, 
experimentaram importantes conflitos em 
suas relações com o filho ou com a filha ado­
lescente, talvez tenham sofrido dificuldades 
semelhantes em etapas anteriores. Em princí­
pio, não cabe esperar transformações radicais 
no desenvolvimento social com a chegada da 
adolescência. No entanto, é razoável pensar 
que todas as mudanças físicas e psicológicas 
que o adolescente experimenta repercutirão 
sobre as relações que ele estabelece em todos 
aqueles contextos dos quais participa, como a 
família, o grupo de iguais ou a escola. Além 
disso, a maior autonomia adquirida permitirá 
que os adolescentes passem mais tempo em 
contextos extrafamiliares, pelo que, além das 
mudanças nas relações já existentes, ocorre­
rá uma ampliação e uma diversificação de sua 
rede de relações sociais.
Estudar as modificações que ocorrem nos 
contextos sociais nos quais os adolescentes es­
tão imersos como resposta a suas novas habili­
dades e capacidades (sua nova forma de pen­
sar, seus novos desejos e interesses, seu novo 
corpo de adulto) é uma forma de analisar o 
desenvolvimento social durante a adolescên­
cia. Um tipo de análise diferente consistiría em 
considerar os contextos sociais (família, esco­
la, iguais) nos quais transcorre a vida dos ado­
lescentes como variáveis independentes que 
exercem sua influência sobre o desenvolvimen­
to; a família, a escola ou o grupo de iguais são, 
então, analisados como contextos em que ocor­
re o desenvolvimento do adolescente, porque 
tudo o que ocorrer neles influirá decisivamen­
te sobre o curso do desenvolvimento. Como 
compreenderá o leitor, essas duas abordagens 
são claramente complementares; representam 
as duas faces da mesma moeda e estão tão 
inter-relacionadas que considerá-las separada­
mente é um reducionismo somente justificá­
vel com uma finalidade didática. Um exemplo 
já comentado no Capítulo 16 servirá para en­
tender melhor essa visão sistêmica: a chegada 
da menarca terá uma repercussão importante 
sobre o relacionamento das meninas com os pais 
e iguais; porém, nem um aspecto tão biológico 
como a primeira menstruação será independen­
te do que tenha acontecido no contexto fami­
liar, pois o grau de estresse na família é um dos 
fatores que se relacionam com a maior precoci- 
dade da menarca; estresse que, por sua vez, não 
será independente de como estiver ocorrendo a 
transição para a puberdade.
DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO E EDUCAÇÃO, V.1 351
O ADOLESCENTE NA FAMÍLIA
Relações familiares 
durante a adolescência
Um dos tópicos mais generalizados sobre 
a adolescência é o de que, nesse período, ocor­
rem importantes conflitos na relação do jovem 
com seus pais. Essa idéia experimentou diver­
sos vaivéns ao longo das últimas décadas em 
função das perspectivas teóricas predominan­
tes, desde os enfoques que consideram a ado­
lescência como um período no qual as relações 
familiares se tomam imensamente problemá­
ticas até as concepções que defendem a nor­
malidade nas relações entre pais e filhos. Em 
um extremo está a perspectiva psicanalítica, 
que fala de explosão de conflitos, da rebelião 
do adolescente e da separação emocional em 
relação aos pais. Porém, essa imagem de con­
flito familiar, que ainda continua atemorizan­
do muitos pais quando a puberdade de seus 
filhos se aproxima, tem sido substituída por 
outra muito mais norm alizada e realista, 
surgida de um importante número de pesqui­
sas realizadas sobre amostras muito mais am­
plas e representativas do que nos casos clíni­
cos em que os autores de orientação psicanalí­
tica fundamentaram suas concepções. Os da­
dos disponíveis hoje nos permitem defender a 
idéia de que durante a adolescência ocorre uma 
série de mudanças na relação que os adoles­
centes estabelecem com seus pais, porém, es­
sas mudanças não têm de supor necessariamen­
te o aparecimento de conflitos graves. Confor­
me ressaltam Laursen e Collins (1994), menos 
de 10% das famílias parece passar por dificul­
dades sérias durante essa etapa e, sem dúvida, 
muitas delas já passavam por problemas du­
rante a infância.
A maioria dos estudos parece coincidir em 
assinalar o período que se segue à puberdade, 
isto é, o começo da adolescência, como uma 
etapa de perturbações temporais nas relações 
familiares. Nessa etapa, os adolescentes ficam 
mais assertivos, passam mais tempo fora de 
casa e diminuem o número de interações posi­
tivas com seus pais. Apesar disso, parece que a 
partir desses difíceis momentos iniciais, as re­
lações tendem a se normalizar, diminuindo o 
núm ero de conflitos produzidos. Assim, 
Laursen, Coy e Collins (1998), em uma meta- 
análise realizada sobre um grande número de 
pesquisas que estudam os conflitos familiares 
durante a adolescência, encontraram que, a 
partir da puberdade, há uma grande correla­
ção negativa entre idade e número de confli­
tos entre pais e filhos, ainda que a intensidade 
afetiva com que os adolescentes vivenciam es­
ses conflitos tende a aumentar com a idade. 
Portanto, parece que a puberdade coincide com 
o momento de maior conflito, e, ao longo da 
adolescência, o número de conflitos entre pais 
e filhos tende a diminuir, ao mesmo tempo em 
que aumenta a intensidade afetiva com a qual 
o adolescente experimenta esses problemas.
À luz desses resultados, é de se esperar 
que, durante a adolescência precoce, inclusi­
ve nas famílias que se caracterizam pelas boas 
relações, possam aparecer algumas disputas 
e ocorrer mudanças nas relações pais-filhos. 
No geral, essa mudança não tem por que su­
por uma ruptura emocional, nem acarretar 
problemas importantes; antes, os conflitos 
produzidos costumam relacionar-se com as­
pectos da vida cotidiana, tais como as tarefas 
de casa, as amizades, a forma de se vestir ou 
a hora de voltar para casa. Conforme ressal­
tou Smetana (1989a), esses conflitos costumam 
originar-se, porque, enquanto os adolescentes 
consideram esses assuntos como aspectos de 
sua vida privada que diz respeito somente a 
eles, seus pais ainda se consideram no direito 
de estabelecer regras nesse sentido. Também é 
freqüente que a percepção que o adolescente 
tem de seus pais experim ente uma clara 
desidealização, e a imagem de pais oniscientes 
e todo-poderosos, própria da infância, seja 
substituída por outra muito mais realista, na 
qual eles terão espaço para defeitos e virtudes.
Existem diferentes razões que podem jus­
tificar essa mudança nas relações familiares de­
pois da puberdade. Em primeiro lugar, é preci­
so destacar as mudanças cognitivas já conheci­
das, mudanças que irão afetar a forma como 
pensam sobre si mesmos e sobre os demais. 
Essas melhoras intelectuais permitirão ao jo­
vem ter uma forma diferente de ver as normas
352 COLL, MARCHESI, PALACIOS & COLS.
e as regulamentações familiares, chegando a 
questioná-las; além disso, sua recém-adquiri- 
da capacidade para diferenciar o real do hipo­
tético irá permitir-lhe criar alternativas para o 
funcionamentoda própria família. Também 
será capaz de apresentar argumentos mais só­
lidos e convincentes em suas discussões fami­
liares, o que significará um claro questionamen­
to da autoridade dos pais. Collins (1992,1997) 
destacou o papel que exercem as discrepân- 
cias entre as expectativas de pais e filhos no 
surgimento desses conflitos. Segundo esse au­
tor, durante períodos de mudanças rápidas, 
como a adolescência precoce, ocorrem impor­
tantes modificações nas percepções e expecta­
tivas que as pessoas têm dos demais e de si 
mesmas. Portanto, no princípio da adolescên­
cia é muito possível que apareçam discrepân- 
cias entre as expectativas de pais e filhos sobre 
determinados aspectos, como, por exemplo, 
sobre o momento mais adequado para que te­
nham lugar certos acontecimentos ou transi­
ções (começar a sair com os meninos ou com 
as meninas, sair sozinhos à noite, começar a 
se mostrar menos autoritários, etc.).
Outro aspecto destacável é que os ado­
lescentes começam a passar cada vez mais tem­
po com os iguais, o que lhes permitirá uma 
maior experiência em relações horizontais ou 
igualitárias que pode levá-los a desejar um tipo 
de relação semelhante em sua família. No en­
tanto, esse desejo de dispor de uma maior ca­
pacidade de influência na tomada de decisões 
familiares nem sempre coincide com o de seus 
pais, e a situação mais freqüente é a de filhos 
que desejam mais independência do que seus 
pais estão dispostos a conceder. Os pais costu­
mam querer continuar mantendo sua autori­
dade e sua forma de se relacionar com seus 
filhos; em alguns casos, inclusive, podem au­
mentar as restrições como resposta ao surgi­
mento do interesse pelo sexo oposto, o que le­
vará ao aparecimento de conflitos. Uma vez 
passado o primeiro momento, os pais costu­
mam flexibilizar sua postura, e os filhos vão 
ganhando poder e capacidade de influência, 
provocando uma diminuição de conflitos na 
adolescência média e tardia. Quando os pais 
não se mostram sensíveis às novas necessida­
des de seus filhos adolescentes e não adaptam 
seus estilos disciplinares a essa nova situação, 
é muito provável que apareçam problemas de 
adaptação, no adolescente.
Na linha da perspectiva psicanalítica, al­
guns autores sugeriram a possibilidade de que 
os problemas entre pais e filhos tenham um 
efeito positivo sobre o sistem a familiar. 
Holmbeck (1996) sugere um modelo em que o 
valor adaptativo ou não-adaptativo desses con­
flitos dependerá de alguns fatores moderado­
res. Quando são problemas de baixa intensi­
dade que ocorrem no contexto de relações ca­
racterizadas pela comunicação e pelo afeto, e 
quando os pais se mostram flexíveis e capazes 
de ajustar suas formas de se relacionar com 
seus filhos adolescentes, é muito provável que 
o conflito sirva como catalisador das mudan­
ças nas relações entre pais e filhos, promoven­
do assim a adaptação e o desenvolvimento. Ao 
contrário, nos casos em que os pais mostram 
expectativas negativas sobre a adolescência e 
consideram esse período como inevitavelmente 
problemático, ou quando se mostram coerciti­
vos e pouco comunicativos com seus filhos e 
reagem às mudanças próprias da adolescência 
com o imobilismo ou o aumento de restrições, é 
bem possível que ocorra um deterioramento im­
portante nas relações familiares que tenha um 
impacto negativo sobre o desenvolvimento e o 
comportamento do adolescente.
Outro tópico muito generalizado é o que 
considera o adolescente como um indivíduo 
isolado em seu mundo e que fechou todos os 
canais de comunicação com sua família. Ain­
da que, em alguns casos, possa ocorrer uma 
ruptura total da comunicação, em geral, a 
maioria dos adolescentes costuma falar com 
seus pais sobre muitos dos temas que os pre­
ocupam, talvez com a exceção de alguns as­
suntos que preferem comentar com seus ami­
gos, como os referentes às relações sexuais 
ou às drogas. As pesquisas existentes sobre esse 
aspecto (Noller,1994) indicam que tanto os 
meninos como as meninas mostram mais co­
municação e intimidade com suas mães do que 
com seus pais, provavelmente porque elas pas­
sam mais tempo em casa e estão mais disponí­
veis e, além disso, mostram mais receptividade
DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO E EDUCAÇÃO, V.1 353
e sensibilidade às opiniões e às inquietações 
de seus filhos. Porém, já que também são as 
mães as que apresentam um maior número de 
interações negativas com seus filhos, parece que 
elas tanto podem ser autoritárias como ponde­
radas. Larson e Richards (1994) encontraram 
que entre os 9 e os 15 anos ocorre uma clara 
redução no tempo em que meninos e meninas 
passavam interagindo com sua família em ati­
vidades coletivas, como ver televisão juntos ou 
conversar. Esse tempo é substituído pela per­
manência solitária do adolescente em seu quar­
to e pelas relações com o grupo de amigos.
Muitas das mudanças nas relações fami­
liares estão, em grande parte, influenciadas pe­
las mudanças experimentadas pelos filhos a 
partir da puberdade. Mas não podemos nos es­
quecer de que os pais também mudam ao lon­
go do ciclo vital, e é possível que, enquanto 
seus filhos passam pela adolescência, eles tam­
bém estejam enfrentando algum momento 
evolutivo delicado ou passando por alguma 
crise pessoal, aumentada ao ver que seus fi­
lhos estão ficando adultos, e tudo isso pode 
interferir nas relações que estabelecem com 
seus filhos. Por exemplo, é provável que a pri­
meira menstruação da filha coincida com o fi­
nal do ciclo reprodutivo da mãe, que se sentirá 
um pouco mais próxima da velhice, o que pode 
contribuir para gerar algumas tensões em suas 
relações. Uma correta compreensão do que 
ocorre no contexto familiar durante a adoles­
cência exige uma verdadeira visão sistêmica 
que contemple as relações bidirecionais entre 
todos os elementos que de dentro ou de fora 
desse contexto estejam interligados.
A busca da autonomia
Um dos acontecimentos mais relevantes 
para o desenvolvimento social do adolescen­
te está ligado à aquisição de níveis de auto­
nomia cada vez maiores em relação a seus 
pais. Se o adolescente deve se preparar para 
abandonar o lar e agir como um adulto autô­
nomo, é razoável esperar dele comportamen­
tos cada vez mais independentes. Diante des­
se processo de individuação, é freqüente que 
os adolescente experimentem uma certa am­
bivalência, e que, ao mesmo tempo que des­
frutam de novos privilégios, lamentem as no­
vas responsabilidades que devem assumir, 
podendo sentir saudade de seus dias de in­
fância em que seus pais cuidavam deles e as­
sumiam toda a responsabilidade. Por isso, não 
é estranho encontrar durante os primeiros 
anos da adolescência a alternância entre con­
dutas maduras e comportamentos infantis.
Em relação à conquista da autonomia pelo 
adolescente, é preciso destacar o papel que a 
desvinculação ou a separação afetiva dos pais 
exerce nesse processo. Autores como Anna 
Freud e Peter Blos consideraram que o distan­
ciamento, e até mesmo a hostilidade, em rela­
ção aos pais é algo natural e desejável quando 
os filhos chegam à puberdade, porque favore­
ce o estabelecimento de vínculos extrafamilia- 
res de caráter heterossexual e a superação dos 
desejos sexuais de caráter incestuoso. Steinberg 
e Silverberg (1986) empregaram o termo au­
tonomia emocional para fazer referência a essa 
desvinculação afetiva. Para eles, a autonomia 
emocional, que avaliam mediante uma escala 
auto-aplicável, é um conceito multidimensio- 
nal que inclui componentes como a tendência 
a compreender os pais como pessoas com de­
sejos e necessidades próprias, sua desidea- 
lização e a independência e a individuação do 
adolescente. Segundo Steinberg e Silverberg 
(1986), essa autonomia afetiva é necessária 
para que o processo de individuação ocorra, 
ainda que, em um primeiro momento, a sepa­
ração afetiva dos pais possa deixar o adoles­
cente em uma situação de vulnerabilidade e 
vazio emocional que o levará a uma excessiva 
dependência do grupo de iguais para preen­
cher esse vazio.
Outros autoresquestionaram que a des­
vinculação afetiva dos progenitores represen­
te um passo necessário no processo de indi- 
viduação do adolescente. Na linha da teoria 
de apego, Ryan e Linch (1989) consideram que 
uma elevada autonomia emocional pode estar 
refletindo uma experiência prévia no contexto 
familiar de falta de apoio e aceitação, que não 
só não conduz a uma maior autonomia, mas 
que também pode estar interferindo na conso­
lidação da identidade e na formação de uma 
auto-estima positiva. Então, longe de estar re­
354 COLL, MARCHESI, PALACIOS & COLS.
presentando um aspecto positivo do desenvol­
vimento, uma alta autonomia emocional esta­
ria refletindo a frieza na relação afetiva estabe­
lecida com os pais na infância, frieza que ha­
via levado a um apego do tipo inseguro- 
evitativo. Nós mesmos encontramos que os ado­
lescentes que mostram uma maior autonomia 
emocional têm uma auto-estima mais baixa, 
modelos representacionais inseguros de sua 
relação com os pais na infância e um meio fa­
miliar caracterizado pela falta de afeto e apoio.
Talvez nenhuma das posturas comentadas 
esteja totalmente certa, pois é provável que, em 
alguns casos, uma elevada autonomia emocio­
nal seja fruto de uma vinculação afetiva frágil 
da criança com seus pais, porém, também é pos­
sível que, em outros casos, essa autonomia te­
nha surgido como conseqüência de mudanças 
próprias da adolescência, mesmo quando exis­
tia uma boa relação prévia com pais afetuosos. 
Em nossa opinião, o fundamental é o papel mo­
derador que o contexto familiar exerce na rela­
ção existente entre a autonomia emocional e a 
adaptação do adolescente. As pesquisas realiza­
das sobre esse aspecto (Lambom e Steinberg, 
1993; Fuhrman e Holmbeck, 1995) indicam que 
uma alta autonomia emocional costuma levar a 
problemas adaptativos, sobretudo a longo pra­
zo, quando ocorre em um contexto familiar pou­
co coeso e que oferece pouco apoio. Em com­
pensação, quando o meio familiar é mais favo­
rável, traduz-se em uma série de conseqüências 
positivas, como uma boa atitude e bons rendi­
mentos acadêmicos, uma elevada auto-estima 
e uma identidade mais estabelecida, ainda que 
também possam surgir alguns problemas de con­
duta (Silverberg e Gondoli,1996).
Influências familiares
sobre o desenvolvimento social
Os dados disponíveis hoje apoiam a hi­
pótese de que um meio ótimo para o desenvol­
vimento e autonomia do adolescente é aquele 
em que as relações dos pais com os filhos com­
binam o afeto com o favorecim ento da 
individualidade, mediante condutas que esti­
mulam a autonomia cognitiva e a iniciativa pró­
pria, como, por exemplo, favorecendo a dis­
cussão, a troca de pontos de vista entre pais e 
filhos e a adoção de opiniões próprias por par­
te destes últimos. Além dessa combinação en­
tre apoio afetivo, comunicação e favorecimento 
da autonomia, existem outras características 
do meio familiar muito favoráveis para facili­
tar o desenvolvimento e a adaptação dos ado­
lescentes. O controle e a supervisão da condu­
ta do adolescente são fundamentais durante 
essa etapa evolutiva, pois muitos dos proble­
mas de conduta que surgem durante a adoles­
cência estão relacionados com o escasso con­
trole parental; por isso, conhecer quem são os 
amigos de seus filhos ou interessar-se por suas 
atividades deve se transformar em algo priori­
tário para os pais.
É preciso considerar que a adolescência 
é um período de exploração no qual os ado­
lescentes necessitam ter experiências diver­
sas que irão ajudá-los a construir sua identi­
dade. Ainda que essa experimentação leve a 
certos riscos, ela é necessária, por isso, o ide­
al é que ocorra sob a supervisão de adultos 
que possam detectar situações de risco exces­
sivo. De fato a supervisão é tão necessária 
nessa etapa como durante a infância, porém 
é imprescindível que os pais introduzam cer­
tas modificações no grau e na natureza desse 
controle para evitar cair em uma conduta de 
vigilância ou superprotetora que não seria 
nada benéfica. Isso nos leva a destacar outra 
das características que deve incluir a conduta 
educativa dos pais: a flexibilidade. O fato de 
que, durante esse período evolutivo, os ado­
lescentes mudem rapidamente obriga os pais 
a se mostrarem sensíveis a essas mudanças, 
modificando suas expectativas e as normas e 
práticas educativas que regem a família para 
procurar ajustá-las às novas necessidades 
evolutivas do adolescente; por exemplo, le­
vando em conta a necessidade que os filhos 
têm de assumir novas responsabilidades ou 
de aumentar sua capacidade para tomar de­
cisões. Conforme assinalou Eccles e seus co­
laboradores (1993), muitos dos problemas 
surgidos durante essa etapa têm sua origem 
na falta de ajuste entre o contexto familiar e 
as novas necessidades dos adolescentes.
Com relação ao papel desempenhado pela 
comunicação entre pais e filhos adolescentes,
DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO E EDUCAÇÃO, V.1 355
é preciso destacar a conveniência de manter 
continuamente abertos os canais de comuni­
cação em ambos os sentidos. É importante que 
os pais se mostrem atentos e receptivos diante 
das preocupações de seus filhos e que, tam­
bém, lhes proporcionem apoio e informação 
que lhes permitam desenvolver habilidades 
úteis em áreas de especial risco durante essa 
etapa (relações sexuais, drogas).
A pesquisa sobre o papel que exercem os 
estilos disciplinares dos pais fornece dados cada 
vez mais interessantes, sendo evidente que, 
igualmente ao que ocorria durante a infância, 
os pais democráticos, que combinam a comu­
nicação e o afeto com o controle não-coerciti- 
vo da conduta e as exigências de uma conduta 
responsável na relação com seus filhos, são os 
que mais favorecerão a adaptação de seus fi­
lhos, que demonstrarão um desenvolvimento 
mais saudável, uma melhor atitude e rendimen­
tos acadêmicos e menos problemas de condu­
ta (Lamborn et al., 1991; Darling e Steinberg, 
1993). Em compensação, quando os pais se 
comportam de forma fria e excessivamente 
controladora, como acontece entre os pais au­
toritários, costuma ocorrer que, a curto prazo, 
seus filhos se mostrem obedientes e conformis­
tas, mas que, a longo prazo, sobretudo quan­
do a disciplina é muito severa, tendam a se 
rebelar e a se voltar excessivamente para os 
amigos, buscando neles a oportunidade de 
manter interações de caráter mais igualitário; 
também é freqüente que esses adolescentes de­
senvolvam uma baixa auto-estima, sintomas 
depressivos e uma atitude hostil e de rejeição 
para com seus pais. Apesar de mostrar uma 
relação calorosa e afetuosa com seus filhos, os 
pais permissivos apresentarão um claro déficit 
no controle de sua conduta, o que estará rela­
cionado com falta de esforço, problemas de 
conduta e consumo de álcool e drogas. Por úl­
timo, quando os adolescentes não têm o con­
trole e o afeto no contexto familiar, que é o 
que ocorre no caso dos pais indiferentes, de­
senvolverão problemas tanto de extemalização 
(agressividade, condutas anti sociais, consumo 
de drogas, escassa competência social) como 
de intemalização (baixa auto-estima, proble­
mas psicológicos). O Quadro 19.1 resume to­
das essas relações e influências.
Ainda são escassos os estudos sobre os 
sujeitos de culturas diferentes da ocidental, ou 
sobre famílias diferentes da tradicional com­
posta de pai, mãe e filhos. No entanto, apesar 
de sua escassez, contribuem com dados muito 
interessantes. Assim, se para a população oci­
dental parece indiscutível a superioridade dos 
estilos democráticos, alguns estudos realizados 
sobre populações asiáticas ou affo-americanas 
põem sob suspeita que a relação entre o estilo 
democrático e a melhor adaptação dos filhos 
adolescentes seja universal, pois algumas ve­
zes os estilos autoritários se mostram mais efi­
cazes nessas populações (Chao, 1994; Darling 
e Steinberg, 1993). Da mesma forma, a com­
posição ou a estrutura familiar é outra variá­
vel que parece moderar as conseqüências deri­
vadas dos estilos disciplinares imperantes no 
lar;assim Barber e Lyons (1994) descobriram 
que a permissividade parental relacionava-se 
positivamente com a auto-estima dos filhos 
adolescentes em famílias reconstituídas, coisa 
que não ocorria em famílias intactas.
Alguns autores (Darling e Steinberg, 
1993; Holmbeck, Paikoff e Brooks-Gunn, 1996) 
consideram que o conceito de estilo discipli­
nar é muito amplo, ambíguo e descritivo e que 
não especifica claramente os mecanismos atra­
vés dos quais realiza sua influência sobre os 
filhos. Esses autores propõem diferenciar en­
tre o estilo disciplinar e as práticas disciplina­
res concretas mediante as quais o referido es­
tilo se materializa, pois nem sempre se obser­
va uma correspondência total. Por exemplo, 
dois pais democráticos podem mostrar níveis 
semelhantes de controle e de comunicação, po­
dendo, no entanto, exercer o controle de for­
ma diferente. Do mesmo modo, o controle exer­
cido por uma mãe democrática e outra autori­
tária pode alcançar níveis similares, ainda que 
seja muito provável que, enquanto a primeira 
utiliza a indução como forma de controlar a 
conduta de seus filhos, a segunda faça uso de 
técnicas coercitivas ou de afirmação de poder. 
Também é preciso considerar que, embora se 
costume falar de pais autoritários ou permissi­
vos, o estilo paterno e materno nem sempre 
têm de coincidir, podendo existir discrepâncias 
entre os dois estilos. Em um dos poucos estu­
dos que considerou esses estilos separadamen-
356 COLL, MARCHESI, PALACIOS & COLS.
QUADRO 19.1 Relação entre os estilos educativos paternos e as características de seus filhos adolescentes
Pais
Dem ocráticos
Perm issivos
A utoritários
Indiferentes
Filhos e Filhas
+ Confiança neles mesmos 
+ Boa atitude e bom rendimento escolar 
+ Boa saúde mental 
+ Poucos problemas de conduta
+ Confiança neles mesmos 
+ Poucos problemas psicológicos 
- Problemas de conduta e abuso 
no consumo de drogas.
+ Obedientes e voltados para o trabalho
- Às vezes, hostis e rebeldes
- Pouca confiança neles mesmos
- Problemas depressivos
- Problemas escolares
- Problemas de ajuste psicológico
- Muitos problemas de conduta e 
abuso no uso de drogas.
te, Taylor (1994) encontrou que a situação mais 
favorável para o adolescente é aquela na qual 
ambos os pais mostram um estilo mais demo­
crático ou positivo para com seus filhos, en­
quanto a coincidência de pai e mãe em estilos 
pouco adequados representa a situação mais 
desfavorável. Quando ocorre uma combinação 
na qual ao menos um dos progenitores apre­
senta um estilo democrático, as conseqüências 
negativas se vêem um pouco aliviadas.
Adolescentes em famílias diferentes
Do mesmo modo que ocorria durante a 
infância, o grau de conflituosidade familiar e a 
qualidade das relações entre os pais são mais 
importantes do que a estrutura familiar na hora 
de determinar o grau de ajuste do adolescente 
(Hetherington, 1989). Os adolescentes que vi­
vem em famílias em que a harmonia caracteri­
za as relações entre seus membros, indepen- 
dentemente de serem famílias intactas, mono- 
parentais ou reconstituídas, mostram menos 
problemas de conduta e socioemocionais. Ain­
da que o divórcio ou a separação costume ter 
conseqüências negativas para os filhos, depois 
da puberdade os adolescentes já alcançaram 
um nível de maturidade que lhes permitirá evi­
tar muitos dos efeitos negativos que têm para 
as crianças menores. Isso não significa que se 
mostrem invulneráveis, pois a circunstância de 
que estão imersos na resolução de algumas ta­
refas evolutivas, como a construção da identi­
dade ou o processo de individuação, fará com 
que possam sofrer alguns problemas como con- 
seqüência do divórcio, sobretudo durante o pri­
meiro ano posterior à ruptura familiar. Entre 
os possíveis efeitos cabe mencionar o entorpe­
cimento do processo de individuação. Prova­
velmente, o estresse que costuma acompanhar 
uma ruptura familiar não representa nenhu­
DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO E EDUCAÇÃO, V.1 357
ma ajuda em um processo tão delicado como é 
o de conseguir maior autonomia e estabelecer 
vínculos extrafamiliares, e, com freqüência, o 
adolescente está tão absorto na problemática 
familiar que deixa de lado as atividades aca­
dêmicas ou recreativas, as relações com os ami­
gos, etc. Além disso, a separação de seus pais 
pode gerar no adolescente uma desconfiança 
nas relações de casal que o levará a evitar o 
envolvimento emocional. Também costuma 
ocorrer que, depois da separação, os pais co­
messem a tratá-lo como se fosse um adulto 
ou tentem envolvê-lo em suas disputas, o que 
pode levá-lo a sentir que seus pais dependem 
dele. Em uma etapa evolutiva na qual o ado­
lescente ainda precisa do apoio de seus pais, 
uma situação desse tipo não favorecerá seu 
amadurecimento.
Ainda que a reconstrução da família pos­
sa favorecer o desenvolvimento dos filhos, a 
adaptação a essa situação é um pouco mais 
complicada durante a adolescência do que 
quando ocorre nos anos anteriores e está asso­
ciada a problemas de conduta tanto em meni­
nos como em meninas. Possivelmente, o mo­
mento em que o adolescente está tentando se 
desvincular de sua família não seja o mais apro­
priado para estabelecer um novo vínculo afe­
tivo com o padrasto ou a madrasta, e é possí­
vel que o menino ou a menina recusem o novo 
membro. Além disso, as tensões que caracteri­
zam a relação entre os adolescentes e seus pais 
dificultarão a aceitação do fato de que seu pai 
ou sua mãe é sexualmente ativo e mantém re­
lações com seu novo par. O companheiro sen­
timental pode ser visto como um intruso que 
compete pelo carinho e pela atenção de seu 
pai ou de sua mãe. Essas reações negativas se­
rão mais claras durante a adolescência preco­
ce e podem criar tensões que repercutem ne­
gativamente na coesão familiar. A situação será 
especialmente complicada quando o novo pai 
se mostra muito autoritário e tenta controlar 
excessivamente a conduta do menino ou da me­
nina. Nessas situações, parece conveniente que 
o padrasto ou a madrasta adote um papel mais 
permissivo, evitando o controle excessivo e pro­
curando estabelecer uma boa relação afetiva. 
É preferível que o controle, tão necessário nas
famílias reconstituídas como nas intactas, seja 
realizado pelo progenitor biológico, que, em 
algumas ocasiões, será aquele que deve se mos­
trar um pouco mais autoritário.
AS RELAÇÕES COM OS IGUAIS 
As amizades durante a adolescência
Ainda que, durante a adolescência, a fa­
mília continue ocupando um lugar preferen­
cial como contexto socializador, à medida que 
os adolescentes vão desvinculando-se de seus 
pais, as relações com os companheiros ganham 
em importância, em intensidade e em estabili­
dade, e o grupo de iguais passa a ser o contex­
to de socialização mais influente. As relações 
de amizade não são exclusivas da adolescên­
cia, pois as crianças dedicavam uma parte im­
portante de seu tempo para brincar com os ami­
gos; no entanto, agora irão ocorrer algumas 
mudanças importantes nesse tipo de relações. 
Se, durante a infância, os amigos eram, sobre­
tudo, companheiros da brincadeiras cuja rela­
ção estava muito condicionada pela proximi­
dade física e pela possibilidade de interagir co­
tidianamente, ao chegar à adolescência, essas 
relações gozarão de uma maior estabilidade 
sem que o distanciamento físico ou temporal 
dos amigos signifique o fim da relação.
Provavelmente, como conseqüência da 
maturação cognitiva e do tempo que dedicam 
para falar sobre si mesmos, os adolescentes irão 
compreender-se melhor, o que repercutirá no 
fato de que as relações com os amigos estejam 
marcadas pela reciprocidade e que a partir da 
adolescência os amigos apoiem e ajudem uns 
aos outros, mostrando um maior comportamen­
to pró-social. Também aumentará substancial­
mente a intimidade dessas relações, a tal ponto 
que as amizades íntimas irão se transformar em 
um fenômeno típico da adolescência precoce e 
média, que irá perdendo força durante a ado­
lescência tardia. Os amigos íntimos comparti­
lham pensamentos,sentimentos, expectativas de 
futuro, conhecem as preocupações do outro e 
se apoiam mutuamente. Essas relações costu­
mam ser estabelecidas com pessoas do mesmo
358 COLL, MARCHESI, PALACIOS & COLS.
sexo, e ainda que ocorram tanto entre meninos 
como entre meninas, no geral, as amizades ín­
timas das meninas são mais precoces e mais in­
tensas do que as dos meninos, que são um pou­
co mais relutantes em dividir seus sentimentos 
e mais voltados para a realização ou planeja­
mento de atividades conjuntas.
As relações com os iguais, sobretudo com 
os amigos, será uma experiência muito grati- 
ficante que enriquecerá a vida do jovem. A 
consideração de que essas relações têm um 
efeito muito positivo sobre o desenvolvimen­
to adolescente não é algo novo. Piaget (1932) 
já expressou a importância que a interação 
com os companheiros tinha para o desenvol­
vimento de uma inteligência e uma moral 
autônomas. Sullivan (1953) propôs que as 
amizades durante a adolescência eram críti­
cas para o desenvolvimento de uma alta auto- 
estima e uma melhor compreensão dos de­
mais. Em geral, ter amigos é um indicador de 
boas habilidades interpessoais e um sinal de 
um bom ajustamento psicológico, provavel­
mente porque os meninos com menos habili­
dade sociais e com mais problemas psicológi­
cos sofrerão mais rejeição e terão mais difi­
culdades para estabelecer amizades; contu­
do, também se poderia pensar na relação in­
versa, isto é, na qual ter amigos com os quais 
compartilhar segredos e sentimentos contri­
bui para um melhor ajustamento psicológico.
Os benefícios pelo fato de dispor de ami­
zades nessa etapa são muitos. Em primeiro lu­
gar, pode-se destacar o importante apoio emo­
cional que proporcionam e que pode ajudar o 
adolescente a superar os altos e baixos carac­
terísticos da adolescência, ou algumas situa­
ções particularmente estressantes, como um 
fracasso acadêmico ou amoroso, ou a separa­
ção ou a morte dos pais. Hartup (1993) utiliza 
a denominação de relação de apego horizon­
tal (o apego vertical seria estabelecido com os 
progenitores) para se referir às amizades ínti­
mas entre adolescentes com capacidades e com 
conhecimento similares. Ao longo da adoles­
cência, o amigo íntimo vai ganhando impor­
tância sobre outras figuras de apego, a tal pon­
to que, a partir da adolescência média, se trans­
formará na principal figura de apego. Levando 
em conta que estamos diante de situações de
apego, não é estranho que o tipo de relação do 
adolescente com seus amigos esteja muito in­
fluenciada pela relação que estabeleceu com 
seus pais durante a primeira infância. Os mo­
delos representacionais construídos a partir 
dessas primeiras relações seriam os responsá­
veis por essa continuidade relacionai. Os me­
ninos que estabeleceram uma relação de ape­
go seguro se mostraram confiantes, seguros e 
afetuosos nas relações de amizade; aqueles que 
se vincularam mediante um apego inseguro 
evitativo tenderão a se mostrar frios e distan­
tes; por último, os adolescentes com modelos 
inseguros ambivalentes manifestarão uma ex­
cessiva dependência e uma necessidade an­
siosa de se manterem estreitamente apegados 
a seus amigos.
Outra conseqüência positiva que podem 
ter as amizades é a de proporcionar apoio ins­
trumental para a resolução de determinados 
problemas práticos, assim como a informação 
sobre diferentes temas como relações pessoais, 
sexualidade ou assuntos acadêmicos. De espe­
cial interesse é a informação que os amigos tro­
cam um sobre o outro, pois dispor de uma pers­
pectiva diferente sobre eles mesmos irá ajudá- 
los a construir sua própria identidade e a me­
lhorar seu autoconceito (Bemdt, 1996).
Apesar da intensidade das relações com 
os iguais, será freqüente que, no início da ado­
lescência, os adolescentes experimentem cer­
tos sentimentos de solidão, provavelmente por 
se encontrarem em uma situação de transição 
entre a vinculação afetiva com os pais, própria 
da infância, e o estabelecimento das intensas 
amizades juvenis. Muitos adolescentes passa­
rão por um período de dor ou de tristeza, pelo 
enfraquecimento das intensas relações emocio­
nais infantis, antes de mergulhar nas novas 
relações de amizade que adquirirão uma in­
tensidade até agora desconhecida. Ainda que 
a maioria dos adolescentes supere sem proble­
mas essa fase de transição, em alguns casos 
podem aparecer dificuldades, como ocorre com 
adolescentes que não têm habilidades sociais 
e mostram-se desajeitados em sua relação com 
o grupo de iguais, com aqueles que residem 
em regiões afastadas ou isoladas, ou com os 
que se vêem obrigados a mudar de escola e 
romper com seu círculo de amigos.
DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO E EDUCAÇÃO, V.1 359
O conformismo diante dos iguais
Ainda que os efeitos positivos da relação 
com os iguais sejam indiscutíveis, é preciso des­
tacar uma perspectiva teórica diferente que 
enfatiza as possíveis conseqüências negativas 
derivadas dessas relações. Faz muitos anos que 
Bronfrenbrenner (1970) escreveu que a redu­
ção nos contatos com os adultos, unida a um 
maior comprometimento com os iguais, leva­
va os jovens à alienação, à indiferença e ao 
antagonismo social. Ainda que tenha se passa­
do muito tempo desde então, ainda são mui­
tos os pesquisadores que consideram a influên­
cia dos iguais como um dos fatores de risco 
que mais se destacam para o surgimento de 
condutas problemáticas e anti-sociais durante 
a adolescência. Muitos programas voltados 
para a prevenção do consumo de drogas entre 
os jovens baseiam-se na suspeita de que a in­
fluência dos amigos leva, necessariamente, a 
condutas indesejáveis. Pensemos, por exemplo, 
nos anúncios que podemos ver em nossos mei­
os de comunicação que insistem na importân­
cia de que os adolescentes saibam dizer “não” 
quando os amigos os pressionam para que con­
sumam drogas.
Se durante os anos escolares os pais es­
tavam muito acima de outras influências, ao 
chegar na adolescência terão de compartilhar 
sua influência com os iguais. O relativo dis­
tanciamento dos progenitores, o maior tem­
po que passam com os companheiros e o es­
tar em plena fase de construção de sua iden­
tidade coloca os adolescentes em uma situa­
ção de maior suscetibilidade diante da pres­
são dos iguais. Costanzo e Shaw (1966), em 
uma conhecida experiência, evidenciaram o 
crescimento inicial e a posterior diminuição 
do conformismo diante dos iguais durante os 
anos da adolescência. Uma série de meninos 
com idades compreendidas entre 7 e 21 anos 
devia julgar qual de uma série de linhas tinha 
o mesmo comprimento que uma linha mode­
lo. Cada sujeito devia responder depois de 
outros companheiros que estavam de acordo 
com o experimentador para dar uma respos­
ta incorreta, atribuindo-lhe uma pontuação 
em conformismo em função do grau de acor­
do que mostrassem com as respostas incorre­
tas de seus companheiros. Os resultados des­
se experimento mostraram que as maiores pon­
tuações em conformismo eram obtidas pelos 
sujeitos do grupo de 11 a 13 anos, observan­
do-se uma diminuição a partir dessa idade. 
Esses dados indicam que a suscetibilidade à 
pressão dos iguais é maior durante a adoles­
cência inicial. Pesquisas mais recentes utili­
zaram métodos diferentes que consistiam em 
apresentar aos sujeitos situações hipotéticas 
em que seus companheiros pediam-lhes que 
atuassem de uma determinada forma. Esses 
estudos encontraram tendências evolutivas si­
milares (Berndt, 1989). À medida que os ado­
lescentes vão construindo sua identidade e fi­
cando mais autônomos, tornam-se mais ca­
pazes de resistir à pressão do grupo.
Quando se fala de pressão dos compa­
nheiros, há uma tendência a considerá-la ne­
gativa e voltada para buscar o comprometimen­
to do adolescente em condutas anti-sociais; no 
entanto, são muitas as ocasiões em que a pres­
são é neutra e inclusive positiva; pensemos, por 
exemplo, naquelas situações em que os com­
panheiros procuram evitar condutas indesejá­
veis por parte de algum amigo, ou quando pro­
curam que elese envolva em situações despor­
tivas ou acadêmicas. Além disso, os jovens cos­
tumam mostrar-se menos conformistas diante 
das pressões dos amigos quando estes buscam 
sua participação em condutas negativas ou 
anti sociais (Berndt, 1996).
O fato de que, durante a adolescência pre­
coce, se observe um aumento da suscetibilida­
de diante dos iguais não significa que todos os 
adolescentes se mostrem igualmente conformis­
tas. Em alguns casos, esse conformismo é mais 
claro por serem adolescentes muito necessita­
dos do apoio do grupo, ou porque suas relações 
familiares são pouco satisfatórias, ou porque têm 
um baixo status no grupo e são ignorados ou 
rejeitados (Dishion, 1990). Também há diferen­
ças claras em função do gênero: as meninas se 
mostram mais conformistas do que os meninos, 
talvez devido ao fato de que estabelecem rela­
ções mais íntimas entre elas e mostram-se mais 
preocupadas por pertencer ao grupo e ajustar- 
se a suas expectativas.
Também é preciso ressaltar que não são 
todos os companheiros que têm a mesma ca­
pacidade de influência. Sem dúvida, os ami­
gos íntimos terão mais capacidade de influir 
do que aqueles que são somente amigos su­
perficiais, e estes mais do que aqueles que não 
o são. Do mesmo modo, o status social do ado­
lescente que exerce a influência é decisivo, 
pois os adolescentes tenderão a imitar e a uti­
lizar modelos de conduta daqueles compa­
nheiros que admiram e percebem como habi­
lidosos e populares.
Concluindo, diremos que é errôneo pen­
sar que os vínculos com o grupo de iguais su­
põem uma diminuição da influência dos pais e 
um afastamento dos valores familiares que le­
vam o adolescente a se envolver em condutas 
anti-sociais ou pouco saudáveis. Antes, cabe 
pensar que os pais e amigos não competem en­
tre si, mas representam influências complemen­
tares que satisfazem diferentes necessidades do 
jovem. E tudo isso sem nos esquecermos de que 
os adolescentes costumam se incorporar a gru­
pos formados por companheiros que têm uma
360 COLL, MARCHESI, PALACIOS & COLS.
origem social e alguns valores muito pareci­
dos com os seus e os de sua família; por isso, o 
grupo tenderá mais a reforçar os valores fami­
liares do que a anulá-los ou a contradizê-los.
A evolução do grupo
O grupo de amigos será um contexto fun­
damental para o desenvolvimento dos adoles­
centes. No entanto, esse grupo experimentará 
uma evolução ao longo da adolescência. 
Dunphy (1963) descreveu em quatro etapas a 
seqüência de evolução do grupo de iguais, se- 
qüência que se resume no Quadro 19.2. Em 
uma primeira etapa, no começo da adolescên­
cia, o agrupamento mais freqüente é a turma 
formada por membros do mesmo sexo. Essa 
turma unissexual é uma continuação do grupo 
de amigos dos anos escolares e costuma incluir 
de cinco a nove membros da mesma idade e 
provavelmente do mesmo colégio e vizinhan-
QUADRO 19.2 A evolução do grupo ao longo da adolescência
Adolescência
Precoce M eninos Meninas 1a ETAPA
M eninos -* *■ Meninas 2a ETAPA
M eninos e M eninas 3a ETAPA
Adolescência
Tardia
M enino e M enino e M enino e 4 ^ M enino e
M enina M enina M enina ' ' M enina
Fonte: Dunphy, 1963.
DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO E EDUCAÇÃO, V.1 361
ça. Esses adolescentes mostram um companhei­
rismo muito claro, formam um grupo bastante 
fechado, pouco permeável a outros sujeitos, e 
se vêem e interagem diariamente, planejando 
atividades para realizar nos fins de semana. 
Nessa etapa, o grupo proporciona a seus com­
ponentes o apoio e a segurança necessários 
para, na fase seguinte, começar as relações com 
o outro sexo. Também cumpre a função de pro­
mover condutas socialmente aceitáveis, como, 
por exemplo, que seus membros aceitem as nor­
mas do grupo. No entanto, o grupo do qual 
falamos pode ter alguns inconvenientes, como 
promover um excessivo conformismo entre 
seus membros, impedir que os sujeitos se rela­
cionem com outros meninos ou meninas que 
possam contribuir com pontos de vista dife­
rentes e, inclusive, ferir a auto-estima de ou­
tros quando se recusa sua incorporação ao gru­
po. No entanto, as vantagens superam clara­
mente os inconvenientes.
Em uma segunda fase, ainda se manten­
do a separação entre grupos ou turmas de di­
ferentes sexos, começa a interação entre elas. 
E uma interação entre turmas unissexuais espo­
rádica que ocorre nos fins de semana, ou em 
excursões e festas. Essa relação entre sujeitos 
de ambos os sexos ainda é um pouco desajei­
tada e rude.
A seguir, e depois de uma fase de transi­
ção na qual as relações entre os grupos de se­
xos diferentes vão tornando-se mais freqüen- 
tes, forma-se a turma mista a partir do agrupa­
mento das turmas unissexuais. Essa turma cos­
tuma incluir de 15 a 25 membros de ambos os 
sexos; os meninos são um pouco mais velhos 
do que as meninas e há uma menor coesão do 
que na turma unissexual, com uma relação 
entre seus membros um pouco menos íntima. 
Seus contatos não são tão cotidianos, e eles se 
reunem de forma mais esporádica do que a tur­
ma unissexual. A turma mista cumpre a fun­
ção de regular e estruturar as relações sociais, 
facilitando também o surgimento das relações 
heterossexuais, pois serve de claro aprendiza­
do na relação com os membros do outro sexo. 
Também, ao ser um agrupamento mais aberto, 
favorece a interação com uma maior varieda­
de de sujeitos (de diferentes idades e bairros), 
aumentando a heterogeneidade da turma e es­
timulando o desenvolvimento do autoconceito 
e da identidade.
As turmas vão apresentar uma grande va­
riedade, diferenciando-se entre si nos estilos 
de vida de seus componentes - sua forma de 
se vestir, suas preferências musicais, sua atitu­
de diante do sexo, do álcool ou das drogas - , e 
evidenciar a diversidade da cultura adolescen­
te. Bradford Brown e seus colaboradores 
(Brown, Dolcini e Leventhal, 1997; Brown, 
Mory e Kinney, 1994) estudaram em profundi­
dade as características desses agrupamentos, 
sugerindo que as turmas se definem, funda­
mentalmente, em relação a duas dimensões: a 
atitude frente aos aspectos formais ou acadê­
micos da educação e a orientação para a rela­
ção com os iguais; ao redor dessas dimensões 
nucleares irão se concentrar outras atitudes ou 
comportamentos que vão definir o estilo de vida 
do grupo. Outro aspecto importante é que a 
turma vai condicionar as relações sociais de 
seus membros, já que impulsionam os adoles­
centes a se relacionar com alguns e a ignorar, 
ou evitar, outros. Também estabelece normas 
sobre a forma de se relacionar não somente 
com os iguais, mas também com os adultos: 
como serão as amizades, se intensas ou super­
ficiais; que tipo de relações de casal é inconve­
niente; como administrar os conflitos em casa 
ou no colégio.
A última etapa traz consigo a desintegra­
ção da turma, que passa a se transformar em 
uma série de casais relacionados entre si, que 
cada vez se reúnem com menos freqüência. Po­
rém, isso já nos introduz em outra temática 
que precisa ser analisada com mais atenção e 
que se situa claramente em um momento 
evolutivo posterior ao das relações de grupo.
O INÍCIO DAS RELAÇÕES DE CASAL
O aumento do impulso sexual, unido à 
imitação dos comportamentos adultos, vai fa­
vorecer que meninos e meninas comecem a se 
aproximar com interesse do outro sexo. É no 
contexto do grupo ou da turma mista que os 
adolescentes começarão a manter seus primei­
ros encontros; depois, à medida que vão ga­
nhando desenvoltura e sentindo-se mais cômo­
362 COLL, MARCHESI, PALACIOS & COLS.
dos nessas relações, começarão a ter encon­
tros fora da proteção do grupo.
Ainda que existam diferenças entre ado­
lescentes, a maioria das meninas começa a ter 
seus primeiros encontros em algum momento 
entre os 12 e os 14 anos, enquanto os meninos 
o fazem um pouco mais tarde, entre os 13 e os 
15 anos. O momento do início parece determi­
nado, fundamentalmente, por fatores sociais, 
já que a maturação mais ou menos precoce não 
influi muito na precocidade dessas relações. 
Essas primeiras relações

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