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D 451 D e s e n v o lv im e n to p s ic o ló g ic o e e d u c a ç ã o [ re c u rs o e le t rô n ic o ] / C é s a r C o l l ... [e t a l.] ; t r a d u ç ã o F á t im a M u ra d . - 2 . e d . - D a d o s e le t rô n ic o s . - P o r to A le g re : A r tm e d , 2 0 0 7 . (P s ic o lo g ia e v o lu t iv a ; v. 1 ) E d ita d o t a m b é m c o m o liv ro im p re s s o e m 2 0 0 4 IS B N 9 7 8 - 8 5 - 3 6 3 - 0 7 7 6 - 3 1 . P s ic o lo g ia E d u c a c io n a l . I. C o ll, C ésar. C D U 3 7 .0 1 5 .3 C a ta lo g a ç ã o n a p u b l ic a ç ã o : J u l i a n a L a g o a s C o e lh o - CRB 1 0 /1 7 9 8 Desenvolvimento psicológico e educação 1. Psicologia evolutiva 2a edição César COLL Álvaro MARCHESI Jesús PALACIOS & colaboradores Tradução: Daisy Vaz de Moraes Consultoria, supervisão e revisão técnica desta edição: Milena da Rosa Silva Psicóloga. Mestre em Psicologia do Desenvolvimento pela UFRGS. Versão impressa desta obra: 2004 2007 342 COLL, MARCHESI, PALACIOS & COLS. QUADRO 18.3 Itens extraídos da escala EOM-EIS e referentes às áreas vocacional e ideológica Difusão de identidade - Não penso muito em religião. Tanto faz uma coisa ou outra. - Ainda não escolhi a carreira que quero seguir, mas, no momento, e enquanto eu não encontre coisa melhor, qualquer delas me serve. Identidade hipotecada - Acho que penso como meus companheiros sobre política e faço a mesma coisa que eles com relação a votar e essas coisas. - Faz muito tempo que meus pais decidiram a carreira ou o trabalho que tenho de seguir, e eu estou seguindo o plano deles. Moratória - Ainda não estou seguro do que a religião significa para mim. Eu gostaria de me decidir, mas ainda estou dando voltas. - Ainda não me decidi profissionalmente. Há muitas carreiras que me interessam. Conquista de identidade - Pensei muito em minhas idéias políticas e concordo com algumas idéias de meus pais e discordo com outras. - Demorei muito para tomar esta decisão, porém, agora sei que carreira quero seguir. Fonte: Adams, Benniom e Huh, 1989, um estado de moratória que terminaria na aquisição de uma identidade diferente. No en tanto, existem outras possibilidades dentro desse modelo progressivo, e alguns estudos descobriram que a trajetória mais ffeqüente é a seguida pelos adolescentes que, estando em uma identidade hipotecada, começam a ques tionar esses compromissos (moratória) para terminar substituindo-os por outros mais pes soais que os situam em um status de conquista de identidade (Kroger, 1993). Pensemos, por exemplo, no caso de uma menina que abando na as opções ideológicas que havia assumido, em grande parte, para corresponder às expec tativas de seus pais, para se decidir por novos compromissos políticos ou religiosos, frutos da reflexão e da escolha pessoal. Ainda que o modelo progressivo repre sente a trajetória mais desejável, Waterman (1982) aponta a possibilidade de que alguns adolescentes sigam um modelo regressivo no qual se abandonam situações de identidade conseguida ou hipotecada, sem encontrar um substituto adequado para essa identidade, fi cando presos em uma situação de difusão de identidade. Igualmente, sujeitos que se encon tram em situação de crise ou moratória podem cessar sua busca sem que tenham adotado com promissos satisfatórios, vendo-se imersos em situações de difusão de identidade. Por último, o modelo de paralisação se referiría àqueles jo vens que permanecem de forma indefinida em situações de difusão ou que realizam escolhas que os situam também de forma permanente em uma identidade hipotecada. Quanto ao momento em que os adoles centes costumam alcançar a conquista (reali zação) de identidade, Erikson (1968) supunha que a crise de identidade é algo próprio da ado lescência precoce, e que a evolução era resol vida na maioria dos casos no período com preendido entre os 15 e os 18 anos. No entan to, todos os dados de que dispomos hoje em dia nos indicam que essas previsões eram mui to otimistas, pois é no final da adolescência que os adolescentes começam a alcançar o status de moratória, sendo algo não-usual encontrar mos identidades conquistadas por volta dos 20 anos. E até em alguns estudos realizados sobre adultos foram encontrados uma minoria de sujeitos em situação de conquista e porcenta gens altas de identidades hipotecadas. Talvez DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO E EDUCAÇÃO, V.1 343 as condições sociais atuais não sejam as mais favoráveis para promover a aquisição da con quista da identidade pessoal, pois exercem uma importante pressão sobre o sujeito, limitando sua capacidade de escolha e criando uma ten são entre o indivíduo e a sociedade que tende a gerar alienação, confusão e perda de auten ticidade (Cotè, 1996; Gecas e Burke, 1995). À luz dos dados disponíveis, fica cada vez mais difícil manter a idéia da conquista da identida de como tarefa que culmina na adolescência. Sem dúvida, estamos diante de um processo que planta suas raízes na infância e se estende ao longo de todo o ciclo vital, com períodos de exploração e períodos de consolidação, embo ra os períodos em que ocorrem importantes mudanças contextuais, como a adolescência, representem um momento crítico na aquisição da identidade. Defasagens na conquista da identidade Uma das características que Erikson atri buiu à conquista da identidade é a globalidade ou integridade e coerência; no entanto, essa idéia não parece ser apoiada pela pesquisa, pois, quando se leva em conta diversas áreas ou domínios, não é muito comum que os sujei tos se encontrem no mesmo status de identi dade nas diferentes áreas exploradas. Assim, Archer (1989) encontrou que somente 5% dos adolescentes estudados apresentavam o mes mo status em todas as áreas, o que parece jo gar por terra a idéia da identidade como algo homogêneo que o sujeito alcança globalmen te. Em clara sintonia com a teoria focal de Colemam (1980), é muito razoável que a ado ção de compromissos em diferentes áreas ocor ra de forma seqüencial ao longo da adolescên cia. Assim, uma menina pode ter muito claras suas preferências nas relações interpessoais e religiosas (conquista), porém pode estar dan do voltas para escolher a carreira que quer se guir (moratória) e nem sequer ter se pergun tado quais são suas preferências políticas (di fusão). No entanto, apesar dessas diferenças entre identidades, existirá uma tendência evolutiva a que se vá alcançando uma certa integridade entre todos os componentes, e, como ressalta Grotevant (1992), ao redor de um componente ou domínio que seja especial mente relevante para o sujeito é que os outros irão sendo construídos. Por exemplo, um ado lescente que mostre no interpessoal uma de terminada identidade muito pró-social e vol tada para o apoio dos demais pode escolher uma profissão que se ajuste a ela e virar um assistente social, defendendo também idéias políticas de acordo com essa orientação. Bosma (1992) estudou os componentes que os ado lescentes consideram mais relevantes diante da definição de sua identidade e concluiu que são os conteúdos relacionados com os estudos e com a profissão os que ocupam o primeiro lu gar, embora também pareça que é precisamente em relação aos aspectos profissionais que a identidade é alcançada de forma mais tardia. Fatores que influem na conquista da identidade A conquista da identidade implica a livre escolha pelo sujeito de uma série de opções ou compromissos, embora o contexto social exer ça uma importante pressão sobre o adolescen te, condicionando as escolhas que efetua. Se falarmos no contexto familiar, temos de ressal tar a influência que o tipo de relações familia res e os estilos parentais irão exercer sobre a conquista da identidade pelo adolescente. Hoje em dia existe um consenso generalizado de que os adolescentes que vivem em famílias demo cráticas, que lhes oferecem a oportunidade de expressar e de desenvolverseus próprios pon tos de vista e de tomar suas decisões em um contexto de aceitação e apoio são os que mais têm facilidade para alcançar um sentimento de identidade pessoal. São famílias que incenti vam em seus filhos a exploração e o processo de individuação. Outras situações familiares re presentam contextos menos favoráveis, como é o caso dos adolescentes que vivem em lares onde impera um clima excessivamente autori tário, ficando propensos a seguir o caminho que seus pais traçaram para eles e a adotar identidades hipotecadas. Em alguns casos, es ses adolescentes poderão rebelar-se contra seus pais e tomar suas próprias decisões, embora, 344 COLL, MARCHESI, PALACIOS & COLS. por não contar com o apoio parental, a passa gem da moratória para uma situação de con quista de identidade seja mais difícil. Entre os filhos de pais permissivos também será freqüen- te encontrar identidades hipotecadas, já que, por serem adolescentes pouco acostumados a que seus pais exijam que eles tomem decisões, podem optar pela solução mais fácil e tomar emprestadas suas preferências; embora tam bém seja possível que esses adolescentes te nham a tendência de evitar a adoção de com promissos sérios, permanecendo em situações de difusão de identidade, algo que costuma ser igualmente freqüente em filhos de pais indife rentes (Makstrom-Adams, 1992). Grotevant (1992) assinalou a diferença existente entre os componentes recebidos e os componentes escolhidos da identidade. Os pri meiros representam aqueles aspectos sobre os quais o sujeito não tem nenhuma possibilida de de escolha, como o gênero, a raça ou a cul tura de procedência, que irão representar o contexto para a escolha dos componentes res tantes. Assim, o fato de ser uma menina de raça cigana e que vive na Espanha constituirá o núcleo na formação de sua identidade, ao mesmo tempo em que condicionará as opções disponíveis. Portanto, o contexto social e cultu ral representa um fator muito influente, de forma que determinadas culturas muito tradi cionais e com normas e modelos educativos muito rígidos, como a cigana (ou como a de Samoa, para usar um outro exemplo), tendem a promover identidades hipotecadas na maio ria dos sujeitos. Em compensação, a cultura ocidental costuma deixar ao indivíduo uma maior margem de liberdade que o leva com ffeqüência à conquista da identidade. Além disso, existem algumas evidências segundo as quais fazer parte de uma minoria étnica repre senta uma desvantagem no processo de cons trução da identidade. Esses adolescentes de vem enfrentar a difícil tarefa de escolher entre os valores próprios de seu grupo étnico e os que imperam na cultura majoritária. Em alguns casos, a pressão do grupo por preservar suas próprias características de identidade será tão forte que seus membros se sentirão próximos de hipotecar sua identidade. Em outras ocasi ões, os sujeitos estarão imersos em uma crise ou moratória tão clara que pode ser resolvida com a regressão a uma difusão de identidade. Tudo isso sem se esquecer de que, freqüente- mente, os grupos minoritários sofrem discri minação por parte da cultura dominante, por isso seus membros têm menos alternativas a explorar e entre as quais escolher. Quanto à influência do gênero, sem dúvi da representa um dos aspectos mais polêmicos em relação à aquisição da identidade. As pri meiras pesquisas que analisaram as diferenças entre meninos e meninas costumavam encon trar mais dificuldades entre estas, já que as mu lheres representavam taxas mais altas de iden tidades hipotecadas. No entanto, quando os es tudos incluem uma ampla variedade de con teúdos, e não somente os aspectos ideológico e vocacional, aparecem algumas matizações, pois enquanto os meninos estão na frente nos componentes ideológicos e intrapessoais, nos aspectos interpessoais são as meninas que ten dem a alcançar antes a conquista da identida de (Patterson, Sochting e Mareia, 1992). Esses resultados podem estar evidenciando as dife renças de gênero nos processos de socializa ção, mais restritivos para as adolescentes quan do se trata de aspectos profissionais; por isso é esperável que as diferenças sejam suavizadas com a mudança nas expectativas sociais para com a mulher. De fato, alguns estudos recen tes encontram entre as meninas status de iden tidade mais avançados do que entre os meni nos da mesma idade (Lacombe e Gay, 1998). Identidade e ajustamento psicológico No âmbito teórico desenvolvido por Erikson, a conquista da identidade pode ser considerada um requisito para um ótimo ajus tamento psicológico, pois representa o resul tado da resolução positiva da crise da adoles cência. O sentimento de identidade represen ta a integridade entre os diferentes componen tes que formam a personalidade do sujeito e serve para dotar de significado suas ações. Por isso, não é estranho que alguns estudos tenham tentado estabelecer relações entre os níveis ou DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO E EDUCAÇÃO, V.1 345 status de identidade e determinadas caracte rísticas psicológicas. Ainda que a maioria des ses estudos seja de caráter correlacionai, e pos sam somente estabelecer associações e não re lações causais, tendem a considerar que o status de identidade influirá sobre o comportamento do sujeito como se fosse uma característica mais ou menos estável de sua personalidade. Foram encontradas relações com características so- cioemocionais, cognitivas e comportamentais: em geral, o status de conquista de identidade é o que aparece associado a traços mais positi vos, e o de difusão, a traços menos favoráveis, com os estados de moratória e identidade hi potecada ocupando posições intermediárias. O estado de difusão é o menos adaptativo e que aparece mais freqüentemente associado a transtornos psicológicos (Watermam, 1992), pois esses adolescentes apresentam altos níveis de ansiedade e de sintomas depressivos, assim como uma baixa auto-estima. Em suas relações sociais mostram-se conformistas e influenciá veis, com dificuldades para o estabelecimento de relações de cooperação e de intimidade. Mostram uma orientação evitativa, pois evitam enfrentar os problemas e as situações conflituo sas. Não é de se estranhar que, entre esses ado lescentes, encontremos os mais altos níveis de consumo de drogas. Os sujeitos com identidade hipotecada apresentam uma mistura de traços positivos e negativos. Entre os traços favoráveis é preciso destacar a alta auto-estima, a baixa ansiedade e a pouca incidência do consumo de drogas. Esses adolescentes compartilham com os que se encontram na conquista de identidade bons índices de bem-estar emocional, e, por isso, parece que, com relação a esses aspectos, o fato de ter adotado alguns compromissos é a variá vel mais relevante. Por outro lado temos de ci tar outras características menos positivas: as sim, costumam ser adolescentes excessivamen te obedientes e dependentes de seus pais, de monstrando atitudes conformistas, rígidas e autoritárias e mantendo relações muito este reotipadas; em função disso, têm dificuldade para estabelecer relações íntimas. Conforme as sinalou Berzonsky (1992), são sujeitos que mantêm uma orientação normativa e procu ram ajustar-se às expectativas defendidas por figuras importantes para eles, como os pais. Algo parecido ocorre com os adolescen tes em moratória, nos quais também se dará uma combinação de traços positivos e negati vos. O lado menos favorável desses adolescen tes, representado por uma baixa auto-estima e um elevado nível de ansiedade e indecisão, es taria associado ao momento de crise que atra vessam, pelo que seria razoável pensar que é uma situação transitória. Esses adolescentes compartilharão muitas características positivas com aqueles que já alcançaram a conquista de identidade: as atitudes sociais flexíveis, a con duta pró-social e a orientação para a informa ção. Apresentam níveis de consumo de drogas um poucosuperior aos dos adolescentes com identidade hipotecada e inferiores aos que se encontram em difusão, ainda que as diferen ças mais importantes estejam relacionadas com as motivações que os levam a esse consumo, associadas à busca e à experimentação próprias da moratória (Jones, 1992). Os sujeitos que alcançaram a conquista da identidade são aqueles que se mostram mais maduros e autônomos. São adolescentes com muita auto-estima e confiança em si mesmos, que apresentam pouca ansiedade e costumam ter um estado emocional favorável. Alcançam os níveis mais complexos de desenvolvimento moral e mantêm relações sociais caracteriza das pela cooperação e pelo apoio aos demais, estabelecendo relações últimas com relativa fa cilidade. Como nos sujeitos em moratória, quando é para enfrentar problemas e tomar decisões, manifestam uma orientação para a informação, mostrando-se abertos e flexíveis, procurando avaliar toda a informação dispo nível, ainda que o fato de já ter adotado uma série de compromissos possa limitar um pouco essa flexibilidade em relação a quem ainda se encontra em moratória. O fato de que em al gumas ocasiões os sujeitos em conquista de identidade não mostrarem características tão positivas, talvez nos indique que não basta le var em conta se o adolescente adotou ou não compromissos, mas também em que medida esses compromissos são significativos e satisfa tórios e se ajustam às expectativas que tinha. 346 COLL, MARCHESI, PALACIOS & COLS. PAPÉIS E ESTEREÓTIPOS DE GÊNERO Durante os anos da infância, os proces sos de socialização costumam atuar de manei ra eficaz, de forma que antes do início da ado lescência os adolescentes vão ajustando seus valores, atitudes e comportamentos aos papéis que a sociedade define para cada sexo. Após as mudanças físicas próprias da puberdade, essa pressão aumentará; por isso, não é estra nho que, durante esses anos da adolescência, os adolescentes mostrem-se muito estereotipa dos e evitem atividades ou comportamentos que possam ser considerados próprios de ou tro sexo: eles se mostram muito masculinos, e elas, muito femininas. Isso poderia explicar os resultados encontrados em numerosos estudos que apontam um aumento nos estereótipos sexuais durante a adolescência. No entanto, algumas pesquisas encontraram um certo au mento da flexibilidade nesses estereótipos co incidindo com a transição para o ensino mé dio (Alfieri, Ruble e Higgins, 1996). Uma ex plicação para isso pode ser que as mudanças cognitivas tendem a facilitar uma visão mais relativista e flexível dos papéis de gênero, po rém tudo parece mostrar que essa flexibilida de é o resultado dos esforços que os adoles centes realizam para se adaptar a um novo contexto social. As importantes mudanças que acompanham essa transição podem criar no adolescente uma certa insegurança que faça com que talvez esse não seja o momento mais adequado para defender idéias muito estereo tipadas sobre as diferenças entre ambos os se xos. Uma vez superados esses momento ini ciais, essa flexibilidade tende a desaparecer, e os estereótipos se consolidam. Ainda que as diferenças não sejam muito claras, os meninos tendem a mostrar estereótipos mais rígidos do que as meninas, conforme foi indicado em re lação à infância nos Capítulos 9 e 13. Muitos dos estudos realizados sobre pa péis de gênero utilizaram o questionário Bem Sex Roles Inventory, elaborado por Sandra Bem (1974), que inclui uma série de itens referen tes a características tradicionalmente conside radas masculinas (confiança em si mesmos, in dependência, atividade) ou femininas (amabi- lidade, pró-socialidade, sensibilidade). A pon tuação obtida no teste permite classificar os sujeitos em quatro tipos: sujeitos masculinos, que pontuam alto em masculinidade e baixo em feminilidade;/emininos, que obtêm pontua ções altas em feminilidade e baixas na escala de masculinidade; os sujeitos andróginos que obtêm pontuações altas em ambas as dimen sões, enquanto os indiferenciados pontuam bai xo nas duas escalas, pelo que masculinidade e feminilidade são dimensões diferentes e não os pólos opostos de uma mesma dimensão. Ainda que tradicionalmente se tenha con siderado que o ideal é que os meninos se mos trem masculinos e as meninas femininas, al guns estudos revelaram que a personalidade de tipo andrógino pode ser mais favorável, tan to para os homens como para as mulheres, pro porcionando um maior ajustamento psicológi co. Apesar de ser possível que, no início da ado lescência, os sujeitos andróginos possam ser incomodados ou ridicularizados por seus iguais ou seus pais, seus múltiplos interesses e sua maior flexibilidade irão permitir-lhes que se adaptem e que se sintam cômodos em uma variedade maior de situações. Não é estranho que esses adolescentes apresentem níveis mais altos de auto-estima e status de identidade mais avançado (Dusek, 1996). DESENVOLVIMENTO MORAL Raciocínio moral Durante os anos da adolescência ocorre rão importantes mudanças no âmbito do ra ciocínio moral. Lembremo-nos de que no mo delo proposto por Kolberg, exposto no Capítu lo 10, as pessoas progridem através de uma série de fases até alcançar os maiores níveis de desenvolvimento moral. Durante a infância, as crianças haviam se situado na perspectiva egocêntrica própria do nível pré-convencional, no qual o bem se definia de forma indepen dente da intenção do sujeito pela obediência literal às normas, e as razões que justificavam o se comportar de acordo com essas normas era evitar o castigo. Ainda que alguns adoles centes permaneçam nesse nível, a maioria de les começaria antes da puberdade a mostrar DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO E EDUCAÇÃO, V.1 347 um raciocínio moral um pouco mais avança do, situando-se no que Kolberg denominou de nível convencional, descrito no Capítulo 14. Agora os adolescentes irão elaborar suas opi niões morais baseando-se nas expectativas do grupo social, e as razões para seguir as regras sociais são conseguir a aprovação dos demais e uma opinião favorável sobre seu comporta mento como membro de uma coletividade. Na primeira fase desse nível procurariam se mos trar diante dos demais como um bom menino, ou uma boa menina. Mais adiante, na fase mais avançada desse nível convencional, surge uma maior orientação pela lei e pela ordem, que devem ser respeitadas pelo bem da comunida de. Muitos adolescentes superam a visão egocêntrica própria da infância para se situa rem em uma perspectiva social de membro de uma sociedade que julga os comportamentos a partir do bem coletivo. Existem várias razões que justificam esse avanço no desenvolvimento do juízo moral. Se levarmos em conta que, no modelo proposto por Kolhberg, o desenvolvimento cognitivo re presenta um fator necessário, ainda que não suficiente, para que ocorram avanços no ra ciocínio moral, é lógico que as novas capacida des cognitivas alcançadas durante o período das operações formais tenham sua repercus são sobre o juízo moral. Assim, enquanto a ca pacidade para pensar de forma abstrata per mitirá o surgimento da preocupação pelo con ceito de justiça ou bem social, o desenvolvi mento da habilidade para adotar perspectivas diferentes da própria aumentará a preocupa ção pela opinião dos demais e pelas conseqüên- cias de seus atos sobre outras pessoas. Junto a esses avanços cognitivos, é preciso considerar que, durante os anos da adolescência, são fre- qüentes as discussões com os pais e companhei ros sobre diversos temas sociais e morais, que podem produzir no adolescente o conflito ou o desequilíbrio que o leve a mudar sua forma de raciocinar sobre os dilemas morais. Ainda que a maioria dos adolescentes e dos adultos permaneça nesse nível de desen volvimento moral, alguns sujeitos, durante a adolescência tardia, ou já na idade adulta, evo luirão em direção a última fase no desenvolvi mento do raciocínio moral: o nível pós-conven- cional. Nessenível, os comportamentos serão julgados a partir de princípios ou de direitos humanos universais que estão acima das nor mas sociais. Portanto, o indivíduo se situa em uma perspectiva acima da sociedade, construin do princípios que predominam sobre os social mente estabelecidos. A teoria de Kolberg recebeu um impor tante apoio empírico; no entanto, alguns as pectos receberam críticas consideráveis. Uma das questões mais criticadas está ligada ao es casso número de sujeitos que ascendem ao ní vel pós-convencional, sobretudo em socieda des menos desenvolvidas e regidas por formas de governo não-democráticas, o que coloca sob suspeita a universalidade desses níveis. O ou tro aspecto que recebeu importantes críticas está ligado ao viés masculino dessa teoria. O fato de Kohlberg ter construído seu modelo a partir de entrevistas com homens, dificulta sua fácil extrapolação para m ulheres. Carol Gilligan, uma colaboradora de Kohlberg, baseando-se em entrevistas com meninas e mu lheres, encontrou algumas diferenças de gêne ro. Assim, enquanto os meninos parecem mais preocupados pela justiça como conceito abs trato e pelo fato de que as pessoas sejam trata das de forma justa e de acordo com as normas ou regras sociais, as meninas costumam inter pretar os dilemas morais a partir de uma pers pectiva interpessoal, mostrando-se mais preo cupadas com suas relações com os outros e com sua responsabilidade para satisfazer as neces sidades dos demais. Gilligan (1982) propôs um modelo alternativo ao de Kohlberg, modelo que explicaria o desenvolvimento do raciocínio mo ral entre o sexo feminino. Esse modelo inclui três níveis paralelos ou equiparáveis aos níveis pré-convencional, convencional e pós-conven- cional. No primeiro nível, a preocupação da mulher seria a sobrevivência e seus próprios interesses. No segundo, o mais característico da adolescência, a necessidade de agradar às outras pessoas tem prioridade sobre os inte resses próprios; as adolescentes e as mulheres começam a se responsabilizar pelo cuidado de outros e procuram conseguir um equilíbrio en tre permanecer leais a si mesmas e atender as necessidades dos demais. A busca desse equi líbrio pode fazer com que a adolescência seja 348 COLL, MARCHESI, PALACIOS & COLS. uma época especialmente estressante para as meninas, já que percebem que esse interesse pelos demais é pouco considerado em uma so ciedade machista que valoriza mais a competi tividade e o êxito. No terceiro e último nível, dificilmente alcançável por mulheres adoles centes e adultas, consegue-se esse equilíbrio entre a satisfação das necessidades próprias e das dos demais, e se desenvolve uma perspec tiva universal em que as mulheres se perce bem como pessoas capacitadas que participam ativamente da tomada de decisões. O modelo de Gilligan recebeu um apoio empírico insufi ciente, pois alguns estudos não encontraram diferenças entre meninos e meninas. Talvez ambas as perspectivas, a centrada nos demais e a centrada na justiça como conceito abstra to, sejam complementares e estejam presentes tanto em homens como em mulheres. Comportamento moral: conduta pró-social e atos anti-sociais Com relação às mudanças no comporta mento moral, as coisas são um pouco menos claras do que quando a questão é o raciocínio moral, sendo os dados um pouco mais contra ditórios. Em termos gerais, pode-se dizer que a maioria dos estudos realizados sobre adoles centes encontra relação, ainda que fraca, en tre os maiores níveis de raciocínio moral e com portamentos mais adequados do ponto de vis ta moral. No entanto, surge o paradoxo de que com a chegada da adolescência e junto ao já comentado avanço no juízo moral, aumentam tanto os comportamentos de caráter pró-social como as condutas anti-sociais e delituosas, o que uma vez mais evidencia o caráter ambiva lente dessa etapa evolutiva. Em relação à conduta pró-social, a maio ria dos estudos encontra um aumento em suas manifestações ao longo da adolescência, ain da que não faltem pesquisas que não detec tam variações significativas associadas à ida de (Fabes e Eisenberg, 1998). Parece que os que tendem a aumentar são alguns dos com portamentos pró-sociais, mas não todos. As sim, é mais provável que os adolescentes se comprometam em atividades de ajuda que ne cessitam de recursos e de capacidades que não tinham nos anos anteriores; por exemplo, as doações e a participação em organizações não- govemamentais ou em atividades de volunta riado experimentam um claro aumento, sobre tudo a partir da adolescência média (Martin e Velarde, 1996). Existem algumas variáveis que aparecem associadas ao comportamento pró- social durante a adolescência, como o dispor de um raciocínio moral mais desenvolvido e de níveis mais altos de empatia, auto-estima e competência social. Também os pais demo cráticos e que proporcionam apoio continu am sendo um fator relevante (Eisenberg, 1991). Embora não existam importantes di ferenças de gênero, podemos ressaltar que, enquanto os meninos costumam se envolver mais em ações instrumentais de ajuda, como intervir em situações perigosas ou arriscadas, as meninas tendem a proporcionar apoio ver bal e emocional. Porém, junto a esse aumento nos com portamentos de ajuda aos demais, ocorrerá um aumento significativo de condutas mais ina dequadas. Ainda que as pesquisas indiquem que os comportamentos agressivos menos se veros tendem a diminuir em relação aos anos anteriores, a incidência dos atos violentos e delituosos experimenta um crescimento subs tancial (Coie e Dodge, 1998). Muitos compor tamentos anti sociais aparecem durante os anos anteriores à puberdade, manifestando-se fun damentalmente no contexto familiar e esco lar; porém, com a chegada da adolescência, esses atos anti sociais vão intensificando-se, al cançando a máxima incidência por volta dos 17 anos, para, a partir desse momento, come çar a diminuir, de forma que durante a maturi dade precoce esses comportamentos terão de saparecido na maior parte dos sujeitos. As di ferenças de gênero na conduta delitiva são muito chamativas; assim, além da maior incidência geral entre o sexo masculino, encontramos que, enquanto os meninos costumam se envolver em atividades mais graves e violentas, como rou bos de carros, furtos ou assaltos, entre as meni nas são mais ffeqüentes a cleptomania, as fu gas de casa ou os delitos de caráter sexual. Fa tores como a falta de supervisão e o controle familiar, a escassa comunicação com os pais, o DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO E EDUCAÇÃO, V.1 349 fracasso escolar e um contexto social e cultural que reforce as atitudes anti-sociais favorecerão o surgimento de comportamentos delituosos. A primeira vista podería ser paradoxal que essa ampliação da conduta anti-social ocorresse em momentos nos quais se observa um claro avanço no raciocínio moral. No entanto, é pre ciso considerar a influência de certas variáveis pessoais e situacionais que também mudam durante a adolescência. Por exemplo, David Elkind (1985) destacou o papel que podem exercer as limitações cognitivas relacionadas ao egocentrismo próprio desse período, ao qual já aludimos no Capítulo 16. Esse autor deno minou de hipocrisia aparente a tendência que mostram muitos adolescentes para pensar que não têm de aceitar as mesmas normas que con sideram apropriadas para os demais, o que, em muitas ocasiões, evidencia uma clara discre pância entre os ideais do jovem e sua conduta: é como se o simples fato de pensar nesses ide ais bastasse para consegui-los, sem a necessi dade de se esforçar pessoalmente. Essa carac terística estaria ligada ao fato de que, ainda que os adolescentes já tenham a capacidade para pensar em termos abstratos, para eles ain da é complicado passar dos princípios abstra tos para situações concretas, explicando-se, assim, determinados comportamentos juvenis contraditórios, como protestar contra a conta minaçãomediante uma passeata dominical que supõe uma clara degradação do lugar pelo qual transcorre, ou manifestar-se de forma violenta a favor da paz. Outros fatores que podem in fluenciar no aumento das atividades anti-so- ciais estão relacionados à necessidade que os adolescentes em moratória têm de experimen tar novas situações, ou com a menor supervi são que existe sobre seus comportamentos por parte de pais e educadores durante esses anos em que os adolescentes não assumiram as res ponsabilidades próprias dos adultos. Desenvolvimento social durante a adolescência ALFREDO OLIVA Existe um fio condutor que liga a infân cia à adolescência e evita que os adolescentes se incorporem sem bagagem nessa nova eta pa, garantindo que as relações sociais que es tabeleçam tenham uma certa continuidade com as que mantiveram nos anos anteriores. É muito provável que os adolescentes que se mostravam sociáveis e carinhosos quando crianças continuem sendo, enquanto os mais retraídos continuarão lutando contra sua ti midez; as famílias que, depois da puberdade, experimentaram importantes conflitos em suas relações com o filho ou com a filha ado lescente, talvez tenham sofrido dificuldades semelhantes em etapas anteriores. Em princí pio, não cabe esperar transformações radicais no desenvolvimento social com a chegada da adolescência. No entanto, é razoável pensar que todas as mudanças físicas e psicológicas que o adolescente experimenta repercutirão sobre as relações que ele estabelece em todos aqueles contextos dos quais participa, como a família, o grupo de iguais ou a escola. Além disso, a maior autonomia adquirida permitirá que os adolescentes passem mais tempo em contextos extrafamiliares, pelo que, além das mudanças nas relações já existentes, ocorre rá uma ampliação e uma diversificação de sua rede de relações sociais. Estudar as modificações que ocorrem nos contextos sociais nos quais os adolescentes es tão imersos como resposta a suas novas habili dades e capacidades (sua nova forma de pen sar, seus novos desejos e interesses, seu novo corpo de adulto) é uma forma de analisar o desenvolvimento social durante a adolescên cia. Um tipo de análise diferente consistiría em considerar os contextos sociais (família, esco la, iguais) nos quais transcorre a vida dos ado lescentes como variáveis independentes que exercem sua influência sobre o desenvolvimen to; a família, a escola ou o grupo de iguais são, então, analisados como contextos em que ocor re o desenvolvimento do adolescente, porque tudo o que ocorrer neles influirá decisivamen te sobre o curso do desenvolvimento. Como compreenderá o leitor, essas duas abordagens são claramente complementares; representam as duas faces da mesma moeda e estão tão inter-relacionadas que considerá-las separada mente é um reducionismo somente justificá vel com uma finalidade didática. Um exemplo já comentado no Capítulo 16 servirá para en tender melhor essa visão sistêmica: a chegada da menarca terá uma repercussão importante sobre o relacionamento das meninas com os pais e iguais; porém, nem um aspecto tão biológico como a primeira menstruação será independen te do que tenha acontecido no contexto fami liar, pois o grau de estresse na família é um dos fatores que se relacionam com a maior precoci- dade da menarca; estresse que, por sua vez, não será independente de como estiver ocorrendo a transição para a puberdade. DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO E EDUCAÇÃO, V.1 351 O ADOLESCENTE NA FAMÍLIA Relações familiares durante a adolescência Um dos tópicos mais generalizados sobre a adolescência é o de que, nesse período, ocor rem importantes conflitos na relação do jovem com seus pais. Essa idéia experimentou diver sos vaivéns ao longo das últimas décadas em função das perspectivas teóricas predominan tes, desde os enfoques que consideram a ado lescência como um período no qual as relações familiares se tomam imensamente problemá ticas até as concepções que defendem a nor malidade nas relações entre pais e filhos. Em um extremo está a perspectiva psicanalítica, que fala de explosão de conflitos, da rebelião do adolescente e da separação emocional em relação aos pais. Porém, essa imagem de con flito familiar, que ainda continua atemorizan do muitos pais quando a puberdade de seus filhos se aproxima, tem sido substituída por outra muito mais norm alizada e realista, surgida de um importante número de pesqui sas realizadas sobre amostras muito mais am plas e representativas do que nos casos clíni cos em que os autores de orientação psicanalí tica fundamentaram suas concepções. Os da dos disponíveis hoje nos permitem defender a idéia de que durante a adolescência ocorre uma série de mudanças na relação que os adoles centes estabelecem com seus pais, porém, es sas mudanças não têm de supor necessariamen te o aparecimento de conflitos graves. Confor me ressaltam Laursen e Collins (1994), menos de 10% das famílias parece passar por dificul dades sérias durante essa etapa e, sem dúvida, muitas delas já passavam por problemas du rante a infância. A maioria dos estudos parece coincidir em assinalar o período que se segue à puberdade, isto é, o começo da adolescência, como uma etapa de perturbações temporais nas relações familiares. Nessa etapa, os adolescentes ficam mais assertivos, passam mais tempo fora de casa e diminuem o número de interações posi tivas com seus pais. Apesar disso, parece que a partir desses difíceis momentos iniciais, as re lações tendem a se normalizar, diminuindo o núm ero de conflitos produzidos. Assim, Laursen, Coy e Collins (1998), em uma meta- análise realizada sobre um grande número de pesquisas que estudam os conflitos familiares durante a adolescência, encontraram que, a partir da puberdade, há uma grande correla ção negativa entre idade e número de confli tos entre pais e filhos, ainda que a intensidade afetiva com que os adolescentes vivenciam es ses conflitos tende a aumentar com a idade. Portanto, parece que a puberdade coincide com o momento de maior conflito, e, ao longo da adolescência, o número de conflitos entre pais e filhos tende a diminuir, ao mesmo tempo em que aumenta a intensidade afetiva com a qual o adolescente experimenta esses problemas. À luz desses resultados, é de se esperar que, durante a adolescência precoce, inclusi ve nas famílias que se caracterizam pelas boas relações, possam aparecer algumas disputas e ocorrer mudanças nas relações pais-filhos. No geral, essa mudança não tem por que su por uma ruptura emocional, nem acarretar problemas importantes; antes, os conflitos produzidos costumam relacionar-se com as pectos da vida cotidiana, tais como as tarefas de casa, as amizades, a forma de se vestir ou a hora de voltar para casa. Conforme ressal tou Smetana (1989a), esses conflitos costumam originar-se, porque, enquanto os adolescentes consideram esses assuntos como aspectos de sua vida privada que diz respeito somente a eles, seus pais ainda se consideram no direito de estabelecer regras nesse sentido. Também é freqüente que a percepção que o adolescente tem de seus pais experim ente uma clara desidealização, e a imagem de pais oniscientes e todo-poderosos, própria da infância, seja substituída por outra muito mais realista, na qual eles terão espaço para defeitos e virtudes. Existem diferentes razões que podem jus tificar essa mudança nas relações familiares de pois da puberdade. Em primeiro lugar, é preci so destacar as mudanças cognitivas já conheci das, mudanças que irão afetar a forma como pensam sobre si mesmos e sobre os demais. Essas melhoras intelectuais permitirão ao jo vem ter uma forma diferente de ver as normas 352 COLL, MARCHESI, PALACIOS & COLS. e as regulamentações familiares, chegando a questioná-las; além disso, sua recém-adquiri- da capacidade para diferenciar o real do hipo tético irá permitir-lhe criar alternativas para o funcionamentoda própria família. Também será capaz de apresentar argumentos mais só lidos e convincentes em suas discussões fami liares, o que significará um claro questionamen to da autoridade dos pais. Collins (1992,1997) destacou o papel que exercem as discrepân- cias entre as expectativas de pais e filhos no surgimento desses conflitos. Segundo esse au tor, durante períodos de mudanças rápidas, como a adolescência precoce, ocorrem impor tantes modificações nas percepções e expecta tivas que as pessoas têm dos demais e de si mesmas. Portanto, no princípio da adolescên cia é muito possível que apareçam discrepân- cias entre as expectativas de pais e filhos sobre determinados aspectos, como, por exemplo, sobre o momento mais adequado para que te nham lugar certos acontecimentos ou transi ções (começar a sair com os meninos ou com as meninas, sair sozinhos à noite, começar a se mostrar menos autoritários, etc.). Outro aspecto destacável é que os ado lescentes começam a passar cada vez mais tem po com os iguais, o que lhes permitirá uma maior experiência em relações horizontais ou igualitárias que pode levá-los a desejar um tipo de relação semelhante em sua família. No en tanto, esse desejo de dispor de uma maior ca pacidade de influência na tomada de decisões familiares nem sempre coincide com o de seus pais, e a situação mais freqüente é a de filhos que desejam mais independência do que seus pais estão dispostos a conceder. Os pais costu mam querer continuar mantendo sua autori dade e sua forma de se relacionar com seus filhos; em alguns casos, inclusive, podem au mentar as restrições como resposta ao surgi mento do interesse pelo sexo oposto, o que le vará ao aparecimento de conflitos. Uma vez passado o primeiro momento, os pais costu mam flexibilizar sua postura, e os filhos vão ganhando poder e capacidade de influência, provocando uma diminuição de conflitos na adolescência média e tardia. Quando os pais não se mostram sensíveis às novas necessida des de seus filhos adolescentes e não adaptam seus estilos disciplinares a essa nova situação, é muito provável que apareçam problemas de adaptação, no adolescente. Na linha da perspectiva psicanalítica, al guns autores sugeriram a possibilidade de que os problemas entre pais e filhos tenham um efeito positivo sobre o sistem a familiar. Holmbeck (1996) sugere um modelo em que o valor adaptativo ou não-adaptativo desses con flitos dependerá de alguns fatores moderado res. Quando são problemas de baixa intensi dade que ocorrem no contexto de relações ca racterizadas pela comunicação e pelo afeto, e quando os pais se mostram flexíveis e capazes de ajustar suas formas de se relacionar com seus filhos adolescentes, é muito provável que o conflito sirva como catalisador das mudan ças nas relações entre pais e filhos, promoven do assim a adaptação e o desenvolvimento. Ao contrário, nos casos em que os pais mostram expectativas negativas sobre a adolescência e consideram esse período como inevitavelmente problemático, ou quando se mostram coerciti vos e pouco comunicativos com seus filhos e reagem às mudanças próprias da adolescência com o imobilismo ou o aumento de restrições, é bem possível que ocorra um deterioramento im portante nas relações familiares que tenha um impacto negativo sobre o desenvolvimento e o comportamento do adolescente. Outro tópico muito generalizado é o que considera o adolescente como um indivíduo isolado em seu mundo e que fechou todos os canais de comunicação com sua família. Ain da que, em alguns casos, possa ocorrer uma ruptura total da comunicação, em geral, a maioria dos adolescentes costuma falar com seus pais sobre muitos dos temas que os pre ocupam, talvez com a exceção de alguns as suntos que preferem comentar com seus ami gos, como os referentes às relações sexuais ou às drogas. As pesquisas existentes sobre esse aspecto (Noller,1994) indicam que tanto os meninos como as meninas mostram mais co municação e intimidade com suas mães do que com seus pais, provavelmente porque elas pas sam mais tempo em casa e estão mais disponí veis e, além disso, mostram mais receptividade DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO E EDUCAÇÃO, V.1 353 e sensibilidade às opiniões e às inquietações de seus filhos. Porém, já que também são as mães as que apresentam um maior número de interações negativas com seus filhos, parece que elas tanto podem ser autoritárias como ponde radas. Larson e Richards (1994) encontraram que entre os 9 e os 15 anos ocorre uma clara redução no tempo em que meninos e meninas passavam interagindo com sua família em ati vidades coletivas, como ver televisão juntos ou conversar. Esse tempo é substituído pela per manência solitária do adolescente em seu quar to e pelas relações com o grupo de amigos. Muitas das mudanças nas relações fami liares estão, em grande parte, influenciadas pe las mudanças experimentadas pelos filhos a partir da puberdade. Mas não podemos nos es quecer de que os pais também mudam ao lon go do ciclo vital, e é possível que, enquanto seus filhos passam pela adolescência, eles tam bém estejam enfrentando algum momento evolutivo delicado ou passando por alguma crise pessoal, aumentada ao ver que seus fi lhos estão ficando adultos, e tudo isso pode interferir nas relações que estabelecem com seus filhos. Por exemplo, é provável que a pri meira menstruação da filha coincida com o fi nal do ciclo reprodutivo da mãe, que se sentirá um pouco mais próxima da velhice, o que pode contribuir para gerar algumas tensões em suas relações. Uma correta compreensão do que ocorre no contexto familiar durante a adoles cência exige uma verdadeira visão sistêmica que contemple as relações bidirecionais entre todos os elementos que de dentro ou de fora desse contexto estejam interligados. A busca da autonomia Um dos acontecimentos mais relevantes para o desenvolvimento social do adolescen te está ligado à aquisição de níveis de auto nomia cada vez maiores em relação a seus pais. Se o adolescente deve se preparar para abandonar o lar e agir como um adulto autô nomo, é razoável esperar dele comportamen tos cada vez mais independentes. Diante des se processo de individuação, é freqüente que os adolescente experimentem uma certa am bivalência, e que, ao mesmo tempo que des frutam de novos privilégios, lamentem as no vas responsabilidades que devem assumir, podendo sentir saudade de seus dias de in fância em que seus pais cuidavam deles e as sumiam toda a responsabilidade. Por isso, não é estranho encontrar durante os primeiros anos da adolescência a alternância entre con dutas maduras e comportamentos infantis. Em relação à conquista da autonomia pelo adolescente, é preciso destacar o papel que a desvinculação ou a separação afetiva dos pais exerce nesse processo. Autores como Anna Freud e Peter Blos consideraram que o distan ciamento, e até mesmo a hostilidade, em rela ção aos pais é algo natural e desejável quando os filhos chegam à puberdade, porque favore ce o estabelecimento de vínculos extrafamilia- res de caráter heterossexual e a superação dos desejos sexuais de caráter incestuoso. Steinberg e Silverberg (1986) empregaram o termo au tonomia emocional para fazer referência a essa desvinculação afetiva. Para eles, a autonomia emocional, que avaliam mediante uma escala auto-aplicável, é um conceito multidimensio- nal que inclui componentes como a tendência a compreender os pais como pessoas com de sejos e necessidades próprias, sua desidea- lização e a independência e a individuação do adolescente. Segundo Steinberg e Silverberg (1986), essa autonomia afetiva é necessária para que o processo de individuação ocorra, ainda que, em um primeiro momento, a sepa ração afetiva dos pais possa deixar o adoles cente em uma situação de vulnerabilidade e vazio emocional que o levará a uma excessiva dependência do grupo de iguais para preen cher esse vazio. Outros autoresquestionaram que a des vinculação afetiva dos progenitores represen te um passo necessário no processo de indi- viduação do adolescente. Na linha da teoria de apego, Ryan e Linch (1989) consideram que uma elevada autonomia emocional pode estar refletindo uma experiência prévia no contexto familiar de falta de apoio e aceitação, que não só não conduz a uma maior autonomia, mas que também pode estar interferindo na conso lidação da identidade e na formação de uma auto-estima positiva. Então, longe de estar re 354 COLL, MARCHESI, PALACIOS & COLS. presentando um aspecto positivo do desenvol vimento, uma alta autonomia emocional esta ria refletindo a frieza na relação afetiva estabe lecida com os pais na infância, frieza que ha via levado a um apego do tipo inseguro- evitativo. Nós mesmos encontramos que os ado lescentes que mostram uma maior autonomia emocional têm uma auto-estima mais baixa, modelos representacionais inseguros de sua relação com os pais na infância e um meio fa miliar caracterizado pela falta de afeto e apoio. Talvez nenhuma das posturas comentadas esteja totalmente certa, pois é provável que, em alguns casos, uma elevada autonomia emocio nal seja fruto de uma vinculação afetiva frágil da criança com seus pais, porém, também é pos sível que, em outros casos, essa autonomia te nha surgido como conseqüência de mudanças próprias da adolescência, mesmo quando exis tia uma boa relação prévia com pais afetuosos. Em nossa opinião, o fundamental é o papel mo derador que o contexto familiar exerce na rela ção existente entre a autonomia emocional e a adaptação do adolescente. As pesquisas realiza das sobre esse aspecto (Lambom e Steinberg, 1993; Fuhrman e Holmbeck, 1995) indicam que uma alta autonomia emocional costuma levar a problemas adaptativos, sobretudo a longo pra zo, quando ocorre em um contexto familiar pou co coeso e que oferece pouco apoio. Em com pensação, quando o meio familiar é mais favo rável, traduz-se em uma série de conseqüências positivas, como uma boa atitude e bons rendi mentos acadêmicos, uma elevada auto-estima e uma identidade mais estabelecida, ainda que também possam surgir alguns problemas de con duta (Silverberg e Gondoli,1996). Influências familiares sobre o desenvolvimento social Os dados disponíveis hoje apoiam a hi pótese de que um meio ótimo para o desenvol vimento e autonomia do adolescente é aquele em que as relações dos pais com os filhos com binam o afeto com o favorecim ento da individualidade, mediante condutas que esti mulam a autonomia cognitiva e a iniciativa pró pria, como, por exemplo, favorecendo a dis cussão, a troca de pontos de vista entre pais e filhos e a adoção de opiniões próprias por par te destes últimos. Além dessa combinação en tre apoio afetivo, comunicação e favorecimento da autonomia, existem outras características do meio familiar muito favoráveis para facili tar o desenvolvimento e a adaptação dos ado lescentes. O controle e a supervisão da condu ta do adolescente são fundamentais durante essa etapa evolutiva, pois muitos dos proble mas de conduta que surgem durante a adoles cência estão relacionados com o escasso con trole parental; por isso, conhecer quem são os amigos de seus filhos ou interessar-se por suas atividades deve se transformar em algo priori tário para os pais. É preciso considerar que a adolescência é um período de exploração no qual os ado lescentes necessitam ter experiências diver sas que irão ajudá-los a construir sua identi dade. Ainda que essa experimentação leve a certos riscos, ela é necessária, por isso, o ide al é que ocorra sob a supervisão de adultos que possam detectar situações de risco exces sivo. De fato a supervisão é tão necessária nessa etapa como durante a infância, porém é imprescindível que os pais introduzam cer tas modificações no grau e na natureza desse controle para evitar cair em uma conduta de vigilância ou superprotetora que não seria nada benéfica. Isso nos leva a destacar outra das características que deve incluir a conduta educativa dos pais: a flexibilidade. O fato de que, durante esse período evolutivo, os ado lescentes mudem rapidamente obriga os pais a se mostrarem sensíveis a essas mudanças, modificando suas expectativas e as normas e práticas educativas que regem a família para procurar ajustá-las às novas necessidades evolutivas do adolescente; por exemplo, le vando em conta a necessidade que os filhos têm de assumir novas responsabilidades ou de aumentar sua capacidade para tomar de cisões. Conforme assinalou Eccles e seus co laboradores (1993), muitos dos problemas surgidos durante essa etapa têm sua origem na falta de ajuste entre o contexto familiar e as novas necessidades dos adolescentes. Com relação ao papel desempenhado pela comunicação entre pais e filhos adolescentes, DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO E EDUCAÇÃO, V.1 355 é preciso destacar a conveniência de manter continuamente abertos os canais de comuni cação em ambos os sentidos. É importante que os pais se mostrem atentos e receptivos diante das preocupações de seus filhos e que, tam bém, lhes proporcionem apoio e informação que lhes permitam desenvolver habilidades úteis em áreas de especial risco durante essa etapa (relações sexuais, drogas). A pesquisa sobre o papel que exercem os estilos disciplinares dos pais fornece dados cada vez mais interessantes, sendo evidente que, igualmente ao que ocorria durante a infância, os pais democráticos, que combinam a comu nicação e o afeto com o controle não-coerciti- vo da conduta e as exigências de uma conduta responsável na relação com seus filhos, são os que mais favorecerão a adaptação de seus fi lhos, que demonstrarão um desenvolvimento mais saudável, uma melhor atitude e rendimen tos acadêmicos e menos problemas de condu ta (Lamborn et al., 1991; Darling e Steinberg, 1993). Em compensação, quando os pais se comportam de forma fria e excessivamente controladora, como acontece entre os pais au toritários, costuma ocorrer que, a curto prazo, seus filhos se mostrem obedientes e conformis tas, mas que, a longo prazo, sobretudo quan do a disciplina é muito severa, tendam a se rebelar e a se voltar excessivamente para os amigos, buscando neles a oportunidade de manter interações de caráter mais igualitário; também é freqüente que esses adolescentes de senvolvam uma baixa auto-estima, sintomas depressivos e uma atitude hostil e de rejeição para com seus pais. Apesar de mostrar uma relação calorosa e afetuosa com seus filhos, os pais permissivos apresentarão um claro déficit no controle de sua conduta, o que estará rela cionado com falta de esforço, problemas de conduta e consumo de álcool e drogas. Por úl timo, quando os adolescentes não têm o con trole e o afeto no contexto familiar, que é o que ocorre no caso dos pais indiferentes, de senvolverão problemas tanto de extemalização (agressividade, condutas anti sociais, consumo de drogas, escassa competência social) como de intemalização (baixa auto-estima, proble mas psicológicos). O Quadro 19.1 resume to das essas relações e influências. Ainda são escassos os estudos sobre os sujeitos de culturas diferentes da ocidental, ou sobre famílias diferentes da tradicional com posta de pai, mãe e filhos. No entanto, apesar de sua escassez, contribuem com dados muito interessantes. Assim, se para a população oci dental parece indiscutível a superioridade dos estilos democráticos, alguns estudos realizados sobre populações asiáticas ou affo-americanas põem sob suspeita que a relação entre o estilo democrático e a melhor adaptação dos filhos adolescentes seja universal, pois algumas ve zes os estilos autoritários se mostram mais efi cazes nessas populações (Chao, 1994; Darling e Steinberg, 1993). Da mesma forma, a com posição ou a estrutura familiar é outra variá vel que parece moderar as conseqüências deri vadas dos estilos disciplinares imperantes no lar;assim Barber e Lyons (1994) descobriram que a permissividade parental relacionava-se positivamente com a auto-estima dos filhos adolescentes em famílias reconstituídas, coisa que não ocorria em famílias intactas. Alguns autores (Darling e Steinberg, 1993; Holmbeck, Paikoff e Brooks-Gunn, 1996) consideram que o conceito de estilo discipli nar é muito amplo, ambíguo e descritivo e que não especifica claramente os mecanismos atra vés dos quais realiza sua influência sobre os filhos. Esses autores propõem diferenciar en tre o estilo disciplinar e as práticas disciplina res concretas mediante as quais o referido es tilo se materializa, pois nem sempre se obser va uma correspondência total. Por exemplo, dois pais democráticos podem mostrar níveis semelhantes de controle e de comunicação, po dendo, no entanto, exercer o controle de for ma diferente. Do mesmo modo, o controle exer cido por uma mãe democrática e outra autori tária pode alcançar níveis similares, ainda que seja muito provável que, enquanto a primeira utiliza a indução como forma de controlar a conduta de seus filhos, a segunda faça uso de técnicas coercitivas ou de afirmação de poder. Também é preciso considerar que, embora se costume falar de pais autoritários ou permissi vos, o estilo paterno e materno nem sempre têm de coincidir, podendo existir discrepâncias entre os dois estilos. Em um dos poucos estu dos que considerou esses estilos separadamen- 356 COLL, MARCHESI, PALACIOS & COLS. QUADRO 19.1 Relação entre os estilos educativos paternos e as características de seus filhos adolescentes Pais Dem ocráticos Perm issivos A utoritários Indiferentes Filhos e Filhas + Confiança neles mesmos + Boa atitude e bom rendimento escolar + Boa saúde mental + Poucos problemas de conduta + Confiança neles mesmos + Poucos problemas psicológicos - Problemas de conduta e abuso no consumo de drogas. + Obedientes e voltados para o trabalho - Às vezes, hostis e rebeldes - Pouca confiança neles mesmos - Problemas depressivos - Problemas escolares - Problemas de ajuste psicológico - Muitos problemas de conduta e abuso no uso de drogas. te, Taylor (1994) encontrou que a situação mais favorável para o adolescente é aquela na qual ambos os pais mostram um estilo mais demo crático ou positivo para com seus filhos, en quanto a coincidência de pai e mãe em estilos pouco adequados representa a situação mais desfavorável. Quando ocorre uma combinação na qual ao menos um dos progenitores apre senta um estilo democrático, as conseqüências negativas se vêem um pouco aliviadas. Adolescentes em famílias diferentes Do mesmo modo que ocorria durante a infância, o grau de conflituosidade familiar e a qualidade das relações entre os pais são mais importantes do que a estrutura familiar na hora de determinar o grau de ajuste do adolescente (Hetherington, 1989). Os adolescentes que vi vem em famílias em que a harmonia caracteri za as relações entre seus membros, indepen- dentemente de serem famílias intactas, mono- parentais ou reconstituídas, mostram menos problemas de conduta e socioemocionais. Ain da que o divórcio ou a separação costume ter conseqüências negativas para os filhos, depois da puberdade os adolescentes já alcançaram um nível de maturidade que lhes permitirá evi tar muitos dos efeitos negativos que têm para as crianças menores. Isso não significa que se mostrem invulneráveis, pois a circunstância de que estão imersos na resolução de algumas ta refas evolutivas, como a construção da identi dade ou o processo de individuação, fará com que possam sofrer alguns problemas como con- seqüência do divórcio, sobretudo durante o pri meiro ano posterior à ruptura familiar. Entre os possíveis efeitos cabe mencionar o entorpe cimento do processo de individuação. Prova velmente, o estresse que costuma acompanhar uma ruptura familiar não representa nenhu DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO E EDUCAÇÃO, V.1 357 ma ajuda em um processo tão delicado como é o de conseguir maior autonomia e estabelecer vínculos extrafamiliares, e, com freqüência, o adolescente está tão absorto na problemática familiar que deixa de lado as atividades aca dêmicas ou recreativas, as relações com os ami gos, etc. Além disso, a separação de seus pais pode gerar no adolescente uma desconfiança nas relações de casal que o levará a evitar o envolvimento emocional. Também costuma ocorrer que, depois da separação, os pais co messem a tratá-lo como se fosse um adulto ou tentem envolvê-lo em suas disputas, o que pode levá-lo a sentir que seus pais dependem dele. Em uma etapa evolutiva na qual o ado lescente ainda precisa do apoio de seus pais, uma situação desse tipo não favorecerá seu amadurecimento. Ainda que a reconstrução da família pos sa favorecer o desenvolvimento dos filhos, a adaptação a essa situação é um pouco mais complicada durante a adolescência do que quando ocorre nos anos anteriores e está asso ciada a problemas de conduta tanto em meni nos como em meninas. Possivelmente, o mo mento em que o adolescente está tentando se desvincular de sua família não seja o mais apro priado para estabelecer um novo vínculo afe tivo com o padrasto ou a madrasta, e é possí vel que o menino ou a menina recusem o novo membro. Além disso, as tensões que caracteri zam a relação entre os adolescentes e seus pais dificultarão a aceitação do fato de que seu pai ou sua mãe é sexualmente ativo e mantém re lações com seu novo par. O companheiro sen timental pode ser visto como um intruso que compete pelo carinho e pela atenção de seu pai ou de sua mãe. Essas reações negativas se rão mais claras durante a adolescência preco ce e podem criar tensões que repercutem ne gativamente na coesão familiar. A situação será especialmente complicada quando o novo pai se mostra muito autoritário e tenta controlar excessivamente a conduta do menino ou da me nina. Nessas situações, parece conveniente que o padrasto ou a madrasta adote um papel mais permissivo, evitando o controle excessivo e pro curando estabelecer uma boa relação afetiva. É preferível que o controle, tão necessário nas famílias reconstituídas como nas intactas, seja realizado pelo progenitor biológico, que, em algumas ocasiões, será aquele que deve se mos trar um pouco mais autoritário. AS RELAÇÕES COM OS IGUAIS As amizades durante a adolescência Ainda que, durante a adolescência, a fa mília continue ocupando um lugar preferen cial como contexto socializador, à medida que os adolescentes vão desvinculando-se de seus pais, as relações com os companheiros ganham em importância, em intensidade e em estabili dade, e o grupo de iguais passa a ser o contex to de socialização mais influente. As relações de amizade não são exclusivas da adolescên cia, pois as crianças dedicavam uma parte im portante de seu tempo para brincar com os ami gos; no entanto, agora irão ocorrer algumas mudanças importantes nesse tipo de relações. Se, durante a infância, os amigos eram, sobre tudo, companheiros da brincadeiras cuja rela ção estava muito condicionada pela proximi dade física e pela possibilidade de interagir co tidianamente, ao chegar à adolescência, essas relações gozarão de uma maior estabilidade sem que o distanciamento físico ou temporal dos amigos signifique o fim da relação. Provavelmente, como conseqüência da maturação cognitiva e do tempo que dedicam para falar sobre si mesmos, os adolescentes irão compreender-se melhor, o que repercutirá no fato de que as relações com os amigos estejam marcadas pela reciprocidade e que a partir da adolescência os amigos apoiem e ajudem uns aos outros, mostrando um maior comportamen to pró-social. Também aumentará substancial mente a intimidade dessas relações, a tal ponto que as amizades íntimas irão se transformar em um fenômeno típico da adolescência precoce e média, que irá perdendo força durante a ado lescência tardia. Os amigos íntimos comparti lham pensamentos,sentimentos, expectativas de futuro, conhecem as preocupações do outro e se apoiam mutuamente. Essas relações costu mam ser estabelecidas com pessoas do mesmo 358 COLL, MARCHESI, PALACIOS & COLS. sexo, e ainda que ocorram tanto entre meninos como entre meninas, no geral, as amizades ín timas das meninas são mais precoces e mais in tensas do que as dos meninos, que são um pou co mais relutantes em dividir seus sentimentos e mais voltados para a realização ou planeja mento de atividades conjuntas. As relações com os iguais, sobretudo com os amigos, será uma experiência muito grati- ficante que enriquecerá a vida do jovem. A consideração de que essas relações têm um efeito muito positivo sobre o desenvolvimen to adolescente não é algo novo. Piaget (1932) já expressou a importância que a interação com os companheiros tinha para o desenvol vimento de uma inteligência e uma moral autônomas. Sullivan (1953) propôs que as amizades durante a adolescência eram críti cas para o desenvolvimento de uma alta auto- estima e uma melhor compreensão dos de mais. Em geral, ter amigos é um indicador de boas habilidades interpessoais e um sinal de um bom ajustamento psicológico, provavel mente porque os meninos com menos habili dade sociais e com mais problemas psicológi cos sofrerão mais rejeição e terão mais difi culdades para estabelecer amizades; contu do, também se poderia pensar na relação in versa, isto é, na qual ter amigos com os quais compartilhar segredos e sentimentos contri bui para um melhor ajustamento psicológico. Os benefícios pelo fato de dispor de ami zades nessa etapa são muitos. Em primeiro lu gar, pode-se destacar o importante apoio emo cional que proporcionam e que pode ajudar o adolescente a superar os altos e baixos carac terísticos da adolescência, ou algumas situa ções particularmente estressantes, como um fracasso acadêmico ou amoroso, ou a separa ção ou a morte dos pais. Hartup (1993) utiliza a denominação de relação de apego horizon tal (o apego vertical seria estabelecido com os progenitores) para se referir às amizades ínti mas entre adolescentes com capacidades e com conhecimento similares. Ao longo da adoles cência, o amigo íntimo vai ganhando impor tância sobre outras figuras de apego, a tal pon to que, a partir da adolescência média, se trans formará na principal figura de apego. Levando em conta que estamos diante de situações de apego, não é estranho que o tipo de relação do adolescente com seus amigos esteja muito in fluenciada pela relação que estabeleceu com seus pais durante a primeira infância. Os mo delos representacionais construídos a partir dessas primeiras relações seriam os responsá veis por essa continuidade relacionai. Os me ninos que estabeleceram uma relação de ape go seguro se mostraram confiantes, seguros e afetuosos nas relações de amizade; aqueles que se vincularam mediante um apego inseguro evitativo tenderão a se mostrar frios e distan tes; por último, os adolescentes com modelos inseguros ambivalentes manifestarão uma ex cessiva dependência e uma necessidade an siosa de se manterem estreitamente apegados a seus amigos. Outra conseqüência positiva que podem ter as amizades é a de proporcionar apoio ins trumental para a resolução de determinados problemas práticos, assim como a informação sobre diferentes temas como relações pessoais, sexualidade ou assuntos acadêmicos. De espe cial interesse é a informação que os amigos tro cam um sobre o outro, pois dispor de uma pers pectiva diferente sobre eles mesmos irá ajudá- los a construir sua própria identidade e a me lhorar seu autoconceito (Bemdt, 1996). Apesar da intensidade das relações com os iguais, será freqüente que, no início da ado lescência, os adolescentes experimentem cer tos sentimentos de solidão, provavelmente por se encontrarem em uma situação de transição entre a vinculação afetiva com os pais, própria da infância, e o estabelecimento das intensas amizades juvenis. Muitos adolescentes passa rão por um período de dor ou de tristeza, pelo enfraquecimento das intensas relações emocio nais infantis, antes de mergulhar nas novas relações de amizade que adquirirão uma in tensidade até agora desconhecida. Ainda que a maioria dos adolescentes supere sem proble mas essa fase de transição, em alguns casos podem aparecer dificuldades, como ocorre com adolescentes que não têm habilidades sociais e mostram-se desajeitados em sua relação com o grupo de iguais, com aqueles que residem em regiões afastadas ou isoladas, ou com os que se vêem obrigados a mudar de escola e romper com seu círculo de amigos. DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO E EDUCAÇÃO, V.1 359 O conformismo diante dos iguais Ainda que os efeitos positivos da relação com os iguais sejam indiscutíveis, é preciso des tacar uma perspectiva teórica diferente que enfatiza as possíveis conseqüências negativas derivadas dessas relações. Faz muitos anos que Bronfrenbrenner (1970) escreveu que a redu ção nos contatos com os adultos, unida a um maior comprometimento com os iguais, leva va os jovens à alienação, à indiferença e ao antagonismo social. Ainda que tenha se passa do muito tempo desde então, ainda são mui tos os pesquisadores que consideram a influên cia dos iguais como um dos fatores de risco que mais se destacam para o surgimento de condutas problemáticas e anti-sociais durante a adolescência. Muitos programas voltados para a prevenção do consumo de drogas entre os jovens baseiam-se na suspeita de que a in fluência dos amigos leva, necessariamente, a condutas indesejáveis. Pensemos, por exemplo, nos anúncios que podemos ver em nossos mei os de comunicação que insistem na importân cia de que os adolescentes saibam dizer “não” quando os amigos os pressionam para que con sumam drogas. Se durante os anos escolares os pais es tavam muito acima de outras influências, ao chegar na adolescência terão de compartilhar sua influência com os iguais. O relativo dis tanciamento dos progenitores, o maior tem po que passam com os companheiros e o es tar em plena fase de construção de sua iden tidade coloca os adolescentes em uma situa ção de maior suscetibilidade diante da pres são dos iguais. Costanzo e Shaw (1966), em uma conhecida experiência, evidenciaram o crescimento inicial e a posterior diminuição do conformismo diante dos iguais durante os anos da adolescência. Uma série de meninos com idades compreendidas entre 7 e 21 anos devia julgar qual de uma série de linhas tinha o mesmo comprimento que uma linha mode lo. Cada sujeito devia responder depois de outros companheiros que estavam de acordo com o experimentador para dar uma respos ta incorreta, atribuindo-lhe uma pontuação em conformismo em função do grau de acor do que mostrassem com as respostas incorre tas de seus companheiros. Os resultados des se experimento mostraram que as maiores pon tuações em conformismo eram obtidas pelos sujeitos do grupo de 11 a 13 anos, observan do-se uma diminuição a partir dessa idade. Esses dados indicam que a suscetibilidade à pressão dos iguais é maior durante a adoles cência inicial. Pesquisas mais recentes utili zaram métodos diferentes que consistiam em apresentar aos sujeitos situações hipotéticas em que seus companheiros pediam-lhes que atuassem de uma determinada forma. Esses estudos encontraram tendências evolutivas si milares (Berndt, 1989). À medida que os ado lescentes vão construindo sua identidade e fi cando mais autônomos, tornam-se mais ca pazes de resistir à pressão do grupo. Quando se fala de pressão dos compa nheiros, há uma tendência a considerá-la ne gativa e voltada para buscar o comprometimen to do adolescente em condutas anti-sociais; no entanto, são muitas as ocasiões em que a pres são é neutra e inclusive positiva; pensemos, por exemplo, naquelas situações em que os com panheiros procuram evitar condutas indesejá veis por parte de algum amigo, ou quando pro curam que elese envolva em situações despor tivas ou acadêmicas. Além disso, os jovens cos tumam mostrar-se menos conformistas diante das pressões dos amigos quando estes buscam sua participação em condutas negativas ou anti sociais (Berndt, 1996). O fato de que, durante a adolescência pre coce, se observe um aumento da suscetibilida de diante dos iguais não significa que todos os adolescentes se mostrem igualmente conformis tas. Em alguns casos, esse conformismo é mais claro por serem adolescentes muito necessita dos do apoio do grupo, ou porque suas relações familiares são pouco satisfatórias, ou porque têm um baixo status no grupo e são ignorados ou rejeitados (Dishion, 1990). Também há diferen ças claras em função do gênero: as meninas se mostram mais conformistas do que os meninos, talvez devido ao fato de que estabelecem rela ções mais íntimas entre elas e mostram-se mais preocupadas por pertencer ao grupo e ajustar- se a suas expectativas. Também é preciso ressaltar que não são todos os companheiros que têm a mesma ca pacidade de influência. Sem dúvida, os ami gos íntimos terão mais capacidade de influir do que aqueles que são somente amigos su perficiais, e estes mais do que aqueles que não o são. Do mesmo modo, o status social do ado lescente que exerce a influência é decisivo, pois os adolescentes tenderão a imitar e a uti lizar modelos de conduta daqueles compa nheiros que admiram e percebem como habi lidosos e populares. Concluindo, diremos que é errôneo pen sar que os vínculos com o grupo de iguais su põem uma diminuição da influência dos pais e um afastamento dos valores familiares que le vam o adolescente a se envolver em condutas anti-sociais ou pouco saudáveis. Antes, cabe pensar que os pais e amigos não competem en tre si, mas representam influências complemen tares que satisfazem diferentes necessidades do jovem. E tudo isso sem nos esquecermos de que os adolescentes costumam se incorporar a gru pos formados por companheiros que têm uma 360 COLL, MARCHESI, PALACIOS & COLS. origem social e alguns valores muito pareci dos com os seus e os de sua família; por isso, o grupo tenderá mais a reforçar os valores fami liares do que a anulá-los ou a contradizê-los. A evolução do grupo O grupo de amigos será um contexto fun damental para o desenvolvimento dos adoles centes. No entanto, esse grupo experimentará uma evolução ao longo da adolescência. Dunphy (1963) descreveu em quatro etapas a seqüência de evolução do grupo de iguais, se- qüência que se resume no Quadro 19.2. Em uma primeira etapa, no começo da adolescên cia, o agrupamento mais freqüente é a turma formada por membros do mesmo sexo. Essa turma unissexual é uma continuação do grupo de amigos dos anos escolares e costuma incluir de cinco a nove membros da mesma idade e provavelmente do mesmo colégio e vizinhan- QUADRO 19.2 A evolução do grupo ao longo da adolescência Adolescência Precoce M eninos Meninas 1a ETAPA M eninos -* *■ Meninas 2a ETAPA M eninos e M eninas 3a ETAPA Adolescência Tardia M enino e M enino e M enino e 4 ^ M enino e M enina M enina M enina ' ' M enina Fonte: Dunphy, 1963. DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO E EDUCAÇÃO, V.1 361 ça. Esses adolescentes mostram um companhei rismo muito claro, formam um grupo bastante fechado, pouco permeável a outros sujeitos, e se vêem e interagem diariamente, planejando atividades para realizar nos fins de semana. Nessa etapa, o grupo proporciona a seus com ponentes o apoio e a segurança necessários para, na fase seguinte, começar as relações com o outro sexo. Também cumpre a função de pro mover condutas socialmente aceitáveis, como, por exemplo, que seus membros aceitem as nor mas do grupo. No entanto, o grupo do qual falamos pode ter alguns inconvenientes, como promover um excessivo conformismo entre seus membros, impedir que os sujeitos se rela cionem com outros meninos ou meninas que possam contribuir com pontos de vista dife rentes e, inclusive, ferir a auto-estima de ou tros quando se recusa sua incorporação ao gru po. No entanto, as vantagens superam clara mente os inconvenientes. Em uma segunda fase, ainda se manten do a separação entre grupos ou turmas de di ferentes sexos, começa a interação entre elas. E uma interação entre turmas unissexuais espo rádica que ocorre nos fins de semana, ou em excursões e festas. Essa relação entre sujeitos de ambos os sexos ainda é um pouco desajei tada e rude. A seguir, e depois de uma fase de transi ção na qual as relações entre os grupos de se xos diferentes vão tornando-se mais freqüen- tes, forma-se a turma mista a partir do agrupa mento das turmas unissexuais. Essa turma cos tuma incluir de 15 a 25 membros de ambos os sexos; os meninos são um pouco mais velhos do que as meninas e há uma menor coesão do que na turma unissexual, com uma relação entre seus membros um pouco menos íntima. Seus contatos não são tão cotidianos, e eles se reunem de forma mais esporádica do que a tur ma unissexual. A turma mista cumpre a fun ção de regular e estruturar as relações sociais, facilitando também o surgimento das relações heterossexuais, pois serve de claro aprendiza do na relação com os membros do outro sexo. Também, ao ser um agrupamento mais aberto, favorece a interação com uma maior varieda de de sujeitos (de diferentes idades e bairros), aumentando a heterogeneidade da turma e es timulando o desenvolvimento do autoconceito e da identidade. As turmas vão apresentar uma grande va riedade, diferenciando-se entre si nos estilos de vida de seus componentes - sua forma de se vestir, suas preferências musicais, sua atitu de diante do sexo, do álcool ou das drogas - , e evidenciar a diversidade da cultura adolescen te. Bradford Brown e seus colaboradores (Brown, Dolcini e Leventhal, 1997; Brown, Mory e Kinney, 1994) estudaram em profundi dade as características desses agrupamentos, sugerindo que as turmas se definem, funda mentalmente, em relação a duas dimensões: a atitude frente aos aspectos formais ou acadê micos da educação e a orientação para a rela ção com os iguais; ao redor dessas dimensões nucleares irão se concentrar outras atitudes ou comportamentos que vão definir o estilo de vida do grupo. Outro aspecto importante é que a turma vai condicionar as relações sociais de seus membros, já que impulsionam os adoles centes a se relacionar com alguns e a ignorar, ou evitar, outros. Também estabelece normas sobre a forma de se relacionar não somente com os iguais, mas também com os adultos: como serão as amizades, se intensas ou super ficiais; que tipo de relações de casal é inconve niente; como administrar os conflitos em casa ou no colégio. A última etapa traz consigo a desintegra ção da turma, que passa a se transformar em uma série de casais relacionados entre si, que cada vez se reúnem com menos freqüência. Po rém, isso já nos introduz em outra temática que precisa ser analisada com mais atenção e que se situa claramente em um momento evolutivo posterior ao das relações de grupo. O INÍCIO DAS RELAÇÕES DE CASAL O aumento do impulso sexual, unido à imitação dos comportamentos adultos, vai fa vorecer que meninos e meninas comecem a se aproximar com interesse do outro sexo. É no contexto do grupo ou da turma mista que os adolescentes começarão a manter seus primei ros encontros; depois, à medida que vão ga nhando desenvoltura e sentindo-se mais cômo 362 COLL, MARCHESI, PALACIOS & COLS. dos nessas relações, começarão a ter encon tros fora da proteção do grupo. Ainda que existam diferenças entre ado lescentes, a maioria das meninas começa a ter seus primeiros encontros em algum momento entre os 12 e os 14 anos, enquanto os meninos o fazem um pouco mais tarde, entre os 13 e os 15 anos. O momento do início parece determi nado, fundamentalmente, por fatores sociais, já que a maturação mais ou menos precoce não influi muito na precocidade dessas relações. Essas primeiras relações
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