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Distúrbios de Aprendizagem 02 1. Principais Distúrbios da Aprendizagem 4 1.1. Transtorno de Déficit de Atenção (TDAH) 4 1.1.1. Sintomas 5 1.1.2. Causas 6 1.2. Disgrafia e Dislexia 7 1.2.1. História Clínica 7 1.2.2. Diagnóstico 8 1.2.3. Fatores de Risco 10 1.2.4. Tratamento 10 1.2.5. Prognóstico 11 1.3. Discalculia 11 2. Abordagem Psicológica dos Distúrbios de Aprendizagem 15 A Escola e o Desenvolvimento das Funções Psicológicas Superiores 15 3. Distúrbios na Escrita 20 Disgrafia 20 3.2. Disortografia 22 3.3. Erros de Formulação e Sintaxe 23 4. Estudo da Lateralidade 25 5. Importância da Atuação Familiar 30 6. Relação Professor X Aluno 34 7. Psicopedagogia e Distúrbios de Aprendizagem 39 8. Referências Bibliográficas 43 03 4 DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM 1. Principais Distúrbios da Aprendizagem Fonte: acfarma.com.br1 e acordo com Weiss (2020), os distúrbios de aprendizagem são dificuldades que algumas pes- soas encontram ao aprender coisas novas, ainda na infância. Crianças com dificuldades de aprendizagem têm dificuldade em aprender a es- crever, ler, se concentrar e ficar qui- etas. E, devido a isso, essas crianças são geralmente consideradas pro- blemáticas, rebeldes ou preguiçosas. Dificuldades de aprendizagem ocor- rem quando o sistema nervoso cen- tral (SNC) não funciona bem e as in- 1 Retirado em acfarma.com.br formações recebidas não são proces- sadas adequadamente. Após receber as informações, as crianças com di- ficuldades de aprendizagem não conseguem processar as informa- ções corretamente. 1.1. Transtorno de Déficit de Atenção (TDAH) Conforme Hudson (2019), O transtorno do déficit de atenção e hi- peratividade (TDAH) é uma doença neurobiológica, de origem genética, D 5 DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM que surge na infância e geralmente acompanha o indivíduo durante toda a vida. Se caracteriza por sinto- mas de desatenção, inquietude e im- pulsividade. Em consonância com Silva (2014), podemos afirmar que o TDAH foi oficialmente reconhecido por vários países e pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Em al- guns países, como nos Estados Uni- dos, eles são protegidos pela lei quanto a receberem tratamento di- ferenciado na escola. A esse res- peito, existe até um consenso inter- nacional publicado pelos médicos e psicólogos mais famosos do mundo. Este consenso consiste em uma pu- blicação científica feita após exten- sos debates por pesquisadores de todo o mundo, incluindo aqueles que não fazem parte do mesmo grupo ou instituição, e que não têm necessariamente as mesmas visões sobre todos os aspectos da doença. Conforme os autores Carin e Primavesi (2013), o TDAH é a do- ença mais comum entre crianças e adolescentes encaminhados para al- gum tipo de serviço especializado. Em várias regiões do mundo estuda- das, sua incidência é de 3% a 5% das crianças. Embora os sintomas de an- siedade sejam leves, mais da metade das pessoas serão acompanhadas por essa doença na idade adulta. 1.1.1. Sintomas O TDAH se caracteriza por uma combinação de dois tipos de sintomas: desatenção e hiperativi- dade-impulsividade. Segundo Barkley e Benton (2011), o TDAH na infância geral- mente está relacionado a dificulda- des na escola e no relacionamento com outras crianças, pais e professo- res. Diz-se que as crianças são "avo- adas", "vivendo no mundo da lua", geralmente "estabanadas" ou "liga- das por um motor" (isto é, não ficam quietam por muito tempo). Os me- ninos tendem a ser mais hiperativos e impulsivos do que as meninas, mas todos apresentam desatenção. Crianças e adolescentes com transtorno de déficit de atenção e hi- peratividade podem apresentar mais problemas comportamentais, como dificuldades com regras e limi- tes. Nos adultos, apresentam proble- mas de desatenção no trabalho e nas atividades do dia a dia, e apresentam também problemas de memória (são pessoas muito esquecidas). São in- quietos, e parece que estão rela- xando apenas quando dormem), constantemente mudam de uma coisa para outra, e também são muito. Na maioria das vezes, é difícil para eles avaliar suas ações e seu im- pacto nas pessoas ao seu redor, por- 6 DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM tanto frequentemente são conside- rados egoístas. Na maioria das ve- zes, adultos portadores de TDAH, apresentam uma grande incidência de outros problemas associados, como o uso de drogas e álcool, ansi- edade e depressão. 1.1.2. Causas Para autores como Döpfner, Frölich e Metternich (2016), muitos estudos em todo o mundo (inclusive no Brasil), têm mostrado que a pre- valência de TDAH é semelhante em diferentes regiões, o que indica que a doença não é secundária a fatores culturais, como os pais educam seus filhos ou surgem devido a conflitos psicológicos. Pesquisas científicas mostram que pessoas com TDAH apresentam alterações nas áreas frontais e conexões com outras par- tes do cérebro. Comparada com ou- tras espécies animais, a região fron- tal orbital é uma das áreas mais de- senvolvidas do ser humano, respon- sável por inibir comportamentos (ou seja, controlar ou inibir comporta- mentos inadequados), como aten- ção, memória, autocontrole, organi- zação e planejamento. O que parece estar alterado nessa área do cérebro é a função do sistema de substâncias químicas chamado neurotransmis- sores (principalmente dopamina e norepinefrina), que transmitem in- formações entre os neurônios. As principais causas que foram investi- gadas para estas alterações nos neu- rotransmissores da região frontal e suas conexões, são: Hereditariedade - os genes pa- recem ser responsáveis não pelo transtorno em si, mas por uma predisposição ao TDAH. A prevalência da doença entre os parentes das crianças afeta- das são cerca de 2 a 10 vezes mais do que na população em geral (isto é chamado de recor- rência familial). Substâncias ingeridas na gra- videz - observa-se que a nico- tina e o álcool quando ingeri- dos durante a gravidez podem causar alterações em algumas partes do cérebro do bebê, in- cluindo-se aí a região frontal orbital. Pesquisas indicam que mães alcoolistas têm mais chance de terem filhos com problemas de hiperatividade e desatenção. Sofrimento fetal – de acordo com os autores, existem estu- dos que mostram que mulhe- res que tiveram problemas no parto que causaram sofri- mento fetal possuem mais chance de terem filhos com TDAH. A relação de causa não é clara. Talvez mães com TDAH sejam mais descuida- das e assim possam estar mais predispostas a problemas na 7 DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM gravidez e no parto. Ou seja, a carga genética que ela própria tem (e que passa ao filho) é que estaria influenciando a maior presença de problemas no parto. Exposição a chumbo – crian- ças pequenas que sofreram in- toxicação por chumbo podem apresentar sintomas seme- lhantes aos do TDAH. Entre- tanto, não há nenhuma neces- sidade de se realizar qualquer exame de sangue para medir o chumbo numa criança com TDAH, já que isto é raro e pode ser facilmente identificado pela história clínica. Problemas Familiares – pro- blemas familiares, como por exemplo alto grau de discórdia conjugal, baixa instrução da mãe, famílias com apenas um dos pais, funcionamento fami- liar caótico e famílias com ní- vel socioeconômico mais baixo, podem agravar um qua- dro de TDAH, mas não causá- lo. 1.2. Disgrafia e Dislexia Em conformidade com Hud- son (2019), a dislexia é uma incapa- cidade específica de aprendizagem, de origem neurobiológica. É caracte- rizada por dificuldade de correção e/ou leitura fluente de palavras e baixa habilidade de leitura e orto- grafia. Essas dificuldades são decor- rentes de déficitsna fala, não espe- rados quando relacionadas a outras habilidades cognitivas e condições educacionais. Podem levar também a dificuldades na compreensão da leitura e experiência de leitura redu- zida, o que pode dificultar o desen- volvimento do vocabulário e dos co- nhecimentos gerais. De acordo com Coelho (2016), a disortografia é uma incapacidade específica de aprendizagem caracte- rizada por dificuldades em escrever sem erros ortográficos. Esta dificul- dade coexiste frequentemente com a dislexia. Ainda segundo o autor a disgrafia é uma incapacidade especí- fica de aprendizagem caracterizada por dificuldades em escrever as le- tras manuscritas de forma legível e correta. Esta dificuldade pode exis- tir, ou não, num quadro de dislexia e disortografia. Conforme Mousinho (2015), a dislexia é a mais comum das dificul- dades de aprendizagem, sendo mais frequente no sexo masculino. As proporções variam entre 2:1 a 3:1, com uma prevalência de 5 a 15 %. 1.2.1. História Clínica Em conformidade com Olivier (2020), a anamnese é muito impor- tante para detectar a dislexia, pois o diagnóstico é clínico e baseado na 8 DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM história do desenvolvimento da cri- ança, do seu percurso escolar, do seu comportamento e sociabilização, dos antecedentes familiares, e de suas competências cognitivas. Esses dados são obtidos por meio de entre- vistas para obter informações deta- lhadas sobre: Parto; Desenvolvimento afetivo emo- cional; Visão; Audição; Linguagem; Hábitos de sono; Adaptação ao jardim-de-in- fância; Avaliações dos docentes; Dificuldades a nível da motri- cidade fina; Grafomotricidade; Relação com os pares; Dificuldades de resistência à frustração; Dificuldades em memorizar cantilenas, nomes das cores, dos colegas, das estações do ano, das letras, na leitura de ditongos, em escrever com ca- ligrafia regular e sem erros or- tográficos; Lentidão na realização dos tra- balhos escolares, na escola e em casa, necessidade de “ajuda” para a sua realização; História familiar de dificulda- des na aprendizagem da lei- tura e na ortografia. Segundo autores como Si- mões, Moura e Pereira (2018), o exame objetivo nos casos de dislexia, consiste na avaliação das competên- cias implicadas no processo leitor: linguagem oral, consciência fonoló- gica, princípio alfabético, fluência, precisão e compreensão leitora, cali- grafia, ortografia e expressão es- crita, memória fonológica e visual, desenvolvimento intelectual, aten- ção, velocidade de processamento da informação, funções executivas, cálculo aritmético, observação dos cadernos e livros escolares. 1.2.2. Diagnóstico Para Muszkat (2018), a disle- xia é um distúrbio neurológico do desenvolvimento, de origem tanto biológica quanto neurológica, que é a base das dificuldades cognitivas relacionadas ao desempenho com- portamental. As origens neurobioló- gicas incluem a interação de fatores genéticos, epigenéticos e ambien- tais, que afetam a capacidade do cé- rebro de processar informações ver- bais e não verbais de forma eficaz e precisa. Ao contrário da linguagem oral que surge à medida que o cére- bro amadurece, a leitura e a escrita não são adquiridas naturalmente e precisam ser claramente ensinadas e aprendidas. 9 DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM Em conformidade com Soares (2020), a dislexia não é o resultado da falta de oportunidade de aprendi- zagem nem de uma desvantagem econômica ou ambiental. A capaci- dade de leitura se desenvolve ao longo de um período contínuo, não há como definir naturalmente bons e maus leitores. Em alguns casos, as dificulda- des podem ser pouco visíveis nos primeiros anos de escolaridade e só se manifestam plenamente nos anos escolares mais tardios quando as exigências de aprendizagem aumen- tam. As dificuldades de aprendiza- gem podem ser específicas pelas se- guintes razões: Não são atribuíveis a deficiên- cias intelectuais; Não podem ser atribuídas a fa- tores externos; Não podem ser atribuídas a uma perturbação neurológica, motora, ou a deficiência visual ou auditiva. A dislexia só pode ser diagnos- ticada após o início da escola. Po- rém, como a dislexia é causada por um déficit no processamento fonoló- gico, ela pode ser observada nos pri- meiros anos do bebê no nível oral. Neste caso, é importante avaliar a capacidade de fala e iniciar um pro- grama de reeducação antes de ini- ciar a pré-escola (WEISS, 2020). Em consonância com o DSM- 5, critérios diagnósticos para a disle- xia, são os seguintes: A. Dificuldades na aprendizagem, e no uso de competências acadêmi- cas, conforme indicado pela pre- sença de pelo menos um dos sin- tomas a seguir, que tenha persis- tido por pelo menos 6 meses, ape- sar de terem sido proporcionadas intervenções dirigidas a essas di- ficuldades: Leitura de palavras incorreta, ou lenta e esforçada. Dificuldade em compreender o significado do que é lido. Dificuldades na ortografia. Dificuldades na expressão es- crita. Dificuldades em dominar o sentido de número, os factos numéricos e o cálculo mental. Dificuldades no raciocínio ma- temático. B. As competências acadêmicas afetadas são substancialmente, e quantitativamente, inferiores ao es- perado para a faixa etária e interfe- rem significativamente nas ativida- des escolares, cotidianas e profissio- nais. C. As dificuldades iniciam-se em idade escolar, mas podem manifes- tar-se apenas na idade adulta. D. Para concluir o diagnóstico de- vem ser eliminados déficits cogniti- vos, visuais e auditivos, problemas 10 DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM mentais e neurológicos e condições adversas (problemas psicossociais, ensino inadequado…). 1.2.3. Fatores de Risco De acordo com Bastos (2015), os principais fatores de risco para a dislexia, são: Ambientais - prematuridade e peso muito baixo ao nascer, exposição pré-natal à nicotina. Genéticos e fisiológicos - o risco é substancialmente maior, 4 a 8 vezes mais ele- vado, em parentes de primeiro grau com essas dificuldades, história familiar de dificulda- des de leitura e escrita. Existe elevada heritabilidade na ca- pacidade e incapacidade de leitura. 1.2.4. Tratamento Conforme Sampaio (2014), a intervenção reeducativa é um trata- mento muito eficaz nos casos de dis- lexia. Com a ajuda adequada, crian- ças com dislexia podem aprender a ler e escrever corretamente. A iden- tificação e intervenção rápida desse transtorno, são essenciais para o su- cesso do tratamento. Crianças com dislexia preci- sam de assistência individual de es- pecialistas treinados no uso de mé- todos sistemáticos, cumulativos e multissensoriais, que também en- volvem os aspectos sensoriais (audi- tivo, visual, tato, integração senso- rial). Eles também precisam de um treinamento estruturado e intensivo para reconhecer erros de leitura e ortografia e corrigi-los imediata- mente para evitar a memorização de imagens incorretas. Segundo Muszkat (2018), é muito importante trabalhar em es- treita colaboração com professores e pais para realizar este trabalho. No processo de avaliação, a escola deve fornecer apoio pedagógico persona- lizado e adaptação de acordo com as necessidades específicas de cada cri- ança. Dependendo do ano letivo em que vão para a escola e do nível de dificuldade de cada criança, o pro- fessor pode precisar ler os enuncia- dos, escrever as resposta verbal- mente, dar tempo extra para com- pletar a tarefa e não ser punido por erros ortográficos, que devem ser identificados e corrigidos com uma metodologia específica para cada tipo de erro, a fim de evitar a sua re- petição) e ser registrado. O princípio educacional mais importante é que acriança nunca deve enfrentar mate- riais de leitura que contenham letras que ainda não foram pronunciadas. Ela deve ler e ler muitas coisas, mas 11 DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM só pode ler textos com habilidades que já aprendeu. Para o autor Mousinho (2015), os métodos de ensino de leitura usa- dos com frequência, não têm efeito em crianças com dislexia, porque não prestam atenção às habilidades de decodificação que essas crianças precisam para ter sucesso na apren- dizagem. O ensino de crianças com dislexia deve seguir orientações es- pecíficas, envolvendo tanto as habi- lidades que devem ser ensinadas quanto os princípios dos métodos de ensino que devem ser seguidos. Os programas de ensino estruturado, fónico-silábicos, multissensoriais, sistemáticos e cumulativos, podem não só ajudar crianças com dislexia, mas também é o mais eficaz para to- das as crianças. O programa de en- sino estruturado ensina às crianças as várias habilidades que elas preci- sam aprender para que possam pro- gredir na complexa jornada de aprender a ler até conseguir a ter lei- tura fluente e compreensiva: consci- ência fonológica, correspondências sons-letras, leitura de sílabas e pala- vras, leitura fluente e precisa, escre- ver com uma caligrafia legível sem erros ortográficos. 1.2.5. Prognóstico Como foi dito anteriormente, a dislexia sobrevive por toda a vida e seu prognóstico depende do grau de déficit, habilidade cognitiva, comor- bidades, precocidade e eficácia das intervenções reeducativas. A disle- xia é um distúrbio da linguagem, portanto, algumas manifestações podem ser observadas antes de aprender a ler. A linguagem emer- gente e as habilidades de leitura são os indicadores mais relevantes de futuras dificuldades de leitura. Exis- tem alguns indícios de que poderão ocorrer dificuldades no futuro, e se esses sinais persistirem por vários meses, os pais devem procurar ava- liação especializada. A intervenção precoce pode ser o fator mais impor- tante na recuperação de leitores dis- léxicos. 1.3. Discalculia De acordo com Weiss (2020), as habilidades matemáticas são fun- damentais e são necessárias o tempo todo no nosso dia a dia. Além disso, o prejuízo nas habilidades matemá- ticas pode, pelo baixo desempenho em testes, dificultar o acesso a mui- tas profissões e com isso reduzir as chances de um trabalho bem remu- nerado. A discalculia do desenvolvi- mento é definida como um trans- torno de aprendizagem específica que prejudica o domínio das habili- dades aritméticas. Existem grandes 12 DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM dificuldades em lidar com os núme- ros, não existe nível de inteligência abaixo do normal, distúrbios emoci- onais, falta de motivação ou falta de acesso a escolaridade. A discalculia, assim como a dislexia, pode ocorrer dentro de um espectro de inteligên- cia: desde crianças com altas habili- dades, com inteligência normal até crianças com retardo mental leve. Por esse motivo, o novo Manual da Associação Americana de Psiquia- tria (DSM-V), não coloca a avaliação por testes para provar a diferença entre habilidade cognitiva e desem- penho matemático, como critério di- agnóstico para mensurar transtor- nos. Em consonância com Sampaio (2014), aproximadamente 3-7% da população sofre de discalculia, o que é uma alta frequência. A causa da discalculia não é totalmente com- preendida, mas os fatores genéticos estão definitivamente envolvidos, pois as pessoas da mesma família têm uma incidência maior do que a população em geral. Outros fatores de risco identificados são nasci- mento prematuro, baixo peso ao nascer, TDAH, dislexia e Síndrome de Turner. Como fatores psicológi- cos e socioeducacionais também po- dem produzir baixo desempenho matemático, eles podem ser confun- didos com a discalculia ou associa- dos a uma piora. Para Hudson (2019), as habili- dades matemáticas biologicamente primárias referem-se as habilidades que ocorrem naturalmente durante o processo de desenvolvimento e não requerem orientação. A capaci- dade de processar números depende de uma rede específica no cérebro localizada no sulco parietal. As habi- lidades matemáticas biologicamente secundárias exigem instrução, prá- tica, concentração, esforço, entusi- asmo e motivação. A aquisição da linguagem pos- sibilita usar palavras para simboli- zar quantidades. Ao aprender o alfa- beto, o código da linguagem pode ser aperfeiçoado e ampliado, e tem no- vas possibilidades de expressar rela- ções quantitativas, que antes só po- diam ser concretas e visíveis. Com a introdução do sistema árabe, as cri- anças adquirem códigos mais abs- tratos e eficazes para simbolizar e manipular números. Ao mesmo tempo, as crianças desenvolvem uma habilidade espacial - a reta nu- mérica mental - incluindo a repre- sentação de números ao longo de uma linha, que é a base para permi- tir que realizem cálculos intelectu- ais, ou seja cálculos mentais (COE- LHO, 2016). Conforme Campos (2015), nos casos de discalculia, o padrão de ati- vação cerebral é menos preciso, ou 13 DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM seja, menos ativação do sulco intra- parietal, o que sugere um processa- mento neuronal insuficiente, e mais ativação de outras regiões, menos relevantes para o processamento matemático. Porém, deve-se ressal- tar que as pessoas com discalculia podem ser talentosas, criativas e possuir altas habilidades linguísti- cas. Os sintomas da discalculia são bem variáveis, alguns exemplos são: Dificuldade na compreensão de conceitos de medida, por exemplo, longo/curto, grande/pequeno, pouco/muito, mais/menos. Não conseguir reconhecer à primeira vista, de imediato, os pontos nas diferentes faces de um dado, percebendo-os ape- nas quando os conta. Não conseguir lidar com quan- tidade de dinheiro Precisar de muito tempo para aprender a ver as horas no re- lógio. A criança às vezes decora os resultados das operações para poder realizá-las devidamente Dificuldades com o contar os números em voz alta de trás para frente, ou mesmo em or- dem crescente, pois não conse- gue entender a posição de cada número no sistema decimal. Trocar frequentemente a or- dem dos números (21 ao invés de 12). Dificuldade com sinais ma- temáticos (>, <, +, %). Dificuldade em compreender e internalizar operações, regras matemáticas. Dificuldades nas habilidades visuais e espaciais: uso de ro- tas, mapas, orientação na ci- dade, ou na estrada. Dificuldade em estimar o tempo. Dificuldade em cum- prir horários, estando fre- quentemente atrasado. Dificuldade em estimar gastos, Dificuldade em calcular medi- das dos ingredientes em uma receita. Dificuldade em ler gráficos. Dificuldade em estimar dis- tância e velocidade. O diagnóstico de discalculia requer avaliação por um psiquiatra e uma equipe multidisciplinar, especi- almente psicólogos e psicopeda- gogo, e a aplicação de testes especí- ficos (teste de memória de trabalho, abstração, atenção, concentração, linguagem, compreensão de núme- ros, compreensão de números, con- tagem e outras habilidades matemá- ticas). As comorbidades são a regra das dificuldades de aprendizagem. Portanto, pessoas com dificuldades de movimento também podem en- contrar problemas como dislexia, TDAH e ansiedade matemática. Os distúrbios genéticos relacionados a discalculia são: síndrome de Turner, síndrome do X frágil, síndrome de Gerstmann (BERNARDI, 2014). 15 DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM 2. Abordagem Psicológica dos Distúrbios de Apren- dizagem Fonte: institutoneurosaber.com.br2 e acordo com Sabino (2016), os índices de evasão e repetência escolar no Brasil são significativos e se mantém constante há décadas, o que comprova a seletividadede nosso sistema educacional, que im- pede a maioria das crianças de fre- quentar a escola. A história da educação no Bra- sil registra a democratização das oportunidades escolares, através de vagas, mas não da escolarização. Por meio da análise desse panorama, po- demos questionar um grande nú- mero de avaliações psicoeducacio- nais, que transferem as questões do ensino social para o âmbito indivi- dual, da aprendizagem. Na maioria 2 Retirado em nstitutoneurosaber.com.br dos casos, essas avaliações se limi- tam a diagnosticar os alunos. Ao fa- zer isso, aceitam que as queixas le- vantadas sejam fatos reais, concre- tos e verdadeiros que existem no in- divíduo. Essa abordagem legitima a responsabilidade da criança por não aprender, o que a torna um alvo fácil para rótulos como portadores de di- ficuldades de aprendizagem. A Escola e o Desenvolvi- mento das Funções Psico- lógicas Superiores Em conformidade com Palan- gana (2015), a aprendizagem é ex- tremamente relevante porque é um D 16 DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM processo de absorção da experiência humana ao longo do tempo, que per- mite a todos adquirir habilidades e características humanas e criar no- vas habilidades e funções psíquicas. Segundo ele, Vygotsky diz que as funções mentais superiores (como memória, atenção, abstração, aqui- sição de ferramentas, linguagem e pensamento) são capazes de se de- senvolver através da aquisição de conhecimentos transmitidos histori- camente, e esta deve ser a mediação de que as crianças mais precisam culturalmente. Em outras palavras, o desen- volvimento das funções psicológicas superiores ocorre na interação social e é alcançado por meio do uso de sig- nos. Esses signos são entendidos aqui como ferramentas psicológicas, que atuam sobre o psiquismo hu- mano e o modificam. Ainda de acordo com Vygotsky, os signos in- cluem linguagem, vários sistemas de contagem, técnicas mnemônicas, sistemas de símbolos algébricos, es- quemas, gráficos, mapas, desenhos e vários tipos de signos convencio- nais. Na medida em que a o signo não apenas mediatiza o pensa- mento, mas também a produção e reprodução da sociedade humana, ocorre a modificação. A linguagem é considerada um dos mais importan- tes signos que o promovem o desen- volvimento psicológico, pois a gene- ralização verbal torna a criança dona de novos fatores de desenvolvi- mento (experiência social e hu- mana), e esses novos fatores de de- senvolvimento passam a ser a base para a sua formação mental. Segundo La Taille, Oliveira e Dantas (2019), No que diz respeito à psicologia históric0 cultural, as fun- ções psicológicas superiores existem na forma de atividades psicológicas internas, nas relações sociais antes de aparecerem como atividades in- trapsíquicas. Através do processo de internalização, o conteúdo das rela- ções sociais é transformado em fun- ções psicológicas superiores, especi- ficamente humanas. Portanto, a psi- cologia histórico cultural assume que os fatores biológicos determi- nam a base das respostas inatas in- dividuais e, com base nisso, consti- tuirão todo o sistema de respostas adquiridas, que depende mais da es- trutura do ambiente cultural em que as crianças crescem e se desenvol- vem. A educação escolar desempe- nha um papel importante no pro- cesso de transformação das funções psicológicas elementares em superi- ores, através do ensino do conheci- mento científico. É de extrema im- portância a aquisição da leitura, da escrita, do cálculo e dos fundamen- tos científicos para as crianças, pois 17 DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM esses processos permitem a apropri- ação de grande parte da experiência social e humana. Portanto, entende-se que o professor deve ter a função de me- diar entre os saberes já existentes e os alunos, pois o conteúdo do seu trabalho no processo educativo criam, individualmente, novas es- truturas mentais nos alunos, decor- rentes dos avanços na qualidade do desenvolvimento de cada criança. Para o autor, o conhecimento cientí- fico deve ser apropriado por todos os membros da sociedade. Quando a escola não beneficia tal apropriação, ela ajuda na manutenção da ordem vigente, fazendo com que o conheci- mento permaneça propriedade de determinada classe (OSTI, 2012). Conforme Mendes (2017), os elevados índices de dificuldades e distúrbios de aprendizagem existen- tes na realidade brasileira, pode ser devido a vários fatores, como: Diagnósticos indevidos, resul- tantes de concepções negati- vas sobre a criança e seu de- senvolvimento e de práticas educacionais e avaliativas que desconsideram a política edu- cacional do país; Qualidade da escola oferecida aos seus usuários; Relação professor-aluno; Metodologia de ensino, a ade- quação de currículo e o sis- tema de avaliação adotado; Diferenças sociais e culturais que não são respeitadas no sis- tema de ensino; Família que ainda é vista como aquela que desvaloriza a edu- cação formal em detrimento do trabalho, responsabili- zando a criança pelo não- aprender. Para Soares (2020), as crian- ças devem ser entendidas como in- divíduos que se desenvolvem ou não, a partir do que o meio sociocul- tural lhes oferece não só concreta- mente, em termos de oferta dos ins- trumentos materiais necessários para a aprendizagem, mas também dos processos de raciocínio que o homem adquiriu ao longo de milha- res de anos de evolução. Focar no processo de aprendizagem ao invés de problemas e distúrbios de apren- dizagem, visa quebrar a atribuição de responsabilidade pela não apren- dizagem ou dificuldades de aprendi- zagem às crianças, e tais obstáculos ou origens são geralmente entendi- dos apenas como obstáculos psicoló- gicos, biológicos ou emocionais. Ao contrário, a intervenção do psicó- logo deve se basear na reflexão junto ao professor e as crianças sobre a re- lação estereotipada que existe na es- cola, pautadas em crenças que atri- buem a dificuldade no processo de escolarização à criança, tendo como resultado os números elevados de 18 DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM repetência, evasão, exclusão e rotu- lação. Portanto, é necessário fazer mudanças com base na educação, ao invés de mudanças segmentadas destinadas a afetar as crianças indi- vidualmente. Como resultado, o foco não é mais ensinar as crianças a aprender, mas aprender a ensinar as crianças. Dessa forma, pode-se evi- tar o uso de rótulos até que elas te- nham a chance de se adaptar, pelo menos, aos fundamentos básicos do aprendizado escolar. Somente quando todas as in- formações e análises sobre a escola onde a reclamação surge forem es- gotadas, e através dos resultados desta pesquisa e intervenção, a ade- quação da escola pode ser verificada e problemas como dificuldades de aprendizagem podem ser resolvidos a nível individual. O papel da educa- ção escolar é criar habilidades na nova geração que não são adquiridas por meio da genética. Por isso, é ne- cessário fazer com que a educação e as condições de vida permitam às pessoas entrar em contato com a cultura produzida pela história. Nesse sentido, o papel da escola é disseminar e absorver os saberes clássicos acumulados pelo ser hu- mano ao longo dos tempos (MEN- DES, 2017). Em consonância com Palan- gana (2015), apenas quando se busca apreender o desenvolvimento humano a partir de uma perspectiva histórica é possível compreender a importância da mediação do adulto, desde a formação e desenvolvimento dos conceitos espontâneos, adquiri- dos de uma forma não sistemática em seu meio familiar e social. E, pos- teriormente, sob a orientação de educadores, os conceitos científicos são adquiridos de forma sistemática nas escolas, o que é um fator quegradativamente faz com que as cri- anças ajustem seu comportamento e sua consciência, o que foi chamado por Vygotsky de processo de huma- nização. As ferramentas utilizadas pelas pessoas (externas e internas, instrumentos e símbolos) não só irão produzir mudanças fundamen- tais nas suas condições de vida, mas também terão um impacto sobre ele, alterando assim o seu estado psico- lógico. Nesta abordagem, é impossí- vel considerar apenas os produtos de aprendizagem que são evidencia- dos pelas habilidades externas ou deficiência da criança, mas requer uma compreensão de novas formas de comportamento como parte do processo de adaptação ou instru- mentalização cultural da criança. 20 DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM 3. Distúrbios na Escrita Fonte: www.isaude.com.br3 Disgrafia e acordo com Soares (2020), a disgrafia é o distúrbio da pala- vra escrita que se caracteriza por uma leve falta de coordenação mo- tora, apresentando a mesma letra com movimentos diferentes e escrita confusa, sendo assim chamada de letra feia. Isso se deve à incapaci- dade de lembrar a grafia das letras, e ao tentar memorizar esses grafis- mos, a criança escreve muito deva- gar, resultando na união incorreta 3 Retirado em www.isaude.com.br das letras, tornando-as ilegíveis. Portanto, algumas crianças com dis- grafia também possuem uma disor- tografia, amontoando letras para ocultar erros de ortografia. No entanto, a disgrafia nada tem a ver com qualquer tipo de defi- ciência intelectual. A disgrafia é um ponto difícil no desenvolvimento da escrita, mas só é classificado quando, por exemplo, a qualidade da obra escrita está muito abaixo do nível intelectual do criador, quando existe outras dificuldades, a escrita D 21 DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM ruim vem associada a um baixo nível intelectual. Ainda de acordo com o autor acima, a disgrafia geralmente se manifesta com outras alterações sobrepostas, como distúrbios do de- senvolvimento da leitura, distúrbios do desenvolvimento matemático, distúrbios das habilidades motoras e distúrbios do comportamento. Conforme Weiss (2019), a dis- grafia consiste em uma deficiência na qualidade do traçado gráfico, que não são causadas por déficits de in- teligência ou neurológico. Portanto, crianças com inteligência média ou acima, por vários motivos, possuem caligrafia ilegível ou muito lenta, o que dificulta o desenvolvimento normal da escola. Portanto, pode-se entender que a deficiência na escrita costuma afetar crianças em idade de alfabetização. A disgrafia pode ser identificada em alguns pontos: Rigidez no traçado – quando a escrita é muito inclinada e ge- ralmente comprimida, mas re- gular de direção, crispada, so- brecarregada de ângulos e em- pelotada, dando uma ideia de grande tensão. Relaxamento gráfico – quando é irregular na direção e na di- mensão, as letras são malfor- madas e as margens mal orga- nizadas. Impulsividade e instabilidade no traçado – há falta de con- trole no gesto gráfico, geral- mente dá-se a impressão de pressa e confusão. Esforço excessivo de precisão e lentidão – quando o traçado é lento, há grande esforço de direção e de controle. A disgrafia é caracterizada por problemas na linguagem escrita, o que dificulta a transmissão de ideias e conhecimentos por meio desse ca- nal de comunicação específico. Desde a infância, os disgráficos, fre- quentemente experimentam senti- mento de insegurança e desequilí- brio em vários graus. As principais características da disgrafia são: Letra ilegível; Lentidão na escrita; Escrita desorganizada; Traços irregulares - ou muitos fortes que chegam a marcar o papel ou mais leves; Desorganização das letras - le- tras retocadas, hastes malfei- tas, atrofiadas, omissão de le- tras, palavras, números, for- mas distorcidas, movimentos contrários a escrita (um S ao invés do 5 por exemplo); Desorganização das formas - tamanho muito pequeno ou muito grande, escrita alonga- das ou comprimida; O espaço que dá entre as li- nhas, palavras e letras é irre- gular; Liga as letras de forma inade- quada e com espaçamento ir- regular. 22 DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM 3.2. Disortografia De acordo com Hudson (2019), etimologicamente, a palavra disortografia deriva dos conceitos “dis” (desvio) + “orto” (correto) + “grafia” (escrita), ou seja, é uma difi- culdade manifestada por um con- junto de erros da escrita que afetam a palavra, mas não o seu traçado ou grafia. A disortografia pode ser defi- nida como obstáculos que podem afetar as habilidades de escrita, e po- dem se traduzir em dificuldades per- sistentes e repetitivas na capacidade das crianças de escrever textos. As dificuldades se concentram na orga- nização, estrutura e composição dos textos escritos, as frases são mal es- truturadas e geralmente curtas, com vários erros de ortografia e, às vezes, qualidade gráfica ruim. Segundo Coelho (2016), as causas que podem justificar as difi- culdades disortográficas, são: Problemas na automatização dos procedimentos da escrita, que se traduzem na produção deficiente de textos; Estratégias de ensino imaturas ou ineficazes, com a conse- quente ignorância das regras de composição escrita; Desconhecimento ou dificul- dade em recordar os processos e subprocessos implicados na escrita (carência nas capacida- des metacognitivas de regula- ção e controle esta atividade); Aspetos perceptivos, intelec- tuais, linguísticos, afetivo- emocionais e pedagógicos. Para Silva (2015), uma criança com disortografia demonstra, geral- mente, falta de vontade para escre- ver e os seus textos são reduzidos, com uma organização pobre e pon- tuação inadequada. A sua escrita apresenta numerosos erros ortográ- ficos de natureza muito diversa, como: Erros de caráter linguístico- percetivo; Erros de caráter visual e espa- cial; Erros de caráter visual e analí- tico; Erros relativos ao conteúdo; Erros referentes às regras de ortografia; A intervenção junto do aluno com disortografia não deve estar su- jeita a um modelo específico, mas sim a uma variedade de técnicas, que não devem apenas corrigir erros ortográficos, mas também conside- rar a audição, a percepção visual e temporal, bem como a memória, a audição e a visão. Por outro lado, também é importante distinguir er- ros ortográficos de falhas na com- preensão, que possibilitam a criança de dar respostas detalhadas ou não. 23 DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM Durante a avaliação, é impor- tante dar-lhe mais tempo para res- ponder às perguntas e certificar-se de que compreendeu a afirmação ou pergunta, a expressão oral privilegi- ada também pode ser uma boa estra- tégia. Por fim, é importante acres- centar que, independentemente do procedimento adotado, é impor- tante que os educadores, conside- rem as reais capacidades e dificulda- des das crianças e sejam capazes de planejar uma série de atividades que atendam a essas habilidades especí- ficas (COELHO, 2016). 3.3. Erros de Formulação e Sin- taxe De acordo com Sampaio (2014), os erros de formulação e sin- taxe referem-se a situações em que as crianças conseguem ler fluente- mente e apresentar uma linguagem falada perfeita, compreender e co- piar palavras, mas não conseguem escrever cartas, histórias ou respon- der a perguntas feitas em testes. Ge- ralmente, cometem erros ao escre- ver que não apresentam oralmente. Além disso, elas não consegue disse- minar o conhecimento adquirido oralmente por escrito. É difícil para crianças com de- sordem na formulação escrita ex- pressar seus pensamentos com sím- bolos gráficos (letras), numa folha de papel. Embora seunível oral seja alto e ela tenha uma boa compreen- são do conteúdo da leitura, ela ainda se mostra incapaz de produzir um texto próprio. Nos distúrbios de sintaxe, que podem ocorrer independentemente dos erros de formulação, podem ocorrer erros como palavras ausen- tes, ordem errada das palavras, uso incorreto de verbos e pronomes, ter- minações erradas de palavras e falta de pontuação. Os distúrbios de for- mulação e sintaxe escrita são muito frustrantes, pois a criança sente que é capaz de competir com os outros em atividades escolares até o mo- mento em que é solicitada a transfe- rir seu conhecimento oral para a es- crita. Apesar da complexidade do problema, é possível atingir algum progresso, caso a criança seja enca- minhada para um tratamento ade- quado (WEISS, 2020). 24 25 DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM 4. Estudo da Lateralidade Fonte: www.infoescola.com4 e acordo com Fonseca (2019), para iniciar o estudo da latera- lidade, a importância de determinar a direcionalidade espacial de direção deve ser enfatizada. A orientação es- pacial, em última análise, determina a direcionalidade no conceito de es- querda e direita no próprio corpo. Todos os movimentos corporais rea- lizados por uma pessoa são resulta- dos de projeções de seu próprio corpo no espaço ao seu redor, o que requer a construção de um plano 4 Retirado em www.infoescola.com corporal e a organização do compor- tamento do movimento de percep- ção. Assim, o esquema corporal se estabelece através do recebimento de: Estímulos proprioceptivos – referem-se às sensações cines- tésicas que nascem do próprio corpo (origem interna); Estímulos exteroceptivos – são aqueles estímulos externos ao organismo e que agem so- bre ele, são estímulos forneci- dos através de experiências sensitivas e sensoriais; D 26 DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM Estímulos interoceptivos – são aqueles relacionados com as sensações das vísceras, como a fome, a sede e outras necessi- dades. A união desses estímulos é es- tabelecida durante o desenvolvi- mento do movimento neuropsico- motor do indivíduo. Nesse processo, a experiência de combinar o próprio corpo com os estímulos do ambiente desempenha um papel importante na determinação final do esquema corporal. Fonte: oren.aif.ru A orientação espacial ou dire- cionalidade é estabelecida a partir da estimulação vinda do ambiente de inserção da criança. Esses estí- mulos ambientais são muito impor- tantes para o desenvolvimento psi- comotor das crianças, pois quanto mais mudanças o corpo da criança experimenta, mais rápido o ajuste das práticas motoras, onde o movi- mento realiza um papel essencial. Em relação à orientação espa- cial, a percepção é considerada uma das formas sensório-motoras produ- zidas pela estimulação sensorial e, neste caso, a percepção é conside- rada uma habilidade adquirida (CRUZ, 2019). Conforme Lovisaro (2011), o posicionamento e a estrutura espa- cial são baseados na compreensão e domínio dos conceitos de contraste. É com base nesses conceitos que as crianças começam a se orientar no espaço. Os contrastes estão dividi- dos em cinco categorias. São elas: Noções de intensidade - estão ligados ao grau de força dos es- tímulos percebidos pelas dife- rentes vias sensoriais, como por exemplo, claro-escuro, forte-fraco, duro-mole e ou- tros; Noções de grandeza - que se refere às noções espaço-tem- porais, como por exemplo grande-pequeno, longo-curto e outros; Noções de velocidade - que se referem a uma associação de ações, como por exemplo rá- pido-lento; Noções de direção, situação e de orientação - que definem topologicamente a organiza- ção espaço-temporal de todas a situações estáticas e dinâmi- cas, como por exemplo antes- depois, acima-abaixo, direita- 27 DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM esquerda e outros; Noções de relação - que se re- ferem às relações humanas, isto é, relação consigo mesma, com o outro e com o mundo e a sociedade, como por exem- plo alegre-triste, feliz-infeliz, perguntar-responder, certo- errado, bem-mal. Segundo Kabarite (2015), es- ses contrastes são extremamente re- levantes para o desenvolvimento psicomotor da criança. O aprendi- zado desses contrastes não acontece ao mesmo tempo, e alguns podem ser pré-requisitos para outros. A dis- criminação dos contrastes, é mais bem-sucedida quando vivenciados corporalmente, sendo necessário que sejam programadas atividade que favoreçam estas aprendizagens. Na fase pré-escolar, esses con- ceitos devem ser muito trabalhados, pois em alguns casos, constituirão um pré-requisito para a aprendiza- gem cognitiva. O ponto máximo das noções de direção e orientação é o discernimento da direita-esquerda, que se processa em diferentes níveis. Para o autor em uma escala de difi- culdades, a noção de direita e es- querda se processa da seguinte ma- neira: Primeiro - em relação ao pró- prio corpo, que acontece por volta de 6 anos de idade; Segundo - em relação ao corpo do outro, que acontece por volta dos 7 e 8 anos; Terceiro - em relação à figura esquemática, que acontece en- tre 9 e 10 anos; Quarto - em relação ao mundo dos objetos, que acontece a partir dos 11 anos. A lateralidade pode ser defi- nida como a vantagem da habilidade e da capacidade funcional de um lado do corpo, correspondendo à as- simetria dos hemisférios cerebrais. Ela se desenvolve com a organização espacial da criança, ou seja, a posi- ção em seu próprio corpo, a projeção de seu ponto de referência a partir do corpo e a organização espacial in- dependente do corpo. A lateralidade também de- pende do aprendizado. Se a criança tem a estrutura apropriada para ad- quirir uma lateralidade adequada à sua adaptabilidade, somente estas não são suficientes para se adaptar. Ela deve passar pelo filtro da apren- dizagem afetiva e da experiência. Por meio do contato direto com o ambiente, em algumas ocasiões as crianças sabem como usar a escolha lateral para explorar as pessoas e ob- jetos ao seu redor (SOUZA, 2019) Para Fonseca (2019), por volta dos 6 anos, a criança já pode indicar qual é a sua mão dominante, direita ou esquerda, porém não é capaz de compreendê-las fora de seu corpo. Muitas razões são apontadas para 28 DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM justificar o uso prioritário de uma das mãos. Fonte: www.carlosasampaio.com.br A hereditariedade é bastante considerada, pois há indícios da existência de um fator genótipo transmitido pelo pai ou pela mãe. Também é importante determinar o número de exercícios de um lado do corpo, que pode até ser imposto por condições sociais, mas também pode ser determinado pela maturidade unilateral. De acordo com Alvissaro (2011), existem quatro tipos de late- ralização: Destralidade verdadeira - quando o hemisfério cerebral dominante encontra-se à es- querda, ocorrendo então reali- zações motrizes à direita; Sinistralidade verdadeira - quando o hemisfério cerebral dominante está à direita, ocor- rendo realizações motrizes à esquerda; Falsa sinistralidade - quando o indivíduo destro é impossibili- tado de o ser, por consequên- cia de paralisia, amputação, habituando-o ao sinistrismo; Falsa destralidade - quando o indivíduo sinistro é forçado a ser destro por ter tido parali- sia, amputações, etc. 29 30 DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM 5. Importância da Atuação Familiar Fonte: www.folhavitoria.com.br5 e acordo com Canedo (2019), ao longo dos anos, a constitui- ção da estrutura familiar sofreu grandes mudanças e, hoje, a imagem de família que temos entre pais, mãese filhos permanece no século passado. As escolas precisam se pre- parar para as famílias do século XXI, para que ambas as partes possam es- tabelecer uma relação de respeito e companheirismo para educar as cri- anças e se engajar em um diálogo contínuo. O ambiente escolar deve 5 Retirado em www.folhavitoria.com.br ser uma instituição que aperfeiçoa o ambiente familiar do aluno, deve ser agradável e emocional. Os pais e as escolas devem ter princípios muito próximos para o benefício dos filhos e alunos. O papel da família na vida da criança está intimamente relacio- nado ao seu desenvolvimento esco- lar, e isso não pode ser ignorado em hipótese alguma. A família tem a responsabilidade de supervisionar o desempenho escolar das crianças e D https://loremipsum.io/ 31 DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM intermediar suas atividades diárias. A escola só vai completar o ambiente familiar, uma vez que os primeiros incentivos devem surgir na família, acompanhando diariamente as difi- culdades e os avanços e estimulando para que possam aprender cada vez mais. Esta parceria entre família e escola vai depender da relação entre as duas partes e das recomendações da escola para a integração da famí- lia no ambiente escolar (PEREIRA e NOVO, 2018). Conforme Fantinato e Macedo (2020), a construção do projeto po- lítico pedagógico escolar é uma ten- tativa de estabelecer uma aproxima- ção entre a escola e a família, e esti- mular a participação, para que de fato possam compreender a pro- posta e se sentirem membros da es- cola, onde possam contribuir com a educação dos filhos. É importante que os pais entendam a proposta de ensino da escola e participem de sua preparação e implementação. É necessário propor ações para trazer as famílias para a escola e remover as barreiras existentes en- tre elas. Os pais não devem apenas manter contato mais próximo com os professores durante as reuniões e aniversários, mas também partici- par ativamente do processo de aprendizagem de seus filhos com a escola em outros momentos. Os pais que participam ativa- mente da educação dos filhos têm al- cançado resultados satisfatórios ao final do ano letivo. Infelizmente, em nossas escolas, não existem medidas para aproximar a família do ambi- ente escolar e a falta de políticas e planos públicos acabou afetando essa aproximação. A maioria dos pais conhece suas funções e respon- sabilidades, mas eles acham difícil assumir essa responsabilidade com a escola porque não sabem como fazê-lo (PICCHIONI, 2020). Segundo Pereira e Novo, (2018), O processo de educação da criança começa desde o momento em que ela nasce, e a responsabili- dade é inteiramente da família, pois ela é o primeiro contato da criança. A escola espera que as famílias pos- sam estar mais próximas para que possam resolver juntos os proble- mas e dificuldades, mas, na maioria das vezes, a família delega essa res- ponsabilidade a outros, se surgirem problemas, a responsabilidade recai sobre a escola. Em tese, a família será respon- sável pela formação do indivíduo, e a escola pela sua informação. A es- cola nunca pode substituir o status dos pais na educação, porque os fi- lhos são sempre crianças e os alunos só têm contato por tempo limitado com a instituição de ensino que fre- 32 DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM quentam. A escola e a família são ex- tremamente importantes para as pessoas, quanto mais forte for a par- ceria entre elas, mais efetivo será o resultado para o desenvolvimento humano, que deve ser contínua quando uma complementa a outra. Por melhor que seja a escola, por mais bem preparada que seus professores sejam, a escola não vai conseguir suprir a carência causada por famílias ausentes. Pais, mães, avós ou avôs, tios e os responsáveis pela educação de seus filhos devem participar efetivamente, caso con- trário, a escola não poderá atingir seus objetivos. Hoje temos escolas de tempo integral e uma organização para re- ceber as crianças, se essa escola for boa ou ruim, se não houver parceria com a família, o resultado sempre será menor do que o esperado. Quando os pais pensam que a escola é responsável por toda a educação de seus filhos por causa de professores qualificados, eles se livram da res- ponsabilidade da educação. Sem a presença de membros da família, as crianças ficam desamparadas e inca- pazes de captar as informações ne- cessárias para o desenvolvimento cognitivo (CANEDO, 2019). Atualmente, a família e a es- cola vivem vários problemas e am- bos os lados transferem responsabi- lidades um para o outro. Os pais es- peram que a escola possa resolver os problemas diários e a escola diz que a responsabilidade é da família. Não há como negar que as fa- mílias são responsáveis pela educa- ção formal e informal dos filhos, mas se as crianças não tiverem afetivi- dade e amor, terão dificuldade em desenvolver esses valores (FANTI- NATO e MACEDO, 2020). 33 34 DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM 6. Relação Professor X Aluno Fonte: www.opopular.com.br6 e acordo com Antunes e Alves (2011), muitas são as dúvidas e discussões sobre o papel da escola na educação, mas além de transmitir conhecimento aos alunos, é preciso enxergar a educação. Por ser cha- mada de "instituição do saber", a es- cola desempenha um papel impor- tante em toda a sociedade. Por ser tão importante, é preciso ir além do que os olhos podem ver, e ensinar aos alunos a pensar no mundo, na sociedade em que vivem e no mundo das diferenças e discriminações, de 6 Retirado em www.opopular.com.br forma a fornecer subsídios aos alu- nos para enfrentarem essas adversi- dades da vida. Para ter a função de preparar cidadãos para o mundo, a escola deve ser considerada como uma preparação para a vida. A es- cola é um ambiente de aprendiza- gem, onde existe grande diversidade cultural, mas orienta a construção de significados compartilhados en- tre alunos e professores. A construção desses significa- dos comuns enfatiza a necessidade de mudar as escolas por meio da re- D 35 APOSTILA DE LIBRAS 35 flexão. Ela precisa ser individual e coletiva ao mesmo tempo, o que en- volve diferentes aspectos da escola, como: a relação ensino e aprendiza- gem com diferentes trocas de infor- mações, a interação entre os sujeitos participantes da cultura escolar, os processos curriculares, pedagógicos e a gestão administrativa, propiciam um compartilhamento de informa- ções e interação da cultura escolar. A escola deve ser vista como um ambiente atraente para profes- sores, alunos e profissionais que nela atuam, para que possam ser convidados a participar desse ambi- ente de conhecimento estabelecido por professores e alunos a cada dia, e utilizar conhecimentos prévios tra- zidos por todos. É necessário que os professores reformulem e fascinem a educação, focando na visão educa- cional, utilizando o conhecimento acumulado e gerando novas experi- ências no processo de ensino e aprendizagem dos alunos. A relação professor/aluno/conteúdo não é es- tática, mas dinâmica, pois se trata de uma ação de ensino coordenada com as práticas docentes. É essencial considerar a relação profes- sor/aluno, com base no clima esta- belecido pelo professor, a relação empática com o aluno, sua capaci- dade de ouvir, refletir, discutir seu nível de compreensão e construir uma ponte entre seu conhecimento e o deles. Portanto, é muito importante que os alunos participem das ativi- dades em sala de aula, pois isso pos- sibilitará a expressão de seus conhe- cimentos, preocupações, interesses, aspirações e vivências, para que pos- sam participar ativa e criticamenteda construção e reconstrução de sua cultura de movimento e de grupo onde mora. É compreensível que a quali- dade do desempenho escolar não possa depender apenas da vontade de um ou de outro professor. A es- cola deve participar efetiva e conjun- tamente com familiares, alunos e profissionais da área da educação para que os professores também en- tendam que os alunos não são ape- nas depósitos do conhecimento. O papel do professor é atuar como um facilitador, buscando um entendimento comum no processo de construção do conhecimento compartilhado, que só pode ser al- cançado por meio da interação. A aula deve mudar-se e estimular a re- flexão sobre o seu próprio compor- tamento, o seu impacto no conheci- mento e no comportamento educa- tivo. A relação professor-aluno é in- fluenciada por suas percepções um do outro e até mesmo por sua repre- sentação mútua. O relacionamento 36 APOSTILA DE LIBRAS 36 entre professor-aluno não pode ser limitado ao processo cognitivo de construção do conhecimento, pois envolve também dimensões emocio- nais e motivacionais. Um professor eficiente é o que faz com que, ao mesmo tempo que fala traz os alu- nos até a intimidade do movimento do seu pensamento, tem uma aula desafiante e não monótona. Sendo assim, os professores deixarão de ser "donos do conhecimento", mas pas- sarão a ser orientadores, que acom- panham e participam do processo de construção do novo aprendizado dos alunos no seu processo de formação. Portanto, pode-se dizer que o método de ensino consistem nas ações do professor, por meio do qual se organiza atividades de ensino e os alunos para atingir os objetivos de ensino relacionados ao conteúdo es- pecífico. Regulam a forma de intera- ção entre o ensino e a aprendizagem, e entre professores e alunos, resul- tando na absorção consciente do co- nhecimento e no desenvolvimento das capacidades cognitivas e opera- cionais dos alunos. As atividades de ensino do professor em sala de aula são cruci- ais, pois ele assume o papel de medi- ador, não de condutor. A relação professor-aluno deve ser pautada na busca pelo aqui e agora, não há ne- cessidade de comparação com ou- tras gerações, mas o mais impor- tante é ser fiel aos próprios sonhos. Um professor autoritário, faz com que suas atitudes calem seus alunos, reprimindo e causando medo. Por- tanto, essa relação professor-aluno não tem efeito dialógico na constru- ção e reconstrução de ideias. A rela- ção entre professores e alunos é o clímax do processo de ensino. É im- possível distinguir a realidade da es- cola da realidade do mundo vivida pelos alunos e, por ser esta relação uma via de mão dupla, tanto profes- sores como alunos podem ensinar e aprender com as suas experiências. Os professores devem compre- ender que, para desempenhar suas verdadeiras funções, devem combi- nar autoridade, respeito e afetivi- dade. Ou seja, mesmo que o profes- sor precise atender determinado aluno individualmente, a ação tam- bém terá como alvo as atividades de todos os alunos em torno do mesmo objetivo e conteúdo da aula. É im- portante destacar que a atuação de alguns professores não é uma forma indiscutível de ensino, mas sim uma forma de inspiração para buscar no- vas e melhores formas de alcançar os alunos. Se o interesse dos profissio- nais da educação está realmente vol- tado para as necessidades reais, como as expectativas educacionais 37 APOSTILA DE LIBRAS 37 na formação de indivíduos critica- mente reflexivos, então não só a lin- guagem, mas também a atitude de- vem ser mudadas. Fonte: www.provafacilnaweb.com.br É necessário conduzir uma educação de qualidade para alunos, escolas, sociedade e professores, e tratar os alunos como indivíduos ati- vos no processo de ensino. Somente dessa forma os professores podem desempenhar o papel de orientado- res, não apenas papéis de simples- mente ensinar. Seja uma graduação recente ou anos de formação, em toda a tra- jetória de desenvolvimento, é pre- ciso refletir sobre o quanto os pro- fessores podem reconstruir seu pró- prio caminho. Isso lhe proporcionará experi- ências enquanto alunos que sempre serão, bem como a experiência de professores que trabalham na escola hoje e amanhã. Para que ocorram as mudan- ças propostas e as escolas possam exercer seu papel, é necessário que todos caminhem juntos, e prati- quem as ideias nas escolas da nossa sociedade para ter um mundo mais igualitário, de forma a cumprir o seu papel mais importante na educação: formar pessoas que possam pensar a respeito de tudo o que fazem. 38 38 39 DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM 7. Psicopedagogia e Distúrbios de Aprendizagem Fonte: institutoneurosaber.com.br7 e acordo com o Código de Ética da Psicopedagogia da Associa- ção Brasileira de Psicopedagogia, re- formulado pelo Conselho da ABPp, gestão 2011/2013 e aprovado em as- sembleia geral em 5/11/2011, é papel do psicopedagogo trabalhar no âm- bito educacional e na saúde, com foco no processo de aprendizagem e suas dificuldades. Fundamentado em diferentes referenciais teóricos e 7 Retirado em institutoneurosaber.com.br de natureza inter e transdisciplinar, tem como objetivos: Promover a aprendizagem, contribuindo para os proces- sos de inclusão escolar e so- cial; Compreender e propor ações frente às dificuldades de aprendizagem; Realizar pesquisas científicas no campo da psicopedagogia; Mediar conflitos relacionados D 40 DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM aos processos de aprendiza- gem. Conforme Weiss (2020), a psi- copedagogia tem como objeto de co- nhecimento no processo de aprendi- zagem o ser humano. Para comple- tar esse processo tão complexo, é ne- cessário buscar outros campos de conhecimento interativos, como pe- dagogia, psicologia, neurologia, psi- canálise, e outras, para dar suges- tões e estabelecer posturas de parce- ria e assessoramento, afim de enten- der e compreender o espaço onde acontece a aprendizagem. Uma das principais características da atuação do psicólogo é a prevenção, seja ela clínica ou educacional. Ajudar, ori- entar e principalmente diagnosticar problemas relacionados com a aprendizagem, de forma a evitar o fracasso escolar e erros causados por intervenção ou diagnóstico psicope- dagógico. Considerando que a vida do sujeito deve ser conduzida de forma harmoniosa e equilibrada tanto orgânica, emocional, cognitiva e socialmente. No trabalho do psicopeda- gogo, o processo investigativo inicia- se com o aluno e o psicopedagogo, que não pode utilizar os mesmos instrumentos usados pelo psicólogo. O processo de diagnóstico é reali- zado por intermédio do reconheci- mento, do prognóstico e das indica- ções, através das cinco fases: anam- nese, testes, provas piagetianas, conceitualização do caso, devolução aos pais e em alguns casos à criança (LA TAILLE, OLIVEIRA e DANTAS, 2019). Segundo Bastos (2015), na área clínica, o psicopedagogo traba- lha individualmente em um consul- tório. Se possível, a primeira entre- vista deve ser agendada com pais e filhos. Nesse momento, é impor- tante observar a dinâmica psicoló- gica da família e as atividades espon- tâneas de desenvolvimento pessoal. O pedagogo utiliza ferramentas que caracterizam as avaliações psicope- dagógicos, como jogos, brinquedos, pinturas, testes piagetianos e ativi- dades pedagógicas. Ele anota tudo o que é falado e o que observou do comportamento dos envolvidos. Ge- ralmente, o psicopedagogo irá per- ceber que a reclamação está relacio- nada ao ambiente familiar ou esco- lar e não a criança que apresenta al- gum transtorno e, no caso de ter al- gum transtorno, deve ser encami- nhado para a área adequadapara o tratamento. Durante a entrevista, deve ser aplicada a anamnese, ins- trumento usado com o objetivo de relembrar todos os fatos que se rela- cionam à dificuldade da criança. Na anamnese são colhidos dados desde 41 DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM a gestação, parto, ambiente em que o indivíduo vive, sexualidade, histó- rico escolar, saúde, dados familiares e outros. Para Sampaio (2014), os psi- copedagogos institucionais atuam diretamente nas escolas, e devem cooperar e compreender a escola, os professores, os gestores, os coorde- nadores e as comunidades, enfim, todos os envolvidos no processo de ensino, principalmente os alunos desta escola. O processo de trabalho deve ser iniciado com o próprio aluno, não deixando de fornecer feedback a todos os envolvidos após a conclusão do processo. O psicope- dagogo institucional deve ter uma atitude de assessoramento, afim de compreender e seguir todas as práti- cas escolares, a dinâmica da escola e de sala de aula e interação com os professores, o que é produzido pelos alunos, não se restringindo apenas ao diagnóstico, mas também inter- vindo, fazendo os devidos encami- nhamentos, quando necessários, a psicólogos, fonoaudiólogos, médi- cos, orientadores entre outros. Os psicopedagogos escolares, acompanham e supervisionam os trabalhos desenvolvidos pela escola, orientando a equipe docente sobre a ação pedagógica mais adequada e eficiente para cada problema obser- vado. Deve também encorajar as fa- mílias a participar e acolher todos os atores do processo. O acompanha- mento psicopedagógico (diagnós- tico, intervenção e encaminha- mento, quando necessário), deve ser feito de forma cautelosa para não ro- tular a criança como portadora de uma patologia, ou atribuir culpa a criança e sua família (SOARES, 2020). Compreender o desenvolvi- mento e a dinâmica dos professores em sala de aula, como os alunos pro- duzem seu conhecimento, como é empregada a didática e a metodolo- gia, qual a relação de autoridade que os professores exercem e outros as- pectos dessa relação, permitem que os psicopedagogos possam dar algu- mas sugestões, propondo um tipo de intervenção para agir de forma am- pla, interagindo com professores e equipes multidisciplinares e ajus- tando métodos, se necessário (SA- BINO, 2012). 42 43 DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM 8. Referências Bibliográficas AGUSTINI, C. L. H; ARAÚJO, E. D. A (Re)Escrita em Espaço Escolar: A Relação Professor-Saber-Aluno. Curitiba, PR. Ap- pris, 2019. ANTUNES, C; ALVES, R. 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