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LITÍASE URINÁRIA Epidemiologia • De 8 a 16% da população é portadora de nefrolitíase e terão pelo menos um cálculo sintomático até os 70 anos; • 2x mais frequente em homens > principalmente entre 40 e 60 anos > raro antes dos 20 anos; • Pessoas que expulsam espontaneamente um cálculo tem até 50% de recorrência do quadro em 10 anos; • Maioria dos cálculos renais: hidroxiapatita. Nas crianças: ácido úrico. Fisiopatologia • Urina: contém sais insolúveis > podem supersaturar e cristalizar; • Um dos motivos da supersaturação: pH urinário menor que 5 > formação de cristais de cistina e ácido úrico. pH maior que 6: estruvita e apatita. • Cálculos de oxalato de cálcio não apresentam relação com pH urinário. • Depois de formado o cristal: ocorre o crescimento e a agregação deles > ocorre a nucleação (quando a concentração de sal é tão grande ao ponto da pessoa não mais conseguir dissolver > forma-se então o cálculo macroscópico; • Outro fator que contribui para a formação de cristais: concentração da urina (por isso o paciente precisa ser orientado a beber bastante água); • Cristais não são cálculos! Tipos de cálculos Abordagem do cálculo renal na emergência (agudo) • A maioria dos pacientes com cálculo são assintomáticos; • Dor: impactação do cálculo em alguma região do trato urinário: é a cólica nefrética; Quadro clínico • Normalmente a dor decorre da passagem dos rins para o ureter; • 3 sítios principais onde o cálculo pode impactar: o Junção ureteropélvica (ou ureteropiélica, JUP) > ponto mais comum de obstrução > dor lombar com irradiação para o flanco; o Terço médio do ureter (cruzamento do ureter com vasos ilíacos) > dor em flanco com irradiação para a pelve, região inguinal e genital; o Junção vesicoureteral (JUV) > se assemelha a uma cistite, com disúria, polaciúria e urgência miccional > pode causar dor em região inguinogenital com irradiação para o testículo/grande lábio. Outras manifestações associadas • Dor intensa > podem existir manifestações vagais durante o paroxismo da crise álgica > como a sudorese, náuseas e vômitos; • Paciente normalmente é agitado na emergência > não há posição que melhore os sintomas; • Hematúria: pode estar presente fora do quadro de crise renal; IMPORTANTE: estar atento para os sinais e sintomas sugestivos de infecção associada (pielonefrite obstrutiva) > maior gravidade: dor a punho percussão (sinal de Giordano), febre e hipotensão (choque séptico). Diagnóstico • Fazer 3 questionamentos: o Existe mesmo a nefrolitíase? ▪ Síndrome de cólica nefrética; ▪ Hidronefrose; ▪ Hematúria. o Qual é a composição do cálculo? o Que fator predispõe a formação desse cálculo? • O que é necessário solicitar: o Laboratório básico: ▪ Hemograma; ▪ PCR; ▪ Função renal; ▪ Eletrólitos; ▪ Urina simples com urinocultura; ▪ Exame de imagem: confirmação diagnóstica e avaliação das complicações. Exames de imagem Radiografia de abdome simples • Menor sensibilidade quando comparar a outras modalidades; • Difícil avaliar com precisão o tamanho do cálculo e complicações relacionadas; • Pielografia excretora: aumenta a sensibilidade > uso de contraste endovenoso > é possível também detectar hidronefrose; • Nem dos dois são exames de escolha para esse caso. US de rins e vias urinárias • Melhor sensibilidade que a radiografia; • É o exame de escolha para gestantes; • Identifica muito bem a hidronefrose; • Fácil acesso > pode ser usado como exame inicial > menos sensibilidade que a TC (cerca de 30% a menos); • USG que não visualiza a litíase não exclui o diagnóstico. TC de abdome sem contraste • Considerado padrão ouro (95% de sensibilidade e 97% de especificidade); • Detecta complicações com maior acurácia, como pielonefrite obstrutiva; • Localização e a presença de outros cálculos > fácil de localizar na TC. RNM de abdome • Pouco utilizada > não apresenta muita superioridade em relação à TC > também é menos disponível; • Indicada para gestantes com suspeita de nefrolitíase/ureterolitíase e com USG nornal. Diagnósticos diferenciais • Cistite: se assemelha a utreterolitíase distal; • Dor musculoesquelética: diagnóstico diferencial de dor lombar; • Abdome agudo inflamatório: afastar apendicite e colecistite; • Gravidez ectópica: o padrão e a localização da dor são semelhantes. Tratamento • Inicial: hidratação e analgesia > droga de preferência: AINES (VO). Pode-se usar opioides nos casos refratários; em casos de náuseas e vômitos, pode ser introduzida a terapia parenteral. o Opioides: diferente dos AINES, não amenizam o espasmo ureteral, o que justifica o fato de eles não serem consideradas drogas de primeira linha para a analgesia > também provocam mais efeitos adversos (náuseas e vômitos); • Segunda avaliação: se esse paciente necessita de terapia intervencionista ou não. Terapia médica expulsiva (TME) > AINE + B-alfa1 • Fornecer ao paciente analgésicos e bloqueadores alfa-1 > objetivo de relaxar a musculatura lisa do trato urinário e favorecer a passagem da pedra. o Droga mais utilizada: Tamsulosin (Secotex) 0,4 mg uma vez ao dia durante 4 a 6 semanas; o Opção: Nifedipina > menos eficazes e maiores efeitos colaterais (hipotensão); o Hioscina (Buscopan Composto ou Baralgin): não possuem efeito comprovado > a ação é da dipirona. • Se houver insucesso: indicada a intervenção urológica; • Quanto menor o tamanho da litíase, maior a chance de benefício da terapia expulsiva; Desobstrução de urgência • Nesses casos, a maior preocupação não é realizar a retirada da pedra e sim desobstruir a via urinária; • É obtido através da passagem de um cateter duplo J > como um bypass entre o rim e a bexiga, permitindo o escoamento da urina sem obstrução pela litíase ou nefrostomia; • Após estabilização do paciente, programa-se um novo procedimento para litotripsia e retirada do duplo J ou da nefrostomia. Fluxograma de abordagem do cálculo renal na emergência Definir a terapia intervencionista • Se descartarmos a necessidade de um procedimento de emergência e o nosso paciente apresentar um cálculo maior que 1 cm (10 mm) ou falha na terapia expulsiva > avaliar tratamento definitivo; • Existem 5 opções principais para o tratamento definitivo intervencionista na urologia: Litotripsia extracorpórea (LECO) • É uma boa opção por ser menos invasivo; • Indicada para pacientes com CÁLCULO PROXIMAL, menor que 2 cm, até 1000 UH e distância da pele até 10 cm; • Através de uma fonte emissora, dispara-se ondas de choque com alta energia para tentar fragmentar o cálculo; • Indicada em caso de coagulopatia, infecção ativa, gestantes, aneurisma de aorta e de artéria renal. Ureteroscopia rígida • Mais utilizada para cálculos distais que não respondem a terapia clínica; • A depender do tamanho do cálculo, pode-se apenas retirá-lo (com basket ou fórceps); • Ou quebra-lo com o auxílio de traidores/laser para então tirar os fragmentos. Ureteroscopia flexível • Alternativa para cálculos proximais, de até 2 cm e que não preenchem os critérios para LECO (>1000 UH, distância pele – cálculo maior que 10 cm); • Para atingir o rim e os cálices renais, o aparelho precisa ser flexível e poder angular sua entrada nas diferentes ramificações da pelve renal; Nefrolitotripsia percutânea • Realizada através de punção percutânea na pelve renal (radioscopia ou USG); • Passagem do nefroscópio equipado com aparelhos de litotripsia; • Indicada para cálculos maior que 2 cm proximais ou maiores que 1 cm se localizados no polo inferior (onde a LECO não apresenta bons resultados). Nefrolitotomia aberta • Está em desuso esse procedimento devido ao avanço dos procedimentos endourológicos minimamente invasivos; • Indicado para o paciente refratário às outras terapias, quando há deformidade anatômica que impossibilita a via endourológica ou em casos em que pretendemos realizar uma nefrectomia(parcial ou total) por cálculo em rim não funcionante. IMPORTANTE: 1. Complicação mais temida dos cálculos renais impactados no ureter: pielonefrite > pode evoluir para sepse; 2. Alguns autores defendem terapia intervencionista de forma mais precoce para cálculos ureterais de 7 a 8 mm; 3. Método de escolha para retirar cálculos impactados no ureter distal: ureteroscopia; 4. Terapia de primeira escolha para cálculos renais e ureterais proximais menores que 20 mm: LECO; 5. Nos casos de litíase complicada (cálculo obstrutivo + infecção ou que cause IRA pós-renal), a primeira preocupação do médico será: desobstruir a via urinária, podendo usar principalmente um cateter duplo J. Abordagem do cálculo renal no ambulatório LEMBRAR: sem um bom tratamento, metade dos pacientes com cólica renal e litíase terão recorrência em até 10 anos desse quadro. Noções gerais • Entender qual o tipo de cálculo > após uma expulsão ou intervenção, descobrir a composição do cálculo (enviar para análise); • Alguns exames complementares podem fornecer informações importantes: Sumário de urina (EAS/Urina tipo I) + Urocultura • Importância principal do exame: determinar o pH; • pH menor que 5: provável cálculo de ácido úrico ou cistina; • pH maior que 6: provável cálculo de estruvita ou apatita; • No EAS pode-se verificar a liberação de cristais, mas, isso não serve como diagnóstico > já que pode ocorrer a liberação de mais de um tipo de crital; • A urocultura pode mostrar a presença de um agente produtor de uréase > como o Proteus sp. > que sugere a etiologia do cálculo. Urina de 24 horas • Necessária duas coletas em ocasiões diferentes. Avaliar a excreção dos seguintes elementos: o Cálcio; o Ácido úrico; o Oxalato; o Sódio; o Potássio; o Fosfato; o Citrato; o Magnésio; o Determinação da saturação urinária e volume urinário; o Creatinina; o Albumina; o Cloro. Dosagem sérica • Todos os elementos avaliados na urina, além dos seguintes: Cálculos de oxalato ou fosfato de cálcio • É o tipo mais comum de cálculo (80%); • Quando ainda não se possui o diagnóstico definitivo, parte-se do princípio que seja essa a composição; Fatores de risco • HIPERCALCIÚRIA IDIOPÁTICA: principal causa; • Hipercalciúria secundária: neoplasias, hiperparatireoidismo primário, acidose tubular renal tipo I; • Hipocitratúria: o citrato na urina impede a ligação do oxalato com o cálcio, evitando a formação de cálculos; • Hiperoxalúria adquirida: normalmente o oxalato não é absorvido no intestino, já que está junto ao cálcio. o Nas doenças disabsortivas: como a doença de Crohn, os ácidos graxos se ligam ao cálcio que, por não serem absorvidos, se encontram em maior disponibilidade na luz intestinal > ocorre aumento da fração livre de oxalato > eliminado na urina > liga-se ao cálcio da urina > nefrolitíase; • História prévia de nefrolitíase; • História familiar positiva: risco até 2x maior. Tratamento Hipercalciúria idiopática: • Excreção de mais de 250 mg/dia de cálcio na urina em mulheres e 300 mg em homens; • Para TODOS OS PORTADORES DE NEFROLITÍASE: aumento da ingestão hídrica; • Não orientar redução da ingesta de alimentos com cálcio > motivo: aumentaria a fração livre de oxalato, podendo piorar a situação. • Recomendação exata: TRÍADE o Aumento da ingesta hídrica; o Restrição de sal e proteínas; o Avaliar diurético tiazídico. • Ingesta de sal e proteínas: contribuem para a excreção de cálcio na urina. • se não melhorar com a mudança de dieta: diuréticos tiazídicos > aumentam a reabsorção de cálcio no túbulo distal. o Lembrar: diuréticos de alça não são bons para essa situação, já que aumentam a excreção de cálcio. Outras condições: • Secundária: tratar a doença base; • Hipocitratúria: reposição com citrato de potássio; • ATR tipo I: acidose aumenta a saída de cálcio e fosfato do osso > seguem para o sangue > urina. Então alcalinizamos o sangue com citrato de potássio; • Hiperoxalúria: oferecer colestiramina > se liga ao oxalato > aumenta excreção intestinal. Piridoxina (vit. B6) pode ajudar. Cálculos de estruvita • Composição: fosfato de amoníaco magnesiano; • pH alcalino; • conhecimento chave: presença de alguma bactéria produtora de uréase > degrada ureia em amônia (NH3) e CO2 > alcaliniza a urina > diminui a solubilidade do fosfato > precipitação de cálculos. • Denominado de cálculo infeccioso. Bactérias produtoras de uréase: • Proteus mirabilis; • Klebsiella sp; • Staphylococcus sp; • Pseudomonas sp; • Ureaplasma sp. IMPORTANTE: aspecto macroscópico do cálculo renal de estruvita: coraliforme, cor marrom. Tratamento: • Erradicar a bactéria! • Difícil erradicar cálculos coraliformes; • Casos refratários: além da terapia intervencionista > usar ácido aceto-hidroxâmico que inibe a uréase. Cálculos de ácido úrico • Urina ácida > precipita ácido úrico; Fatores de risco: • Normalmente ocorre em portadores de hiperuricemia ou gota > também podem apresentar hiperuricosúria (excreção acima de 800 mg/dia homens ou 750 mg/dia em mulheres); Tratamento: • Alcalinização da urina com citrato de potássio; • Diminuição de alimentos ricos em purinas (cerveja, refrigerantes, frutos do mar); • Diminuição do uso de inibidores da xantina oxidase (alopurinol) e Probenecida: aumentam a excreção urinária de ácido úrico; Cálculos de cistina • Também ocorrem com pH urinário ácido. Fatores de risco: • Aumento da excreção urinária de cistina normalmente tem origem genética: defeito no gene SLC3A1. Tratamento: • Tornar urina alcalina com citrato de potássio; • Alternativas menos comuns: tioproinina e D-penicilamina > reduzem a excreção de cistina.
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