Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Aula 2 - EMPREENDEDORISMO NO BRASIL NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 19 O empreendedorismo no mundo estava em plena ascenção e burbulhavam as histórias de sucesso por todos os países, uma vez que, por força do próprio empreendedorismo, alavanca o desenvolvimento, fortalecendo a economia. No Brasil não foi diferente, especialmente na década de 1990, quando os mercados estavam funcionando de modo distinto, dada a abertura da economia no país. Abriam-se as portas para o mundo e os preços estavam sendo controlados por fornecedores estrangeiros. Algumas empresas, em diversos setores, não conseguiam competir como antes – mas dormiam tranquilamente em berço esplêndido, ou seja, a concorrência era interna e singela. Com esse boom no mercado, as empresas, os gestores, enfim, os brasileiros precisaram se mexer, movimentar-se. Novos planos de negócios, novas estratégias foram criadas ou recriadas. Até mesmo a tão sonhada inovação teve que despertar e ganhou impulso. Segundo o IPED (2015), estima-se que em 2009 havia aproximadamente 19 milhões de brasileiros empreendedores em nosso país, entre setores e organizações variadas. Assim, o que foi observado nesse período é que, querendo ou não, e muitas das vezes de forma inconsciente, o Brasil se viu obrigado a empreender e inovar. Resgatando uma fala de Dornelas (2014), o movimento do empreendedorismo no Brasil começou a tomar forma nessa década 2.1 QUANDO SURGIU AULA 2 EMPREENDEDORISMO NO BRASIL O Brasil é o primeiro em ranking de empreendedorismo ! (Pesquisa GEM 2014 / Murilo Rodrigues Alves, EXAME.com (2015) No Brasil, o empreendedorismo surgiu nos anos 90 com muita força. Fonte: Portal Educação Aula 2 - EMPREENDEDORISMO NO BRASIL NEAD • CATÓLICA SALESIANA20 de 1990, quando entidades como Sebrae e Softex foram criadas. Antes disso, praticamente não se falava em empreendedorismo e em criação de pequenas empresas. Os ambientes político e econômico do país não eram propícios, e o empreendedor praticamente não encontrava informações para auxiliá-lo na jornada empreendedora. O Sebrae é um dos órgãos mais conhecidos do pequeno empresário brasileiro, que busca junto a essa entidade todo suporte de que precisa para iniciar sua empresa, bem como consultorias para resolver pequenos problemas pontuais de seu negócio. O histórico da entidade Softex pode ser confundido com o histórico do empreendedorismo no Brasil na década de 1990. A entidade foi criada com o intuito de levar as empresas de software do país ao mercado externo, por meio de várias ações que proporcionavam ao empresário de informática a capacitação em gestão e tecnologia. Foi com os programas criados, no âmbito da Softex em todo país, junto a incubadoras de empresas e a universidades/cursos de ciências da computação/informática, que o tema empreendedorismo começou a despertar na sociedade brasileira. Até então, palavras como plano de negócios (business plan) eram praticamente desconhecidas e até ridicularizadas pelos pequenos empresários. 2.2 A REVOLUÇÃO DO NOVO BRASIL Segundo Alves (2015), três em cada dez brasileiros adultos entre 18 e 64 anos possuem uma empresa ou estão envolvidos com a criação de um negócio próprio. Em dez anos, a taxa total de empreendedorismo no Brasil aumentou de 23%, em 2004, para 34,5% no ano passado. Metade desses empreendedores abriu seus negócios há menos de três anos e meio. Os dados são da nova pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM, 2014), feita no Brasil pelo Sebrae e pelo Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP). O Brasil participa desse esforço desde 2000, sendo a pesquisa conduzida pelo IBQP e conta com o apoio técnico e financeiro do Sebrae. Desde 2011, o Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da Fundação Getúlio Vargas tornou-se parceiro acadêmico do projeto. Fonte: http://www.gemconsortium.org Aula 2 - EMPREENDEDORISMO NO BRASIL NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 21 Segundo o Relatório Executivo Empeendedorismo (GEM, 2014), a pesquisa apresenta importantes diferenciais em relação a outros estudos sobre empreendedorismo. O primeiro deles é que o levantamento dos dados é feito em fontes primárias, com indivíduos e não com empresas. Assim sendo, as conclusões serão sempre relacionadas aos indivíduos empreendedores e seus respectivos empreendimentos. O segundo diferencial é que o GEM utiliza um conceito amplo de empreendedorismo que visa captar os diversos tipos de empreendedores (formais ou informais), sejam os da base da pirâmide, envolvidos com empreendimentos muito simples, ou aqueles envolvidos em empreendimentos mais sofisticados e de mais alto valor agregado. As diferenciações e reagrupamentos são feitos a partir das diversas questões levantadas no questionário, as quais permitem a posterior classificação desses empreendedores conforme suas características sociais e as características do empreendimento. Assim, em 2014, a pesquisa atingiu 75% da população global e 90% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. No Brasil, foram entrevistadas 10 mil pessoas de 18 a 64 anos das cinco regiões do país. Na comparação mundial, o Brasil se destaca com a maior taxa de empreendedorismo, quase oito pontos porcentuais à frente da China, o segundo colocado, com taxa de 26,7%. O número de empreendedores entre a população adulta no país é também superior ao dos Estados Unidos (20%), Reino Unido (17%), Japão (10,5%) e França (8,1%). Entre as economias em desenvolvimento, a taxa brasileira é superior à da Índia (10,2%), África do Sul (9,6%) e Rússia (8,6%). Para o Sebrae (2015), o recorde de empreendedores no Brasil é consequência do aumento do número de formalizações nos últimos anos e da melhoria do ambiente legal, com a criação e ampliação do Supersimples - regime simplificado de cobrança de tributos para empresas com faturamento anual de até R$ 3,6 milhões. Por esse regime, pequenas e médias empresas têm a cobrança de oito impostos federais, estaduais e municipais reunida num só boleto. Para a maioria dos casos, a carga de impostos é 40% menor do que no regime tributário convencional. Ainda de acordo com a pesquisa, ter o próprio negócio é o terceiro maior sonho do brasileiro, atrás de comprar a casa própria e viajar pelo país. O número de pessoas que almeja se tornar o seu próprio chefe é de 31%, praticamente o dobro das que desejam fazer carreira numa empresa (16%). A pesquisa ainda revela que, de cada 100 brasileiros que começam um negócio próprio, 71 são motivados por uma oportunidade de negócio e não pela necessidade. Esse índice, que implica diretamente a qualidade do empreendedorismo, vem se mantendo estável nos últimos anos. Aula 2 - EMPREENDEDORISMO NO BRASIL NEAD • CATÓLICA SALESIANA22 Em 2014, a proporção de empreendedores por oportunidade no Brasil foi de 70,6%. Ou seja, do total de empreendedores brasileiros em 2014, 70,6% o foram por oportunidade. Essa proporção observada no Brasil em 2014 pode ser considerada tecnicamente igual à proporção de 2013 (71%), como mostra o Gráfico 1. Gráfico 1- Evolução da atividade empreendedora segundo a oportunidade como percental da taxa de empreendedores iniciais Mais de 70% das micro e médias empresas conseguem sobreviver até completar o segundo ano. “Não é excepcional, mas é um excelente número”, avalia Barretto, o presidente do Sebrae. O perfil desse novo empreendedor é mais jovem, mais feminino, mais negro e mais classe C, de acordo com Barreto. Mesmo com a contração da atividade econômica do país, ele acredita ser possível o segmento da pequena empresa continuar crescendo neste ano. “O segmento não é uma ilha, mas tem demonstrado força para enfrentar essas crises, principalmente no comércio e serviços”, afirma. Como exemplo do vigor dos pequenos negócios, Barretto cita o crescimento de 7% da arrecadação do Supersimples em 2014, enquanto houve queda na arrecadação geral, e a geração líquida de 3,5 milhões de empregos entre 2011 e 2014 - no mesmoperíodo, as grandes e médias empresas tiveram saldo de 200 mil vagas fechadas. Quanto à mentalidade empreendedora brasileira, o relatório destacou que, neste item, foram analisadas as percepções da população entre 18 e 64 anos a respeito do empreendedorismo (Tabela 1), o que permitiu analisar o grau de disposição dos indivíduos em relação ao tema e o seu potencial para empreender. O GEM pesquisou o conhecimento sobre o processo de abertura de novos negócios, oportunidades e capacidades percebidas, além do medo do fracasso. Foram também levantados os sonhos e desejos dessas pessoas (Tabela 2), particularmente a vontade de possuir um negócio próprio. São eles: Observa-se que, no Brasil, em 2014, 37,7% dos indivíduos afirmaram conhecer pessoas que abriram um negócio novo nos últimos dois anos. Esse percentual é maior que em 2012 (33,7%), mas não difere de 2013; Aula 2 - EMPREENDEDORISMO NO BRASIL NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 23 Quanto à percepção de boas oportunidades para iniciar um novo negócio nos próximos seis meses, em 2014, 55,5% da população respondeu positivamente, percentual superior aos de 2012 (50,2%) e de 2013 (50,0%); 50% dos indivíduos afirmaram possuir conhecimento, habilidade e experiência necessários para começar um novo negócio. Nesse item houve redução, quando comparado com 2012 (54,0%) e 2013 (52,1%); O medo do fracasso não impediria 60,9% da população entrevistada em 2014 de se envolver na criação de um novo negócio, percentual inferior a 2012 (64,5%), mas superior a 2013 (57,3%); e, Com relação aos desejos e expectativas da população adulta brasileira, a Tabela 2 mostra que, em 2014, ter o próprio negócio (31,4%) apareceu em terceiro lugar no conjunto dos desejos dos brasileiros, depois da compra da casa própria (41,9%) e de viajar pelo Brasil (32,0%). O mesmo acontece nos anos anteriores, assim como a supremacia do sonho “ter o próprio negócio” sobre “fazer carreira numa empresa” (15,8% em 2014). Tabela 1- Percentual da população segundo a mentalidade – Brasil - 2014 Tabela 2 - Percentual da população segundo o sonho – Brasil - 2014 Aula 2 - EMPREENDEDORISMO NO BRASIL NEAD • CATÓLICA SALESIANA24 Na busca de órgãos de apoio no Brasil, a pesquisa procurou saber também o percentual dos empreendedores que busca apoio junto aos órgãos como Senac, Sebrae, Senai, entre outros. A Tabela 3 mostra que 86,6% dos empreendedores identificados em 2014 não procuraram o auxílio de órgãos de apoio. Esse percentual aumentou em relação a 2012 (79,6%) e 2013 (84,6%). Quanto aos órgãos de apoio pesquisados, o Sebrae se destaca, sendo citado por 10,4% dos entrevistados. Nos anos anteriores, o Sebrae também se destaca como órgão de apoio. A grande maioria (44%) dos empreendedores que não buscou um órgão de apoio afirmou que o motivo foi a falta de necessidade (Tabela 4). Este percentual foi mais alto para os empreendedores estabelecidos (49,3%) em relação aos empreendedores iniciais (38,9%): • 28,9% dos empreendedores iniciais indicaram que a falta de conhecimento foi a principal causa de não terem buscado um órgão de apoio. Esse percentual é menor para os empreendedores estabelecidos (23%). • 15,4% dos empreendedores iniciais afirmaram que o principal motivo para não buscarem um órgão de apoio foi a falta de tempo. Tabela 3 – Percentual da população total de empreendedores Segundo a busca por órgãos de apoio – Brasil - 2014 Tabela 4 – Distribuição dos empreendedores segundo os motivos que NÃO os levaram a buscar um órgão de apoio – Brasil - 2014 Aula 2 - EMPREENDEDORISMO NO BRASIL NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 25 Diante desse novo cenário que a pesquisa GEM/2014 nos mostra, nota- se que o brasileiro tem mudado seu comportamento. De fato, como observado ainda sobre os “sonhos” dos brasileiros em 2013, a mesma pesquisa revelou que ter seu próprio negócio ocupava a 3ª posição, enquanto fazer carreira ocupava a 8ª posição, evidenciando, assim, a inquietação dos brasileiros para abrir seu próprio negócio (Figura 1). 2.3 OS PROGRAMAS DE ENSINO EM EMPREENDEDORISMO Algus autores e estudiosos afirmam que, passados esses anos, final do século XIX e início do século XX, o Brasil entra numa nova era com potencial para desenvolver vários programas de ensino de empreendedorismo compatíveis com os melhores países do mundo. Segundo Dornelas (2014), ações históricas e algumas mais recentemente desenvolvidas começam a apontar para essa direção. Seguem alguns exemplos: Figura 1 – Os sonhos dos brasileiros Fonte: Sebrae, GEM, 2013 Aula 2 - EMPREENDEDORISMO NO BRASIL NEAD • CATÓLICA SALESIANA26 O programa Softex e o Geração de Novas Empresas de Software, Informação e Serviços (Genesis) foram criados na década de 1990 e até há pouco tempo apoiavam atividades de empreendedorismo em software, estimulando o ensino da disciplina em universidades e a geração de novas empresas de software (star tups). O programa Softex foi reformulado e continua em atividade. Informações podem ser obtidas em <www.softex.br>. O programa Brasil Empreendedor, do Governo Federal, dirigido à capacitação de mais de 6 milhões de empreendedores em todo o país, destina-lhes recursos financeiros, totalizando um investimento de R$8 bilhões. Este programa vigorou de 1999 até 2002 e realizou mais de 5 milhões de operações de crédito. Ações voltadas à capacitação do empreendedor, como os programas Empretec e Jovem Empreendedor do Sebrae, que são líderes em procura por parte dos empreendedores e possuem ótima avaliação. Os diversos cursos e programas sendo criados nas universidades brasileiras para o ensino do empreendedorismo. É o caso de Santa Catarina, com o programa Engenheiro Empreendedor, cujo objetivo é capacitar alunos de graduação em engenharia de todo o país. Destaca- se, também, o programa 12 Empreendedorismo Ensino Universitário de Empreendedorismo, da Confederação Nacional das Indústrias (CNI) e do Instituto Euvaldo Lodi (IEL), de difusão do empreendedorismo nas escolas de ensino superior do país, presente em mais de 200 instituições brasileiras, envolvendo mais de 1.000 professores em 22 estados do país. Houve ainda um evento pontual que depois se dissipou, mas que também contribuiu para a disseminação do empreendedorismo. Trata-se da explosão do movimento de criação de empresas pontocom no país nos anos de 1999 e 2000, motivando o surgimento de várias empresas star tup de Internet, desenvolvidas por jovens empreendedores. Especial destaque deve ser dado ao enorme crescimento do movimento de incubadoras de empresas no Brasil. Dados da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos de Tecnologias Avançadas (Anprotec) mostram que, em 2008, mais de 400 incubadoras de empresas encontravam-se em atividade no país. Mais recentemente, várias escolas estão apresentando programas não só de criação de novos negócios, mas também focados em empreendedorismo social e corporativo. Existem, ainda, programas específicos sendo criados por escolas de administração de empresas e de tecnologia para formação de empreendedores, incluindo cursos de Master of Business Administration (MBA), cursos de cur ta e média duração e programas a distância (EaD). Aula 2 - EMPREENDEDORISMO NO BRASIL NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 27 O crescente movimento das franquias no Brasil também pode ser considerado um exemplo de desenvolvimento do empreendedorismo nacional. Segundo a Associação Brasileira de Franchising, em 2007 havia mais de 1.200 redes de franquias constituídas no país, com cerca de 65.000 unidades franqueadas, o que correspondeu a R$46 bilhões de faturamento consolidado do setor. Aula 2 - EMPREENDEDORISMO NO BRASIL NEAD • CATÓLICA SALESIANA28 ALVES, Murilo Rodrigues. Brasil é o primeiro em ranking de empreendedorismo. Revista Exame.com. Março/2015. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/pme/noticias/brasil-e-o-primeiro-em- ranking-de-empreendedorismo>. Acesso em: dez. 2015. DORNELAS,J. Empreendedorismo Transformando ideias em negócios. 5. ed. Rio de Janeiro : Empreende / LTC, 2014. GLOBAL ENTREPRENEURSHIP MONITOR. Empreendedorismo no Brasil - Relatório Executivo 2014. Curitiba: Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade, 2014. IPED. Quando surgiu o empreendedorismo no Brasil. 2015. Disponível em: <https://www.iped.com.br/materias/gestao-e-lideranca/ empreendedorismo.html>. Acesso em: dez. 2015. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASREFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Compartilhar