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PROJETO DE ENSINO SOBRE GLOBALIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Juliana Batista Faria Professora do Centro Pedagógico – UFMG Agatha Sondertoft Braga Edersen Estudante do Bacharelado em Ciências Biológicas – UFMG Allyson Mendes Rosa Estudante da Licenciatura em Letras – UFMG Angélica Cristina Ribeiro Estudante do Bacharelado em Geografia – UFMG Cíntia Mary de Oliveira Estudante da Licenciatura em História – UFMG Fernanda Joyce de Almeida França Estudante da Licenciatura em Matemática – UFMG Flora Dilza Ngunga Estudante da Licenciatura em Letras – UFMG Maria Raquel Dias Sales Ferreira Estudante da Licenciatura em Letras – UFMG Paulo Henrique de Souza Araújo Estudante da Licenciatura em Matemática – UFMG Poliana Jardim Rodrigues Estudante da Licenciatura em História – UFMG Rachel Rodrigues Lima Estudante da Licenciatura em Biologia – UFMG Raquel Augusta Melilo Estudante da Licenciatura em Geografia – UFMG Rogério Santos Porto Estudante da Licenciatura em Educação Física – UFMG 2 1. Introdução Este texto objetiva relatar a experiência pedagógica de estudo do tema “Globalização” por meio de um projeto de ensino envolvendo professores de várias disciplinas. Os estudantes envolvidos são os educandos das turmas de continuidade do Projeto de Ensino Fundamental de Educação de Jovens e Adultos – 2º segmento (PROEF-2). Tal projeto, que envolve atividades de ensino, pesquisa e extensão, funciona no turno noturno do Centro Pedagógico da UFMG. O projeto integra o Programa de Educação Básica de Jovens e Adultos da mesma universidade. As turmas de continuidade são aquelas que frequentam o 2º ano do 2º segmento do Ensino Fundamental, o qual tem a duração de 3 (três) anos. O projeto de ensino sobre Globalização está sendo planejado e desenvolvido por 13 monitores da graduação de diferentes áreas da licenciatura da UFMG que atuam como professores no PROEF-2, sendo orientados pela professora do Centro Pedagógico que coordena a equipe de continuidade. O projeto iniciou-se em abril de 2013 e prevê-se sua conclusão para outubro do mesmo ano. Seu desenvolvimento tem possibilitado a problematização do tema Globalização sob diferentes enfoques, a conscientização e o desenvolvimento da reflexão crítica sobre o capitalismo e o consumismo, e o conhecimento de caminhos alternativos já existentes que busquem a superação das desigualdades e injustiças sociais desencadeadas ou aprofundadas pelo processo de Globalização. 2. Justificativa Na organização curricular do PROEF-2, está previsto que cada ano do curso do 2º segmento do Ensino Fundamental desenvolva projetos de ensino relacionados a determinadas temáticas: as turmas iniciantes trabalham com o tema “Identidade”, as de continuidade trabalham com o tema “Sociedade e Consumo” e as turmas concluintes trabalham com o tema “Vidas Urbanas”. Para a abordagem do tema “Sociedade e Consumo”, há um grande leque de possibilidades, entre elas o estudo dos impactos da Globalização para as sociedades atuais. As várias áreas do conhecimento do currículo da Educação de Jovens e Adultos (EJA) podem atuar como instrumentos para compreensão dessa 3 realidade, a partir de seus modos próprios de representar o mundo e das relações que podem ser estabelecidas com a realidade vivida pelos educandos. É fundamental que os professores da EJA busquem entender a realidade do mundo atual juntamente com seus estudantes e também que os incentivem a se tornarem cidadãos ativos nas suas comunidades. Nesse processo, é importantíssimo buscar o resgate dos valores humanísticos, principalmente entre aquelas pessoas que vivem nos grandes centros urbanos do Brasil e do mundo, regiões em que o consumismo, o imediatismo e o “presentismo” têm marcado as relações sociais. (PIRES et al, s.d, p. 305) Nosso principal referencial teórico para realização deste projeto é o livro de Milton Santos (2001), autor que defende a ideia de que é preciso uma nova interpretação do mundo, em que seja possível uma Globalização mais justa, na qual todas as pessoas, independente da origem étnica ou nacional, tenham acesso a bens de consumo básicos e condições de vida dignas. Para analisar o fenômeno da Globalização, o autor considera a existência de pelo menos três mundos em um só. O primeiro seria o mundo tal como nos fazem vê-lo: a Globalização como fábula; o segundo seria o mundo tal como ele é: a Globalização como perversidade; e o terceiro, o mundo como ele pode ser: uma outra Globalização. O mundo globalizado visto como fábula é aquele que se apresenta como verdade, o “mundo tal como nos fazem crer”: Fala-se, por exemplo, em aldeia global para fazer crer que a difusão instantânea de notícias realmente informa as pessoas. A partir desse mito e do encurtamento das distâncias — para aqueles que realmente podem viajar — também se difunde a noção de tempo e espaço contraídos. É como se o mundo se houvesse tornado, para todos, ao alcance da mão. Um mercado avassalador dito global é apresentado como capaz de homogeneizar o planeta quando, na verdade, as diferenças locais são aprofundadas. Há uma busca de uniformidade, ao serviço dos atores hegemônicos, mas o mundo se torna menos unido, tornando mais distante o sonho de uma cidadania verdadeiramente universal. Enquanto isso, o culto ao consumo é estimulado. (SANTOS, 2001, p. 18-19) O mundo globalizado visto como perversidade é o “mundo como é”, com suas mazelas resultadas direta ou indiretamente pelos comportamentos competitivos que caracterizam as ações dos grupos hegemônicos. De fato, para a grande maior parte da humanidade a Globalização está se impondo como uma fábrica de perversidades. O desemprego crescente torna-se crônico. A pobreza aumenta e as classes médias 4 perdem em qualidade de vida. O salário médio tende a baixar. A fome e o desabrigo se generalizam em todos os continentes. Novas enfermidades como a SIDA se instalam e velhas doenças, supostamente extirpadas, fazem seu retorno triunfal. A mortalidade infantil permanece, a despeito dos progressos médicos e da informação. A educação de qualidade é cada vez mais inacessível. Alastram-se e aprofundam-se males espirituais e morais, como os egoísmos, os cinismos, a corrupção. (SANTOS, 2001, p. 19-20) O mundo globalizado visto como uma outra Globalização é pensado a partir das possibilidades da construção de um outro mundo, em que as mesmas bases materiais que fundamentam a atual Globalização (a tecnologia e o conhecimento do planeta, por exemplo) sirvam a outros objetivos, se forem colocadas a serviço de novos fundamentos políticos e sociais. Para o autor, um indicativo da possibilidade de mudanças é a grande mistura, que acontece em todos os continentes, de povos, raças, culturas e gostos. Devido a essa diversificação, as massas ganham uma nova qualidade, uma autêntica sociodiversidade. Trata-se da existência de uma verdadeira sociodiversidade, historicamente muito mais significativa que a própria biodiversidade. Junte-se a esses fatos a emergência de uma cultura popular que se serve dos meios técnicos antes exclusivos da cultura de massas, permitindo-lhe exercer sobre esta última uma verdadeira revanche ou vingança. (SANTOS, 2001, p. 21) Foi a partir desses três modos de ver a Globalização que iniciamos o planejamento do projeto de ensino aqui descrito, buscando desencadear atividades pedagógicas que visem conscientização e reflexão crítica sobre o tema. Temos procurado planejar, executar e avaliar tais atividades coletivamente, fomentando simultaneamente a aprendizagem dos educandos e a formação dos educadores envolvidos. Desse modo, o caráter coletivo da organização escolar permite maior segurança ao educador da EJA que, em sua ação formadora, toma para si a responsabilidade de adiantar-se ao tempo vivido pelo educando, criandoespaços interativos, propondo atividades que lhe propiciem o pensar e a compreensão de si mesmo, do outro e do mundo. (CURITIBA, 2006, p. 36) 3. Objetivo geral O objetivo geral do projeto é problematizar o tema Globalização, de modo a promover a conscientização e a reflexão crítica dos efeitos desse fenômeno sobre 5 as condições socioeconômicas, políticas, ambientais e culturais de nosso planeta e possibilitar o conhecimento de alternativas já existentes que busquem promover a dignidade do trabalho humano, a solidariedade, a sustentabilidade e a superação das desigualdades e injustiças sociais desencadeadas ou aprofundadas pelo processo de Globalização. Esperamos que o desenvolvimento deste projeto possa alimentar o desejo das pessoas envolvidas em promover mudanças na realidade que as cerca; que nossos educandos jovens e adultos e nós mesmos relacionemos o estudo realizado com nossas vidas, tornando-nos mais capazes de avaliar nossas condições de vida, trabalho e participação na vida social e de realizar escolhas conscientes, atuando como cidadãos comprometidos com um mundo mais ético e solidário. 4. Metodologia O desenvolvimento do projeto Globalização ocorre em duas esferas: a da formação docente e a da formação discente. A primeira esfera refere-se aos estudos e discussões que os monitores da graduação realizam coletivamente sob a orientação da professora do Centro Pedagógico que coordena a equipe de continuidade, ou seja, a equipe dos treze monitores1 que atuam como professores das três turmas que cursam o 2º ano do PROEF-2. O projeto de ensino Globalização tem sido pauta de reuniões da equipe desde abril de 2013. A equipe se reúne semanalmente, às sextas-feiras, no horário de 17 às 19 horas. Nesses encontros são planejadas, organizadas e relatadas todas as ações e projetos coletivos, além de se discutirem questões mais gerais da EJA (currículo, avaliação, aprendizagem, etc.) e situações específicas dos educandos jovens e adultos que são alunos desses monitores. Vários estagiários de diferentes disciplinas também acompanham essas reuniões como atividade de formação docente. 1 A equipe é composta por estudantes das diferentes licenciaturas da UFMG (Biologia, Educação Física, História, Letras, Matemática e Teatro). Duas estudantes de Geografia já são licenciadas e atualmente cursam o Bacharelado. Uma estudante de Ciências Biológicas cursa o Bacharelado, tendo optado por cursar a Licenciatura posteriormente. A professora que coordena a equipe leciona Matemática para crianças do 2º ciclo do período diurno do Centro Pedagógico. 6 A segunda esfera refere-se ao desenvolvimento do projeto diretamente com os estudantes jovens e adultos. São três turmas que totalizam cerca de 50 estudantes frequentes. São esses educandos que protagonizam as situações de aprendizagem, sendo constantemente motivados a participar efetivamente das aulas, expondo suas ideias, experiências, questionamentos e sugestões, estabelecendo relações entre os conhecimentos da escola e a sua vida, e realizando as produções solicitadas pelos monitores. Os resultados dessas aulas são levados para a reunião da equipe, (re)alimentando nosso planejamento de ações para o desenvolvimento do projeto. O projeto iniciou-se em abril de 2013 e prevê-se sua conclusão para outubro do mesmo ano, quando os estudantes apresentarão os produtos finais em eventos organizados pelo Centro Pedagógico da UFMG. As aulas do projeto ocorrem nos horários de aulas específicas das diferentes disciplinas, por isso são planejadas de modo a serem cuidadosamente inseridas no cronograma das aulas, com a participação de todos os monitores envolvidos com as turmas. O QUADRO 1 apresenta um resumo das principais ações já desenvolvidas quando da escrita deste texto2. QUADRO 1 – Projeto Globalização – Atividades Desenvolvidas – 1º semestre 2013 Data Contexto Atividade 12/04/2013 Reunião de Equipe Levantamento de possibilidades de trabalho (tempestade de ideias) com o tema da equipe (Sociedade e Consumo): capitalismo, Globalização, trabalho, consumismo, economia solidária, etc. 26/04/2013 Reunião de Equipe Estudo do tema “Economia Solidária” Definição do tema geral “Globalização” para o desenvolvimento do projeto 03/05/2013 Reunião de Equipe Debate sobre o documentário “Mundo global visto do lado de cá”. Planejamento das primeiras atividades do projeto 07/05/2013 Aula com os monitores de todas as áreas Atividade em grupo: “Para você, o que é Globalização?”: Produção de cartazes a partir de imagens e palavras contidas em jornais e revistas, objetivando fazer um levantamento das ideias e conhecimentos prévios dos alunos. Para Casa: Leitura do texto adaptado da Introdução do livro do Milton Santos 10/05/2013 Reunião de Equipe Análise dos cartazes produzidos pelos alunos para planejamento de aula expositiva dialogada, utilizando slides em PowerPoint, com o objetivo de explorar o texto lido e preparar os alunos para compreenderem o documentário. 2 A versão final deste texto foi concluída em 28 de maio de 2013. 7 13/05/2013 Aula com os monitores de Geografia Aula expositiva dialogada sobre Capitalismo e Globalização. Discussão das ideias do texto e retorno sobre os cartazes produzidos. 14/05/2013 Aula com os monitores de Português Estudo das diferenças entre publicidade e propaganda. Análise da intencionalidade, cores, público alvo, etc. 15/05/2013 Aula com os monitores de Ciências, Geografia e Matemática. Encontro das três turmas e respectivos monitores para assistir ao documentário. Duração: 1h40min 17/05/2013 Reunião de Equipe Relato dos monitores sobre as aulas anteriores do projeto e elaboração de uma proposta de avaliação da compreensão dos alunos (produção de texto) Sugestão do trabalho com a “Pegada Ecológica”. 20/05/2013 Aula com os monitores de Português e Geografia Produção individual de texto respondendo à seguinte questão: "Com esse filme, o que de diferente você aprendeu sobre a Globalização?". 21/05/2013 Aula com os monitores de Português Estudo do uso dos verbos no imperativo que são utilizados em propagandas para “induzir” os indivíduos à compra. 24/05/2013 Reunião de Equipe Planejamento da continuidade do projeto e das produções que serão realizadas para apresentação na UFMG Jovem. Adiamos o trabalho com a Pegada Ecológica para o 2º semestre. De acordo com a última reunião de equipe realizada até o momento, temos agendadas para o 1º semestre de 2012 as atividades listadas no QUADRO 2. QUADRO 2 – Projeto Globalização – Atividades Agendadas – 1º semestre 2013 Data Contexto Atividade 28/05/2013 Aula com os monitores de Português Anúncios: trabalho com o gênero textual, visando análise crítica das propagandas, com enfoque na identificação das características do consumismo. 08/06/2013 Trabalho de Campo: todos os alunos e monitores Visita ao CEVAE – Centro de Vivência Agroecológica da Regional Noroeste. Encontro com o grupo Aroeira da UFMG (a confirmar). 29/05/2013 Aula com os monitores de Geografia Estudo do texto “Sociedade capitalista: consumir ou ser consumido?” (texto produzido pela equipe a partir de materiais relacionados à Economia Solidária). 10/06/2013 Aula com os monitores de Matemática Trabalho com material sobre Economia Solidária (história em quadrinhos). 18/06/2013 Aula com todos os monitores da equipe Produção dos Anúncios para uma “nova Globalização” e de Cartilhas para Conscientização dos visitantes da Feira 20/06/2013 Aula com todos os monitores da equipe Produção do grande “globo” com mosaico de ideias estudadas sobre Globalização: fábula, perversidade e uma outra Globalização. 04/07/2013 05/07/2013 Apresentação dos produtos parciais do Projeto Apresentaçãona XIV UFMG Jovem 06/07/2013 Trabalho de Campo: todos os alunos e monitores Visita à 8ª Agriminas – Feira de Agricultura Familiar de Minas gerais 8 As produções realizadas pelos alunos ao longo do trabalho do 1º semestre serão utilizadas na montagem do estande da XIV UFMG Jovem e serão tomadas como referência para a apresentação dos estudantes. O planejamento das atividades do 2º semestre será realizado na última reunião de equipe deste semestre (em julho). Certamente elas envolverão a realização de uma pesquisa de opinião que aborde um dos enfoques adotados pelo projeto Globalização. Tal pesquisa será feita conforme a metodologia NEPSO (Nossa Escola Pesquisa Sua Opinião), que é utilizada por todas as turmas de continuidade que passam pelo PROEF-2, para aprofundar o estudo de alguma temática escolhida pelos alunos3. No caso específico do Projeto Globalização, a temática será escolhida a partir dos aspectos abordados no estudo do tema. 5. Resultados obtidos Na fase em que se encontra o desenvolvimento do projeto ainda não é possível apresentar os resultados das produções dos estudantes. Entretanto, apresenta-se aqui relato de como algumas das atividades já realizadas se desenvolveram e de como pretendemos dar continuidade ao projeto, buscando enfatizar nossas intenções pedagógicas e percepções sobre as aprendizagens dos estudantes da EJA no processo. Quando foi realizada a atividade em grupo: “Para você, o que é Globalização?”, os educandos produziram cartazes a partir de imagens e palavras contidas em jornais e revistas. Essa primeira atividade, pensada com o objetivo principal de introduzir o tema, nos possibilitou a elaboração de um planejamento mais rico e mais conectado aos saberes dos alunos. A produção dos cartazes se mostrou, no entanto, muito mais que “introdutória”, nos fornecendo rico material a partir do qual foi possível diagnosticar as percepções dos estudantes sobre a temática da Globalização. Antes de sairmos do “lugar comum” do tema, percebemos a necessidade de entender o que é este “lugar comum” para nossos educandos de EJA e motivar a visita a um lugar que não fosse banalizado. Em outras palavras, antes 3 Aos professores interessados em utilizar essa metodologia em sala de aula recomenda-se a leitura do Manual do Professor (LIMA et al, 2010), disponível em http://www.nepso.net/. Último acesso em 28/05/2013. 9 de iniciar o estudo de uma temática tão complexa, era fundamental entender como os alunos construíram seu conhecimento a respeito da Globalização, se apropriando, ou não, de informações midiáticas. A análise dos cartazes nos permitiu arriscar conclusões sobre a percepção dos alunos, muito embora saibamos o quão complicado é tentar captar a opinião coletiva por meio de símbolos. Significar símbolos foi tarefa difícil, mas como estávamos sensíveis à construção dos conhecimentos dos educandos, nos dispusemos a tal análise. Na reunião de equipe em que analisamos os cartazes, identificamos que os alunos fizeram alusão a elementos como: informática, mapas, tecnologias, energia, aviação, espaço, política, consumo, dinheiro, executivos, imperialismo, destruição, democracia, doenças, mundo animal, ganância, máquinas de cartões, educação, alimentação, transportes, ecologia, etc. Ao analisarmos a recorrência desses elementos em cada um dos cartazes percebemos, de maneira geral, que muitos alunos associaram à Globalização à tecnologia e isso pode ser verificado na quantidade de imagens escolhidas que expressavam, de maneira direta ou indireta, algum aparato tecnológico. Outra associação constante, embora menos incisiva, foi a de Globalização com os recursos naturais. Alguns dos recortes de revista escolhidos por eles representavam elementos da natura, com ou sem menção à preservação e/ou destruição. Algumas figuras e frases faziam referência à pobreza e à dicotomia rico/pobre. De maneira geral, como já dito anteriormente, esta primeira atividade ultrapassou as expectativas criadas em torno dela e nos motivou a continuar o trabalho. Após a leitura individual do texto introdutório adaptado do livro “Por Uma Outra Globalização”, do pesquisador Milton Santos (2001), e do estudo da relação deste tema com o sistema capitalista de produção, exibimos o documentário “O Mundo Global Visto do Lado de Cá”, inspirado nas ideias do autor. Para avaliar a compreensão dos estudantes até então, solicitamos aos alunos que fizessem uma redação respondendo à seguinte pergunta: “Com esse filme, o que de diferente você aprendeu sobre Globalização?”. Ao ler as redações percebemos que alguns dos alunos tiveram dificuldade para compreender o discurso acadêmico de Milton Santos nos trechos da entrevista que eram exibidos pelo documentário. Porém, demonstraram que se 10 sensibilizaram com algumas cenas do vídeo nas quais são expressas as perversas consequências desse fenômeno de expansão capitalista na sociedade brasileira e mundial: desigualdade social, fome, violência, desemprego, dentre outras. Alguns alunos destacaram o lado positivo da Globalização, expresso sobretudo na força de camadas populares que reagem à situação de opressão. Não percebemos se houve ou não uma identificação dos discentes com tais camadas, mas os exemplos dados pelos alunos nos permitem inferir que muitos deles consideram importantes os movimentos populacionais que buscam libertação, seja ela econômica ou cultural. Apenas um aluno destacou o papel perverso da mídia, valendo-se do argumento de um exemplo presente no documentário. Como a perversidade da mídia é destacada no filme de maneira sutil, a percepção desse aluno sinalizou que, se convidados ao pensamento crítico, nossos educandos conseguirão perceber em situações corriqueiras a força do fenômeno globalizante que molda e transforma o mundo que o circunda. Porém, avaliamos que os educandos necessitam de mais leituras e discussões para melhor compreensão a respeito da dinâmica capitalista e sua relação direta com o fenômeno da Globalização. Deste modo, levaremos os estudantes a refletir e estabelecer relações com o seu cotidiano, produzindo conhecimento através de outras atividades já programadas. As aulas com os monitores da Geografia têm levado os alunos a se perceberem coletivamente participantes da reprodução do modo de produção capitalista que está em fase de expansão do capital (a Globalização). Deste modo, temos fomentado o desenvolvimento da reflexão crítica sobre o sistema capitalista. Assim, os educandos poderão perceber como este sistema explora os trabalhadores e exalta o consumo desnecessário, visando à arrecadação de lucro por uma minoria detentora dos meios de produção. Tal sistema alimenta contradições que geram fenômenos como a desigualdade social. Uma das ações já iniciadas nesse sentido é o trabalho com o desenvolvimento de habilidades de leitura, compreensão e produção de textos publicitários, objetivando que os alunos interpretem autonomamente tais anúncios nas suas entrelinhas. Para isso, a fim de despertar o senso crítico, o trabalho realizado dentro dos conteúdos de Análise do Discurso pelos professores da Língua Portuguesa visa que os educandos percebam o quão o consumo é 11 incentivado na sociedade em que vivem. Assim, acreditamos que as atividades utilizando imagens e textos verbais favorecerão melhor compreensão da realidade. Muitos indivíduos não têm consciência de que a Globalização - além de ser uma forma de interação entre os povos - apresenta um lado perverso que é a desigualdade social. As pessoas muitas vezes consomem, mas não se dão conta nem do porquê de estarem consumindo. Logo, o objetivo da equipe de professores será alertar os educandos sobre os efeitos da mídia em sua vida. Objetivamos promover uma postura crítica diante dosanúncios publicitários, lendo a propaganda além do que ela apresenta, percebendo sua real intenção. A leitura das entrelinhas dos anúncios publicitários pode conscientizar os estudantes da EJA da real importância que eles têm no meio social e de seu efetivo poder de consumo. Outra ação já planejada pela equipe é o trabalho com a Economia Solidária, também conhecida como Ecosol. A organização da Ecosol é pautada por princípios de solidariedade, igualdade e valorização do trabalho humano, focalizando vida digna e saudável para todos, preservação da natureza e uso consciente da tecnologia. Os empreendimentos organizados pela Ecosol (cooperativas, associações de trabalhadores, feiras de comercialização, redes de comércio solidário, etc.) estabelecem novas formas de relacionamento econômico, uma vez que não existe a ideia de lucro. O Portal do Ministério do Trabalho e Emprego explicita: (...) a economia solidária aponta para uma nova lógica de desenvolvimento sustentável com geração de trabalho e distribuição de renda, mediante um crescimento econômico com proteção dos ecossistemas. Seus resultados econômicos, políticos e culturais são compartilhados pelos participantes, sem distinção de gênero, idade e raça. Implica na reversão da lógica capitalista ao se opor à exploração do trabalho e dos recursos naturais, considerando o ser humano na sua integralidade como sujeito e finalidade da atividade econômica. (Trecho extraído de http://portal.mte.gov.br/ecosolidaria/o-que-e-economia- solidaria.htm. Acesso em 28/05/2013) 12 Para o trabalho com essa temática, visitaremos o Centro de Vivência Agroecológica4 (CEVAE) da Regional Noroeste (Belo Horizonte) e buscaremos uma entrevista com o grupo Aroeira5 da UFMG. O objetivo é conhecer atividades de economia solidária, fotografar espaços dessa natureza e entrevistar pessoas envolvidas com projetos desenvolvidos sob essa ótica. Nossa intenção imediata é que os alunos compreendam os princípios da Economia Solidária e produzam anúncios de propaganda para uma outra Globalização. Em julho deste ano pretendemos visitar a 8ª Agriminas – Feira de Agricultura Familiar de Minas gerais. Nosso objetivo é propor, para o 2º semestre deste ano, a organização de uma feira de saberes que seja promovida pelos próprios educandos da EJA. 6. Conclusão O processo de formação do educando, principalmente se considerarmos o avanço de novas perspectivas educacionais, requer muito mais do que a abordagem disciplinar de conteúdos escolares. Formar, ao contrário do sentido que a própria palavra poderia induzir, é libertar a pessoa que está sendo educada para que ela consiga, de forma autônoma, aprender. Aprender ultrapassa a sala de aula, assim é imprescindível que o aluno saiba interpretar o mundo. E como interpretar o mundo contemporâneo sem levar em conta as transformações contemporâneas? A Globalização não é só uma intensificação da relação entre as diversas localidades do globo, é, sobretudo, a construção de um outro globo e, por conseguinte, das localidades, culturas, modos de ser e de viver. Se for possível o entendimento de que moldamos tais localidades, é possível não só aprender sobre Globalização, mas mudar os rumos que ela está tomando. Por fim, não se deve somente destacar a importância do tema Globalização, de seu estudo aprofundado para a formação acadêmica dos estudantes e de sua relevância para uma exposição em que há trocas de saberes 4 O Centro de Vivência Agroecológica (CEVAE) é um programa criado pela Prefeitura de Belo Horizonte em 1995 como uma política de meio ambiente e segurança alimentar ao redor da ideia de um espaço de convivência de experiências diversas. Tem como foco principal temas ambientais ligados ao desenvolvimento de uma agricultura urbana. (Trecho adaptado de http://portalpbh.pbh.gov.br/pbh/ecp/comunidade.do?evento=portlet&pIdPlc=ecpTaxonomiaMenuPo rtal&app=fundacaoparque&tax=8264&lang=pt_BR&pg=5521&taxp=0. Acesso em 28/05/2013) 5 Desde 2007 o Grupo Aroeira vem construindo novas práticas de pesquisa e extensão a partir da promoção de uma "ecologia dos saberes" das comunidades urbanas e do meio científico. (Trecho extraído de (Trecho extraído de http://grupoaroeira.blogspot.com.br/ . Acesso em 28/05/2013) 13 de alunos de diferentes escolas. É preciso reforçar a relevância que a exposição de trabalhos na UFMG Jovem tem para a construção das habilidades de expressar-se oralmente e trabalhar em equipe, e para enfatizar o papel desenvolvido pelos próprios educandos na produção de saberes e na aplicação dos conhecimentos adquiridos. 7. Referências BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Proposta Curricular para a educação de jovens e adultos: segundo segmento do ensino fundamental: 5ª a 8ª série: introdução. Brasília: Secretaria de Educação Fundamental, 2002. CURITIBA. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da Educação de Jovens e Adultos. Curitiba: SEED, 2006. LIMA, A. L. D´I. et al. Nossa escola pesquisa sua opinião: Manual do professor. 3ª Ed. São Paulo: Global, 2010. Disponível em: http://www.nepso.net/publicacao. Último acesso em: 28/03/2013. PIRES, C. M. C., CONDEIXA, M. C., NÓBREGA, M.J. M. de, MELLO, P. E. D. de. Por uma proposta Curricular para o 2º segmento de EJA. Simpósio 20, p. 299- 305. Sem data. Disponível em http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/vol1e.pdf. Último acesso em: 26/05/2013. SANTOS, M. Por uma outra Globalização: do pensamento único à consciência universal. 6ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2001.
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