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INTRODUÇÃO 
AOS ESTUDOS 
HISTÓRICOS 
Caroline Silveira Bauer
A escola dos Annales
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Identificar o surgimento dos Annales da primeira geração.
  Relacionar as transformações conceituais promovidas pelos Annales 
da segunda geração.
  Analisar os impactos e contribuições da escola dos Annales para a história.
Introdução
Neste capítulo, você vai conhecer a produção de um grupo de historiadores 
conhecida como escola dos Annales. Esses historiadores elaboraram reflexões 
que transformaram a historiografia. Seu legado inclui práticas ainda empre-
gadas na compreensão e na escrita da história. Os Annales costumam ser 
apresentados em diferentes “gerações”, que demarcam momentos em que 
certos objetos históricos foram mais privilegiados, ou em que a gestão da 
revista esteve sob responsabilidade de determinado historiador.
Em um primeiro momento, você vai estudar as práticas historiográficas 
dominantes na França quando Marc Bloch e Lucien Febvre criaram a 
revista Annales. Também vai ver as modificações que esses pesquisadores 
propunham para a escrita da história. Posteriormente, você vai conhecer 
as mudanças ocorridas na segunda geração da revista, já sob direção de 
Fernand Braudel. Por fim, você vai refletir sobre o legado das inovações 
propostas pelos Annales para a disciplina histórica.
A revista Annales e a renovação do campo 
historiográfico
Como você sabe, a historiografi a francesa possui grande infl uência na con-
formação da disciplina histórica em diferentes países americanos e europeus. 
Boa parte das mudanças nas práticas historiográfi cas experimentadas ao longo 
do século XX provém de um grupo de pesquisadores associado à revista 
Annales d’Histoire Économique et Sociale (Anais de História Econômica e 
Social), criada em 1929, em Estrasburgo. Como o próprio nome da revista 
explicita, seus editores e fundadores, Marc Bloch (1886–1944) e Lucien Febvre 
(1878–1956), procuravam reunir trabalhos de pesquisadores que, como eles, 
se dedicassem mais às dimensões econômicas e sociais da sociedade do que 
à dimensão política, por exemplo.
Esse grupo ficou conhecido como escola dos Annales, terminologia uti-
lizada para enfatizar as concordâncias e semelhanças de abordagens de um 
grupo que também possuía divergências internas e interesses particulares de 
pesquisa. Considere o seguinte:
Essa escola é, amiúde, vista como um grupo monolítico, com uma prática 
histórica uniforme, quantitativa no que concerne ao método, determinista em 
suas concepções, hostil ou, pelo menos, indiferente à política e aos eventos. 
Esse estereótipo dos Annales ignora tanto as divergências individuais entre 
seus membros quanto seu desenvolvimento no tempo. Talvez seja preferível 
falar num movimento dos Annales, não numa “escola” (BURKE, 1991, p. 8).
Como encontrar unidade entre historiadores como Lucien Febvre, Marc 
Bloch, Fernand Braudel, Georges Duby, Jacques Le Goff e Emmanuel Le 
Roy Ladurie, ou ainda entre outros profissionais que em diferentes momentos 
se aproximaram da revista, como Ernest Labrousse, Pierre Vilar, Maurice 
Agulhon e Michel Vovelle (BURKE, 1991)? 
Para responder a essa pergunta, você deve considerar que, embora a expressão 
“escola dos Annales” tenha se consolidado para se referir a esse grupo de histo-
riadores europeus, havia muitas diferenças entre eles. Isso acabou configurando 
diferentes momentos — que são chamados de “gerações” — com características 
que garantem certa identidade em comum. Assim, talvez fosse melhor se referir a 
esse grupo como “movimento” ou “círculo” do que como “escola” propriamente 
dita, justamente porque a ideia de “escola” pressupõe uma unidade conceitual, 
metodológica e teórica que não existiu (BARROS, 2012).
No entanto, havia certa unidade entre os historiadores. Tal unidade era 
conferida:
a) pelas condições políticas e sociais do momento em que os historiadores 
do grupo escreviam;
b) pelos objetivos a que eles se propunham e pela sua relação com as 
práticas historiográficas hegemônicas naquele momento;
c) porque eles compartilhavam alguns preceitos em relação à epistemologia 
da história.
A escola dos Annales2
Em relação à conjuntura política e social em que a revista foi pensada, 
autores salientam que a sua aparição em 1929, ano da grande crise econômica 
mundial, não se trata de uma coincidência. Fenômenos sociais como a deflação, 
o desemprego e a recessão em nível global, oriundos das dinâmicas próprias do 
pós-Primeira Guerra, fizeram com que os pesquisadores se interessassem por 
aspectos mais relacionados aos âmbitos econômicos e sociais, em detrimento 
dos políticos (DOSSE, 1994).
Também não é uma coincidência a mudança na abordagem de grandes fatos 
realizados por grandes homens ou por grandes nações. Passou-se para uma 
perspectiva que se vinculava mais a conjunturas e estruturas com mais ou menos 
duração e efeitos nas sociedades. Essa mudança ocorreu, segundo Dosse (1994), 
devido aos traumas decorrentes da Grande Guerra, que afetaram diretamente 
a escrita da história realizada até aquele momento na Europa, obrigando os 
profissionais a se questionarem também sobre o que significava ser historiador 
e produzir história. Em relação ao conjunto das ciências humanas e sociais, era 
necessário questionar o evolucionismo e as ideias de progresso, que pareciam 
ter fracassado com os rumos da humanidade no início do século XX.
Do ponto de vista historiográfico, no momento do lançamento da revista 
Annales, havia predominantemente uma forma de se escrever história muito 
influenciada por aspectos oriundos do positivismo, da chamada “escola me-
tódica” e do “historicismo”, aos quais os Annales se contrapõem. Contudo, 
você deve atentar a duas questões bastante importantes. Primeiramente, os 
Annales não foram os primeiros a apresentar críticas a essa forma de escrita 
da história. Outros historiadores contemporâneos ao lançamento da revista já 
haviam sublinhado os limites dessa abordagem historiográfica. Além disso, os 
Annales não conseguiram romper definitivamente com preceitos das escolas 
predecessoras, o que também não significa nenhum demérito em suas análises. 
A seguir, você vai conhecer melhor as características dessa forma de narrar a 
história que marcou o final do século XIX e o início do século XX.
No campo historiográfico franco-germano do século XIX e do início do 
século XX, predominavam preceitos oriundos do positivismo, da chamada “es-
cola metódica” e do “historicismo”. A concepção de história como uma “ciência 
positiva” alimentava a crença de que os historiadores poderiam “controlar” 
a subjetividade, estabelecendo a verdade dos fatos relatados ao se manterem 
fiéis ao que os documentos históricos — majoritariamente escritos e oficiais 
— registravam como “história”. Assim, contra o cientificismo objetivista ou 
o historicismo de Langlois, Ranke e Seignobos, Lucien Febvre e Marc Bloch 
afirmaram a presença e a influência do historiador na escrita da história. 
Afinal, ele escolhe seus temas de pesquisa em função de preocupações que 
3A escola dos Annales
partem de seu momento presente. Além disso, interroga as fontes a partir de 
determinadas problemáticas. Os Annales, dessa forma, se opunham à maneira 
como era realizada a crítica documental: de uma história-relato, factual, nar-
rativa, pretendiam constituir uma história-problema, que não se sustentasse 
na ideia de que a história estava nos documentos, bastando copiá-los.
Há, portanto, uma recusa ao relato factual e político, de cunho nacionalista, 
que caracterizava a escrita da história. Também há uma profunda modificação 
em relação às concepções de passado e presente na historiografia. Veja:
Uma das inovações, essencial, dos Annales da época é o rompimento com a 
concepção puramente passadista do discurso histórico, a correlação passado 
e presente na construção de uma história que tenha por campo de estudo não 
somente o passado mastambém a sociedade contemporânea. Enquanto a escola 
historicista considerava a prática historiográfica, em um percurso cientificista, 
desvinculada do presente, Lucien Febvre convida o historiador a inspirar-se 
nos problemas colocados pelo tempo presente, no qual ele vive, pensa e escre-
ve. A interrogação do passado a partir do presente tem para os Annales valor 
heurístico. [...] O presente ajuda a pesquisa do passado e permite valorizar uma 
história-problema e enriquecer o conhecimento do passado. A partir desse valor 
heurístico do presente, os Annales defendem uma concepção relativista do dis-
curso histórico, pois devido ao fato de a história estar mergulhada em seu tempo 
e imersa nos problemas do presente, temos como resultado uma construção do 
tempo histórico, dos clarões, dos recortes cujos limites são aqueles mesmos que 
permitiram as pesquisas. Trata-se, portanto, de uma construção a ser cada vez 
descoberta no momento e no lugar em que ela foi enunciada. Cada época constrói 
sua representação do passado conforme suas preocupações (DOSSE, 1994, p. 40).
Para além das características específicas do campo historiográfico, as 
abordagens sugeridas pelos Annales se basearam também na renovação de 
outras áreas do saber. As ciências sociais, por exemplo, passaram por transfor-
mações muito significativas, com novas interrogações oriundas da linguística, 
da psicanálise e, principalmente, da geografia e da sociologia (DOSSE, 1994).
De que modo essas transformações, que configuraram uma “revolução 
científica”, afetaram a perspectiva do historiador? De acordo com Dosse 
(1994, p. 20),
Lucien Febvre e Marc Bloch utilizam-na como argumento contra a história 
historicizante que fetichiza o documento escrito a ponto de fazer dele a expli-
cação histórica. Eles veem na teoria das probabilidades, na teoria da relativi-
dade da medida temporal e espacial, a possibilidade de a história aspirar, da 
mesma maneira que as ciências ditas exatas, ao estatuto de ciência, contanto 
que critique os testemunhos do passado, elabore fichas de leitura, teste as 
hipóteses, passe do dado ao criado através de um percurso mais aberto e ativo.
A escola dos Annales4
Em síntese, você pode considerar as seguintes características das escolas 
históricas predecessoras dos Annales, contra as quais os historiadores da 
revista direcionavam suas críticas:
a) a história dizia respeito essencialmente à política, descrevendo feitos e 
acontecimentos, segundo a ação de “grandes homens”; b) os historiado-
res (tradicionais) pensavam a história basicamente como uma narrativa dos 
acontecimentos; c) fornecia (na história tradicional) a visão de “cima”; d) a 
história seria baseada nos documentos; e) fornecia a visão dos “documentos 
oficiais”; f) ser objetiva (ROIZ, 2008, p. 218–219).
A identidade dos Annales, portanto, constrói-se a partir do rechaço às 
abordagens conceituais, epistemológicas, metodológicas e teóricas dominantes 
no campo da história. Assim, sugere renovações na prática historiográfica ao 
conceber a história de uma perspectiva total, com predileção a abordagens 
econômicas e sociais, escrita a partir de problemáticas e interrogações feitas 
às fontes. Além disso, a ideia era que a história se utilizasse da interdiscipli-
naridade para contemplar temáticas anteriormente desprezadas.
Por meio das análises de Burke (1991) e Barros (2012), é possível elencar 
algumas diretrizes que guiaram os autores que participaram desse projeto. Tais 
diretrizes acabaram por configurar as características dessa “escola histórica”. 
Veja quais são essas diretrizes:
  substituir a tradicional narrativa de acontecimentos por uma 
história-problema;
  dedicar-se à história de todas as atividades humanas e não apenas à 
história política;
  realizar estudos interdisciplinares por meio das contribuições da geografia, 
da sociologia, da psicologia, da economia, da linguística, da antropologia 
social e de outras áreas;
  expandir a compreensão de “fonte histórica”;
  enfatizar aspectos do coletivo, em uma crítica a abordagens individu-
alizantes ou biográficas;
  ressaltar aspectos estruturais em detrimento de análises factuais;
  atentar à espacialidade;
  desenvolver novas formas de compreender a temporalidade histórica 
e de tratar o tempo na história, reconhecendo a existência de múltiplas 
durações, ritmos, etc.;
  conceber a história como uma ciência em construção, devido às cons-
tantes interrogações elaboradas pelos historiadores desde o presente.
5A escola dos Annales
Costumeiramente, o movimento historiográfico associado à revista Annales 
é dividido em três fases. A primeira se estende do surgimento da revista até, 
aproximadamente, 1945. Essa fase configura um movimento pequeno, mas 
com posicionamentos bastante contundentes em relação às práticas historio-
gráficas dominantes no campo, que se caracterizavam por uma predileção em 
relação aos eventos políticos, à agência dos “grandes homens” e a determinada 
concepção espacial e temporal, conceituada por Bourdé e Martin (1983, p. 119) 
como “[...] escola positivista [...]”. 
Após a Segunda Guerra Mundial, esses historiadores tornaram suas aborda-
gens hegemônicas nas universidades europeias, introduzindo novos conceitos 
e metodologias na historiografia, configurando a segunda fase do movimento. 
A terceira fase, iniciada no final dos anos 1960, é marcada pela fragmentação. 
Subgrupos se direcionam a interesses particulares de pesquisa, reavaliando 
as premissas originais do movimento e recuperando com renovações, por 
exemplo, a história política e a narrativa. Portanto, essas fases são marcadas 
pela heterogeneidade de métodos, práticas e temas de pesquisa.
A segunda geração ou a “era Braudel”
Após o término da Segunda Guerra Mundial, se confi gura novamente uma 
conjuntura que se assemelha ao pós-Primeira Guerra e que obriga os histo-
riadores a repensarem seu campo e suas práticas. Isso não se deve apenas aos 
traumas da guerra e à reconstrução dos países, mas também aos processos de 
descolonização da África e da Ásia, à Guerra Fria e à revolução tecnológica 
(DOSSE, 1994). Essas transformações culturais, econômicas, políticas e 
sociais exigem novas abordagens e categorias históricas, e essas demandas 
não deixariam de afetar o grupo dos Annales.
De acordo com Barros (2012, p. 258):
[...] trata-se de um novo momento, e de uma nova configuração para possíveis 
articulações. O contexto geral é o de uma expansão econômica, à qual muitos 
economistas do futuro referir-se-iam como “anos de ouro”. As Ciências Sociais 
conhecem nesta época um novo impulso, afirmando-se em algumas delas uma 
corrente teórica que ficaria conhecida como Estruturalismo.
Nesse contexto, a revista muda de nome, transformando-se em Annales: 
économies, societés, civilisations (Anais: economias, sociedades, civilizações). 
Em um primeiro momento, as publicações desenvolvem uma predileção por 
A escola dos Annales6
análises econômicas, centrando-se nos séculos XVI e XVIII. Há, aqui, um 
duplo abandono de aspectos da primeira geração: o temático e o cronológico. 
Estatísticas, preços, registros paroquiais, crises demográficas e de subsistência 
são temas que perpassam as obras de historiadores. É o caso de Georges Duby, 
Emmanuel Le Roy Ladurie e Pierre Vilar.
Portanto, há uma distinção em relação à geração anterior por interesses 
vinculados a temas demográficos, debates entre estrutura e conjuntura e 
métodos históricos (principalmente pela história serial). Contudo, não se pode 
afirmar que haja homogeneidade entre todos os historiadores: houve aqueles 
que se aproximaram mais do estruturalismo; outros, do marxismo; e houve 
ainda aqueles que seguiram com a proposta inicial de pensar as mentalidades.
Parece haver consenso entre os historiadores da historiografia de que 
Fernand Braudel (1902–1985) dominou a segunda geração dos Annales, prin-
cipalmente após a morte de Febvre. Muitos chegam a usar a expressão “era 
Braudel”, que teria se estendido até 1968.Foi nessa fase, também, que houve 
a institucionalização do grupo, com sua vinculação ou criação de diversos 
espaços universitários.
Em sua obra O Mediterrâneo e o mundo mediterrâneo na época de Filipe II, 
de 1949, Braudel desenvolve reflexões sobre a cronologia, a duração, os ritmos 
e as temporalidades na história. Ele afirma que existem aspectos do social 
marcados por uma longa, por uma média e por uma curta duração, analisando 
três temporalidades distintas de seu objeto de pesquisa. Primeiramente, haveria 
uma “história quase imóvel”, a relação dos homens com o espaço geográfico; 
posteriormente, uma história com outra duração, que caracterizaria conjun-
turas, relativa à economia e à sociedade; por fim, Braudel dedica-se a uma 
história mais factual, de dimensões quase individuais, com mudanças mais 
frequentes. Braudel afirma, dessa forma, a possibilidade de uma história total, 
em que tudo — inclusive o que parece imóvel — está sujeito a mudanças.
Conheça mais sobre a obra O Mediterrâneo e o mundo mediterrâneo na época de Filipe 
II, de Fernand Braudel, assistindo ao vídeo disponível no link a seguir.
https://youtu.be/PXzOxfvaa3k
7A escola dos Annales
O “personagem principal” da obra de Braudel, diferentemente do que se 
poderia supor, não é Felipe II, e sim o próprio mar Mediterrâneo, interrogado a 
partir de uma cronologia que também se apresenta bastante inovadora: a obra 
abarca o “longo século XVI” (1450–1650). A estrutura de organização dessa 
obra revela uma concepção do tempo e da temporalidade bastante inovadora, 
sintetizada na Figura 1, a seguir.
Figura 1. As durações temporais e as suas respectivas categorias históricas.
A Figura 1, que representa uma síntese da inter-relação das durações 
temporais e suas respectivas categorias históricas para Braudel, evidencia que 
existem três temporalidades: a longa, a média e a curta. A partir dessa relação, 
é possível afirmar que uma mesma sociedade experimenta estágios diferentes 
do tempo, de acordo com o que está sendo estudado. Para Braudel, o efêmero ou 
factual seria o espaço em que ocorrem experiências de indivíduos, bem como 
insurreições e levantes; tal espaço possuiria curta duração. As conjunturas 
demarcariam ciclos econômicos e regimes políticos, por exemplo, e teriam uma 
duração mediana. Já a longa duração seria a temporalidade das continuidades 
e das permanências, daquilo em que não se percebe a mudança, das estruturas.
A segunda geração do movimento dos Annales também recebeu con-
tribuições de outros historiadores, que se dedicaram a explorar o método 
quantitativo, principalmente durante os anos 1950 e 1970. Foi o caso de Ernest 
Labrousse, que associou o método à história econômica, ou então aos trabalhos 
de demografia histórica. Além disso, há as obras de Georges Duby, historiador 
medievalista que se dedicou à organização da obra História da Vida Privada.
A escola dos Annales8
De todas as tendências derivadas da segunda fase dos Annales, a que ganhou mais 
destaque foi a história quantitativa, juntamente à história demográfica. Ambas são 
oriundas de debates e reflexões sobre o crescimento exponencial da população no 
planeta na década de 1950. Como resultado dessas reflexões, posteriormente ocorreu 
o desenvolvimento da história social e da história regional.
Impactos e contribuições para a história
A infl uência dos Annales foi extensa e profunda. Sem dúvidas, o grupo con-
tribuiu para a renovação formal da disciplina histórica, sugerindo novos pro-
blemas, novos métodos e novos campos de estudo. Contudo, sua infl uência 
na historiografi a de outros países foi diversa, com algumas rejeições onde a 
tradição anglo-saxônica era predominante.
Veja o que afirma Burke (1991, p. 87):
Da mesma maneira que se concentraram sobre a França, os historiadores 
dos Annales voltaram sua atenção sobre um período, o chamado “início da 
idade moderna”, de 1500 a 1800, mais especificamente o “antigo regime” 
na França, que vai de mais ou menos 1600 a 1789. Sua contribuição para os 
estudos medievais foi também notável. Como já vimos, alguns historiadores 
da Antiguidade foram companheiros de viagem dos Annales.
Para além de algumas limitações do ponto de vista cronológico, espacial 
ou temático, existe uma contribuição do ponto de vista epistemológico que 
modificou a disciplina histórica. De acordo com Barros (2012, p. 51–52), 
“[...] à parte as diferenças da recepção dos Annales no espaço historiográfico 
europeu, pode-se dizer que o movimento dos Annales abriu inquestionavel-
mente um novo capítulo na história da historiografia, quer desenhemos suas 
realizações com cores mais vivas ou com tonalidades mais discretas [...]”. Para 
esse autor, os Annales, juntamente ao materialismo histórico e à hermenêutica 
historicista, constituem uma das influências mais impactantes e duradouras 
sobre a historiografia ocidental (BARROS, 2012).
Do ponto de vista conceitual, os Annales contribuíram com novos conceitos 
ou novas abordagens para categorias já utilizadas, tais como “[...] conjuntura 
[...]”, “[...] civilização [...]”, “[...] etno-história [...]”, “[...] história global [...]”, 
“[...] imaginário [...]”, “[...] história-problema [...]”, “[...] história quantitativa 
9A escola dos Annales
[...]”, “[...] história serial [...]”, “[...] história total [...]”, “[...] longa duração [...]”, 
“[...] mentalidade [...]”, etc. (BURKE, 1991, p. 90–92). Além disso, considere 
o seguinte:
Olhando o movimento como um todo, percebemos uma grande quantidade de 
livros notáveis aos quais é difícil negar o título de obras-primas [...]. Devemos 
lembrar também as equipes de pesquisa que foram capazes de levar adiante 
empreendimentos que demandariam muito tempo a um único indivíduo para 
levar qualquer deles a bom termo. A longa vida do movimento permitiu que 
os historiadores se apoiassem, através de suas obras, mutuamente (ou tam-
bém reagissem contra). Nomear apenas as mais importantes contribuições 
da história dos Annales significa escrever uma lista por si só impressionante: 
história-problema, história comparativa, história psicológica, geo-história da 
longa duração, história serial, antropologia histórica. Da minha perspectiva, 
a mais importante contribuição do grupo dos Annales, incluindo-se as três 
gerações, foi expandir o campo da história por diversas áreas. O grupo ampliou 
o território da história, abrangendo áreas inesperadas do comportamento 
humano e grupos sociais negligenciados pelos historiadores tradicionais. 
Essas extensões do território histórico estão vinculadas à descoberta de novas 
fontes e ao desenvolvimento de novos métodos para explorá-las. Estão também 
associadas à colaboração com outras ciências, ligadas ao estudo da humani-
dade, da geografia à linguística, da economia à psicologia. Essa colaboração 
interdisciplinar manteve-se por mais de sessenta anos, um fenômeno sem 
precedentes na história das ciências sociais (BURKE, 1991, p. 89).
Os aportes do movimento dos Annales foram importantes para a superação 
dos preceitos da “escola metódica”, principalmente em relação às concepções de 
“acontecimento” e “evento” e à determinação do que seria um “fato histórico”. 
Aróstegui (2001) afirma que essa seria a mais importante e mais duradoura 
contribuição epistemológica da escola. Ele ressalta o papel que o historiador 
desempenha na construção dos “fatos históricos” ao desenvolver suas análises.
Outra contribuição do movimento foi enfatizar o caráter da problematização 
da pesquisa histórica, em detrimento da “história narrativa”: os historiadores 
deveriam se preocupar em resolver problemáticas mais do que em narrar epi-
sódios. Ainda que, posteriormente, a narrativa histórica tenha se revalorizado, 
essa retomada está permeada pelas contribuições historiográficas desenvolvidas 
pelos Annales e por outras correntes.
O movimento dos Annales também chamou a atenção para a utilização 
de novas fontes para além das chamadas “fontes oficiais”, o que permitiu o 
desenvolvimento de novastemáticas de pesquisa. Os Annales foram, em certa 
A escola dos Annales10
medida, responsáveis por uma mudança na compreensão do que seriam fontes 
históricas e das formas de realizar a crítica documental (ARÓSTEGUI, 2001).
Este, sem dúvida, pode ser considerado um dos mais significativos legados 
dos Annales para a disciplina histórica: a ampliação da definição de fonte 
histórica e os procedimentos para realizar sua crítica. Veja:
Os Annales e os materialistas históricos abriram possibilidades para renovações no 
pensamento e na pesquisa histórica. A partir de então, o fato histórico deixou de 
ser entendido como dado de forma verídica e real pelo documento; ele precisaria 
ser construído pelo historiador a partir de uma conjunção de fatores presentes e 
passados. Ou seja, o documento não era mais o portador da verdade irrefutável 
sobre o passado. Nesse sentido, também a ideia do que era fonte histórica se am-
pliou e o documento deixou de ser apenas o registro político e administrativo, uma 
exclusividade de povos com escrita. Para a história interpretativa não importava a 
veracidade do documento, mas as questões que o historiador lhe remetia. Desde 
então, a fonte histórica passou a ser construção do historiador e de suas perguntas, 
sem deixar de lado a crítica documental, pois questionar o documento não era 
apenas construir interpretações sobre ele, mas também conhecer sua origem, sua 
ligação com a sociedade que o produziu (SILVA; SILVA, 2009, p. 159).
A renovação temática nas investigações históricas também se deveu à 
abertura a outras disciplinas, como a antropologia, a economia, a geografia, 
a sociologia e a psicologia.
E no Brasil? De acordo com Barros (2012, p. 40):
A Escola dos Annales, em alguns países como o Brasil, alcançou quase a po-
sição de um mito, no sentido popular desta expressão. Os historiadores dessa 
escola estenderam sobre a historiografia brasileira uma influência só compa-
rável a algumas correntes do Materialismo Histórico, e, mais recentemente, à 
Micro-história Italiana. Muitos dos livros produzidos pelos historiadores dos 
Annales tornaram-se sucessos de vendagem entre os leitores brasileiros. No 
ambiente de estudantes e profissionais de História, alguns dos maiores nomes 
do movimento dos Annales deixaram muitos admiradores, e mesmo seguidores.
Assim, é possível sintetizar o surgimento dos Annales como uma tentativa de 
aproximar os historiadores de outras áreas do conhecimento; problematizar deter-
minadas práticas historiográficas dominantes naquele momento, principalmente 
aspectos do positivismo e da chamada “escola metódica”; e, por fim, utilizar 
novas fontes, novos métodos e, assim, explorar novas temáticas de pesquisa.
Ao longo do século XX, as práticas historiográficas do grupo que se reunia 
em torno da revista Annales adquiriam hegemonia no campo da história. 
11A escola dos Annales
Paralelamente às práticas dos Annales, desenvolviam-se reflexões a partir do 
marxismo, da história social e da história econômica. Contudo, as mudanças 
do ponto de vista epistemológico afetaram também essas outras correntes 
teóricas, principalmente no que diz respeito à compreensão do que eram as 
fontes histórias e das críticas a que deveriam ser submetidas.
ARÓSTEGUI, J. La investigación histórica: teoría y método. Barcelona: Crítica, 2001.
BARROS, J. D. Teoria da história. Petrópolis: Vozes, 2012. (A Escola dos Annales e a Nova 
História, v. 5).
BOURDÉ, G.; MARTIN, H. As escolas históricas. Mira-Sintra: Publicações Europa-América, 
1983.
BURKE, P. A Revolução Francesa da historiografia: a Escola dos Annales 1929-1989. São 
Paulo: USP, 1991.
DOSSE, F. A história em migalhas: dos Annales à nova história. Campinas: Unicamp, 1994.
ROIZ, D. S. A recepção da ‘Escola dos Annales’ na europa e nas américas: algumas 
reflexões. Akrópólis, Umuarama, v. 16, n. 4, p. 211-226, out./dez. 2008.
SILVA, K.; SILVA, M. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2009.
Leituras recomendadas
BARROS, J. D. A escola dos Annales: considerações sobre a história do movimento. 
Revista História em Reflexão, Dourados, v. 4, n. 8, p. 1-29, jul./dez. 2010.
BARROS, J. D. O campo da história: especificidades e abordagens. Petrópolis: Vozes, 2004.
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A escola dos Annales12

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