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HERMENEUTICA 2 bimestre 2019 cópia para ALUNOS.pdf

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UNIP – UNIVERSIDADE PAULISTA – HERMENÊUTICA – PROF. GUILHERME LORIA LEONI 
Continuidade do conteúdo: 
2 Lógica jurídica e lógica da argumentação. 2.1 Logicidade do Direito: lógica formal e 
lógica não-formal. 2.2 Raciocínios jurídicos 
2 Lógica jurídica e lógica da argumentação 
Nesse tema a proposta de Perelman, sendo aquela em que a Lógica da 
Argumentação depende da Lógica Jurídica para que haja uma “identidade teórica da área 
de conhecimento jurídico”. Referida proposta se mostra contra a lógica formal, absoluta ou 
matematizante, como descreve a autora. 
 
 Pode-se concluir que a individualização da lógica jurídica é medida que merece 
destaque, pois não pode ser comparada à lógica matemática, pois o direito não se mostra 
como uma ciência exata. A isso oportuno trazer o que Fábio Ulhoa Coelho1 conclui ao 
expor uma passagem de um filósofo da Antiguidade, Diógenes Sinope, conhecido como o 
cínico, que reprovou todos os alunos que concordaram com sua tese ao contestar um 
assunto. Isso ocorreu porque todo argumento deve ser contrariado, contestado por outro 
argumento, apontando onde estão os possíveis erros. A isso acrescenta, também, que “a 
lógica não confere, necessariamente, com a realidade”. 
 
 Conclui-se, então, que no direito a interpretação da norma jurídica não decorre, 
sempre, de um entendimento uníssono, e que nem sempre uma pessoa terá a mesma opinião 
sobre determinado assunto. O que se pode observar é que, num primeiro momento, um 
 
1 Roteiro de lógica jurídica. 3ª. ed., 3ª. tiragem. Editora Max Limonad, 2000, p. 13. 
argumento pode convencer alguém, sem impugnação da alegação, mas, num segundo 
momento, após ter o receptor da mensagem algum tempo para reflexão, sua interpretação 
pode ser diversa, gerando a contrariedade àquela alegação e, com isso, uma nova conclusão 
sobre determinado assunto. 
 
Na prática jurídica é o que se observa. Como prática jurídica, aqui entende-se a 
prática das argumentações, e não aquela mecânica de montagem de petições e/ou 
contestações. 
 
Assim, na prática jurídica o advogado do autor da ação lança seus argumentos 
acerca do fato apresentado, adequando-os à legislação, ou seja, interpretará o fato 
adequando-se à norma jurídica com o objetivo de convencer o julgador que a ação merece 
procedência; por outro lado, haverá a contestação que trará nova interpretação acerca do 
fato. Com isso, o julgador se depara com argumentações e interpretações distintas acerca de 
uma única legislação, devendo entregar a tutela jurisdicional sem demonstrar parcialidade, 
mas sempre definindo quem terá sua pretensão acatada, através de um fundamento que leve 
à lógica. 
 
Deve-se observar, porém, que mesmo não contestada a ação proposta, o julgador 
não está vinculado aos fatos e argumentações ali trazidos, podendo decidir o feito pela 
improcedência, ou seja, a definição legal de que a não contestação pode levar a ser 
considerado como verdadeiros os fatos alegados na inicial, não é regra determinante. 
 
2.1 Logicidade do Direito: lógica formal e lógica não-formal 
Há dois campos da lógica: a Lógica Formal e a Lógica Não-Formal. 
 
 Como Lógica Formal, entende-se aquela que estuda os pensamentos racionais 
puros, buscando explicar o “mecanismo do raciocínio humano a partir do aporte 
matemático”. Há a proposta de aplicação da lógica formal nas normas jurídicas através da 
Lógica Deôntica (Von Wright) e da Lógica das Normas (Kalinowski), devidamente 
adaptadas ao direito. 
 
 Ocorre que a lógica formal, mesmo que adaptada ao direito, tem a limitação 
referente a incapacidade de que os argumentos jurídicos sejam exatos, ou seja, os 
argumentos jurídicos são, como definidos no texto, raciocínios “não matemáticos”, 
conforme sua natureza. 
 
 Esse entendimento decorre justamente de que as relações pessoais quando levadas 
à aplicação de ciência social, a qual o direito está integrado, traz uma série de argumentos 
que decorrem numa inegável controvérsia (Teoria da Argumentação). É justamente essa 
controvérsia que faz com que a lógica formal não se figure aplicável à logicidade do 
direito. 
 
Essa conclusão é clara, pois se verificada a lógica formal no direito, desnecessário 
seria todo o procedimento rebuscado das normas, formas e características. Bastaria apenas 
uma decisão sobre determinado assunto para que os fatos supervenientes e com mesma 
natureza seguissem a decisão já anteriormente prolatada. Também, fácil imaginar que 
uma tese uma vez indeferida, não quer, necessariamente, dizer que não poderá ser 
aceita em outra oportunidade. 
 
Outro fato mais corriqueiro em que se observa que a lógica formal não está presente 
no direito, ocorre quando intentam-se várias ações de mesma natureza e com fatos 
semelhantes numa comarca com mais de uma vara. Pois bem, um juiz decidirá o feito 
de uma forma e os outros juízes das varas distintas decidirão de outra forma, com outros 
fundamentos; assim, nota-se que o direito não é uma ciência exata, pois se assim fosse, os 
juízes deveriam seguir uma mesma e única linha de raciocínio. 
 
Isso também decorre que, embora semelhantes, as causas têm particularidades 
distintas, fatos impeditivos, modificativos ou extintivos de uma obrigação que foram 
omitidos pelo autor de uma ação dessa natureza, por exemplo. 
 
Assim, com segurança, pode-se concluir que não existe “causa ganha”. Aquele 
profissional do direito que garante a vitória em uma lide se torna muito vulnerável, assume 
um risco excessivo, pois a parte adversa também trará seus argumentos e uma outra pessoa, 
o juiz, é que julgará, estando este revestido de livre convicção. Nota-se o envolvimento de 
três pessoas, cada qual com argumentos distintos sobre o assunto apresentado, ocorre, 
daí, um “desenvolvimento de uma controvérsia predominantemente argumentativa”. 
 
Para se chegar a uma sentença necessário utilizar-se da chamada “operação lógica” 
através do silogismo, ou seja, o argumento dividido em três fases, sendo a norma 
jurídica a premissa maior; o caso concreto a premissa menor e a sentença final a 
conclusão. Ocorre que Perelman alerta justamente para o risco dessa construção silogística, 
pois a sentença decorre de um ato deliberativo que é a escolha de opções que, também, 
podem ser revistas e retratadas pelo julgador. 
 
Como observado, no direito os fatos decorrem de controvérsias apresentadas pelas 
partes e que geram a escolha pelo julgador ao decidir. Como se explicaria pela lógica 
formal e pela exatidão do silogismo puro e simples, o voto vencido de um 
desembargador; a retratação da sentença ou de decisão interlocutória quando atacada 
por agravo? A única certeza que se encontra no direito é de que a própria lide, o conflito 
de interesses não dá espaço para silogismo evidente, e sim para argumentos que 
convencem em certo momento e acabam por gerar a sentença, ou seja, no direito “há 
argumentos mais ou menos convincentes”. Assim, no direito não há silogismo que 
assegure o resultado e, por isso, volta-se a frisar que de uma lide não se pode garantir a 
vitória. Daí se verifica o motivo de ser a advocacia uma atividade meio e não atividade fim, 
ou seja, é uma atividade jurídica em que não se pode garantir um resultado. O resultado 
pode ser previsto mas nunca garantido, devendo o advogado atuar para o convencimento 
do julgador, a fim de buscar decisão favorável àquele que lhe outorgou mandato judicial2. 
 
Com isso, a lógica jurídica traz a idéia de que as premissas podem ser aceitas, ao 
contrário da lógica formal em que impõe no procedimento judicial a validade das 
premissas; e isso não tem lugar no direito. Assim, a aceitação das premissas implica na 
análise do conjunto probatório e dos argumentos apresentados na lide, gerando a 
controvérsia judicial. 
 
Para Kalinowski e Bunge, a lógica é uma só, ou seja, existe apenas a lógica formal e 
o que sesubdivide trata-se de metodologia e não de lógica. Nesse mesmo sentido Kelsen se 
opõe a Perelman, e entende que a lógica formal aplica-se ao raciocínio jurídico, não 
sendo, portanto, “um ramo especial, mas tão somente uma aplicação especial da Lógica 
Formal”. 
 
Pelo já aduzido, discorda-se do entendimento dos filósofos acima citados, 
amparando-se em Perelman e na própria Teoria Pura do Direito que considera “os 
raciocínios jurídicos concernentes à aplicação legal como simples operações dedutivas”. 
 
Disso se extrai que Perelman apresenta a Lógica Jurídica como sendo uma 
argumentação, ou seja, de como os operadores do direito apresentam e aplicam o direito 
perante a sociedade; como a sociedade enxerga o direito através das informações que lhe 
são passadas e, daí, buscam a tutela jurisdicional com seu pretenso direito. 
 
2.2 Raciocínios jurídicos 
 
 A doutrina traz uma divisão do raciocínio jurídico em que, um deles, é apresentado 
como raciocínio lógico-dedutivos ou lógico-formais. A outra forma apontada é o 
 
2 Art. 2º. § 2º. do EAOAB (Lei 8.906/94): “... § 2º. No processo judicial, o advogado contribui, na postulação 
de decisão favorável ao seu constituinte, ao convencimento do julgador, e seus atos constituem múnus 
público”. 
raciocínio dialético, conforme explicitado por Perelman, ou seja, o raciocínio jurídico 
propriamente dito. 
 
 Como já notado, o raciocínio lógico-formal ou dedutivo, não trata propriamente 
de um raciocínio jurídico; já o raciocínio dialético, mais aplicável ao direito, é a análise 
da realidade evidenciando as contradições, com o objetivo de encontrar a solução para 
o caso. 
 
 Assim, a lógica jurídica de Perelman é a não formal. É a argumentação jurídica, 
que justamente busca o convencimento do destinatário. A controvérsia está sempre 
presente no raciocínio jurídico e, por isso, nem sempre podem ser considerados corretos 
ou incorretos. 
 
 Conclui-se que o raciocínio jurídico pode ser aceito por um destinatário e não 
aceito por outro, e isso não quer dizer que a argumentação aduzida esteja correta por 
ter sido aceita por uma pessoa e vice-versa. 
 
 E a decisão é oriunda justamente das razões ao serem valoradas; e se as decisões 
têm caráter pessoal, Perelman afirma a relatividade do raciocínio jurídico. 
 
 Oportuna a observação da indeterminabilidade como característica ao raciocínio 
jurídico dialético. A diferença do modelo perelmaniano é que a incerteza dos raciocínios 
jurídicos pode ser reduzida pela aceitabilidade social, ou seja, conclui-se que se aceito 
pelo meio social, o raciocínio jurídico pode ter sua incerteza reduzida, pois quanto maior a 
aceitação, menor as chances de apresentação de uma controvérsia que possa 
influenciar esse meio social. 
 
 Perelman aponta a lógica da argumentação como sendo uma razão prática que, 
conseqüentemente, influencia uma decisão. 
 
 A essa teoria pode-se apontar a jurisprudência como forma de influenciar as 
decisões, ou seja, ao postular uma ação o autor trará argumentos práticos jurisprudenciais 
para influenciar o julgamento. Inegável que a jurisprudência forma uma decisão oriunda da 
análise de inúmeros argumentos, tornando e formando-se, então, um raciocínio prático. Isso 
não quer dizer que a jurisprudência esteja certa, mas é uma decisão que já teve uma análise 
e, por isso, se pressupõe que o seguimento da jurisprudência pelo julgador a quo ou pelo 
próprio tribunal seja algo mais possível de acontecer, em vista do precedente. Ocorre que o 
julgador não está obrigado a seguir um precedente, justamente pela possibilidade de sua 
livre convicção e por ser a lógica jurídica não formal. 
 
 Em sua obra Ética e Direito3, Perelman ao comentar o artigo 4º. do Código de 
Napoleão (“O juiz que recusar julgar a pretexto do silêncio, da obscuridade ou da 
insuficiência da lei, poderá ser processado como culpado de denegação da justiça”) cita 
Portalis que afirma que “Poucas causas são suscetíveis de ser decididas de acordo com 
uma lei, de acordo com um texto preciso; é pelos princípios gerais, pela doutrina, pela 
ciência do direito, que sempre se pronunciou sobre as contestações”. E disso conclui que a 
doutrina e a ciência do direito é que guiam os juízes nos “processos delicados”. Na mesma 
obra4 Perelman afirma que o papel da argumentação e da retórica se nota crescente sempre 
que, existindo uma controvérsia, acarretará deliberações para se chegar a uma decisão que 
pareça razoável, seja monocrática ou não. 
 
 Daí se conclui que o direito deve ser aceito e não puramente imposto. Dessa 
aceitação gera-se a controvérsia, presente na argumentação, ou seja, se alguém aceita o 
direito é porque tem um argumento, e justamente desse argumento gera-se a controvérsia 
por outra pessoa que também aceita o direito mas possui outro entendimento, outro 
argumento acerca do mesmo assunto, que no caso será a lei. 
 
 Nota-se que o argumento é fruto da aceitação, pois se houvesse uma imposição pura 
e simples do direito, tiraria o caráter interpretativo e argumentativo da legislação. 
 
3 Ética e direito / Chaïm Perelman; tradução Maria Ermantina Galvão G. Pereira – São Paulo : Marins Fontes, 
1996, p. 408/409. 
4 Op. Cit. p. 553 
 
 Um jurista não se forma de uma imposição legal do direito, forma-se da 
demonstração de sua argumentação sobre determinado assunto. Assim, diferente é o 
entendimento do positivismo jurídico que fica “adstrito à fria lógica das formas ou 
fórmulas jurídicas” 5. 
 
 Por tudo até aqui explanado, a nova retórica proposta por Perelman leva ao resgate 
da Teoria da Argumentação, outrora esquecida pelos positivistas, objetivando o 
convencimento do receptor da informação e também daqueles que estejam envolvidos na 
relação processual. 
 
 A lei não é uma regra unívoca, não devendo ser aceita sem questionamentos. A 
interpretação é meio para se levar a aceitação, e, conseqüentemente, os argumentos a ela 
estão ligados. 
 
 Para cada ocasião, cada fato, existe uma argumentação que será contrariada pela 
parte adversa que gerará, necessariamente, a reflexão do julgador para se chegar à 
motivação da decisão que, inegavelmente, é também um argumento, pois visa convencer o 
sucumbente e a instância superior que a decisão é acertada e razoável para conseguir a 
aceitação. 
 
 Não se deve confundir a necessidade de argumentação com palavreado rebuscado 
que nada tem de argumentativo na maioria das vezes. Aquele discurso de difícil 
compreensão gera o retardamento da tramitação processual ou até uma decisão contrária ao 
que se esperava, em vista de que a objetividade não estava evidente. Da mesma forma a 
decisão do juiz deve ser motivada, mas também com a cautela de se evitar o simples 
palavreado que, nesses casos, geram os recursos que abarrotam os tribunais. Palavreado 
também existente na própria legislação que, além de se gerar a controvérsia, gera-se as 
 
5 Miguel Reale. Lições preliminares de direito. 27 ed. ajustada ao novo Código Civil. São Paulo : Saraiva, 
2002. p. 88. 
lacunas ou inconstitucionalidades, que também agravam o bom andamento do direito e da 
justiça. 
 
 Os operadores do direito não prestam para mera transcrição da lei. Estão no mundo 
jurídico para debaterem as idéias da letra fria da lei. Assim, não deve um advogado pleitear 
um pretenso direito transcrevendo em sua petição os artigos dos códigos; da mesma forma 
não deve o juiz fundamentar sua decisão de forma automática, devendo expressar o motivo 
de sua livre convicção, não prendendo-se, pura e simplesmente, aos precedentes, como 
pretende a uniformização da jurisprudência. 
 
 A tudo isso oportuno trazer as palavras de Rui Barbosa quando ensina que “o saber 
não está na ciência alheia, que se absorve, mas, principalmente, nas idéiaspróprias, que 
se geram dos conhecimentos absorvidos” 6 . Nada mais do que a interpretação e 
argumentação. 
 
 
3 Direito como sistema lógico. 3.1 Conectivo deôntico. 3.2 Normas jurídicas e proposições 
jurídicas. 3.3 Distinção entre normas e proposição jurídica. 3.4 Para construir um direito 
lógico. 3.5 Superação das antinomias. 3.6 Convencimento jurídico 3.7 Identidade 
ideológica. 3.8 Mobilização de emoções. 3.9 Intercâmbio intelectual 
 
3 Direito como sistema lógico 
3.1 Conectivo deôntico 
 Para muitos filósofos do direito existe uma grande diferença entre a natureza das 
proporções formuladas pelos cientistas em geral e a das formuladas pelos estudiosos das 
normas jurídicas. 
 
 
6 Oração aos moços. São Paulo: Papagaio, 2003. Citação extraída do prefácio escrito por Miguel Reale Júnior. 
 Aos estudiosos das normas jurídicas não estabelecem relação de causalidade entre 
os dados emergentes de seu objeto, mas uma relação de natureza diversa. 
 
 Para eles, o dado que figura como antecedente não pode ser considerado causa do 
dado conseqüente. 
 
 Quando o penalista ensina que cabe reclusão na hipótese de homicídio doloso, a 
estrutura da proposição por ele enunciada não toma a punição como causada pelo crime. 
 
 De qualquer forma, é a partir da distinção entre conhecimento criado pelos cientistas 
em geral e o dos estudiosos da norma (juristas) que a filosofia do direito se propõe a 
questão sobre a existência de uma lógica especificamente deôntica. 
 
3.2 Normas jurídicas e proposições jurídicas 
 Kelsen, um dos maiores filósofos do direito do século, não admite a idéia de uma 
lógica própria para o conhecimento das normas jurídicas. No entanto, ele considera que 
há lógica no direito. 
 
 Para se entender o pensamento de Kelsen sobre a logicidade do direito, deve-se 
partir da diferença estabelecida, na Teoria Pura do Direito, entre norma jurídica e 
proposição jurídica. 
 
 Tanto a norma como a proposição jurídica, são enunciados deônticos. Estabelecem 
entre o antecedente e conseqüente a conexão especifica da relação deôntica (isto é, 
verificado o antecedente, deve ser o conseqüente). 
 
 Mas quem enuncia a norma jurídica é a autoridade competente, ao passo que a 
proposição é produto da ciência do direito. Dessa diferença básica, derivam as demais. 
 O sentido da norma jurídica é prescritivo. A autoridade competente para a editar 
formula juízo segundo o qual é imputado ao antecedente o conseqüente por ela 
definido. O legislador, ao aprovar o art. 121 do CP, expressou o desejo de que o homicídio 
fosse punido com reclusão de 6 a 20 anos. 
 
 Já o sentido da proposição jurídica é descritivo, quer dizer, a conexão deôntica 
estabelecida pelo cientista do direito se destina a descrever o contido na norma jurídica 
(Matar alguém). 
 
Uma norma jurídica pode ser válida ou inválida. Em Kelsen, a validade da 
norma está condicionada a 2 fatores: 
 -mínimo de eficácia; 
- autoridade competente. 
 
 Por seu turno, a proposição jurídica pode ser verdadeira ou falsa. Será 
verdadeira se o cientista descrever com fidelidade a norma em estudo e falsa na hipótese 
inversa. 
 
 Se o cientista do direito penal enunciar que o roubo, no Brasil, é punido com 
detenção de 2 a 4 anos, ele está formulando uma proposição falsa, uma vez que o CP 
sanciona esse crime com reclusão de 4 a 10 anos e multa. 
 
3.3 Distinção entre norma e proposição jurídica 
 Para o pensamento Kelsiano, como as normas são formulações da autoridade com 
competência para as editar, a lei se encontraria na vontade do legislador que a aprovou. 
Porém não é bem assim. 
 Se considerarmos as pessoas reais, vivendo em sociedade, podemos perceber que as 
normas jurídicas foram apropriadas por um conjunto dessas pessoas, a comunidade jurídica; 
residem assim, não na vontade da autoridade que as edita, mas na memória das pessoas que 
a estudam, aplicam ou observam. 
 
 Na comunidade jurídica, encontramos profissionais do direito (juiz, professor, 
advogado, ...) que dominam um determinado conhecimento, que não se encontra 
generalizado: eles conhecem o conteúdo das normas em vigor. 
 
 Mas não são apenas eles que dominam tal conhecimento. Os administradores de 
empresas privadas ou entidades públicas, os contadores, peritos judiciais, além de outras 
pessoas não profissionais do direito também conhecem, em certa medida, o conteúdo de 
normas jurídicas vigentes. 
 
 Claro que nenhum homem, mesmo o mais competente dos profissionais do 
direito, conhece todas as normas em vigor. 
 
3.4 Para construir um direito lógico 
 A lógica não é instrumento de ampliação de conhecimentos, mas de organização 
do raciocínio. É, por assim dizer, uma maneira de raciocinar. 
 
 O sistema jurídico somente pode ser considerado lógico, se os enunciados por ele 
compreendidos puderem ser organizados sob a perspectiva dos princípios e regras do 
raciocínio lógico. Assim, o sistema jurídico será lógico se for consistente e completo. 
 
 No campo da teoria do direito, antinomia é o conflito entre normas do mesmo 
ordenamento e lacuna é a ausência de norma para a disciplina de certo caso. 
 
 Em suma, se o direito se pretende lógico, não pode ter antinomias, nem lacunas. 
 
3.5 Superação das antinomias 
 Para se eliminar o conflito entre normas jurídicas, existem 3 critérios aceitos 
pelos teóricos do direito: 
1) cronológico; 2) hierárquico; 3) especialidade. 
 
 Pelo critério cronológico, a norma posterior prevalece sobre a anterior. Entende-se 
que a norma jurídica mais nova revoga a mais antiga, em função do pressuposto do 
constante aperfeiçoamento do direito positivo. 
 
 De acordo com o critério hierárquico, a norma superior prevalece sobre a inferior. 
Se um dispositivo constitucional é antinômico em relação a uma lei ordinária, aquele deve 
ser respeitado em prejuízo desta. 
 
 O critério da especialidade, a norma especial prevalece sobre a geral. 
 
 As regras sobre o contrato de compra e venda constantes do Código Civil não se 
aplicam às relações de consumo se o Código de Defesa do Consumidor contiver disposição 
diversa, porque esta última é mais específica do que a primeira. 
 
 Por vezes, esses critérios podem se revelar insuficientes, isto é, impotentes para 
a solução das antinomias. 
 
 Isso ocorre, em 1º. lugar, quando os próprios critérios entram em conflito. 
 
 Imagine-se a norma A posterior e inferior antinômica em relação à norma B, 
anterior e superior. De acordo com o critério cronológico, seria aplicada a norma A, mas 
segundo o hierárquico, prevaleceria a B. Designa-se essa situação de “antinomia de 
segundo grau”, já que a incompatibilidade não reside apenas nas normas, mas igualmente 
nos critérios de sua superação. 
 
 Para resolver as antinomias de segundo grau, existem outros critérios. O conflito 
entre o cronológico e o hierárquico é resolvido em favor deste último (a norma superior 
anterior é aplicada em detrimento da inferior posterior). 
 
 Entre o cronológico e o da especialidade, este prevalece (a norma geral posterior 
não revoga a norma especial anterior). 
 
 Quando a antinomia do 2º. grau se estabelece entre o critério hierárquico e o da 
especialidade, nesse caso inexiste meio seguro para se optar por um ou outro, tendo em 
vista a igual importância dos valores relacionados com cada um deles. 
 Existe, também, uma outra situação em que os critérios adotados pelo direito se 
revelam insuficientes para a solução das antinomias. Trata-se do conflito entre 2 normas 
editadas concomitantemente, de hierarquia e âmbito de incidência idênticos. (pense em 2 
dispositivos da mesma lei tributária, definindo para determinado imposto, alíquotas 
diversas. Cada dispositivo estabelece um valor diferente ao tributo a ser pago). 
 
 Nessas situações, antinomia de 2º. grau entre os padrões hierárquicose o da 
especialidade de um lado, e a identidade de hierarquia, cronologia e âmbito de incidência, 
de outro, configura-se a chamada antinomia real, ou seja, aquela para cuja superação 
não existe critério. Diante das antinomias reais, deve-se considerar que as 2 normas 
antinômicas são igualmente válidas, podendo-se escolher qualquer uma delas. 
 
3.6 Convencimento jurídico 
 
 O convencimento é uma interação comunicativa. De um lado o orador, de outro 
o interlocutor (também chamado receptor ou auditório), e unindo-os, uma mensagem. 
 
 O convencimento resulta do processo pelo qual o interlocutor compartilha da 
mensagem emanada do orador. O interlocutor, com efeito, não se limita a entender ou 
aceitar a mensagem, mas a adota como sua. O processo do convencimento pode ser 
desdobrado em 3: 
a) identidade ideológica; b) mobilização das emoções; c) intercâmbio intelectual. 
 
3.6.1 Identidade ideológica 
Para que o convencimento seja eficaz, um dos processos é a busca de identidade 
ideológica entre orador e interlocutor. 
Ideologia é um sistema de idéias sobre a sociedade. A maneira pela qual uma pessoa 
entende as relações entre os homens, a sua visão de mundo, os seus valores, compõe sua 
ideologia. 
 
A identidade ideológica é o processo pelo qual o orador transmite ao 
interlocutor a informação de que a sua mensagem não se incompatibiliza com a 
ideologia desse último. 
 
O profissional do direito não deve renunciar aos seus valores, adulterar sua 
ideologia, para tentar convencer o seu interlocutor. Deve, isto sim, sopesar o quanto a falta 
de identificação ideológica no caso em questão poderá influir negativamente no 
convencimento do interlocutor, para, então, procurar compensar esse desequilíbrio com 
outros recursos retóricos. 
 
Quando não for possível a identidade ideológica com o interlocutor, o orador pode 
procurar neutralizar a ideologização da discussão. 
 
Ao contrário, se há condições da identidade ideológica, o orador deve acentuá-la. 
Por exemplo: durante algum tempo, no Brasil, o homem que matava a esposa adúltera 
conseguia, muitas vezes, a absolvição baseado na tese da legítima defesa da honra. Essa 
tese tem por referencial ideológico a visão da mulher como objeto de posse do marido. 
Somente homem ou mulher com ideologia machista enxerga no assassinato do cônjuge 
adúltero a defesa de honra pessoal. A mudança do papel da mulher no mercado de trabalho 
e na família vem acarretando do desprestígio da ideologia machista. 
 
Um advogado criminalista atuando, hoje, num centro urbano de médio ou grande 
porte, não pode mais adotar sem riscos a tese da legítima defesa da honra, em matéria de 
crime passional. Isso porque, em geral, será difícil estabelecer com os jurados a identidade 
ideológica machista indispensável à tese em questão. 
 
3.6.2 Mobilização de emoções 
 
 O homem não é um ser puramente racional. As suas ações, o seu comportamento 
não se definem exclusivamente a partir de motivos da razão. Muito ao contrário, nas suas 
decisões acabam predominando, por vezes, emoções, instintos. 
 
 Cada um de nós poderá encontrar na própria vida exemplos de casos que fizemos 
sem qualquer justificativa razoável, sob o ponto de vista da racionalidade, mas a despeito 
disso, corresponde a necessidade ditadas por nossos sentimentos. 
 
 A decisão jurídica, proferida por juízes ou administradores humanos, também 
é largamente influenciada pelas emoções. 
 
 Para se ter uma idéia da importância de se levar em conta o lado irracional dos 
homens da comunidade jurídica, basta notar que nenhuma opção profissional é totalmente 
arbitrária. 
 
 Os advogados penalistas costumam ser menos rígidos, perante a vida e as outras 
pessoas, do que os juízes cíveis, por exemplo. 
 
 O interlocutor é sempre um ser humano, suas opções serão motivadas não apenas 
pela sua capacidade intelectual, mas também por sua história psicológica, seus sentimentos, 
sua postura perante a vida, pelo grau de auto estima que tiver. Se assim é, um dos recursos 
retóricos a ser levado em conta é o da mobilização das emoções. 
 
3.6.3 Intercâmbio intelectual 
 Embora seja possível o convencimento jurídico baseado apenas na identificação 
ideológica ou na mobilização das emoções, é necessário deixar bem claro que o processo 
por excelência de convencimento se realiza por meio do intercâmbio intelectual. 
 
 Portanto, embora o profissional do direito possa conhecer e manusear todos os 
recursos retóricos atuáveis no contato intersubjetivo, inegavelmente ele deve dominar, antes 
de mais nada, as técnicas de articulação e veiculação de idéias, porque o decisivo, no 
convencimento jurídico, ainda é o intercâmbio intelectual estabelecido entre orador e 
interlocutor. 
 
 
BIBLIOGRAFIA 
BARBOSA, Rui. Oração aos moços. São Paulo : Editora Papagaio, 2003. 
COELHO, Fábio Ulhoa. Roteiro de lógica jurídica. 3ª. ed. 3ª. tiragem. São Paulo : Max 
Limonad, 2000. 
MONTEIRO, Cláudia Sevilha. Teoria da argumentação jurídica e nova retórica. 2ª. ed.. 
Rio de Janeiro : Lúmen Júris, 2003. 
NUNES, Rizzatto. Manual de introdução ao estudo do direito. São Paulo: Saraiva, 2005. 
PERELMAN, Chaïm. Ética e direito. Tradução Maria Ermantina Galvão G. Pereira. São 
Paulo : Martins Fontes, 1996. 
REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 27 ed. ajustada ao novo Código Civil. São 
Paulo : Saraiva, 2002.

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