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Aula 1 - ACÚMULOS INTRACELULARES E CALCIFICAÇÃO E ENVELHECIMENTO CELULAR Objetivos específicos: Conhecer os tipo de acúmulos intracelulares Descrever os processos ligados a calcificação tecidual Entender o processo de envelhecimento celular Conteúdo: Degeneração hidrópica, proteica, adiposa e de carboidratos Calcificação metastática e distrófica Envelhecimento celular Acúmulos intracelulares ● Uma das manifestações de alterações metabólicas nas células é o acúmulo intracelular de quantidades anormais de diversas substâncias que são inofensivas ou estão associadas com graus variados de lesão. A substância pode estar localizada no citoplasma, dentro das organelas (tipicamente lisossomos), ou no núcleo, e é sintetizada pelas próprias células afetadas, ou pode ter sido produzida em outros locais. ● Existem quatro mecanismos principais que geram acúmulos intracelulares anormais: ○ Remoção inadequada de uma substância normal secundária a defeitos nos mecanismos de acondicionamento e transporte, como na degeneração gordurosa (esteatose) no fígado. ○ Acúmulo de uma substância endógena anormal como resultado de defeitos genéticos ou adquiridos em seu dobramento, acondicionamento, transporte, ou secreção, como acontece com certas formas mutantes de α1-antitripsina. ○ Falha em degradar um metabólito devido a deficiências enzimáticas hereditárias. Os distúrbios resultantes são chamados de doenças de depósito (também chamadas de doenças de armazenamento). ○ Depósito ou acúmulo de uma substância exógena anormal quando a célula não possui maquinaria enzimática para degradar a substância ou não tem capacidade de transportá-la para outros locais. O acúmulo de partículas de carbono ou sílica é um exemplo desse tipo de alteração. ● Lipídios: podem se acumular nas células. Os fosfolipídios são componentes das figuras de mielina encontradas nas células necróticas. Complexos anormais de lipídios e carboidratos se acumulam nas doenças de depósito lisossômico. ○ Esteatose (degeneração gordurosa) ■ São acúmulos anormais de triglicerídeos dentro das células parenquimatosas. ■ A degeneração gordura é mais frequente ser vista no fígado por ser o principal órgão envolvido no metabolismo lipídico, mas também a esteatose ocorre no coração músculos e rins. ■ Causa: substâncias tóxicas, desnutrição proteica, diabetes melito, obesidade e anoxia. OBS FIG: Fígado gorduroso. Esteatose hepática. Na maioria das células, o núcleo bem preservado é deslocado para a periferia junto com o citoplasma, ao redor do vacúolo de gordura. ○ Colesterol e ésteres de colesterol: a maioria das células usa colesterol para a síntese das membranas celulares sem acúmulo intracelular de colesterol ou ésteres de colesterol. ■ Aterosclerose: nas placas ateroscleróticas, as células musculares lisas e os macrófagos dentro da túnica íntima da aorta e das grandes artérias estão repletos de vacúolos lipídicos, a maioria dos quais composta de colesterol e ésteres de colesterol. ● Tais células exibem uma aparência espumosa (células espumosas), e agregados dessas células na íntima produzem os ateromas amarelos carregados de colesterol, característicos desse distúrbio grave. ● Algumas dessas células cheias de gordura se rompem, liberando lipídios no espaço extracelular. ● Os ésteres de colesterol extracelulares podem se cristalizar na forma de agulhas longas, produzindo fendas bastante características nos cortes histológicos. ■ Xantomas: o acúmulo intracelular de colesterol dentro dos macrófagos também é característico dos estados hiperlipidêmicos hereditários ou adquiridos. ● Aglomerados de células espumosas são encontrados no tecido conjuntivo subepitelial da pele e tendões, produzindo massas tumorais conhecidas como xantomas. ■ Colesterolose: este termo refere-se aos acúmulos focais de macrófagos cheios de colesterol na lâmina própria da vesícula biliar. O mecanismo do acúmulo é desconhecido. OBS FIG: Colesterolose. Macrófagos carregados de colesterol (células espumosas, seta) em um foco de colesterolose da vesícula biliar. ■ Doença de Niemann-Pick tipo C: esta doença de depósito lisossômico é causada por mutações que afetam uma enzima envolvida no transporte do colesterol, resultando em acúmulo de colesterol em múltiplos órgãos. ● Proteínas: os acúmulos intracelulares de proteína geralmente aparecem como gotículas, vacúolos, ou agregados arredondados e eosinófilos no citoplasma. À microscopia eletrônica, podem ter aparência amorfa, fibrilar ou cristalina. Em alguns distúrbios, como em certas formas de amiloidose, proteínas anormais se depositam principalmente nos espaços extracelulares. Os excessos de proteína dentro das células suficientes para causar acúmulo morfologicamente visível têm diversas causas: ○ Gotículas de reabsorção nos túbulos renais proximais: são observadas em doenças renais associadas à perda de proteína na urina (proteinúria). No rim, quantidades mínimas filtradas pelo glomérulo são normalmente reabsorvidas por pinocitose no túbulo proximal. Em distúrbios com extravasamento maciço de proteína através do filtro glomerular há um aumento da reabsorção de proteína dentro das vesículas pinocitóticas, e a proteína aparece como gotículas hialinas róseas dentro do citoplasma da célula tubular. O processo é reversível; se a proteinúria diminuir, as gotículas de proteína são metabolizadas e desaparecem. OBS FIG: Gotas de reabsorção de proteínas no epitélio tubular renal. ○ As proteínas que se acumulam podem ser proteínas normais secretadas que são produzidas em quantidade excessiva, como ocorre em certos plasmócitos envolvidos na síntese ativa de imunoglobulinas. O RE torna-se imensamente distendido, produzindo grandes inclusões eosinófilas homogêneas chamadas de corpúsculos de Russell. ○ Defeito intracelular no transporte e secreção de proteínas fundamentais: na deficiência de α1-antitripsina, mutações em que há dobramento significativamente lento de proteínas resultam no acúmulo de intermediários parcialmente dobrados, que se agregam no RE do fígado e não são secretados. A deficiência dessa enzima na circulação causa enfisema. Em muitas dessas doenças, a alteração patológica resulta não apenas da perda da função da proteína, mas também do estresse do RE causado por proteínas mal dobradas, culminando em morte das células por apoptose (ver anteriormente). ○ Acúmulo de proteínas do citoesqueleto: existem vários tipos de proteínas do citoesqueleto, incluindo os microtúbulos (20 a 25 nm de diâmetro), filamentos finos de actina (6 a 8 nm), filamentos grossos de miosina (15nm) e filamentos intermediários (10 nm). ■ Os filamentos intermediários fornecem uma armação intracelular flexível que organiza o citoplasma e resiste às forças aplicadas sobre a célula, e são divididos em cinco classes — filamentos de ceratina (característicos de células epiteliais), neurofilamentos (neurônios), filamentos de desmina (células musculares), filamentos de vimentina (células do tecido conjuntivo) e filamentos gliais (astrócitos). Os acúmulos de filamentos de ceratina e neurofilamentos estão associados com certos tipos de lesão celular. ■ A hialina alcoólica é uma inclusão citoplasmática eosinófila, característica de doença hepática alcoólica, e é composta, predominantemente, de filamentos intermediários de ceratina. ■ Os emaranhados neurofibrilares encontrados no cérebro na doença de Alzheimer contêm neurofilamentos e outras proteínas. ○ Agregação de proteínas anormais: as proteínas anormais ou mal dobradas podem se depositar nos tecidos e interferir com suas funções normais. Os depósitos podem ser intra ou extracelulares, ou ambos, e podem causar, direta ou indiretamente, alterações patológicas. Certas formas de amiloidose se enquadram nessa categoria de doenças. Esses distúrbios são algumas vezes chamados de proteinopatias ou doenças de agregação de proteína. ● Degeneração da Hialina: O termo hialina geralmente refere-se a uma alteração dentro das células ou no espaço extracelular, que confere uma aparência rósea, vítrea e homogênea, em corte histológicos de rotina corados pela hematoxilina e eosina. Ele é amplamente usado como um termo descritivo histológico, e não como um indicador específico de lesão celular. Esse aspecto morfológico é produzido por uma variedade de alterações e não representa um padrão específico de acúmulo. Os acúmulos intracelulares de proteína, descritos anteriormente (gotículas de reabsorção, corpúsculos de Russell, hialina alcoólica), são exemplos de depósitos hialinos intracelulares. ○ A hialina extracelular tem sido mais difícil de analisar. O tecido fibroso colágeno em cicatrizes antigas parece hialinizado, mas a base bioquímica dessa alteração é obscura. Na hipertensão de longa duração e no diabetes melito, as paredes das arteríolas, especialmente no rim, tornam-se hialinizadas devido ao extravasamento e depósito de proteína plasmática na membrana basal. ● Glicogênio: é uma reserva de energia prontamente disponível armazenada no citoplasma de células saudáveis. Depósitos intracelulares excessivos de glicogênio são encontrados em pacientes com uma anormalidade no metabolismo da glicose ou do glicogênio. Independentemente do contexto clínico, o acúmulo do glicogênio aparece como vacúolos claros dentro do citoplasma. O glicogênio se dissolve em fixadores aquosos; assim, ele é mais facilmente identificado quando os tecidos são fixados em álcool absoluto. A coloração com o carmim de Best ou a reação do PAS conferem ao glicogênio uma cor rosa a violeta, e a sua digestão com diástase, que hidrolisa o glicogênio, deve ser feita em outra lâmina do mesmo corte tecidual, antes da coloração, para servir como controle de atividade do corante. ○ O diabetes melito é o principal exemplo de distúrbio do metabolismo da glicose. Nessa doença, o glicogênio é encontrado nas células epiteliais dos túbulos renais, bem como dentro dos hepatócitos, células β das ilhotas de Langerhans e células musculares cardíacas. ○ O glicogênio se acumula dentro das células em um grupo de distúrbios genéticos relacionados, coletivamente denominados de doenças de depósito do glicogênio ou glicogenoses. Nessas doenças, defeitos enzimáticos na síntese ou degradação do glicogênio resultam em acúmulo maciço, causando lesão e morte celular. ● Pigmentos: são substâncias coloridas, algumas das quais são constituintes normais das células (p. ex., melanina), enquanto outros são anormais e acumulam-se nas células somente sob circunstâncias especiais. Podem ser exógenos, provenientes de fora do corpo, ou endógenos, sintetizados dentro do próprio corpo. ○ Pigmentos Exógenos ■ O pigmento exógeno mais comum é o carbono (poeira de carvão), um poluente do ar ubíquo em áreas urbanas. Quando inalado, é assimilado pelos macrófagos dentro dos alvéolos e, então, transportado através dos vasos linfáticos para linfonodos regionais na região traqueobrônquica. O acúmulo desse pigmento confere cor negra ao tecido pulmonar (antracose) e aos linfonodos envolvidos. Nos mineiros de carvão, os agregados de poeira de carvão podem induzir uma reação fibroblástica, ou até mesmo enfisema, causando, assim, uma doença pulmonar grave conhecida como pneumoconiose dos trabalhadores do carvão. ■ A tatuagem é uma forma de pigmentação exógena localizada da pele. Os pigmentos inoculados são fagocitados pelos macrófagos da derme, nos quais residem pelo resto da vida das pessoas adornadas (algumas vezes com consequências embaraçadoras para o portador da tatuagem, como quando ele namora uma Maria, mas a tatuagem diz Valéria!). Os pigmentos geralmente não despertam nenhuma resposta inflamatória. ○ Pigmentos Endógenos ■ A lipofuscina é um pigmento insolúvel, também conhecido como lipocromo ou pigmento de desgaste. A lipofuscina é composta de polímeros de lipídios e fosfolipídios formando complexos com proteínas, sugerindo que é derivada da peroxidação de lipídios poli-insaturados de membranas subcelulares. A lipofuscina não é nociva à célula ou às suas funções. Sua importância reside no fato de ela ser um sinal denunciador de lesão por radicais livres e peroxidação lipídica. O termo é derivado do latim (fuscus, marrom), significando lipídio marrom. Nos cortes histológicos, ela aparece como um pigmento castanho-amarelado finamente granular citoplasmático, frequentemente perinuclear. É observada em células que sofrem alterações regressivas lentas e é particularmente proeminente no fígado e coração de pessoas idosas ou em pacientes com desnutrição grave e caquexia do câncer. OBS FIG: Grânulos de lipofuscina em miócitos cardíacos mostrados por (A) microscopia óptica (depósitos indicados pelas setas) e (B) microscopia eletrônica (observe a localização perinuclear, intralisossômica). ■ A melanina, termo derivado do grego (melas, preto), é um pigmento endógeno com cor que varia do castanho ao negro, formado quando a enzima tirosinase catalisa a oxidação da tirosina em di-hidroxifenilalanina nos melanócitos. Para fins práticos, a melanina é o únicopigmento endógeno marrom-negro. O único outro que poderia ser considerado nessa categoria é o ácido homogentísico, um pigmento negro que ocorre em pacientes com alcaptonúria, uma doença metabólica rara. Aqui, o pigmento é depositado na pele, tecido conjuntivo e cartilagem, e a pigmentação é conhecida como ocronose. ■ A hemossiderina é um pigmento granular ou cristalino, amarelo-ouro a marrom, derivado da hemoglobina, sendo uma das principais formas de armazenamento do ferro. O ferro é normalmente carreado por uma proteína de transporte específica chamada transferrina. Nas células, é armazenado em associação com uma proteína, a apoferritina, para formar micelas de ferritina. A ferritina é um componente da maioria dos tipos celulares. Quando há um excesso local ou sistêmico de ferro, a ferritina forma grânulos de hemossiderina, que são facilmente vistos à microscopia óptica. O pigmento hemossiderina representa agregados de micelas de ferritina. Sob condições normais, pequenas quantidades de hemossiderina podem ser observadas em fagócitos mononucleares da medula óssea, baço e fígado, que estão ativamente envolvidos na degradação das hemácias. ● Os excessos de ferro, locais ou sistêmicos, causam o acúmulo de hemossiderina dentro das células. Os excessos locais resultam de hemorragias nos tecidos. O melhor exemplo de hemossiderose localizada é a equimose comum. No local da lesão, as hemácias extravasadas são fagocitadas durante vários dias pelos macrófagos, que degradam a hemoglobina e recuperam o ferro. Após a remoção do ferro, a porção heme é convertida primeiramente em biliverdina (“bile verde”) e, depois, em bilirrubina (“bile vermelha”). Em paralelo, o ferro liberado do heme é incorporado na ferritina e, finalmente, na hemossiderina. Essas conversões são responsáveis pela dramática mudança de cores vista em uma equimose em reabsorção, que tipicamente muda de vermelho-arroxeada para azul-esverdeada e para amarelo-ouro, até desaparecer. ● Quando há sobrecarga sistêmica de ferro, a hemossiderina é depositada em muitos órgãos e tecidos, uma condição denominada hemossiderose. As principais causas de hemossiderose são: (1) aumento da absorção do ferro da dieta, devido a um erro inato do metabolismo chamado hemocromatose, (2) anemias hemolíticas, em que a lise prematura das hemácias conduz à liberação de quantidades anormais de ferro, e (3) transfusões de sangue repetidas, porque as hemácias transferidas constituem uma carga exógena de ferro. Calcificação Patológica ● A calcificação patológica é a deposição anormal de sais de cálcio nos tecidos, junto com quantidades menores de ferro, magnésio e outros sais minerais. ● Há duas formas de calcificação patológica: calcificação distrófica e calcificação metastática. ○ Calcificação distrófica: quando a deposição ocorre localmente em tecidos mortos. Ela ocorre apesar de níveis séricos de cálcio normais e na ausência de alterações no metabolismo do cálcio. ■ É encontrada em áreas de necrose, sejam elas do tipo coagulativa, caseosa ou liquefativa, e em focos de necrose enzimática da gordura. ■ A calcificação quase sempre está presente nos ateromas da aterosclerose avançada. Também se desenvolve comumente nas valvas cardíacas envelhecidas ou danificadas, dificultando ainda mais a sua função ■ . Qualquer que seja o local da deposição, os sais de cálcio aparecem macroscopicamente como delicados grânulos ou grumos brancos, muitas vezes palpáveis como depósitos arenosos. Às vezes, um linfonodo tuberculoso é praticamente convertido em pedra. OBS FIG: Calcificação distrófica da valva aórtica. Vista superior da valva aórtica fechada em um coração com estenose aórtica calcificada. Ela está acentuadamente estreitada (estenose). As cúspides semilunares são espessas e fibrosadas, e atrás de cada uma estão massas irregulares de calcificação distrófica sobrepostas. ■ Embora a calcificação distrófica seja simplesmente um sinal indicador de lesão celular prévia, ela, com frequência, é causa de disfunção do órgão. Este é o caso na doença valvar calcificada e na aterosclerose. O cálcio sérico é normal na calcificação distrófica. OBS: Morfologia: Histologicamente, com a coloração de rotina de hematoxilina e eosina, os sais de cálcio exibem aparência granular, amorfa e basofílica, algumas vezes formando grumos. Podem ser intracelulares, extracelulares, ou se encontrar em ambas localizações. Com o passar do tempo, pode ocorrer a formação de osso heterotópico no foco da calcificação. Eventualmente, células necróticas individuais constituem um foco de cristalização que é ampliado pelo depósito de minerais. A aquisição progressiva de camadas externas cria configurações lamelares chamadas de corpos de psamoma (ou apenas, psamomas, do grego psammos = areia) devido à sua semelhança a grãos de areia. Alguns tipos de cânceres papilares (p. ex., da tireoide) são capazes de formar psamomas. Na asbestose, sais de ferro e cálcio se acumulam em torno das espículas delgadas de asbesto no pulmão, criando formas exóticas de halteres com contas. ○ Calcificação metastática: em contraste, é a deposição de sais de cálcio em tecidos normais e quase sempre resulta da hipercalcemia secundária a algum desequilíbrio no metabolismo do cálcio. ■ A calcificação metastática ocorre nos tecidos normais sempre que há hipercalcemia. A hipercalcemia também acentua a calcificação distrófica. ■ Há quatro causas principais de hipercalcemia: ● Aumento da secreção do paratormônio (PTH) com subsequente reabsorção óssea, como no hiperparatireoidismo devido a tumores das paratireoides, e secreção ectópica de proteína relacionada ao PTH por tumores malignos. ● Destruição de tecido ósseo, decorrente de tumores primários da medula óssea (p. ex., mieloma múltiplo, leucemia) ou metástases esqueléticas disseminadas (p. ex., câncer de mama), remodelamento ósseo acelerado (p. ex., doença de Paget) ou imobilização. ● Distúrbios relacionados à vitamina D, incluindo intoxicação por vitamina D, sarcoidose (na qual macrófagos ativam um precursor da vitamina D) e hipercalcemia idiopática da lactância (síndrome de Williams), caracterizada por sensibilidade anormal à vitamina D ● Insuficiência renal, que causa retenção de fosfato, provocando hiperparatireoidismo secundário. ● Causas menos comuns incluem intoxicação por alumínio, que ocorre em pacientes sob diálise renal crônica, e na síndrome leite-álcali, que resulta da ingestão excessiva de cálcioe antiácidos absorvíveis como o leite ou carbonato de cálcio. ■ Pode ocorrer em qualquer lugar do corpo, mas afeta principalmente os tecidos intersticiais da mucosa gástrica, rins, pulmões, artérias sistêmicas e veias pulmonares. Embora em localização bastante diferente, todos esses tecidos excretam ácido e, portanto, têm um compartimento interno alcalino que os predispõe à calcificação metastática. Em todos esses locais, os sais de cálcio morfologicamente se assemelham aos descritos na calcificação distrófica. Assim, eles ocorrem como depósitos amorfos não cristalinos ou, em outras vezes, como cristais de hidroxiapatita. ■ Em geral esses sais minerais não causam disfunção clínica, mas, ocasionalmente, o envolvimento maciço dos pulmões produz achados radiográficos e comprometimento respiratório notáveis. Depósitos maciços no rim (nefrocalcinose) podem, com o tempo, causar lesão renal. Envelhecimento Celular A humanidade vem buscando a imortalidade desde tempos imemoriais. Dizem que Toth e Hermes, divindades egípcia e grega, respectivamente, descobriram o elixir da juventude e se tornaram imortais. Infelizmente, apesar da intensa busca, esse elixir não foi encontrado em lugar nenhum. Shakespeare, provavelmente, foi quem melhor caracterizou o envelhecimento em sua elegante descrição das sete idades do homem. Começa no momento da concepção, envolve a diferenciação e maturação do organismo e suas células, em algum momento variável do tempo leva à perda progressiva da capacidade funcional característica da senescência e termina com a morte. Os indivíduos envelhecem porque suas células envelhecem. Embora a atenção pública no processo de envelhecimento, tradicionalmente, se dirija para as suas manifestações estéticas, o envelhecimento tem consequências importantes para a saúde, pois a idade é um dos mais fortes fatores independentes de risco para muitas doenças crônicas, como o câncer, a doença de Alzheimer e a doença isquêmica do coração. Talvez uma das descobertas mais impressionantes sobre o envelhecimento celular é que ele não é simplesmente uma consequência de as células “perderem as forças”, mas, na verdade, é regulado por genes que são evolutivamente conservados desde as leveduras, passando pelos vermes até os mamíferos. O envelhecimento celular é resultado do declínio progressivo da função e viabilidade celulares causado por anormalidades genéticas e acúmulo de danos moleculares e celulares devido aos efeitos da exposição a influências exógenas (Fig. 2-35). Estudos em sistemas-modelo estabeleceram claramente que o envelhecimento é influenciado por um número limitado de genes, e anormalidades genéticas embasam síndromes que lembram o envelhecimento precoce em humanos. Esses achados sugerem que o envelhecimento está associado a alterações patogenéticas definidas. Acredita-se que vários mecanismos, alguns intrínsecos da célula e outros induzidos pelo ambiente, desempenhem um papel no envelhecimento. FIGURA 2-35 Mecanismos que causam e combatem o envelhecimento celular. Danos ao DNA, senescência replicativa, e redução de proteínas ou proteínas mal dobradas estão entre os mecanismos mais bem descritos do envelhecimento celular. A detecção de nutrientes, exemplificada pela restrição calórica, neutraliza o envelhecimento pela ativação de várias vias de sinalização e fatores de transcrição. IGF, fator de crescimento semelhante à insulina; TOR, alvo da rapamicina. Dano ao DNA Uma variedade de agentes (físicos, químicos e biológicos) exógenos e fatores endógenos, tais como as ERO, ameaçam a integridade do DNA nuclear e mitocondrial. Embora a maioria das lesões do DNA seja reparada por enzimas de reparo de DNA, algumas persistem e se acumulam à medida que a célula envelhece. Várias linhas de evidência apontam para a importância do reparo de DNA no processo de envelhecimento. Estudos de sequenciamento de DNA de nova geração vêm mostrando que, em média, as células-tronco hematopoiéticas sofrem 14 novas mutações por ano, e é provável que esse dano cumulativo explique porque, como a maioria dos cânceres, as neoplasia malignas hematológicas mais comuns são doenças de idosos. Os pacientes com a síndrome de Werner mostram envelhecimento prematuro, e o produto do gene defeituoso é uma DNA-helicase, uma proteína envolvida na replicação, reparação e outras funções que necessitam do desenrolamento do DNA. Um defeito nessa enzima provoca a rápida acumulação de danos cromossômicos que imitam a lesão que normalmente se acumula no envelhecimento celular. A instabilidade genética em células somáticas também é característica de outros distúrbios nos quais os pacientes exibem algumas das manifestações do envelhecimento em taxas elevadas, como a síndrome de Bloom e ataxiatelangectasia, na qual o gene mutado codifica uma proteína envolvida no reparo da quebra do filamento duplo de DNA (Cap. 7). Senescência Celular Todas as células normais têm uma capacidade limitada de replicação, e após um número fixo de divisões, as células ficam paradas em um estado final em que não existe mais divisão, conhecido como senescência replicativa. O envelhecimento está associado com a senescência replicativa progressiva de células. Células de crianças têm a capacidade de realizar mais ciclos de replicação do que células de pessoas idosas. Acredita-se que dois mecanismos justifiquem a senescência celular: • Desgaste do telômero. Um mecanismo de envelhecimento replicativo envolve o encurtamento progressivo dos telômeros, o que acaba resultando na interrupção do ciclo celular. Os telômeros são sequências repetidas e curtas de DNA, presentes nas extremidades dos cromossomos lineares, que são importantes para garantir a replicação completa de extremidades dos cromossomos e para proteger as extremidades de fusão e degradação. Quando as células somáticas se replicam, uma pequena seção do telômero não é duplicada e os telômeros diminuem cada vez mais. Como os telômeros tornam-se mais curtos, as extremidades dos cromossomos não podem ser protegidas e são vistas como DNA quebrado, o que sinaliza para as células a interrupção do ciclo celular. O comprimento do telômero é mantido pela adição de nucleotídeos mediada por uma enzima chamada telomerase. A telomerase é um complexo RNA-proteína especializado, que usa seu próprio RNA como molde para a adição de nucleotídeos nas extremidades dos cromossomos. A atividade da telomerase é expressa em células germinativas e está presente em níveis baixos em células-tronco, mas está ausente nos demais tecidos somáticos (Fig. 2-36). Portanto, à medida que as células somáticas https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595150966/epub/OEBPS/xhtml/B9788535281637000027B.xhtml?favre=brett#f0180 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595150966/epub/OEBPS/xhtml/B9788535281637000076.xhtml#c0035 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595150966/epub/OEBPS/xhtml/B9788535281637000027B.xhtml?favre=brett#f0185 envelhecem, mais curtos ficam os seus telômeros eelas saem do ciclo celular, resultando em uma incapacidade de gerar novas células para substituir as danificadas. Por outro lado, nas células cancerosas imortalizadas, a telomerase é geralmente reativada e o comprimento dos telômeros fica estabilizado, permitindo que as células proliferem indefinidamente. Isto é discutido com mais detalhes no Capítulo 7. As relações causais entre o comprimento dos telômeros e a senescência celular foram estabelecidas em modelos animais. Camundongos geneticamente modificados com telômeros mais curtos apresentam expectativas de vida reduzidas que podiam ser restauradas ao normal pela ativação dos telômeros. Como discutido noutros capítulos, o encurtamento dos telômeros também foi associado com o desenvolvimento prematuro de doenças, tais como fibrose pulmonar (Cap. 15) e anemia aplásica (Cap. 14). FIGURA 2-36 O papel dos telômeros e da telomerase na senescência replicativa das células. O comprimento dos telômeros está plotado contra o número de divisões celulares. Na maioria das células somáticas não existe a atividade da telomerase e os telômeros encurtam-se progressivamente com o aumento das divisões celulares até a interrupção da proliferação ou até ocorrer a senescência. Tanto as células germinativas quanto as células-tronco contêm telomerase, mas somente as células germinativas têm níveis suficientes da enzima para estabilizar o comprimento dos telômeros completamente. Em células cancerosas, a telomerase é muitas vezes reativada. (Dados de Holt SE, et al: Refining the telomere-telomerase hypothesis of aging and cancer. Nat Biotechnol 14:836, 1996, MacMillan Publishers Ltd.) • Ativação de genes supressores de tumor. Além do desgaste nos telômeros, a ativação de determinados genes supressores de tumor, especialmente aqueles codificados pelo locus CDKN2A, também parece estar envolvida no controle da senescência replicativa. O locus CDKN2A codifica duas proteínas supressoras de tumor, e a expressão de uma delas, conhecida como p16 ou INK4a, está correlacionada com a idade cronológica em praticamente todos os tecidos humanos e de camundongos examinados. Ao controlar a progressão das fases de G1 a S durante o ciclo celular (Cap. 1), p16 protege as células de sinais mitogênicos descontrolados e empurra as células ao longo da via de senescência. Isso é discutido no Capítulo 7. Homeostase Defeituosa de Proteína A homeostase das proteínas envolve dois mecanismos: os que mantêm as proteínas em conformações corretamente dobradas (mediada por chaperonas) e outros que degradam proteínas mal dobradas pelos sistemas de autofagia-lisossomo e da ubiquitina-proteossomo. Há evidência de que tanto o dobramento normal de proteínas quanto a degradação de proteínas mal dobradas estão prejudicados com o envelhecimento. Os camundongos mutantes deficientes em chaperonas da família de proteínas de choque térmico envelhecem rapidamente, e, por outro lado, aqueles que possuem chaperonas em excesso vivem mais. Existem dados semelhantes para o papel da autofagia e da degradação proteossômica de proteínas. A saber, a administração de rapamicina, que inibe a via mTOR, aumenta o tempo de vida dos camundongos de meia-idade. A rapamicina tem efeitos múltiplos, incluindo a promoção da autofagia. A homeostase anormal de proteínas pode ter muitos efeitos sobre a sobrevivência, replicação e outras funções celulares. Além disso, ela pode conduzir a um acúmulo de proteínas mal dobradas, que pode desencadear as vias da apoptose. Detecção Desregulada de Nutrientes Por mais paradoxal que possa parecer, comer menos aumenta a longevidade. A restrição calórica aumenta a expectativa de vida em todas as espécies eucarióticas em que foi testada, com resultados animadores, mesmo em primatas não humanos e algumas pessoas disciplinadas que são a razão da inveja de outras! Devido a essas observações, há muito interesse em decifrar o papel da detecção de nutrientes no envelhecimento. Os parágrafos seguintes recaptulam os dois grandes circuitos neuro-hormonais que regulam o metabolismo. • A via de sinalização de insulina e do fator de crescimento semelhante à insulina 1 (IGF-1). O IGF-1 é produzido em muitos tipos de células em resposta à secreção do hormônio do crescimento pela hipófise. O IGF-1, como indica seu nome, imita a sinalização intracelular pela insulina e, assim, informa as células sobre a disponibilidade da glicose, promovendo um estado anabólico, bem como o crescimento e a replicação celular. A sinalização de IGF-1 tem vários alvos celulares; relevantes para essa discussão são duas cinases: AKT e seu alvo subsequente, o mTOR (do inglês: mammalian target of rapamycin, alvo da rapamicina em mamíferos), que, como o nome indica, é inibido pela rapamicina. • Sirtuínas. As sirtuínas são uma família de desacetilases de proteínas NAD-dependentes. Existem, pelo menos, sete tipos de sirtuínas que estão distribuídas em diferentes compartimentos celulares e possuem funções não redundantes destinadas a adaptar as funções corporais a vários estímulos ambientais, incluindo a privação de alimento e danos ao DNA. Acredita-se que as sirtuínas promovam a expressão de vários genes, https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595150966/epub/OEBPS/xhtml/B9788535281637000076.xhtml#c0035 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595150966/epub/OEBPS/xhtml/B9788535281637000155.xhtml#c0075 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595150966/epub/OEBPS/xhtml/B9788535281637000143.xhtml#c0070 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595150966/epub/OEBPS/xhtml/B9788535281637000015.xhtml#c0005 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595150966/epub/OEBPS/xhtml/B9788535281637000076.xhtml#c0035 cujos produtos aumentam a longevidade. Estes incluem proteínas que inibem a atividade metabólica, reduzem a apoptose, estimulam o dobramento de proteínas, e inibem os efeitos nocivos de radicais livres do oxigênio. As sirtuínas também aumentam a sensibilidade à insulina e o metabolismo da glicose, e podem ser alvos para o tratamento do diabetes. Acredita-se que a restrição calórica aumente a longevidade de dois modos: pela redução da intensidade da sinalização da via do IGF-1 e pelo aumento das sirtuínas. A atenuação da sinalização do IGF-1 causa a diminuição das taxas de crescimento e metabolismo celular e, possivelmente, redução do dano celular. Esse efeito pode ser mimetizado pela rapamicina. Um aumento de sirtuínas, particularmente a sirtuína-6, tem duas funções: (1) as sirtuínas contribuem para adaptações metabólicas à restrição calórica e (2) elas promovem a integridade genômica, ativando enzimas de reparo de DNA por desacilação. Embora os efeitos antienvelhecimento das sirtuínas tenham sido amplamente divulgados, ainda há muito a compreender antes de pílulas ativadoras de sirtuínas estarem disponíveis para aumentar a longevidade. Não surpreende que, amantes do vinho otimistas, deleitem-se em ouvir que um constituinte do vinho tinto ativa as sirtuínas e, assim, aumenta a espectativa de vida! As várias formas de desequilíbrios e adaptações celularesdescritas neste capítulo abrangem um amplo espectro, compreendendo: adaptações do tamanho, crescimento e funções celulares; formas reversíveis e irreversíveis de lesão celular aguda; tipos de morte celular regulada representado pela apoptose; alterações patológicas nas organelas celulares; e formas menos ameaçadoras de acúmulos intracelulares, incluindo as pigmentações. Referências são feitas a todas essas alterações ao longo de todo o livro, porque toda lesão orgânica e, no final, toda doença clínica surgem dos desequilíbrios na estrutura e função das células.
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