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Linguagem Publicitária analise e p r o d u ç ã o R E C U R S O S E X P R E S S I V O S D O O enfoque dado à linguagem nos capítulos 2 e 3, "Estrutura textu- al do anúncio" e "A estrutura do parágrafo publicitário", busca o domí- nio do processo de escrita claro, objetivo, correto gramaticalmente. Nesta parte, a linguagem é enfocada sob o ângulo da sua expressividade, do seu sentido figurado, em que "a figura é um processo produtor de sur- presa" (BRANDÃO, 1989, p.16), u m recurso imprescindível no dis- curso publicitário, principalmente no seu título e slogan, cujas fun- ções são chamar a atenção e despertar o interesse do consumidor para o produto/serviço propagado no anúncio. Esse fato está confirmado em Carvalho (1996, p. 27-34), nas en- trevistas feitas pela autora com publicitários de grandes agências de publicidade, cuja tarefa cotidiana é criar mensagens eficazes para pú- blicos específicos. Jairo Lima, diretor de criação da agência de p u b l i - cidade Italo Bianchi, Recife, explica: Para pensar uma campanha, a retórica é um recurso importante. No meu caso particular, penso qualquer mensagem como uma macrofigura de linguagem e a primeira escolha é a figura a servir de base para o texto e a imagem. A campanha pode ser pensada em termos de hipérbole, pleonasmo, metonímia ou metáfora. Após a escolha, sigo o caminho traçado: o do exagero ou da repeti- ção, ou da parte pelo todo, ou da simbologia. Quanto à escolha do vocabulário, a nível de signos, deve ser sempre simples, com termos conhecidos ou corriquei- ros. O que vai valorizá-los e ampliá-los serão as relações que se estabelecem: a polissemia, a oposição, o duplo sentido ou, às vezes, um novo sentido para um termo bastante conhecido. Roberto Duailibi, diretor da agência DPZ, também confirma: Os recursos linguísticos são bem explorados na publicidade bem-feita (...) e para que se transformem numa eficiente ferramenta de persuasão, é preciso conhecimento da língua (...) Os recursos atualmente considerados de maior efeito publicitário são a metáfora, a metonímia. O trocadilho ainda é uma grande arma. A r t e & Ciênc ia 9 7 Lucilene Gonzales Assim, conhecer, reconhecer, criar linguagem figurada e outras mecanismos expressivos é de fundamental importância na redação pu- blicitária, pois os publicitários, além do domínio da linguagem clara coerente, precisam também persuadir os consumidores com mensa- gens originais, criativas, comoventes, que se viabilizam pelo uso de fi- guras, da linguagem conotativa. Para entrar nesse campo dos recursos estilísticos da língua, o item 1 "Denotação/conotação e a ambiguidade" enfoca a natureza do signo linguístico - significado/significante -, e a partir daí, os conceitos de denotação/conotação, que geram ambiguidade no discurso publ ic i tam pelo jogo de sentidos, nos recursos da polissemia e homonímia. O enfoque desses conceitos teóricos se fundamenta principalmente em Platão & Fiorin (1990, p. 110-9), Carvalho (1996, p. 58-69) e Sandmann (1997, p. 75-76). Os conceitos sobre a linguagem conotativa estendem-se no próxi- mo item, "Figuras de linguagem", cujo conteúdo aborda os mecanismos mais frequentes em textos publicitários: metáfora, metonímia, antítese, paradoxo, prosopopéia, comparação, hipérbole, sinestesia, eufemismo ironia, quiasmo, enumeração caótica, repetição, gradação, paralelisnio sintático, paronomásia ( trocadilho) , r ima, aliteração, assonância. onomatopéia. Fundamentam esse item as gramáticas tradicionais, ezz: geral; os livros de redação, basicamente Platão & Fiorin (1990); os livros sobre linguagem publicitária, como Carvalho (1996), Sandmann (1997u Vestergaard & Schroder (1988) e Martins (1997). O item "Variação Linguística" examina a questão da variabilidade da língua portuguesa, que ocorre devido ao falante - fator geográfic: * fator sociocultural - e à situação - formal ou informal. A conscientizaçã: sobre a variação linguística constitui-se em u m recurso expressivo de grande valor para a criação do texto publicitário, pois a utilização zt linguagem regional, ou informal, ou formal, é u m ótimo mecanismo para construir mensagens coerentes e criativas. O embasamento teórico des- se conteúdo encontra-se em Camacho (1988, p. 29-37) e complemenia- se em Sandmann (1997, p. 48-51) e Platão & Fiorin (1990, p. 218-225}. O último item "Fórmulas fixas" apresenta um outro recurso expressrír muito empregado nas mensagens linguísticas dos anúncios: o uso de i lii IrfiM provérbios, frases feitas, títulos de filmes, músicas, programas de TV e outras enunciados linguísticos comuns aos emissores e aos receptores da mensaf=n» A fundamentação teórica desse mecanismo encontra-se em Carvalho (1996- 84-95), Sandmann (1997, p. 92-94) e Martins (1997, p. 60-62). 9 8 A r t e & C iênc ia Linguagem Publicitária a n á l i s e e p r o d u ç ã o D e n o t a ç ã o / c o n o t a ç ã o e a m b i g u i d a d e Nos discursos em geral, as palavras nem sempre são empregadas somente no seu sentido normal, costumeiro. Muitas vezes, elas assu- mem um significado figurado. Para entender como se constrói a significação de u m texto, é preci- so entender como se constitui a palavra, ou o signo linguístico, o qual resulta de junção de duas partes distintas, mas inseparáveis: Significante parte perceptível sons, letras Significado parte inteligível ^ conceito Por exemplo, a palavra ROSA: Significante ^ / roza / (som, letras), parte perceptível Significado flor da roseira (conceito), parte inteligível A palavra ROSA possui uma combinação de sons e letras (significante), os quais imediatamente se associam a u m conceito (signi- ficado). É, portanto, um signo linguístico. Essa relação existente entre o significante e o significado denomi- na-se denotação. "Desse modo, significado denotativo é aquele conceito que um certo significante evoca no receptor. Em outras palavras, é o conceito ao qual nos remete um certo significado" (PLATÃO & FIORIN, 1990, p. 113). Às palavras, porém, além do seu significado denotativo, podem se sobrepor significados paralelos, impressões, valores afetivos, negativos e positivos. Esses novos conceitos agregados ao signo constituem a conotação. Significado conotativo é o novo significado que se acresce ao significado denotativo da palavra; pode variar de cultura para cultura, de classe social para classe social, de época para época. No exemplo acima, o significado denotativo da palavra ROSA é "flor da roseira", mas, n u m outro contexto, essa palavra pode assumir u m outro significado: "Meu bem, você é uma rosa", cujo sentido conotativo vai ser "perfumada, delicada, bonita". A sobreposição de um sentido denotativo e de um sentido conotativo às palavras constitui u m excelente mecanismo expressivo no discurso publicitário, pois nesse recurso um significante é suporte para mais de A r t e & C iênc ia 9 9 Lucilene Gonzales u m significado, ou seja, uma mesma palavra tem vários significados. Esse fenómeno linguístico gera a ambiguidade de sentido (SANDMANN. 1997, p. 76-77), conseguida pelo uso da polissemia e da homonímia. P o l i s s e m i a A ambiguidade resulta do recurso da polissemia, que, segundo Câ- mara Jr., "é a propriedade da significação linguística de abarcar todc uma gama de significações, que se definem e precisam dentro de um contexto. Convém não confundi-la com a homonímia (1981, p. 194). propriedade de duas ou mais formas, inteiramente distintas pela signi- ficação ou função, terem a mesma estrutura fonológica (...) São, por ou- tro lado, homónimas as formas fonologicamente iguais que representam diferentes classes de vocábulos" (1981, p. 139-140). I C O L E Ç A O S O L I T Á R I O S H. S T E R N { - SE VOCÊ JÁ DECIDIU QUE ELA É A MULHER DA SUA VIDA, PONHA UMA PEDRA SOBRE ESSE ASSUNTO. l)ê para a mulher que você ama inn solitário flutuante feito em Iiga especai " de ouro I8K com técnicas avançadas | destgii exclusivo H Stern A versão aluai doclássico solitário. K também o desejo mais atual de todas as mulheres Venha co- nhecer toda coleção com solitários de diferentes quilates e preços Mndrios da falo em ouro amarelo. 0.26 quilates. CRJ ÍW.700, em miro branco. 0.28 quiiates CRJ 42.1900, Preços válidos ate 2V12A)3 para cheque ou dinheiro. Cônsul» noso preços parcelados Peças ampliadas para m<strar detalhes /̂ T̂ í̂*̂ *̂- \ compra de uma jóia I I Stern, você pode enfeitar sua garagem c o n , , , último lançamento Mercedes-Benz: o modelo Scnc *' 12 Oegance. Okm. 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O sentido denotativo da palavra "pedra", no anúncio, é o normal, real, pois é essa mensagem que se deseja expressar, ou seja, vender o produto propagado. No segundo caso, a palavra "pedra" assume o significado conotativo, já também conhecido na nossa cultura, e sugerido pelo contexto do anún- cio, pelo objetivo da mensagem: induzir emocionalmente aquele recep- tor, que pode encontrar-se na situação de namoro, noivado, a comprar o anel para formalizar um compromisso. Em outras palavras, ambos os sentidos da expressão "ponha uma pedra" - tanto o denotativo quanto o conotativo - apelam para que seu público-alvo compre o anel. A ambiguidade da expressão "ponha uma pedra" é gerada pela ex- ploração do seu sentido denotativo/conotativo. Este é u m recurso bas- tante interessante para chamar atenção do consumidor para o anúncio, porque: torna a mensagem criativa, inteligente, atraente; transmite, em uma só palavra ou expressão, dois tipos de apelo: racional - evidencian- do as características do anel (denotação) - e emotivo - mexendo com os sentimentos do consumidor (conotação) -; e, ainda, vai ao encontro da necessidade de economia da mensagem publicitária, ao sugerir dois sig- nificados em uma só expressão, o que a torna mais curta, objetiva. Martins (1997, p. 60) explica: O fato de um contexto ambíguo provocar reflexões e operações mentais no consumidor é um grande resultado para o anúncio publicitário, objeto desse contexto. Ele vai-se fixando. Trata-se de um resultado psicológico que poderá ficar no inconsciente ou con- duzir, em determinados momentos, a ações concretas, de aquisição do produto, ou de escolha. H o m o n í m i a No título da propaganda do I o Encontro Nacional dos Participan- tes dos Fundos de Pensão (p. 100), "O Fundo discutido a fundo", tam- bém há ambiguidade de sentido na palavra "fundo", resultante do recur- so da homonímia. Trata-se aqui do fenómeno da homonímia e não da polissemia, porque o termo aparece em duas funções diversas e expres- sa dois sentidos também diversos. I o ) "o fundo" é um substantivo que nomeia os Fundos de Pensão - "garantia ao cidadão na inatividade de uma renda que a previdência social sabidamente não tem condição de garantir". 2 o) "a fundo" é uma locução adverbial que indica o modo como será A r t e & C iênc ia 1 0 1 O FUNDO D I S C U T I D O A F U N D O D l ' .mos » » « * u i M M Ml HTWUMBS congaslas acoas aajraaojanaina O i h » a o « M P » m D n t f c a w c i « in&tiuiwMca de pouovc <nM KnpaiUrtBs do nottoMnva tanto no Brasloono nos p a u t s i w desamo»*» oo « M i € paa aa paa c a r a d a i o » « a w * a o » i i i c i t o M o B ^ o « F » d o » * a j H BVÍBBJÍI aja ~ÍO"*>: . MH BRBI No momento eat « N o pala buaca apenea t •B*aa»air aaiBataowBraeMaaaaaam ama da a * inanaia paa noeee nceoa* aepeoa paa os nas de t BODOS aaaoaaa PaaBj f imm •ja) I ajaMma * * poda pada aau oponurãdade de c o a r a a adamxaaapamoascaiaaaaaiaaaa « a n o Wnm coroes • »sc.' - : - -a 5 Funoada PaotoPatcejea 1* EicoMo Niciona dos F u o » oe R Alo^MWaadoEeowta^ • O l f w d o e o l P e n a t o - e i i a a É l d i louauiau, aua maaaeacao a d B M a ã % d o s 7 p â * l o larataeraeMaançaa encarne moomoos !S , i PMTKHWESDOS Lucilene Gonzales discutido o assunto, ou seja, o fundo será dis- c u t i d o "melhor , mais profundamente". A diferença exis- tente entre a publicida- de da H.Stern e dos Fun- dos de Pensão é que, nes- ta, ambos os sentidos da palavra são denotativos, isto é, a mudança dos significados na propa- ganda decorre da m u - dança da classe grama- tical da palavra. Ou me- lhor , o recurso da homonímia, gerador da ambiguidade neste anúncio, distingue-se da polissemia, pois nesta ocorre a "mesma grafia para vários sentidos", e não "vários significados para uma palavra" (CA-fc- VALHO, 1996, p. 59). A homonímia também se constitui em um mecanismo interessante para chamar a atenção do receptor, pois a repetição de uma mesma pala- vra para designar conceitos diferentes destaca, enfatiza, a ideia a ser d i - fundida, no caso, Fundos de Pensão. Para compreender a ambiguidade de sentido (CARVALHO, 199«w p. 58-69) existente nos títulos dos anúncios da H.Stern e dos Fundos de Pensão, assim como em todos os outros, é preciso levar em conta a significação contextual (PLATÃO & FIORIN, 1990, p. 112-113), los no contexto maior, ou seja, analisá-los conjuntamente com a gem, o texto, a marca, o slogan, pois é esse conjunto de elementos q vai permitir a depreensão dos vários significados existentes numa palavra ou expressão. Como já se pôde verificar, a linguagem conotativa se faz pre no discurso publicitário como um recurso de persuasão. A seguir, apresentados mais alguns mecanismos de alteração dos sentidos palavras, que acrescentam a elas um sentido figurado. • I HaMaj depaaapaanaioaali t m c u r a u m a t e u 0 o t » a w a t a c a r a * « M V M "tSS WZpXJZrZZZ? fWDOSKP&CfíO. s auati^economcae socai. w . saanade • Bcado " Caapje-araalri raraaa llaa RAAI H—J • f a a i Me mmmtm DIAS M E 2 i DC SETEMBRO • HOTEL COPACABANA PALACE RIO DE JANEIRO COMPAREÇA . cif nau earjaaNoflaB. 1 0 2 A r t e & C iênc ia Linguagem Publicitária a n á l i s e e p r o d u ç ã o F i g u r a s de l i n g u a g e m O texto publicitário se utiliza de um conjunto de efeitos retóricos, aos quais não faltam as figuras de linguagem, as técnicas argumentativas, os raciocínios. Os efeitos retóricos, para Aristóteles, "são mecanismos utilizados para se fazer algo ganhar dimensão de verdade (...), ou seja, gerar a per- suasão" (CITELLI, 1995, p. 10). Para entender a origem da Retórica, Citelli (1995, p. 7-22) explica que a preocupação com o domínio da expressão verbal nasceu entre os gregos que, praticando um certo modo de democracia, tinham de mane- jar com habilidade as formas de argumentação, na exposição pública de suas ideias. Entre os nomes célebres estavam Demóstenes, Quintiliano, Górgias, tradicionais argumentadores dos tribunais, foros, praças pú- blicas, cujos objetivos eram inflamar multidões, alterar pontos de vista, mudar conceitos pré-formados. Foi nessa época já que se criaram disciplinas para ensinar as artes do domínio da palavra: a eloquência, a gramática, a retórica. Esta última buscava especialmente a harmonia entre falar de modo convincente e elegante, "ou seja, cabe à retórica mostrar o modo de constituir as pala- vras visando a convencer o receptor acerca de dadaverdade" (CITELLI, 1995, p. 8). Com o passar do tempo, porém, a retórica foi-se desvinculando da sua preocupação com as técnicas organizacionais do discurso e com a persuasão e foi-se transformado em mero sinónimo de recursos embelezadores. Ganhou, então, até um certo tom pejorativo, devido a certas visões da retórica, como as desenvolvidas nos séculos XVII I e XIX, que não a tratavam mais como método compositivo, mas sim como o melhor enfeite, a palavra mais bela, a figura inusual, à moda do ideário estético dos parnasianos. Atualmente, os estudos retóricos recebem novas abordagens, especi- almente no que se refere às figuras de linguagem, às técnicas de argumen- tação. Segundo Citelli (1995, p. 17), reaparece aquele tópico que deseja estudar a organização discursiva a fim de apreender os procedimentos que permitem ligar a adesão de um ponto de vista àquelas ideias que lhe são apresentadas. Dessa forma, as figuras de retórica ou de linguagem são impor- tantes recursos para prender a atenção do receptor, pois dotam os discursos de mecanismos persuasivos. No texto publicitário, o es- tudo dessas figuras impl ica domínio de processos, de formas, ins- A r t e & C iênc ia 1 0 3 Lucilene Gonzales tâncias, modos de convencer o consumidor a notar o anúncio e, posterior- mente, a comprar o produto ou serviço ou aderir à ideia nele propagados. As figuras cumprem a função de redefinir u m determinado campo de informação, criando efeitos novos e que sejam capazes de atrair a atenção do receptor. São expressões figurativas que conseguem quebrar a significação própria e esperada daquele campo de palavras. A expressividade pode ser transmitida no nível fônico, gramatical e se- mântico da linguagem. N í v e l s e m â n t i c o "A estilística semântica estuda a conotação, referente ao valor afetivo ou socialmente convencional que adere à significação das palavras" (CÂ- MARA Jr., 1981, p. 110). Em outras palavras, constitui-se de mecanis- mos de alteração do sentido das palavras. São mais comumente usadas as seguintes figuras: M e t á f o r a Metáfora é a figura que consiste na alteração de sentido de uma pala- vra (ou imagem) quando entre o sentido que o termo ou imagem tem e o qmt ele adquire existe uma intersecção, pontos comuns (PLATÁO & FIORDD 1990, p. 122). Em outras palavras, no processo metafórico ocorre uma COTTT- paração implícita entre a signi- ficação própria da palavra ou imagem e o seu efeito figurado. Na metáfora, a associação entre os elementos é subjetiva (CITELLI, 1995, p. 20). Observando a imagem maior do anúncio da Parmalat, vê-se uma "moça negra" e u m "rapaz loiro". A primeira frase do texto contém a seguinte mensagem: "Chegou o café à altura do nosso leite". E, ao canto d i r e i t o da página, visualiza-se uma xícara bran- ca com café e a embalagem do p r o d u t o propagado: Café Parmalat. 1 0 4 A r t e & C iênc ia Lliiyuauom • a n á l i s e e p r o d u ç ã o A imagem da "moça negra" substitui ou significa "café". Houve essa alteração de sentido para a imagem da moça, porque, entre "negra" e "café", há uma intersecção de sentido, isto é, ambos apresentam u m tra- ço comum: a cor escura. Essa alteração de sentido denomina-se metáfo- ra. Com a imagem do "moço loiro" acontece o mesmo mecanismo: ele substitui ou significa "leite". Houve essa alteração de sentido para a ima- gem do moço, porque, entre "loiro"e "leite", há também uma intersecção de sentido, isto é, ambos apresentam um traço comum: a cor branca. A imagem da moça negra e do moço loiro, abraçados também é uma metáfora do conhecido "pingado", mistura de café com leite, bebida cul- turalmente conhecida por todos nós, pois é essa justamente a sugestão de consumo da publicidade: comprar o novo café Parmalat para mistu- rar ao "nosso leite" Parmalat. A imagem da "xícara branca com café" novamente utiliza o recurso da metáfora, pois a xícara branca simboliza o leite Parmalat; entre am- bos, há a cor branca como ponto comum. Nessa imagem da xícara estão, portanto, os dois produtos citados no anúncio: o novo café e o leite. Percebe-se também na disposição das imagens - a maior e a menor - que há uma equivalência entre ambas: a negra (café) acima do loiro (leite) e a embalagem de café acima da xícara (leite). Essa composição semelhante de imagens enfatiza, no plano não-verbal, a mensagem ex- pressa no plano verbal: "Che- gou o Café Parmalat. O café à altura do nosso leite", ou seja, destaca o lançamento do Café. A metáfora, conforme explicitado, é uma comparação implícita. Mas pode ocorrer um outro tipo de comparação nos anúncios. A publicidade ao lado é um exemplo: O título da publicidade "É como pisar nas nuvens" com- para dois elementos: andar com ténis Nike e pisar nas nuvens. Entre esses dois elementos há um ponto comum: a suavidade, o conforto, a leveza. Neste caso, não há uma A r t e & C iênc ia 1 0 5 Lucilene Gonzales metáfora, mas uma comparação explícita entre a significação própria da palavra ou imagem e o seu efeito figurado, tornado evidente pelo uso de partícula comparativa "como". Esse recurso denomina-se comparação. Comparação é, portanto, a figura que consiste em aproximar explici- tamente dois elementos com traços comuns, usando para isso partículas comparativas. As cores branca e azul utilizadas na publicidade transmitem os significados de leveza, conforto. M e t o n í m i a Metonímia é a alteração de sentido de uma palavra, expressão imagem quando entre o sentido que o termo ou imagem tem e o adquire há uma relação de inclusão ou de implicação (PLATÁO k FIORIN, 1990, p. 123). Ao contrário da metáfora, a metonímia nasce de uma relação objetiva entre a sua significação própria da palavra ou ima- gem e o seu efeito figurado (CITELLI, 1995, p. 21). O título desta publicidade anuncia que "Chegou o óleo Claris 100% girassol", mas, na ima- CHEGOU O ÓLEO CLARIS 100% GIKASSl >L gem principal, não se vê o óleo dentro da fri- gideira, que seria o previsível, e sim o gi- rassol, produto de que é feito o óleo. "Girassol", nes- se caso, s igni f i ca "óleo", porque entre o significado de am- bos existe uma rela- ção de implicação, ou melhor, "giras- sol" implica "óleo*, já que "girassol" é a matéria-prima do "óleo". Essa altera- ção de sentido é a metonímia. No anúncio em questão, foi empre- gado o recurso da ÓLEOS ESPECIAIS CLARIS u.i<f>ili.L.i. J.> .1. « i •I fio . . . n h r . i J j . I ^ i n u i ^ ^ a i p o ^ a x l r • Imp4ru> l o t . E • é% HMÍOT • J .4ud4hi l i .U. i . 1... n U n u a l f i i • u U £ iot 4 l . r n . n l . . . D«i ( L n í . . , . i / l * . , . I m óleo . 4 u J i . i l . uur v4i 1 1)4* .1 . Tl'. - 1 J r i x i r fruí • to ( o . l o . u . C U r i » ' Í 0 0 V 0 i r4 . . . > l . a .. lim : J r « l p i j i ^ u r i r £ co.14 J c U f í l D U f B i o 4br r auto 7 * . j L . r L m C U r i . 1 0 0 % C i r . « . J f%. ( U n i x unw . , .U MOCUVTI • « M i m . • • — . 1 " ; _ V 4pJB 1 0 6 A r t e & C iênc ia Linguagem Publicitária a n á l i s e e p r o d u ç ã o metonímia como um artifício para destacar a matéria-prima - girassol - essencial no produto anunciado. A cor amarela do girassol lembra a cor do óleo e sugere também energia, saúde, vitalidade, além de ser uma cor que estimula o apetite. Há vários tipos de metonímia: 1. parte pelo todo 2. produto pela matéria-prima 3. marca pelo produto 4. continente pelo conteúdo 5. autor pela obra 6. traços físicos pelo ser e outros (JAKOBSON, 1997). A n t í t e s e Antítese é o recurso que estabelece oposição entre situações, pesso- as, imagens, palavras, expressões ou quaisquer outros elementos dentro do texto. O título da publicidade (p. 106), "A pressão. A válvula.", sugere duas situações contrárias: a "pressão", simbolizada pelo relógio, que marca o tempo e corre contra as pessoas e, como consequência disso, debilita o organismo; e a "válvula", representada pelo Stresstabs, o polivitamínicoque promete repor toda a energia perdida num dia de trabalho. Como se pode notar, o anúncio tem a intenção de contrapor duas situações: uma negativa - pressão - versus outra positiva - Stresstabs. Nesse anúncio, a antítese está expressa tanto na mensagem verbal quanto na não-verbal. No plano verbal, "muito trânsito, cigarro, bebida, alimentação ina- dequada", "você está acabado", "O stress do dia-a-dia consome suas vita- minas", "o corre-corre" opõe-se a "polivitamínico com sais minerais que repõe (...) supre as deficiências provocadas no organismo pelo stress fisiológico (...) Repõe as vitaminas do complexo B, que são consumidas com o excesso de atividade e que o organismo não é capaz de armazenar, e repõe também as vitaminas C e E, que protegem as células dos radicais livres. Stresstabs contém zinco, um nutriente essencial para o metabo- lismo celular". No plano não-verbal, a positividade de Stresstabs também se ex- pressa pelo do uso das cores: o branco, que remete à tranquilidade, juventude, ao otimismo, estabilidade, opõe-se ao cinza, que transmite opressão, angústia, pessimismo, cansaço, desequilíbrio físico e mental. A r t e & C iênc ia 1 0 7 Lucilene Gonzales É evidente que, quando é utilizado o recurso da antítese, o prod anunciado sempre está no pólo positivo da oposição. Nesta publicida e em outras, a contraposição de elementos sempre objetiva enfatizar produto oferecido, no caso, Stresstabs, com características exclusiv mente positivas (CARVALHO, 1996, p. 55). A VALVUIA Excesso de trabalho, uànsito. cigano, bebido e alimentação inode auoda. No hm do dia. você esto aca- bado O stress do dtoodio consome as suas vitom-.nas Sfessabs • o párvrtorrir ruço com sois mmerais aue lepõe o que o coneccre lua UtrnuÊutii tem uma tormulo espeaot peno mpw as deliaêncios provocadas no organismo peto stress lisicJogico Repõe as vitaminas do complexe 8. que sob consumidas com o excesso de otnndade e que o orgonsme nóo é capaz de armazenar, e repõe tombem as vitaminas CeE.que protegem as cehtos do» rodr cais livres Além disso . W a t t » contém zinco, um nutriente essencial para o me STRESSTABS. Oi AS VITAMINAS PERDIDAS. • i i t r a i t á v i i ! m i m u i n i n n l i i i i i r i n l i m i n •••••!* t i t i i i i i i i t i i m • t i lut 111 I M K I I I I I I I I I I f l O I I I I • I I I I I K l t l l l l l 1 0 8 A r t e & C iênc ia Linguagem Publicitária a n á l i s e e p r o d u ç ã o P a r a d o x o Paradoxo ou oximoro é o procedimento de construção textual que consiste em agrupar significados contrários ou contraditórios numa mesma unidade de sentido. O que distingue o paradoxo da antítese é que nesta os elementos contrários não são simultâneos, naquele o são" (PLATÁO & FIORIN, 1990, p. 130). Observando o título " U m grande TV não precisa mais ser u m TV grande" e o slogan "Grandes televisores em todos os tamanhos" da pu- blicidade dos TVs Philips, percebe-se que existem elementos opostos entre si: grande TV (televisor de qualidade) x TV grande (TV de maior extensão); grandes televisores x televisores em todos os tamanhos. Mas a oposição existente, neste anúncio, não segue o mesmo pro- cesso do anúncio anterior do Stresstabs, cujo objetivo é mostrar a oposi- ção de dois elementos ou fatos opostos, em que cada u m tem caracterís- ticas próprias e diferentes. Na publicidade da Philips, a valorização da relação de antonímia gera u m paradoxo, devido ao uso concomitante de ideias que se excluem (CARVALHO, 1996, p. 57), ou seja, nela aparecem elementos simultâneos que se opõem, que coexistem um ao lado do outro: u m TV é grande e pequeno ao mesmo tempo, e pode ser grande em todos os tamanhos (até pequeno). Esse recurso expressivo denomina-se paradoxo ou oximoro. A r t e & C iênc ia 1 0 9 Lucilene Gonzales Ao afirmar, na publicidade anterior, que os televisores pequenos são grandes, e que a Philips oferece grandes televisores em todos os tama- nhos, a intenção do publicitário é ressaltar que até os televisores de 14 polegadas da Philips têm a mesma qualidade, tecnologia, design dos tele- visores de 28, 21, 20 e 16 polegadas. Em outras palavras, o mecanismo do paradoxo, nesse anúncio, des- taca ao consumidor, com uma combinação de elementos aparentem te contraditórios, características positivas do produto propagado. P r o s o p o p é i a Prosopopéia ou personificação é o recurso expressivo que consiste atribuir qualidades ou acontecimentos próprios do ser humano a persona- gens não-humanos (animais, plantas ou coisas). A primeira página da publicidade abaixo apresenta como título de tirar o fôlego" e a imagem de três peixinhos no mar. Na segunda pági- na, aparece outro título "Fiat Palio Weekend. Finalmente tem novidade na sua praia" e a imagem do automóvel anunciado numa praia, com o mar ao fundo. Em ambos, a linguagem conotativa está presente. E, entanto, na primeira página da publicidade da Fiat que se nota a atribui- ção de características humanas aos peixes, pois eles parecem surpreso» com a passagem do novo carro pela praia, e também hipnotizados, apaixonados pelo automóvel. Esse recurso expressivo recebe o n o m e t B prosopopéia ou personificação. 1 1 0 A r t e & C iênc ia Linguagem Publicitária a n á l i s e e p r o d u ç ã o O anúncio da Fiat transfere para os peixes os sentimentos que as 'pessoas experimentam, ao ver o lançamento da Fiat. Esse mecanismo expressivo de transferir sentimentos, atitudes humanas aos animais é comum na publicidade, porque a torna mais zativante para os consumidores e exalta as qualidades do produto apre- sentado (SANDMANN, 1997, p. 89). Há, na mensagem não-verbal, a mesma utilização de cores na primeira e segunda página: os peixes são vermelhos assim como o carro; o fundo de ambas as imagens é azul - o céu e o mar da praia. O azul da imagem do mar, do céu da praia remete à informação de que esse carro comporta o passeio de férias de toda a família, ou seja, lembra espaço, viagem. Isso está expresso na frase do título "Finalmen- te tem novidade na sua praia", em que a palavra praia tem duplo senti- do, é polissêmica: denotativãmente, significa "orla da terra, coberta de areia que confina com o mar"; conotativamente, significa "no mercado de automóveis, na sua concessionária Fiat". O vermelho presente na imagem do peixe e do carro remete à ideia de paixão das pessoas pelo novo carro, emoção e alegria comunicativa do consumidor, ao adquiri-lo. Esses significados expressos pelo uso das cores vêm reforçar os já transmitidos pelo uso da prosopopéia: a paixão dos peixes, ou melhor, das pessoas pelo Palio, u m novo carro para viagens com a família. A r t e & C iênc ia 1 1 1 Lucilene Gonzales Pode ocorrer também o processo contrário, ou seja, pode-se atri- buir qualificações, características próprias dos seres inanimados a per- sonagens animados. Veja o anúncio a seguir: O seu título anuncia "Envolver os homens está ficando muito difí- c i l " e a imagem mostra um homem que se tornou u m cacto, com todas as características dessa planta: áspero, difícil de tocar, espinhoso. Reificação é, portanto, o mecanismo expressivo em que se atribm- em qualificações ou eventos próprios dos seres inanimados a persona- gens animados (homens ou animais). A publicidade do Dilly usou esse recurso para causar estranhamento e, consequentemente, mostrar às mulheres que, estando os homens tão sem sentimentos e difíceis de envolver, só mesmo usando sapatos Di l l r para alcançá-los ou chegar até eles. H i p é r b o l e Hipérbole é o recurso expressivo que intensifica, exagera o que, na verdade, é mais atenuado. Relacionando o título da publicidade "Use Grendha. E tenha todos os homens aos seus pés" à sua imagem - três atores jovens e famosos - e ao produto propagado - sandálias femininas -, observa-se que há u m exagero da realidade. 1 1 2 A r t e & C iênc ia Linguagem Publicitária a n á l i s e e p r o d u ç ã o t e n ha t o d o s os homens aos seus p é s . No caso da Grendha, há um exagero nos efeitos que o uso da sandá- lia vai surtir, ou seja, a publicidade sugere que, se as mulheres usarem as sandálias dessa marca, vão conquistar todos os homens, inclusive os mais famosos. Novamente, trabalha-se com argumentos racionais - ima- gem da sandália - e argumentos emotivos - promessa da conquista até dos galãs da TV. Vestergaard & Schroder (1988, p. 57-58) afirmam ser esse recurso expressivo muito comum em títulos publicitários, pois, exagerando em qualquer aspecto referente ao produto, o anúncio desperta a atenção do consumidor. Uma variante da hipérbole é a promessa de brindes grátis ou desconto no preço. O exagero linguístico é denominado, por Carvalho (1996, p. 69-73), intensificadores. Esse mecanismo manifesta-se por advérbios, adjetivos e locuções adverbiais, gradação de nomes e sua repetição. O intensificador denota u m ponto alto ou baixo na escala de qualidade que está sendo descrita, ou seja, produz o efeito de ampliação ou d imi - nuição em algumas unidades da frase. Classificam-se em enfatizadores, amplificadores e moderadores. Os enfatizadores expressam-se pelos advérbios de modo para re- forçar o descrito: honestamente, claramente, definitivamente, segura- mente. Por exemplo: 'Finalmente! Uma coleção inteiramente NOVA de lindas roupas e lingeries' (VESTERGAARD & SCHRODER, 1988, p. 57). A r t e & C iênc ia 1 1 3 Lucílene Gonzales Os amplificadores são os superlativos: o melhor, o mais, o máximo, completamente; e os advérbios, adjetivos, comparações, exclamações, repetições: indispensável, incomparável, Por exemplo: "Maggi. Maggi. Você faz mais gostoso com Maggi", "Veja. Indispensável", "Golf. O mais perfeito", "Bel Cook. Todo mundo usa", "Wick Bold. O nome do pão. pão, pão, pão". Os moderadores são os intensificadores que menos interessam à publicidade. São eles: conciliadores - mais ou menos, uma espécie de -; minimizadores - dificilmente, no mínimo -; aproximadores - quase. aproximadamente, praticamente -; e diminuidores - parcialmente, mo- deradamente. Por exemplo: 'Usar produtos de qualidade numa lingerie é no mínimo uma delicadeza. Simetria Têxtil. Para criar qualidade", em que o minimizador "no mínimo" explora uma forma diferente de destacar as qualidades do produto (CARVALHO, 1996, p. 71). Os intensificadores que raramente aparecem nos anúncios são os mode- radores, "quando se quer atenuar os aspectos negativos do produto ou os posi- tivos do concorrente. O enfatizadores e os amplificadores, porém, são larga- mente utilizados para intensificar os aspectos positivos do produto apresento! do" (CARVALHO, 1996, p. 70). Outra forma de intensificar é a utilização de sufixos aumentativos* diminutivos: "A criança pescou direitinho a Coleção PUC"; "Qualquer paizão é maluco por chocolates". S i n e s t e s i a Sinestesia é o me- canismo estilístico que consiste em reunir, numa só unidade, ele- mentos designativos de sensações relativas a di- ferentes órgãos dos sen- tidos (PLATÃO & FIORIN, 1990, p. 132). No t í tulo deste anúncio "A Oxford aca- ba de inventar um tem- pero que se come com os olhos", há uma associ- ação de diferentes ór- 1 1 4 A r t e & C iênc ia Linguagem Publicitária a n á l i s e e p r o d u ç ã o gãos dos sentidos: "olhos"- sensação visual - e "come" - sensação do paladar. O recurso da sinestesia, combinando a sensação visual e o paladar, tem o efeito de aguçar a vontade dos leitores/consumidores para adqui- rir o produto apresentado na publicidade, ou seja, se alimentar de uma forma bonita. 0 uso das cores confirma os significados expressos pelo uso da sinestesia: o vermelho e o amarelo das flores ao fundo despertam o ape- tite; o azul, combinado com o preto da imagem da louça, tem u m efeito de algo que está se aproximando de quem vê, está se lançando nas mãos do consumidor, para que seja adquirido logo. Na linguagem publicitária é comum, além da associação de sons, cores, cheiros, gostos, texturas e múltiplos estados de espírito, a combi- nação inusitada de palavras ou imagens até então não justapostas, como, por exemplo, "Lavoura de energia ... e nesta terra em se plantando tudo dá", publicidade em que a Siemens associa a fertilidade da lavoura bra- sileira à disseminação de recursos energéticos que priorizam o homem e o meio ambiente. Essa associação curiosa desperta a atenção do leitor para a mensagem do anúncio. Outro exemplo recente de mensagem publicitária televisiva que emprega o recurso da sinestesia é a da Coca-Cola: "Respire futebol. Coma futebol. Beba Coca-Cola", cuja funcionalidade está no efeito curioso da associação de sensações diferentes para, finalmente, chegar à associa- ção desejada pelo anúncio: o apelo ao consumo do produto. 1 r o n i a Ironia é o mecanismo em que se afirma alguma coisa que na ver- dade se quer negar. Nesse caso, deve-se entender o que se disse como o contrário do que está dito ou representado na imagem. Na publicidade do Prever/ Unibanco (p. 114), o título "E aí, ga- rotão, que tal fazer u m Prever?" refere-se ao consumidor como garo- tão, mas mostra na imagem u m menino que não é mais tão jovem, pois já tem cabelos brancos. Há, portanto, nesse anúncio, u m con- f l i to entre a mensagem linguística e a imagem. O título da publicidade afirma que o seu consumidor-alvo é jovem, mas, ao mostrar, na imagem, um menino "envelhecido" nega o que a própria mensagem está afirmando. Com isso, deseja que o receptor en- tenda o significado da mensagem como o contrário do que está sendo dito: você não é mais tão jovem quanto pensa ser, por isso deve fazer u m plano de previdência privada Unibanco. A r t e & C iênc ia 1 1 5 Com o mecanismo da ironia, esse anúncio pretende despertar a atenção do consumidor para um fato que realmente acontece, mas ele não admite: a aproximação da velhice e, consequentemente, a necessi- dade de adquirir um plano de aposentadoria, no caso, Prever Unibanco. O uso das cores preta e cinza remete à velhice sem proteção de um plano de previdência, tristeza e decadência do poder aquisitivo, aborre- cimentos, confirmando assim os significados expressos na mensagem linguística. E u f e m i s m o Eufemismo é o artifício linguístico utilizado para atenuar aquilo que de fato teria uma intensidade maior, ou seja, há uma troca de nomes (CITELLI, 1995, p. 30-32) para tornar o discurso menos agressivo, cho- cante. Segundo Benveniste, o eufemismo pode traduzir dois opostos: d i - zer palavras de bom augúrio ou guardar silêncio. O eufemismo é u m subs- tituto inofensivo e eventual da palavra tabu (...) que seriam os de medo - entidades e temas sobrenaturais -, de delicadeza - relacionados a doença» morte, cor, estrato social - e de decência - ligados a sexo, atos fisilógicos e partes do corpo (CARVALHO, 1996, p. 49-50). Nas quatro publicidades a seguir, percebe-se que foram evitadas pa- lavras que expressam fatos e tabus desagradáveis ou pejorativos: velhice - 1 1 6 A r t e & C iênc ia Linguagem Publicitária a n á l i s e e p r o d u ç ã o Natura -; atos fisilógicos - O.B. (p. 116) -; morte - Banespa (p. 116); e sexo - Triumph (p. 117)-, ou seja, foram utilizadas palavras ou frases positivas e inofensivas para evitar uma realidade desagradável ou u m tabu. A mensagem publicitária sobre o creme Chronos da Natura é u m exemplo de eufemismo ligado ao tabu de delicadeza, pois aborda a ve- lhice, utilizando uma linguagem velada, ténue. Na embalagem, não se usa a palavra rugas, mas "anti-sinais"; no texto, afirma-se que sua pele precisa de firmeza, mas não explicita que a leitora esteja velha; na ima- gem, as mulheres, apesar de não serem jovens, parecem muito felizes, satisfeitas. A publicidade sobre o absorvente íntimo O.B., que aborda as fun- ções fisiológicas femininas, assim como os anúncios sobre fraldas de bebés e de adultos, ligadas ao tabu de decência, constrói-se com eufe- mismos: as palavras e ascores referentes ao fenómeno fisiológico em questão - menstruação - jamais aparecem nesses anúncios. Geralmente substitui-se esse termo por "f luxo" , como é o caso da publicidade, "na- queles dias", incomodada"; e as cores usadas são o azul claro, o branco, ou cores claras. O tema da morte, ligado ao tabu de delicadeza, é abordado no anún- cio do Seguro de Vida Banespa, por meio de uma linguagem metafórica, que tem como base o eufemismo: a incerteza da duração da vida humana é simbolizada pelo palhaço fazendo malabarismo na corda bamba, ou A r t e & C i ê n c i a ! 1 1 7 Lucílene Gonzales M L dançar I o d a s a s o u t r a s d a v i d a o b , f o i •do p o r u m a m e d i c a Que c o n h c e c o m o Q i u i i u V a i ^ - M l t ma\s n i t r i s . ! , vlv não . n u m - c e seja, em ambas as situações pode acontecer u m imprevis- to. Para expressar essa incer- teza da existência humana, a mensagem verbal também ut i - l iza uma palavra posi t iva : brincadeira. A positividade também está configurada no uso das cores, já que apare- cem apenas as que expres- sam energia, vigor - vermelho -, paz, inf inito - azul -, enfim, cores substitutas do preto, que significa morte. O título da publicidade das lingeries Tr iumph abor- da o tabu de decência, ligado a sexo, também com base em linguagem eufemística: a pa- lavra " tudo" define ambigua- mente o que não pode ou não oh 1 1 8 A r t e & C iênc ia Linguagem Publicitária a n á l i s e e p r o d u ç ã o deve ser nomeado claramente (CARVALHO, 1996, p. 54). Neste título "No íntimo, toda mulher sabe que quase nada é quase tudo", empregam- se também os recursos linguísticos da antítese - nada x tudo - e da metonímia - "quase nada" implica lingerie. No plano não-verbal, a lingerie vermelha, conotando sexo, excitabilidade, contrasta com o corpo de mulher da cor azul ao fundo, significando afeto, fidelidade, novamente para atenuar o conteúdo referente a sexo, sugerido na mensagem. Essas quatro publicidades são exemplos de como o eufemismo é u m mecanismo expressivo que se encaixa perfeitamente aos propósi- tos da mensagem publicitária, pois, pela substituição de termos, ima- gens, cores, esse recurso torna qualquer tema pejorativo - a morte, a velhice, atos fisiológicos e outros - em fatos positivos, por meio de mensagens prazerosas, otimistas. U m outro exemplo de linguagem eufemística é o seguinte. Toda publicidade tem como finalidade última levar à ação, ou seja, fazer o consumidor comprar determinado produto ou serviço. "Compre X" é o apelo mais direto à ação que vem à mente, mas tem sido muito raro nos anúncios. Essa tendência pode ser atribuída às conotações desagradá- veis desse verbo. E de vital importância para o publicitário que ele não pareça estar se impondo ao seu público, pois, se o leitor sentir que o anúncio está muito forçado, talvez reaja negativamente à mensagem ou simplesmente a ignore. Esse é o grande problema do publicitário: indu- A r t e & C iênc ia 1 1 9 Lucilene Gonzales bém para o ritmo, c a d ê n c i a , m u s i c a l i d a d e das mensagens (MARTINS, 1997, p. 57) que, associ- adas ao contexto do anúncio, suge- rem repetições de gritos, risadas de crianças . No slogan, "E divertido vestir", a disposição visual já indica a pronún- cia da frase, ou seja, o seu ritmo, deter- minado também pela repetição das vo- gais /e / e /i / - assonância -, da repeti- ção das consoantes / v/ e/ r/ - aliteração - e da repet i ção das consoantes cognatas / d / e/ t / - co l i t e ração (MARTINS, 1990, p. 57), que também reforçam a significação expressa pela marca: continuidade de movimentos, sons estridentes, alegres. R i m a A rima, de modo geral, é a repeti- ção regular de sons, seja no final de ver- sos diferentes, seja no interior do mes- mo verso, seja na mesma posição, seja em posições variadas. No anúncio dos Correios, a rima aparece no seu título e no seu slogan. "Encomenda é Sedex. O resto é papo furex." é o título do anúncio, em que as palavras "Sedex" e "furex" têm como função insinuar que os termos rimados têm u m significado maior na compreensão da mensagem, pois a rima é usada para destacar justamen- te o serviço propagado no anúncio: Sedex. No slogan, "Mandou, chegou.", a rima indica que os significados das pa- lavras rimadas se aproximam. ENCOMENDA É SEDEX. PRESIDE RAPO FUREX. ENTREGA NAS CAPITAIS NO DIA SEGUINTE. C J C O R R C I C K 1 2 2 A r t e & C iênc ia Linguagem Publicitária a n á l i s e e p r o d u ç ã o A l i t e r a ç ã o Aliteração é a repe- tição da mesma conso- ante ou de consoantes similares ao longo da frase. Assonância é o nome que se dá à repeti- ção da mesma vogal ao longo de um verso ou do poema. Coliteração é a relação existente entre fonemas consoantes aparentados. N o a n ú n c i o da Yopa, observa-se, no títu- lo "Crocante, crocante, muito crocante. Faz até a terra t remer . " , a aliteração, isto é, o uso repetido do / r /, fonema vibrante, e do encontro consonantal / cr / para insinuar o prolongamen- to do som forte emitido pelos ingredientes crocantes do sorvete anun- ciado; e também o uso da consoante / t / - oclusiva, para sugerir o ritmo constante desse som ou a constância da degustação do sorvete pelo consumidor. Ainda no título, há a assonância, ou seja, o uso repetido das vogais /o/, / a/, lei- letras presentes na marca do produto anunciado: Coupe Gourmande/ Crocante e Creme - para reforçar, fixar esse nome. Como se percebe, a aliteração, a assonância e a coliteração "esta- belecem correspondência agradável dos sons e efeitos fônicos com as ideias expressas na frase ou texto, e constituem-se fatos expressivos sonoros que trazem harmonia i m i t a t i v a e associação de ideias" (MARTINS, 1997, p. 56). É importante perceber que a associação de ideias também se ex- pressa no uso das cores: as letras do título aparecem na cor azul, uma das cores do logotipo da Yopa, também para induzir à lembrança do produto anunciado pelo consumidor. A r t e & C iênc ia 1 2 3 Lucilene Gonzales O n o m a t o p é i a Onomatopéia é a figura em que o plano da expressão (o som) de uma palavra ou sequência de palavras lembra aquilo que elas representam. O anúncio do C i t i b a n k se u t i l i z a da onomatopéia no seu títu- lo "Cuidado. Nesta época do ano os anúncios estão cheios de ding dings, blén bléns e ho ho hos. Mas o que eles querem mesmo é o seu 13°.", em que as pa- lavras "ding dings, blén bléns" lembram o som do sino de Natal, e as pala- vras "ho ho hos" represen- tam a risada do Papai Noel. A onomatopéia, nes- te anúncio, torna a men- sagem original com o ob- jetivo de despertar a aten- ção para a mensagem. Em entrevista com Adriana Falcão e André Laurentino - publicitári- os na época da agência de publicidade Italo Bianchi, em Recife -, Carvalho (1996, p. 31-32) pergunta-lhes se os recursos fanicos, ritmo e rima, fazem parte do seu elenco de escolha. A resposta dos publicitários é a seguinte: Evidentemente, sobretudo o ritmo. Ele é determinante para o slogan televisiva A rima, hoje em dia, raramente é usada, mas ainda pode ajudar como processe mnemónico. Já a aliteração, a assonância, a coliteração são utilizadas mais frequentemente, porque, apesar de menos notadas, conscientemente, são per- cebidas a nível do insconsciente, tornando mais agradável a frase e dando maior musicalidade aos seus contornos fonéticos. N í v e l G r a m a t i c a l Em textos publicitários, pode-se perceber o emprego de alguns re- cursos gramaticais para conseguir bons efeitos de sentido. A exploração do nível gramatical da língua, como a incidência de determinadas clas- ses de palavras ou de determinadas construções sintáticas, a maneira I N V E S T I M E N T O S Cuidado. Nesta época do ano os anúncios estão cheios de ding dings, blén bléns e ho ho hos. Mas o que eles querem mesmo é o seu 13 9. Rifado, traga o leu 13" saláriopara o Cit ibank antes que ele seia seduzido por uma dessas comoventes ofertas de Km de ano Aqu i ele será t ra tado c o m a competência e a transparência de uma equipe de profissionais especializados que estará sempre a disposição para indicar a me lho r o p ç i o para suas aplicações.* E você n i o precisa se r c o r r e n i i s t a . Ligue já para o C i t i bank . antes m e s m o de v i ra r a página. 0 8 0 0 - 1 3 - 2 4 8 4 . CIT1BAN<0 THE C I T I NEVER SLEEPS 1 2 4 A r t e & C iênc ia Linguagem Publicitária analise e p r o d u ç ã o de organizar as palavras no texto, podem resultar em uma expressão original das ideias e chamar a atenção para a mensagem transmitida nos anúncios.Os mais comumente utilizados são: G r a d a ç ã o Gradação é a disposição de uma série de elementos numa progressão crescente, do menos para o mais enfático. Esse recurso é utilizado com in- tenção de conferir destaque ao último elemento da enumeração, concen- trando nele a maior força semântica. P a r a l e l i s m o s i n t á t i c o Paralelismo sintático é a combinação de palavras em estruturas sintáticas que se repetem ao longo do texto. Neste recurso, as palavras mudam, mas a construção sintática permanece, como, por exemplo, o mesmo tipo de sujeito seguido do mesmo tipo de verbo com o mesmo tipo de complemento, uma combinação semelhante de substantivo e ad- jetivo, etc. O paralelismo sintático pode ser utilizado para mostrar que os significados transmitidos pelas construções paralelas mantêm entre si algum tipo de simetria ou assimetria. A publicidade da Antartica, no seu título "A garrafa é bronze. O rótulo é prata. O líquido é ouro", emprega esses dois recursos: t BIONZE. 0 ROTULO í PRATA, 0 LÍQUIDO E OURO. P A I H O i * r i • » a i A r t e & C iênc ia 1 2 5 Lucilene Gonzales 1. a repetição da mesma construção sintático em todas as três fra- ses, mas com mudança das palavras, ou seja, há sempre o mesmo tipo de sujeito - a garrafa, o rótulo, o líquido (artigo+substantivo) -, o mesmo tipo de predicado - é (verbo de ligação)-(-bronze, prata, ouro (predicativo do sujeito), todos predicado nominal. O recurso do paralelismo sintáti- co empregado nesse título tem a intenção de destacar a semelhança nas mensagens transmitidas, isto é, de reforçar as qualidades do produto propagado na mente do consumidor. Por isso, o uso constante do predicativo, que expressa os pontos positivos da cerveja. 2. a disposição gramatical de dois conjuntos de palavras - garrafa, rótulo, líquido e bronze, prata, ouro - numa progressão crescente, que vai do menos para o mais significativo. O elemento mais importante na primeira sequência é "líquido" e, na segunda, é "ouro". O mecanismo da gradação é utilizado nessas duas sequências de palavras para culminar com as palavras "líquido"- produto anunciado - e "ouro" - sua metáfora - ideias mais significativas da mensagem publicitária. R e p e t i ç ã o A repetição consiste em reiterar (repetir) palavras ou orações para inten- sificar ou enfatizar a afirmação ou suge- rir insistência, pro- gressão ( SAVIOLI , 1990). No t í tulo da propaganda do go- verno "Ler é viver / Ler é prazer / Leia leia leia mais" , no subtítulo "Leia Leia Leia Leia Leia Leia Leia Leia Leia Leia Leia Leia Leia Leia Leia Leia Leia Leia Leia Leia Leia Leia Leia Leia Leia Leia" •' v ler é viver ler é prav*.zer le ia TÊ leia leia mais. M i n i s t é r i o M i n i s t e n c d o Educcx jòo cia e d o D e s p o r t o C u l t u r a l i W H 1 2 6 A r t e & C iênc ia Linguagem Publicitária a n á l i s e e p r o d u ç ã o e no slogan "Quem lê, viaja", constata-se o emprego de dois recursos gramaticais: 1 . a repetição do mesma construção sintático, nas duas primeiras orações, "Ler é prazer/Ler é viver", mas com mudança da última palavra. Em ambas, repete-se o mesmo sujeito - ler - e o mesmo tipo de predicado - é (verbo de ligação)-!-viver (predicativo do sujeito), ambos utilizando predicado nominal. O recurso do paralelismo sintático empregado nes- se título tem a intenção de indicar que se trata da mesma mensagem, isto é, de difundir as qualidades do hábito da leitura. 2. a repetição da mesma ideia "ler", no título (5 vezes), no subtítulo (26 vezes) e no slogan (1 vez). Ao todo, a mensagem que se quer transmi- tir repete-se 32 vezes em todo o texto. Nessa e em outras propagandas, a repetição "significa a possibilida- de de aceitação pela constância reiterativa. Goebbels, o teórico da propa- ganda nazista, apregoava que uma mentira repetida muitas vezes era mais eficiente que uma verdade dita uma única vez " (CITELLI, 1995, p. 48). Qster P a r o n o m á s i a o u t r o c a d i l h o Paranomásia é a aproximação de termos parecidos pela sonori- dade, mas não pelo sentido. No título da publicida- de Oster, "Além de resisten- tes são também irresistíveis", há o uso de uma outra figura gramatical: paronomásia ou trocadilho. Nessa mensa- gem, há um jogo de palavras parecidas sonoramente, mas com significados diferentes: "resistentes" / "irresistíveis". Nesse anúncio, o trocadilho produz um bom efeito de sen- t ido, pois a aproximação fônica das palavras chama a atenção para duas qualida- des diferentes do produto: são duráveis e facilmente ou t e n t a d o r a m e n t e consumíveis. Alem de resistentes são também irresistíveis. ~ D . . . «»•» . O l l f . • • • I . U . . . I I - . , A r t e & C iênc ia 1 2 7