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MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO 1 CAP. EDITORES Fábio Bagnoli Professor Instrutor Doutor da Faculdade de Ciências Médicas Santa Casa de São Paulo Assistente do Setor de Mastologia da Santa Casa de São Paulo Membro das Comissões do TEMA e Oncoplastia da SBM (2017-2019) Secretário da SBMSP (2017-2019) Fabrício Palermo Brenelli Coordenador da Divisão de Mastologia do Hospital BP: A Beneficência Portuguesa de São Paulo Mastologista da Divisão de Oncologia Mamária da Unicamp. Responsável pelo Serviço de Reconstrução Mamária Coordenador Científico do Instituto de Mama de Campinas (IMAMA) José Luiz Pedrini Mestre e Doutor em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. Chefe do serviço de Mastologia dos Hospitais Nossa Senhora da Conceição e Ernesto Dorneles Presidente do Conselho do Grupo da mama Conceição Ruffo de Freitas Júnior Professor Associado da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás. Médico titular do Hospital Araújo Jorge da Associação de Combate ao Câncer em Goiás – ACCG, Goiânia, Goiás Vilmar Marques de Oliveira Professor Adjunto Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo Chefe do Setor de Mastologia da Santa Casa de São Paulo Vice Presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia (2017-2019) FÁBIO BAGNOLI FABRÍCIO PALERMO BRENELLI JOSÉ LUIZ PEDRINI RUFFO DE FREITAS JÚNIOR VILMAR MARQUES DE OLIVEIRA Goiânia - Goiás Conexão Propaganda e Editora 2017 MASTOLOGIA DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO PREFÁCIO É com enorme prazer que escrevo o prefácio deste e-book elaborado pela SBM em prol de todos os associados. Do diagnóstico ao tratamento vem ao encontro do desejo da Mastologia Nacional em busca de uma orientação rápida e qualificada, escrito por importantes referências da nossa especialidade. A praticidade e objetividade foram o que mais me chamou a atenção. Nosso especialista tem hoje uma ótima opção de recurso para auxilia-lo na resolução da maioria das dúvidas. Importante ressaltar que este e-book foi elaborado na gestão de nosso Amigo Ruffo de Freitas Jr. e está sendo lançado na atual gestão do também Amigo Antônio Frasson, mostrando a integração que a Mastologia precisa vivenciar porque afinal de contas a Mastologia é para Todos e nosso principal objetivo é você Mastologista. Boa leitura Carlos Alberto Ruiz Presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia (2011-2013) EXPEDIENTE PROJETO GRÁFICO, DIAGRAMAÇÃO E PUBLICAÇÃO: CONEXÃO PROPAGANDA E EDITORA LTDA M423 Mastologia : do diagnóstico ao tratamento [livro eletrônico] / Fábio Bagnoli ... [et al.]. – Goiânia : Conexão Propaganda e Editora, 2017. 648 p. : il ; ePUB Bibliografia ISBN: 978-85-68764-06-0 1. Mastologia. 2. Mastologia – diagnósticos. 3. Mastologia - tratamento. I. Bagnoli, Fábio. CDU 618.19 Índice para catálogo sistemático 1 Mastologia.................................................................618.19 A elaboração do EBOOK seguiu o uso da medicina baseada em evidência para categorização dos trabalhos citados nos capítulos (grau de recomendação e força de evidência), utilizando-se a classificação proposta pela Associação Médica Brasileira (AMB, http://www.amb.org. br) transcrita abaixo: A: Estudos experimentais ou observacionais de melhor consistência (meta-análises ou ensaios clínicos randomizados); B. Estudos experimentais ou observacionais de menos consistência (outros ensaios clínicos não-randomizados ou estudos observacionais ou estudos caso-controle); C. Relatos ou séries de casos (estudos não-controlados); D. Opinião desprovida de avaliação crítica, baseada em consensos, estudos fisiológicos ou modelos animais. NÍVEIS DE EVIDÊNCIAS ÍNDICE CAPÍTULO 1 | EXAME FÍSICO E RASTREAMENTO CLÍNICO .....................................................................................................13 CAPÍTULO 2 | RASTREAMENTO IMAGINOLÓGICO ........................................................................................................................19 CAPÍTULO 3 | DIAGNÓSTICO MAMOGRÁFICO ................................................................................................................................25 CAPÍTULO 4 | ULTRASSONOGRAFIA MAMÁRIA ..............................................................................................................................41 CAPÍTULO 5 | DIAGNÓSTICO DA RESSONÂNCIA MAGNÉTICA...............................................................................................55 CAPÍTULO 6 | BIÓPSIAS AMBULATORIAIS: PUNÇÃO ASPIRATIVA POR AGULHA FINA, POR AGULHA GROSSA E BIÓPSIA ASSISTIDA A VÁCUO .............................................................................65 CAPÍTULO 7 | LOCALIZAÇÃO DE LESÕES NÃO PALPÁVEIS .....................................................................................................75 CAPÍTULO 8 | ESTADIAMENTO CLÍNICO DE METÁSTASES ANTES DO TRATAMENTO PRIMÁRIO ................ 87 CAPÍTULO 9 | TUMORES BENIGNOS .....................................................................................................................................................95 CAPÍTULO 10 | MASTALGIA .......................................................................................................................................................................101 CAPÍTULO 11 | DESCARGA PAPILAR ....................................................................................................................................................109 CAPÍTULO 12 | MALFORMAÇÕES E ALTERAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO ................................................................115 CAPÍTULO 13 | MALFORMAÇÕES E ALTERAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO 2 (GINECOMASTIA) .....................127 CAPÍTULO 14 | GALACTORRÉIA..............................................................................................................................................................131 CAPÍTULO 15 | MASTITES (GESTACIONAL, PERIAREOLAR RECIDIVANTE, INCOMUNS).......................................141 CAPÍTULO 16 | ANATOMIA PATOLÓGICA DAS LESÕES PRECURSORAS ..........................................................................161 CAPÍTULO 17 | HIPERPLASIA DUCTAL ATÍPICA E HIPERPLASIA LOBULAR ATÍPICA ..............................................167 CAPÍTULO 18 | CARCINOMA DUCTAL IN SITU: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO ............................................171 CAPÍTULO 19 | CARCINOMA LOBULAR IN SITU ...........................................................................................................................177 CAPÍTULO 20 | EPIDEMIOLOGIA ............................................................................................................................................................189 CAPÍTULO 21 | IDENTIFICAÇÃO DE PACIENTES DE ALTO RISCO (ESPORÁDICO E HEREDITÁRIO) ...............199 CAPÍTULO 22 | SÍNDROMES DE PREDISPOSIÇÃO HEREDITÁRIA AO CÂNCER DE MAMA ....................................217 CAPÍTULO 23 | MANEJO CLÍNICO E MEDICAMENTOSO DAS PACIENTES DE ALTO RISCO ESPORÁDICO E HEREDITÁRIO ............................................................................................................237 CAPÍTULO 24 | CIRURGIA REDUTORA DE RISCO EM PACIENTES DE ALTO RISCO HEREDITÁRIO E ESPORÁDICO .............................................................................................................................249 CAPÍTULO 25 | ANATOMIA PATOLÓGICA DO CARCINOMA MAMÁRIO .............................................................................255 CAPÍTULO 26 | ESTADIAMENTO PATOLÓGICO DO CARCINOMA MAMÁRIO ................................................................269 CAPÍTULO 27 | PERFIL GENÉTICO / BIOMOLECULAR DO CARCINOMA MAMÁRIO .................................................277 CAPÍTULO 28 | TRATAMENTO CIRÚRGICO CONSERVADOR CLÁSSICO DA MAMA ...................................................287CAPÍTULO 29 | CIRURGIA ONCOPLÁSTICA NO TRATAMENTO CONSERVADOR – RETALHOS GLANDULARES ................................................................................................................................299 CAPÍTULO 30 | CIRURGIA ONCOPLÁSTICA NO TRATAMENTO CONSERVADOR – RETALHOS LOCO-REGIONAIS NÃO MAMÁRIOS ....................................................................................309 CAPÍTULO 31 | ABORDAGEM CIRÚRGICA DA AXILA ...................................................................................................................317 CAPÍTULO 32 | MASTECTOMIA ..............................................................................................................................................................323 CAPÍTULO 33 | MASTECTOMIA PRESERVADORA DE PELE E DO COMPLEXO AREOLO-PAPILAR ...................329 CAPÍTULO 34 | RECONSTRUÇÃO MAMÁRIA COM EXPANSORES DE TECIDOS ..........................................................339 CAPÍTULO 35 | RECONSTRUÇÃO MAMÁRIA COM PRÓTESES, EXPANSORES E MATRIZ DÉRMICA ACELULAR ..................................................................................................................................................355 CAPÍTULO 36 | RECONSTRUÇÃO MAMÁRIA COM RETALHO MIOCUTÂNEO TRANSVERSO DO RETO ABDOMINAL (TRAM) .............................................................................................................................365 CAPÍTULO 37 | RECONSTRUÇÃO COM RETALHO DO MÚSCULO LATÍSSIMO DO DORSO ...................................383 CAPÍTULO 38 | RECONSTRUÇÃO MAMÁRIA COM RETALHOS MICROCIRÚRGICOS .................................................391 CAPÍTULO 39 | TRATAMENTO CIRÚRGICO DA PACIENTE METASTÁTICA ......................................................................397 CAPÍTULO 40 | LIPOENXERTIA ...............................................................................................................................................................411 CAPÍTULO 41 | RECONSTRUÇÃO DO COMPLEXO ARÉOLO-PAPILAR ..............................................................................419 CAPÍTULO 42 | FISIOPATOLOGIA E MANEJO DA CONTRATURA CAPSULAR .................................................................429 CAPÍTULO 43 | MANEJO CIRÚRGICO DAS COMPLICAÇÕES OPERATÓRIAS .................................................................439 CAPÍTULO 44 | COBERTURAS ESPECIAIS NAS COMPLICAÇÕES PÓS CIRÚRGICAS DAS MAMAS ....................445 CAPÍTULO 45 | QUIMIOTERAPIA NEOADJUVANTE .....................................................................................................................453 CAPÍTULO 46 | TRATAMENTO QUIMIOTERÁPICO ADJUVANTE DO CÂNCER DE MAMA ........................................479 CAPÍTULO 47 | TERAPIA ALVO EM HER2 POSITIVO - NEO E ADJUVANTE .....................................................................489 CAPÍTULO 48 | HORMONIOTERAPIA NEO E ADJUVANTE .......................................................................................................497 CAPÍTULO 49 | NOVAS TERAPIAS ALVO ............................................................................................................................................507 CAPÍTULO 50 | MANEJO DA PACIENTE METASTÁTICA ..............................................................................................................519 CAPÍTULO 51 | CUIDADOS PALIATIVOS ............................................................................................................................................525 CAPÍTULO 52 | RADIOTERAPIA ..............................................................................................................................................................541 CAPÍTULO 53 | RADIOTERAPIA HIPOFRACIONADA NO CÂNCER DE MAMA ...............................................................549 CAPÍTULO 54 | RADIOTERAPIA DAS LESÕES METASTÁTICAS .............................................................................................557 CAPÍTULO 55 | DOENÇA DE PAGET .....................................................................................................................................................565 CAPÍTULO 56 | CARCINOMA OCULTO DE MAMA .........................................................................................................................571 CAPÍTULO 57 | CARCINOMA INFLAMATÓRIO DA MAMA ........................................................................................................579 CAPÍTULO 58 | CÂNCER DE MAMA MASCULINO .........................................................................................................................589 CAPÍTULO 59 | CÂNCER DE MAMA E GESTAÇÃO ..........................................................................................................................597 CAPÍTULO 60 | REABILITAÇÃO FÍSICA NO CÂNCER DE MAMA ...........................................................................................609 CAPÍTULO 61 | MANEJO DOS SINTOMAS CLIMATÉRICOS APÓS O TRATAMENTO DO CÂNCER DE MAMA .....623 CAPÍTULO 62 | SEGUIMENTO DAS PACIENTES TRATADAS DE CÂNCER DE MAMA .................................................629 CAPÍTULO 63 | PÓS-TRATAMENTO DO CÂNCER DE MAMA ....................................................................................................637 CAPÍTULO 64 | ASPECTOS PSICOLÓGICOS DAS PACIENTES TRATADAS POR CÂNCER DE MAMA .................641 RASTREAMENTO E DIAGNÓSTICO DAS DOENÇAS MAMÁRIAS 1 EXAME FÍSICO E RASTREAMENTO CLÍNICO MONICA TRAVASSOS Pós Graduada em Oncologia Clínica pelo Hospital Gafree Guinle Tesoureira geral e secretária geral da AMB (2011-2016) Assessora da presidência SBM (2017-2019) LUCIANA NAIRA Fellow pelo IEO Chefe do serviço de Mastologia hospital Português MILENA ISSA Chefe do serviço de Mastologia do hospital do Servidor do Estado RJ Palavras Chave: Exame físico, mamas CAP. 01 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO 14 INTRODUÇÃO O Brasil, a partir da década de 60, começou controlar mais as doenças infectocontagiosas, assim como a taxa de natalidade e a taxa de mortalidade. Com a industrialização, iniciada neste mesmo pe- ríodo, a mulher, aumentou sua estimativa media de vida, se inserindo, mais no mercado de traba- lho, modificando alguns hábitos, como a primeira gestação, alimentação e acumulo de afazeres, entre eles os domésticos, levando por muitas vezes, retar- do em consultas medicas de rotina. Concomitante- mente notou-se uma curva ascendente do Câncer De Mama(CM). O EXAME FÍSICO(EF) ou exame clini- co das mamas, é o exame realizado por médi- cos, bem treinados com a estrutura mamaria. É sabido que o CM leva em media cerca de 8 a 10 anos para atingir 10mm (1cm), fase esta conhecida como pré-clínica, onde muitos tumores, ainda não são palpáveis, e de certa forma, impacta na forma de tratamento do CM. Para um exame físico bem feito e com o pro- posito de diagnosticar tumores nesta fase, deverá ser minucioso, o que demanda tempo, experiência e conhecimento das principais alterações mamarias. A visita ao mastologista, não se caracteriza somente pela palpação e inspeção, mas requer um bom dialogo com a paciente. Neste momento, o dialogo funciona como um treinamento, por muitas vezes orientador de metas edu- cacionais, desmitificando duvidas e conceitos retrógra- dos, que dificultam o controle da saúde das mamas. No Brasil, com o precário sistema de saúde, que não conta com um programa de rastreamento eficaz, pois a imagem é muito mal distribuída, esta propedêutica, torna-se cada vez mais apropriada, para a nossa realidade. Na verdade, o EF, auxiliará, quais estudos adi- cionais deverão ser utilizados para aquele determi- nado caso, personalizando a forma de abordagem. O AUTOEXAME, que seria um exame de auto co- nhecimento das mamas, realizado pelas próprias mulheres, apesar de cientificamente, não ter um impacto real na mortalidade, pode, em alguns ca-sos, detectar o CM, em fase inicial, devendo ser incentivado, e, mostrar que ao ser detectada algu- ma alteração, o mastologista deve ser procurado. Metodologicamente, o EF, divide-se em três partes, a saber: Anamnese ,Inspeção e Palpação ANAMNESE Consiste no primeiro contato verbal para ob- tenção de informações dirigidas, da semiologia ma- maria. Devera saber, Historia fisiológica com a idade da menarca, ciclos menstruais, paridade, aleitamen- to, menopausa, historia familiar para CM e outros can- ceres, com a idade da probanda, historia pregressa de cirurgias mamarias, com seus diagnósticos, hábitos alimentares e atividades físicas, estabelecendo com a paciente um contato de confiança e tranquilizador. Visto que muitas, já chegam a consulta com grande temor do CM. INSPEÇÃO A inspeção dar-se-á de duas maneiras: estáti- ca e dinâmica. A inspeção estática é realizada com a paciente em pé ou sentada, desnuda na porção torácica, num local bem iluminado, e com os braços relaxados ao longo do corpo, será observado tamanho, coloração, contorno, simetrização das mamas e do complexo aréolo-papilar, abaulamentos ou retrações de pele. A inspeção dinâmica é a continuação do procedi- mento anterior, aonde pede-se para a paciente ele- var os braços e contrair uma mão contra a outra, atrás da nuca, verificando o aparecimento de retra- ções e ou abaulamentos, colocar logo após as mãos no quadril, e observar se existe alguma alteração. A inspeção visual, independente parece não contri- buir para detecção precoce do CM, poucos estudos avaliam esta contribuição. No entanto um estudo canadense de 1982,re- porta apenas 4% de casos de CM detectados na ispeçõ(1% retração cutânea, ou de papila e 3% de alteração areolo-papilar). PALPAÇÃO A terceira parte do EF, é sem sombra de dúvi- das, a fase mais importante da propedêutica clínica na mastologia. São levadas as seguintes considerações: as di- mensões, forma, contornos, superfície, consistência e sensibilidade do tecido mamário. MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO 15 CAP. 01 A palpação, propriamente dita, far-se-á com uma ou as duas mãos, utilizando as polpas digitais, em movi- mentos rotatórios, e não as pontas dos dedos, para evitar um eventual deslocamento ou mesmo deixar de palpar um nódulo, que deverá começar superiormente na re- gião da clavícula, inferiormente até o limite inferior das costelas, medialmente o esterno e lateralmente a linha média axilar. Fazendo uma pressão, sem exercer descon- forto para paciente, avaliando criteriosamente todos os quatro quadrantes e a região medial. A Paciente deverá estar sentada e com os braços atrás da nuca, e, pos- teriormente deitada com os braços também elevados. A abordagem clinica axilar, a paciente deverá per- manecer sentada ao longo dos flancos e em ligeira abdução, e com um dos membros superiores apoia- -se no antebraço do examinador e com a mao con- tralateral, faz-se leve compressão, entre as mar- gens dos músculos grande peitoral e grande dorsal. A expressão da papila é parte integrante do EF, poden- do assim identificar as possíveis secreções, sua colora- ção, se ducto único e se existe algum ponto de gatilho. A maior parte dos casos de CM se manifesta como uma formação nodular. Exemplificado num estudo do Instituto Nacional Tumores de Milão, com 2107 casos operados de CM, de 1987-1989, fo- ram clinicamente observados como, Nódulo 1300 casos(61,7%), Nódulo e retração cutânea 596 ca- sos(28,3%), Nódulo e secreção 76 casos(3,6%), Retração cutânea 51 casos(2,4%), Alterações da papila 42 casos(2%), Secreção sanguinolenta 34 ca- sos(1,6%), Linfoadenopatia axilar 8 casos(0,8%). A densidade mamária irá influenciar, na sen- sibilidade da detecção do CM, que esta intimamen- te ligada a idade, status menopausal, utilização de hormônios e ao peso corporal, modificando a estru- tura mamaria. RASTREAMENTO CLÍNICO O câncer de mama é o tipo de câncer que possui a maior incidência e a maior mortalidade na popula- ção feminina em todo o mundo, tanto em países em desenvolvimento quanto em países desenvolvidos. Para o Brasil, em 2016, são esperados 57.960 casos novos de câncer de mama, sendo desses, apenas 10% com diagnóstico de tumores até 2 cm. O risco estimado de câncer de mama é de 56,20 casos a cada 100 mil mulheres (Inca – 2016) Em 2012, a OMS publicou a Classificação para Tumores de Mama – 4ª edição, na qual reconhece mais de 20 subtipos diferentes da doença, explican- do dessa forma, o comportamento heterogêneo com relação à clínica e à morfologia. (OMS). Devido essa heterogeneidade, sua história natural é bastante diversa, implicando assim, em diversas abordagens de prevenção e métodos de diagnósticos precoces. Enquanto o rastreamento mamográfico tem sua importância confirmada através da diminuição da mortalidade câncer-específica, controvérsias ainda existem em relação ao EF das mamas , nes- se contexto dos programas de rastreio. Entretanto, de acordo com Canadian National Breast Screening Study (cnbss) , não houveram diferenças na sobrevi- da em 13 e 25 anos, entre as mulheres submetidas ao rastreamento mamografico associada a exame clinico periódico, versos apenas exame clínico. 1-3. Críticas e considerações devem ser pontuadas em relação a publicação canadense: O exame clínico era realizado antes da seleção aleatória e deveriam estar “normais” para serem incluídas na randomiza- ção do estudo. 4 Dados do programa de Rastreio de Ontario demonstraram que a mamografia e o exame clínico realizados com equipe de enfermagem treinada por especialistas, obtiveram maior sensibilidade com- parado à apenas mamografia, porém com maior nú- mero de falsos positivo5,6,7 A eficácia do EF não tem sido confirmada atra- vés de ensaios clínicos bem desenhados e controla- dos.8. Por esse motivo, os principais Guidelines (Ca- nadian Task Force on Preventive Health Care9, U.S. Preventive Services Task Force8,10, American Cancer Society11, U.K. National Health Services12, e World Health Organization13 não recomendam o ECM. En- tretanto, U.S. National Comprehensive Cancer Net- work14, the American College of Obstetricians and Gynecologists15, e Memorial Sloan Kettering Cancer Center16 ainda mantém o EF associado ao rastreio. Consideram, dessa forma, uma opor- tunidade de orientar e informar as mulhe- res sobre suas mamas, a importância do diag- nóstico precoce, orientações quanto fatores de risco e auto-conhecimento de seu corpo. É bem conhecido que nem todos os tumores são detectados através do rastreio mamografico e que CAP. 01 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO 16 este não engloba todas as faixas etárias.11,12,14,16 Recentemente, L. Provencher et al17 publi- cou um trabalho retrospectivo envolvendo 6.333 mulheres diagnosticadas com CM entre 1999 e 2010. Nesse artigo, um número significante de tu- mores poderia não ter sido diagnosticados caso o EF não fosse realizado. Afirma que os tumores detectado apenas pelo EF eram mais agressivos e que o EF é de baixo custo, além de poder orien- tar avaliações ultrassonográficas naquelas pacien- tes onde a mamografia é negativa. Seus resultados foram 36.5% cânceres diagnosticados apenas por mamografia, 54.8% com Mamografia e EF e, em destaque, 8.7% diagnosticados apenas pelo EF. Nos anos 60, o estudo HIP confirmou que a combi- nação de mamografia e EF por médico especialista levou redução na mortalidade de câncer de mama específica. Nesse estudo, a detecção em pacientes jo- vens foi baixa e as doenças mais avançadas eram detectadas pelo EF.18,19 Deve-se lembrar que o CNBSS, um dos estudos mais importantes de ava- liação do rastreio, previamente citado, não incluía um grupo para avaliar a eficácia o EF isolado.20 Esse estudo comparou a combinação de mamogra- fia associado a EF e autoexame versus EF e autoe- xame. Não houve benefício nas mulheres jovens entre 40-49 anos.3 Nas faixas etárias entre 50 e 59 anos, a associação do EF a mamografia e au- toexamenão apresentou impacto na sobrevida.1 Em 2016, um estudo Japonês sugeriu que o EF deva ser associado a mamografia no rastreio, mas que poderia ser omitido nas mulheres com idade en- tre 60 a 70 anos. Encontrou melhor sensibilidade e especificidade do EF na faixa etária de 40-50 anos.21 Outro estudo evidenciou que 13 % das mulheres com massa palpável ao EF e diagnós- tico de CM tinham mamografia normal nos anos precedentes.22 Os tumores de intervalo geral- mente apresentam características mais agres- sivas23 e provavelmente, correspondiam a esses tumores detectados apenas ao EF , nesse estudo. Nos países em desenvolvimento , o EF mui- tas vezes é a única opção de rastreio oferecida , e dessa forma, pode-se detectar tumores em estadios menos avançados se o acesso ao profissional espe- cialista for garantido.24 Existem , portanto, dados de literatura que suportam e enfatizam a importância do EF no con- texto atual. Por vezes, representa a única técnica que detecta o câncer de mama em determinadas pacientes, principalmente naquelas que não estão sob programas de rastreio. Deve-se salientar que a eficácia do EF depende de uma curva de aprendi- zado, e que os mastologistas devem cada vez mais utiliza-lo, permitindo melhor acurácia. Importante também frisar que nas situações em que há alguma queixa clínica, o EF deve ser realizado antes de qual- quer avaliação ou resultado de exames de imagem. A literatura sugere que o EF constitua uma ferramenta de rastreio na população geral, e que deveria ser parte do rastreio oportunístico nas mu- lheres assintomáticas mas sob Terapia Hormonal, alto risco , mamas densas, história familiar, muta- das, lesões atípicas da mama e história pessoal de CM.25 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Miller AB, Wall C, Baines CJ, Sun P, To T, Narod SA. Twenty five year follow-up for breast can- cer incidence and mortality of the Canadian National Breast Screening Study: randomised screening trial. BMJ 2014;348:g366. 2. Miller AB, To T, Baines CJ, Wall C. Canadian Na- tional Breast Screening Study–2: 13-year re- sults of a randomized trial in women aged 50– 59 years. J Natl Cancer Inst 2000;92:1490–9. 3. Miller AB, To T, Baines CJ, Wall C. The Canadian National Breast Screening Study–1: breast can- cer mortality after 11 to 16 years of follow-up. A randomized screening trial of mammography in women age 40 to 49 years. Ann Intern Med 2002;137:305–12. 4. 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Tonelli M, Connor Gorber S, Joffres M, et al. on behalf of the Canadian Task Force on Preven- tive Health Care. Recommendations on scree- ning for breast cancer in average-risk women aged 40–74 years. CMAJ 2011;183:1991– 2001. 10. U.S. Preventive Services Task Force. Screening for breast cancer: U.S. Preventive Services Task Force recommendation statement. Ann Intern Med 2009;151:716–26,W236. 11. Oeffinger KC, Fontham ET, Etzioni R, et al. Breast cancer screening for women at average risk: 2015 guideline updatefrom the American Cancer Society. JAMA 2015;314:1599–614. 12. National Institute for Clinical Excellence (nice). Improving Outcomes in Breast Cancer. London, UK: nice; 2002. 13. World Health Organization (who). Breast can- cer: prevention and control [Web page]. Gene- va, Switzerland: who; n.d. [Available at: http:// www.who.int/cancer/detection/breastcancer/ en/; cited 6 June 2016] 14. National Comprehensive Cancer Network (nccn). 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Practical applications for clinical breast examination (cbe) and breast self- -examination (bse) in screening and early de- tection of breast cancer. Breast Care (Basel) 2008;3:17–20. 26. Bryan T, Snyder E. The clinical breast exam: a skill that should not be abandoned. J Gen In- tern Med 2013;28:719–22. 2 RASTREAMENTO IMAGINOLÓGICO Palavras Chave: Mamografia, rastreamento, câncer de mama ANASTASIO BERRETTINI JUNIOR Professor Convidado de Mastologia da Universidade São Francisco – SP Pós Graduando da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP Fellow Instituto Europeu de Oncologia, Milano, Itália CAP. 02 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO 20 INTRODUÇÃO Devido à sua prevalência, o câncer de mama determina um grande empenho da comunidade científica em definir as melhores condições de ras- treamento e detecção da doença. As decisões acerca deste assunto requerem avaliação de efetividade, os efeitos indesejados dos exames e as condições de riscos individuais. Segundo diretrizes da Organização Mundial de Saúde, o rastreamento é considerado efi- caz quando atinge 70% da população alvo1(A). A Rede Goiana de Pesquisa em Mastologia em associação com a Sociedade Brasileira de Mas- tologia2(A) publicou uma pesquisa sobre o rastrea- mento brasileiro no Sistema Único de Saúde, mos- trando uma cobertura nacional de 24,8%. Quando estratificado por estados, encontrou-se a menor co- bertura no estado do Pará (7,5%) e maior cobertura no estado de Santa Catarina (35,7%). Estes dados demonstram claramente a falta de políticas públi- cas eficazes direcionadas ao rastreamento do cân- cer de mama no Brasil, e as diferenças decobertu- ra à saúde que um país de dimensões continentais como o nosso pode produzir. MAMOGRAFIA Inúmeros exames foram testados na identi- ficação de lesões suspeitas para câncer de mama, porém a mamografia se mostrou o mais eficiente na redução de mortalidade pela doença. Ela pode de- tectar o câncer uma a quatro anos antes de se tor- nar clinicamente evidente 3(A). Neste mesmo estudo epidemiológico americano com mais de 1.000.000 mamografias realizadas entre 2004 e 2008 mostrou sensibilidade de 84,4% e especificidade de 90,8%, com taxa de recall de 9,4%3(A). Mamografia analógica A radiação da mamografia atravessa o tecido mamário e é convertida em luz por telas fluores- centes. Esta luz provoca uma reação química na emulsão do filme que é processado e exibido como uma imagem em escala de cinza. Em uma mamo- grafia analógica a imagem é capturada, exibida e arquivada para armazenamento em um filme4. Mamografia digital A mamografia digital é obtida por detectores digitais utilizados em substituição à tela de filme. Os detectores convertem os fótons de raios-x em um sinal eletrônico. Isso é alterado para um va- lor digital com a ajuda de um conversor analógi- co para digital. A imagem digital é processada e exibida como uma imagem em escala de cinza A imagem digital pode ser processada pelo compu- tador e exibida em vários formatos. O sinal digital pode ser enviado eletronicamente para a estação de visualização e exibido em monitores de alta re- solução ou impressos também em alta resolução. A mamografia digital tem muitas vantagens sobre a mamografia de tela de filme5(A): • Maior resolução de contraste, especialmente em mamas densas. • A manipulação da imagem após a captura permite a detecção de alterações sutis. • O envio eletrônico da imagem. • A capacidade de armazenar imagens em uni- dades ópticas para referência futura. • Diminuição da dose média de radiação. Ultrassonografia Dados acerca da eficácia e impacto da ultras- sonografia no rastreamento do câncer de mama de- monstram que não deve ser utilizado como método principal. Deve ser utilizada como exame adicional à mamografia e em mulheres com mamas densas6 (B). RESSONÂNCIA MAGNÉTICA Não existem evidências para utilização da ressonância no rastreamento de pacientes conside- radas de baixo risco. Segundo o Colégio Americano de Radiologia, a ressonância deve ser utilizada as- sociado à mamografia em rastreamento de mulhe- res de alto risco Rastreamento em mulheres de baixo risco A maior efetividade de um exame de ras- treamento, demonstra-se quando se avalia a re- dução de mortalidade global e não somente so- bre mortalidade específica. Isto é muito difícil de se avaliar, devido a necessidade de uma ampla amostra. Porém quatro estudos suecos7(A) que avaliaram 247.000 pacientes durante um perío- do de 15,8 meses, demonstraram risco relativo de MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO 21 CAP. 02 mortalidade global de 0,98 (95% CI 0,96-1,00). Nove estudos clínicos controlados randomi- zados avaliando mais de 650.000 mulheres, avalia- ram o impacto da mamografia associada ou não ao exame clínico, com relação à mortalidade especí- fica por câncer de mama. Mostraram efeito prote- tor no intervalo de idade entre 40 e 69 anos3(A). Metanálise publicada em 20128(A) compreen- dendo estudos randomizados evidenciaram redução de risco de 20% na mortalidade por câncer de mama. Vale ressaltar que a maioria destes estudos foi rea- lizada há vários anos, quando o tratamento para câncer de mama era menos efetivo que atualmente. Em 2009 foi publicada uma revisão siste- mática9(A) sobre rastreamento de câncer de mama incluindo oito estudos avaliando a qualidade da mamografia, com média de seguimento de 11 anos, mostrando um risco relativo de mortalidade por câncer de mama de 0.85 (95% CI 0.75 – 0.96) em mulheres entre 39 e 49 anos de idade, 0.86 (0.75 -0.99) na faixa etária entre 50 e 59 anos e 0.68 (0.54-0.87) em mulheres entre 60 e 69 anos. Vários outros estudos foram publica- dos, corroborando as evidências de que a ma- mografia diminui a mortalidade por câncer es- pecífica em mulheres entre 40 e 69 anos10-11(A). Um novo questionamento surgiu em 2014, quando foi publicado um estudo de seguimento de 25 anos de rastreamento para câncer de mama chamado Canadian National Breast Screening Stu- dy3(A), que avaliou o impacto da mamografia na faixa etária entre 40/49anos e 50/59 anos, e não encontrou impacto na mortalidade por câncer de mama em mulheres que receberam mamografia. Na faixa etária entre 50 e 59 anos, as mulheres foram divididas em 2 grupos, que receberam mamografia associado à exame clínico das mamas com dura- ção de 5 a 10 minutos, comparadas à outro grupo que recebeu exame clínico somente. Mulheres en- tre 40 e 49 anos, foram divididas em mamografia somente ou exame clínico somente. No seguimento de 25 anos, o risco cumulativo de morte por cân- cer de mama mostrou-se o mesmo entre o grupo de mamografia versus exame clínico (hazard ratio 0.99, 95% CI 0.88-1.12). Este estudo se iniciou em 1980 e as terapias adjuvantes foram oferecidas às mulheres diagnosticadas com câncer de mama. Interessante avaliação foi publicada na No- ruega 12(B), num estudo coorte, que avaliou o impac- to da introdução da mamografia comparando com condutas multidisciplinares, em mulheres entre 50 e 69 anos, vivendo em diferentes regiões do país. O programa de rastreamento norueguês iniciou-se em 1996 e expandiu-se geograficamente durante os 9 anos seguintes. Mulheres com idade entre 50 e 69 anos receberam mamografia de triagem a cada 2 anos. Foram compactadas as taxas de mortalidade por câncer de mama em quatro grupos: dois gru- pos de mulheres que, de 1996 a 2005, viviam em municípios com triagem (grupo de triagem) ou sem triagem (grupo não examinador); dois grupos de comparação histórica que, de 1986 a 1995. Foram analisados dados de 40 075 mulheres com câncer de mama. A taxa de mortalidade foi reduzida em 7,2 mortes/100 000 pessoas-ano no grupo de rastrea- mento, em comparação com o grupo de rastreamento Figura 1: Metanálise de mortalidade por câncer de mama, após 13 anos de seguimento em estudos de rastreamento de câncer de mama. Adaptado de Independent UK Panel on Breast Cancer Screening.8 CAP. 02 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO 22 histórico (0,72 CI 95% 0.63-0,81) e 4,8 mortes/100 000 pessoas- anos no grupo não-rastreamento em comparação com o grupo histórico de não rastrea- das (0,82 CI 95%, 0,71- 0,93; P <0,001 para ambas as comparações), para uma redução relativa da mortalidade de 10% no grupo rastreamento (p = 0,13). Assim, a diferença na redução da mortalidade entre os grupos atuais e históricos que poderia ser atribuída apenas ao rastreamento foi de 2,4 mortes por 100 000 pessoas/ano, ou um terço da redução total de 7,2 mortes. Concluiu-se que a disponibili- dade da mamografia foi associada à uma redução na taxa de óbito por câncer de mama, porém repre- sentou apenas cerca de um terço da redução total. Em 2014, a International Agency for Re- search on Cancer (IARC)13(A), com representantes de 16 países, analisou as evidências de 20 es- tudos coorte e 20 estudos caso-controle, acer- ca do rastreamento do câncer de mama. Na faixa etária entre 50 e 69 anos, mulheres que realiza- ram rastreamento mamográfico apresentaram re- dução de 23% no risco de morte por câncer de mama. Os dados relacionados à faixa etária entre 40 e 49 anos foram limitados e menos efetivos. Após esta breve discussão sobre os principais es- tudos acerca do rastreamento do câncer de mama, algumas dúvidas ainda persistem: • Grande parte dos estudos randomizados foram conduzidos antes da disponibilidade de te- rapias adjuvantes (tamoxifeno e inibidores de aro- matase). Sendo assim, torna-se dúbio determinar se o responsável pela redução de 30% de moralidade por câncer desde a década de 90, seja o rastrea- mento ou o impacto das terapias adjuvantes.• Se assumirmos que o rastreamento reduz a mortalidade por câncer de mama em 15% e que o over-diagnosis e over-treatment é de 30%, significa que, para cada 2000 mulheres convocadas para ras- treamento ao longo de 10 anos, uma mulher será salva do câncer de mama e 10 mulheres saudáveis serão tratadas desnecessariamente. Além disso, mais de 200 mulheres terão sofrimento psicológi- co importante, incluindo ansiedade e incerteza du- rante anos devidos aos resultados falsos positivos. Devido aos avanços substanciais no tratamento e maior consciência do câncer de mama desde que os ensaios foram realizados, é provável que o efeito absoluto no rastreamento hoje seja menor do que nos ensaios. Estudos observacionais recentes mos- tram mais over diagnosis que nos estudos antigos e impacto menor na redução de mortalidade por câncer de mama específico. Mulheres de baixo risco entre 40 e 49 anos No Brasil, assim como em outros países em desenvolvimento, apresentam incidência de cân- cer de mama entre 40 e 49 anos maior, quan- do comparados com países desenvolvidos2,14(B). Associado a este fator, alguns estudos cor- roboram a redução de mortalidade nesta faixa etá- ria submetida à mamografia. Estudo publicado em 200611 (A), avaliando o impacto do rastreamento em mulheres nesta faixa etária mostraram redução de mortalidade de 25%. Trabalho sueco publicado em 201115(A) ava- liando o rastreamento entre 40 e 49 anos, com se- guimento de 16 anos, mostrou redução de mortali- dade de 29% (figura 2), sendo que no grupo entre 40 e 44 anos foi menor (18%) comparado ao grupo entre 45 e 49 anos (32%). Figura 2. Seguimento de 16 anos de rastreamento em mulheres entre 40 e 49 anos, com taxa de mortalidade. A linha pontilhada mostra o grupo não rastreado, e a linha contínua mostra o grupo submetido à mamogra- fia. Adaptado de HellquisT BN et al. Cancer 201115 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO 23 CAP. 02 Mulheres de baixo risco abaixo de 40 anos Não existe recomendação para rastreamento em mulheres de baixo risco. Primeiramente pelo ris- co extremamente baixo de se diagnosticar câncer de mama nesta faixa etária. Associa-se a isso, a baixa acurácia deste exame em mulheres jovens, determi- nando um elevado índice de recall, número elevado de imagens adicionais e exames complementares. Em uma revisão de 117.000 mulheres que realiza- ram mamografia antes dos 40 anos, o valor preditivo positivo foi extremamente baixo, 1,3%16(A). Mulheres de baixo risco acima de 75 anos Não existe consenso entre o limite da idade de rastreamento, nem o intervalo ideal, porém sabe-se que a idade é o principal fator de risco para desenvol- vimento de câncer de mama, apresentando um cres- cimento exponencial após os 60 anos. Ao se determi- nar a indicação de rastreamento, deve-se considerar a expectativa de vida, as doenças associadas e os riscos de morte pelo câncer. Os danos potenciais do rastrea- mento ocorrem relativamente cedo, enquanto os be- nefícios tendem a ocorrer após 10 anos17(B). Mulheres de alto risco Pacientes consideradas de alto risco para desenvolvimento de câncer de mama, podem ser alocadas em três condutas clínicas: quimioprofi- laxia, cirurgias redutoras de risco (discutidas em capítulos pertinentes) e rastreamento intensivo. Neste grupo de pacientes, a ressonância magnéti- ca deve ser utilizada intercalada com a mamografia à mamografia, realizando cada exame em 6 meses com intervalo18(A), iniciando-se aos 30 anos de idade. Segundo o Colégio Americano de Radiologia, as in- dicações de ressonância devem seguir as seguintes diretrizes19(A) (TABELA 1) RECOMENDAÇÕES DE CONDUTA Mulheres de baixo risco Rastreamento anual entre 40 e 74 anos de idade, se possível, com mamografia com técnica di- gital. Acima de 75 anos, deve-se considerar a expec- tativa de vida.(A) Ultrassonografia e ressonância devem ser exames complementares à mamografia. Mulheres de alto risco Iniciar mamografia, se possível digital, aos 30 anos, realizando anualmente. Intercalar a cada 6 meses com ressonância magnética. Em caso de impossibilidade de realizar ressonância, pode-se associar a ultrassonografia. Indicações de Ressonância Magnética em mulheres de alto risco Tabela1. Indicações de Ressonância Magnética em mulheres de alto ris- co. Adaptado de Saslow D et al. CA Cancer J Clin 2007; 57:75.19 CAP. 02 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO 24 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. WORLD HELATH ORGANIZATION (WHO). Can- cer Control: knowledge into action: who guide for effective programmes: early detection. Switzerland: WHO, 2007. 2. Freitas-Junior R, Rodrigues DC, Corrêa RD, Pei- xoto JE, de Oliveira HV, Rahal RM. Contribution of the Unified Health Care System to mam- mography screening in Brazil, 2013. Radiol Bras. 2016 Sep-Oct;49(5):305-310. 3. Miller AB, Wall C, Baines CJ, Sun P, To T, Narod AS. Twenty five year follow-up for breast can- cer incidence and mortality of the Canadian National Breast Screening Study: randomised screening trial. BMJ. 2014;348:g366. 4. Yaffe MJ. AAPM tutorial. Physics of mammog- raphy: image recording process. Radiographi- cs. 1990;10(2):341. 5. Pisano ED, Yaffe MJ, Hemminger BM, Hendrick RE, Niklason LT, Maidment AD, Kimme-Smith CM et al. Current status of full-field digital mammography. 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CA Cancer J Clin 2007; 57:75. 3 DIAGNÓSTICO MAMOGRÁFICO Palavras Chave: Mamografia, diagnóstico, neoplasia da mama CLÉCIO ÊNIO MURTA DE LUCENA Mestrado e Doutorado em Medicina pelaUFMG Professor adjunto da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais Chefe do serviço de mastologia da santa casa de Belo Horizonte-MG ANNAMARIA MASSAHUD RODRIGUES DOS SANTOS Mestre em Ciências da Saúde pelo Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais Mastologista nos Hospitais Santa Casa de Belo Horizonte-MG e IPSEMG Tesoureira da Sociedade Brasileira de Mastologia Regional Minas Gerais CRISTOVÃO PINHEIRO DE BARROS Mastologista do Hospital Governador Israel Pinheiro Diretor de Defesa Profissional da Sociedade Brasileira de Mastologia – Regional de Minas Gerais Médico do Hospital Felício Rocho ALEXANDRE DE ALMEIDA BARRA Mestre e Doutor em Medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais Professor Associado de Ginecologia e Obstetrícia da Universidade Federal de Ouro Preto Coordenador do Serviço de Mastologia do Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais CAP. 03 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO 26 INTRODUÇÃO Câncer de mama é o câncer mais comum na po- pulação feminina em todo o mundo, representando um grande desafio para reversão de uma realidade desafiadora em países em desenvolvimento. Consi- derada o mais importante método de rastreamento do câncer de mama, a Mamografia representa uma ferramenta fundamental para a avaliação e escla- recimento de diversas anormalidades encontradas nas mamas dos pacientes e, sobretudo, para o ras- treamento da mesma. Relatos primordiais da mamografia convencio- nal são reportados desde início do século passado quando Albert Salomon realizou exame radiológico de peça de mastectomia visibilizando-se sinais que corresponderiam às microcalcificações mamárias. Em 1930, Stafford Warren realizou a primeira ma- mografia in vivo na incidência médio-lateral. Mas foi o radiologista uruguaio Raul Leborgne que em 1950 descobriu a importância de um melhor posi- cionamento mamário e a necessidade de compres- são mamária para uma melhor qualidade de ima- gem. Daí em diante os avanços tecnológicos foram crescentes e contínuos, até alcançarmos a realidade do exame que temos hoje. A mamografia é um método radiológico conven- cional, distinguindo-se, sobretudo, pela dose espe- cífica e adaptada ao órgão de estudo a que se des- tina, além dos posicionamentos próprios do mesmo, empregando-se um equipamento adaptado para a sua execução que chamamos de Mamógrafo. Des- ta forma, o que buscamos analisar na mamografia é diferença de densidades entre as estruturas te- ciduais avaliadas e, assim, distinguirmos anormali- dades de estruturas anatômicas normais, variando- -se entre as características corporais e fisiológicas de cada paciente. Diversos são os fatores que po- dem interferir nas características radiológicas das mamas como: idade, constituição corporal, uso de hormônios da pós-menopausa, cirurgias mamárias prévias, história reprodutiva e lactacional, dentre outros. Basicamente a mamografia tem duas aplica- ções predominantes: Mamografia de Rastreamento que é aquela utilizada nas mulheres assintomáti- cas para identificação de sinais radiológicos que possam representar um câncer de mama, antes do mesmo apresentar-se clinicamente; e Mamografia Diagnóstica que é aquela empregada em pacientes com queixas mamárias e que utilizamos o método para fazermos um estudo radiológico das mamas, auxiliando na definição diagnóstica das mesmas. ASPECTOS TÉCNICOS De importância fundamental, a qualidade da mamografia é influenciada por um conjunto de fatores como equipamento, sistemas de registro e processamento das imagens, compressão mamária, posicionamento adequado, experiência profissional e interesse do imaginologista que interpreta o exame. Dessa forma, a acurácia da mamografia requer tanto fatores técnicos, aspectos constitucionais FIGURA 1: Mamografia com achados radiológicos inespecíficos, nas in- cidências convencionais médio-lateral e crânio-caudal, revelando a pre- sença de implantes mamários em topografia retro-peitoral. MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO 27 CAP. 03 mamários, bem como as características radiológicas da expressão tumoral. Do ponto de vista do posicionamento, atualmente são preconizados no mínimo duas incidências primárias para cada mama examinada: incidência cranio-caudal e a incidência médio lateral oblíqua. Outras incidências adicionais que podem ser acrescentadas são a compressão seletiva, a magnificação ou ampliação, manobra de Eklund, perfil verdadeiro, e as rotações laterais. Dentre essas, perfil verdadeiro e as manobras de rotação são pouco empregados. De particular interesse temos a magnificação, recomendada para estudo detalhado das microcalcificações, podendo também evidenciar pequenas áreas de distorção morfo-estrutural; e as compressões localizadas, recomendadas para detalhamento das assimetrias focais ou nas lesões nodulares. Em mulheres portadoras dos implantes mamários, tanto aqueles alocados em posição retroglandular quanto na posição retropeitoral (Figura 1), torna-se fundamental a realização da manobra de Eklund (Figura 2) e a obtenção adicional de incidências complementares. RASTREAMENTO: O câncer de mama é a causa mais frequente- mente de morte por câncer em mulheres em todo o mundo1(A), a segunda principal causa de morte por câncer em mulheres em países desenvolvidos1(A), e a principal causa de morte por câncer em baixo e médio países de renda, onde uma elevada pro- porção de mulheres apresentam-se com doença avançada, o que leva a um prognóstico ruim. O ras- treamento para o câncer da mama tem o objetivo reduzir a mortalidade por esse tipo de câncer, bem como a morbidade associada a estágios avançados da doença, através da detecção precoce em mulhe- res assintomáticas2(B). Rastrear vem de rastro, ou vestígio, e significa in- vestigar, inquirir, indagar, seguir rasto ou pista3. O termo correspondente em inglês é screening e de- riva de scieve, ou peneira4(B). Rastreamento é a realização de testes ou exa- mes diagnósticos em populações ou pessoas assin- tomáticas, com a finalidade de diagnóstico precoce (prevenção secundária) ou de identificação e con- trole de riscos, tendo como objetivo final reduzir a morbidade e mortalidade da doença, agravo ou ris- co rastreado4(B). O rastreio pode ser definido como a aplicação de testes de diagnósticos em pacientes assintomáticos com a finalidade de dividi-los em dois grupos: aqueles que têm uma condição que beneficiaria de intervenção precoce e aqueles que não5(B). O programa de rastreamento ideal consi- dera as características do teste, as da doença e as da população estudada. Os critérios básicos foram descritos, em 1968, por Wilson e Jungner, e são os seguintes: FIGURA 2: Manobra de Eklund em duas incidências (ML e CC). CAP. 03 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO 28 1. A doença deve representar um importante pro- blema de saúde pública, relevante para a popu- lação, levando em consideração os conceitos de magnitude, transcendência e vulnerabilidade; 2. A história natural da doença ou do problema clí- nico deve ser bem conhecida; 3. Deve existir um estágio assintomático pré-clíni- co bem definido, no qual a doença seja passível de diagnóstico; 4. O benefício da detecção e tratamento precoces, derivados do rastreamento, deve ser maior do que se a doença fosse tratada no momento ha- bitual do diagnóstico; 5. Os exames que detectam a condição clínica de- vem estar disponíveis, ser aceitáveis e com re- sultados confiáveis; 6. O custo do rastreamento e do tratamento deve ser compatível com o orçamento destinado ao sistema de saúde como um todo; 7. O rastreamento deve ser um processo contínuo e sistemático. Em relação à forma, o rastreamento pode ser opor- tunístico, quando o indivíduo é captado pelo sistema ao procurar a assistência de saúde, ou organizado, nos casos em que ocorre de forma sistematizada e voltada para detecção precoce em uma população assintomática, com convocação da população alvo, para realizaçãodo teste, em intervalos regulares. O rastreamento organizado é geralmente realizado por instituições de saúde5(B). O rastreamento deve ser voluntário, ágil, evidenciar benefícios maiores do que os riscos e ser consentido mediante informações e orientações sobre o mesmo5(B). Para análise dos benefícios das estratégias de rastreamento é necessário se identificar o impac- to na redução da mortalidade e o impacto na di- minuição da morbidade, por exemplo, através da redução da necessidade de mastectomias2(B),6(B). Por outro lado, a detecção do câncer de mama em mulheres assintomáticas pode levar a riscos, como por exemplo, diagnosticar um câncer que nem seria detectado naturalmente ao longo da vida da mu- lher e nem estaria relacionado à sua causa de óbito, ou seja, um sobrediagnóstico (do inglês, overdiag- nosis)6(B),7(B). Neste caso, o diagnóstico do câncer apenas transformaria a mulher em uma paciente com câncer, com todos os prejuízos físicos e psíqui- cos disso, sem qualquer benefício. Além disso, outro risco do rastreamento é submeter mulheres assin- tomáticas, que evidenciam alterações no exame de rastreamento, a reconvocações para novos exames de imagem, a acompanhamento, ou até mesmo a procedimentos invasivos. Ao final das reavaliações, por vezes, estas mulheres serão diagnosticadas como não tendo câncer de mama. Estes casos se re- ferem a resultados falsos positivos de rastreamento de câncer8(B). No caso do câncer de mama, o impac- to psicológico de ser reconvocada, após um exame de rastreamento, para nova avaliação (exame diag- nóstico), tem sido relatado em vários estudos e se conclui que o exame de rastreamento falso positivo não causa ansiedade e aflição de um modo geral pe- los procedimentos, mas apreensão relacionada es- pecificamente à possibilidade do câncer. Entretanto, esse estresse é transitório e relativo ao tempo en- tre a suspeita e a resolução com a comunicação de que o diagnóstico do câncer de mama foi excluído. O risco do exame falso positivo está diretamente associado à taxa de reconvocação, que por sua vez é influenciada pelo treinamento e experiência do radiologista, pela qualidade da imagem, por carac- terísticas da mulher (densidade mamária, uso de te- rapia hormonal, etc.) e por fatores relacionados ao rastreamento como, por exemplo, a dupla leitura da imagem8(B). Para se otimizar o balanço entre risco e benefício do exame de rastreamento é importante manter as taxas de falso-positivos baixas sem se perder a detecção das lesões malignas8(B). A mamografia é o único teste de rastreamento que tem demonstrado redução da mortalidade re- lacionada ao câncer de mama2(B),9(A). Não se suge- re com isso que a mamografia seja a resposta para a prevenção primária ou para a cura do câncer de mama. Claramente a cura do câncer ou a prevenção segura são alvos a se almejar, mas ainda não são possibilidades sob a perspectiva atual. Neste cená- rio, a mamografia pode salvar milhares de vidas10(C). Apenas tumores que crescem vagarosamente de forma a serem detectados durante os intervalos re- gulares do teste diagnóstico, e que tem capacidade de metastatizar, são indicados para serem rastrea- dos5(B). Todos os tipos de câncer exibem nuances MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO 29 CAP. 03 em sua história natural, desde lesões indolentes a agressivas, e a minoria é manejável por rastreio. Isto leva a um paradoxo em que os cânceres agres- sivos, fatais, não serão detectados no rastreamento, enquanto que aqueles indolentes, lentos, com baixo risco de metástases, serão diagnosticados, e por ve- zes sobrediagnosticados e sobretratados5(B). O maior benefício do rastreamento mamográfico tem sido relacionado à redução da mortalidade por câncer de mama. Em 2002, com base em resultados de estudos randomizados e controlados, o Grupo de Trabalho The International Agency for Research on Cancer (IARC), da Organização Mundial de Saú- de (OMS), concluiu que existia evidência suficiente para que a mamografia fosse considerada o único método eficaz da triagem na redução da mortalida- de, por câncer de mama, para as mulheres 50 a 69 anos de idade. Porém a evidencia era limitada para as mulheres de 40 a 49 anos de idade, e o rastre- amento com mamografia para mulheres com me- nos de 40 anos ou mais de 69 anos de idade, seria inadequado11(A). Em novembro de 2014, para atua- lização das evidências, peritos de 16 países reuni- ram-se novamente na IARC para avaliar os efeitos preventivos e adversos de diferentes métodos de rastreio para o câncer da mama2(B). Nesse estudo foram incluídos 20 trabalhos de coorte e 20 de caso-controle, todos conduzidos no mundo desen- volvido (Austrália, Canadá, Europa ou Estados Uni- dos), considerados informativos para avaliar a efi- cácia dos programas de rastreio mamográfico, em sua maioria em intervalos de 2 anos2(B). A maioria dos estudos de mortalidade de coortes de base de incidência, envolvendo mulheres em rastreamento organizado ou em rastreamento oportunístico, re- latou uma clara redução na mortalidade por câncer de mama2(B). Mulheres de 50 a 69 anos de idade, que foram convidadas a participar do rastreamen- to mamográfico tinham, em média, uma redução de 23% no risco de morte por câncer de mama; mu- lheres que participaram rastreamento mamográfico organizado apresentaram maior redução no risco, estimado em cerca de 40%. Evidência do pequeno número de estudos ecológicos informativos foi am- plamente consistente com o de estudos de coorte e caso-controle. Uma redução substancial no risco de morte por câncer de mama também foi consistente- mente observada em mulheres de 70 a 74 anos de idade que foram convidadas à realização de mamo- grafia ou que participaram de rastreamento mamo- gráfico em diversos estudos de coorte baseados em incidência2(B). Poucos estudos avaliaram a eficácia da triagem em mulheres de 40 a 44, ou 45 a 49 anos de idade, que foram convidados a participar ou que participaram de rastreamento mamográfico, e a redução do risco nestes estudos foi geralmente menos pronunciada. No geral, os dados disponíveis não permitem a definição do intervalo de triagem mais apropriado2(B). No Brasil, o Ministério da Saúde, assessorado pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias – CONITEC, também realizou um levantamento da literatura, em 2014, em busca de evidências cien- tíficas para nortear o rastreamento populacional do câncer de mama12(B). Os estudos identificados apresentaram evidências controversas de eficácia com redução relativa da mortalidade por câncer de mama em mulheres abaixo dos 50 anos com a rea- lização do rastreamento mamográfico em compara- ção ao cuidado usual (sem a realização de mamo- grafias de rastreamento). Em relação aos potenciais danos, detectou-se evidências de comprometimen- to da acurácia do exame nesta faixa etária, em fun- ção da densidade das mamas. Não se encontrou metanálise específica para a faixa etária de menos de 50 anos, sendo descritos, para as mulheres em geral submetidas ao rastreamento mamográfico, índices estimados de sobrediagnóstico entre 1% e 30% e de falso-positivo entre 21% e 56% após dez mamografias anuais12(B). Entre 50 e 69 anos, tam- bém se verificou controvérsias de eficácia quanto à mortalidade por câncer de mama em mulheres com idade entre 50 a 69 anos quando comparada a realização do rastreamento mamográfico versus o cuidado usual (sem a realização de mamografias de rastreamento). Em um estudo, foi descrita redução relativa da mortalidade nesta faixa etária de 50-59 anos de idade: RR 0.86 (0.75-0.99) e em mulheres com 60-69 anos de idade: 0.68 (0.54- 0.87), ainda com impacto discutível na redução absoluta do ris- co. De outra parte, no que se refere aos potenciais danos, não foram localizadas metanálises especí- ficas para a faixa etária entre 50 a 69 anos, nem avaliação do efeito do rastreamento mamo CAP. 03 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO 30 gráfico sobre anos perdidosajustados por inca- pacidade (DALYs) e qualidade de vida relacionada à saúde (HrQoL)12(B). A mulher com mais de 70 anos tem limitação das evidências disponíveis quanto à eficácia do rastreamento mamográfico em relação à mortalidade por câncer de mama. O único estudo incluído pelo Ministério indicou para a possibilida- de de que não exista diferença na mortalidade por câncer de mama (incluindo a possibilidade de au- mento do risco) com a realização do rastreamento mamográfico. De outra parte, no que se refere aos potenciais danos, não foram localizadas metanáli- ses específicas para a faixa etária de 70 anos ou mais, nem avaliação do efeito do rastreamento ma- mográfico sobre anos perdidos ajustados por inca- pacidade (DALYs) e qualidade de vida relacionada à saúde (HrQoL). Não há, portanto, estudos de boa qualidade metodológica e nível de evidência que demonstrem a superioridade de benefícios em rela- ção aos riscos de se realizar o rastreamento mamo- gráfico em mulheres com idade de 70 anos ou mais. Ainda há necessidade de estudos de boa qualidade metodológica, inclusive desenvolvidos no cenário nacional atualizado, para a complementação de tais informações12(B). O número necessário de mamografias de rastre- amento para salvar uma vida do câncer de mama tem sido citado e varia dentre os estudos. Em inglês é descrito como number needed to screen (NNS) e tem sido comparado ao número necessário de con- vocações evidenciado nos estudos de rastreamento, ou number needed to invite (NNI)13(A),14(A). Verifica- -se que o número de mamografias necessário para salvar uma vida do câncer de mama em programas de rastreamento é menor do que o percebido nos estudos controlados randomizados. Para mulheres entre 40 e 49 anos rastreadas anualmente, estima- -se um o NNS de 746, enquanto que o NNI nessa mesma população seria de 1904, ou seja, presume- -se um acréscimo de 155% a mais de exames para o mesmo benefício comparando-se os exames de rastreamento com os realizados em estudos com convocação de pacientes13(A). Os trabalhos ran- domizados e controlados na sua maioria são das décadas de 70 e 80, e tem limitações para refletir a tecnologia moderna atual de captura e interpre- tação de imagem. Existe uma diferença conceitual entre mulheres rastreadas e mulheres convocadas para o rastreamento que não tem sido considerado nas discussões, inclusive leigas, sobre o assunto. Oi- tenta e quatro mulheres necessitam ser rastreadas, anualmente, entre 40 e 84 anos, para se salvar uma vida do câncer de mama e, 5.3 necessitam ser ras- treadas anualmente para se ganhar 1 ano de vida contra o câncer de mama13(A). Em relação aos achados falso-positivos nas ma- mografias de rastreamento na Europa, num progra- ma de exame bianual dos 50-69anos, analisando-se duas décadas, o valor varia de 8 a 21% (média de 20%), e associa-se a um risco cumulativo de proce- dimentos invasivos em 3%8(B). Já o sobrediagnósti- co na Europa varia de 0 a 54%, porém ao se ajustar as estimativas para o risco de câncer de mama e o tempo dos ciclos de rastreio, o sobrediagnóstico é menor, ocorrendo em 1 a 10% dos casos6(B). A introdução de mamografia de rastreamento nos Estados Unidos foi associada a duplicação de detecção de câncer de mama em estágios iniciais de 112 para 234 casos por 100.000 mulheres, o que foi muito mais evidente do que a redução de es- tágios avançados de câncer de mama que reduziu de 102 para 94 casos por 100.000 mulheres15(A). A partir dessa analise pressupõe-se que, estatistica- mente, houve sobrediagnóstico de câncer de mama, em cerca de 1.3 milhões de norte americanas, em 3 décadas, para um pequeno efeito na redução da mortalidade15(A). Também o estudo nacional cana- dense de rastreamento de câncer de mama, num seguimento de 25 anos, não demonstrou redução da mortalidade por câncer de mama em mulheres, de 40-59 anos, rastreadas anualmente16(A). E por outro lado indicou que 22% dos canceres invasivos diagnosticados por mamografia de rastreamento se tratavam de sobrediagnóstico. Mas os próprios au- tores ponderam que os resultados do estudo não podem ser generalizados para todos os países; e reforçam que a detecção precoce pode ter grande beneficio em áreas cujo diagnóstico ocorra em es- tágios clínicos avançados, e com axila acometida; onde não haja educação e estratégia de cuidados clínicos eficazes para a população16(A). Porém, de- ve-se ter em mente que a mamografia não causa excesso de diagnóstico ou de tratamento de câncer de mama, pois ainda não existe um método que dis- MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO 31 CAP. 03 tinga qual câncer existente, ou diagnosticado, seria letal ou não requereria tratamento. Mesmo porque lesões malignas palpáveis, não diagnosticadas por mamografia, também, potencialmente, podem estar sendo sobrediagnosticadas ou sobretratadas10(C). Na atualidade, de um modo geral, tem-se um acordo de que a mamografia de rastreamento deve ser oferecida rotineiramente a partir dos 50 anos2(B),9(A),12(B),17(A). Há um conflito de defini- ção sobre o rastreamento na faixa etária de 40 a 49 anos e, também, sobre a idade de término do rastreamento2(B),9(A),12(B),17(A). O intervalo entre os exames varia de a cada ano e a cada dois anos9(A). E a idade final para o término também varia entre 69, 74 anos e dependendo das condições clinicas da mulher2(B),9(A),12(B),17(A). É necessário salientar que mulheres com alto risco de câncer de mama devem ter um acompanhamento diferenciado9(A). A Sociedade Americana de Câncer publicou, em outubro de 2015, suas recomendações para o ras- treamento relatadas a seguir17(A): 1. Mamografia anual dos 45 aos 54 anos, na fai- xa etária que se espera maior benefício na redução de mortalidade pelo exame, da or- dem de 20 a 40%; 2. Mamografia bianual, ou anual, pela escolha da mulher, a partir dos 55 anos indo até a idade em que a mulher estiver saudável, considerando-se uma expectativa de vida de mais de 10 anos; 3. A mulher com idade entre 40 e 45 anos tem a escolha de iniciar o rastreamento anual, con- siderando-se seus riscos e benefícios (deci- são individualizada e compartilhada). Em 2014, o IARC (OMS) publicou suas recomen- dações informando que há um benefício real de convidar mulheres de 50 a 69 anos de idade para receber o rastreio2(B). As recomendações do Ministério da Saúde do Brasil, publicadas em abril de 2015, concluem o se- guinte12(B): 1. Por não se demonstrar, por meio de estudos de boa qualidade metodológica e nível de evidência, a superioridade de benefícios em relação aos riscos de se realizar o rastrea- mento mamográfico em mulheres com idade abaixo dos 50 anos de idade e acima de 70 anos, o Ministério da Saúde recomenda con- tra a mamografia de rastreamento em mu- lheres nessas faixas etárias; 2. Recomenda, mesmo que fracamente, o ras- treamento mamográfico entre 50 e 69 anos, porém existe necessidade de estudos de boa qualidade metodológica, inclusive desenvol- vidos no cenário nacional atualizado, para a complementação de informações12(B). A periodicidade do rastreamento com mamo- grafia, na faixa etária recomendada deve ser bienal. A Associação Brasileira de Mastologia (SBM) pre- coniza que, em mulheres de risco habitual, o ras- treamento mamográfico deva ser iniciado aos 40 anos e mantido anualmente18(C). Um estudo sueco, de atualização de resultados, iniciado em 1982 e publicado em 2016, demonstrou que existe be- nefício do rastreamento mamográfico também na faixa etária abaixo dos 39 aos 49 anos, da ordem de 40% na redução da mortalidade por câncer de mama19(A). Embora haja evidência da redução de mortali- dade por câncer de mama através do rastreamento mamográfico, a magnitude do efeito ainda é incerta, dificultando o estabelecimento entre os benefícios e riscos do mesmo9(A),20(A). Como o efeito foi menor nos ensaios randomizados de forma adequada, uma estimativa razoável é que haja uma redução de 15 %, correspondendo a uma reduçãodo risco absolu- to de 0,05% 21(A). Por outro lado, o potencial risco de sobrediagnóstico, que também pode gerar o so- bretratamento, inclusive com mais mastectomias, é de cerca de 30% 21(A). Isso significa que para cada 2000 mulheres rastreadas por 10 anos, uma terá sua vida prolongada e 10 serão tratadas desneces- sariamente; além disso 200 terão risco de exames falso-positivos21(A). O quadro 1 apresenta algumas características de ensaios clínicos relevantes sobre rastreamento mamográfico22(B). Informar a mulher convidada ao rastreamento sobre os riscos e benefícios do exame mamográfico é fundamental, e põe em discussão a questão do atendimento em saúde realizado com autonomia CAP. 03 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO 32 versus com paternalismo, além de questões éti- cas, políticas, econômicas e da geração de conflitos de interesse em se fazer, ou não, exames em pes- soas assintomáticas7(B). A decisão sobre o rastreio mamográfico depende do equilíbrio entre benefí- cios e malefícios e a maneira pela qual a mulher e seu médico pesam esses fatores concorrentes. MAMOGRAFIA DIAGNÓSTICA É aquela realizada em pacientes que apresentam alguma queixa clínica, incluindo um amplo espec- tro de alterações, tais como: mastalgia, descarga papilar e nódulo. Destes sinais e/ou sintomas, em um estudo de Aiello et al, apenas o nódulo em pa- cientes pós-menopausa, tem associação relevante com câncer de mama23(B). Embora frequentemente vejamos orientações para investigação imediata, como por exemplo uma rápida realização da mamografia, em pacientes com queixas mamárias (incluindo aí forte apelo da mídia leiga), que possam levar a um diagnóstico de câncer de mama, não existem evidências científicas, que a mamografia diagnóstica altere a mortalidade24(B). Dados que demonstram redução de mortalidade por câncer de mama em pacientes que realizaram ma- mografia, originam-se de estudos realizados em que o exame foi executado com método de triagem25(B), 26(A), 27(A), 28(A), 29(A), 30(A), 31(A), 32(A). Portanto, o prin- cipal objetivo da mamografia é o diagnóstico preco- ce do câncer de mama em mulheres assintomáticas. Desde o fim da década de 70, Moskowitz enfatizou esta diferença entre a triagem e a mamografia diag- nóstica33(B). Evidentemente diante de uma queixa mamária, tal como um nódulo, a mamografia pode ser um re- curso propedêutico, pois esta pode alterar uma con- duta cirúrgica. Por exemplo, se na vigência de um nódulo palpável, a mamografia mostrar, além deste, um extenso foco de microcalcificações suspeitas, a conduta cirúrgica poderá ser alterada de um trata- mento conservador (setorectomia) para um radical (mastectomia). Em poucos casos, a mamografia pode ser re- almente diagnóstica. Um destes casos ocorre na presença de um nódulo palpável de consistência endurecida (Figuras 3 e 4). Se na mamografia visi- bilizarmos, na mesma região da alteração clínica, um nódulo associado a calcificações grosseiras, fir- ma-se o diagnóstico de fibroadenoma calcificado e nenhuma propedêutica adicional faz-se necessária. ACHADOS RADIOLÓGICOS E CLASSIFICAÇÃO BI-RADS O Sistema de Dados e Relatórios de Imagem da Mama (em inglês Breast Image Reporting and Data System => BI-RADS®) foi desenvolvido pelo Ameri- can College of Radiology (ACR), com o objetivo de padronizar a terminologia a ser usada. Inicialmen- te foi desenvolvido apenas para a mamografia e posteriormente foi extendido para o ultra-som e a ressonância magnética. Atualmente o BI-RADS® en- contra-se na 5a edição, lançada em 201334(B). Quadro1: Compilação dos principais ensaios clínicos sobre o Rastreamento Mamográfico. MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO 33 CAP. 03 Diante de um achado, a resposta inicial que deve- mos responder é se aquilo é realmente um achado verdadeiro ou uma variação normal do tecido ma- mário ou um artefato de técnica. Sendo a alteração real, deve-se determinar a localização, informando o quadrante, profundidade e distância do mamilo. No léxico do BI-RADS®, avalia-se a composição da mama: mamas predominantemente adiposas, mamas com densidades fibroglandulares esparsas, mamas heterogeneamente densas, mamas extre- mamente densas. Os principais achados mamo- gráficos que serão discutidos abaixo, são: nódulos, calcificações, assimetrias, distorções arquiteturais, alterações cutâneas. Nódulos Têm representação tridimensional e deve ser visto em duas incidências mamográficas. As bordas são convexas ou parcialmente convexas. Na pre- sença de um nódulo, deve-se avaliar a localização, tamanho, forma (redonda, oval, irregular), margens (circunscrita, obscurecida, microlobulada, indistinta, espiculada), densidade (alta densidade, densidade igual, baixa densidade, conteúdo adiposo)34(B). A forma redonda é usada quando o nódulo é esfé- rico, arredondado, circular ou globular. A forma oval pode ter no máximo 3 ondulações. A forma irregular FIGURA 3: Paciente portadora de lesão tumoral suspeita, palpável, com correspondente tumoral espiculado e com retração cutânea associada, localizada em QSL de mama esquerda FIGURA 4: Compressão localizada de lesão tumoral espiculada em cor- respondência a lesão clinicamente evidente. CAP. 03 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO 34 não pode ser classificada como redonda ou oval. A margem circunscrita caracteriza-se por uma transição abrupta entre a lesão e o tecido circunja- cente. A obscurecida é aquela em que mais de 25% da margem de um nódulo circunscrito está oculta. Margem microlobulada é caracterizada por peque- nas ondulações. Na margem indinstinta não existe demarcação nítida de toda ou parte da margem em relação ao tecido circunjacente. Margem espiculada caracteriza-se por linhas irradiadas do nódulo. Densidade é usado para definir a atenuação dos raios x pela lesão em relação à atenuação de um vo- lume igual de tecido fibroglandular normal. A maio- ria dos nódulos malignos apresentam densidade igual ou maior ao tecido fibroglandular adjacente. Nódulos contendo gordura raramente são malignos. Nódulos de forma irregular e margens espicula- das, são os que apresentam maior valor preditivo para câncer de mama. Sickles mostrou em um es- tudo, que menos de 5% dos nódulos com margens circunscritas são câncer, portanto para estes nódu- los, seria necessário apenas o acompanhamento35(B). Este mesmo autor, demonstrou em outros estudos que isto independe do tamanho36(A) e que 3 ou mais lesões iguais, redondas e circunscritas, quase sempre são benignas - regra da multiplicidade37(B) (Figura 5). Dentre os nódulos que apresentam característi- cas de benignidade à mamografia, não necessitan- do de propedêutica adicional, podemos citar: lin- fonodo intramamário (forma reiniforme, contornos bem definidos, tamanho < ou igual a 1,0 cm, hilo radioluscente, na maioria das vezes localizado no QSL), o fibroadenoma calcificado (nódulo associado a calcificações grosseiras, tipo “pop corn”), o cisto oleoso (nódulo associado a depósitos de calcifica- ções, delimitando a sua parede). Outro sinal que é bastante sugestivo de benig- nidade, mas não patognomônico, é o sinal de halo, que trata-se de uma ilusão de ótica, formando uma tênue e escura linha de 1mm de espessura, em tor- no de um nódulo circunscrito38(B). FIGURA 5: Lesões nodulares esparsas bilaterais, com padrão morfológi- co sugerindo benignidade. FIGURA 6: Mamografia com achados radiológicos de microcalcificações monomórficas difusas e esparsas, bilaterais, mais numerosas em mama direita. MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO 35 CAP. 03 Calcificações São depósitos de cálcio de composição ainda in- certa. Embora os principais elementos sejam a hi- droxiapatita de cálcio e oxalato de cálcio, existem também outras substâncias já identificadas. Calcifi- cações de oxalato de cálcio são vistas à microsco- pia, apenas quando se usa a luz polarizada24(B). De- ve-se avaliar localização, tamanho, número, forma e distribuição (Figuras
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