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Psicologia Humanista: Contexto Histórico e Fundamentos

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Módulo 01 - O pensamento humanista em Psicologia.
 
Contexto histórico de surgimento da Psicologia Humanista.
 
Bibliografia básica: AMATUZZI, M. “Humanismo e Psicologia.” Por uma Psicologia Humana. São Paulo: Ed. Alínea, 2008. 
 
Reunimos sob o nome de “Psicologias Humanistas” vários modelos de compreensão de homem que, embora divirjam entre si, convergem na ênfase dada ao sentido das vivências humanas e na liberdade como condição ontológica. Tomaremos como foco de nossos estudos a Abordagem Centrada na Pessoa, desenvolvida por Carl Rogers a partir da década de 1950, a Gestalt-Terapia, por Fritz Perls na mesma época e a Psicologia Existencial-Humanista, desenvolvida por Carl Rogers.
 
As Psicologias Humanistas florescem nos Estados Unidos a partir da década de 1950. Esse período que seguiu a Segunda Guerra Mundial estava marcado pelos horrores provocados pela humanidade, assim como pelo temor constante da auto-destruição atômica na Guerra Fria. Nas décadas seguintes cresceram as tensões e disputas raciais em busca do fim da discriminação e os Estados Unidos se envolveram com a Guerra do Vietnã, que resultou na morte de milhares de jovens soldados e na mobilização de parcela considerável da sociedade pela paz.
 
Nesse momento histórico, a Psicologia estava dividida entre duas “forças”: A Psicanálise freudiana, que apresenta o homem como um organismo determinado por impulsos inconscientes que buscam a satisfação do prazer ou a evitação do desprazer, e o Behaviorismo, que é a aplicação do modelo científico-natural de conhecimento, apresentando o homem como um organismo determinado por sua história de modelagem e pelo ambiente.
 
Assim, a Psicologia Humanista surge como a Terceira Força na psicologia. A Terceira Força considera as psicologias de sua época deterministas, pois buscam determinar a causa dos comportamentos humanos. Para isso, recorrem a modelos explicativos que não abarcam aquilo que o humano tem de mais peculiar: a liberdade. Ao posicionar a questão do sentido da vida como a mais importante, estão afirmando que a existência humana é livre e capaz de fazer escolhas em direção ao que é significativo em sua vida. Proclamam também que o ser humano é animado por uma força vital, que o impulsiona ao crescimento e à complexificação da existência. (Figueiredo, 2012)
 
Atividades Recomendadas
 
1) Faça uma leitura criteriosa dos textos indicados, atentando para a interpretação que a Psicologia Humanista faz da Psicanálise e do Behaviorismo. Identifique a natureza dessa crítica; é ela ontológica, epistemológica, metodológica, etc.?
 
2) Pesquise por meios tradicionais ou eletrônicos: Humanismo, Existencialismo, Contracultura.
 
3) Pesquise por meios tradicionais ou eletrônicos sobre os psicólogos humanistas: Carl Rogers, Abraham Maslow, Karen Horney, Erich Fromm, Rollo May.
 
4) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 
A Psicologia Humanista foi caracterizada por Erich Fromm como a Terceira Força na Psicologia. Sobre isso, é verdadeiro afirmar:
 
I – A Psicologia Humanista é a Terceira Força, que surge em oposição à Psicanálise de Freud (1ª Força) e ao Behaviorismo de Skinner (2ª Força).
II – A Psicologia Humanista surge no começo do séc XX em reação à psicologia “pouco científica” do XIX, que era baseada na consciência e na introspecção. É ciência aplicada, e enquanto tal busca a previsão e o controle do seu objeto de estudo (o humano).
III – A Psicologia Humanista de Rogers, Fromm, Horney defende que o sentido dos comportamentos humanos pode ser descoberto a partir de uma análise da história de modelagem.
IV – A Terceira Força defende que ser humano é ser livre e responsável por si mesmo. Seu destino está em suas mãos. Para isso, o homem dispõe de responsabilidade, envolvimento, capacidade de ação, de fazer escolhas e de crescer.
V – A Psicologia Humanista considera que “o ser humano é, em seu cerne, um organismo em que se pode confiar.” 
 
Estão corretas as afirmações:
 
A) I, II e III, apenas.
B) II, III e IV, apenas.
C) I, IV e V, apenas.
D) III, IV e V, apenas.
E) I, II, IV e V, apenas. 
 
Considerando as afirmações acima, identificamos que a I, a IV e a V estão corretas. Portanto, a resposta é C. A afirmação II está incorreta, pois a Psicologia Humanista não surge como aplicação do método científico-natural de pesquisa nem concebe o homem como passível de previsão e controle. Pelo contrário, busca a liberdade do humano e os meios para resguardar ou resgatar essa liberdade. A afirmação III está incorreta, pois afirma que as motivações humanas podem ser compreendidas como causas, isto é, determinantes do comportamento. O ser humano é essencialmente aberto para o seu futuro, existindo enquanto processo dirigido à realização pessoal.
 
 
Liberdade e Responsabilidade como características essenciais do humano.
 
Bibliografia básica: AMATUZZI, M. “Humanismo e Psicologia.” Por uma Psicologia Humana. São Paulo: Ed. Alínea, 2008. 
 
A Psicologia Humanista do século XX encontra no Renascimento, movimento artístico e filosófico iniciado no século XV de revalorização do humano, em oposição ao Escolasticismo. Os filósofos Humanistas introduziram a noção de livre-arbítrio, pois acreditavam no poder do homem de planejar sua vida, comandar seu destino e direcioná-lo para a liberdade, a justiça e a paz. Além do Humanismo filosófico, a Psicologia Humanista encontra fundamentação teórica no Existencialismo (Kierkegaard, Sartre).
 
Sob a categoria “Psicologia Humanista” encontraremos o pensamento de autores diversos, como Kurt Goldstein, Abraham Maslow, Thomas Greening, Karen Horney e Erich Fromm. Além destas influências, Amatuzzi (2008) indica a fenomenologia de Husserl e a fenomenologia-existencial de Heidegger como as mais importantes fundamentações teóricas. Os humanistas compartilham, portanto, da ênfase no conhecimento da singularidade, assim como na postulação de uma força criativa, tendente à autorrealização e ao crescimento.
 
Em todos os autores mencionados acima também encontramos a ênfase na liberdade para fazer escolhas e na responsabilidade pela própria vida. Também compartilham a ênfase no conhecimento da singularidade, assim como na postulação de uma força criativa, tendente à autorrealização e ao crescimento. Por exemplo, Maslow ficou conhecido pela Pirâmide das Necessidades, na qual expõe que estamos sempre em direção a experiências e realizações mais complexas, pois o ser humano, diferentemente dos animais, não vive apenas em função da realização das necessidades.
 
Nós fazemos escolhas em nome de nossa realização existencial. Quanto maior o nosso grau de liberdade, mais criativos serão nossos recursos para lançarmo-nos em direção ao nosso futuro. O psicólogo Humanista brasileiro Mauro Amatuzzi apresenta essa ideia afirmando que “sob esse enfoque o ser humano nos aparece não como resultante de uma série de coisas, mas como, fundamentalmente, o iniciante de uma série de coisas...” (2008, p.11)
 
Atividades Recomendadas
 
1) Faça uma leitura criteriosa dos textos indicados, atentando para a interpretação os temas da filosofia humanista medieval. Relacione esses temas com as reflexões da Psicologia Humanista moderna.
 
2) Pesquise por meios tradicionais ou eletrônicos: Renascimento e Filosofia Humanista e sobre os filósofos Pascal, Kierkegaard, Nietzsche.
 
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 
A Psicologia Humanista do século XX encontrou no Humanismo, movimento filosófico medieval, fundamentação para as suas posições na Psicologia. Esse movimento filosófico combateu a Escolástica, recolocando como centro das reflexões o Homem, como fizera a cultura clássica anteriormente. Das ideias e citações abaixo, as que correspondem aos ideais do Humanismo são:
 
I – “Qual é a utilidade de conhecer a natureza dos quadrúpedes, aves, peixes e serpentes e não conhecer ou até mesmo negligenciar a natureza do homem?” (Petrarca)
II – O homem é um ser que, diferentemente dos demais, não tem lugar ou aspecto fixo, não tem forma determinada nem leis que determinam sua natureza. Ele pode escolherpara si mesmo seu lugar e sua natureza e criar leis para si mesmo. (Pico della Mirandola)
III – Como a mente do homem foi criada pelo sopro de Deus e seu corpo, do barro, o homem reúne as naturezas mortal e imortal. (Philo)
 
A) I e II, apenas.
B) II e III, apenas.
C) I, II e III, apenas.
D) I, apenas.
E) II, apenas.
 
Seus estudos da fundamentação filosófica da Psicologia Humanista devem ter-lhe mostrado que os Humanistas medievais recuperam a dignidade do homem, mostrando que é dotado de livre arbítrio, e colocaram a natureza humana como foco das reflexões filosóficas. Assim, as afirmações I, II e III expressam esses ideais. A alternativa correta é C.   
 
 
A questão do sentido da vida como tema central das Psicologias Humanistas.
 
Bibliografia básica: AMATUZZI, M. “Humanismo e Psicologia.” Por uma Psicologia Humana. São Paulo: Ed. Alínea, 2008. 
 
Na época do florescimento da Psicologia Humanista nos Estados Unidos, em meio ao questionamento sobre o sentido dos valores vigentes na sociedade atual e sobre o sentido das guerras, perguntava-se: por que o ser humano se destrói? E com isso: qual é o sentido da vida? Nessa mesma época ganha força o movimento de contracultura (simbolizado pelos hippies), a experimentação com drogas alucinógenas, a invenção da pílula anticoncepcional e a libertação sexual. Os antigos valores eram modificados. O que é uma boa vida? Como se deve viver? O que nosso modo de civilização nos legou até hoje?
 
Essas perguntas se interessam pelo sentido da vida. A pergunta pelo sentido da vida é o leit motif das Psicologias Humanistas. Todas as Psicologias Humanistas consideram a questão do sentido da vida a questão mais importante na vida de cada um de nós. Perguntar pelo sentido da vida significa questionar os valores que balizam meus comportamentos, pois é com base neles que determinamos o que é ‘certo’ e ‘errado’, ‘bom’ e ‘mal’. É com base nesses valores que tomamos as pequenas e grandes decisões de nossas vidas. Significa reconhecer que todos os nossos comportamentos são motivados e visam um sentido.
 
Ao colocar o sentido como questão principal, a Psicologia Humanista diferencia-se das Psicologias de outras abordagens teóricas. Estas se preocupam em explicar comportamentos. Para isso, recorrem a hipóteses explicativos sobre o funcionamento do homem. Ao fazer isso, deixam de lado aquela que é a principal questão humana: o que faço com minha vida?
 
Atividades recomendadas:
 
1) Faça uma leitura criteriosa dos textos indicados, atentando para a questão do sentido como questão principal da Psicologia Humanista.
 
2) Reflita e redija uma reflexão pessoal sobre sua a vida e tente identificar os valores que a norteiam. Apóie-se nas seguintes perguntas indicadas por Thomas Greening (1975): a) o que significa para você ser plenamente humano? b) que sentimento decorre do fato de estar vivo agora? c) como devemos nos tratar uns aos outros?
 
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 
A peça Hamlet, escrita por Shakespeare entre 1599 e 1601, narra a história do princípe da  Dinamarca, cuja tio, assassino de seu pai para assumir o trono, desposa sua mãe. O fantasma do rei assassinado aparece para o príncipe, que trama uma vingança.  Leia atentamente o solilóquio de Hamlet e responda à questão a seguir.
 
Ser ou não ser... Eis a questão. Que é mais nobre para a alma: suportar os dardos e arremessos do fado sempre adverso, ou armar-se contra um mar de desventuras e dar-lhes fim tentando resistir-lhes? Morrer... dormir... mais nada... Imaginar que um sono põe remate aos sofrimentos do coração e aos golpes infinitos que constituem a natural herança da carne, é solução para almejar-se.
 
Morrer.., dormir... dormir... Talvez sonhar... É aí que bate o ponto. O não sabermos que sonhos poderá trazer o sono da morte, quando ao fim desenrolarmos toda a meada mortal, nos põe suspensos. É essa ideia que torna verdadeira calamidade a vida assim tão longa! Pois quem suportaria o escárnio e os golpes do mundo, as injustiças dos mais fortes, os maus-tratos dos tolos, a agonia do amor não retribuído, as leis amorosas, a implicância dos chefes e o desprezo da inépcia contra o mérito paciente, se estivesse em suas mãos obter sossego com um punhal? Que fardos levaria nesta vida cansada, a suar, gemendo, se não por temer algo após a morte - terra desconhecida de cujo âmbito jamais ninguém voltou - que nos inibe a vontade, fazendo que aceitemos os males conhecidos, sem buscarmos refúgio noutros males ignorados?
De todos faz covardes a consciência. Desta arte o natural frescor de nossa resolução definha sob a máscara do pensamento, e empresas momentosas se desviam da meta diante dessas reflexões, e até o nome de ação perdem. (WILLIAM SHAKESPEARE, Hamlet)
 
A partir do solilóquio de Hamlet e do contexto das abordagens humanistas em psicologia, é correto afirmar que:
 
I – A questão que atormenta Hamlet nesse solilóquio é a questão do sentido de sua vida.
II – A questão do sentido da vida era menosprezada pela psicologia do começo do século XX, até que o humanismo enfatizou sua importância. Para o humanismo, o sentido da vida é a principal questão humana.
III – Hamlet está em depressão, por isso questiona se vale à pena continuar vivendo ou se deve se suicidar. A depressão foi causada pela perda de seu pai, assassinado, e por seu tio ter se casado com sua mãe, tornando-se seu padrasto.
IV – Para a psicologia humanista, o suicídio é uma escolha livre e responsável da pessoa.
 
São corretas as afirmações:
 
a) I e II, apenas.
b) II e II, apenas.
c) III e IV, apenas.
d) I, III e IV, apenas.
e) I, II, III e IV.
 
Para a Psicologia Humanista, uma poesia, uma dança ou uma música podem ser tão reveladoras da existência humana quanto um tratado filosófico. No trecho acima, encontramos o famoso solilóquio de Hamlet, atormentado pela morte de seu pai. A afirmação I apresenta uma interpretação para o solilóquio: Hamlet lida com o sentido de sua vida. Está correta. A afirmação II expõe a questão do sentido como foco da Psicologia Humanistas. Está correta. A afirmação III apresenta Hamlet como padecendo de um distúrbio psiquiátrico (depressão). Com base em que seria feita essa afirmação? A questão que Hamlet apresenta – se vale à pena viver ou não – não é fruto de psicopatologia, mas, sim, expressão da pergunta humana pelo sentido da própria vida, que todas as pessoas fazem, de modos mais ou menos temáticos. Esta afirmação está, portanto, errada. A afirmação IV apresenta o suicídio como uma escolha livre e responsável. Está errada, pois o suicídio é um atentado contra a vida humana. O suicídio encerra a abertura para o futuro, que é condição para o homem poder fazer-se, criar-se e encontrar novos sentidos.
A alternativa que apresenta as afirmações I e II como corretas é A.
 
4) Realize os exercícios deste módulo, anotando as dúvidas que surgirem durante a resolução. Busque respostas às suas dúvidas na bibliografia indicada ou através de novas pesquisas bibliográficas. Caso suas dúvidas persistam, apresente-as ao professor, nas aulas presenciais.
Módulo 2: Vivência - o cerne da experiência humana. A Pesquisa do Vivido.
Objetivo: Compreender a noção de vivência, que é um dos eixos centrais da psicologia humanista. 
 
O que se entende por investigação do humano
Leitura Obrigatória: AMATUZZI, M. “Pesquisa do vivido”. Por uma Psicologia Humana. São Paulo: Ed. Alínea, 2008. 
            A Psicologia Humanista é crítica em relação à hegemonia do conhecimento científico na investigação sobre o humano. Coloca como questão para a Psicologia se não há outras formas de conhecimento sobre o seu “objeto”, o humano.
           O conhecimento científico trabalha com fatos, que são mensuráveis. Segue regras precisas de observação e investigação, que recebem o nome de ‘método’, para assegurar a veracidade do conhecimento produzido. Apesar da pretensa objetividade, há um pressuposto que fundamenta esse modelo de investigação. A ciência pressupõe que a natureza funciona de acordo com leis gerais e que o homem pode descobri-las atravésde rigoroso método de investigação. Opera sobre a cisão Sujeito – Objeto; os objetos são as partes da natureza e o Sujeito é o pesquisador, aquele que é capaz de investigar e explicar o funcionamento da natureza.
           A cisão Sujeito - Objeto pode ser retraçada à obra do filósofo René Descartes (1596 – 1650). Ele propõe à filosofia que supere o conhecimento vago e especulativo que a dominou por séculos, buscando uma fundamentação sólida e certa. Encontra-a no conhecimento preciso da matemática, para a qual 2 + 2 sempre serão igual a 4. No início do Discurso do Método (1637), ele aponta a insuficiência do senso comum para o conhecimento certo. Escreve:
... a diversidade de nossas opiniões não provém do fato de serem uns mais racionais do que os outros, mas somente de conduzirmos nossos pensamentos por vias diversas e não considerarmos as mesmas coisas. Pois não é suficiente ter o espírito bom, o principal é aplicá-lo bem. As maiores almas são capazes dos maiores vícios, tanto quanto das maiores virtudes, e os que só andam muito lentamente podem avançar muito mais, se seguirem sempre o caminho reto, do que aqueles que correm e dele se distanciam. (p.41)
             A partir da consideração de um método preciso de conhecimento racional, Descartes formula a divisão da natureza em dois tipos de substâncias: res cogitans (coisa pensante) e res extensa (coisa extensa). Podemos identificar nessa dualidade a divisão presente no nosso modelo científico entre Sujeito (res cogitans) e Objeto (res extensa).
            A Psicologia enquanto ciência padece de um difícil problema. O “objeto” de suas pesquisas é também o sujeito que investiga. Para a Psicologia Humanista está claro que o “objeto” de pesquisa da Psicologia é o Ser Humano. Sendo assim, a investigação não pode seguir os mesmos métodos e critérios de investigação de objetos naturais, mensuráveis.
            Amatuzzi (2008) segue a divisão contemporânea das ciências entre Ciências Naturais e Ciências Humanas, enquadrando a Psicologia nas Ciências Humanas. Enquanto as Ciências Naturais lidam com fatos – neutros, mensuráveis –, as Ciências Humanas lidam com fenômenos. Fenômenos são as experiências vividas do homem na sua relação com o mundo, sempre carregados de significados. Para a Psicologia Humanista, os fatos (objeto das ciências naturais) são abstrações a partir dos fenômenos. Assim, o “objeto” de investigação na psicologia humanista é a “vivência”.
 
Referências bibliográficas
AMATUZZI, M. Por uma Psicologia Humana. São Paulo: Ed. Alínea, 2008.
DESCARTES, René. Obra Escolhida. Trad. Guinsburg, J e Prado Jr., B. 3ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994.
Atividades recomendadas:
 
1) Faça uma leitura criteriosa dos textos indicados, atentando para as diferenças entre ciências naturais e ciências humanas e seus respectivos objetos de investigação.
 
2)  Reflita: para você, a Psicologia é uma Ciência Natural ou uma Ciência Humana? Por que? Redija uma dissertação sobre o tema, expondo justificativas para ambas as possibilidades. Conclua defendendo a sua posição.
 
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 
No século XIX, iniciou-se um movimento de questionamento da metodologia natural-científica na investigação do humano. Esta parte do pressuposto de que a natureza está aí e funciona de acordo com leis que o homem pode descobrir objetivamente. Os objetos são parte do mundo. Os sujeitos podem conhecê-los. A partir dessa crítica, surge a diferenciação entre Ciências Naturais e Ciências Humanas. Das alternativas abaixo, aquela que expressa corretamente o tipo de relação estabelecida, a origem da objetividade científica, a natureza do que é investigado e o objeto de investigação é:
 
A) As Ciências Humanas trabalham com a relação Sujeito – Objeto, buscando a objetividade nos fatos que surgem dos objetos puros.
B) As Ciências Naturais trabalham com a relação Sujeito – Objeto, buscando a objetividade nos fenômenos que surgem da relação homem-mundo.
C) As Ciências Humanas trabalham com a relação Sujeito – Objeto, buscando a objetividade nos fatos.
D) As Ciências Humanas trabalham com a relação Sujeito – Sujeito, buscando a objetividade nos fenômenos que surgem da relação homem-mundo.
E) As Ciências Humanas trabalham com a relação Sujeito – Objeto, buscando a objetividade nos fenômenos que surgem da relação homem-mundo.
 
Se você leu atentamente os textos, compreendeu que as Ciências Naturais estabelecem relações Sujeito-Objeto, pois compreendem o investigado como fato objetivo.  Já as Ciências Humanas estabelecem relações Sujeito-Sujeito, tendo como ‘objeto’ os fenômenos, cuja significação brota da intersubjetividade. Diante disso, a alternativa que apresenta corretamente o paradigma das Ciências Naturais ou das Ciências Humanas é a D.
 
O conceito de vivência
Leitura Obrigatória: AMATUZZI, M. “Pesquisa do vivido”. Por uma Psicologia Humana. São Paulo: Ed. Alínea, 2008.
 
            Amatuzzi (2008) indica como “objeto” de investigação das Psicologias Humanistas o vivido. Por vivido entende “nossa reação interior imediata àquilo que nos acontece, antes mesmo que tenhamos refletido ou elaborado conceitos.” (p.53) Trata-se de como nós nos sentimos, nossa reação imediata àquilo que nos acontece e sua significação. Isso pode ser expresso tanto pela linguagem quanto através de gestos. A poesia e a dança são tanto expressão do vivido quanto um relato, embora tenham profundidade e abrangência diferentes. Ele propõe uma representação gráfica para o vivido: um triângulo invertido, que tem no ângulo inferior a reação imediata (“vivido puro”) e nos ângulos superiores a “interpretação fundadora” e a “ação”, respectivamente. O vivido pleno é a totalidade do vivido puro e sua expressão simbólica através da interpretação fundadora e da ação.
            Assim, um acontecimento “dispara”, por assim dizer, o vivido. Esse acontecimento (“algo que me acontece”) é imediatamente simbolizado e se expressa na forma de um pensamento sobre ou uma reação ao ocorrido. Não há vivido puro, portanto, pois toda vivência é simbolizada e expressada.
            O “objeto” da investigação do humano pela Psicologia Humanista é o “vivido pleno”, isto é, a experiência humana significativa na sua relação vivencial com o mundo.
	A pesquisa qualitativa humanista trabalha nessa base. Considera as vivências seu objeto de pesquisa. As vivências – ou “vivido pleno” – são o conjunto “sentimento-pensamento-ação”, “experiência-percepção-comunicação”, ou “vivido, simbolizado, manifesto”. (AMATUZZI, 2008, p.58) Mas a vivência tematizada na pesquisa é vivenciada pelo pesquisador. Ela também “dispara” um vivido pleno. Isso significa que a pesquisa do vivido nunca encontra vivências puras, mas, sim, vivências vivenciadas pelo pesquisador. Isso não é uma falha da pesquisa. Pelo contrário, é a constituição mesma do modo de conhecer a realidade. Sendo assim, o pesquisador nunca é neutro.
Atividades recomendadas:
 
1) Faça uma leitura criteriosa dos textos indicados, atentando o conceito de vivência descrito por Amatuzzi.
 
2) Considere as suas vivências mais imediatas neste momento. Descreva-as, seguindo a metáfora elaborada por Amatuzzi.
 
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
O objeto de pesquisa qualitativa em fenomenologia é o “vivido” por alguém. A principal fonte de manifestação do vivido é o depoimento. Sobre o “vivido”, é correto afirmar que:
I – O “vivido” compreende o primeiro e mais puro momento da vivência, anterior a qualquer significação.
II – Nas pesquisas, o “vivido” é colhido através de relatos verbais ou por escrito.
III – O vivido é simbolizado pela história de vida individual e cultural da pessoa.
IV – O vivido se manifesta em qualquer ação da pessoa; uma dança é um depoimento, mas não é do tipo mais indicado para a pesquisa em psicologia.
Está correto apenas o que se afirma em:
A) I, II.
B) I, II e III.
C) II e III.
D) II, III e IV.
E) I, II, III e IV.
 
Se você leu atentamente os textos indicados, pôde compreender que a resposta correta é D. A afirmação I estáincorreta, pois indica como “vivido” apenas “aquilo que me acontece”, antes da simbolização e da expressão como pensamento e ação. As demais afirmações estão corretas, pois o vivido pode ser colhido através de relatos verbais sobre experiências vivenciadas (II), assim como através de expressões artísticas (IV). O vivido, sendo o conjunto formado pelo vivido puro e por sua expressão através de ação e de pensamento, recebe sua estrutura (Amatuzzi fala de “esqueleto”) da história individual e social da pessoa.
Módulo 3: Os pressupostos epistemológicos e ontológicos da Abordagem Centrada na Pessoa, desenvolvida por Rogers.
 
Compreensão do conceito de Pessoa presente na obra de Carl Rogers
 
Bibliografia básica: ROGERS, C. “Ser o que realmente se é: Os objetivos pessoais vistos por um terapeuta.” Tornar-se Pessoa. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
Bibliografia complementar: AMATUZZI, M. “Abordagem Centrada na Pessoa e Psicoterapia” Rogers: Ética Humanista e Psicoterapia. Campinas, SP: Editora Alínea, 2010.
 
Carl Rogers, o fundador dessa abordagem, nasceu em 8 de janeiro de 1902 em Oak Park, Illinois, nos Estados Unidos. Trabalha como psicólogo desde 1927 realizando psicodiagnóstico infantil, aconselhamento de pais, estudantes e adultos e psicoterapia no Centro de Prevenção de Violência contra a Criança (NY). Rogers falece em 4 de fevereiro de 1987. Visita o Brasil algumas vezes na década de 1970.
Nessa época, a Psicologia norteamericana está dividida entre behaviorismo e psicanálise, ambas apoiadas nas ciências naturais. Para Rogers, a metade do século XX é uma época que valoriza a tecnologia como valor máximo, aplicando esse valor às relações humanas. Com isso, visando um tratamento eficiente, o psicólogo mantém uma postura distanciada de seu “objeto de estudo”, o paciente. Além disso, o ser humano é visto como “vítima passiva de forças”, sejam elas impulsos inconscientes, pressões sociais ou condicionamentos.
Através de seu trabalho como psicólogo no Centro de Prevenção, Rogers percebe os efeitos positivos de uma postura acolhedora e respeitosa com seus clientes. Essa postura se contrapõe à postura distanciada, científica, dos psicólogos da época. Colocando-se assim na relação com os clientes, Rogers descobre que todo indivíduo tem a capacidade de descobrir e buscar o que é melhor para si mesmo. Essa ideia está em sintonia com a compreensão humanista, que, como já discutido, enfatiza a liberdade e a responsabilidade essenciais do homem.
A hipótese sobre o ser humano formulada por Rogers é a seguinte: “Os indivíduos possuem dentro de si vastos recursos para a autocompreensão e para a modificação de seus autoconceitos, de suas atitudes e de seu comportamento autônomo. Esses recursos podem ser ativados se houver um clima, passível de definição, de atitudes psicológicas facilitadoras.” (p.38) Em outras palavras, as pessoas são capazes de perceber e compreender o que acontece em suas vidas e de se posicionarem em relação a esses acontecimentos. Para isso, precisam dispor de liberdade e criatividade diante das situações da vida.
            O termo “responsabilidade” tem dois significados aqui. O primeiro é o significado mais corrente do termo: os acontecimentos de minha vida estão sob meu encargo. O segundo significado enfatiza a etimologia da palavra, indicando a capacidade de responder. Ser responsável significa ser capaz de responder ao que me solicita. Esse responder não é um mero reflexo, mas um posicionamento do indivíduo em relação ao que lhe advém. É, portanto, um ato de livre determinação do homem, mas que exige criatividade.
A psicologia da época de Rogers estuda o ser humano visando descobrir as causas determinantes de seu comportamento. A psicanálise hipotetiza as pulsões como princípio dos comportamentos. Ademais, explica que as pulsões, correlatos psíquicos dos instintos, objetivam a satisfação do prazer ou alívio do desprazer. Na vida em sociedade, esses impulsos, que facilmente nos levariam a destruir o próximo para satisfazer nossos desejos, precisariam ser reprimidos. A partir de sua experiência no contato com pessoas que atendia, Rogers vê-se obrigado a contestar essa hipótese. Segundo ele, “O ser humano é, em seu cerne, um organismo em que se pode confiar.” (p.41)
 
Atividades recomendadas:
 
1) Faça uma leitura criteriosa dos textos indicados, atentando para a noção de pessoa que fundamenta a obra de Carl Rogers.
 
2) Críticos da concepção de homem de Carl Rogers, como a psicóloga brasileira Virginia Moreira, consideram-na excessivamente otimista. Com base nos textos lidos, faz sentido essa crítica? Quais são as consequências positivas e negativas desse otimismo?
 
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 
A Terapia Centrada no Cliente, desenvolvida por Rogers, oferece ao cliente um espaço de acolhimento e aceitação a fim de que ele possa assumir sua própria vida e “tornar-se quem é”, desenvolvendo uma atitude de maior consideração em relação a si mesmo e às situações significativas de sua vida. Essa abordagem assenta sobre uma compreensão de homem que afirma que:
 
a) os indivíduos possuem dentro de si recursos para compreenderem-se e para modificar seus conceitos, suas atitudes e seu comportamento. Esses recursos podem ser ativados a partir de atitudes psicológicas facilitadoras.
B) quando são ainda bebês, os indivíduos são objeto dos afetos dos pais. Esses afetos são introjetados e formam a personalidade da pessoa. As relações significativas posteriores são reedições dessas experiências primeiras.
C) os indivíduos são determinados pelo meio em que vivem. Assim, a história de vida é determinante do jeito que ela se relacionará com os demais ao longo da vida.
D) os indivíduos têm uma tendência a se anularem em favor dos outros. Assim, tornar-se quem se é significa entender o quanto é nocivo agradar aos outros.
E) o único aspecto realmente importante da vida é o aqui-e-agora; a história de vida e as expectativas em relação ao futuro são secundários.
 
Seus estudos devem ter-lhe auxiliado a perceber que as alternativas B e C apresentam hipóteses deterministas sobre a natureza humana, que não correspondem à perspectiva de Carl Rogers. A alternativa D interpreta equivocamente a noção de “tornar-se quem se é”, pois pressupõe que os outros são nocivos para a pessoa. A alternativa E desconsidera a importância da história de vida e dos projetos existenciais. Portanto, a alternativa correta é a A, que apresenta a compreensão de pessoa como um organismo que tende à auto-realização e é, em sua essência, confiável.
 
A Tendência Atualizante
 
Bibliografia básica: ROGERS, C. “Ser o que realmente se é: Os objetivos pessoais vistos por um terapeuta.” Tornar-se Pessoa. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
Bibliografia complementar: AMATUZZI, M. “Abordagem Centrada na Pessoa e Psicoterapia” Rogers: Ética Humanista e Psicoterapia. Campinas, SP: Editora Alínea, 2010.
 
O ser humano não é determinado por forças que o impelem a destruir o outro ou si mesmo. Pelo contrário, todo organismo busca a autorrealização e o crescimento cada vez mais plenos. Realizar-me como indivíduo significa também ajudar os outros na busca da autorrealização. Assim, Rogers formula que todo organismo possui uma tendência natural a um desenvolvimento mais completo e mais complexo. Isso pode ser observado em todos os organismos e não seria diferente com o ser humano. Nossos processos naturais também estão voltados para a manutenção, para o crescimento e para reprodução do organismo que somos. Essa tendência natural ao desenvolvimento mais completo e mais complexo recebe o nome de Tendência à Autorrealização (ou Tendência Atualizante).
Na Abordagem Centrada na Pessoa, todos os comportamentos humanos são manifestação dessa tendência à autorrealização, o que significa que buscam a manutenção e o crescimento do organismo. Todas as pessoas possuem essa tendência intrínseca para buscar estados novos de maior complexividade afetividade e cognitiva.
A compreensão da tendência atualizante intrínseca às pessoas é o fundamento da propostarogeriana para a psicoterapia.  
Atividades recomendadas:
1) Faça uma leitura criteriosa dos textos indicados, atentando para a concepção de homem desenvolvida por Carl Rogers. Relacione essa concepção com os aspectos gerais das Psicologias Humanistas vistos no Módulo 01.
2) Reflita sobre a sua recepção dessa concepção otimista da essência humana. Você se percebe disposto a reconhecer que a “essência das pessoas é digna de confiança” (p.66)? Quais motivações você identifica para o seu posicionamento?
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
Rogers reconhece nos seres humanos a tendência à autorrealização. Diz ele:
 
Quer falemos de uma flor ou de um carvalho, de uma minhoca ou de um belo pássaro, de uma maçã ou de uma pessoa, creio que estaremos certos ao reconhecermos que a vida é um processo ativo, e não passivo. Pouco importa que o estímulo venha de dentro ou de fora, pouco importa que o ambiente seja favorável ou desfavorável. Em qualquer uma dessas condições, os comportamentos de um organismo estarão voltados para a sua manutenção, seu crescimento e sua reprodução. Essa é a própria natureza do processo a que chamamos vida. Esta tendência está em ação em todas as ocasiões. Na verdade, somente a presença ou ausência desse processo direcional total permite-nos dizer se um dado organismo está vivo ou morto. (Rogers, 1983, apud Moreira, 2007, p.52)
 
Sobre a tendência à autorrealização está correto afirmar:
 
A) A preocupação com uma possível tentativa de suicídio evidencia a presença de uma tendência destrutiva no âmago da condição humana.
B) Esta tendência se manifestará somente se houver, por parte do indivíduo, conscientização de sua existência.
C) Esta tendência pode ser frustrada ou desvirtuada, mas não pode ser destruída sem que se destrua também o organismo.
D) Sem estímulo externo, não há como esta tendência ser desenvolvida pelos organismos.
E) Esta tendência e sua manifestação independem da relação com o meio, sempre se manifestará da mesma forma, na mesma intensidade em todos os indivíduos.
 
A afirmação A apresenta uma tentativa de suicídio como evidência de uma tendência destrutiva na essência humana. Como vimos no texto acima e nas leituras indicadas, uma das principais contribuições de Rogers para a Psicologia foi a formulação de uma visão otimista do homem: “a essências das pessoas é digna de confiança”, pois a tendência à autorrealização visa a manutenção e o crescimento do organismo. Essa afirmação está, portanto, incorreta.
A afirmação B indica uma condição para a manifestação da tendência à autorrealização. Como vimos, essa tendência é intrínseca aos organismos e está sempre presente e atuante, extinguindo-se apenas quando o organismo morre. Está, portanto, incorreta.
Na afirmação C lemos que a “tendência pode ser frustrada ou desvirtuada, mas não pode ser destruída sem que se destrua também o organismo.” Está correto que ela pode ser frustrada ou desvirtuada. Devido a situações desfavorecedoras o organismo pode ficar limitado na sua capacidade de buscar desenvolvimentos criativos, restringindo seus comportamentos apenas aos de sobrevivência. Porém, mesmo desvirtuada ou frustrada a tendência à autorrealização permanece presente e atuante. Por isso, através de um clima facilitador, pode encontrar modos mais apropriados de manifestação, que conduzam a pessoa (o organismo) a modos mais complexos de vida. Esta afirmação está correta. Vejamos as demais.
A afirmação D apresenta como condição para a tendência à autorrealização a presença de estímulos externos. Há dois erros nessa afirmação. Primeiro, a autorrealização é inerente, intrínseca aos organismos. Lembremos, entretanto, que toda manifestação acontece no meio em que o organismo vive. O segundo erro está em condicionar a tendência à autorrealização a estímulos. Se necessitasse de estímulos externos ela seria um reflexo e não uma força motriz, origem de todos os comportamentos. Ela é iniciadora.
A afirmação E ignora a influência do meio em que vive o organismo. Como vimos, cada organismo interage constantemente com seu meio. Os meios podem ser mais ou menos favorecedores para a expressão da tendência à autorrealização, podendo até sistematicamente frustrá-la. Como o meio em que o organismo vive é fundamental para seu crescimento, a relação de ajuda na Abordagem Centrada na Pessoa é pensada como um ambiente facilitador.
Outro equívoco na afirmação E é a ideia de que a tendência à autorrealização se manifesta da mesma forma em todas as pessoas. Como cada pessoa tem uma história de vida singular, pois desenvolveu-se em ambientes diferentes, relacionando-se de formas diferentes consigo mesmo e com os outros, a tendência à autorrealização se manifesta de modo singular em cada pessoa ou organismo.
 
 
O objetivo da Psicoterapia e o lugar do terapeuta na Terapia Centrada na Pessoa
 
Bibliografia básica: ROGERS, C. “'Ser o que realmente se é': Os objetivos pessoais vistos por um terapeuta.” Tornar-se Pessoa. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
Bibliografia complementar: AMATUZZI, M. “Abordagem Centrada na Pessoa e Psicoterapia” Rogers: Ética Humanista e Psicoterapia. Campinas, SP: Editora Alínea, 2010.
 
          “Tornar-se quem se é” é o objetivo da relação terapêutica. Significa poder experimentar seus sentimentos e se relacionar consigo mesmo e com os outros de modo profundo, complexo e satisfatório. Porém, as relações vivenciadas podem conduzir à direção oposta. Circunstâncias ameaçadoras fazem com que o indivíduo priorize a defesa de sua integridade, ficando limitada na sua capacidade de experimentar a complexidade de sentimentos presentes nas relações humanas. Outras circunstâncias podem levar o indivíduo a falsear ou negar a sua realidade vivenciada, ou ainda a reprimir seus sentimentos e desejos. Por exemplo, uma criança pode sentir inveja diante do nascimento de um irmão, mas esse sentimento é mal visto e repreendido pelos pais. Isso pode levar essa criança a reprimir sentimentos percebidos como errados, ficando limitado na sua capacidade de se relacionar com os demais, pois a inveja é um sentimento humano.
          A Abordagem Centrada na Pessoa compreende que a repetição e o acúmulo de ameaças à integridade ou repressão de sentimentos, que experimentamos na família, na escola e na cultura podem limitar nossa liberdade de nos reconhecermos como somos e nossas necessidades, de experimentarmos nossos sentimentos e de realizarmos escolhas pertinentes ao nosso desenvolvimento pessoal e relacional.
          O terapeuta nesta abordagem é um facilitador do desenvolvimento pessoal. É alguém que se dispõe a compreender o cliente, respeitá-lo e aceitá-lo tal como ele próprio de percebe. Vê o cliente como pessoa, isto é, um ser livre e responsável, capaz de compreender-se e transforma-se, e relaciona-se com ele enquanto tal. A partir dessa relação terapêutica, a pessoa (cliente) começa a afastar-se de modelos falseados de si mesmo, encaminhando-se para maior autonomia. Torna-se progressivamente mais responsável por si mesmo, pois capaz de decidir-se sobre quais são comportamentos e sentimentos significativos e quais não. Encaminha-se, assim, para uma realidade mais fluida, em processo.
 
Atividades recomendadas:
1) Faça uma leitura criteriosa dos textos indicados, atentando para a concepção de homem e de psicoterapia desenvolvida por Carl Rogers e buscando os nexos entre ambas.
2)  Responda: fundamentado na abordagem desenvolvida por Carl Rogers, qual é a importância do autoconhecimento do terapeuta para a relação terapêutica?
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 
Com relação à Abordagem centrada na pessoa de Carl Rogers nós podemos afirmar que:
 
I – Trata-se de uma abordagem que ressalta a importância de que o terapeuta desenvolva um conjunto de atitudes que serão fundamentais para a mudança da pessoa, muito mais do que recursos técnicos de intervenção terapêutica.
II – A abordagem centrada preocupa-se fundamentalmente com intervenções que visam o conteúdo daquilo que se fala na sessão.
III – Na medida em que o terapeutainterage de modo autêntico, acolhedor, compreensivo e aceitando as pessoas, estas desenvolvem uma atitude de maior consideração em relação a si mesmas e fazendo com que elas se tornem mais congruentes.
 
Estão corretas:
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas. 
d) I e II, apenas.
e) I e III, apenas.
 
          Se você leu e compreendeu os textos indicados para estudo, pôde perceber que a afirmação I está correta, pois a Terapia Centrada no Cliente foi desenvolvida a partir da percepção de Rogers de que certas atitudes por parte do terapeuta eram mais propiciadoras de mudanças do que as técnicas. Rogers conhecia bem as técnicas psicológicas utilizadas na primeira metade do século XX, pois iniciou sua carreira como conselheiro psicológico. Sua postura acolhedora, compreensiva, revelou-se mais facilitadora de mudanças do que as técnicas persuasivas empregadas pela psicologia da época. Isso levou-o a conclusão de que a autenticidade, a compreensão e aceitação incondicional do terapeuta são condições suficientes para a autocompreensão e automodificação dos clientes. A afirmação III também está correta. A afirmação II está incorreta, pois processo terapêutico depende de que o terapeuta consiga propiciar um ambiente facilitador para o cliente. Portanto, a alternativa correta é E.
 
4) Realize os exercícios deste módulo, anotando as dúvidas que surgirem durante a resolução. Busque respostas às suas dúvidas na bibliografia indicada ou através de novas pesquisas bibliográficas. Caso suas dúvidas persistam, apresente-as ao professor nas aulas presenciais.
 
Módulo 4: A Gestalt-terapia de Perls. Suas interlocuções com o pensamento humanista. Fenômenos psicológicos à luz da Gestalt-Terapia.
 
Objetivo: Conhecer os pressupostos teóricos da Gestalt-terapia e a articulação com as abordagens humanistas em psicologia. Diferenciar os pressupostos e os objetivos da Gestalt- terapia das demais abordagens humanistas.
 
Dados biográficos de Fritz Perls e o desenvolvimento da Gestalt-Terapia
 
Bibliografia Básica: PERLS, F. (1988) “Fundamentos” A Abordagem Gestáltica e Testemunha Ocular da Terapia, cap. 1.
 
Bibliografia complementar: MENDONÇA, M. “A psicologia humanista e a abordagem gestáltica” In: FRAZÃO, L. M. & FUKUMITSU, K. O. (orgs.) Gestalt-terapia.
 
A Gestalt-terapia é uma abordagem terapêutica que enfatiza a responsabilidade e a liberdade essenciais do ser humano perante a sua existência. Seu desenvolvimento deve-se principalmente ao trabalho de Frederik Perls, cujo nome ficou associado a esse modelo de atendimento psicoterápico.
Perls nasce em 1893 na Alemanha, onde forma-se médico sob supervisão de Kurt Goldstein, neurologista estudioso da percepção em pacientes com ferimentos cerebrais. Inicia sua análise com Wilhelm Reich, dissidente da psicanálise freudiana. A influência de Reich faz-se sentir na importância que a Gestalt-terapia atribui ao corpo. Com a ascensão do nazismo, Perls, já casado com Laura Perls, foge para a África do Sul, onde funda um Instituto de Treinamento Psicanalítico. Data dessa época o seu primeiro livro Ego, fome e agressão (Ego, Hunger and Agression, 1947).
Em 1946 muda-se para os EUA, estabelecendo-se em Nova Iorque. Lá tem contato com a psicóloga humanista Karen Horney. Com a contribuição de Laura Perls, que era estudiosa da Psicologia da Gestalt, começa a dar corpo ao modelo de atendimento que realiza em workshops nos EUA. O nome Gestalt-terapia aparece pela primeira vez em 1951 (no livro O Início da Gestalt-terapia). Pouco depois fundam o Instituto de Gestalt-terapia de Nova Iorque.
Seguindo as ideias de Reich, Perls enfatiza a experiência corpórea como possibilidade de expressão. Fritz desenvolve essa compreensão na Gestalt-terapia através de uma concepção holística de homem. Há um paralelismo entre corpo e mente, de modo que ambos expressam vivencias. O homem é um organismo total que busca constantemente o equilíbrio através de trocas com o meio.
Na Psicologia da Gestalt Perls descobre que o “homem não percebe as coisas isoladas e sem relação, mas as organiza no processo perceptivo como um todo significativo” (Perls, 1988, p.18) a partir de um interesse motivador. Essa mesma teoria fornece outros conceitos importantes: figura-fundo, princípio de pregnância e teoria de campo.
 
Atividades recomendadas
1. Pesquise na bibliografia a vida e a obra de Fritz Perls e Laura Perls.
2. Pesquise inserção da Gestalt-terapia no Brasil. É difundida? Dispõem de centros de estudo e treinamento?
3. Pesquise na internet vídeos que mostram Fritz Perls realizando workshops e sessões terapêuticas. Descreva a postura dele nos atendimentos. Essa postura está em acordo com os fundamentos da Gestalt-terapia? Por que? Está em acordo com a Psicologia Humanista? Por que?
4. Acompanhe o exercício abaixo:
 
A imagem abaixo costuma ser usadas para se estudar a relação figura/fundo, estudada pela Psicologia da Gestalt e apropriada pela Gestalt-terapia.
 
 
        
 
Sobre o termo Gestalt é correto afirmar que:
 
a) refere-se à figura, que emerge a partir de um fundo. No caso da figura, a Gestalt é aquilo que vejo primeiro, seja um cálice ou dois rostos.
b) refere-se a um todo, a uma configuração estrutural que faz do todo uma unidade maior do que a soma das partes.
c) refere-se ao fundo, que determina que aspecto da figura aparece. No caso, se eu vejo os rostos primeiro, a Gestalt é fundo branco.
d) é sinônimo de awareness, isto é, a percepção global de si mesmo.
e) refere-se à possibilidade de perceber todas as imagens contidas numa mesma imagem. Perceber somente o rosto ou o cálice na figura é uma Gestalt-parcial.
 
Se você leu atentamente os textos indicados, lembra-se de que o termo Gestalt, apresentado pela Psicologia da Gestalt, refere-se a uma forma. A forma organiza-se como um todo estruturado a partir da relação figura-fundo. A percepção humana se dá através de todos organizados (Gestalt), por isso Fritz Perls utilizará esse termo para a terapia focada na capacidade de interação saudável indivíduo-meio que ele desenvolve. Das alternativas fornecidas, devemos encontrar aquela que apresenta adequadamente essa noção do termo Gestalt. A alternativa A indica como Gestalt apenas a figura que aparece. Está, portanto, incorreta. A alternativa C propõe o oposto: que o fundo é a Gestalt. A alternativa D apresenta esse conceito como sinônimo de awareness, importante conceito da Gestalt-terapia que designa a capacidade de apercepção da totalidade presente. Está incorreta, portanto. A alternativa E refere-se a todas as figuras possíveis de serem vistas no desenho, estando também incorreta. A alternativa que apresenta corretamente o conceito de Gestalt é B. 
 
Principais conceitos da Gestalt-terapia
 
Bibliografia Básica: PERLS, F. (1988) “Fundamentos” A Abordagem Gestáltica e Testemunha Ocular da Terapia, cap. 1.
 
Bibliografia complementar: FRAZÃO, L.M. “Psicologia da Gestalt” In: FRAZÃO, L. M. & FUKUMITSU, K. O. (orgs.) Gestalt-terapia.
 
A Psicologia da Gestalt estuda a percepção humana. Sua conclusão básica é de que o homem percebe totalidades, e não partes isoladas. Uma séria de pontos sequenciais, próximos uns aos outros, por exemplo, é visto como uma ‘linha’. A Gestalt-terapia busca seu nome no conceito de Gestalt, que se pode traduzir por ‘forma’. Gestalt significa também um ‘todo’. Nesta concepção, o todo é sempre diferente da mera soma das partes. Perls (1988) define esse conceito como: “forma, configuração, modo particular de organização das partes individuais que entram em composição.” (p.18) Disso se desdobra a concepção de que os indivíduos vivenciam totalidades. As totalidades se organizam como figuras sobre um fundo, organizadas de acordo com o interesse do indivíduo.
De acordo com a visão holística que fundamenta a Gestalt-terapia, os indivíduos são totalidades corpo-mente e ambos modos de ação, psíquico ou físico, são formas de expressão. O princípio que rege as ações do organismo é a homeostase, processo por qual busca o equilíbrio. As necessidades orgânicas e psicológicas geram desequilíbrio,que o organismo busca restaurar. Entretanto, a vida é um processo contínuo de desequilíbrio e busca de equilíbrio, nunca atingindo o equilíbrio absoluto. O mesmo processo regula a tendência à sobrevivência de todo organismo.
             Os organismos agem em ‘campos’. Esse é um conceito da Psicologia da Gestalt, desenvolvido pelo psicólogo Kurt Lewin. Um campo é uma totalidade em equilíbrio de forças e todos os acontecimentos no campo são funções desse campo total. Os comportamentos do indivíduo, em resposta a suas necessidades, podem estar em relação mútua com o meio no qual acontecem ou em relação conflituosa. Neste caso, há dispêndio desnecessário de energia e perda da capacidade do indivíduo de interagir com seu meio. Isso pode culminar num processo neurótico: “Se, por alguma alteração no processo homeostático, o indivíduo for incapaz de manipular seu meio a fim de atingi-las [necessidades], comportar-se-á de modo desorganizado e ineficaz.” (Perls, 1988, p. 33)
            A Gestalt-terapia é um processo a partir do qual o organismo (no caso, o cliente) pode recuperar sua capacidade de relação com o meio, reconhecendo suas necessidades e agindo eficazmente de acordo com elas.
 
Atividades recomendadas
1. Leia atentamente os textos indicados, prestando atenção aos conceitos que fundamentam esta abordagem. Marque-os e construa um glossário para seus estudos.
2. Pesquise através de bibliografia e da internet a Psicologia da Gestalt. Estabeleça uma relação entre a Psicologia da Gestalt e a Gestalt-terapia a partir de seus principais conceitos.
3. Acompanhe o exercício abaixo:
Fritz Perls (1988) considera que “se não nos podemos compreender nem entender o que fazemos, não podemos pretender resolver nossos problemas nem esperar viver vidas gratificantes.” (p. 17). Por essa razão, a Gestalt-terapia deve repousar sobre fundamentos claros e compreensíveis, ao invés de obscuros e irracionais. A Gestalt-terapia por ele iniciada segue algumas premissas básicas. Indique-as abaixo:
 
I – A autorregulação, que é o processo através do qual o organismo interage com o meio.
II – A homeostase, segundo a qual o organismo busca permanecer em equilíbrio e evitar o desequilíbrio.
III – o conceito de Gestalt, que se refere ao todo figura-fundo.
IV – A projeção, a partir do qual o organismo projeta no ambiente os significados que lhe são satisfatórios.
 
São premissas da Gestalt-terapia apenas:
a) I, III e IV.
b) II e IV.
c) I, II e IV.
d) I e III.
e) I e II.
 
A leitura atenta do enunciado indica que precisamos avaliar as afirmações tendo em vista a correção dos conceitos gestálticos que apresentam. A afirmação I fala de autorregulação, que é a capacidade do organismo de interagir com seu meio na busca do equilíbrio homeostático. Está correta. A afirmação II apresenta o conceito de homeostase, que é a busca contínua pelo equilíbrio, que nunca é atingido pois o campo é móvel e as necessidades, fluídas. Esta afirmação apresenta incorretamente a noção de homeostase. A afirmação III apresenta corretamente a noção de Gestalt, central na Gestalt-terapia. A afirmação IV fala de projeção, que é um mecanismo neurótico. Na projeção, o indivíduo torna o meio responsável por algo que se origina no eu, desapropriando-se de seus impulsos e necessidades. Não se refere exclusivamente a significados satisfatórios, dado que podem ser projetados aspectos insatisfatórios do indivíduo também. A alternativa correta é D (I e III, apenas.)
 
 
A Gestalt-terapia como possibilidade de atuação do psicólogo.
 
Bibliografia Básica: PERLS, F. (1988) “Fundamentos” A Abordagem Gestáltica e Testemunha Ocular da Terapia, cap. 1.
 
Bibliografia complementar: MENDONÇA, M. “A psicologia humanista e a abordagem gestáltica” In: FRAZÃO, L. M. & FUKUMITSU, K. O. (orgs.) Gestalt-terapia.
 
A gestalt-terapia é um modelo de atendimento terapêutico para crianças, adultos, casais e grupos, que promove a recuperação e/ou a ampliação da capacidade de conscientização (awareness) no aqui-agora, possibilitando contato mais pleno e trocas mais eficientes com o meio. Esta proposta se fundamenta na compreensão de que o sofrimento psicológico é a expressão de dificuldades em perceber as próprias necessidades, as ações voltadas para satisfazê-las e o caráter ‘nutritivo’ ou ‘tóxico’ das trocas com o meio. O campo (indivíduo-meio) muda constantemente de acordo com as mudanças de equilíbrio intrínsecas e geradas pelo organismo em busca de sua homeostase. Nos processos neuróticos há uma confusão entre indivíduo e meio, de modo que o organismo perde a sua capacidade de interagir com eficiência. Segundo Perls (1988), a neurose ocorre quando “a busca do equilíbrio do homem o leva a retirar-se mais e mais, a permitir que a sociedade o influencie demais, a subjugá-lo com suas exigências, ao mesmo tempo a separá-lo do convívio social, a pressioná-lo e moldá-lo.” (p.56) Vale destacar que a Gestalt-terapia reconhece a neurose como um processo, não como uma estrutura. Com a capacidade de autorregulação limitada, cada nova situação propicia ao indivíduo que aumente seu desequilíbrio.
A Gestalt-terapia aproxima-se das terapias humanistas por compreender as pessoas como livres e responsáveis. O termo ‘responsabilidade’ deve ser entendido como capacidade de responder, e não somente como obrigação de responder pelos atos. Nesse contexto, a Gestalt-terapia promove a autonomia através da capacidade de responder às situações vivenciadas pelos pacientes.
O Gestalt-terapeuta é um facilitador da conscientização (awareness) da situação presente, aqui-agora, do paciente. Para isso, oferece condições para o encontro dual EU-TU (tematizado por Martin Buber), no qual cada um reconhece a liberdade e responsabilidade ontológicas do homem. A relação terapêutica é horizontal, isto é, não há um agente de mudanças (terapeuta) e um objeto (paciente). A relação se estabelece entre dois iguais, sendo que um deles (o terapeuta) dispõe-se a facilitar a conscientização (awareness) do outro (paciente).
A Gestalt-terapia reconhece que frequentemente os pacientes procuram o Gestalt-terapeuta esperando que ele provoque transformações, mas cuida para que o paciente torne-se consciente (aware) dessa postura de vitimização, que dificulta a liberdade, a autonomia e a responsabilidade.
 
Atividades recomendadas
1. Leia atentamente os textos indicados, anotando suas dúvidas.
2. Considere a perspectiva gestáltica como modelo de trabalho do psicólogo. Justifique a sua inserção no âmbito das psicologias humanistas.
3. Acompanhe o exercício abaixo.
 
Nas primeiras sessões, Fernanda parece não conseguir dizer o que quer dizer e se perde entre palavras chegando a dizer, entretanto, coisas que parecia não querer dizer. Seu discurso compõe frases como: não sei por que estou aqui; acredito que ninguém pode me ajudar; ninguém me ajuda; estou sozinha; diga-me o que fazer. Parece que Fernanda perdeu o sentido de quem é, e principalmente, de quem deve viver a sua vida. Suas demandas incluíam solicitações que se perdiam num mundo dos porquês e das tentativas de explicações em busca de uma cura para tudo que estava acontecendo em sua vida, uma vida que muitas vezes não identificava como sendo dela própria.
A partir da perspectiva da Gestalt-terapia, leia atentamente as afirmações abaixo sobre o modo como se abordaria esta situação terapêutica:
 
I – Fernanda pede explicações e se perde nos porquês, pois não observa e não parece saber descrever o que está fazendo e como (aqui e agora).
II – Fernanda perde o sentido de quem é, pois não está consciente (awareness) de sua situação existencial.
III – Fernanda busca explicações e justificativas, pois não se reconhece como autora de sua própria vida.
IV – Fernanda perde o sentido de quem é, pois parece ter traumas infantis importantes que precisam ser analisados.
V – Fernanda espera que o terapeuta lhe diga quem ela é, dado que esse é o papel do terapeuta na Gestalt-terapia.
 
Apresentam leituras corretas dos fenômenos clínicos apresentados somente as afirmações:
 
A) I, II e V.
B) I, IIe IV.
C) II, IV e V.
D) I, II e III.
E) I, II, III e V.
 
Se você leu atentamente os textos indicados, foi capaz de perceber que as afirmações I, II e III estão corretas. A primeira apresenta a dificuldade vivenciada por Fernanda de descrever-se, isto é, de aperceber-se de si na situação presente. Com isso, perde a capacidade de trocar com o meio eficientemente. A segunda afirmação apresenta-a como não estando aware de sua situação. Esse modo de estar presente nas situações faz com que sinta dificuldades nas suas vivências, mas atribua essas dificuldades a motivos alheios, sem reconhecer a sua participação (afirmação III). A afirmação IV apresenta “traumas infantis importantes” como motivo das dificuldades atuais. Como vimos, é no aqui-agora que se encontram as dificuldades, e não no lá-então. Portanto, não são traumas infantis, mas sua dificuldade de conscientização (awareness) da situação atual, acompanhada da perda de contato, que motivam as dificuldades vivenciadas. A última afirmação apresenta o papel do Gestalt-terapeuta como “dizer a Fernanda quem ela é”. Porém, como vimos, o terapeuta facilita o processo de awareness no aqui-agora, acompanhando os pacientes no resgate de sua autonomia. Portanto, a alternativa correta é D.
 
4) Realize os exercícios deste módulo, anotando as dúvidas que surgirem durante a resolução. Estas dúvidas devem ser motivo de novas pesquisas bibliográficas, na tentativa de saná-las.  Caso elas persistam, apresente-as ao professor, nas aulas presenciais.
 
 
Módulo 05 – O Aconselhamento Psicológico com prática psicológica humanista
 
 
História do Aconselhamento Psicológico
 
Bibliografia básica:SCHMIDT, M. L. S. “O nome, a taxonomia, e o campo do Aconselhamento Psicológico”, In: MORATO, H.T.P. et al. (Coord.) Aconselhamento Psicológico numa perspectiva fenomenológica existencial: uma introdução. Cap. I, p. 1-21.
 
O surgimento do Aconselhamento Psicológico como modelo de intervenção psicológica está vinculado a alguns acontecimentos históricos nos Estados Unidos, como a fundação de Centros de Orientação Infantil e Juvenil para pais e filhos, a criação de serviços de Higiene Mental e Centros de Aconselhamento Pré-Matrimonial e Matrimonial, ao surgimento de instituições de Assistência Social que necessitavam oferecer apoio emocional aos seus clientes e ao desenvolvimento de serviços de assistência psicológica nas empresas.
No começo do século XX, o aconselhamento não é realizado por psicólogos. O conselheiro é um perito no assunto a ser tratado, enquanto o aconselhando, alguém que necessita de orientação. O Aconselhamento pode ser profissional, vocacional, educacional ou marital. Diferencia-se bastante da prática psicoterapêutica, então restrita à psicanálise. Segundo Scheefer (p.16) o Aconselhamento visa a ajudar na tomada de uma decisão e envolve informações objetivas que permitem ao orientando utilizar melhor seus recursos pessoais.
Dentre os principais autores ligados ao início da teorização sobre Aconselhamento Psicológico, destacam-se Parsons e Rogers. O primeiro era engenheiro e compreendia o aconselhamento como o fornecimento de informações e conselhos sobre escolha profissional, baseada na experiência do orientador. A partir da década de 1940, o trabalho como conselheiro leva Carl Rogers a questionar o modelo vigente, propondo em seu lugar o aconselhamento não-diretivo. Concomitantemente, ele desenvolve a Terapia Centrada no Cliente. O Aconselhamento é apresentado como um tipo de contato direto com o indivíduo a fim de lhe fornecer assistência na modificação de suas atitudes.
O Aconselhamento distingue-se da Psicoterapia, pois se trata de um auxílio para o aconselhando maximizar seus recursos pessoais e fazer escolhas. Pode ser útil também como prática educativa, preventiva ou de apoio situacional. Geralmente é um processo de curta duração, diferenciando-se do modelo tradicional de psicoterapia, de longa duração, que visa a reestruturação da personalidade e o tratamento de problemas emocionais e patologias.
 
1) Pesquise na bibliografia e na internet sobre o trabalho do psicólogo no começo do século XX. 
2) Faça uma leitura criteriosa do texto indicado, atentando para o contexto histórico do aparecimento do Aconselhamento Psicológico e seus primeiros teóricos.
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 
O surgimento do Aconselhamento Psicológico está vinculado à criação de centros de orientação infantil, de serviços de higiene mental, de centros de aconselhamento pré-matrimonial e matrimonial nos EUA nas primeiras décadas do século XX. Sobre os profissionais que exerciam o aconselhamento nesse período é verdadeiro afirmar:
 
I – Os conselheiros eram psicólogos treinados na escuta da demanda do cliente. A demanda era considerada a partir do contexto de vida de cada cliente.
II – Os conselheiros ajudavam os aconselhandos a tomarem decisões em sua vida nos âmbitos profissional, educacional, e matrimonial, entre outros.
III – Aos conselheiros era importante conhecer profundamente o campo no qual aconselhavam; isto é, o conselheiro matrimonial conhece o que é o casamento e fornece informações sobre isso ao noivo(a) indeciso(a).
IV – O conselheiro cuida para que aquilo que ele considera o melhor para o cliente não apareça, reservando ao aconselhando o poder de tomar suas decisões.
 
Está correto o que se afirma em:
 
A) I, e II, apenas.
B) II e III, apenas.
C) I e IV, apenas.
D) I, II e III, apenas.
E) II, III e IV, apenas.
 
Seus estudos devem ter-lhe dado subsídios para reconhecer que a afirmativa I está incorreta, pois os primeiros conselheiros não eram necessariamente psicólogos. Eles eram pessoas com conhecimento sobre um determinado assunto, como o casamento ou o trabalho, etc. Ademais, a preocupação deles não era a de compreender a demanda do cliente à luz do contexto de vida do mesmo, mas comparar o perfil do aconselhando com as demandas da situação sobre a qual ele pede conselhos.
Você deve ter identificado que as afirmativas II e III estão de acordo com a bibliografia, mas que a IV está incorreta, pois os primeiros Conselheiros assumiam o lugar de conhecedores sobre o assunto em questão, deixando claro que seu conselho era a indicação correta.
            Portanto, a alternativa correta é B.
 
 
Introdução ao Aconselhamento Psicológico na perspectiva da Psicologia Humanista
 
Bibliografia básica:SCHMIDT, M. L. S. “O nome, a taxonomia, e o campo do Aconselhamento Psicológico”, In: MORATO, H.T.P. et al. (Coord.) Aconselhamento Psicológico numa perspectiva fenomenológica existencial: uma introdução. Cap. I, p. 1-21.
 
O aconselhamento psicológico nasce nos anos 1930 nos Estados Unidos como especialidade e área de atuação e saber do psicólogo. No início é estreitamente ligado à orientação vocacional e à psicometria, focando as pesquisas em testes vocacionais e outros meios de medição de aptidões.
A primeira teoria mais expressiva chama-se Traço e Fator e foi desenvolvida pelo engenheiro William Parsons. A teoria Traço e Fator parte do pressuposto de que o aconselhamento deve focar o processo de ensino do aconselhando, pois tem como meta a solução de problemas específicos de adaptação do indivíduo nas áreas educacional e profissional através do desenvolvimento de atitudes e comportamentos (os “traços”) condizentes com o esperado para a realização da atividade proposta (os “fatores”).
Williamson, um dos expoentes do aconselhamento psicológico na Teoria Traço e Fator, define-o como um atendimento que auxilia o indivíduo a aprender determinadas matérias escolares, condutas adequadas de cidadania, valores sociais e todos os outros hábitos, habilidades, atitudes e crenças que constituem um ser humano normal. Em outras palavras, o processo teria o objetivo de eliminar ou modificar comportamentos considerados inadequados. A mudança de comportamentos e atitudes, segundo o autor, seria satisfatória para o aconselhando e para a sociedade em que vivia. Nesse sentido, a Teoria Traço e Fator, articulada à vertente experimental dos estudos psicométricos, dá ao Aconselhamentouma aura de cientificidade e abre espaço para a prática do psicólogo.
A Psicologia ainda não estava regulamentada como profissão nos EUA e aqueles que praticavam a psicologia buscavam delimitar seu campo de atuação. Uma possibilidade era a psicoterapia, que, na época, era prerrogativa dos médicos e encontrava na psicanálise a teoria que a fundamentava. A psicoterapia tinha como público indivíduos que sofriam de distúrbios psicológicos mais graves, exigindo tratamentos prolongados. O Aconselhamento Psicológico surge como possibilidade de prática psicológica voltada para questões de desajustamento, orientando o aconselhando na obtenção das habilidades que o tornam ajustado ao seu meio. Isso pode ocorrer num período mais curto do que a psicoterapia de longa duração.
Em 1942, Carl Rogers publica o livro Aconselhamento e Psicoterapia, lançando as bases da primeira fase de suas ideias: a terapia não-diretiva. A não-diretividade é geralmente associada a total não-interferência do terapeuta (ou conselheiro) no processo do cliente. Sua proposta surge em oposição ao processo de aconselhamento da Teoria Traço e Fator, que é considerada prepotente e autoritária por situar o conselheiro no lugar de quem sabe o caminho certo para modificar os comportamentos desajustados e desadaptados socialmente do aconselhando. Nesse sentido, o conselheiro psicológico que segue a proposta de Rogers coloca-se como “um ouvinte interessado e compreensivo, que, pela técnica da reflexão, queria proporcionar que a esfera de exploração pessoal do cliente ou aconselhando se configurasse o mais proximamente possível de suas vivências e percepções atuais e conscientes.” (Schmidt, 2009, p. 5). Com suas ideias, Rogers elimina a distinção entre aconselhamento e psicoterapia.
 
Atividades recomendadas:
 
1) Faça uma leitura criteriosa dos textos indicados, observando os argumentos utilizados pela autora, em defesa de suas teses.
 2) A partir da leitura, procure definir as características da Teoria Traço e Fator. Confronte se sua definição está de acordo com a que Schmidt apresenta: como uma teoria que se fundamenta na educação e que tem como finalidade a solução de problemas específicos através do ajustamento do indivíduo.
 3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 
Historicamente, a Teoria Traço e Fator foi aquela que deu origem ao Aconselhamento Psicológico, tendo surgido nos Estados Unidos, nas primeiras décadas do século XX.
 
Com relação a aconselhamento nessa teoria, assinale a alternativa incorreta:
 
A) É uma modalidade psicoterapêutica;
B) Está ligado à psicometria;
C) Pretende resolver problemas específicos do indivíduo;
D) Está ligado à Orientação Vocacional;
E) Abre um campo de trabalho para o psicólogo.
 
Se você compreendeu adequadamente o conteúdo que estudou terá assinalado a alternativa A). O aconselhamento na Teoria Traço e Fator é um processo educativo, não psicoterapêutico.
 
 
O Aconselhamento Psicológico fundamentado na Abordagem Centrada na Pessoa
 
O psicólogo norteamericano Carl Rogers não distingue aconselhamento psicológico e psicoterapia, pois considera que ambos consistem em contatos diretos com o indivíduo com o objetivo de facilitar mudanças significativas em suas atitudes e comportamentos. Esses encontros são marcados pelas atitudes facilitadoras – aceitação incondicional, compreensão empática e congruência – que propiciam um ambiente de desenvolvimento psicológico ao indivíduo.
Atualmente, o aconselhamento psicológico é prática exclusiva de psicólogos, caracterizada por centrar-se nas potencialidades e nos aspectos saudáveis dos indivíduos, não nas suas fragilidades ou aspectos psicopatológicos. Além disso, o aconselhamento também tem como foco o modo como a pessoa se percebe e os projetos pessoais que quer realizar para desempenhar um papel social produtivo.
Pode-se também caracterizar o aconselhamento como um atendimento psicológico em períodos de crise, no qual o objetivo é facilitar as escolhas do indivíduo na situação que vive, escolhas essas das quais depende seu desenvolvimento posterior.
Assim, esse atendimento está voltado a questões situacionais, ao apoio e à prevenção, mais comumente dirigido à solução de problemas.
No entanto, como assinala Schmidt logo no início de seu texto, aconselhamento tem dois sentidos: pode indicar os significados de sugestão, recomendação e orientação, mais próximos ao sentido de aconselhamento na perspectiva tradicional; pode ainda denotar a situação em que várias pessoas se reúnem para pensar e decidir com justeza a respeito de algo de seu interesse, o que se aproxima da definição de Rogers da relação de ajuda presente tanto no aconselhamento quanto na psicoterapia.
 
Atividades recomendadas:
 
1) Faça uma leitura criteriosa dos textos indicados, observando os argumentos utilizados pelas autoras, em defesa de suas teses.
2) A partir da leitura, procure definir aconselhamento psicológico. Confronte se sua definição está de acordo com a que as autoras apresentam: aconselhamento psicológico é um atendimento psicológico que comumente é diferenciado da psicoterapia. É mais próprio para períodos situacionais de crise, tem uma duração mais curta que a psicoterapia e não leva em conta a questão da normalidade ou da psicopatologia, mas a capacidade do indivíduo de lidar com as questões que o afligem.
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 
Com relação ao Aconselhamento Psicológico proposto por Carl Rogers está correto afirmar que:
 
I) É um atendimento que se diferencia da psicoterapia para a maioria dos autores. No entanto, para Rogers, o aconselhamento não se distingue da psicoterapia, pois ambos têm como objetivo o desenvolvimento psicológico do indivíduo;
II) É um atendimento que tem como foco a cura dos aspectos psicopatológicos do indivíduo;
III) É um atendimento mais adequado às situações de crise e para facilitar as escolhas do indivíduo.
 
Estão corretas apenas as afirmações:
a) I;
b) I e III;
c) II e III;
d) II;
e) III.
 
Se você compreendeu adequadamente o conteúdo estudado, terá assinalado a alternativa b, pois Rogers desfaz a fronteira que separa psicoterapia do aconselhamento psicológico ao objetivar o desenvolvimento de potencialidades do indivíduo. É por isso que os aspectos psicopatológicos não são o foco dessa modalidade de atendimento (afirmação II). 
 
4) Realize os exercícios deste módulo, anotando as dúvidas que surgirem durante a resolução. Busque respostas às suas dúvidas na bibliografia indicada ou através de novas pesquisas bibliográficas. Caso suas dúvidas persistam, apresente-as ao professor nas aulas presenciais.

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