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10 ADRIANA SOUZA DE ANDRADE FACULDADE NOVA ROMA CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO ADRIANA SOUZA DE ANDRADE A IMPORTÂNCIA DA LEI MARIA DA PENHA: uma ênfase no contexto da violência contra mulher RECIFE 2018 A IMPORTÂNCIA DA LEI MARIA DA PENHA: Uma ênfase no contexto da violência contra mulher RECIFE 2018 11 RECIFE 2018 A IMPORTÂNCIA DA LEI MARIA DA PENHA: Uma ênfase no contexto da violência contra mulher Monografia apresentada a Faculdade Nova Roma – Recife, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Direito. Área de concentração: Direito Penal Professora orientadora Especialista: Ana Luiza de Mendonça Fonseca Carlos. ADRIANA SOUZA DE ANDRADE 12 A IMPORTÂNCIA DA LEI MARIA DA PENHA: Uma ênfase no contexto da violência contra mulher ADRIANA SOUZA DE ANDRADE Monografia submetida ao corpo docente do Curso de Bacharel em Direito promovido pela a Faculdade Nova Roma – Recife, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel. APROVADO EM _____/_______2018 BANCA EXAMINADORA ___________________________________________ Profª Esp. Ana Luiza de Mendonça Fonseca Carlos Presidente ___________________________________________ Profº nome completo MEMBRO ___________________________________________ Profº nome completo MEMBRO 13 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus por ter permitido que eu superasse todas as adversidades que surgiram no decorrer desta graduação. Meus sinceros agradecimentos a todos os professores e funcionários desta casa, em especial a minha orientadora Professora Especialista Ana Luiza de Mendonça Fonseca Carlos. Como esquecer de agradecer aos amigos (alunos) que tanto me ajudaram durante este curso, tenho certeza que sem a ajuda destes a graduação teria sido muito difícil. 14 Dedico está obra, primeiramente a Deus e depois à minha filha Catarina que hoje é meu anjo de guarda ao lado do senhor Jesus e a meu esposo Flavio que nessa trajetória difícil vem sendo meu alicerce. 15 “A Lei Maria da Penha não consegue prevenir, punir e erradicar totalmente a violência contra a mulher, porque a Lei do Pecado continua dando cobertura aos seus agressores”. (Helgir Girodo). RESUMO https://www.pensador.com/autor/helgir_girodo/ 16 No Brasil devido ao alto índice de violência cometido contra a mulher buscou estabelecer medidas no processo de elaboração de leis, como a Lei Maria da Penha criada em 2006; instaurar políticas públicas e programas de proteção e combate a violência contra mulher; bem como a criação de serviços de apoio às vítimas desse tipo de violência ofertado por meio das delegacias especializadas nesta questão. Além disso, é preciso deixar claro que essas medidas tanto possui caráter repressivo, pois visa reprimir os crimes praticados no espaço doméstico quanto profissional, possuindo ainda caráter preventivo visando diminuir a incidência dos delitos cometidos contra a mulher. É preciso deixar claro que essas mudanças na forma da legislação e de fazer política pública de proteção à mulher vem mostrar que essas medidas não se limitam a denunciar o grave quadro de violação aos direitos humanos. Apresenta soluções para prevenir e reprimir essas formas de violência contra a mulher, principalmente mudanças na legislação, políticas públicas, programas sociais e o comprometimento da sociedade civil na luta contra a impunidade, o preconceito, a discriminação e a intolerância. Nesse sentido, o trabalho aqui apresentado tem como foco estruturar uma pesquisa bibliográfica a respeito da problemática da violência doméstica contra a mulher, tendo como foco mostrar a necessidade de medidas protetivas e preventivas, bem como enfrentamento desta problemática em nossa realidade. Nesse sentido, os resultados serão apresentados sobre a forma qualitativa, pois darão liberdade ao pesquisador de compreender a presença e as alterações dos aspectos que abrangem o tema. Portanto, conclui-se que, conhecer para pelejar a violência contra a mulher, no âmbito doméstico e familiar, imprescindível, ainda, percorrer um extenso caminho, bem como a necessidade de se obter novos conhecimentos, com informações mais claras sobre este tema social que atinge sem distinção a mulher. Palavras Chaves: Violência Doméstica. Lei nº 11.340/06. Medidas protetivas Constituição Federal 1988. 17 ABSTRACT In Brazil, due to the high level of violence committed against women, it sought to establish measures in the process of drafting laws, such as the Maria da Penha Law created in 2006; establish public policies and programs to protect and combat violence against women; as well as the creation of support services for victims of this kind of violence offered through specialized police stations. In addition, it should be made clear that these measures are both repressive in character, as it seeks to suppress crimes committed in the domestic and professional spheres, and has a preventive character in order to reduce the incidence of crimes committed against women. It needs to be made clear that these changes in the form of legislation and public policy for the protection of women show that these measures are not limited to denouncing the serious framework of human rights violations. It presents solutions to prevent and repress these forms of violence against women, especially changes in legislation, public policies, social programs and the commitment of civil society to fight against impunity, prejudice, discrimination and intolerance. In this sense, the work presented here focuses on a bibliographical research about the problem of domestic violence against women, focusing on the need for preventive and protective measures, as well as addressing this problem in our reality. In this sense, the results will be presented on the qualitative form, since they will give the researcher the freedom to understand the presence and the alterations of the aspects that cover the subject.Therefore, it is concluded that, knowing to fight against violence in the domestic sphere It is also necessary to get new knowledge, with clearer information on this social issue that affects women without discrimination. Key Words: Domestic Violence. Law nº 11.340 / 06. Protective measures Federal Constitution 1988. 18 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................. Erro! Indicador não definido. 1 CARACTERIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER CONTEXTO BRASILEIRO .............................................. Erro! Indicador não definido. 1.1 Conceituação da violência doméstica contra a mulherErro! Indicador não definido. 1.2. Tipologia da violência doméstica contra a mulherErro! Indicador não definido. 1.3 Breves comentários a respeito da violência contra a mulher através da história ............................................................................ Erro! Indicador não definido. 2 FORMAS DE ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER NO BRASIL ................................................... Erro! Indicador não definido.0 2.1 Das consequências da violência doméstica .......... Erro! Indicador não definido. 2.2 Da formação do Juizado Especial Juizado Especialde violência doméstica e familiar contra a mulher ............................................... Erro! Indicador não definido.8 3 - A IMPORTÂNCIA DA LEI MARIA DA PENHA NO CONTEXTO DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER ...................................................... Erro! Indicador não definido. 3.1 A dignidade da pessoa humana no âmbito da proteção à mulher ........... Erro! Indicador não definido. 3.2 Da Lei 11.340/06: Lei Maria da Penha ..................... Erro! Indicador não definido. 3.3 A Importância da Lei Maria da Penha para as MulheresErro! Indicador não definido. 3.4 Das Medidas protetivas estabelecidas a partir da Lei Maria da Penha .... Erro! Indicador não definido. 3.5 Das medidas legislativas e administrativas no combate e enfrentamento da violência contra a mulher .............................................. Erro! Indicador não definido. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................ Erro! Indicador não definido.2 REFERÊNCIAS BLIIOGRÁFICAS ................................ Erro! Indicador não definido.4 19 INTRODUÇÃO A concepção de Direitos Humanos tem como afirmar e garantir a dignidade humana, tendo o compromisso com todas as pessoas. Visto que abordar os Direitos Humanos é proteger, é preservar, é ter compromisso para que não ocorra qualquer forma de violação dos mesmos e que traga prejuízos para as pessoas, negando-as o direito de ter uma vida digna. Mas como se falar em Direitos Humanos se vivencia-se um momento marcado por forças sociais, políticas e econômicas, que levam a maioria das pessoas a conviver bem de perto com a morte. Indicadores sociais, elencados a partir da realidade brasileira retratam aspectos problemáticos como fome, violência, desemprego, entre outros, que tornam as pessoas cada vez mais vulneráveis e em risco social e pessoal. Destacando entre esses aspectos problemáticos a questão da violência contra a mulher, que se traduz em um drama que causa ameaça e sofrimento, que em muitas vezes é agravado pela vergonha e o silêncio. Partindo dessas pressuposições, as formas de violência contra a mulher são caracterizadas como forma de violação de direitos, que deixam cicatrizes para toda a vida, provocando nas mulheres sentimentos de inferioridade, visto que o agressor deprecia a vítima e a diminui, fazendo com que as mesmas se sintam culpadas pela situação que estão vivenciando. Nesse contexto, é preciso compreender o fenômeno da violência contra a mulher, que se baseia na ação ou conduta, fundamentada na questão de gênero, que retrata qualquer ato que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público como no privado. Ressaltando que está definição é, portanto, ampla e aborda diferentes formas de violência, tais como: a violência doméstica – que se caracteriza em atos de violência na residência da vítima, se expressando de forma física, psicológica, sexual, moral e patrimonial. Dessa forma, o trabalho aqui apresentado tem como objetivo analisar a questão 20 da violência doméstica contra a mulher, procurando assim refletir sobre os prejuízos que traz para vida social e comunitária. Visto que a violência doméstica é um problema grave que se apresenta no ambiente familiar e atinge mulheres de todas as raças, religião, idade, grau de instrução, entre outras. O interesse no desenvolvimento deste estudo surgiu da necessidade de vê em na realidade transformações que tenha como pressuposto a promoção e o enfrentamento da violência contra as mulheres, partindo de uma perspectiva de totalidade que englobe ações do governo e da sociedade, na construção de políticas públicas que sejam concretizadas. Nesse cenário, surge a problemática: se desde de sua entrada em vigor a Lei nº 11.340/06 conhecida como Lei Maria da Penha tem tido eficácia no combate a violência doméstica contra a mulher? Nesse sentido, este tema é socialmente importante porque traz esclarecimentos por meio de uma pesquisa bibliográfica a respeito da problemática da violência doméstica contra a mulher, tendo como foco mostrar a necessidade de medidas protetivas e preventivas, bem como enfrentamento desta problemática em nossa realidade. Assim, o trabalho foi embasado pela teoria histórico crítica por possibilitar do objeto de estudo um resultado reflexivo que tem como base práticas construtivas, profícuas e eficazes no fortalecimento da identidade e da autonomia das mulheres que são vítimas de violência domésticas. Enquanto que a metodologia utilizada para construção do trabalho tem como parâmetro a pesquisa bibliográfica que foi imprescindível para a definição clara da conceituação de violência doméstica contra a mulher, das normas de diretrizes que regem os serviços de atendimento a esse público. No primeiro tópico discute-se sob a caracterização da violência doméstica contra a mulher no contexto brasileiro, conceituação da violência doméstica contra a mulher, tipologia da violência doméstica contra a mulher, bem como breves comentários a respeito da violência contra a mulher através da história. No segundo tópico serão expostas as formas de enfrentamento da violência doméstica contra a mulher no Brasil, das consequências da violência doméstica, Da formação do Juizado Especial de violência doméstica e familiar contra a mulher. O terceiro tópico aborda a importância da Lei Maria da Penha no contexto da violência contra mulher, à dignidade da pessoa humana no âmbito da proteção à mulher, da Lei 11.340/06: Lei Maria da 21 Penha, a importância da Lei Maria da Penha para as mulheres, das mediadas protetivas estabelecidas a partir da Lei Maria da Penha, bem como as medidas legislativas e administrativas no combate e enfrentamento da violência contra mulher. 1 CARACTERIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER NO CONTEXTO BRASILEIRO A Organização Mundial da Saúde reconhece a violência como um grave problema de saúde pública, além de constituir uma violação dos direitos humanos, pelo fato de que representa um risco ao processo vital humano, ou seja, a violência é uma ameaça à vida. (SARMENTO; CAVALCANTI, 2009, p. 12). Podendo assim ser caracterizada como uma problemática que envolve uma gama de fatores de ordem política, cultural, policial, jurídica, e também, de saúde pública. A violência é um problema que afeta as pessoas, por isso para sua compreensão e enfrentamento deve considerar um conjunto de fatores, que são permeados pelas condições de vida, questões ambientais, trabalho, habitação, educação, lazer, cultura, entre outros fatores relacionado a vida homem em sociedade, nas suas inter/relações. Dessa forma, é preciso considerar que a violência acontece no mundo todo e atinge pessoas de todas as faixas etárias, independe de sexo, raça, religião, nacionalidade, escolaridade, opção sexual ou condição social. (NUDEM, 2011, p. 6). Mas é comum vê-se o retrato da violência, nos noticiários e na mídia ressaltada nas classes menos favorecidas social e economicamente, visto que estas se deparam cotidianamente em condições precárias de sobrevivência. O que se observa é que a violência está presente na vida de todas as pessoas, independentemente de serem vítimas e/ou agressores, pois se reproduz nas estruturas e nas subjetividades expressas nos mais diversos contextos em que o indivíduo se insere, seja na família, escola, comunidade, trabalho, seja em instituições. Pelo fato de ser a violência um fenômeno socialmente construído, que leva a mortalidade e a morbidade, e que precisa ser enfrentado por meio de uma ação conjunta entre governo e sociedade. Além disso, a violência situa-se como a segunda causa de morte em nossa população. Cerca de 120.000 (cento e vinte mil) mortes são provocadas pela violência por ano no Brasil. (NUDEM, 2011, p. 18). Nesse contexto, a violência domésticacontra a mulher é um crime, 22 caracterizado enquanto violação de direitos que repercutir em todas as esferas da sociedade, o que se tem de fato é que a violência acontece diariamente e que a cada dia fica mais explícito que se precisa de medidas urgentes de enfrentamento. Dessa forma, faz-se necessário contextualizar e conceituar a violência doméstica, partindo da tipologia até colocar em pauta as medidas preventivas e protetivas colocadas em pauta para que a violência doméstica contra a mulher possa ser superada. 1.1 Conceituação da violência doméstica contra a mulher A violência contra a mulher é um fenômeno complexo, com causas culturais, econômicas e sociais, aliado a pouca visibilidade, à ilegalidade e à impunidade. Sendo assim, considerada um problema de grande amplitude que se apresenta na realidade cotidiana das famílias, sendo traduzida no real do poder e da força física masculina sobre o feminino, perfazendo uma história de desigualdade cultural entre homens e mulheres, por meio dos papéis estereotipados, legitimam ou exacerbam a violência (BRASIL, 2008). Geralmente a violência contra as mulheres causa enorme sofrimento; deixa marcas nas famílias, afetando as várias gerações; e empobrece as comunidades. Pelo fato de ser uma forma de impedimento das mulheres se realizem no desenvolvimento de suas potencialidades e habilidades. Desse modo, a violência contra a mulher limita o crescimento econômico e compromete o desenvolvimento. A violência doméstica comumente ocorre no ambiente familiar, espaço que deveria oferecer estabilidade, proteção e amor àqueles que o compõem, transformando-se muitas vezes em lugar de medo, agressões e insegurança (NUDEM, 2011, p. 6). Assim, a violência doméstica contra a mulher é fenômeno de conceituação complexa e multidimensional, que engloba as mais diversas causas e consequências, que transparece na sociedade em todas as esferas, nos aspectos sociais, culturais, religiosos e econômicos. Nesse sentido, a violência doméstica contra a mulher é considerada um grave problema que deve ser remetido há uma totalidade. E que atinge mulheres de todas as classes sociais e independe de raça, religião, idade ou grau de instrução. Segundo Sarmento e Cavalcanti (2009), 23 quase sempre os agressores são pessoas próximas às vítimas. Partilham sua vida cotidiana no ambiente doméstico ou profissional. Este fato também influencia no pequeno número de denúncias e na grande demanda contida ainda existente. Os agressores dão vazão aos seus instintos criminosos movidos pelo alcoolismo, desemprego, descontrole emocional, perversidade, abuso de autoridade e outras formas de agressividade social (SARMENTO; CAVALCANTI, 2009, p.16). Em que os agressores, em sua maioria, são pessoas que possuem vínculos consanguíneos e/ou afetivos com a vítima, como: pai, irmão, filho, tio, primo, namorados/as, maridos, companheiros/as, ex-maridos, ex-companheiros/as e ex- namorados/as (NUDEM, 2011, p. 5). Além disso, deve-se destacar o fato de que: a violência contra a mulher, praticada por um estranho, difere de um delito praticado por alguém da estreita convivência da vítima, pois a agressão por uma pessoa da convivência da vítima – como o marido ou o companheiro – dado a proximidade dos envolvidos, tende a acontecer novamente, formando o ciclo perverso da violência doméstica, que pode acabar em delitos mais graves; enquanto o praticado por estranhos, dificilmente voltará a acontecer (BRASIL, 2008). Mas é preciso considerar que a violência contra a mulher ocorre em todas as fases da vida; muitas vezes, iniciando-se na infância, ressaltando que pode acontecer em todas as classes sociais. (SARMENTO; CAVALCANTI, 2009, p. 13). E embora seja permeada de questões problemáticas, o que se tem na realidade é que este fenômeno ainda se mostra cercado pelo silêncio e pela dor. Desse modo, a violência doméstica contra a mulher corresponde a qualquer ação e/ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão corporal, ou dano psicológico e/ou emocional. Podendo assim ser compreendida a partir de práticas de abuso sexual, tortura, tráfico de mulheres, prostituição forçada, sequestro e assédio sexual no local de trabalho, bem como em instituições educacionais, estabelecimentos de saúde ou qualquer outro lugar de convívio comunitário. As quais se enquadram nos tipos de violência física, psicológica, sexual, patrimonial e moral. Os agravantes da violência doméstica contra a mulher se enquadram a fatores como a questão de gênero, dependência econômica, subordinação, não reconhecimento dos valores e direitos. Destacando que são influenciadas por fatores que levam a agressão como o descontrole emocional, o desemprego, gênero 24 (relações de poder), alcoolismo, perversidade, autoridade, entre outros. Como se vê esta é decorrente da desigualdade na relação de poder entre o ser masculino e o ser feminino. Os indicadores da violência doméstica contra a mulher são considerados o seguinte: transtornos crônicos, vagos e repetitivos; entrada tardia no pré-natal; companheiro muito controlador que reage quando separado da mulher; infecção urinária de repetição (sem causa secundária); dor pélvica crônica; síndrome do intestino irritável; transtornos na sexualidade; complicações em gestações anteriores, abortos de repetição; depressão; ansiedade; dor crônica em qualquer parte do corpo ou mesmo sem localização precisa; dor que não tem nome ou lugar; história de tentativa de suicídio; lesões físicas que não se explicam de forma adequada; fibromialgia (BRASIL, 2008). Por ser uma questão permeada por gênero e desigualdade de homem X mulher, a história da violência contra a mulher persiste em existir na sociedade ao longo da história, sendo considerada uma situação de violação dos direitos da mulher. (SARMENTO; CAVALCANTI, 2009, p. 15). Diante disso, serão explanados a seguir a tipologia da violência doméstica e familiar contra a mulher. 1.2. Tipologia da violência doméstica contra a mulher A tipologia da violência doméstica contra mulher pode ser classificada como violência de gênero, física, moral, familiar e patrimonial, e suas consequências estão em torno de fatores como: descontrole emocional, desemprego, poder e autoridade, uso de drogas como o caso do álcool, perversidade, entre outros fatores que trazem prejuízos a integridade física e moral da mulher. Nesse sentido, a violência de gênero se relaciona a questão de subordinação de poder do homem (gênero masculino) sobre a mulher (gênero feminino). No caso da violência contra a mulher, esta tem com premissa expressões que se configuraram através da história marcada pelas mais diversas formar de convívio social e desigualdades permeadas por relações de poder de homem em detrimento da mulher (SARMENTO; CAVALTANTI, 2009). A violência de gênero pode se dar através de ameaças que causem danos físico, sexual e psicológico, inerente a violação dos direitos a liberdade. 25 A violência física é considerada qualquer conduta que ofenda a saúde da mulher e/ou sua integridade corporal, como empurrão, rasteira, chutes, tapa, soco, corte, queimadura e/ou golpe com qualquer objeto que deixem marcas visíveis. Bem como pode ser considerada violência física quando a mulher fica presa, trancada, dentro de casa. Nesse sentido, esse tipo de violência é qualquer forma e/ou ação que machuque e/ou agrida intencionalmente uma pessoa, por meio da força física, arma ou objeto, provocando ou não danos e lesões internas ou externas no corpo. A violência psicológica é quando fazem a mulher perder sua autoestima e goste menos de si para que seja mais fácil dominar suas ações, comportamentos, crenças e suas decisões. (SARMENTO; CAVALTANTI, 2009, p. 12). Este tipo de violência acontece na forma de xingamentos, ofensas, intimidação, desqualificação,proibição de trabalhar, vestir-se como gosta, estar com os/as amigos/as ou telefonar, ridicularização, vigilância, utilização dos/as filhos/as para fazer chantagens com a mulher, entre tantas outras coisas (BRASIL, 2008). Segundo Sarmento e Cavalcanti (2009) é qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima, que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação (SARMENTO; CAVALCANTI, 2009, p.16). A partir das afirmações de Sarmento e Cavalcanti (2009) a violência psicológica, pode ser conceituada na ação e/ou omissão destinada a degradar ou controlar as ações, comportamentos, crenças e decisões de outra pessoa, por meio de intimidação, manipulação, ameaça direta ou indireta, humilhação, isolamento ou qualquer outra conduta que implique prejuízo à saúde psicológica, à autodeterminação ou ao desenvolvimento pessoal. A Violência Psicológica ou Agressão emocional, às vezes tão ou mais prejudicial que a física, é caracterizada por rejeição, depreciação, discriminação, humilhação, desrespeito e punições exageradas. Trata-se de uma agressão que não deixa marcas corporais visíveis, mas emocionalmente causa cicatrizes para toda a vida (SARMENTO; CAVALCANTI, 2009). 26 Um tipo comum de Agressão Emocional é a que se dá sob a autoria dos comportamentos histéricos, cujo objetivo é mobilizar emocionalmente o outro para satisfazer a necessidade de atenção, carinho e de importância. A intenção do agressor histérico é mobilizar outros membros da família, tendo como chamariz alguma doença, alguma dor, algum problema de saúde, enfim, algum estado que exija atenção, cuidado, compreensão e tolerância (COSTA, 2011, p. 29). Sarmento e Cavalcante (2009) conceituam a violência sexual como, qualquer conduta que constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos (SARMENTO; CAVALCANTI, 2009, p. 41). Desse modo, tem-se que a violência sexual, é quando a mulher é obrigada a assistir e/ou fazer algum ato sexual contra a sua vontade. Ou mesmo quando é impedida de usar métodos anticoncepcionais, forçada ao casamento, ao aborto, à prostituição ou transmissão de doenças sexuais (BRASIL, 2006). Considera-se que a violência sexual contra a mulher é toda relação sexual em que a pessoa é obrigada a se submeter, contra a sua vontade, por meio de força física, coerção, sedução, ameaça ou influência psicológica. Sendo considerada crime descrita no Código Penal Brasileiro como forma de violência física, psicológica e/ou ameaça, bem como compreendendo o estupro e a tentativa de estupro. A relação sexual imposta pela força, mesmo entre marido e mulher, companheiro e companheira, na constância de uma união estável, ou entre namorados, também é violência sexual. Se a vítima é menor de 14 anos ou se é portadora de transtornos mentais (com qualquer idade) haverá sempre crime, mesmo que a relação sexual não tenha decorrido de violência ou ameaça (NUDEM, 2011, p. 5). A violência patrimonial ou econômica é considerada qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial e/ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades (SARMENTO; CAVALCANTI, 2009, p. 42). 27 Assim a violência patrimonial ou econômica é quando tiram da mulher contra sua vontade seus pertences e/ou os danificam, apenas para atingi-la, chantageá-la e/ou controla-la de alguma forma. Enquanto que à violência moral é tratada como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria. Considerando ainda que está é quando a mulher é exposta à calúnia, difamação ou injúria, crimes previstos em Lei. Essas são as cinco formas de violência doméstica e familiar contra a mulher apresentadas pela Lei Maria da Penha (Lei n. 11.340/06). Dessa forma, deve-se considerar que esses tipos de violência são crimes e que precisam de punição ao agressor. (SARMENTO; CAVALCANTE, 2009, p. 17). E a mulher precisa reconhecer que não precisa continuar na condição de sofrimento, pois esses tipos de violência podem acontecer no ambiente doméstico, no trabalho ou ambiente externo as suas relações, mas também deve-se considerar que pode ocorrer entre os familiares, vizinhos, namorados, entre outros. Contudo, os tipos de violência contra a mulher apresentados retratam que em suas múltiplas características tem em comum o fato de que a violência contra as mulheres causa enorme sofrimento; deixando marcas nas famílias, afetando as várias gerações; e empobrecendo as comunidades. Visto que estas independem que as mulheres realizem as suas potencialidades, limitando-se ao crescimento econômico e compromete o desenvolvimento (SARMENTO; CAVALCANTE, 2009, p. 17). Diante disto, é preciso relatar breves comentários que caracteriza a violência doméstica e familiar contra a mulher através da história. 1.3 Breves comentários a respeito da violência contra a mulher através da história A mulher ao longo dos anos vem sofrendo vários tipos de violações de direitos que ferem a dignidade da pessoa humana, entre as mais diversas formas de violação estão aquela que se denomina violência doméstica, que atinge mulheres das mais diversas classes sociais, etnia e/ou grau de instrução. Pelo fato de que a violência não se concretiza apenas em formas que deixem marcas, ou quando se é agredida fisicamente, pois existem diversos tipos de violência que se dão nos aspectos psicológicos, físicos, econômicos, sexual e moral. Observa-se assim, partindo dessa premissa que a violência doméstica contra a mulher corresponde a qualquer ação por parte de terceiros que lhe cause morte, 28 lesão, sofrimento físico, sexual, psicológico e/ou dano moral ou patrimonial. (GOMES, 2018, p. 13). Geralmente esse tipo de violência ocorre na família, pelo marido/companheiro, pai, irmão, filho, tio, entre outros; na sociedade pelo fato de que as mulheres que são vítimas passam a ser estereotipadas e/ou discriminadas por sua situação; na violação de seus direitos por não ter forças para lutar sozinha para que seus direitos sejam efetivados e garantidos por parte do governo e da sociedade; na dupla carga de trabalho que acaba sendo estressante e prejudica seu desenvolvimento físico, psicológico e/ou emocional; na falta de respostas das políticas públicas de saúde de qualidade para acompanhar a gestação, puerpério, climatério e as situações de violência. Tudo isso contribui para a perpetuação da situação da violência contra a mulher na realidade mundial. Mas é preciso considerar que quando se refere a violência contra a mulher no âmbito familiar, vê-se que o agressor pode ser o homem ou a mulher, com quem a vítima esteja convivendo ou conviveu no interior da sua residência, com ou sem laços de parentescos diretos e vínculo amoroso. Nesse sentido no quadro a seguir, embora que de forma breve será contextualizada as formas principais medidas de enfrentamento da violência contra a mulher até chegar a Lei Maria da Penha, Lei n. 11.340 de 07 de agosto de 2006, que tornou-se uma importanteconquista para todas as mulheres. (GOMES, 2018, p. 19). Pelo fato de que esta Lei reconheceu expressamente que a violência doméstica contra a mulher é uma violação de direitos, bem como estabeleceu medidas de prevenção, assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica, pautada na perspectiva de gênero. Diante do contexto, podem-se destacar os acontecimentos mais importantes de lutas em defesa contra violência em mulheres: 1780 Tem início a luta de enfrentamento da violência contra a mulher a nível mundial; 1789 Instituição da Carta de Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, como cidadão e sujeito de direitos; 1791Olympe de Gouges, uma mulher revolucionária, escreveu a Declaração dos Direitos da Mulher, na tentativa de incluir a mulher como sujeito de direitos na carta de Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão; 1793 Olympe de Gouges foi executada na guilhotina em 1793; Em 8 de março de 1857, 129 mulheres fizeram greve em uma indústria têxtil de Nova York, pois recebiam a metade dos salários dos homens e cumpriam jornadas de trabalho desumanas. Como reparação, foram queimadas vivas. Por isso, foi instituído o 8 de março como Dia Internacional da Mulher; 1916 Código 29 Civil de 1916, a mulher era relativamente capaz, sendo seu responsável um curador, marido ou o pai; 1962 Foi instituído o Estatuto da Mulher Casada como “colaboradora” na família; 1988 No Brasil, com a Constituição Federal, a mulher passou a ter as mesmas funções dos homens na família; 2001 O Estado brasileiro foi condenado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos, por negligência e omissão em relação a violência doméstica; O papel da mulher e sua função na família foi reafirmada no Código Civil de 2002; 2003 O Código Civil de 2002, só entra em vigor em janeiro do ano seguinte; 2006 Sancionada a Lei Maria da Penha, Lei n. 11.340 de 07 de agosto de 2006. Esta Lei só entrou em vigor no dia 22 de setembro de 2006. (GOMES, 2018, p. 19). Neste contexto, percebe-se que a luta para o enfrentamento da violência contra a mulher teve início na década de 1780, perdurando assim até os dias atuais, pelo fato de que é comum ver e ouvir nos noticiários nos meios de comunicação casos de violência contra a mulher dando destaque ao caso Maria da Penha. 2 FORMAS DE ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER NO BRASIL A sociedade vem se modificando no decorrer do tempo e trazendo inovações na forma de ser e existir da sociabilidade humana. (RIBEIRO, 2011, p. 5). Isso nos faz pensar e ter a vontade de que exista uma sociedade mais justa e igualitária que vá de encontro com a ordem social vigente, e que trate o homem e a mulher em sua condição humana, sem exploração, exclusão, discriminação e/ou preconceito. Pelo fato de que tanto homem quanto mulher, possuem um papel fundamental na constituição da sociedade. Nessa perspectiva, no Brasil vemos que as mulheres representam cerca de 51% (cinquenta e um por cento) da população, e que nas últimas décadas as mulheres vem se mostrando como uma nova geração que usufrui de conquistas resultantes de um processo de luta que teve início na década de 1960 e perdura até os dias atuais. (RIBEIRO, 2011, p. 12). Mas é preciso deixar claro que apesar da mulher sair do cenário doméstico para o cenário público. Ainda vive-se neste século com grandes os desafios para as mulheres. A superioridade masculina e a subordinação feminina ainda é uma realidade em vários contextos da nossa sociedade. Mulheres são agredidas física e verbalmente. Porém, movimentos de conquistas femininas nas esferas públicas, a participação política feminina na história do nosso Brasil, a Lei Maria da Penha e a eleição de uma presidenta no país, relevam as contribuições que as mulheres podem 30 oferecer. (RIBEIRO, 2011, p. 12). Portanto exige-se uma reflexão e um debate. Um repensar e um novo olhar. Dessa forma, as conquistas da entrada da mulher no processo reivindicatório, por meio do movimento feminista levou a mulher a ser um instrumento fundamental para o processo das relações sociais. Pelo fato de que a mulher, enquanto ser social, ativo e participativo, passou a ter cada vez mais um espaço maior na sociedade, no mercado de trabalho, bem como na estrutura familiar. Mas é preciso considerar, que no Brasil essa nova imagem da mulher na realidade se apresenta de maneira distinta de região para região, visto que a forma como se trata a mulher é oriunda das relações culturais, sociais, de gênero, condição econômica, dentre outros aspectos que influenciam o lugar que a mulher ocupa na sociedade. Mesmo assim é preciso que a sociedade, partindo de um olhar total, conheça e reconheça as conquistas femininas, que levaram as mulheres ao patamar de serem consideradas possuidoras de direitos. Mas devemos considerar que apesar das conquistas, ainda há muito por se lutar, sendo uma das principais e mais importante a luta em combate a violência contra a mulher, situação está que deve ser enfrentada a qualquer custo através de uma ação conjunta entre governo e sociedade civil. (RIBEIRO, 2011, p. 21). Partindo dessas pressuposições é preciso compreender o fenômeno da a violência contra a mulher, que se baseia na ação ou conduta, fundamentada na questão de gênero, que retrata qualquer ato que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público como no privado. Ressaltando que está definição é, portanto, ampla e aborda diferentes formas de violência, tais como: a violência doméstica – que se caracteriza em atos de violência na residência da vítima, se expressando de forma física, psicológica, sexual, moral e patrimonial; violência na comunidade – que pode ser compreendida a partir de práticas de abuso sexual, tortura, tráfico de mulheres, prostituição forçada, sequestro e assédio sexual no local de trabalho, bem como em instituições educacionais, estabelecimentos de saúde ou qualquer outro lugar de convívio comunitário. (RIBEIRO, 2011, p. 31). As formas de violência contra a mulher são caracterizadas como forma de violação de direitos, que deixam cicatrizes para toda a vida, provocando nas mulheres sentimentos de inferioridade, visto que o agressor deprecia a vítima e a diminui, 31 fazendo com que as mesmas se sintam culpadas pela situação que estão vivenciando. O Brasil é signatário de tratados e documentos internacionais que definem medidas para a eliminação da violência contra a mulher. (SARMENTO; CAVALCANTI, 2009, p. 57). Essas medidas dependem de diferentes atores nos âmbitos do governo e da sociedade, bem como da introdução de conhecimentos específicos e tecnologias diferenciadas para profissionais que atuam diretamente na atenção à saúde, integrada a outras iniciativas, possibilitando, assim, a formação de redes de atenção para mulheres e adolescentes em situação de violência doméstica e sexual. (SARMENTO; CAVALCANTI, 2009, p. 57). Tais redes de atenção integrada devem trabalhar em consonância com as redes e o sistema de proteção de direitos de crianças e adolescentes. As propostas de resolução para os problemas relacionados à violência contra mulheres estão presentes em diversos documentos internacionais – tais como a Declaração sobre a Eliminação da Violência contra as Mulheres (ONU, 1993) – elaborados a partir de algumas conferências mundiais: Conferência Internacional de Direitos Humanos (Viena, 1993), Conferência Mundial da Mulher (Pequim, 1995) e Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW,1979), da qual o Brasil faz parte desde 1985, apresentando relatórios atualizados de dois em dois anos. (ONU, 1993). Como conquistas regionais, podemos citar que a Organização dos Estados Americanos (OEA) elaborou a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, ratificadapelo Brasil em 1997. As conquistas nacionais ou locais passam pelo apoio do legislativo brasileiro no que se refere à aprovação de leis que reconhecem as situações de violência contra a mulher: a Lei nº 10.778/03 (BRASIL, 2003), que estabelece a notificação compulsória, no território nacional, de casos de violência contra a mulher que for atendida em serviços de saúde públicos ou privados; a Lei n.º 10.886/04 (BRASIL, 2004), que tipifica a violência doméstica no Código Penal Brasileiro e traz a definição jurídica do que é o crime de violência doméstica, bem como as penas previstas para o agressor. Outras conquistas importantes na área da Saúde em 2005 foram as publicações das Normas Técnicas: “Prevenção e Tratamento dos Agravos Resultantes da Violência Sexual contra Mulheres e Adolescentes”, “Aspectos Jurídicos do Atendimento às Vítimas de Violência Sexual”, “Anticoncepção de Emergência” e “Norma Técnica de Atenção Humanizada ao Abortamento”. (SILVA, 2017, p. 44). 32 A Lei Maria da Penha, sancionada em 2006, é uma lei que protege as mulheres contra violência doméstica e familiar. (ROCHA, 2016, p. 12). Nesse sentido, a Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006) é uma grande conquista de todas as brasileiras. Criada há 6 anos, no dia 07 de agosto de 2006, ela não existiria sem a garra do movimento feminista e dos movimentos de mulheres, que, indignadas com a negligência com que eram tratadas, exigiram do Estado brasileiro a criação de um mecanismo que reconhecesse a violência doméstica e familiar como uma afronta a nossos direitos humanos e nos protegesse. Mesmo assim é preciso ficar claro que apesar das conquistas que foram impostas a partir desta Lei, uma lei pode fazer muito, mas não pode acabar de uma vez por toda com a mentalidade machista e racista que ainda existe na sociedade e no Estado. Ressaltamos que a Lei Maria da Penha é uma das melhores leis do mundo para assegurar uma vida livre de violência às mulheres, ela deve ser implementada, e não alterada. Sendo assim, é necessário abordar os avanços nas formas de enfrentamento de prevenção e combate à violência contra a mulher, deixando sua marca na elaboração de Leis, como a Lei Maria da Penha; políticas públicas de proteção à mulher, bem como programas de combate a violência contra a mulher. 2.1 Das consequências da violência doméstica Diversas vezes, os estragos psicológicos do abuso efeitos físicos são ainda mais devastadores que seus efeitos físicos. A experiência do abuso devasta a autoestima da mulher, ao risco mais alto do sofrer de problemas mentais como depressão, medo, estresse traumático, disposição ao suicídio, isolamento, baixa autoestima, problema de ansiedade, consumo abusivo de álcool e drogas e utilização descontrolada de remédios psiquiátricos. Os estudos demonstram que as vítimas de violência do parceiro refletem um estado de saúde inferior em comparação a mulheres não vítimas de agressões do parceiro, conforme Day et al. (2003). Dessa forma, a violência doméstica estupro e abuso sexual na infância representam as causas mais frequentes de transtorno de estresse pós-traumático em mulheres. Nesta patologia, a paciente passa por sensação bastante intensa em está revivendo o evento traumático, adota conduta evitativa, vive indiferença emocional tem dificuldades para dormir, para se concentrar e assusta-se facilmente (DAY, et al. 33 2003). De acordo com o instituto IPAS (Instituto Pernambucano de Assistência à Saúde), que desenvolveu o projeto Rhamas (2010), ao qual tem por escopo ajudar mulheres vítimas de abuso sexual, mostra que os efeitos da violência física podem ser: dores crônicas, alterações no sono, dificuldades de se alimentar hemorragias, hematomas, cicatrizes, limitação de paralisias e inclusive a movimentos, perda de função de determinado membro ou órgãos, paralisia e inclusive a morte. Nesses termos, as consequências físicas não letais derivam de lesões como cones na boca, sangramento no nariz, extrusão do tímpano, inflamação no tórax, dificuldade circulatórias, dores físicas que atrapalham a realização de tarefas cotidiana, palpitações, tremedeiras, dores na coluna lombar, enxaquecas, queixas somáticas, desordens gástricas vinculadas ao stress crônico e hipertensão (TAVARES, 2014, p. 31). Por conseguinte a saúde mental das mulheres que sofrem violência doméstica vítima do companheiro é afetada sob o modo de transtorno de ordem emocional, ansiedade, pequena autoestima, insônia e transtornos de humor (TAVARES, 2014, 31). Em definição do inciso II, do artigo 7° da Lei 11.340/06, a violência psicológica constitui qualquer ação que tenha por escopo controlar o comportamento da mulher, anulando sua autodeterminação ocasionando-lhe determinado tipo de prejuízo emocional e/ou reduzindo sua autoestima, por meio de ofensas, ironias, isolamento social forçado, dentre outros meios. Assim, a violência psicológica versa essencialmente em condutas omissivas ou comissivas, que resultam em lenta e sucessiva destruição da identidade e da capacidade de reação e resistência da vítima sendo habitual que evolua para prejuízo relevante a sua saúde mental e física. (HERMANN, 2015, p. 108). Nessa perspectiva, a violência contra a mulher é produto da desigualdade entre homens e mulheres e quando ocorre no ambiente familiar é urna maneira de coação que elimina o direito à liberdade e pode acarretar danos psicológicos irreversíveis para todos os integrantes da família. Berenice Dias (2014) afirma que a violência psicológica é a mais comum e quem sabe a menos delatada, pelo fato que, por diversas vezes, a vítima nem se percebe que as agressões verbais, silêncios prolongados, conflitos, manipulações de atos e vontades, são violência. No que concerne à configuração do dano, expõe ainda 34 Dias que não é preciso elaboração de laudo técnico ou realização de perícia. Caso a violência psicológica for confirmada pelo Juiz, incumbirá a concessão de medida protetiva de urgência, e caso seja cometido algum crime através de violência psicológica, competirá majoração da pena, segundo artigo 61, II, “f”do Código Penal. Finalmente, a Violência Patrimonial é deliberada pelo art. 70, inciso IV da Lei qualquer conduta que represente retenção, 11.340/06, e pode ser compreendido como subtração, aniquilamento parcial ou total de seus pertences e objetos, material de trabalho, documentos pessoais bens, valores diretos ou recursos financeiros, inclusive os designados a, atender suas necessidades (DIAS, 2014, p. 55). Para a autora, no Código Penal está definida entre os crimes contra o patrimônio corno furto, dano e apropriação indébita, simultaneamente nos seus artigos 155, 163 e 168. Importante ressaltar que a definição apresentada pela Lei Maria da Penha, reconhecendo como violência doméstica, não compete mais a isenção da pena prevista no artigo 181 do Código Penal. Aqui igualmente acontecerá o agravamento da pena disposto no artigo 61, Il f, do Código penal (BRASIL, 1940). Seja qual for o ato, omissão ou conduta que serve para atribuir consternações físicas, sexuais ou mentais, direta ou indiretamente, mediante dolos, ameaças, coações ou qualquer outra forma, a qualquer mulher e tendo por escopo e como decorrência intimidá-la, puni-la ou humilhá-la, ou conservá-la nos papeis estereotipados vinculados ao seu sexo, ou abdicar-se a dignidade humana, a autonomia sexual, a integridade física, moral, ou desestruturar a sua segurança pessoal, o seu amor próprio, sua autoestima ou sua personalidade, ou enfraquecer as suas capacidades físicas ou intelectuais (CUNHA; PINTO, 2014, p. 24). Sendo posto, os problemas na saúde reprodutiva são mais comumente demonstrados em mulheres vítimas de violência do companheiro íntimo do que mulheres não atacadas pelo companheiro. A mulherque é vítima pode ter doenças sexualmente transmissíveis, infecções vaginais, baixo libido, dores pélvicas crônicas e infecções do trato urinário (TAVARES, 2014, p. 32). Em geral, o setor saúde precisa manter acompanhamento médico e psicológico constante proposto a mulheres vitimadas pelo consorte, porquanto as consequências dessas agressões podem Prosseguir mesmo depois de parar o ciclo violento (TAVARES, 2014, p. 32). Destarte, a violência sexual contra a mulher tem fortes consequências 35 negativas na saúde reprodutiva da mesma, podendo aumentar a possibilidade da mulher ter vários filhos, gestações indesejadas, abortos, partos prematuros e demais complicações durante o parto e no período do puerpério; as meninas jovens apresentam maior risco de serem agredidas e violentadas durante a gestação; o abuso sexual infantil parece aumentar o risco de gravidez na adolescência; podendo igualmente causar retardo na procura do pré-natal; problema no aleitamento materno e nos cuidados com o recém-nascido. De acordo com o Rhamas (2013), A violência psicológica quase sempre não deixa marcas visíveis, porém vai minando aos poucos as defesas da vítima, que acaba por várias vezes se responsabilizando pelas agressões sofridas. Portanto, as consequências acarretadas por esse tipo de violência são devastadoras para a vida da mulher. Por conseguinte, o acompanhamento psicológico para as vítimas que sofrem de violência doméstica faz-se cogente para que ela possa achar maneiras de se reestruturar emocionalmente, readquirindo sua autoestima, autoconfiança, desenvolvendo seu repertório para suportar as situações de crise, resguardando-se de futuras agressões e mantendo, desse modo, uma convivência mais saudável em suas relações. Nesse contexto, o impacto de tipos diferentes de abuso e de diversos episódios ao longo do tempo parece ser cumulativo. Para certas mulheres, o peso destas agressões e sua desesperança torna-se tão profunda que chega a ser insuportável para elas, levando-as até ao suicídio. No entanto, a presença de um ou outro indicador físico ou psicológico pode não significar, essencialmente, a evento de violência, porém, nenhum sinal deve-se passar despercebido, a de se levar a intervenção para tempo tardio, ocasionando agravamento do quadro e das sequelas. (WAKSMAN; HIRSCHHEIMER, 2015, p. 35). Portanto, a Organização Mundial de Saúde considera a violência doméstica contra a mulher como uma questão de saúde pública, que compromete de modo negativo a integridade física e emocional da vitima, seu senso de segurança, instituída por círculo vicioso de “idas e vindas” aos serviços de saúde e o decorrente acréscimo com os gastos neste campo (PORTO, 2017, p. 30). Todo e qualquer tipo de violência causa, de conformidade com Porto (2017), detrimentos nas áreas do desenvolvimento físico, cognitivo, social, moral, emocional ou afetivo. As marcas físicas da violência podem ser densas, como as inflamações, 36 contusões, hematomas, ou crônicas, marcando e deixando sequelas por toda a vida, como as limitações no movimento motor, traumatismos, a instalação de deficiências físicas, dentre outras. Como antes mencionado e bem enfatizado, os sintomas psicológicos comumente localizados em vítimas de violência doméstica são: insônia, pesadelos, ausência de concentração, irritabilidade, ausência de apetite e, inclusive, o surgimento de graves problemas mentais como a depressão, ansiedade, síndrome do pânico, estresse pós-traumático. Ademais destes, também se pode encontrar os comportamentos autodestrutivos, como a utilização de álcool e drogas ou também tentativas de suicídio (PORTO, 2017, p. 32). O transtorno do estresse pós-traumático pode ser definido como um distúrbio da ansiedade caracterizado por um conjunto de sinais e sintomas físicos, psíquicos e emocionais. Esse quadro ocorre devido à pessoa ter sido vítima ou testemunha de atos violentos ou de situações traumáticas que representaram ameaça à sua vida ou à vida de terceiros. Quando ele se recorda do fato, revive o episódio como se estivesse ocorrendo naquele momento e com a mesma sensação de dor e sofrimento vivido na primeira vez. Essa recordação, conhecida como revivescência, desencadeia alterações neurofisiológicas e mentais. http://www.minhavida.com.br/saude/temas/ansiedade 37 2.2 Da formação do Juizado Especial de violência doméstica e familiar contra a mulher A Lei Maria da Penha em seu art. 1º. “dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher” (BRASIL, 2006), que tem como a finalidade julgar crimes de violência conta a mulher; realizar acolhimento às vítimas; realizar atendimento de caráter psicossocial, jurídico e pedagógicas; bem como ser um espaço de troca de informações, orientações, encaminhamentos e acompanhamentos quando forem comprovados os casos de violência contra a mulher. Dessa forma a seguir apresentamos a estrutura de funcionamento do Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher: Estrutura e funcionamento da organização: I l I I Nesse sentido, as ações dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher visam à possibilidade de uma melhor articulação da rede social na proteção feminina, procurando reduzir os índices de violência doméstica contra a mulher. Estagiário de Direito Escrevente Escrivão Psicólogo Cartório Equipe Técnica Assistente do Juíz Juiz Assistente Social Estagiários de Serviço Social Estagiário de Psicologia 38 (RIBEIRO, 2011, p. 12). Sendo os recursos humanos necessários para a realização das ações, profissionais de diversas áreas, tais como advogado, assistente social, psicólogo, defensor público, policial, promotor e estagiários. Assim as ações são realizadas com base na estruturação de parcerias com órgãos, programas e projetos de nível governamental e de organizações que fazem parte da esfera privada, visando o melhor atendimento das usuárias dos serviços de enfrentamento da violência doméstica. Diante disso, o Poder Judiciário é uma instituição hierárquica, conservadora e permeada por contradições. 3 - A IMPORTÂNCIA DA LEI MARIA DA PENHA NO CONTEXTO DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER 3.1 A dignidade da pessoa humana no âmbito da proteção à mulher Pode-se dizer que a dignidade da pessoa humana é produto do desenvolvimento do conhecimento científico, como dos movimentos políticos e sociais do século XX e o surgimento da globalização que geraram intensas transformações na estrutura da família, proporcionando novos ideais, outros arranjos familiares, outros valores para as entidades familiares (GONÇALVES, 2015, p. 47). Dessa forma, referente à Dignidade da Pessoa Humana, Afonso da Silva (2003) assevera tratar-se de um valor supremo que norteia o conteúdo de todos os demais direitos fundamentais do homem, desde o direito à vida. Porquanto, Dignidade da Pessoa Humana, de conformidade com Sarlet, pode ser conceituada como: A qualidade inerente e constitutiva reconhecida em cada ser humano que merece o mesmo respeito e estima por parte do Estado e da comunidade, decorrendo, nesta acepção, um complexo de direito e deveres fundamentais que garantam a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de caráter humilhante e desumano; como venham a lhe afiançar as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de favorecer e promover sua participação ativa e corresponsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os outros seres humanos, por meio do devido respeito aos demais seres que fazem parte da rede da vida (SARLET, 2014, p. 67). Nos ensinamentos de Lôbo (2013), o Princípioda Dignidade da Pessoa Humana instituído pela Carta Magna, é uma esplêndida mudança de paradigmas, porque no aspecto tradicional a família era percebida como totalidade, onde se 39 anulavam as pessoas que a, integravam, sobretudo os desiguais, como a mulher e os filhos. Desse modo, não era o campo apropriado para a realização da dignidade das pessoas, ao não oposto do que acontece atualmente, tendo em vista que a família é o lugar onde incide a efetivação existencial de cada um de seus integrantes e, corno assevera o autor, como espaço preferencial de afirmação de suas dignidades. Assim, no Estado Democrático de Direito brasileiro, o princípio da dignidade da pessoa humana está presente no art. 1', inciso III, na Constituição da República Federativa Brasil. Se a dignidade é presentemente um princípio constitucional, ou seja, uma implicação de uma conquista histórica. É a legitimação de que não interessam quais sejam as circunstâncias ou qual o regime ou sistema político, que se tenha. Pois, todo ser humano precisa ter reconhecido pelo estado pessoa e a segurança, na prática, de uma personalidade que jamais deve ser desprezada ou subestimada por nenhum poder. Exigir através de norma constitucional que o Estado reconheça a dignidade da pessoa humana, é exigir que ela avalize a todos direitos que podem ser estimados válidos para um ser humano capaz de entender o que é o bem (PEREIRA, 2016, p.98). Para tanto, Moraes (2015) esclarece que o alicerce jurídico do princípio da dignidade da pessoa humana revela-se no princípio da igualdade, isto é, no direito de não auferir tratamento discriminatório, na Certeza de ter direitos iguais garantidos a todos, conforme a mais simples aplicação do postulado “todos são iguais perante a lei.” Em complemento, ainda, a dignidade da pessoa humana, enquanto principio possui dupla dimensão, negativa e positiva. Em outros termos, é a garantia negativa de que a pessoa não será alvo de afrontas ou humilhações, mas igualmente vincula caráter positivo na acepção do pleno desenvolvimento da personalidade de cada sujeito (MORAES, 2015). Na concepção de Dias (2014), dignidade humana representa-se como valor central da ordem constitucional. Tartuce (2015) recomenda que não existe ramo do Direito Privado em que a dignidade da pessoa humana tenha mais intervenção ou atuação do que o Direito de Família. Sendo assim, o Princípio Fundamental à igualdade entre ambos os sexos implica, de início, ter presente que a dignidade da pessoa humana se reporta ao homem e a mulher, ou seja, tanto ao gênero masculino, como ao gênero feminino. Dessa forma, abordar a respeito da dignidade da pessoa humana e as 40 relações de gênero pressupõe, inicialmente, entrar em um campo que abrange desarmonias concernentes a sua própria conceituação, visto que esta tem uma dimensão cultural que relativiza sua definição e, por mostrar traços que perpassam diversas culturas, é avaliado um direito universal, reivindicado por todos os povos. (GONÇALVES, 2015, p. 49). Nesse contexto, expor sobre a dignidade da pessoa humana e as relações de gênero implica primeiramente, adentrar num campo do qual envolve desarmonias atinentes a sua que esta traz uma dimensão cultural que relativiza sua própria definição, uma vez conceituação e, por apresentar traços que decorrem várias culturas, é avaliado um direito universal, exigido por todos os povos. Assim, um Estado Democrático de Direito precisa proporcionar condições de vida digna a todos seus habitantes, por meio da aplicação de política pública em ações que causem a por respeito às mulheres, conquanto tenham elevado isonomia entre as pessoas. (GONÇALVES, 2015, p. 47). No que diz respeito às mulheres, conquanto tenha elevado condição de expressiva emancipação, muitas se mantêm submissão em suas residências ou em suas famílias, em pretexto da convicção de que sua vida é dependente prontamente, menos digna - que daqueles a quem acha dever satisfação. Posto que, o art. 1° da Declaração Universal da Organização das Nações Unidas exprime que “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. Dotados de razão e consciência, devem agir uns para com os outros em espírito e fraternidade” (SARLET, 2014, p. 67). Destarte, ao consagrar o princípio da igualdade, a Declaração Universal dos Direitos Humanos mostra que todas as pessoas, conquanto todas as heterogeneidades biológicas e culturais que os diferenciam entre si, merecem igual respeito. Pois, esse é o reconhecimento universal da igualdade. Todavia, faz-se preciso ressaltar que, no contexto da procura do direito à dignidade da pessoa humana, os Direitos Fundamentais servem como mecanismo de garantia desta, visto que a unidade dos Direitos Fundamentais se localiza no ser humano, cujo é o fundamento e o fim do Estado de Direito. Assim, a dignidade da pessoa humana é o escopo dos Direitos Fundamentais. Essa relação acha-se em graus de vinculação diferenciados, posto que determinados Direitos Fundamentais especifiquem a dignidade da pessoa humana, ao passo que outros direitos são deles consequente (SARLET, 2014, p. 68). 41 Nessa conjuntura de promoção da dignidade da pessoa humana nas relações de gênero por meio dos Direitos Fundamentais, o constituinte brasileiro presumiu na lista do art. 5° da Carta Maior o direito de igualdade entre homens e mulheres: Art. 5°. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes nos países a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: - Homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações nos termos desta Constituição. (BRASIL, 1988). Nesse contexto, compreende que a mulher pode ser considerada tanto como parte do campo da natureza, quanto como intermediária entre a natureza e seu meio social, mormente sob o ponto de vista cultural. Em síntese, assevera que o sistema para distinguir homens de mulheres tem sido essencialmente, a dicotomia essencialista entre natureza e cultura, dentro da qual o campo da cultura torna o campo da natureza subordinado a ele. 3.2 Da Lei 11.340/06: Lei Maria da Penha Segundo a Organização Mundial da Saúde, em seus estudos estatísticas aproximadamente a metade das mulheres vítimas de homicídio são mortas esposo ou namorado, só pelo ex como ainda pelo atual. Do mesmo modo, pesquisa feita pela Anistia em cinquenta nações apresentou dados que comprovaram que uma em cada três mulheres foi vítima de violência doméstica, como igualmente coagida a manter relações sexuais ou obrigadas a outros tipos de violência. (SABADELL, 2015, p 77). Em especial, no que se refere à violência contra a mulher e à violência doméstica, existe uma justificativa adicional para a sua enorme ocorrência no Brasil. Ela não está vinculada apenas à dialética da pobreza, ou desigualdade social e cultural. Igualmente está associada de forma direta ao preconceito, à discriminação e ao abuso de poder que tem o agressor para com a sua vítima. A mulher, em virtude de suas particularidades aparência física, idade e submissão econômica, encontram- se em uma condição de vulnerabilidade na relação social (HIRIGOYEN, 2006, p. 17). Em implicação a sua relação de poder e à dominação que há no relacionamento afetivo, comumente o agressor, em relação à mulher que ele ataca através da força física e o poder econômico, passa a forjá-la, violá-la e insultá-la psicológica, moral e fisicamente. 42 Por conseguinte, diante dessa triste realidade, a violência contra a mulher ganha proporção assustadora. Assim, em respostas a esta situação, surge,no dia 07 de agosto de 2006, Lei 11.340 (igualmente chamada Lei Maria da Penha) que, de modo inédito, cria elementos importantes para refrear a violência doméstica e familiar contra a mulher, instituindo medidas e ações de prevenção, assistência e proteção às mulheres em situação de violência. A Lei Maria da Penha trouxe como fundamento uma gama de fatores para sua criação. Primeiramente, compete descrever a respeito da primeira Conferência Mundial sobre a Mulher, concretizada no México, que inspirou na elaboração da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres, entrando em vigor no ano de 1981 (CAMPO, 2017, p. 42). Provém, a partir desse evento, o estímulo à busca do reconhecimento dos direitos humanos das mulheres, conquanto esse resultado tenha sido bastante moroso. Somente no ano de 1984, o Brasil passou a ser signatário dessa Convenção da Mulher, ou CEDAW - que significa: convenção para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher -, discutindo sobre a necessidade dos Estados constituírem legislação relacionada à violência doméstica contra a mulher. Assim, a situação somente tomou outras dimensões depois do caso da cearense Maria da penha Maia Fernandes. Ela, durante o seu casamento, com o então Marco Antônio Heredia Viveiros, conviveu Com o seu agressivo e violento temperamento, não ousando, portanto, a separar-se do marido por medo da sua reação. De conformidade com Campo (2017, p. 42), lamentavelmente a situação ficou mais perigosa e gravosa. No ano de 1983, Maria da Penha levou um tiro, disparado pelo seu marido, que tentou assassiná-la. Por sorte, ele não obteve êxito no intento, todavia, Mara da Penha ficou em estado de paraplegia irreversível. Constata-se, nesse episódio, a brutalidade acometida contra Maria da Penha, representando as diversas mulheres semelhantes a esta situação, vítimas de todo tipo de agressão a que seus companheiros lhes obrigam a passar. Por conseguinte, dias depois do acontecido, outra vez o marido de Maria da Penha procurou assassiná-la, numa tentativa abominável de eletrocutá-la quando ela estava tomando banho. Foi quando a vítima, cansada das investidas do agressor, decidiu procurar por seus direitos humanos. 43 Passou em torno de quinze anos para o processo ser instaurado pelo Ministério Público, em 1984, sem que existisse qualquer posição da Justiça Brasileira quanto à condenação do acusado, que se achava em liberdade. Foi quando a vítima procurou os órgãos internacionais protetores dos Direitos Humanos, que expuseram o caso à OEA, pela omissão e negligência do Estado Brasileiro que, mesmo depois de todas as denúncias apresentadas pela vítima, não tinha decidido sobre alguma medida contra o agressor, ao longo de tantos anos (CAMPOS, 2017. p. 44). Na concepção de Hermann, a Lei Maria da Penha confirma seu desígnio em: Instituir mecanismos para impedir e precaver a violência doméstica e familiar contra a mulher, na dicção do § 8° do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a Mulher, da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher e de demais tratados internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil: Mulher; prevê ê sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a determina medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar (HERMANN, 2015, p. 50). Dessa forma, a Lei 11.340/06, Lei Maria da Penha é empregada quando a mulher, independente da idade, sofrer violência de parentes ou de quem quer que seja próximo ou não à família. E adverte-se ainda que mulher que sofre violência cometida por outra mulher merece o mesmo tratamento pela Lei. Cabe destacar que hoje em dia, depois da criação da Lei Maria da Penha, observa-se um maior aumento no acesso das mulheres vítimas de violência a serviços de proteção. Logo, existiu e ainda existe o aumento na quantidade de delegacias especializadas de atendimento à mulher, como um processo que principia a se firmar e angariar espaço, uma conquista das mulheres. Nesses termos, a delegacia da mulher é uma das importantes políticas de enfrentamento em situações de violência, porquanto ela é a porta de entrada para os outros órgãos de ajuda às vítimas, como assistências médicas, psicológicas e judiciais. Assim, relevante mencionar que cada vez mais as mulheres vêm pondo em evidência e denunciando as agressões sofridas. 3.3 A importância da Lei Maria da Penha para as mulheres Desde a Constituição Federal Brasileira de 1988, foi que as mulheres passaram a ter reconhecidos os seus direitos humanos e cidadania plena. (DIAS, 2014, p. 57). 44 Essa conquista resultou, sobretudo, das amplas mobilizações feitas pelas próprias mulheres, por meio de ações dirigidas ao Congresso Nacional, mostrando emendas populares e elaborando movimentos que resultaram na inclusão da igualdade de direitos sob no contexto de gênero, raça e etnias. A despeito desses fatores, o Estado Brasileiro assinou e sancionou dois tratados internacionais que se atribuem excepcionalmente à procedência e defesa dos direitos humanos das mulheres, quais sejam, como já citado anteriormente: Convenção da Organização das Nações Unidas sobre Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher e Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (PORTO, 2017, p. 44). Nesse contexto, para Campos (2017, p. 45), a Constituição, como documento jurídico e político dos cidadãos, procurou irromper com um sistema legal profundamente discriminatório contra as mulheres e colaborou para que o Brasil se agregasse ao sistema de proteção internacional dos direitos humanos, exigência histórica da sociedade. No que diz respeito ao enfrentamento da violência contra a mulher, a Lei 11.340/06, Lei Maria da Penha elabora medidas integradas de prevenção, através de unidas articulações de ações da União, Estados, Distrito Federal, Municípios e de ações não governamentais, sob o aspecto multidisciplinar, institui a integração do Poder Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública, com as áreas da segurança pública, assistência social, saúde, educação, trabalho e habitação (DIAS, 2014, p. 57). Por conseguinte, enfatiza a relevância da promoção e efetivação de campanhas educativas de prevenção da violência doméstica e familiar contra a mulher, assim como da propagação da Lei e dos mecanismos de proteção dos direitos humanos das mulheres. Soma-se a importância de inclusão nos currículos das escolas de todos os níveis de ensino para os conteúdos respectivos a direitos humanos, à igualdade de gênero e de raça, etnia e ao problema da violência doméstica e familiar contra a mulher. Destarte, pode-se dizer que a composição da Lei Maria da Penha vem envolvida nomeadamente no princípio da dignidade da pessoa humana, disposto no art. 1°, inciso III da Carta Magna de 1988. Nessa esteira, o legislador da Lei Maria da Penha vinculou à aludida legislação uma menção no que trata do reconhecimento dos direitos da mulher, como nivelados aos dos homens, enquanto ser humano. (SOUZA, 2017, p. 53). 45 Desse modo, está manifesto no art. 2° e 3° da citada Lei, os direitos da mulher, in verbis: Art. 2°. Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo- lhe asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde física e mentale seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social. (BRASIL, 2006). Em alusão ao assunto, expõe Souza (2017, p. 52) que o legislador da Lei reafirmou que a mulher, sendo ser humano igual, traz os mesmos direitos reconhecidos aos que os homens têm. Sobre o artigo 3° da Lei Maria da Penha, prevê que: Art. 3° Serão asseguradas às mulheres as condições para o exercício efetivo dos direitos à vida, à segurança, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, à moradia, ao acesso à justiça, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. 1° O poder público desenvolverá políticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no âmbito das relações domésticas e familiares no sentido de resguardá- las de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. § 2° Cabe à família, à sociedade e ao poder público criar as condições necessárias para o efetivo exercício dos direitos enunciados no caput. (BRASIL, 2006). A norma legal cuida mais especialmente do princípio da dignidade humana, assim como cita Souza: O art. 3º institui direitos que são contemplados na Constituição Federal, porém que agora aparecem incluídos em uma norma específica, em prol da mulher, tendo o legislador adotado uma redação muito próxima àquela que o constituinte incluiu no art. 227 da Constituição, em prol da criança e do adolescente. Todavia, de qualquer modo, é como se tivesse de forma expressa (reiterado) que a mulher precisa ser respeitada em sua "dignidade humana" e que incumbe ao Poder Público e à sociedade velar por esse respeito (SOUZA, 2017, p. 53). Nesse prisma, percebe-se na redação do artigo acima mencionado, a necessidade de sancionar que os direitos fundamentais, como sendo direitos da pessoa humana, se ampliam em relação à mulher, não apenas ao homem, que diversas vezes acha-se detentor da vida de suas esposas. Sendo posto, primeiramente, o artigo acima mencionado pode estar se referindo ao óbvio, por tratar de questões já garantidas na legislação constitucional, 46 contudo, tem justificativa real. No entendimento de Cunha: É sem dúvida, historicamente, que a construção legal e conceituai dos direitos humanos ocorreu, primeiramente, com a exclusão da mulher. Conquanto os basilares documentos internacionais de direitos humanos e provavelmente todas as Constituições da era contemporânea consagrem a igualdade de todos. Essa igualdade, lamentavelmente, continua sendo entendida em seu aspecto formal e estamos ainda distante de conseguir a igualdade verdadeira, substancial entre as mulheres e homens. Porquanto, a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a mulher foi, dentre as Convenções da ONU, a que mais auferiu reservas por parte dos países que a ratificaram. E, em razão da enorme pressão das entidades não governamentais é que teve o reconhecimento de que os direitos da mulher igualmente são direitos humanos, ficando assinalado na Declaração e Programa de Ação de Viena (item 18) que: os direitos humanos das mulheres e das meninas são inalienáveis e representam parte integral e indivisível dos direitos humanos universais (CUNHA, 2016, p. 25). Nesse cenário de desigualdade entre homens e mulheres, é que a Lei Maria da Penha vem procurar equilíbrio nas relações sociais entre os gêneros, agindo em favor das cidadãs do sexo feminino, direitos intrínsecos à pessoa humana, quando feridos por sujeitos fisicamente e socialmente “superiores” a elas, ao menos em sua concepção. Por este motivo, o legislador da Lei Maria da Penha aprova em seu art. 6° que: “Art. 6°. A violência doméstica e familiar contra a mulher constitui uma das formas de violação dos direitos humanos’’. (BRASIL, 2006). Nessa perspectiva, o Estado cuidou de legislar em prol das mulheres, analisando a principal função dos regramentos sociais, que é o humanismo, ainda que não aconteça de forma plena, de acordo com entendimento jurisprudencial: Os direitos e garantias individuais não possuem caráter absoluto. Não existe, no sistema constitucional brasileiro, direitos ou garantias que se revistam de caráter absoluto, mesmo porque motivos de relevante interesse público ou exigências dimanadas do princípio de convivência das liberdades legitimam, ainda que unicamente, a adoção, por parte dos órgãos estatais, de medidas restritivas das garantias individuais ou coletivas, contanto que respeitados os termos determinados pela própria Constituição. O estatuto constitucional das liberdades públicas, ao delinear o regime jurídico a que estas estão sujeitas — e considerado o substrato ético a que as informa - admite que sobre elas advenham limitações de ordem jurídica, destinadas, de um lado, a proteger a integridade do interesse social e, de outro, garantir a coexistência harmoniosa das liberdades, porquanto nenhum direito ou 47 garantia pode ser cumprido em prejuízo da ordem pública ou com desrespeito aos direitos e garantias de terceiros. (MS 23.452/RJ — Tribunal Pleno — Rel. Min. Celso de Mello — DJ 12.05.2000, p. 20). Nessa esteira, observa-se a existência de uma nova dimensão acrescentada aos direitos fundamentais, analisando-se além da compreensão igualitária constitucional clara: as percepções de gênero, visto que não é suficiente somente a igualdade expressada pela lei, se não for eficaz no meio social. Por conseguinte, a nova legislação em prol da mulher não procurou tão somente garanti-las de seus direitos fundamentais, já consagrados pela Constituição, porém, sobretudo garantir a efetividade do exercício desses direitos, com o amparo de políticas públicas, contempladas na Lei. Em síntese, a Lei Maria da Penha (BRASIL, 2006), protegeu à mulher o exercício dos direitos apresentados nos artigos 1°, II e III; 3°, I, III, e IV; 4° II; 5° I e §§ 1°, 2°, 3° e 4° da Constituição Federal do Brasil de 1988, atribuindo possível, portanto, a reabilitação das vivências sociais entre os gêneros, por meio da igualdade jurídica por ela declarada. 3.4 Medidas protetivas estabelecidas a partir da Lei Maria da Penha A Lei Maria da Penha nº 11.340/06, rompe com a cruel realidade vivenciada pelas mulheres e com um sistema autoritário e preconceituoso estabelecendo medidas de proteção e segurança a mulher. Dessa forma, do ponto de vista do valor proteção à família, abarca aspectos de uma nova perspectiva social, no que concerne ao tratamento pelo qual a mulher sempre foi e vai ser merecedora. Segundo Ribeiro (2011): O rompimento que se dá no nível do valor proteção à família destaca uma nova forma de relacionamento do homem e da mulher. A mulher é fisicamente mais frágil que o homem. A mulher tem um déficit histórico no que concerne à sua cidadania, pois, por exemplo, até há poucas décadas nem tinha o direito de voto e, atualmente, nem tem um tratamento igual nas relações de emprego, mesmo em países desenvolvidos, salvo no serviço público. A mulher, culturalmente, continua sendo vista como uma fêmea reprodutora, nas palavras da filósofa Simone de Beauvoir. Portanto, no que concerne a esse ponto, a lei determina um novo tratamento à mulher. Impõe mais rigor ao homem abusador e maior proteção à mulher, assim aplicando o valor proteção à família, constante da Constituição Federal, pois é indiscutível a preponderância da mulher no âmbito familiar – a mãe (RIBEIRO, 2011, p. 5). 48 Dessa forma, é preciso observar que a Lei Maria da Penha tem como objetivo principal retirar a mulher da situação de violência e opressão em que ela se encontra dentro de seu ambiente familiar. Sendo assim criados os mecanismos de proteção. Pode-se considerar que a Lei Maria da Penha impõe medidas de proteção para que os direitos humanos das vítimas não sejam violados,
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