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CULTURA E SOCIEDADE SEXUALIDADE E CONTEMPORANEIDADE Nesta aula, vamos refletir acerca de como tem sido pensada a sexualidade na contemporaneidade. Partimos das discussões foucaultianas sobre o tema, nos atendo principalmente à compreensão da hipótese repressiva e construção da heteronormatividade. Objetivo • Refletir sobre as discussões foucaultianas sobre a sexualidade. Conteúdo • Foucault – hipótese repressiva – sexualidade; • Construção da heteronormatividade. Professora Samara Feitosa Michel Foucault – História da Sexualidade 1 – A vontade de saber. “Diz-se que no início do século XVII ainda vigorava uma certa franqueza. As práticas não procuravam o segredo; as palavras eram ditas sem reticência excessiva e, as coisas, sem demasiado disfarce; tinha-se com o ilícito uma tolerante familiaridade. Eram frouxos os códigos da grosseria, da obscenidade, da decência, se comparados com os do século XIX. Gestos diretos, discursos sem vergonha, transgressões visíveis, anatomias mostradas e facilmente misturadas, crianças astutas vagando, sem incômodo nem escândalo, entre os risos dos adultos: os corpos ‘pavoneavam’”. (FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: a vontade de saber. Rio de Janeiro, edições Graal, 1988.) Hipótese repressiva – havia, historicamente, certa liberdade na fala sobre a sexualidade. Essa liberdade vai se perdendo à medida que a modernidade avança – Era Vitoriana. “A pudicícia imperial figuraria no brasão de nossa sexualidade contida, muda, hipócrita”. Para Foucault, talvez as coisas não tenham sido exatamente assim. A sexualidade passa a ser, cada vez mais, um tema central nos discursos. O que ocorre é uma “qualificação” e “seleção” da fala e de quem pode falar. Campos de saber – dedicados ao tema. Incentivo à discursividade sobre o tema. Discursos sobre o sexo: quem pode fazer? Igreja – confessionário – necessidade de confessar à Igreja tudo o que acontecia na intimidade. Exame de consciência – feito no confessionário – explicitação em pormenores dos pecados (em atos ou pensamentos), desejos, deleites do corpo. Coação ao discurso – digo ao outro, mas também digo a mim mesmo. Meados do século XVIII – incitamento à fala sobre o sexo: Incitamento político, econômico, técnico – não se trata somente de um discurso moral, mas é preciso inserir no tema uma “racionalidade” que torne o sexo “administrável”. “Deve-se falar dele como de uma coisa que não se tem simplesmente que condenar ou tolerar, mas que gerir, que inserir em sistemas de utilidade, que regular para o bem de todos, que fazer funcionar em ordem a um óptimo. O sexo não se julga apenas, administra-se. Ele tem a ver com o poder público; exige processos de gestão; o sexo no século XVIII, torna-se caso de polícia”. (Foucault. Historia da Sexualidade 1). • Problemas como natalidade, morbidade, demografia, fazem parte dessa “administração” da sexualidade – uma “política econômica do sexo”. • Entre o século XVIII e XIX ,um novo discurso se soma ao anterior – medicina e psiquiatria – classificação – doenças e perversões sexuais. • • Em diálogo com a justiça penal, vão tipificando as condutas dentro de padrões – os atentados, os ultrajes, perversões. • Há que se separar e segregar os “pervertidos”; proteger e prevenir os puros – cada vez mais o sexo vai sendo aliado a ideia de perigo. • Interroga-se com sobriedade a sexualidade das crianças, a sexualidade dos loucos e dos criminosos. Questionam-se aqueles que não gostam do outro sexo, classificam-se os seus devaneios, as obsessões, as manias. • Nem por isso deixam de ser condenadas, mas são escutadas. Freud – Psicanálise: • Refinamento do repertório acerca da sexualidade. • A soma desses “saberes” legitima determinados comportamentos. Algumas práticas são consideradas “saudáveis”, portanto legais e assim aceitas; outras, entretanto, estão inseridas no campo do “anormal”. • São perversas, portanto ilegais, assim condenadas pela sociedade. • Heteronormatividade. • Amor romântico – família nuclear burguesa – duplo padrão de gênero. FINALIZANDO Hipótese repressiva – modernidade cala a fala sobre o sexo (pensada como mais livre anteriormente) - “nós os vitorianos”! Para Foucault, esse não é o processo. Na verdade, a modernidade incita o discurso sobre a sexualidade e promove uma “especialização” do tema. Qualificação do discurso – áreas do conhecimento – religião – medicina, psiquiatria, direito, psicanálise – todas envolvidas na construção de uma “política econômica do sexo”. A sexualidade precisa ser analisada, catalogada, legislada, para que possa ser, por fim, governada. Heteronormatividade Amor romântico – família nuclear burguesa – duplo padrão de gênero. REFERÊNCIAS BAUMAN, Z. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004. FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: a vontade de saber. Rio de Janeiro, edições Graal, 1988. FLANDRIN. Jean-Louis O sexo e o ocidente. São Paulo: Editora brasiliense 1988. GIDENS, Anthony. As transformações da intimidade: sexualidade, amor e erotismo nas sociedades modernas. São Paulo: UNESP, 1993. Bom estudo!