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Desconstruçao do conc de decadência de Goiás

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História Regional 
 
Nome da Disciplina: História Regional 
Natureza: Obrigatória 
Cursista: Lucinéia Nunes Pereira 
Polo: Águas Lindas de Goiás 
Tutor: Railton César/ Priscilla Bonfim 
Turma: B 
 
Texto dissertativo-argumentativo/ envio de tarefa 
Com base no texto, O conceito de decadência e a decadência do conceito de Nars Fayad 
Chaul (2001), faça um texto dissertativo-argumentativo, como no mínimo de 15 linhas e no 
máximo de 30, abordando os seguintes aspectos: 
1. Quem ajudou a construir a ideia de que Goiás era e ainda é (porque muitas pessoas 
ainda pensam assim) atrasado e decadente em relação às outras regiões do território 
brasileiro? 
2. Quais os motivos que alegam/alegavam para sustentar a referida ideia? 
3. Como a historiografia contemporânea está revendo tal concepção? 
1. Os viajantes, que passavam por Goiás com seus olhares repletos de progressos europeus, 
conseguiram vislumbrar a decadência comum a todos, imagem gravada como se fosse a memória de 
um povo, como se fosse a realidade vivida por todos e como se não fosse o desejo do que não viam: 
a imagem do progresso invertida na janela do tempo. 
Dentre os mais variados argumentos alegados para justificar a decadência, temos a 
precariedade das estradas, a falta de incentivos da Coroa para colocar em funcionamento novos 
meios de comunicação e o constante ócio em que vivia o povo de Goiás. 
Os relatos deixavam implícito que Goiás precisava de mão de obra produtiva, de trabalho 
livre, de substituição do ócio pelo negócio. Goiás carecia de povoamento, de gente para produzir, de 
capital e desenvolvimento. Goiás, portanto, era totalmente diferente da terra que povoava as ideias 
dos viajantes e divergia ao extremo daqueles padrões europeus de modernidade e progresso, 
padrões esses que tinham presentes a ética protestante do capitalismo. 
Assim, todo esse conjunto de negativas criou uma imagem de Goiás que ficou gravada, por 
intermédio da cultura dos viajantes, como verdade inconteste por todo Goiás afora. Repetida pelos 
 
 
 
 
 
 
historiadores contemporâneos, Goiás passou a ter um perfil de terra da decadência, retrato de uma 
sociedade que parecia não possuir o mínimo básico para existir devido a sua inoperância, sua 
carência de tudo, sua solidão traduzida em isolamento e sua redoma de preguiça. 
 
2. A primeira questão presente nos vários escritos sobre a época refere-se ao problema dos 
caminhos, das estradas, enfim, das comunicações em Goiás. 
A falta de estradas era, então, o argumento inicial que começava a justificar a decadência 
pela estrada oficial do ouro, desaguando nas necessidades de aprimorar a navegação e chegando nas 
trilhas dos trilhos que poderiam, finalmente transportar Goiás ao encontro de seu destino, 
tecnologicamente traçado pela historiografia mais abundante: o desenvolvimento, fruto da 
modernização. 
As distâncias e as péssimas estradas continuaram como fortes argumentos capazes de 
justificar as razões do isolamento da região, a solidão dos habitantes e a aparente decadência de 
Goiás. 
Como se pode notar, as péssimas condições das estradas eram um forte argumento para 
atestar o estado de decadência em que se encontrava a Província de Goiás no século XIX. Pois uma 
vez isolada, Goiás não tinha ligações com a “cidade”, com o mundo do trabalho e do capital, com o 
desenvolvimento e as relações de trabalho livre. Continuava, assim, longe, sertão sem fim, distante 
da prosperidade, afastada da luz e do progresso. 
Para os europeus acostumados com as sociedades em processo de industrialização, com 
fábricas em pleno vapor e mundos se interligando através de meios de comunicação mais 
desenvolvidos, o interior de Goiás – com seus buracos que abrigavam águas das chuvas com suas 
intransitáveis estradas para lugar nenhum – não poderia causar uma sensação diferente senão de 
atraso provocado pela decadência das minas. 
A representação das estradas nos dá a tônica do conjunto vislumbrado pelos viajantes. Sem 
estradas não poderia haver comunicação, imperava o isolamento. Sem estradas nada era pensável, 
nenhuma ligação possível entre o “campo” e a “cidade”. Por isso, a ausência de estradas ou as suas 
péssimas condições fazia parte de todos os discursos e clamores da época, desde os viajantes até os 
historiadores contemporâneos que analisaram a Província de Goiás. 
 
3. Os historiadores contemporâneos que estudaram o período mantiveram a visão dos 
viajantes sobre a debilidade das comunicações, procurando demonstrar as suas consequências para o 
desenvolvimento da agricultura e do comércio. 
 
 
 
 
 
 
No conjunto de negativas visto como absoluto por grande parte da historiografia do período, 
vários autores nos apresentaram o seguinte quadro da sociedade goiana, fruto da crise do ouro: 
diminuição dos lucros dos funcionários reais, paralisação dos comércios, carência de capital, 
produção para a subsistência diante de um reduzido mercado, ausência de empregos, fome, letargia 
da população, ócio, preguiça e perdas gerais. 
Para a maioria dos historiadores, a consequência direta da ideia de decadência foi 
construção de outro estado para Goiás, o estado de vítima, a vitimização de uma região. Visão 
repassada, em grande parte pelas autoridades do período, com variados fins, entre eles o de ampliar 
os recursos destinados pela Corte á Província. 
Os administradores que incorporavam a figura do rei ao dirigir a Capitania e a Província, 
sentiam-se isolados e transferiam tal isolamento para a terra dirigida. Sentiam-se impossibilitados 
de qualquer atitude que consistiam em mudanças fundamentais na estrutura de sua administração. O 
povo, por sua vez, não se viam representados por esses homens de língua outra, comandante de 
navios fantasmas, guerreiros medievais perdidos na solidão do sertão de Goiás. Por isso, as disputas 
e alianças ocorriam dentro da estrutura de poder sem jamais chegar á população. A administração 
lusa parecia conhecer os problemas de Goiás, mas não a cultura do povo do lugar.

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