Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
554 A importância do ensino das artes na educação: Um estudo de caso no 6º ano do ensino fundamental das escolas Maria de Lourdes Rodrigues Arruda, Joaquim Gonzaga Pinheiro e Fundação Bradesco na cidade de Manaus Orlane Pereira Freires1 orlane.freires@gmail.com UFAM Eduardo da Costa Tananta2 eduardo.tananta2012@gmail.com UFAM Paulo César Marques Holanda3 paulo.flu@sapo.pt UFAM Resumo: Analisamos neste texto, interações produzidas e compartilhadas a fim de significar a importância das artes na formação intelectual do indivíduo e seu papel na construção da subjetividade, da criatividade e da autonomia no momento em que ele se encontra fora do circulo familiar e adentra ao ensino formal, dando inicio a uma vida social mais ampla. Abordando os benefícios do ensino das artes, e enfatizando a importância do envolvimento do professor especialista na prática docente no fruir artístico dos educandos. As instituições situadas na cidade de Manaus em questão são de cunho público e iniciativa privada. O processo foi norteado pelo mapeamento bibliográfico diversificado, projetos de leis, e nas áreas de psicologia também. Em um modelo de intercambio educacional a pesquisa foi realizada concomitante ao currículo. Por uma perspectiva diferenciada no processo educacional convidamos para o texto múltiplas vozes, no objetivo de compreender tais processos dinâmicos existentes em uma sala de aula. Palavras-chave: arte. processo educacional. ensino fundamental. Abstract: Analyzed in this text, produced interactions and shared in order to signify the importance of the arts in the intellectual formation of the individual and their role in the construction of subjectivity, creativity and autonomy when it is outside the family circle and enters the formal education, giving birth to a broader social life. Addressing the benefits of arts education, and emphasizing the importance of the involvement of a specialist teacher in the teaching practice in the artistic fruition of students. Institutions located in the city of Manaus in question are public and private nature. The process was guided by the diverse bibliographic mapping, draft laws, and in the areas of psychology as well. In a model of educational exchange research was carried out concomitantly with the curriculum. For a different perspective on the educational process to invite the text multiple voices, in order to understand these dynamic processes existing in a classroom. Keywords: art. educational process. elementary school. 1 Professora efetiva do Departamento de Artes. 2 Graduado em Artes Visuais. 3 Discente finalista do curso de Artes Visuais, bolsista de pesquisa pelo Programa de Educação Tutorial – PET Conexões Indígenas. 555 Anais do XXVI CONFAEB - Boa Vista, novembro de 2016 1. Introdução Este artigo aborda, em termos bastante breves, a importância da arte na educação para a formação intelectual, criatividade e a autonomia do individuo. Enfatiza as características dinâmicas nas vivencias de alunos da série inicial do ensino fundamental II (6° ano) e a importância do envolvimento do professor especialista na prática docente e no fruir artístico do educando. Para tal empreendimento buscou-se trabalhar sobe a luz de pensadores como Vygotsky e Herbert Read, no intuito de, no dialogo de seus pensamentos. Apontar para o papel das artes na formação do caráter e do intelecto. Neste ínterim, as palavras de Paulo Freire e Ana Mae Barbosa também foram de grande valia no sentido em que elucidou enumeras questões acerca de teorias da educação. Foi necessária uma breve abordagem dos conceitos de escola, das leis de diretrizes e base que norteiam os ciclos de ensino nas instituições escolares no Brasil, bem como dos propósitos do Ensino em Artes. No que tange a metodologia aplicada buscou-se observar turmas de sexto ano de três escolas, cada qual em seu segmento. Duas delas sendo públicas: uma municipal - Escola Joaquin Gonzaga Pinheiro, e outra estadual – Escola Maria de Lourdes Rodrigues Arruda. A terceira trata-se de uma fundação subsidiada pela iniciativa privada – a Fundação Bradesco. Nestas escolas foram realizadas visitas, apenas para acompanhamento das aulas, oficinas e momentos de debate sobre temas diversos dentro dos conteúdos de artes. Sendo estas escolas representantes micro de um processo macro que é a participação da escola no desenvolvimento social nos foi possibilitado observar as possibilidades amadurecedoras oferecidos pela experiência estética. A arte é linguagem que possibilita o exercício dos signos de sentimento. 2. A criança e a escola 2.1. A escola: um processo social A família é o primeiro circulo social do qual se faz parte. São aqueles com os quais, em um modelo de estrutura familiar tido como saudável, se compartilha os primeiros momentos da vida. É de onde se extrai os subsídios emergenciais para a sobrevivência: alimentação, segurança e afetividade; e onde se adquiri as primeiras noções de sociabilidade. Nas palavras de Dewey (Apud Duarte Jr.1991, p. 25) para a criança “as coisas veem vestidas em linguagem, não em sua nudez física; e esta vestimenta de comunicação à torna participante nas crenças daqueles que a rodeiam”. A escola, por sua vez, vem a ser o segundo circulo de grande importância na formação do individuo, aonde ela irá desenvolver seu intelecto e caráter de modo mais aplicado, isto é, de acordo com o programa educacional. Ainda que tenha contato com a comunidade onde a família reside, estes contatos ocorrem muitas vezes, esporadicamente, alternadamente e/ou algumas vezes factualmente. Diferentemente da escola com a qual mantém uma relação constante, trocando informações e adaptando-se ao seu sistema de leis. Parafraseando Read (1982, p.36) “deveria ser obvio que uma nova situação se apresenta quando a criança deixa o circulo familiar para ir à escola e encontra ali um outro adulto com quem deverá desenvolver um vinculo emocional” É na escola que se tem o acesso ao universo de outras crianças que fazem parte de outros pequenos núcleos (outras famílias), 556 Anais do XXVI CONFAEB - Boa Vista, novembro de 2016 todos em um só ambiente e pondo em prática as habilidades de adaptação e a assimilação de novas regras comuns, sob a regência do professor. De acordo com sua raiz etimológica, a palavra escola vem do latim schola. Substantivo esse que dá nome e caracteriza o lugar/estabelecimento no qual se realiza o processo de instrução e conhecimento. A função social da escola se dá de modo prático, isto é, numa interação com as diversas instâncias sociais em níveis concretos e abstratos. A escola nada mais é do que uma forma de institucionalizar e organizar racionalmente o domínio do homem sobre a natureza, bem como suas relações com os demais grupos humanos. Ademais de sua estrutura física, a escola carrega em si toda uma carga simbólica de ensino- aprendizagem e que, para Paulo Freire (1991, p. 84), este processo dual deve estar em constante superação. O autor propõe que tal superação é o requisito necessário para a consolidação do saber e do pensar (FREIRE, 1991, p. 84). É nestes termos que este autor coloca que a escola é uma instância da sociedade e nos explica que “não é a educação que forma a sociedade de uma determinada maneira, senão que esta, tendo-se formado a si mesma de certa forma, estabelece a educação que está de acordo com os valores que guiam essa sociedade” (FREIRE, 1975, p.30.). Sendo assim, sua proposta consiste no papel da escola como local de educação como um processual pedagógico que permite tanto a aquisição de saberes como a compreensão crítica dos fatos históricos e sociais. Todavia esse processual, ou seja, a educação, nas palavras de Freire (1991, p. 126) “não é chave das transformações do mundo, mas sabemos também que as mudançasdo mundo são um quefazer educativo em si mesmas. Sabemos que a educação não pode tudo, mas pode alguma coisa”. Isto sugere que a escola não deixa de ser o reflexo do modo de manutenção da sociedade. Contudo, para que se haja uma grande transformação social, a educação forma um terço desta insurreição. Educar, portanto, consiste num modo de proporcionar novas visões e novas experiências a serem vivenciadas na prática, tanto por alunos quanto por professores. 2.2. A escola e suas disposições: a realidade brasileira. No Brasil, atualmente, a educação básica busca proporcionar ao estudante uma formação comum que irá se desdobrar no exercício da cidadania, do trabalho e da vida em sociedade. Esta é dividida em três etapas, a saber: educação infantil, o ensino fundamental e ensino médio. A educação infantil compreende a creche (0 a 3 anos) e a pré-escola (4 a 5 anos). O ensino fundamental pode, grosso modo, ser subdividido em duas partes por ser o mais longo e com nove anos de duração. Os anos iniciais deste ciclo, também conhecidos como ensino fundamental I, equivalem do 1º ao 5º ano, no qual os alunos possuem a faixa etária de 6 aos 10 anos. A segunda etapa deste envolve do 6º ao 9º ano e a faixa etária dos escolares são de 11 a 14 anos. Já o ensino médio abrange três séries, indo do 1º ao 3º onde os cursantes possuem dos 15 aos 17 anos. O ensino fundamental, como já foi citado, compreende dois ciclos. No primeiro, que vai do 1º ao 5º ano, a criança se inscreve no processo de alfabetização e de conhecimento concreto e científico do mundo, bem como aquele da socialização. Nesta fase incipiente as crianças se organizam em classes coordenadas por professores regentes que ministram várias disciplinas. Para essas crianças suas trajetórias de desenvolvimento são paralelas e cruza-se em determinado momento. Para Vygotsky é nesta fase que os processos de desenvolvimento 557 Anais do XXVI CONFAEB - Boa Vista, novembro de 2016 do pensamento e da linguagem encontram-se e a partir daí, dão início a uma nova forma de comportamento. Sobre o encontro destes dois conhecimentos, o pensamento e a linguagem, ele escreve: “É a partir desse ponto que o pensamento começa a se tornar verbal e a linguagem passa a ser tornar-se racional. Inicialmente a criança aparenta usar a linguagem apenas para interação superficial em seu convívio, mas a partir de certo ponto, esta linguagem penetra o subconsciente para se constituir na estrutura de pensamento da criança.” (Vygotsky, 1998 ). O segundo ciclo, caracterizado pela sequência do 6º ao 9º ano, tem por finalidade aprofundar e pormenorizar os conhecimentos adquiridos na fase anterior. Ademais de se iniciarem em conteúdos que serão continuados na etapa posterior, o ensino médio. O programa curricular é gerido por uma equipe de professores especialistas, o que proporciona aos escolares um ritmo de aprendizado distinto do ciclo anterior. É neste ciclo que o aluno evolui da criança para o adolescente, isto é, um período transitivo e de mudanças. Autonomia e crítica são uma das principais características psicológicas deste momento neste grupo. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB – a matrícula no ensino fundamental é obrigatória para crianças e adolescentes em idade escolar correspondente e/ou não. Ao final desta etapa o estudante deve estar apto a ler, escrever, realizar cálculos, dominar conhecimentos a cerca do ambiente natural, social e político, além das artes e da tecnologia. Contudo, nosso trabalho se foca num estudo de caso situado no 6º ano do ensino fundamental, no qual os escolares possuem entre 11 e 12 anos de idade. 2.3. O educando em idade escolar: o sujeito/agente em questão. Visualizar uma turma do 6° ano do ensino fundamental é deparar-se com um grupo de pessoas que estão num período de transição. Primeiramente, destacamos a questão da idade. No sexto ano, em um sistema de aprovação contínua, os alunos encontram-se na faixa etária dos onze anos, inicia carga horária fracionada, conta com um maior número de disciplinas, tendo um professor por disciplina. Segundo o quadro de idade escolar formal e gradual do Ministério da Educação ponta que no 6° ano as crianças devem ter 11 anos. É do conhecimento de todos que devido a algum ou outro imprevisto (reprovação ou atraso na matrícula, por exemplo) numa classe formal, as crianças dessa série possuem entre 11 e 12 anos de idade. De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, é considerada criança uma pessoa até os 12 doze anos de idade incompletos. O grupo de faixa dos 12 anos completos até os 18 anos são denominados adolescentes. Nesta fase da vida a criança, que esta para se tornar um adolescente, se encontra em plena expansão de sua consciência. Conforme a Teoria Cognitiva elaborada por Piaget, o sujeito neste intervalo de idade se encontra em processo de transição da fase Operatório-concreto para o Operatório-formal. Isto significa dizer que o individuo passa a adquirir cada vez mais o senso da abstração. Neste sentido, a inteligência está num estágio de elaboração e reflexão das situações pelas quais esse sujeito passa, podendo-as resolvê-las ou não. Esta etapa configura um período de mudança de um ciclo para o educando, pois é neste momento que ele passa a abstrair de modo consciente os códigos de pensamento, de linguagem e sociais. Vygotski explica que: 558 Anais do XXVI CONFAEB - Boa Vista, novembro de 2016 “definitivamente, que só ao termino do décimo segundo ano manifesta-se um nítido aumento na capacidade da criança de formar, sem ajuda, conceitos objetivos generalizados... O pensamento por conceitos emancipado da percepção faz exigências que excedem suas possibilidades mentais antes dos doze anos de idade.” (Rimat apud Vygotski, 1998, p.67). É assim, a partir do uso da razão e da inteligência que o sujeito entre 11 e 12 anos tornam-se capaz de considerar o modo como às coisas são realizadas. Surge então o espírito crítico e a rebeldia. Na fase anterior o raciocínio das crianças é por demais espontâneos, sendo pouco lógico. A partir dos 11 anos, a capacidade introspectiva torna o raciocínio mais lógico e, por isso, mais ordenado e possuidor de uma finalidade. Assim, o sujeito tende de modo gradual, a torna-se mais responsável por seus atos. Segundo Vygotski, (Apud Norberto Stori, 2003. p.63) em se tratando da relação da criança com o jogo nos faz também observar que a criança transcende a sua condição infantil ao se submeter a regras e assimila-las “um treino para sua vida adulta”. Emerge daí o fato de não aceitarem um tratamento infantilizado, requerendo para si uma atitude mais formal e responsável. No ambiente escolar, é o momento em que ocorre um significativo aumento de conteúdo bem como do seu grau de dificuldade. Os temas tendem a perder a graça e o encanto uma vez que seu fruto só será recolhido em um futuro, que a seu ver ainda está distante. Tal situação ocorre também no ambiente social, o sujeito percebe o modo como passa a ser tratado pelos adultos, exigindo-lhes cada vez mais responsabilidades. É momento em que esses indivíduos iniciam sua busca por uma posição/representação social. Nessa faixa etária o interesse pela competição é intenso, são os reflexos da necessidade de se sentirem notados e de pertencimento a algum grupo. 3. A arte e a escola Arte nada mais é que a vida expressando-se. Se observada em paralelo com o ato da criação verificamos a expressão plena da condição humana. Esta como conhecimento promove o desenvolvimento pleno do sujeito, uma vez que este compreende as várias facetas de expressão do pensamento/ideias e das emoções. O ato de criar permite que o sujeito se torne mais seguro e tome, cada vez mais, consciência de suas capacidades e limites. Seu papel na Educação faz-se no sentido de promover um cidadão consciente, critico e ativo socialmente podendo compreendere interferir em sua realidade. A Arte é, portanto, uma grande protagonista das vicissitudes sociais. Segundo Herbert Read, em seu exemplar escrito A redenção do Robô, a Arte é uma linguagem universal, que permite ao homem acessar e expressar com autenticidade e agudez o sentido das coisas. Como programa curricular no ensino regular, a arte deve permitir aos estudantes a possibilidade de reflexão e recriação dos modos de ver e exercer a vida como conjunto social. O ensino da Arte como processual escolar deve incentivar novas criações, a formulação critica e a autenticidade. Assimilando estas capacidades o sujeito não necessariamente torna-se uma artista (este não é o objetivo da educação das artes), mas tornar-se um sujeito atuante capaz de enxergar, dentro da sua realidade, novas possibilidades de viver e de transformar o mundo. 559 Anais do XXVI CONFAEB - Boa Vista, novembro de 2016 A Arte e o seu significado vem, ao longo do tempo histórico, passando por profundas mudanças, principalmente se levarmos em conta o advento da tecnologia em nossa sociedade (READ,1986, p.29). Assim, seus significantes, significados, funções, motivações e argumentações são, atualmente, plurais. O que aumenta em graus a possibilidade de explorar os vários sentidos e propósitos da Arte. Neste ponto, se faz assaz importante seu uso com propriedade dentro do âmbito escolar. Podemos assim, grosso modo, delimitar algumas das funções primordiais da Arte em: expressão emocional, apreciação estética, comunicação, representação simbólica, contribuição para a integração da sociedade e mensagem. Vamos, portanto, discuti-las brevemente. A expressão emocional vem a ser o elo sentimental que liga o espectador a obra. Ou seja, é o momento na qual o contato entre ambos sugere ou provoca sensações que podem ir de um extremo ao outro como êxtase ou repulsa, compreensão ou não compreensão. É, todavia, o poder oculto e invisível que a Arte é capaz de acarretar nas entranhas do homem. A apreciação estética só se torna possível quando o espectador entra em sintonia, uma espécie de sedução, com a obra. Esta fruição permite ao espectador ir mais além, isto é, enxergar mais além do que a obra em sua frente apresenta, pois lhe instigou o desejo, o interesse. Decorre daí que o apreciador percorra e se sensibilize com os demais elementos, formais ou estruturais, presentes na obra. Seguindo essa lógica funcional da Arte temos já, portanto, os pressupostos necessários para entender a Arte como algo que se comunica conosco, que ela em si é uma linguagem. E que, portanto, como uma língua ela possui uma gramática, uma sintaxe e uma morfologia que lhe é inerente e própria. São eles signos, desenhos, ícones gráficos, cores, imagens e tudo mais que possa ser visualizado. A representação simbólica é resultante do processo de comunicação, é o modo como se articula a linguagem. Para tanto os sujeitos são portadores e inventores de símbolos pelos quais buscam representar o mundo sejam o do visível ou do imaginado. É por meio destes que os seres humanos processam a comunicação. A arte, desde seus primeiros registros, sempre buscou contribuir para a integração da sociedade. Isto é visível ao percorrer o tempo sob a ótica da história da Arte. Esta interação social que o homem buscou e continua buscando através dos fazeres artístico desencadeou uma série de distintas formas de fazer/apresentar/representar a Arte. Isto significa dizer, que os humanos, sempre buscaram e buscam uma espécie de união entre si por intermédio da Arte. É neste ínterim que se dá o encontro entre Arte e cultura. A mensagem oriunda da obra de Arte pode ser expressa de modo direto ou indireto, isto é, pode ser objetiva ou subjetiva. A obra visual pode, sempre, informar o espectador de algo, lhe passar de acordo com seus códigos uma mensagem. De acordo com os dados supracitados verificamos que o entendimento e o conhecimento sobre a Arte requer das pessoas, de modo geral, um estudo e uma apropriação delas com o mundo artístico. Diante disso, uma das possibilidades de diminuir este abismo, entre uma sociedade organizada conforme os ditames do capitalismo neoliberal – na qual as pessoas são levadas a produzir em larga escala e num acelerado ritmo – e o fazer/compreender artístico, está o papel da Arte enquanto componente curricular nas escolas de ensino básico. Mais precisamente no ensino fundamental, ciclo II, enquanto a criança/adolescente encontra-se em processo de expansão plena da consciência, inteligência e do processo de abstração, a Arte se faz necessária como um vitalizador a mais para esta se apropriar do mundo que a cerca. 560 Anais do XXVI CONFAEB - Boa Vista, novembro de 2016 Assim, a arte-educadora Ana Mae nos recorda que “precisamos levar a arte que hoje está circunscrita a um mundo socialmente limitado a se expandir, tornando-se patrimônio da maioria e elevando o nível de qualidade de vida da população” (BARBOSA, 1991, p.6.). Estamos, todavia, de acordo com esta proposta de Barbosa no sentido que acreditamos ser possível que as aulas de artes, ministradas por um professor especialista, pode propiciar aos educandos novas vivências, além de contribuir para sua formação intelectual, criativa e de autonomia. Contudo, é necessário que o ensino da Arte se faça em sintonia com a realidade, onde haja um diálogo com os fatos sociais. Nestes termos, a aula de Arte deve se converter em um ambiente de ideias e de trabalhos, como um atelier. Local onde os assuntos possam ser discutidos e transformados em experiências artísticas e sensíveis. Isto irá permitir a fruição do processo criador e onde os alunos possam desenvolver sua criatividade e autonomia. Foi assim pensando que chegamos ao nosso objeto de investigação. Uma sala de aula do 6º ano do ensino fundamental repleta de alunos com idade entre 11 e 12 anos. Nosso objetivo é averiguar como um professor especialista em Arte pode auxiliar de modo mais eficaz a aprendizagem e o pensar sobre a Arte em meio a este grupo. A literatura existente já aponta e esclarece os variados significados que o ensino da Arte, ou a educação sensível nos dizeres de Herbert Read, proporcionam à educação e a socialização de crianças e adolescentes. Em relação à socialização a Arte, como conhecimento, promove e desenvolve o olhar, o diálogo entre os indivíduos e a realidade que os cerceia. É em vista dessa premissa que se faz necessário que um professor especialista em Arte conduza um processo educativo, pois ele deve possuir e conhecer elementos que identifiquem o modo como os alunos se utilizam das práticas artísticas para se comunicarem e dar sentido a sua vida. Quando os alunos desenvolvem uma determinada prática artística ele se coloca ali, expressa ali suas emoções, suas preferências, sua atenção e seu olhar. Por meio da prática uma série de outros elementos cognitivos é ativada. São ainda desenvolvidas as noções de espaço, tempo, quantidade, coerência, argumento e a competência em se comunicar. Segundo Read (1986, p.29): "[...] precisamos tomar muito cuidado para não atribuir valor terapêutico demasiado a essas formas de expressão livre que desejamos incentivar como parte de nossos métodos educacionais. [...] À parte qualquer outro aspecto da questão, os desenhos de uma criança, produzidos como uma atividade espontânea são evidências diretas de sua disposição fisiológica e psicológica [...]”. Destarte, o professor especialista tem, por meio de tais práticas, conhecer os alunos e os meios que eles utilizaram e escolheram para se expressarem. Aos poucos, e de acordo com a relação aluno-professor, os estudantes vão compreendendo que a prática artística além de trabalhosa pode transformar-se em um ato extremamente prazeroso, podendo vir a tornar-se algo autêntico e singular. Ademais de permitir que os alunos tenham subsídios para compreender obras artísticas. Esse processual àsvezes um tanto complexo, por se tratar de algo muito subjetivo e, logo, sentimental, gera para os estudantes a autoconfiança, o aumento significativo do repertório cultural e na expressão de sua sociabilidade. Todos esses aspectos também podem ser convertidos em atividades economicamente lucrativas num futuro breve, pois o atual mercado de trabalho possui uma vasta quantidade de profissões que interagem com o mundo das Artes. 561 Anais do XXVI CONFAEB - Boa Vista, novembro de 2016 4. Referencial metodológico A metodologia aplicada para elaboração deste artigo foi o estudo de caso. O processo teve como meio a pesquisa, o mapeamento e aprofundamento em uma bibliografia diversificada que conjugada nos iluminasse o olhar sobre o panorama da realidade do individuo em idade escolar do sexto ano do ensino fundamental (segundo a LDB). Este mapeamento nos levou a desdobramentos inusitados e enriquecedores, foram eles: artigos, projetos de leis, compêndios na área de psicologia do desenvolvimento e mais, a pesquisa in loco; as quais serão descritas mais adiante. As atividades e questionamentos realizados com os alunos deram-se no âmbito de três escolas de segmentos distintos, sendo estes a escola estadual Maria de Lourdes Rodrigues arruda, o colégio municipal Joaquin Gonzaga Pinheiro e a Fundação Bradesco, autorizados pelas estancias competentes dentro de cada uma destas. Funcionando nos turnos, matutino e vespertino a escola Maria de Lourdes Rodrigues Arruda faz parte do grupo de instituições de ensino da rede estadual de educação pública que oferecem classes de ensino fundamental I e II; mantendo como professoras de Artes uma especialista, que atua somente junto ao grupo do Fundamental I e outra com formação em letras e que completa sua carga horaria, antes exclusiva da educação infantil, com as aulas para as turmas do fundamental II. O prédio esta situado no bairro Alvorada II próximo a sede da Polícia Federal. A escola possui um laboratório de mídias que segundo a professora “OS”, nunca fui utilizado por falta de um professor que garanta desenvolver atividades disciplinares utilizando as ferramentas disponíveis. Nesta aula os estagiários foram apresentados aos alunos e recebidos com o olhar de curiosidade e a professora solicitou aos alunos que mostrassem educação. Dando seguimento ao seu conteúdo solicitou a entrega do exercício proposto por ela no caderno. Praticamente a maioria dos alunos mostrou participação na atividade teórica, mas é claramente perceptível a carência que eles têm em relação a referencial visual do conteúdo proposto, em uma aula onde a professora concentra-se boa parte do tempo escrevendo um longo e cansativo conteúdo na lousa. Poderia trabalhar-se com, mas dinâmica e praticidade baseando-se no conteúdo, utilizando oficinas e contextualizando o assunto. Situado no bairro Vila da Prata, o colégio Joaquin Gonzaga Pinheiro faz parte do grupo municipal de ensino público e também oferece turmas de Ensino Fundamental I e II. Um único processor especialista rege as aulas de artes de todas as turmas lá oferecidas. A escola também possui um laboratório de mídias que segundo o professor JS ainda não pode ser utilizado na complementação das atividades das disciplinas pela falta de técnicos. A Fundação Bradesco é uma instituição de ensino continuado, subsidiada pela iniciativa privada do Banco Bradesco e apoio do governo Federal; tem um sistema de ensino Integral e classes de ensino fundamental I, II e ensino médio e metodologia aplicada sócio - interacionista bem definida, a qual deve ser seguida. Nesta aula os alunos do sexto ano “A” visitaram o laboratório de informática, com o objetivo de aprofundar-se no conteúdo de música, que esta sendo trabalhado nesse período através de visitas a sites relacionados. Neste contexto o aluno tem a experiência de conhecer instrumentos e seus respectivos sons, as 562 Anais do XXVI CONFAEB - Boa Vista, novembro de 2016 variações no timbre percebendo notas agudas ou graves, têm noção percepção, harmonia e tempo musical. O interesse dos alunos foi notório despertando inclusive memórias relacionadas à música demonstrando seu repertório de vida (conhecimento prévio do aluno). Durante a aula a professora buscou o tempo inteiro enfatizar a necessidade de organização e cuidado com as ferramentas do laboratório; em uma conduta de preocupação com o patrimônio e também de formação de consciência sustentável. O resultado pôde ser alcançado mediante observação atenta, mas também se utilizando da repreensão e relatórios de aulas. Nas palavras da professora Lúcia, a ideia principal não é formar músicos, mas sim proporcionar a primeira experiência com a música enquanto objeto de estudo e suas características. 5. Considerações Levantadas às informações contidas neste artigo, pensamos que o ensino de arte na escola necessita ser desenvolvido por um profissional que possua além de estudo acadêmico especifico na área proposta a vivencia na produção e na crítica de arte. Faz-se mister para a melhor interação entre professor e aluno o uso da sensibilidade e critica facultado pela pratica artística que nos exercita o conhecimento mais amplo do nosso ser humano, o que tanto pregamos como necessidade para uma vida em sociedade. Pensamos que assim como a fase de introdução no ensino formal, a transição do ensino fundamental I para o seu imediato complementar, o ensino fundamental II, se nos mostra como o despertar de um novo ciclo de grande importância para a colocação do educando na sociedade em que vive, por suas características substanciais sejam elas a contestação, a auto critica e a rebeldia própria do fim da infância. Os recursos tecnológicos do mundo digital, bem como o amparo dado por uma boa estrutura física das escolas nos possibilitam, de muitas formas, ampliar nossas possibilidades didáticas, assim como a participação assídua da família junta as instituições de ensino, no entanto de nada ou muito pouco será capaz os esforços aplicados em sala de aula se o profissional designado para o oficio de ensinar não abrir o seu olhar para visualizar as necessidades do educando em pleno desenvolver de suas capacidades intelectuais. Referências BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da Arte: Anos oitenta e novos tempos. São Paulo: Perspectiva/Porto Alegre: Fundação IODHDE, 1991. BRASIL, Ministério da Educação, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Fundamental. Brasília: Ministério da Educação, 1997. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei n° 9394, de 20 de dezembro de 1996. Brasília: Ministério da Educação, 1996. DUARTE, Newton. Arte e formação humana em Lukács e Vigotski. São Paulo: UNESP, 2001. FREIRE, Paulo. Educação na cidade. São Paulo: Cortez, 1991. 563 Anais do XXVI CONFAEB - Boa Vista, novembro de 2016 FREIRE, Paulo; ILLICH, Ivan. Diálogo. Busqueda: Buenos Aires, 1975. HOUAISS, Antonio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. São Paulo: Objetiva, 2001. PIAGET, Jean. Epistemologia genética. São Paulo: Martins Fontes, 2002. OSTROWER, Fayga. Universos da Arte. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. READ, Herbert. A educação pela arte. São Paulo: Martins Fontes, 1982. STORI, Norberto. O despertar da sensibilidade na educação. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2003. VYGOTSKY, Lev Semenovicht. ___ O desenvolvimento de conceitos científicos na infância. In: Pensamento e Linguagem / L. S. Vygotsky; [trad. Jefferson Luiz Camargo]; revisão técnica José Cipolla Neto. – 2° Ed. – São Paulo: Martins Fontes, 1998. – (Psicologia e Pedagogia). VYGOTSKY, Lev Semenovicht. Psicologia Pedagógica. Porto Alegre: Artmed, 2001.
Compartilhar