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filosofia capítulo 11 - aRistÓtElEs 1 FILOSOFIA E SOCIOLOGIA SUMÁRIO Capítulo 1 O que é filOsOfia? ............................................................................... 06 Capítulo 2 Os pré-sOcráticOs e a relaçãO entre physis, lOgOs e arché. .......... 10 Capítulo 3 Os sOfistas ........................................................................................... 14 Capítulo 4 O nascimentO da filOsOfia sOcrática ................................................. 17 Capítulo 5 platãO .................................................................................................. 21 Capítulo 6 intrOduçãO à sOciOlOgia .................................................................... 26 Capítulo 7 ViVer em sOciedade .............................................................................. 29 Capítulo 8 a sOciedade feudal ............................................................................ 32 Capítulo 9 a reVOluçãO industrial e a nOVa dinâmica sOcial ............................ 35 Capítulo 10 a reVOluçãO francesa e a transfOrmaçãO pOlítica ......................... 38 filosofia capítulo 11 - aRistÓtElEs 2 SUMÁRIO Capítulo 11 aristóteles......... ....................................................................................41 Capítulo 12 O helenismO........ ................................................................................... 46 Capítulo 13 filOsOfia medieVal: santO agOstinhO e tOmás de aquinO ................... 50 Capítulo 14 filOsOfia mOderna: a reVOluçãO científica.......................................... 53 Capítulo 15 maquiaVel e a filOsOfia pOlítica. .......................................................... 56 Capítulo 16 O nascimentO da sOciOlOgia......... ....................................................... 60 Capítulo 17 émile durkheim – fatO sOcial........ ....................................................... 64 Capítulo 18 max weber – açãO sOcial........ ............................................................. 67 Capítulo 19 karl marx – mudança sOcial ............................................................... 70 Capítulo 20 as instituicões sOciais e O papel da educaçãO ......................................74 3 FILOSOFIA CApítULO 11 - ARIStÓtELES SUMÁRIO Capítulo 21 teOria dO cOnhecimentO......... .............................................................. 78 Capítulo 22 a filOsOfia iluminista....... ..................................................................... 82 Capítulo 23 Os cOntratualistas ............................................................................... 86 Capítulo 24 intrOduçãO à ética ............................................................................... 90 Capítulo 25 estética – funções da arte .................................................................. 94 Capítulo 26 trabalhO e sOciedade......... ................................................................... 97 Capítulo 27 meiOs de prOduçãO e fOrças prOdutiVas ........ ..................................102 Capítulo 28 a glObalizaçãO e seus dilemas........ ................................................... 105 Capítulo 29 cultura e indústria, escOla de frankfurt ......................................... 109 Capítulo 30 cOnceitO de cultura e diVersidade cultural ......................................112 filosofia capítulo 11 - aRistÓtElEs 44 SUMÁRIO Capítulo 31 os filósofos do séCulo xix......... ............................................................... 115 Capítulo 32 os filósofos da primeira metade do séCulo xx .......... ................................ 119 Capítulo 33 o existenCialismo ....................................................................................124 Capítulo 34 filosofia polítiCa Contemporânea .............................................................127 Capítulo 35 filosofia da CiênCia ...................................................................................131 Capítulo 36 poder e estado......... .............................................................................. 134 Capítulo 37 formas de governo ........ ........................................................................137 Capítulo 38 movimentos soCiais - brasil e mundo ........ ...............................................139 Capítulo 39 o que é Cidadania?.................................................................................... 143 Capítulo 40 soCiedade do medo e Controle .................................................................149 filosofia capítulo 11 - aRistÓtElEs 5 FILOSOFIA CApítULO 11 - ARIStÓtELES 6 O QUE É FILOSOFIA? Nesse primeiro capítulo buscaremos apontar cami- nhos que direcionem para a compreensão sobre o que é a Filosofia, onde ela surgiu, qual o contexto sociocultural da época, e qual a sua relação com os mitos. O Que é Filosofia? Muitos poderiam arriscar uma resposta dizendo que a filosofia é uma área do conhecimento que nos ajuda a pensar, mas pensar é algo intrínseco do ser humano, não é? Conhecemos pessoas que nunca ouviram falar em filosofia e que pensam, certo? Então filosofia é algo que vai além. Há quem diga que filosofia nos ensina um pensar mais crítico, mas outras áreas também têm essa capacidade, a História, a Geografia, a Literatura, entre outras tantas, por exemplo. O que faz a Filosofia ser diferente de todas as outras áreas que nos ajudam a elaborar um pensamento crítico? Reformulando a pergunta: o que seria então um atributo exclusivo da Filosofia? Resposta: A Dúvida! A desconfiança! A Suspeita! A Interrogação! A filosofia é área do conhecimento que tem como palavra estrutural: por que/por quê. A mãe de todas as Ciências. Filosofia: a mãe de todas as ciências. É possível fazer tal afirmação, porque até o século XVII não havia distinção entre Filosofia e Ciência. Desde o seu surgimento a Filosofia representava um conjunto de saberes. Ela surgiu na Grécia Antiga entre os séculos VI e VII antes de Cristo, seu nascimento pode ser entendido como uma nova organização do pensamento, que veio complementar e, gradualmente, se separar do mito. Atualmente a Filosofia e a Ciência se distinguem expressivamente, de forma simples poderíamos dizer que a ciência é a resposta, a filosofia é a pergunta. No entanto é uma pergunta que não almeja necessariamente a resposta, pois a partir no momento que a resposta é encontrada já não é mais Filosofia, mas sim Ciência. Vou te dar um exemplo: Uma professora de cinquenta anos de idade que está prestes a se aposentar passa mal e vai para o hospital, seu quadro clínico piora com o passar dos dias e é informada que terá que fazer uma cirurgia, pois está com um tumor no intestino, a cirurgia é realizada e o tumor é retirado. Com novos exames descobre que tem vários tumores no fígado, faz mais duas cirurgias e os tumores são retirados. Durante o período de recuperação em casa, essa senhora vai adiando para iniciar a quimioterapia, pois se sente muito fraca, quan- do inicia o tratamento os familiares tem o diagnóstico de que os tumores surgiram novamente, mas agora tomaram conta de outros órgãos; um ano depois essa professora que dedicou a vida toda à educação morre. Se perguntarmos por que ela morreu? Você saberia dar a resposta? O médico responderia que o câncer venceu! Mas a pergunta foi: Por que ela morreu, e não como ela morreu. A Ciência é limitada! Ela é capaz de explicar como essa professora de cinquenta anos de idade, cheia de planos morreu, explica o que pode ser comprovado com exames e estudos, mas não é capaz de explicar: Por que ela morreu? Por que agora? Por que ela? Por que ela ainda se faz presen- te mesmo não existindo fisicamente? Você sabe a resposta para essas perguntas? Tudo aquilo que não é do campo das Ciências pode ser estudado no campo da Filosofia. Relação: Mito e Filosofia. O Mito (Mythos) era a forma de pensardos gregos. Apresentava-se como uma visão de mundo fundamentada em um conjunto de narrativas contadas de geração a geração por séculos, e que transmitiam às novas gerações as CAPÍTULO 1 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • O QUE É FILOSOFIA? 7 filosofia e sociologiacapítulo 1 - o Que É filosofia? experiências vividas pelos seus antecessores. O mito busca explicações definitivas sobre a natureza, e sua verdade independe de provas. Não podemos deixar de ressaltar a importância dos mitos para o funcionamento da sociedade, pois cumpriam uma função social moralizante de tal forma que essas narrativas ocupavam o imaginário dos cidadãos da pólis (cidade-estado) grega e direcionavam suas condutas. Através de exemplos contados nos poemas, além dos passados oralmente entre os membros da sociedade, os mitos ditavam as regras e deixavam claro o que era certo e errado. Aos poucos, porém, a moral estabelecida pelas narrativas míticas foi substituída pela ética e pelos valores da cidadania grega. Assim nasce a Filosofia, uma tentativa de elaborar respostas racionais para perguntas que eram respondidas pela mitologia. Esta tentativa nasce das indagações sobre a natureza, com os chamados Filósofos da Natureza. A partir dos Sofistas - com seus ensinamentos sobre a política e a retórica - e principalmente com Sócrates a Filosofia renasce e os filósofos se voltam para o homem, para o conhecimento, os valores e a beleza. A mitologia foi, portanto, fundamental para o desenvolvimento do pensamento ocidental e para o surgimento da Filosofia. O naturalismo, que se manifestava nas origens da filosofia, já se evidenciava na própria religiosidade grega, na medida em que nem homens nem deuses são compreendidos como perfeitos e, mais do que isso, os deuses tinham desejos humanos, isso significa naturalizar até o sobrenatural. Os Mitos ditam as regras. As crenças transmitidas pelos gregos ajudavam a comunidade a criar uma base de compreensão da realidade, e um ambiente de certezas que justificava a existência humana. Os mitos apresentavam uma religião politeísta (acreditavam em vários deuses), sem teoria escrita, concentrada na tradição oral, é isso que se entende por teogonia (theo-deus, gonia-origem). Vale salientar que essas narrativas foram sistematizadas no século IX a.C por Homero e por Hesíodo no século VII a.C. Ao articular religião, trabalho, poesia, os mitos traduziam o modo que o grego encontrava para expressar sua integração ao cosmos e à vida coletiva. Com o passar dos anos, e com as transformações sociais, políticas e econômicas da Grécia antiga, as explicações simplórias sobre a existência do universo foram perdendo convencimento, já não respondiam mais as novas perguntas que começaram a surgir a partir de tantas mudanças na vida daquelas pessoas. Condições históricas. As condições históricas como o estabelecimento da vida urbana na pólis grega, a invenção da política e da moeda e as expansões marítimas juntamente com alguma influência oriental, geraram uma nova maneira de ver o mundo, uma nova modalidade de pensamento. Foi o momento do esplendor da Grécia. É esse contexto histórico que possibilitou que a Filosofia surgisse ali, e não em outro lugar do planeta. (Acrópoles de Atenas) Acredita-se que a filosofia nasceu de um processo de complemento/rompimento com a mitologia, não de forma brusca, mas a partir da busca por explicações racionais rigorosas e metódicas condizentes com a vida política e social dos gregos antigos, bem como com melhoramento de alguns conhecimentos já existentes, adaptados e transformados em ciência. Cosmologia. A filosofia nasce como uma tentativa de explicar a origem e a ordem do mundo de maneira racional, por isso é considerada nessa primeira fase uma cosmologia (o pensamento da ordem e organização do mundo). Definição da palavra. Pitágoras definiu essa nova forma de compreender o mundo como algo ligado à sabedoria, uma busca pela sabedoria (filo - amor/amizade/ compartilhar. Sofia - sabedoria). Sendo assim, aquele que se dedicava a arte de questionar era considerado filósofo. Aquele que buscava alcançar a sabedoria e agir com base nela era visto como o amigo da sabedoria. A Inquietação. O primeiro passo para a filosofia é a inquietação, pois ela conduz ao questionamento. A Filosofia não é um questionar por questionar, ela exige a fundamentação racional do que é enunciado e pensado. O pensamento racional é o pensamento argumentado, debatido e compreendido pelo homem. Os primeiros filósofos e a autonomia da razão. A Filosofia ocidental é dividida em períodos de acordo com as perguntas e discussões desenvolvidas conforme as necessidades do contexto. O primeiro período da filosofia é denominado de pré-socrático. Nesse momento (séculos VII, 8 filosofia e sociologia capítulo 1 - o Que É filosofia? VI e V) da reflexão filosófica, os filósofos estavam voltados para o cosmo, ou seja, para o universo, para a natureza, por isso são denominados de filósofos da natureza. A Filosofia surge, portanto, quando alguns gregos, observadores da realidade, insatisfeitos com as explicações até então dada pela tradição, começaram a fazer perguntas e buscar respostas para elas, demonstrando que o mundo, os seres humanos, a Natureza, os acontecimentos e as ações humanas podem ser conhecidos pela razão humana, e que a própria razão é capaz de conhecer-se a si mesma. A filosofia é a conquista da autonomia da razão (lógos) diante do mito e busca encontrar o porquê da existência de todas as coisas. Procura estruturar explicações para a origem de tudo nos elementos naturais e primordiais (água, ar, fogo, terra) por meio de combinações e movimentos. Enquanto o mito está no campo da imaginação, a filosofia exige a lógica e coerência racional que só o ser humano pode ter. EXERCíCIOS QUESTÃO 1 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • “Zeus ocupa o trono do universo. Agora o mundo está ordenado. Os deuses disputaram entre si, alguns triunfaram. Tudo o que havia de ruim no céu etéreo foi expulso, ou para a prisão do Tártaro ou para a Terra, entre os mortais. E os homens, o que acontece com eles? Quem são eles?” (VERNANT, Jean-Pierre. O universo, os deuses, os homens. Trad. de Rosa Freire d’Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. p. 56.) Considerando que o mito era uma forma de conhecimento para os gregos, assinale a alternativa correta. a) A verdade do mito obedece a critérios empíricos e científicos de comprovação. b) O conhecimento mítico segue um rigoroso procedimento lógico-analítico para estabelecer suas verdades. c) As explicações míticas constroem-se, de maneira argumentativa e autocrítica. d) A verdade do mito obedece a regras universais do ensinamento racional, tais como a lei de não-contradição. e) O mito busca explicações definitivas acerca do homem e do mundo, e sua verdade independe de provas. QUESTÃO 2 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • “A filosofia surge quando alguns gregos, admirados e espantados com a realidade, insatisfeitos com as explicações que a tradição lhes dera, começaram a fazer perguntas e buscar respostas para elas”. (Marilena Chauí, Convite a Filosofia. 4. ed., Ática, 1995, p. 23). A Filosofia grega deixou como herança para o Ocidente europeu: a) A criação da dialética, fundamentada na luta de classes, como forma de explicação sociológica da realidade humana. b) A preocupação com a continuidade entre a vida e a morte, através da pratica de embalsamamento e outros cuidados funerários. c) A aspiração ao conhecimento verdadeiro, à felicidade e à justiça, indicando que a humanidade não age caoticamente. d) O nascimento das ciências humanas, implicando em conhecimentos autônomos e compartimentados. e) A produção de uma concepção de historia linear, que tratava dos fins últimos do homem e da realização de um projeto divino.QUESTÃO 3 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • “Os homens, a divindade, o mundo formam um universo unificado, homogêneo, todo ele no mesmo plano: são as partes ou os aspectos de uma só e mesma physis que põem em jogo, por toda parte, as mesmas forças, manifestam a mesma potência de vida. As vias pelas quais essa physis nasceu, diversificou-se e organizou-se são perfeitamente acessíveis à inteligência humana: a natureza não operou ‘no começo’ de maneira diferente de como o faz ainda, cada dia, quando o fogo seca uma vestimenta molhada ou quando, num crivo agitado pela mão, as partes mais grossas se isolam e se reúnem.” (VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. Trad. de Ísis Borges B. da Fonseca. 12.ed. Rio de Janeiro: Difel, 2002. p.110.) O texto apresentado demonstra que: a) Para explicar o que acontece no presente é preciso compreender como a natureza agia “no começo”, ou seja, no momento original. b) O nascimento, a diversidade e a organização dos seres naturais têm uma explicação natural e esta pode ser compreendida racionalmente. c) A explicação para os fenômenos naturais pressupõe a aceitação de elementos sobrenaturais. d) A razão é capaz de compreender parte dos fenômenos naturais, mas a explicação da totalidade dos mesmos está além da capacidade humana. e) A diversidade de fenômenos naturais pressupõe uma multiplicidade de explicações e nem todas estas explicações podem ser racionalmente compreendidas. QUESTÃO 4 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Sobre a passagem do mito à filosofia, na Grécia Antiga, podemos afirmar que: a) Os poemas homéricos, em razão de muitos de seus componentes, já contêm características essenciais da compreensão de mundo grega que, posteriormente, se revelaram importantes para o surgimento da filosofia. b) O naturalismo, que se manifesta nas origens da filosofia, já se evidencia na própria religiosidade grega, na medida em que nem homens nem deuses são compreendidos como seres perfeitos: onipotente, 9 filosofia e sociologiacapítulo 1 - o Que É filosofia? onipresente, onisciente. c) A humanização dos deuses na religião grega era inadmissível, pois os deuses eram perfeitos e movidos por sentimentos superiores aos dos homens, isso contribuiu para o processo de racionalização da cultura grega, auxiliando o desenvolvimento do pensamento filosófico e científico. d) O mito foi superado, cedendo lugar ao pensamento filosófico, devido à assimilação que os gregos fizeram da sabedoria dos povos orientais, sabedoria esta desvinculada de qualquer base religiosa. e) Os poemas Hesíodo, não contêm características essenciais da compreensão de mundo grega, por isso não é possível relaciona-los ao surgimento da filosofia. QUESTÃO 5 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • “Há, porém, algo de fundamentalmente novo na maneira como os Gregos puseram a serviço do seu problema último – da origem e essência das coisas – as observações empíricas que receberam do Oriente e enriqueceram com as suas próprias, bem como no modo de submeter ao pensamento teórico e casual o reino dos mitos, fundado na observação das realidades aparentes do mundo sensível: os mitos sobre o nascimento do mundo.” Fonte: JAEGER, W. Paidéia. Tradução de Artur M. Parreira. 3.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1995, p. 197. Sobre a relação mito e Filosofia, conclui-se que: a) A filosofia se origina no Oriente sob o influxo da religião e apenas posteriormente chega à Grécia. b) A filosofia representa uma ruptura radical em relação aos mitos. c) Apesar de ser pensamento racional, a filosofia se desvincula dos mitos de forma gradual. d) o pensamento filosófico necessita do mito para se expressar. e) O mito já era filosofia, uma vez que buscava respostas para problemas discutidos até hoje. QUESTÃO 6 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • O que implica o sistema da pólis é uma extraordinária preeminência da palavra sobre todos os outros instrumentos do poder. A palavra constitui o debate contraditório, a discussão, a argumentação e a polêmica. Torna-se a regra do jogo intelectual, assim como do jogo político. VERNANT, J.P. As origens do pensamento grego. Rio de Janeiro: Bertrand, 1992 (adaptado). Na configuração política da democracia grega, em especial a ateniense, a ágora tinha por função a) agregar os cidadãos em torno de reis que governavam em prol da cidade. b) permitir aos homens livres o acesso às decisões do Estado expostas por seus magistrados. c) constituir o lugar onde o corpo de cidadãos se reunia para deliberar sobre as questões da comunidade. d) reunir os exércitos para decidir em assembleias fechadas os rumos a serem tomados em caso de guerra. e) congregar a comunidade para eleger representantes com direito a pronunciar-se em assembleias. GABARItO 1. E 2. C 3. B 4. A 5. C 6. C ANOtAÇÕES 10 OS pRÉ-SOCRÁtICOS E A RELAÇÃO ENtRE pHYSIS, LOGOS E ARCHÉ. Nesse capítulo buscaremos estudar os primeiros filósofos e os primeiros questionamentos dessa área de conhecimento que chamamos de Filosofia. A principal discussão desse capítulo será sobre a origem do universo. A partir desse momento o homem passa a usar a razão para encontrar na natureza a origem do universo. A Abstração. A Filosofia pré-socrática é filha do seu contexto sociocultural, pois, ao se propagar entre os gregos o uso da moeda, da escrita e do artesanato, inaugurou-se uma mentalidade que descobre e valoriza a abstração humana como esforço de uma inteligência individual. É tese bastante aceita hoje que o nascimento da filosofia na Grécia não foi um “milagre” realizado por um povo privilegiado, mas sim o ápice de um processo lento e gradual, tributário de um passado mítico, e influenciado por transformações políticas, econômicas e sociais. Os primeiros Filósofos. O poeta brasileiro, Mario Quintana (1906-1994), no poema “As coisas”, traduziu o sentimento comum dos primeiros filósofos da seguinte maneira: “O encanto sobrenatural que há nas coisas da Natureza! [...] se nelas algo te dá encanto ou medo, não me digas que seja feia ou má, é, acaso, singular”. Os primeiros filósofos da antiguidade clássica grega se preocupavam com cosmologia, estudando a origem do Cosmos, contrapondo a tradição mitológica das narrativas cosmogônicas. A Jônia foi o berço dos primeiros filósofos, mais especificamente em Mileto. De acordo com os próprios gregos os inauguradores do pensamento racional foram: Tales, Anaxímenes e Anaximandro. Com o objetivo de construir um novo modelo de conhecimento, retomaram os temas da mitologia grega, mas de forma racional, formulando hipóteses lógico-argumentativas. tales de Mileto (640-546 a.C.) “Tales foi o iniciador da filosofia da physis, pois foi o primeiro a afirmar a existência de um princípio originário CAPÍTULO 2 • • • • • • • • OS pRÉ-SOCRÁtICOS E A RELAÇÃO ENtRE pHYSIS, LOGOS E ARCHÉ único, causa de todas as coisas que existem, sustentando que esse princípio é a água. Essa proposta é importantíssima... podendo com boa dose de razão ser qualificada como a primeira proposta filosófica daquilo que se costuma chamar civilização ocidental.” (REALE, Giovanni. História da filosofia: Antigüidade e Idade Média. São Paulo: Paulus, 1990. p. 29.) Tales de Mileto (640-546 a.C.) é tido como o primeiro filósofo e o primeiro chefe da Escola de Mileto; Anaximandro (610-547 a.C.) e Anaxímenes (585-528 a.C.) foram seus discípulos. Para estes e outros filósofos, o mais importante é usar a razão (logos) para conhecer a natureza (physis), cujo objetivo é entender e explicar os fundamentos primeiros de que o mundo foi feito e que o vem mantendo da forma como está. Esses filósofos buscavam delimitar a arkhé (o princípio) na tentativa de buscar explicações racionais para o universo. Tales de Mileto, ao buscar um princípio unificador de todos os seres, concluiu quea água era a substância primordial, “a água é a origem de todas as coisas”, pois ele observou que tudo que tem vida necessita de água, a morte é a ausência da água. Tales atribuía à água a arkhé do universo. A filosofia contribui para a crítica a uma religiosidade simplista ou meramente ritualista, não significa, porém, um rompimento com a religião. Por isso Tales afirmava que tudo estava cheio de deuses, ou seja, que as qualidades sensíveis que cercam os homens têm uma existência independente da vontade humana e o seu domínio está fora do alcance humano. Ou seja, ele é um filho de seu tempo, no qual a mitologia estava enraizada na consciência coletiva. Anaximandro e Anaxímenes Após Tales a Escola de Mileto contou com a liderança de Anaximandro e Anaxímenes. Eles deram continuidade à busca pela Arkhé. Para Anaximandro o princípio, ou elemento primordial, era o “ápeiron”, infinito ou indeterminado, a matéria eterna e indestrutível. Para Anaxímenes a origem de tudo era o ar infinito (pneuma ápeiron), ao observar a natureza percebe que o ar é o princípio de tudo, na medida em que permite a vida das pessoas, que, sem ele, perecem. Os seres sobrevivem mais tempo sem água do que sem ar, por isso concluir que o ar é a origem de tudo, contrapondo a ideia de seu mestre Tales. pitágoras Pitágoras (século VI a.C), é um dos filósofos mais importantes da filosofia pré-socrática. Para ele “a Matemática explica o mundo”. Acreditava na divindade dos números. Os números são a essência de todas as coisas. A medida da harmonia e, consequentemente, da desarmonia, segundo Pitágoras, é possibilitada pela matemática, particularmente pela relação numérica, aritmética e geométrica existente na realidade. Xenófanes (580-475 a.C.) e Zenão (480-430 a.C.) 11 filosofia e sociologiacapítulo 2 - os pRÉ-socRÁticos e a RelaÇÃo eNtRe pHYsis, logos e aRcHÉ Xenófanes (580-475 a.C.), e Zenão (480-430 a.C.) também marcaram esse período da filosofia. Xenófanes contribui com sua crítica à concepção de deuses antropomórficos, concepção própria da religião mítica. Zenão ficou conhecido por escrever sobre a imutabilidade dos seres. A defesa da imutabilidade do ser é, todavia, realizada por Parmênides, considerado por Aristóteles o pai da metafísica e da lógica. parmênides (530-460 a.C.) X Heráclito de Éfeso (540 - 470 a.C) As reflexões sobre o mundo e as relações sociais fazem parte da construção da Filosofia. O pensamento filosófico foi muito importante para a organização da sua sociedade e o estabelecimento de uma visão crítica de suas manifestações culturais. Uma das figuras marcantes da Filosofia Grega foi Parmênides, pois influenciou em muito o pensamento idealista da filosofia ocidental, dando destaque à ideia de permanência e considerando o movimento como uma ilusão dos sentidos. “...que é e que não é possível que não seja,/ é a vereda da Persuasão (porque acompanha a Verdade); o outro diz que não é e que é preciso que não seja,/ eu te digo que esta é uma vereda em que nada se pode aprender. De fato, não poderias conhecer o que não é, porque tal não é fatível./ nem poderia expressá-lo.” (Nicola, Ubaldo. Antologia ilustrada de Filosofia. Editora Globo, 2005.) O texto acima expressa o pensamento de Parmênides de Eleia, que afirmava a imutabilidade de todas as coisas e a unidade entre ser e pensar. Para Parmênides “O Ser é”, não existe a possibilidade do não-ser, sendo assim: “O ser é, e o não ser não é”. Tanto Zenão, quanto Parmênides defendem a ideia de que não há movimento. Em contrapartida, para Heráclito de Éfeso (540 - 470 a.C) “Tudo se transforma”. O logos é identificado por Heráclito como o fogo; não somente o natural, material, mas também o fogo eterno e vivo que forjou todo o universo. Heráclito e Parmênides são apresentados como filósofos cujos pensamentos se opõem: o primeiro seria o pensador da mudança, da contradição, enquanto o outro seria o precursor da metafísica, na sua defesa da constância, da unicidade e da imobilidade do ser. Empédocles (492-432 a.C.) Empédocles (492-432 a.C.) marcou a filosofia com sua reflexão de que o mundo não é resultado de apenas um princípio, mas de quatro: a água, a terra, o ar e o fogo. Para ele todas as coisas do universo resultam da mistura desses elementos, e os responsáveis por esse movimento são as forças cósmicas opostas: o amor e o ódio. “Ainda outra coisa te direi. Não há nascimento para nenhuma das coisas mortais, como não há fim na morte funesta, mas somente composição e dissociação dos elementos compostos: nascimento não é mais do que um nome usado pelos homens”. (EMPÉDOCLES. Apud ARANHA/ MARTINS. Filosofando: Introdução à Filosofia. 3ª Ed., São Paulo: Moderna, 2006 - p. 86.). Percebemos neste fragmento citado uma continuidade do pensamento mítico que havia no início da filosofia, pois ainda encontramos a presença de certos resquícios da mitologia sendo usados para explicar o mundo. Por isso salientamos a inexistência de uma ruptura bruta entre as maneiras filosófica e mitológica de pensar. Demócrito (470-380 a.C.) Demócrito (470-380 a.C.) foi o fundador da teoria do Átomo. Para ele tudo é matéria. A alma é feita de átomos. O átomo é uma partícula indivisível. E os átomos são eternos. EXERCíCIOS QUESTÃO 1 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • “Mais que saber identificar a natureza das contribuições substantivas dos primeiros filósofos é fundamental perceber a guinada de atitude que representam. A proliferação de óticas que deixam de ser endossadas acriticamente, por força da tradição ou da ‘imposição religiosa’, é o que mais merece ser destacado entre as propriedades que definem a filosoficidade.” (OLIVA, Alberto; GUERREIRO, Mario. Présocráticos: a invenção da filosofia. Campinas: Papirus, 2000. p. 24.) A “guinada de atitude” que o texto afirma ter sido promovida pelos primeiros filósofos é: a) A aceitação acrítica das explicações tradicionais relativas aos acontecimentos naturais. b) A busca por uma verdade única e inquestionável, que pudesse substituir a verdade imposta pela religião. c) A confiança na tradição e na “imposição religiosa” como fundamentos para o conhecimento. d) A desconfiança na capacidade da razão em virtude da “proliferação de óticas” conflitantes entre si. e) A discussão crítica das ideias e posições, que podem ser modificadas ou reformuladas. QUESTÃO 2 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • A filosofia surgiu na Grécia, no século VI a.C. Seus primeiros filósofos foram os chamados pré-socráticos e filósofos da natureza. Assinale a alternativa que expressa o principal problema por eles investigado. a) A cosmologia, como investigação acerca da origem e da ordem do mundo. c) A epistemologia, como avaliação dos procedimentos 12 filosofia e sociologia capítulo 2 - os pRÉ-socRÁticos e a RelaÇÃo eNtRe pHYsis, logos e aRcHÉ científicos. d) A ética, enquanto investigação racional do agir humano. b) A estética, enquanto estudo sobre o belo na arte. e) A filosofia política, enquanto análise do Estado e sua legislação. QUESTÃO 3 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Os filósofos pré-socráticos tentaram explicar a diversidade e a transitoriedade das coisas do universo, reduzindo tudo a um ou mais princípios elementares, os quais seriam a verdadeira natureza ou ser de todas as coisas. Assinale o que for incorreto. a) Tales de Mileto, o primeiro filósofo segundo Aristóteles, teria afirmado “tudo é água”, indicando, assim, um princípio material elementar, fundamento de toda a realidade. b) Heráclito de Éfeso interessou-se pelo dinamismo do universo. Afirmou que nada permanece o mesmo, tudo muda; que a mudança é a passagem de um contrário ao outro e que a luta e a harmonia dos contrários são o que gera e mantém todas as coisas. c) Parmênides de Eléia afirmou que o ser não muda. Deduziu a imobilidade e a unidadedo ser do princípio de que “o ser é” e “o não-ser não é”, elaborando uma primeira formulação dos princípios lógicos da identidade e da não- contradição. d) As teorias dos filósofos pré-socráticos foram pouco significativas para o desenvolvimento da filosofia e da ciência, uma vez que os pré-socráticos sofreram influência do pensamento mítico, e de suas obras apenas restaram fragmentos e comentários de autores posteriores. e) Para Demócrito de Abdera, todo o cosmo se constitui de átomos, isto é, partículas indivisíveis e invisíveis que, movendo-se e agregando-se no vácuo, formam todas as coisas; geração e corrupção consistiriam, respectivamente, na agregação e na desagregação dos átomos. QUESTÃO 4 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • O período pré-socrático é o ponto inicial das reflexões filosóficas. Suas discussões se prendem a Cosmologia, sendo a determinação da physis (princípio eterno e imutável que se encontra na origem da natureza e de suas transformações) ponto crucial de toda formulação filosófica. Em tal contexto, Leucipo e Demócrito afirmam ser a realidade percebida pelos sentidos ilusória. Eles defendem que os sentidos apenas capturam uma realidade superficial, mutável e transitória que acreditamos ser verdadeira. Mesmo que os sentidos apreendam “as mutações das coisas, no fundo, os elementos primordiais que constituem essa realidade jamais se alteram.” Assim, a realidade é uma coisa e o real outra. Para Leucipo e Demócrito a physis é composta a) pelas quatro raízes: o úmido, o seco, o quente e o frio. b) pelos átomos, pois tudo é matéria. c) pela água, pois tudo que tem vida precisa de água. d) pelo fogo, pois tudo está em constante movimento. e) pelo ilimitado, pois o cosmos é infinito. QUESTÃO 5 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • O que há em comum entre Tales, Anaximandro e Anaxímenes de Mileto, entre Xenófanes de Colofão e Pitágoras de Samos? “Todos esses pensadores propõem uma explicação racional do mundo, e isso é uma reviravolta decisiva na história do pensamento” (Pierre Hadot). Com base no texto e nos conhecimentos sobre as relações entre mito e filosofia, assinale a alternativa incorreta. a) Os filósofos pré-socráticos são conhecidos como filósofos da physis porque as explicações racionais do mundo por eles produzidas apresentam não apenas o início, o princípio, mas também o desenvolvimento e o resultado do processo pelo qual uma coisa se constitui. b) O nascimento das explicações racionais do mundo é também o surgimento de uma nova ordem do pensamento, que bate de frente com o mito e rejeita todos os ensinamentos que existiam até então; foi um momento decisivo da história da filosofia, pois a negação do mito mostrava a superioridade dos filósofos, que eram semideuses. c) As explicações racionais do mundo elaboradas pelos pré-socráticos seguem o mesmo esquema ternário que estruturava as cosmogonias míticas na medida em que também propõem uma teoria da origem do mundo, do homem e da cidade. d) Os filósofos pré-socráticos não foram os primeiros a tratarem da origem e do desenvolvimento do universo, antes deles já existiam cosmogonias, mas estas eram de tipo mítico, descreviam a história do mundo como uma luta entre entidades personificadas. e) Tales de Mileto, um dos Sete Sábios, além de matemático e físico é considerado filósofo – o fundador da filosofia, segundo Aristóteles – porque em sua proposição “A água é a origem e a matriz de todas as coisas” está contida a proposição “Tudo é um”, ou seja, a representação de unidade. QUESTÃO 6 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • A filosofia grega parece começar com uma ideia absurda, com a proposição: a água é a origem e a matriz de todas as coisas. Será mesmo necessário deter-nos e levá-la a sério? Sim, e por três razões: em primeiro lugar, porque essa proposição anuncia algo sobre a origem das coisas; em segundo lugar, porque o faz sem imagem e fabulação; e enfim, em terceiro lugar, porque nela, embora apenas em estado de crisálida, está contido o pensamento: Tudo é um. NIETZSCHE, F. Crítica moderna. In: Os pré-socráticos. São Paulo: Nova Cultural, 1999. 13 filosofia e sociologiacapítulo 2 - os pRÉ-socRÁticos e a RelaÇÃo eNtRe pHYsis, logos e aRcHÉ O que, de acordo com Nietzsche, caracteriza o surgimento da filosofia entre os gregos? a) O impulso para transformar, mediante justificativas, os elementos sensíveis em verdades racionais. b) O desejo de explicar, usando metáforas, a origem dos seres e das coisas. c) A necessidade de buscar, de forma racional, a causa primeira das coisas existentes. d) A ambição de expor, de maneira metódica, as diferenças entre as coisas. e) A tentativa de justificar, a partir de elementos empíricos, o que existe no real. GABARItO 1. E 2. A 3. D 4. B 5. B 6. C ANOtAÇÕES 14 CAPÍTULO 3 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • OS SOFIStAS OS SOFIStAS Este capítulo apresentará uma nova discussão e preocupação dos filósofos, surgem novos questionamentos e novas maneiras de abordagens filosóficas, o discurso passa a ser o tema principal nesse momento. A palavra Sofista. Na Grécia do século V a.C, a palavra “sofista” era utilizada com o sentido de “homem sábio”. No final do século, o termo “sofista” ganhou uma conotação prática e política, aplicado a quem escrevia ou a quem tinha a capacidade de transmitir a arte de falar bem, a retórica. Sócrates deu um novo sentido à palavra, sentido este que carregamos até o momento, no qual o termo “sofista” é visto de forma pejorativa: é aquele que engana e ilude. Entenderemos o porquê mais adiante. A profissão de Sofista. Neste contexto histórico – final do século V a.C e início do IV a.C - o mundo grego vivia suas grandes guerras contra os Persas, os atenienses estavam vivendo uma transformação política e cultural, a inserção da Democracia como forma de governo. Atenas passou a ser a cidade de encontro dos grandes homens desse momento, mercadores, artistas e sábios de todas as regiões se dirigiam à famosa pólis, dentre os sábios estavam os Sofistas. Aproveitando tal situação, os sofistas se viram rodeados de homens que queriam encontrar o segredo do domínio dos cidadãos, afinal, na democracia vence aquele que tem o melhor poder de persuasão. Os sofistas recebiam pagamentos por seus ensinamentos, o que era alvo de críticas dos atenienses, além do fato de serem estrangeiros, em sua maioria. Sócrates foi um dos principais críticos desses profissionais. Sócrates, ao contrário dos sofistas, dispensava gratuitamente o seu saber a quem desejasse, por isso achava vergonhoso vender o saber em praça pública, como os sofistas estavam acostumados a fazer. Platão deixa registrado que Sócrates comparava os sofistas aos mercadores, pois vendiam seus conhecimentos como se fossem produtos e elogiavam os produtos que vendiam mesmo sem saber se são bons ou não. Para Sócrates os sofistas eram obrigados a adaptar sua mercadoria ao gosto dos compradores, sendo, portanto, incoerentes e despreocupados com a verdade. “... aqueles que levam a ciência de cidade em cidade, ven- dendo-a a retalho, elogiam sempre ao interessado tudo quan- to vendem, mas talvez, meu caro, desconheçam o que é que desses artigos que vendem é bom ou mau para a alma...” (Platão. Protágoras. Trad. introdução e notas Ana da Piedade Elias Pinheiro. Lisboa: Relógio d’Água, 1999. Pág. 82) A herança deixada pelos sofistas. Mesmo diante de todas as críticas, é preciso reconhecer e considerar que, ao receberem pelos ensinamentos ministrados, os sofistas forçaram o reconhecimento do carácter profissional do trabalho de professor. Foram os primeiros professores, e essa é a herança que deixaram para a instituição escolar. Além disso, os sofistas forneceram elementos fundamentais para o desenvolvimento da democracia, por terem valorizado,sobretudo, o espírito crítico, a palavra e as técnicas de argumentação. Os sofistas acreditavam que seus ensinamentos formavam cidadãos. A finalidade cívica da educação passa, claramente, para o primeiro plano. O rompimento com os filósofos pré-socráticos. Os Sofistas criticam os estudos e preocupações dos pré- socráticos, e a partir deles temos uma mudança do objeto de estudo, que deixou de ser a natureza/cosmos, passando para um olhar sobre homem, especificamente, para a arte da persuasão do homem. Local de trabalho desses profissionais. Os Locais de trabalho dos sofistas eram os ambientes públicos mais frequentados, além das casas particulares dos que os podiam acolher e pagar por seus serviços. Eles viajavam de cidade em cidade à procura de alunos, alguns eram cativados por eles e decidiam ir junto com seus mestres. “não foi só pelo seu ensino, mas também pela atração do seu novo tipo espiritual e psicológico que os sofistas foram considerados como as maiores celebridades do espírito grego de cada cidade, onde por longo tempo deram tom, sendo hóspedes prediletos dos ricos e dos poderosos” (JAEGER, Werner. Paidéia - A Formação do Homem Grego, Martins Fontes, São Paulo, 3ª edição, 1995. pág.347). O que eles ensinavam? Os Sofistas estudavam e ensinavam sobre os grandes poetas, desde Homero a Hesíodo, adaptando tais ensinamentos à realidade em que viviam e ao contexto dos compradores de seus conhecimentos. Suas interpretações dos poetas são em geral muito pragmáticas. Os sofistas gostavam de acumular conhecimentos que pudessem ser aplicados no cotidiano, estudavam e procuravam decifrar os poemas, pois estes diziam muito sobre aquela sociedade. Outro motivo para estudar os poemas se justificava no fato deles auxiliarem na elaboração do discurso, pois a partir dos textos os sofistas aprendiam a dominar as palavras e isso culminava na arte de falar bem. Os sofistas dirigiam a Filosofia para as questões mais práticas e cotidianas, para a vida do homem, no mundo 15 filosofia e sociologiacapítulo 3 - os sofistas social dos homens, e não para as discussões mais amplas como as questões da natureza. Suas técnicas eram baseadas no poder do uso das palavras, na forma como debater, no discurso elaborado. Eles eram experientes nas relações humanas, viajavam de cidade em cidade, conheciam culturas diferentes, concepções de mundo variadas, o que fez com que acreditassem que não existia verdade absoluta, pois cada povo tinha suas próprias verdades, passaram a relativizar o mundo, e ensinar dessa forma. Os Sofistas ensinavam como pegar um argumento fraco e transformá-lo em algo incontestável, da mesma forma que se podia pegar um argumento forte e tirar toda a sua força. E como dizia Protágoras, o mais conhecido dos Sofistas: “A verdade é relativa. É somente uma questão de opinião.” (Protágoras). Podemos dizer, a partir desta afirmação, que a verdade é uma questão de persuasão. Górgias (sofista) dizia que “o bom orador convence qualquer um de qualquer coisa”. Os sofistas eram pragmáticos, relativistas, subjetivistas e céticos (no sentido de não acreditarem em verdades únicas). A moral e a Justiça para os Sofistas. A moral é encarada pelos Sofistas não como lei racional do agir humano, mas como um empecilho que incomoda o homem. Para os Sofistas a submissão à lei não torna os homens felizes, exemplo disso é que grandes malvados tem conseguido conquistar a felicidade, além de grande êxito no mundo e, aliás, a experiência ensina que, para triunfar no mundo, não é necessário justiça, mas prudência e habilidade. Segundo os sofistas, a realização da humanidade está no engrandecimento ilimitado da própria personalidade, no prazer e no domínio. Na Grécia Antiga, um dos mais importantes representantes dos sofistas foi Protágoras de Abdera, que afirmava, o homem é quem dá valor às coisas, só cabe ao homem decidir o que é certo ou errado, o que possui valor e o que não possui. Para ele não existe “a verdade”, é o homem quem estabelece o que é verdade. Protágoras diz: “O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são.” EXERCíCIOS QUESTÃO 1 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • No século V a.C., Atenas vivia o auge de sua democracia. Nesse mesmo período, os teatros estavam lotados, afinal, as tragédias chamavam cada vez mais a atenção. Outro aspecto importante da civilização grega da época eram os discursos proferidos na ágora. Para obter a aprovação da maioria, esses pronunciamentos deveriam conter argumentos sólidos e persuasivos. Nesse caso, alguns cidadãos procuravam aperfeiçoar sua habilidade de discursar. Isso favoreceu o surgimento de um grupo de filósofos que dominavam a arte da oratória. Esses filósofos vinham de diferentes cidades e ensinavam sua arte em troca de pagamento. Eles foram duramente criticados por Sócrates e são conhecidos como: a) maniqueistas. b) sofistas. c) epicuristas. d) hedonistas. e) Naturalistas. QUESTÃO 2 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Pode-se dizer que o conjunto das ideias sofistas (tal como apresentado por Platão) se opõe ao propósito teórico dos pré-socráticos no tocante: a) os sofistas especulam sobre a origem de todas as coisas e os pré-socráticos admitem a possibilidade da verdade. b) os sofistas não defendem a possibilidade de verdades universais e os pré-socráticos buscam o princípio de todas as coisas. c) os sofistas investigam o nomos buscando saber por que tudo é como é, e os pré-socráticos se voltam para a physis ocupando-se com saber como o princípio perpassa o múltiplo. d) os sofistas entendem que a linguagem representa a realidade e os pré-socráticos buscam as regras da linguagem. e) os sofistas defendem a possibilidade de verdades universais e assim como os pré-socráticos buscam o princípio de todas as coisas. QUESTÃO 3 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Os Sofistas foram acusados por Platão e por Aristóteles de serem comerciantes do saber, mas hoje se reconhece suas contribuições em diversas áreas do conhecimento, como, por exemplo, para a retórica. São considerados Sofistas: a) Parmênides, Górgias, Crátes e Cícero. b) Xenofonte, Pitágoras, Heródoto e Crátes. c) Antifonte, Górgias, Protágoras e Pródico. d) Empédocles, Protágoras, Antifonte e Sócrates. e) Antifonte, Górgias, Heráclito e Parmênides. QUESTÃO 4 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • A sociedade grega criou seus mitos e deuses, mas também elaborou um pensamento filosófico que expressava sua preocupação com a verdade e a ética. Além de Aristóteles, Platão e Sócrates, muitos pensadores merecem ser citados e discutidos, como os sofistas, que: a) formularam princípios éticos, revolucionários para 16 filosofia e sociologia capítulo 3 - os sofistas a época e de grande significado para o pensamento de Platão. b) defenderam a liberdade de expressão, embora estivessem ligados à aristocracia ateniense, contrária à ampliação da cidadania. c) construíram reflexões sobre o comportamento humano que serviram de base para Aristóteles pensar a sua metafísica. d) ajudaram a consolidar o pensamento conservador grego, reafirmando a importância da mitologia. e) criticaram a existência de verdades absolutas, afirmando ser o homem a medida de todas as coisas. QUESTÃO 5 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • “O legado da Grécia à filosofia ocidental é a filosofia ocidental.” (Bernard Williams. In: Finley M. I. O legado da Grécia, 1998.) A afirmação baseia-se no fato de que: a) os gregos foram os criadores de quase todos os campos importantes do conhecimento filosófico, como a metafísica, a lógica, a ética e a filosofia política; b) os filósofos gregos foram lidos pelos romanos, depois totalmente negados pela tradição romântica medieval e,posteriormente, recuperados por iluministas. c) a filosofia moderna ocidental deixou o pensamento filosófico grego para trás, recuperando como princípio básico o legado mítico dos helenos; d) os sofistas, como Sócrates e Platão, responsáveis pela produção de obras no campo da mitologia, consolidaram os princípios da filosofia ocidental moderna; e) a metafísica de Platão tem estruturado, até hoje, as bases conceituais e filosóficas do pensamento científico e tecnológico contemporâneo ocidental. QUESTÃO 6 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Trasímaco estava impaciente porque Sócrates e os seus amigos presumiam que a justiça era algo real e importante. Trasímaco negava isso. Em seu entender, as pessoas acreditavam no certo e no errado apenas por terem sido ensinadas a obedecer às regras da sua sociedade. No entanto, essas regras não passavam de invenções humanas. RACHELS, J. Problemas da filosofia. Lisboa: Gradiva, 2009. O sofista Trasímaco, personagem imortalizado no diálogo A República, de Platão, sustentava que a correlação entre justiça e ética é resultado de: a) determinações biológicas impregnadas na natureza humana. b) verdades objetivas com fundamento anterior aos interesses sociais. c) mandamentos divinos inquestionáveis legados das tradições antigas. d) convenções sociais resultantes de interesses humanos contingentes. e) sentimentos experimentados diante de determinadas atitudes humanas. GABARItO 1. B 2. B 3. C 4. E 5. A 6. D ANOtAÇÕES 17 CAPÍTULO 4 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • O NASCIMENtO DA FILOSOFIA SOCRÁtICA O NASCIMENtO DA FILOSOFIA SOCRÁtICA: O MÉtODO SOCRÁtICO – DIÁLOGO, IRONIA E MAIÊUtICA. Este capítulo tratará de um momento que foi o divisor de águas para a filosofia. Existe uma filosofia antes e uma filosofia pós-Sócrates, buscaremos compreender a importância desse pensador para o mundo Ocidental. A discussão principal não será mais sobre a natureza, mas sim sobre o Homem. O rompimento com a primeira fase. A partir dos sofistas, e essencialmente com Sócrates e Platão, a Filosofia encara o segundo período da história do pensamento grego, o chamado período antropológico. O interesse destes filósofos não gira mais ao redor da discussão sobre a natureza, mas em torno do homem. Com Sócrates, a Filosofia é reinaugurada. Seu pensamento marca uma reviravolta na história humana, pois o ser humano voltou-se para si mesmo, e os seus questionamentos e discussões, a partir de então, são completamente diferentes das pré-socráticas. A Vida de Sócrates Por volta de 469 a.C. nascia em Atenas o mais respeitado de todos os filósofos Ocidentais: Sócrates. Filho de Sofrôni- co, escultor, e de Fenáreta, parteira. A profissão de sua mãe será referência e a grande metáfora da filosofia socrática. Durante o apogeu de Atenas, onde se instalou a primei- ra democracia da história, ele conviveu com intelectuais, artistas, aristocratas e políticos. Por volta de seus 38 anos, convenceu-se de sua missão de mestre, pois foi considerado “o mais sábio dos homens”. Deduzindo que sua sabedoria só podia ser resultado da percepção da própria ignorância, passou a dialogar com as pessoas que se dispusessem a procurar a verdade e o bem. Por expor claramente seu modo de ver o mundo, acabou desagradando muitos atenienses. Criticou muitos aspectos da cultura grega, afirmando que muitas tradições, crenças religiosas e costumes não ajudavam no desenvolvimento intelectual dos cidadãos. Abaixo o trecho extraído do livro “Apologia de Sócra- tes”, de Platão: “(…) descobrem uma multidão de pessoas que supõem saber alguma coisa, mas que na verdade pouco ou nada sa- bem. (…) e afirmam que existe um tal Sócrates (…) que cor- rompe a juventude. Quando se lhes pergunta por quais atos ou ensinamentos, não têm o que responder; não sabem, mas para não mostrar seu embaraço apresentam aquelas acusa- ções que repetem contra todos os que filosofam: ‘as coisas do céu e o que há sob a terra; o não crer nos deuses; fazer preva- lecer o discurso e a razão mais fraca’. Isso porque não querem dizer a verdade: terem dado prova de que fingem saber, mas nada sabem.” Condenado à morte por injúria contra os deuses e por corromper os jovens, ele se recusou a fugir ou a renegar suas convicções para salvar a vida. Ingeriu cicuta e morreu rodeado por amigos, em 399 a.C. Trecho da obra FÉDON (A imortalidade da alma)- obra de PLATÃO: “- Estiveste tu mesmo, Fedão, junto de Sócrates no dia em que ele tomou veneno na prisão, ou ouviste de alguém? Fedão - Não, eu mesmo, Equécrates. Equécrates - Então, que disse o homem antes de morrer? E como foi a sua morte? Gostaria de saber tudo o que se passou. Recentemente, nenhum cidadão de Fliunte tem ido a Atenas, e há muito não nos vêm de lá forasteiros capazes de dar-nos informações seguras, salvo dizerem que morreu depois de tomar o veneno. Quanto ao mais, nada informam de particular. Fedão - E também não ouviste contar como foi o julgamento? Equécrates - Ouvimos, sim; alguém nos falou nisso. Surpreendeu- nos, justamente, ter sido bem antes o julgamento e ele só vir a morrer muito depois. Que aconteceu, Fedão?”. (PLATÃO. FÉDON – A IMORTALIDADE DA ALMA. Livro de Domínio Público pg. 2 - PDF). A morte de Sócrates deu vida á filosofia! A crítica aos sofistas. Os pensadores sofistas, os educadores profissionais da época, também se voltavam para o homem, mas com um objetivo mais prático e imediato: formar as elites dirigentes. Isso significava transmitir aos jovens não o valor e o método da investigação, mas um saber enciclopédico, além de desenvolver sua eloquência, que era a principal habilidade esperada de um político. Na Democracia o poder depende da capacidade de conquistar o povo pela persuasão, e os sofistas sabiam fazer isso muito bem, mais do que isso, vendiam esse saber. Sócrates não se conformava com tal prática, pois acreditava ser uma falta de respeito com a verdade. Os sofistas eram os mestres de eloquência e queriam conquistar fama e riqueza no mundo. Já Sócrates desejava libertar o ser humano, e não desenvolver técnicas para controlá-lo, que era a especialidade dos sofistas. Observe o esquema abaixo: QUAL A ORIGEM DO UNIVERSO? COMO CONtROLAR OS HOMENS? COMO LIBERtAR OS HOMENS? pRÉ-SOCRÁtICOS SOFIStAS SÓCRAtES 18 filosofia e sociologia capítulo 4 - o NasciMeNto Da filosofia socRÁtica A Filosofia Socrática e o seu legado A preocupação de Sócrates era levar as pessoas, por meio do autoconhecimento, à sabedoria e à prática do bem, que para ele era o fim último do conhecimento. “Enquanto tiver ânimo e puder fazê-lo, jamais deixarei de filosofar, de vos advertir, de ensinar em toda ocasião àquele de vós que eu encontrar, dizendo-lhe o que costumo: ‘Meu caro, tu, um ateniense, da cidade mais importante e mais reputada por sua sabedoria, não te envergonhas de cuidares de adquirir o máximo de riquezas, fama e honrarias, e de não te importares nem pensares na razão, na verdade e em melhorar tua alma”? (PLATÃO. Apologia de Sócrates, pg. 29). Para Sócrates o verdadeiro conhecimento é aquele que vem de dentro. Daí o famoso: “Conhece-te a ti mesmo”. Ele acreditava que a racionalidade, a verdade e a melhora da alma são valores que devem ser defendidos pelo filósofo. Vivia caminhando pela cidade grega como ninguém havia feito antes, com simplicidade, passava horas conversando com aqueles que queriam encontrar a verdade. Sócrates convencia as pessoas de que ninguém é mau, e que todo homem pode aprender a ser bom e feliz, bastando apenas conhecer a si mesmo. Ele sempre estava disposto a auxiliar todos que desejassem alcançar esse fim último. Para Sócrates o homem é um composto de dois princí- pios, corpo e alma. A partir de seu pensamento nasceram duas linhas de estudo da filosofia consideradas as grandes tendências do pensamento ocidental. a) Idealista, que partiu de Platão (427-347 a.C.), segui-dor de Sócrates. Ao distinguir o mundo concreto do mundo das ideias, deu ao mundo as ideias o status de realidade; b) Realista, partindo de Aristóteles (384-322 a.C.), dis- cípulo de Platão que submeteu as ideias, às quais se chega pelo espírito, ao mundo real. As duas etapas da atividade filosófica de Sócrates O método socrático se divide em duas partes: a primeira destrutiva, pois elimina falsos saberes, conhecida como ironia; e a segunda construtiva, conhecida como Maiêutica, trata-se de um convite para a “busca” do conhecimento através do parto das ideias. Ironia: “Só sei que nada sei”, a frase foi uma resposta aos que afirmavam que ele era o mais sábio dos homens. Após interrogar artesãos, políticos e poetas, Sócrates chegou à conclusão de que ele se diferenciava dos demais por reconhecer a sua própria ignorância. Através do diálogo, Sócrates levava o interlocutor a desembocar na sua própria ignorância, ou seja, a pessoa que conversava com Sócrates percebia-se como quem, na verdade, não sabia muito ou sabia muito pouco a respeito do objeto da discussão. É a fase do reconhecimento da ignorância, pois aquele que se reconhece como ignorante torna-se mais sábio por querer adquirir conhecimentos. Maiêutica (do grego maieutiké - “arte do parto”): é a segunda etapa do método socrático, neste momento Sócrates auxilia no parto das ideias. Tendo como referência a profissão de sua mãe, que era parteira, Sócrates, através do diálogo, busca descobrir a verdade dos objetos de conhecimento em questão junto com seu interlocutor. Para ele não existe conhecimento sem diálogo, e é a maiêutica, ou engenhosa obstetrícia do espírito, que facilitava a parturição das ideias, do encontro com a verdade. A Moral Socrática: seu maior legado. A Moral é considerada a parte mais importante da Filosofia socrática. Para Sócrates, devemos pensar bem para viver bem. O meio único de alcançar a felicidade, fim supremo do homem, é a prática da virtude e da moral. Para Sócrates o homem deve ser bom, pois é racional, e quanto maior a racionalidade do homem, maior a sua responsabilidade com o BEM. O saber nos direciona para a virtude, pois a sabedoria se identifica com a virtude, e se o homem erra, não é por deliberação, mas por pura ignorância; se ele passa a conhecer a verdade, sua sabedoria faz dele um homem bom e, nesse caso, é impossível que o homem escolha o mal. A verdade, o bem, a justiça, a beleza são virtudes adquiridas pelo homem por meio do ensinamento, do reconhecimento de que se tem muito a aprender. Essas virtudes estão na alma humana e, portanto, mais do que o ser humano, é sua alma que deve ser educada. Ele queria saber como viver uma vida correta. A partir da ideia de que o conhecimento leva à felicidade, ele chega à conclusão de que o homem justo é o que sabe o que é a justiça. “Se músico é o que sabe música, pedreiro o que sabe edificar, justo será o que sabe a justiça”. Sócrates dedicou sua vida à problemática em torno do homem, buscando respostas para origem da essência humana. Após anos de estudos, Sócrates conclui que o homem é o seu consciente e isso é o que o distingue dos outros animais. O homem é o seu intelecto, seus concei- tos éticos, sua personalidade racional e moral, o homem é 19 filosofia e sociologiacapítulo 4 - o NasciMeNto Da filosofia socRÁtica aquilo que pensa. EXERCíCIO QUESTÃO 1 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • “Mas quem fosse inteligente (…) lembrar-se-ia de que as perturbações visuais são duplas, e por dupla causa, da passagem da luz à sombra, e da sombra à luz. Se compreendesse que o mesmo se passa com a alma, quando visse alguma perturbada e incapaz de ver, não riria sem razão, mas reparava se ela não estaria antes ofuscada por falta de hábito, por vir de uma vida mais luminosa, ou se, por vir de uma maior ignorância a uma luz mais brilhante, não estaria deslumbrada por reflexos demasiadamente refulgentes [brilhantes]; à primeira, deveria felicitar pelas suas condições e pelo seu gênero de vida; da segunda, ter compaixão e, se quisesse troçar dela, seria menos risível esta zombaria do que aquela que descia do mundo luminoso.” A República, 518 a-b, trad. Maria Helena da Rocha Pereira, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1987) Sobre este trecho do livro VII de A República de Platão, é correto afirmar. a) A condição de quem vive nas sombras é digna de aceitação, pois nunca conseguiram sair. b) O filósofo, sendo aquele que passa da luz à sombra, não tem problemas em retornar às sombras. c) No trecho, é afirmado que o conhecimento não necessita de educação, pois quem se encontraria nas sombras facilmente se acostumaria à luz. d) O filósofo é aquele que aceita sua condição de limitação ao mundo sensível, por isso respeita as sombras. e) O trecho estabelece uma relação entre o mundo visível e o inteligível, fundada em uma comparação entre o olho e a alma. QUESTÃO 2 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • “O pior é que as pessoas esperavam que Sócrates respondesse por elas ou para elas, que soubesse as respostas às perguntas, como os sofistas pareciam saber, mas Sócrates, para desconcerto geral, dizia: “eu também não sei, por isso estou perguntando”. (Marilena Chauí, Convite à filosofia, São Paulo. Ática, 2005. p. 41) A partir do texto acima, escolha a alternativa que melhor exprime o método de filosofia socrática. a) Assim como os sofistas, Sócrates se apresenta como o detentor do conhecimento. b) O objetivo da investigação filosófica é o exame da natureza e da cosmologia, pelo qual são delimitados os critérios racionais. A investigação socrática não se ocupa das questões éticas e políticas. c) O aperfeiçoamento da alma só ocorre pelo abandono das preocupações éticas e pela posse de bens materiais é um valor inquestionável. d) O método socrático está voltado para a compreensão dos fenômenos da natureza. e) O método socrático se divide em duas partes, a primeira a chamada ironia, e a segunda trata-se do parto das ideias. QUESTÃO 3 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Sócrates representa um marco importante da história da filosofia; enquanto a filosofia pré-socrática se preocupava com o conhecimento da natureza (physis), Sócrates procura o conhecimento indagando o homem. A partir da análise a respeito da filosofia socrática, pode- se afirmar que: a) Sócrates, para não ser condenado à morte, negou, diante dos seus juízes, os princípios éticos da sua filosofia. b) Discípulo de Platão, Sócrates utilizou, como protagonista da maior parte de seus diálogos, o seu mestre. c) O método socrático compõe-se de duas partes: a maiêutica e a ironia. d) Tal como os sofistas, Sócrates costumava cobrar dinheiro pelos seus ensinamentos. e) Sócrates, ao afirmar que só sabia que nada sabia, queria ser igual aos sofistas que eram humildes e ensinavam sem cobrar por isso. QUESTÃO 4 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • A filosofia de Sócrates se estrutura em torno da sua crítica aos sofistas, que, segundo ele, não amavam a sabedoria nem respeitavam a verdade. O ataque à sofística aconteceu devido ao fato de Sócrates acreditar que: a) o conhecimento verdadeiro só pode ser resultado de um diálogo contínuo do homem com os outros e consigo mesmo. b) o diálogo confronta opiniões e isso não leva ao conhecimento, sendo assim impossível alcançar a sabedoria. c) a verdade das coisas não é obtida na vida cotidiana dos homens, pois elas estão na natureza, sendo verdades prontas acabadas. d) o autoconhecimento não leva ao verdadeiro conhecimento, pois é a condição primária de todos os outros conhecimentos verdadeiros. e) a ciência (epistéme) é acessível a todos os homens, pois está limitada ao mundo das sensações. QUESTÃO 5 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • “Com efeito, senhores, temer a morte é omesmo que se supor sábio quem não o é, porque é supor que sabe o que não sabe. Ninguém sabe o que é a morte, nem se, porventura, será para o homem o maior dos bens; todos a temem, como se soubessem ser ela o maior dos males. A ignorância mais condenável não é essa de supor saber o que não se sabe?” (Platão, A Apologia de Sócrates, 29 a-b, In . HADOT, P. O que é a Filosofia Antiga? São Paulo: Ed. Loyola,1999, p. 61. 20 filosofia e sociologia capítulo 4 - o NasciMeNto Da filosofia socRÁtica Com base no trecho acima e na filosofia de Sócrates, é correto afirmar que a) Sócrates prefere a morte a ter que renunciar a sua missão, qual seja: buscar, por meio da filosofia, a verdade, para além da mera aparência do saber. b) Sócrates leva o seu interlocutor a conhecer a natureza, fazendo-o tomar consciência das contradições do cosmos. c) Para Sócrates, pior do que a morte é admitir aos outros que nada se sabe. Deve-se evitar a ignorância a todo custo, ainda que defendendo uma opinião não devidamente examinada. d) Para Sócrates, os verdadeiros sábios eram os sofistas, pois reconheciam sua ignorância e ensinavam através da maiêutica. e) Admitir o não-saber, quando não se sabe, não define o sábio, segundo a concepção socrática, pois sábio é aquele que prova ao mundo o quanto sabe. QUESTÃO 6 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • A sabedoria de Sócrates, filósofo ateniense que viveu no século V a.C., encontra o seu ponto de partida na afirmação “sei que nada sei”, registrada na obra Apologia de Sócrates. A frase foi uma resposta aos que afirmavam que ele era o mais sábio dos homens. Após interrogar artesãos, políticos e poetas, Sócrates chegou à conclusão de que ele se diferenciava dos demais por reconhecer a sua própria ignorância. O “sei que nada sei” é um ponto de partida para a Filosofia, pois a) aquele que se reconhece como ignorante torna-se mais sábio por querer adquirir conhecimentos. b) é um exercício de humildade diante da cultura dos sábios do passado, uma vez que a função da Filosofia era reproduzir os ensinamentos dos filósofos gregos. c) a dúvida é uma condição para o aprendizado e a Filosofia é o saber que estabelece verdades dogmáticas a partir de métodos rigorosos. d) é uma forma de declarar ignorância e permanecer distante dos problemas concretos, preocupando-se apenas com causas abstratas. GABARItO 1. E 2. E 3. C 4. A 5. A 6. A ANOtAÇÕES 21 pLAtÃO: REpÚBLICA, tEORIA DAS IDEIAS, ALEGORIA DA CAVERNA. Nesse capítulo nos dedicaremos ao estudo de um dos maiores filósofos do mundo Ocidental. Platão dá continuidade ás ideias desenvolvidas por Sócrates e vai além de seu mestre. Buscaremos compreender qual a herança deixada por ele para o pensar filosófico. A Vida de platão Filho da Aristocracia, Platão nasceu em Atenas, por volta de 428 a.C. Aos vinte anos iniciou sua relação com Sócrates com quem conviveu oito anos, até a morte do mestre. Platão morreu em 348 a.C., com oitenta anos de idade. Em 387 a.C, Platão ficou conhecido por toda Grécia Antiga, e passou a ser respeitado ao fundar a sua célebre escola: Academia. As preocupações de platão Sócrates e Platão acreditavam que a filosofia tem um fim prático, moral; é a grande ciência que resolve o problema da vida. Mas, diferentemente de Sócrates que estava preocupado em conhecer essencialmente o homem e se aprofundar no mundo intrínseco: “Conheça-te a ti mesmo”; Platão interessou-se vivamente pela política. Além disso, dedicou-se inteiramente às questões que estavam além do mundo físico e material, ao ensino filosófico e ao árduo trabalho de deixar tudo o que pôde registrado em suas obras, principalmente os ensinamentos de Sócrates, tendo em vista que este não deixou nada escrito. A forma dos escritos platônicos é o diálogo, cujo principal personagem é Sócrates. As primeiras obras divulgam as ideias socráticas; nas restantes Sócrates é a “boca” pela qual Platão “fala”. No livro “A República” encontramos sua filosofia política, cuja base é uma crítica social e uma proposta de reforma da sociedade que critica. A Crítica à Sociedade e uma proposta Platão não estava satisfeito com a sociedade na qual vivia, pois acreditava que era injusta. Da maneira como estava organizada acabava criando pessoas egoístas e individualistas, que não estavam preocupadas com os problemas sociais, mas apenas com os seus problemas particulares. Platão idealizava uma sociedade na qual o bem comum fosse mais importante que os interesses individuais, para isso seria necessário que cada um cumprisse o seu papel. Para o filósofo clássico, é necessário que existam três classes sociais bem definidas, cada qual com sua especificidade: os trabalhadores, que formam a classe produtiva; os guardiões ou guerreiros, que são os protetores CAPÍTULO 5 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • pLAtÃO da cidade; e os magistrados, que são os que a governam. O ideal é que cada pessoa desenvolva seu trabalho por aptidão, de forma que o seu verdadeiro e natural potencial seja utilizado da melhor maneira possível pela sociedade. Platão propõe um modelo de organização política da sociedade que pode ser considerado estamental e antidemocrático. Para ele, o governo não deveria se pautar pelo princípio da maioria. Também criticava o fato de que no sistema democrático a maioria é convencida por aqueles que têm a melhor retórica, e naquele contexto os sofistas assumiam esse papel. Para Platão as pessoas são diferentes umas das outras, pois suas almas têm natureza diversa, de acordo com sua composição. Isso faz com que os homens devam ser distribuídos de acordo com essa natureza, divididos em grupos encarregados do governo, do controle e do abastecimento da pólis. Alma Cidade Almas ou partes da alma Virtude Classes sociais Funções na Cidade Ideal Alma Racional É a alma superior, destina-se ao conhecimento das ideias. Localiza-se na cabeça Sabedoria Filósofos Supremos Guardiões da Cidade. O governo deve ser entregue a sábios, pois estes são os únicos que ascenderam às ideias superiores de Uno-Bem e Beleza. Alma Irascível Esta alma está associada à vontade. Localiza-se no peito Força Guerreiros Dedicam- se à defesa, manutenção da ordem. Alma concupiscente É a mais baixa de todas as almas. É constituída pelos desejos e necessidades básicas. Está localizada no ventre Moderação Produtores Dedicam-se às atividades económicas, produção de bens e ao comércio. 22 filosofia e sociologia caPÍTUlo 5 - PlaTão teoria das Ideias Platão procurou compreender a relação entre o conceito e a realidade: Exercite comigo: Pense num urso polar! Como você pode ter a imagem de um urso polar sem os seus olhos estarem vendo este animal na sua frente? Você não está vendo um urso polar, mas a imagem dele está na sua cabeça neste momento. Como isso é possível? Você pensa no urso polar, pois você tem o conceito de urso polar, mas você não está vendo um urso polar na sua frente neste exato momento, ou seja, ele não está na sua realidade, apenas na sua imaginação. Segundo Platão, o conhecimento humano se divide em dois graus: o primeiro é conhecimento sensível, que está sujeito a mudanças e é relativo, pois cada um tem a sua maneira de conhecer. Por exemplo: um cego conhece a realidade de maneira diferente de uma pessoa que enxerga. O segundo é o conhecimento intelectual, universal, imutável, absoluto, que ilumina o primeiro conhecimento, sendo assim superior e transcendente. O conhecimento intelectual diz respeito aos conceitos, que para Platão são a priori, inatos no espírito humano, já nascemos com o conhecimento e o conhecer para ele é, na verdade, um recordar, relembrar o que já conhecemos. Para Platão, deve existir, portanto, além do mundo material, outro mundo de realidades, ele o chama de mundo das Ideias. As ideias são realidadesobjetivas, modelos e arquétipos eternos de que as coisas visíveis são cópias imperfeitas. Assim a ideia de urso polar é o urso polar abstrato perfeito e universal de que todos os outros ursos polares são imitações transitórias e defeituosas. Existe uma ideia perfeita de urso polar, de homens, de cavalos, de tartarugas, de elefantes e de tudo que existe no mundo material. O que podemos perceber nesse mundo são apenas imitações do mundo perfeito. O Demiurgo e as almas Entre as ideias e a matéria estão o Demiurgo e as almas. O Demiurgo organiza o caos da matéria no modelo das ideias eternas, introduzindo no caos a alma, princípio de movimento e de ordem. O Demiurgo é uma espécie de deus que atua sobre a matéria informe, dando forma ao mundo, tendo como referência para sua organização o mundo das ideias. A Alegoria da Caverna Uma das passagens mais importantes de Platão é a Alegoria da caverna, Livro VII da obra “A República”. “SÓCRAtES – Figura-te agora o estado da natureza humana, em relação à ciência e à ignorância, sob a forma alegórica que passo a fazer. Imagina os homens encerrados em morada subterrânea e cavernosa que dá entrada livre à luz em toda extensão. Aí, desde a infância, têm os homens o pescoço e as pernas presos de modo que permanecem imóveis e só vêem os objetos que lhes estão diante. Presos pelas cadeias, não podem voltar o rosto. Atrás deles, a certa distância e altura, um fogo cuja luz os alumia; entre o fogo e os cativos imagina um caminho escarpado, ao longo do qual um pequeno muro parecido com os tabiques que os pelotiqueiros põem entre si e os espectadores para ocultar- lhes as molas dos bonecos maravilhosos que lhes exibem. GLAUCO - Imagino tudo isso. SÓCRAtES - Supõe ainda homens que passam ao longo deste muro, com figuras e objetos que se elevam acima dele, figuras de homens e animais de toda a espécie, talhados em pedra ou madeira. Entre os que carregam tais objetos, uns se entretêm em conversa, outros guardam em silêncio. GLAUCO - Similar quadro e não menos singulares cativos! SÓCRAtES - Pois são nossa imagem perfeita. Mas, dize- me: assim colocados, poderão ver de si mesmos e de seus companheiros algo mais que as sombras projetadas, à claridade do fogo, na parede que lhes fica fronteira? GLAUCO - Não, uma vez que são forçados a ter imóveis a cabeça durante toda a vida. SÓCRAtES - E dos objetos que lhes ficam por detrás, poderão ver outra coisa que não as sombras? GLAUCO - Não. SÓCRAtES - Ora, supondo-se que pudessem conversar não te parece que, ao falar das sombras que veem, lhes dariam os nomes que elas representam? GLAUCO - Sem dúvida. SÓRAtES - E, se, no fundo da caverna, um eco lhes repetisse as palavras dos que passam, não julgariam certo que os sons fossem articulados pelas sombras dos objetos? GLAUCO - Claro que sim. SÓCRAtES - Em suma, não creriam que houvesse nada de real e verdadeiro fora das figuras que desfilaram. 23 filosofia e sociologiacaPÍTUlo 5 - PlaTão GLAUCO - Necessariamente. SÓCRAtES - Vejamos agora o que aconteceria, se livrassem a um tempo das cadeias e do erro em que laboravam. Imaginemos um destes cativos desatado, obrigado a levantar-se de repente, a volver a cabeça, a andar, a olhar firmemente para a luz. Não poderia fazer tudo isso sem grande pena; a luz, sobre ser-lhe dolorosa, o deslumbraria, impedindo-lhe de discernir os objetos cuja sombra antes via. Que te parece agora que ele responderia a quem lhe dissesse que até então só havia visto fantasmas, porém que agora, mais perto da realidade e voltado para objetos mais reais, via com mais perfeição? Supõe agora que, apontando-lhe alguém as figuras que lhe desfilavam ante os olhos, o obrigasse a dizer o que eram. Não te parece que, na sua grande confusão, se persuadiria de que o que antes via era mais real e verdadeiro que os objetos ora contemplados? GLAUCO - Sem dúvida nenhuma. SÓCRAtES - Obrigado a fitar o fogo, não desviaria os olhos doloridos para as sombras que poderia ver sem dor? Não as consideraria realmente mais visíveis que os objetos ora mostrados? GLAUCO - Certamente. SÓCRAtES - Se o tirassem depois dali, fazendo-o subir pelo caminho áspero e escarpado, para só o liberar quando estivesse lá fora, à plena luz do sol, não é de crer que daria gritos lamentosos e brados de cólera? Chegando à luz do dia, olhos deslumbrados pelo esplendor ambiente, ser-lhe ia possível discernir os objetos que o comum dos homens tem por serem reais? GLAUCO - A princípio nada veria. SÓCRAtES - Precisaria de algum tempo para se afazer à claridade da região superior. Primeiramente, só discerniria bem as sombras, depois, as imagens dos homens e outros seres refletidos nas águas; finalmente erguendo os olhos para a lua e as estrelas, contemplaria mais facilmente os astros da noite que o pleno resplendor do dia. GLAUCO - Não há dúvida. SÓCRAtES - Mas, ao cabo de tudo, estaria, decerto, em estado de ver o próprio sol, primeiro refletido na água e nos outros objetos, depois visto em si mesmo e no seu próprio lugar, tal qual é. GLAUCO - Fora de dúvida. SÓCRAtES - Refletindo depois sobre a natureza deste astro, compreenderia que é o que produz as estações e o ano, o que tudo governa no mundo visível e, de certo modo, a causa de tudo o que ele e seus companheiros viam na caverna. GLAUCO - É claro que gradualmente chegaria a todas essas conclusões. SÓCRAtES - Recordando-se então de sua primeira morada, de seus companheiros de escravidão e da ideia que lá se tinha da sabedoria, não se daria os parabéns pela mudança sofrida, lamentando ao mesmo tempo a sorte dos que lá ficaram? GLAUCO - Evidentemente. SÓCRAtES - Se na caverna houvesse elogios, honras e recompensas para quem melhor e mais prontamente distinguisse a sombra dos objetos, que se recordasse com mais precisão dos que precediam, seguiam ou marchavam juntos, sendo, por isso mesmo, o mais hábil em lhes predizer a aparição, cuidas que o homem de que falamos tivesse inveja dos que no cativeiro eram os mais poderosos e honrados? Não preferiria mil vezes, como o herói de Homero, levar a vida de um pobre lavrador e sofrer tudo no mundo a voltar às primeiras ilusões e viver a vida que antes vivia? GLAUCO - Não há dúvida de que suportaria toda a espécie de sofrimentos de preferência a viver da maneira antiga. SÓCRAtES - Atenção ainda para este ponto. Supõe que nosso homem volte ainda para a caverna e vá assentar-se em seu primitivo lugar. Nesta passagem súbita da pura luz à obscuridade, não lhe ficariam os olhos como submersos em trevas? GLAUCO - Certamente. SÓCRAtES - Se, enquanto tivesse a vista confusa -- porque bastante tempo se passaria antes que os olhos se afizessem de novo à obscuridade -- tivesse ele de dar opinião sobre as sombras e a este respeito entrasse em discussão com os companheiros ainda presos em cadeias, não é certo que os faria rir? Não lhe diriam que, por ter subido à região superior, cegara, que não valera a pena o esforço, e que assim, se alguém quisesse fazer com eles o mesmo e dar-lhes a liberdade, mereceria ser agarrado e morto? GLAUCO - Por certo que o fariam. SÓCRAtES - Pois agora, meu caro GLAUCO, é só aplicar com toda a exatidão esta imagem da caverna a tudo o que antes havíamos dito. O antro subterrâneo é o mundo visível. O fogo que o ilumina é a luz do sol. O cativo que sobe à região superior e a contempla é a alma que se eleva ao mundo inteligível. Ou, antes, já que o queres saber, é este, pelo menos, o meu modo de pensar, que só Deus sabe se é verdadeiro. Quanto à mim, a coisa é como passo a dizer-te. Nos extremos limites do mundo inteligível está a ideia do bem, a qual só com muito esforço se pode conhecer, mas que, conhecida, se impõe à razão como causa universal de tudo o que é belo e bom, criadora da luz e do sol no mundo visível, autora da inteligência e da verdade no mundo invisível, e sobre a qual, por isso mesmo, cumpre ter osolhos fixos para agir com sabedoria nos negócios particulares e públicos.” (Fonte: “A República” de Platão) A Alegoria da Caverna e o Conhecimento Para Platão o processo de aprendizado é semelhante ao de sair da caverna; a saída é dolorosa e difícil, pois a luz do lado de fora é muito forte e os homens já estão acomodados e acostumados a viver com as sombras dentro da caverna, que, para Platão, é o mundo sensível, ou seja, o mundo material em que vivemos, um mundo de cópias, no qual o homem é escravo dos sentidos. Libertar-se é conseguir chegar ao mundo das ideias, o racional, pois Platão considera a alma humana prisioneira 24 filosofia e sociologia caPÍTUlo 5 - PlaTão do corpo, vivendo como se fosse um peregrino em busca do caminho de casa. Para tanto, deveria transpor os limites do corpo e contemplar o inteligível. O filósofo é o homem que consegue se libertar da caverna e conhecer o mundo real que, para Platão, é o mundo das ideias, o lado de fora da caverna. O filósofo, após conhecer a verdade, volta para libertar os outros homens e conduzi-los para fora. Só o filósofo consegue olhar o sol e compreender toda a sua plenitude; e, portanto, ele é quem deve conduzir a sociedade para o bem. O bem é a realidade suprema, aquela que está acima do mundo das ideias, é o fim último do conhecimento, representado aqui pelo Sol, a luz mais forte, o bem é o último conhecimento que o homem pode alcançar. EXERCíCIO QUESTÃO 1 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Para Platão, o que havia de verdadeiro em Parmênides era que o objeto de conhecimento é um objeto de razão e não de sensação, e era preciso estabelecer uma relação entre objeto racional e objeto sensível ou material que privilegiasse o primeiro em detrimento do segundo. Lenta, mas irresistivelmente, a Doutrina das Ideias formava-se em sua mente. ZINGANO, M. Platão e Aristóteles: o fascínio da filosofia. São Paulo: Odysseus, 2012 (adaptado). O texto faz referência à relação entre razão e sensação, um aspecto essencial da Doutrina das Ideias de Platão (427 a.C.-346 a.C.). De acordo com o texto, como Platão se situa diante dessa relação? a) Estabelecendo um abismo intransponível entre as duas. b) Privilegiando os sentidos e subordinando o conhecimento a eles. c) Atendo-se à posição de Parmênides de que razão e sensação são inseparáveis. d) Afirmando que a razão é capaz de gerar conhecimento, mas a sensação não. e) Rejeitando a posição de Parmênides de que a sensação é superior à razão. QUESTÃO 2 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • “Sócrates: Imaginemos que existam pessoas morando numa caverna. Pela entrada dessa caverna entra a luz vinda de uma fogueira situada sobre uma pequena elevação que existe na frente dela. Os seus habitantes estão lá dentro desde a infância, algemados por correntes nas pernas e no pescoço, de modo que não conseguem mover-se nem olhar para trás, e só podem ver o que ocorre à sua frente. (...) Naquela situação, você acha que os habitantes da caverna, a respeito de si mesmos e dos outros, consigam ver outra coisa além das sombras que o fogo projeta na parede ao fundo da caverna?”. (PLATÃO. A República [adaptação de Marcelo Perine]. São Paulo: Editora Scipione, 2002. p. 83). Em relação ao célebre mito da caverna e às doutrinas que ele representa, assinale o que for incorreto. a) O mito da caverna faz referência ao contraste ser e parecer, isto é, realidade e aparência, que marca o pensamento filosófico desde sua origem e que é assumido por Platão em sua famosa teoria das Ideias. b) No mito da caverna, Platão pretende descrever os primórdios da existência humana, relatando como eram a vida e a organização social dos homens no princípio de seu processo evolutivo, quando habitavam em cavernas. c) O mito da caverna simboliza o processo de emancipação espiritual que o exercício da filosofia é capaz de promover, libertando o indivíduo das sombras da ignorância e dos preconceitos. d) É uma característica essencial da filosofia de Platão a distinção entre mundo inteligível e mundo sensível; o primeiro ocupado pelas Ideias perfeitas, o segundo pelos objetos físicos, que participam daquelas Ideias ou são suas cópias imperfeitas. e) No mito da caverna, o prisioneiro que se liberta e contempla a realidade fora da caverna, devendo voltar à caverna para libertar seus companheiros, representa o filósofo que, na concepção platônica, conhecedor do Bem e da Verdade, é o mais apto a governar a cidade. QUESTÃO 3 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Em sua alegoria da caverna, Platão deseja representar o processo de emancipação espiritual que o exercício da filosofia é capaz de promover, libertando o indivíduo das sombras da ignorância. A partir dos estudos sobre a teoria do conhecimento elaborada por Platão, assinale a alternativa que corresponde à última forma (eidos) a ser contemplada no mundo inteligível? a) a Sombra que representa o bem. b) a Natureza que representa o conhecimento. c) a Lua que ilumina a escuridão do Ser. d) a Sombra que representava o conhecimento. e) o Sol que representa o Bem. QUESTÃO 4 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • A Filosofia de Platão e Aristóteles possuem lugar de destaque na História da Filosofia Ocidental. Suas concepções, que se opõem, mas não se excluem, são amplamente estudadas e debatidas devido à influência que exerceram, e ainda exercem, sobre o pensamento ocidental. Todavia é necessário salientar que o produto dos seus pensamentos se insere em uma longa tradição filosófica que remonta a Parmênides e Heráclito e que influenciou, direta ou indiretamente, entre outros, os 25 filosofia e sociologiacaPÍTUlo 5 - PlaTão racionalistas e empiristas. Ao analisar a filosofia de Platão, assinale nas opções abaixo aquela que se identifica corretamente com suas concepções. a) A dicotomia aristotélica (mundo sensível X mundo inteligível) se opõe radicalmente as concepções de caráter empírico defendidas por Platão. b) A filosofia platônica é marcada pelo materialismo e pragmatismo, afastando-se do misticismo e de conceitos transcendentais. c) Para Platão, a realidade material e o conhecimento sensível são ilusórios. d) Segundo Platão a verdade é obtida a partir da observação das coisas, por meio da valorização do conhecimento sensível. e) As concepções platônicas negam veementemente a validade do Inatismo. QUESTÃO 5 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • “A cidade pareceu-nos justa, quando existiam dentro dela três espécies de naturezas, que executavam cada uma a tarefa que lhe era própria; e, por sua vez, temperante, corajosa e sábia, devido a outras disposições e qualidades dessas mesmas espécies.(...) Logo, meu amigo, entenderemos que o indivíduo, que tiver na sua alma estas mesmas espécies, merece bem, devido a essas mesmas qualidades, ser tratado pelos mesmos nomes que a cidade”. (PLATÃO. A república. Trad. de Maria Helena da Rocha Pereira. 7 ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1993. p. 190.) Com base no texto e nos conhecimentos sobre a justiça em Platão, é correto afirmar: a) A justiça deve ser vista como uma virtude que tem sua origem na alma, sendo independente das circunstâncias externas. b) A justiça consiste em dar a cada indivíduo aquilo que lhe é de direito, conforme o princípio universal de igualdade entre todos os seres humanos, homens e mulheres. c) A verdadeira justiça corresponde ao poder do mais forte, o qual, quando ocupa cargos políticos, faz as leis de acordo com os seus interesses e pune a quem lhe desobedece. d) As pessoas justas agem movidas por interesses ou por benefícios pessoais, havendo a possibilidade de ficarem invisíveis aos olhos dos outros. e) Ser justo equivale a pagar dívidas contraídas e restituir aos demais aquilo que se tomou emprestado,atitudes que garantem uma velhice feliz. QUESTÃO 6 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • SANZIO, R. Detalhe do afresco A Escola de Atenas. Disponivel em: http:// fil.chf.ufsc.br. Acesso em: 20 mar. 2013. No centro da imagem, o filósofo Platão é retratado apontando para o alto. Esse gesto significa que o conhecimento se encontra em uma instância na qual o homem descobre a a) suspensão do juízo como reveladora da verdade. b) realidade inteligível por meio do método dialético. c) salvação da condição mortal pelo poder de Deus. d) essência das coisas sensíveis no intelecto divino. e) ordem intrínseca ao mundo por meio da sensibilidade. GABARItO 1. D 2. B 3. E 4. C 5. A 6. B ANOtAÇÕES 26 INtRODUÇÃO À SOCIOLOGIA/ SOMOS tODOS SERES SOCIAIS Nesse primeiro capítulo de Sociologia, buscaremos compreender o objeto de estudo dessa ciência. O principal objetivo é fazer a relação entre o ser humano e a sociedade. Partiremos da seguinte premissa: o ser humano é um ser social. Você seria capaz de viver sozinho? Tente se imaginar totalmente sozinho, isolado de todos os seres humanos. Como você viveria? Sozinho você seria capaz de construir sua casa, conseguir seu alimento, proteger- se, cuidar da sua saúde, adquirir conhecimento, produzir arte, produzir utensílios, entre outras coisas? Sozinho você ainda seria um ser humano, ou um animal como qualquer outro? O ser humano é um ser social. Desde o momento do seu surgimento o homo sapiens sapiens, ou seja, a nossa espécie, organiza- se por meio de grupos. Os primeiros seres humanos só conseguiram sobreviver nas difíceis condições ambientais que os cercavam porque contavam com a colaboração do seu grupo. Separados eram fracos, mas juntos, um contribuía para a existência do outro. Se precisássemos responder a seguinte pergunta: Por que vivemos em sociedade? A resposta seria simples: por necessidade! O ser humano depende de outros seres humanos para sobreviver, depende do grupo para sobreviver. Tradicionalmente chegou-se ao conceito de que o que difere o ser humano dos outros animais é a sua capacidade de pensar. Sendo um animal pensante e frágil, com relação aos outros animais que disputam o meio com ele, o homem percebe que não é possível viver isolado, e para que sua existência ultrapassasse um simples conflito cotidiano, fazia-se necessário se organizar em sociedade. A dependência do indivíduo em relação ao grupo existe desde o momento em que surgiram os primeiros seres humanos, e continua até hoje. Você nunca está inteiramente só. Até mesmo quando pensamos que estamos sozinhos não deixamos de pertencer à sociedade, e de depender dos nossos semelhantes. Você nunca está inteiramente só. O simples ato de ler um livro, no seu quarto com a porta fechada, envolve CAPÍTULO 6 • • • • • • • • • • • • • • • • • INtRODUÇÃO À SOCIOLOGIA outras pessoas: o escritor; a editora, composta por vários funcionários que juntos fabricaram o livro; os operários que cortaram as árvores para dar origem ao papel; os entregadores que levaram esse livro para uma livraria ou diretamente para sua casa; além dos trabalhadores que construíram a sua casa, o lugar para onde o livro foi; tem também o carpinteiro que construiu a mesinha onde você coloca o livro para ler; dentre outros envolvidos que não cabe aqui listar, pois a lista não teria fim. O que acontece quando vivemos isolados de outros seres humanos? Conheça agora a história de Amala e Kamala, as meninas lobos. “Na Índia, onde os casos de meninos-lobo foram relati- vamente numerosos, descobriram em 1920 duas crianças, Amala e Kamala, vivendo no meio de uma de lobos. A pri- meira tinha um ano e meio e veio a morrer um ano mais tarde. Kamala, de oito anos de idade, viveu até 1929. Não tinham nada de humano e seu comportamento era exata- mente semelhante àquele de seus irmãos lobos. Elas caminhavam de quatro, apoiando-se sobre os joe- lhos e cotovelos para os pequenos trajetos e sobre as mãos e os pés para os trajetos longos e rápidos. Eram incapazes de permanecer em pé. Só se alimenta- vam de carne crua ou podre. Comiam e bebiam como os animais, lançando a cabeça para a frente e lambendo os líquidos. Na instituição onde foram recolhidas, passavam o dia acabrunhadas e prostradas numa sombra. Eram ativa e ruidosas durante a noite, procurando fugir e uivando como lobos. Nunca choravam ou riam. Kamala viveu oito anos na instituição que a acolheu, humanizando-se lentamente. Necessitou de seis anos para aprender a andar e, pouco an- tes de morrer, tinha um vocabulário de apenas cinquenta palavras. Atitudes afetivas foram aparecendo aos poucos. Chorou pela primeira vez por ocasião da morte de Amala e se apegou lentamente às pessoas que cuidaram dela, bem como às outra com as quais conviveu. Sua inteligência per- mitiu-lhe comunicar-se por gestos, inicialmente, e depois por palavras de um vocabulário rudimentar, aprendendo a executar ordens simples”. (LEYMOND, B. Le development social de l’enfant et del’adolescent. Bruxelles: Dessart, 1965. p 12-14.) O texto acima descreve um estudo sociológico que nos leva a compreender que as características humanas dependem de uma vida social, do nosso convívio com outros seres humanos. As meninas-loba da Índia, por terem ficado isoladas, ou seja, sem contato com outras pessoas, não conseguiram se humanizar, não aprenderam a falar, não sorriam, andavam apoiadas nas mãos, uivavam como lobos, e sua visão era melhor à noite do que durante o dia, não sabiam usar utensílios, não agiam como o que denominamos seres 27 filosofia e sociologiacaPÍTUlo 6 - iNTRoDUÇÃo À sociologia humanos. Concluímos este capítulo afirmando que somos todos seres sociais, e é no convívio com outros seres humanos que nos tornamos verdadeiramente humanos. EXERCíCIOS QUESTÃO 1 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Quando falamos em identidade, logo pensamos em quem somos. A construção de identidades como: “ser brasileiro”, “ser português”, “ser cigano”, “ser flamenguista”, “ser homem”, “ser mulher” é um processo sociocultural pelo qual se marca as fronteiras de pertencimento social e/ ou cultural. Tendo por base o anúncio transcrito acima, é correto afirmar que: a) as identidades são estáticas, é algo natural, ela nos acompanha por toda a vida. b) as identidades são construídas nas relações sociais, são situacionais, relacionais e constroem-se na relação entre o “nós” e os “outros”, cria um nós coletivo. c) identidades surgem através de um determinismo geográfico que molda o nosso modo de ser e agir. d) identidades são produtos de marketing e gera vínculo entre os indivíduos. e) para sociologia as identidades são heranças genéticas. QUESTÃO 2 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • “As relações entre os seres humanos que vivem em sociedade são chamadas de relações sociais. Elas constituem a base da sociedade. Vale dizer que sem elas a sociedade não existiria. Essas relações supõem a existência de pessoas que interagem reciprocamente.” A partir do texto podemos afirmar que as relações sociais: a) se transformam ao longo do tempo b) são fixas e imutáveis c) não interferem na sociedade d) estimulam, mas não e interferem na sociedade. e) são dinâmicas e imutáveis QUESTÃO 3 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Texto I “Todos os dias, desde o momento em que desperta pela manhã até o instante em que, à noite, volta a adormecer, você convive com outras pessoas. Seja em casa, com a família, seja na escola, no trabalho, numa roda de amigos, no ‘bate-papo’ (...), nos momentos de lazer, no cinema, no campo de futebol, na igreja, você está sempre rodeado de outros seres humanos. Mesmo estando sozinho, o simples ato de escovar os dentes envolve muitas outras pessoas: os químicos que elaboraram o creme dental, os operários que fabricaram a escovas de dente, os que fizerama embalagem e assim por diante. Você nunca está inteiramente só.” (Oliveira, Pérsio Santo. Introdução à Sociologia. Ed.Ática. 2008 pag.07) A partir do texto acima podemos depreender que: a) O homem é um ser social que independe de outros seres humanos para viver, pois sua inteligência o faz autossuficiente. b) O homem é um ser social, mas não precisa participar de um grupo social e conviver com pessoas para viver em sociedade. c) O homem é um ser social, porém não depende de pessoas para o ato de escovar os dentes. d) O homem é um ser social, por isso depende de outros seres humanos para viver. e) O homem participa de grupos sociais e convive com muitas pessoas, não por necessidade, mas por entretenimento. QUESTÃO 4 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • “Na Índia onde os casos de meninos-lobo foram relativamente numerosos, descobriram-se em 1920, duas crianças, Amala e Kamala, vivendo no meio de uma família de lobos, não tinham nada de humano e seu comportamento era exatamente semelhante àquele de seus irmãos lobos.” A partir de uma compreensão sociológica podemos afirmar que sem o denso tecido das relações sociais simplesmente não há humanidade. Sobre o fato acima mencionado, podemos concluir que: a) O ser humano é um ser social, mas é capaz de viver sozinho e adquirir hábitos semelhantes a todos os outros, mesmo isolado. b) As características humanas independem da convivência em sociedade. c) A convivência em sociedade não interfere na construção da personalidade e os hábitos dos seres humanos. d) O ser humano é um ser social que precisa viver em sociedade para se tornar humano. e) O ser humano não é um ser social, pois é capaz de viver sozinho e adquirir hábitos semelhantes a todos os outros, mesmo isolado. QUESTÃO 5 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • A comunicabilidade é uma das características dos 28 filosofia e sociologia caPÍTUlo 6 - iNTRoDUÇÃo À sociologia grupos sociais “(...), ou seja, é a capacidade de o indivíduo se comunicar com seus semelhantes de forma a transmitir ideias, sentimentos, vontades, interesses, emoções. Essa capacidade evoluiu ao longo do tempo, passando de gestos de sinais à articulação de sons, ao desenvolvimento da linguagem, às primeiras manifestações artísticas, e à escrita (...). Hoje, utilizamos também novas formas de comunicação (internet, por exemplo), mas algumas das que foram criadas por nossos ancestrais mais remotos, como a linguagem, ainda continuam em vigor”. a) a capacidade de se comunicar não evoluiu ao longo do tempo. b) a comunicação não é importante para a manutenção dos grupos sociais. c) a comunicação é essencial para a interação do indivíduo, é a “liga” entre indivíduo e sociedade. d) toda comunidade é uma comunicação de massa. e) a linguagem de sinais não é um meio de comunicação. GABARItO 1.B 2.A 3.D 4.D 5.C ANOtAÇÕES 29 CAPÍTULO 7 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • VIVER EM SOCIEDADE Nesse capítulo buscaremos entender o funcionamento da sociedade, e compreender o que nos motiva a viver e conviver com os outros. Como pessoas tão diferentes são capazes de viverem juntas e em harmonia na sociedade? Para que se seja possível viver em sociedade é necessário que exista um consenso de qual é a melhor maneira de se viver. Para que a sociedade funcione, os seres humanos criam símbolos, líderes, regras, leis, segurança, papéis sociais, etc. Os homens aprender a viver em sociedade através da socialização, que é o processo de interiorização do mundo coletivo na mente do indivíduo. A Socialização ocorre através do contato social que é a origem vida em sociedade. O primeiro passo para que ocorra a socialização é o contato entre os seres humanos, que passa a estabelecer relações sociais, criando laço de identificação social, formas de organização e comportamento que são a base da constituição dos grupos sociais e da sociedade. Tais contatos podem ser primários ou secundários. • Os contatos sociais primários são pessoais, diretos, e que tem uma forte base emocional. Esses contatos são aqueles mantidos entre familiares e amigos. • Os contatos sociais secundários são impessoais, calculados e formais, por exemplo, o contato estabelecido entre vendedores e clientes. A Sociologia é a ciência que se propõe a analisar como os seres humanos vivem em sociedade. O homem é um ser racional, mas é frágil, não consegue viver sozinho, por isso organiza-se em sociedades. Precisa interagir para alcançar o processo de socialização que o leva, através de experiências com outros seres, à criação de uma consciência acerca da realidade, que torna possível formar uma memória coletiva e a sua cultura. O Homem compartilha uma herança genética que o define como ser humano. É capaz de desenvolver a linguagem e interagir constantemente com o meio, adaptando-se sempre que necessário para sua sobrevivência. “Não podemos viver isolados porque as nossas vidas estão ligadas por mil laços invisíveis”. Herman Melville A Comunicação O Homem transmite às gerações seguintes seu conhecimento através da comunicação, como por exemplo: oralidade, pintura e escrita. Sem comunicação não existe sociedade. O mundo atual criou novos meios de transmitir sua cultura para seus contemporâneos e para as gerações seguintes, meios que ultrapassam a tradicional escrita. No século XXI, os conhecimentos sobre a realidade que nos cerca e a maneira de se viver são transmitidos instantaneamente na maior parte do planeta, criando uma “aldeia global”. Imagens, vídeos, letras, palavras, números e símbolos são transmitidos por meio da internet a todas as sociedades ditas civilizadas. As redes sociais, como, por exemplo, o Facebook, criaram um novo conceito de comunicação. A Sociologia A Sociologia é uma ciência elaborada no século XIX. Para que o estudo de algo seja considerado ciência, ele precisa ter um objeto de investigação, um método para estudar esse objeto e apresentar uma validade de resultado, ou seja, uma resposta para a sociedade. A sociologia está amparada em tais critérios. Podemos entender a Sociologia como uma das manifestações do pensamento moderno. A Sociologia pode ser vista como uma resposta racional às novas situações sociais colocadas pela revolução capitalista. Os principais fatos histórico-sociais que propiciaram o surgimento da Sociologia foram a Revolução Industrial, o Iluminismo e a Revolução Francesa. O modo como os homens convivem é muito diversificado, variando de uma sociedade para sociedade, devido ao fato de terem suas regras particulares de convivência humana. Vale ressaltar que tais maneiras de se viver em sociedade podem se modificar por meio dos processos de transformações sociais. A situação da mulher, por exemplo, mudou radicalmente ao longo das últimas décadas, tanto no Brasil quanto em outras partes do mundo. As mulheres passaram a ter o Direito ao divórcio, e a entrada no mercado de trabalho, entre outros. Como tais transformações ocorreram e ocorrem? O que leva uma sociedade a romper com sua tradição para criar uma nova maneira de viver em sociedade? A Sociologia surge como uma tentativa de compreensão da realidade social do ser humano, buscando encontrar respostas para questionamentos como os feitos acima. EXERCíCIOS QUESTÃO 1 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Um volume imenso de pesquisas tem sido produzido para tentar avaliar os efeitos dos programas de televisão. A maioria desses estudos diz respeito a crianças - o que é bastante compreensível pela quantidade de tempo que elas passam em frente ao aparelho e pelas possíveis implicações desse comportamento para a socialização. Dois dos tópicos mais pesquisados são o impacto da televisão no âmbito do crime e da violência e a natureza das notícias exibidas na televisão. GIDDENS, A. Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2005. 30filosofia e sociologia caPÍTUlo 7 - ViVeR eM socieDaDe O texto indica que existe uma significava produção científica sobre os impactos socioculturais da televisão na vida do ser humano. E as crianças, em particular, são as mais vulneráveis a essas influências, porque a) codificam informações transmitidas nos programas infantis por meio da observação. b) adquirem conhecimentos variados que incentivam o processo de interação social. c) interiorizam padrões de comportamento e papéis sociais com menor visão crítica. d) observam formas de convivência social baseadas na tolerância e no respeito. e) apreendem modelos de sociedade pautados na observância das leis. QUESTÃO 2 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • “Para que a sociedade funcione sem graves conflitos, o ser humano tem de ser socializado. Socialização é o processo pelo qual a sociedade ou comunidade ou grupo social ensina a seus membros seus costumes e regras. A principal socialização se dá na primeira infância, por meio da família e da escola. É o que podemos chamar de socialização primária. Ela ocorre por meio dos outros significativos, que são todas as pessoas muito importantes em nossa vida e dos quais dependemos, como nossos pais, irmãos mais velhos e amigos íntimos. A socialização secundária se dá num âmbito maior, por meio de todas as interações que travamos durante a vida. Por meio da socialização adquirimos o “direito” de atuarmos no grupo social em questão. É por meio da socialização que vamos adquirindo o nosso Eu, isto é, nossa identidade”. (Disponível em: http://pt.scribd.com/doc/18649428/O-processo-de-socializacao). A partir do texto, conclui-se que: a) A socialização causa conflitos para a sociedade. b) A socialização é fundamental para a vida em sociedade. c) A socialização desumaniza o indivíduo da sociedade. d) A socialização causa conflitos para o indivíduo. e) a socialização aliena o individuo que não consegue pensar por si mesmo. QUESTÃO 3 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Os homens do campo são diferentes dos homens da cidade. A maneira como ambos olham para o mundo está amparada no meio social onde foram criados. Sendo assim, depreende-se que: a) A Socialização primária se dá num âmbito mais amplo, por meio de todas as interações que travamos durante toda a vida. b) A socialização secundária se dá na primeira fase de nossas vidas, por meio das instituições sociais mais próximas, como a família e a escola. c) A socialização primária é a principal socialização, pois se dá na primeira fase de nossas vidas, os contatos que fazemos com as pessoas que consideramos mais importantes. d) A socialização secundária é a principal socialização, pois são os contatos que fazemos com as pessoas mais importantes na formação do nosso “eu”. e) A Socialização secundária se dá num âmbito mais amplo, por meio de todas as interações que travamos durante a vida, principalmente com nossos familiares. QUESTÃO 4 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • O homem é um ser social. A sociabilidade, ou seja, a capacidade natural da espécie humana para viver em sociedade, desenvolve-se pelo processo de socialização. A socialização humana é o processo pelo qual o indivíduo passa a se adaptar as regras impostas pelo meio social no qual está inserido. A partir dessa afirmação qual das alternativas abaixo representa um processo de socialização. a) é na vida em grupo que aprendemos a beber água quando estamos com sede. b) é na vida em grupo que descobrimos que é possível viver sozinhos. c) é na vida em grupo que nos tornamos realmente humanos. d) a vida em sociedade não interfere na essência da vida humana. e) é na vida em grupo que nos isolamos do mundo e nos reconhecemos humanos. QUESTÃO 5 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • O contato social está na origem da vida em sociedade. É o primeiro passo para que ocorra a socialização, sendo assim, é através do contato entre seres humanos que são estabelecidos relações sociais, criando laço de identidade, formas de atuação e comportamento que são a base da constituição dos grupos sociais e da sociedade. Tais contatos podem ser primários ou secundários. Os contatos sociais primários são pessoais, diretos, e que tem uma forte base emocional. Os contatos sociais secundários são impessoais, calculados e formais. (Adaptado - Oliveira, Pérsio Santo) É 31 filosofia e sociologiacaPÍTUlo 7 - ViVeR eM socieDaDe importante destacar que as pessoas têm a vida baseada mais em contatos primários desenvolvem personalidades diferentes daquelas que têm a vida com predomínio de contatos secundários. Sendo assim, conclui-se que: a) O lavrador tem a personalidade semelhante a do empresário urbano. b) O lavrador tem a personalidade bem diversa do empresário urbano, pois o primeiro tem uma vida baseada em contados secundários e o segundo em contatos primários. c) O lavrador tem a personalidade semelhante a do empresário urbano, pois os dois tem uma vida baseada mais em contatos secundário. d) O lavrador tem a personalidade bem diversa do empresário urbano, pois o primeiro tem uma vida baseada em contatos primários e o segundo em contatos secundários. e) O lavrador e o empresário desconhecem o contato social. GABARItO 1.C 2.B 3.C 4.C 5.D ANOtAÇÕES 32 CAPÍTULO 8 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • A SOCIEDADE FEUDAL A SOCIEDADE FEUDAL, O SURGIMENtO DO EStADO MODERNO E O MOVIMENtO ILUMINIStA NA SOCIEDADE EUROpEIA. Esse capítulo tem como objetivo apresentar o nascimento da Sociologia a partir do contexto social do mundo Europeu, sendo assim, estudaremos algumas transformações sociais que ocorrem entre a Idade Média e o Iluminismo. O nascimento da sociologia O nascimento da Sociologia se deu no século XIX, como uma consequência das complexas transformações que ocorreram na Europa entre os séculos XIV e XVIII. A sociologia, como ciência, nasceu da discussão sobre os problemas sociais resultantes das transformações econômicas, políticas e culturais ocorridas nesses séculos. Era preciso compreender essa nova organização social que afetava o mundo europeu. Os três grandes eventos históricos, mencionados logo abaixo, foram culminantes para que surgisse, no século XIX, uma ciência voltada para a compreensão das transformações da sociedade humana. Eventos estes: • A Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra por volta de 1750: a sociedade capitalista. • Iluminismo: descontentamento da burguesia com a estrutura vigente. • A Revolução Francesa (1789): a queda do Antigo Regime. A Sociologia é a ciência que estuda as interações sociais. A relação social começa na pré-história com a formação dos primeiros grupos. Como já exposto nos capítulos onze e doze, a vida em sociedade surge por uma questão de necessidade. A vida em sociedade é a vida dos diferentes vivendo juntos. A sociedade nasce com a formação de várias tribos, cada uma com costumes e hábitos diferentes. O comportamento humano é complexo e diversificado. Cada indivíduo recebe influências do meio em que vive, forma-se de determinada maneira e age no contexto social de acordo com sua formação. O indivíduo aprende com o meio e também o transforma. De que maneira isso acontece? Com qual frequência o homem modifica seu meio? O que estimula as transformações e o que leva a sociedade a permanecer por longo tempo na mesma estrutura? Foram perguntas como estas que instigavam os que viriam a ser chamado de sociólogos. O mundo Europeu é marcado por contradições e desigualdade. Para compreendermos o funcionamento da sociedade que vivemos atualmente, faz-se necessário perpassarmos por sociedades anteriores, que aos poucos foram construindo características que encontramos hoje no mundo Ocidental. Feudalismo: Uma Sociedade Estamental Ao longo dos aproximadamentemil anos que denominados Idade Média, a sociedade europeia se estruturava no sistema feudal. O modo feudal de produção tinha como estrutura básica de seu desenvolvimento: a) as terras do senhor, ou seja, os feudos, propriedade do senhor, b) a propriedade limitada do senhor sobre o camponês servo, ou seja, um sistema de servidão. Cabe salientar que servidão não é escravidão, essa diferença é fundamental, pois o servo tinha certos direitos que o escravo nunca teve. A sociedade feudal já se apresentava mais complexa que a escravocrata, no entanto, menos dinâmica que a sociedade capitalista que assumiria a economia posteriormente. No período medieval o poder estava nas mãos dos senhores feudais, que mantinham o controle sobre a maior parte das terras e sobre a sua sociedade. Este era um poder descentralizado, pois existiam vários senhores feudais cada um tinha poder apenas sobre seus servos. A sociedade era estamental dividida três ordens: os que rezam, o clero; os que protegem, a nobreza; e os que trabalham, os servos. O Surgimento do Estado Moderno O Estado moderno marcou uma nova fase da sociedade europeia. Surgiu com o fim do feudalismo, que se deu devido ás revoltas sociais dos camponeses, com o descontentamento dos servos perante aos impostos cobrados pelo senhor feudal. A insatisfação com o contexto econômico levou ao renascimento comercial e urbano. O Estado Moderno é marcado pela centralização dos poderes, tendo início no século XIV. Este novo contexto histórico teve que vencer primeiramente os regionalismos, ou seja, a descentralização do poder; além do universalismo 33 filosofia e sociologiacaPÍTUlo 8 - a socieDaDe feUDal medieval, pois desejava a formação de uma sociedade nacional. “A gênese do Estado Moderno se encontra justamente na competição de vários pretendentes à hegemonia. Dois exemplos de monarquias modernas são a França e Inglaterra.” (Wanilton Dudek). Surge, portanto, a partir do processo de desintegração do mundo feudal e das relações políticas até então dominantes na Europa. Sai-se de organização de poderes fragmentados, representados pelos senhores feudais, iniciando uma nova fase da Europa com o poder nas mãos de um Rei que contou com o apoio da burguesia. Para que a Nação se consolidasse, fazia-se necessário adotar algumas medidas, tais como: estabelecer um idioma comum, com o objetivo de fomentar o sentimento nacionalista; definir os territórios de cada governo nacional; transformar o suserano (senhor feudal) e o vassalo (servo) em soberano (rei) e súditos, respectivamente. O Estado Moderno transformou a organização social através da criação de novas instituições: a) forças militares do Estado para manter a ordem interna e externa; b) burocracia administrativa, ou seja o grupo de funcionários que exerciam cargos na administração pública e cumpriam as ordens dos governantes; c) centralização das leis e da aplicação da justiça; d) centralização do sistema tributário criando impostos, taxas e tributos obrigatórios em todo o território para financiar seus gastos. O Iluminismo Os séculos XVII e XVIII foram marcados pelo Iluminismo, um movimento filosófico e consequentemente social, que propôs novos valores baseados na racionalidade humana e na ideia de que a humanidade caminharia no sentido do progresso, da liberdade e da busca da felicidade. Este movimento correspondeu a uma revolução da mentalidade coletiva. A origem do iluminismo pode ser encontrada no século XV, pois justamente nesse século, o Renascimento trouxe, para os campos da filosofia, ciência e da arte, novos valores como o humanismo, o individualismo e o conhecimento baseado na razão, no método científico e no experimentalismo. Foi um movimento que se apresentou como um instrumento de crítica ao Estado Moderno, principalmente no que se refere a suas estruturas básicas, isto é, ao absolutismo, ao mercantilismo e aos privilégios da nobreza, tendo em vista que foi um movimento burguês. A nova classe que surgirá na modernidade: a burguesia, engendrava uma revolução social através de uma revolução do imaginário europeu. O Iluminismo apresentou uma concepção de racionalização do mundo, uma tentativa de compreensão de seu funcionamento. Diante desse contexto de profundas mudanças, fazia-se necessária a criação de uma ciência responsável por sistematizar e entender o funcionamento dessa nova sociedade que se erguia como fruto das revoluções, tal reivindicação gerou a Sociologia. EXERCíCIOS QUESTÃO 1 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Que é ilegal a faculdade que se atribui à autoridade real para suspender as leis ou seu cumprimento. Que é ilegal toda cobrança de impostos para a Coroa sem o concurso do Parlamento, sob pretexto de prerrogativa, ou em época e modo diferentes dos designados por ele próprio. Que é indispensável convocar com frequência os Parlamentos para satisfazer os agravos, assim como para corrigir, afirmar e conservar as leis. Declaração dos Direitos. Disponível em http:// disciplinas.stoa.usp.br. Acesso em: 20 dez. 2011 (adaptado). No documento de 1689, identifica-se uma particularidade da Inglaterra diante dos demais Estados europeus na Época Moderna. A peculiaridade inglesa e o regime político que predominavam na Europa continental estão indicados, respectivamente, em: a) Redução da influência do papa — Teocracia. b) Limitação do poder do soberano — Absolutismo. c) Ampliação da dominação da nobreza — República. d) Expansão da força do presidente — Parlamentarismo. e) Restrição da competência do congresso — Presidencialismo. QUESTÃO 2 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • O surgimento do Estado Moderno consagrou a separa- ção entre política e religião. Os imperativos religiosos des- gastaram-se para ordenar a vida social. O religioso passa a ser um sentido dentre outros. Obra da razão dos indivíduos: formas de organização social. O Estado moderno foi con- cebido a imagem e semelhança dos seus artífices. A legiti- midade da ordem social passa a ser obtida não mais pelas explicações teológicas, e sim pelo ordenamento jurídico. Dizem alguns que na chamada Idade Média o mundo ja- zia em densas trevas. E disse o homem: Haja luz! E eis que foi formado o Estado Moderno. A Era das Luzes teria sido a inequívoca asseveração de que o indivíduo era dono de si e senhor do seu destino. O ocaso da tutela eclesiástica sobre a vida civil. (Por Valdemar Figueredo Filho) disponível em: http://revistaforum.com. br/blog/2012/09/estado-moderno-separacao-entre-politica-e-religiao/ . A partir do texto pode-se depreender que: a) O Estado Moderno foi o rompimento com o mundo econômico feudal, no entanto, as ideias religiosas conti- nuaram sendo a base política, com a permanência dos Pa- pas no poder. 34 filosofia e sociologia caPÍTUlo 8 - a socieDaDe feUDal b) O Estado Moderno não rompe socialmente com a reli- gião, ela passa a ser um sentido dentre outros, mas com me- nor intensidade se comparado ao período medieval. c) O Estado Moderno conservou o sistema econômico feudal, no entanto, as ideias religiosas deixaram de ser a base política, exemplificada com a retirada dos Papas do poder. d) O Estado Moderno rompe socialmente e politicamente com a religião, ela não faz mais sentido, pois o homem passa a ser o centro do universo, e Deus deixa de existir no imaginá- rio da população. e) O Estado Moderno surgiu devido as reivindicações dos senhores feudais que já não davam mais conta da segurança de seus feudos, por isso são os principais patrocinadores dos reis que aparecem na Europa. QUESTÃO 3 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • O Estado Moderno teve que vencer primeiramente os regionalismos, ou seja, a descentralização do poder; além do universalismo medieval, pois desejava a formação de uma sociedade nacional. Para que a Nação se consolidasse, fazia-se necessárioadotar algumas medidas, tais como: es- tabelecer um idioma comum, com o objetivo de fomentar o sentimento nacionalista; definir os territórios de cada governo nacional; transformar o suserano (senhor feu- dal) e o vassalo (servo) em soberano (rei) e súditos. Po- de-se concluir que o Estado Moderno: a) Não conseguiu vencer o regionalismo, por isso nunca foi colocado em prática. b) Só conseguiu vencer o nacionalismo com a ideia e o sentimento regionalista. c) Ao estabelecer um idioma comum, ajudou na constru- ção da identidade da nação. d) Ao definir os territórios de cada nação, prejudicou a construção das Monarquias Nacionais. e) Não conseguiu se consolidar no inicio do século XIV pois a centralização politica já existente na Europa não permitia tal transformação. QUESTÃO 4 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Para Max Weber o Estado moderno é “uma comunidade humana que, dentro dos limites de determinado território (...), reivindica o monopólio do uso legítimo da violência física”. “(...) o Estado consiste em uma relação de dominação do homem pelo homem, com base no instrumento da violência legítima – ou seja, da violência considerada como legítima” (61). “O Estado moderno é um agrupamento de dominação que apresenta caráter institucional e que procurou – com êxito – monopolizar, nos limites de um território, a violência física legítima como instrumento de domínio e que, tendo esse objetivo, reuniu nas mãos dos dirigentes os meios materiais de gestão” (66). Weber aponta três fundamentos da legitimidade da dominação do estado: 1) a tradição: “a autoridade do “passado eterno”; a autoridade dos costumes santificados pela validez imemorial e pelo hábito, enraizado nos homens, de respeitá-los”. 2) o carisma: “a autoridade que se baseia em dons pessoais e extraordinários de um indivíduo”. O seguidor do líder carismático trabalha “com a devoção de um crente em favor do êxito da causa de uma personalidade e não somente em favor das abstratas mediocridades contidas num programa”. 3) a legalidade: “a autoridade que se impõe pela crença na validez de um estatuto legal e de uma “competência” positiva, estruturada em regras racionalmente estabelecidas” (disponível em http://stoa.usp. br/alex/files/2173/12396/weberpolitica.pdf A partir do texto III, pode- se afirmar que: a) Os homens conseguem alcançar a liberdade através do Estado. b) Os homens são dominados pelo Estado. c) Os homens se veem livres da violência devido ao Es- tado. d) Os homens não são limitados pelo território do Es- tado. e) Os homens são os dominantes dentro do Estado, pois o poder está em suas mãos. QUESTÃO 5 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • O racionalismo almejado pelos Iluministas do século XVIII batia de frente com as visões religiosas dos séculos anteriores. O Iluminismo colocava em pauta o mundo e tudo nele contido: o Homem e a Natureza. O iluminismo era claro, com relação ao homem: um indivíduo capaz de realizar intervenções e mudanças na natureza para que essa lhe proporcionasse conforto e prazer. Seguindo esse raciocínio, pode-se dizer que, para o Homem das Luzes, a Natureza era: a) misteriosa e incalculável, sendo a base da religiosidade do período, o lugar onde os homens reconheciam a presença física de Deus e sua obra de criação; b) apenas reflexo do desenvolvimento da capacidade artística do homem, pois ajudava-o a criar a ideia de um progresso ilimitado relacionado à indústria; c) um laboratório para os experimentos humanos, pois era reconhecida pelo homem como a base do progresso e entendimento do mundo; daí a fisiocracia ser a principal representante da industrialização iluminista; d) a base do progresso material e técnico, fundamento das fábricas, sem a qual as indústrias não teriam condições de desenvolver a ideia de mercado; e) infinita e inesgotável, constituindo-se um campo privilegiado da ação do homem, dando em troca condição de sobrevivência, principalmente no que se refere ao seu sustento econômico. GABARItO 1.B 2.B 3.C 4.B 5.E 35 A REVOLUÇÃO INDUStRIAL E A NOVA DINÂMICA SOCIAL Nesse capítulo buscaremos compreender as transformações sociais que ocorreram com a Revolução Industrial. Uma nova estrutura é instaurada na vida dos trabalhadores, nasce um novo modelo de sociedade, um novo ritmo de vida. A Revolução Industrial ocorrida na Inglaterra inaugura uma nova dinâmica social. A partir da afirmação do chamado de capitalismo industrial (XVIII), a sociedade não é mais dividida em estamentos como no feudalismo, surge um novo tipo de estratificação: a classe social, que é marcada por sua mobilidade social (mudança de posição social). O nascimento do Capitalismo e suas fases Antes do capitalismo industrial, o mundo europeu viver duas fases: o pré-capitalismo (XI ao XV); e o capitalismo mercantil (XV-XVIII), amparado no mercantilismo, que acredita que o comércio era a principal fonte geradora de riqueza. a) O pré-capitalismo O pré-capitalismo refere-se à expansão do comércio artesanal, os artesãos independentes são os donos do meio de produção, e nos deparamos aqui com o trabalho assalariado. No entanto, paralelamente no campo, o sistema feudal prossegue com o trabalho servil, que de forma gradual vai dando espaço para o trabalho assalariado. b) O capitalismo mercantil O capitalismo mercantil, no contexto político do Absolutismo, dá continuidade ao trabalho independente, e o trabalho assalariado vai preenchendo o novo sistema que se inicia enquanto o antigo sistema servil vai desaparecendo. Neste momento o lucro passa a se concentrar nas mãos dos comerciantes. Este período foi marcado pelas Grandes Navegações, a criação de um mercado mundial a partir da colonização. Este período foi à transição do sistema feudal para o capitalismo de fato. A política econômica era o mercantilismo, uma maneira de olhar para a economia, baseada no acúmulo de metais preciosos; balança comercial favorável; e na intervenção do Estado na economia, tendo em vista que era um Estado Absolutista. A partir do Iluminismo tais ideias foram deixadas de lado. c) O capitalismo industrial Com o capitalismo industrial, o foco está na indústria, o capital se volta pra ela. Neste momento o trabalho servil pede definitivamente seu espaço, e os trabalhadores passam a receber salários por seus trabalhos, ou seja, vendem sua força de trabalho como meio de subsistência. CAPÍTULO 9 • • • • • • • • • • A REVOLUÇÃO INDUStRIAL E A NOVA DINÂMICA SOCIAL O europeu se depara com uma nova maneira de enxergar o mundo e de viver nele. As mudanças são profundas, o homem passa a ter novas experiências, desaparecem instituições até então vigentes, na medida em que surgem novas. Nascem novos hábitos no horário de acordar e dormir, além da alimentação, tendo em vista que anteriormente a vida europeia era essencialmente no campo, o ritmo de vida era outro. Com a Revolução Industrial o relógio é quem dita o tempo, não mais fenômenos naturais como a nascer e o pôr do sol. Diante de tantas transformações materiais, a maneira de pensar do mundo industrial também é modificada significativamente, tornando-se mais racional e científica, substituindo as explicações teológicas, filosóficas e de senso comum. “Antes da Revolução Industrial, a atividade produtiva era artesanal e manual (daí o termo manufatura), no máximo com o emprego de algumas máquinas simples. Dependendo da escala, grupos de artesãos podiam se organizar e dividir algumas etapas do processo, mas muitas vezes um mesmo artesão cuidava de todo o processo, desde a obtenção da matéria-prima até à comercialização do produto final. Esses trabalhos eram realizados em oficinas nas casas dos próprios artesãos e os profissionais da época dominavam muitas (se não todas) etapas do processo produtivo.”(BURNS, Edward McNall. História da Civilização Ocidental. 36. ed. São Paulo: Globo, 1995, p. 513-514)A relação trabalhador/ meio de produção torna- se problemática, pois o meio de produção passou a ser a máquina, e o trabalhador não tem a posse dela, ou seja, no processo de produção ele só pode oferecer a mão-de-obra, tornando-se dependente do dono dos meios de produção: o burguês. A produção através de máquinas elevou a quantidade de mercadorias produzida, alterando o valor simbólico e econômico desses produtos. A Revolução Industrial concentrou nas mãos dos empresários o controle sobre as máquinas, as terras, e sobres os seres humanos denominados trabalhares, que não possuíam nada, apenas seu corpo como mão-de-obra, pobres e explorados. “as consequências da rápida industrialização e urbanização levadas a cabo pelo sistema capitalista foram tão visíveis quanto trágicas: aumento assustador da prostituição, do suicídio, do alcoolismo, do infanticídio, da criminalidade, da violência, de surtos de epidemias de tifo e cólera que dizimavam parte da população, etc.” (MARTINS, CARLOS B) Vale ressaltar que o processo de industrialização afetou diretamente o processo de urbanização, concentrando trabalhadores em bairros industriais com precárias condições de vida, com jornada de trabalho jornadas de trabalho absurdas para o contexto atual, pois eram em torno de catorze a dezesseis horas por dia, sem nenhuma direito trabalhista como existe hoje, por exemplo: férias, décimo terceiro, descanso remunerado, aposentadoria. 36 filosofia e sociologia caPÍTUlo 9 - a ReVolUÇÃo iNDUsTRial e a NoVa DiNÂMica social Todos esses direitos só foram conquistados no século XX, a partir de muitas lutas e greves. Além do proletário e do burguês, a sociedade industrial é composta por uma classe média (profissionais liberais e pequenos produtores rurais) e por funcionários do Estado. De fato esse novo mundo precisava ser compreendido a partir de um método de estudo, a fim de apresentar um resultado para sociedade, pois era necessário entende como o mundo europeu havia chegado a tal estágio e quais os caminhos ele poderia tomar. EXERCíCIOS QUESTÃO 1 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • “... Um operário desenrola o arame, o outro o endireita, um terceiro corta, um quarto o afia nas pontas para a colocação da cabeça do alfinete; para fazer a cabeça do alfinete requerem-se 3 ou 4 operações diferentes, ...” SMITH, Adam. A Riqueza das Nações. Investigação sobre a sua Natureza e suas Causas. Vol. I. São Paulo: Nova Culturas, 1985. A respeito do texto e do quadrinho são feitas as seguintes afirmações: I. Ambos retratam a intensa divisão do trabalho, à qual são submetidos os operários. II. O texto refere-se à produção informatizada e o quadrinho, à produção artesanal. III. Ambos contêm a ideia de que o produto da atividade industrial não depende do conhecimento de todo o processo por parte do operário. Dentre essas afirmações, apenas a) I está correta. b) II está correta. c) III está correta. d) I e II estão corretas. e) I e III estão corretas. QUESTÃO 2 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Até o século XVII, as paisagens rurais eram marcadas por atividades rudimentares e de baixa produtividade. A partir da Revolução Industrial, porém, sobretudo com o advento da revolução tecnológica, h ouve um desenvolvimento contínuo do setor agropecuário. São, portanto, observadas consequências econômicas, sociais e ambientais inter- relacionadas no período posterior à Revolução Industrial, as quais incluem a) a erradicação da fome no mundo. b) o aumento das áreas rurais e a diminuição das áreas urbanas. c) a maior demanda por recursos naturais, entre os quais os recursos energéticos. d) a menor necessidade de utilização de adubos e corretivos na agricultura. e) o contínuo aumento da oferta de emprego no setor primário da economia, em face da mecanização. QUESTÃO 3 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Homens da Inglaterra, por que arar para os senhores que vos mantêm na miséria? Por que tecer com esforços e cuidado as ricas roupas que vossos tiranos vestem? Por que alimentar, vestir e poupar do berço até o túmulo esses parasitas ingratos que exploram vosso suor — ah, que bebem vosso sangue? SHELLEY. Os homens da Inglaterra. Apud HUBERMAN, L. Historia da Riqueza do Homem. Rio de Janeiro: Zahar, 1982. A análise do trecho permite identificar que o poeta romântico Shelley (1792-1822) registrou uma contradição nas condições socioeconômicas da nascente classe trabalhadora inglesa durante a Revolução Industrial. Tal contradição está identificada a) na pobreza dos empregados, que estava dissociada da riqueza dos patrões. b) no salário dos operários, que era proporcional aos seus esforços nas indústrias. c) na burguesia, que tinha seus negócios financiados pelo proletariado. d) no trabalho, que era considerado uma garantia de liberdade. e) na riqueza, que não era usufruída por aqueles que a produziam. QUESTÃO 4 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • A Inglaterra pedia lucros e recebia lucros. Tudo se transformava em lucro. As cidades tinham a sua sujeira lucrativa, suas favelas lucrativas, sua fumaça lucrativa, sua desordem lucrativa, sua ignorância lucrativa, seu desespero lucrativo. As novas fábricas e os novos alto-fornos eram como as Pirâmides, mostrando mais a escravização do homem que o seu poder. DEANE, P. A Revolução Industrial. Zahar, 1979 (adaptado) Qual relação é estabelecida no texto, entre os avanços tecnológicos ocorridos no contexto da revolução Industrial Inglesa, e as características das cidades industriais no início do século XIX? a) A facilidade em se estabelecer relações lucrativas, transformava as cidades em espaços privilegiados para livre iniciativa, característica da nova sociedade capitalista. b) O desenvolvimento de métodos de planejamento 37 filosofia e sociologiacaPÍTUlo 9 - a ReVolUÇÃo iNDUsTRial e a NoVa DiNÂMica social urbano, aumentava a eficiência do trabalho industrial. c) A construção de núcleos urbanos integrados por meios de transporte facilitava o deslocamento dos trabalhadores das periferias até as fábricas. d) A grandiosidade dos prédios onde se localizavam as fábricas, revelavam os avanços da engenharia e da arquitetura do período, transformando as cidades em locais de experimentação estética e artística. e) O alto nível de exploração dos trabalhadores industriais, ocasionava o surgimento de aglomerados urbanos, marcados por péssimas condições de moradia, saúde e higiene. QUESTÃO 5 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • “...o produto da atividade humana é separado de seu produtor e açambarcado por uma minoria: a substância humana é absorvida pelas coisas produzidas, em lugar de pertencer ao homem...” Dentre as consequências sociais da Revolução Industrial pode-se mencionar: a) a melhoria das condições de habitação e sobrevivência para o operariado, proporcionada pelo surto de desenvolvimento econômico. b) a ascensão social dos artesãos que reuniram seus capitais e suas ferramentas em oficinas ou domicílios rurais dispersos, aumentando os núcleos domésticos de produção. c) a criação do Banco da Inglaterra, com o objetivo de financiar a monarquia e ser também, uma instituição geradora de empregos. d) o desenvolvimento de uma camada social de trabalhadores, que destituídos dos meios de produção, passaram a sobreviver apenas da venda de sua força de trabalho. e) o desenvolvimento de indústrias petroquímicas favorecendo a organização do mercado de trabalho, de maneira a assegurar emprego a todos os assalariados. GABARItO 1.E 2.C 3.E 4.E 5.D ANOtAÇÕES 38 A REVOLUÇÃO FRANCESA E A tRANSFORMAÇÃO pOLítICA NO MUNDO OCIDENtAL Nesse capítulo buscaremos compreender as transformações sociais que ocorreram no mundo europeu a partir da Revolução Francesa. Uma nova estrutura política é instaurada na vidados cidadãos. França e Inglaterra: contribuições diferentes Todas as transformações mencionadas nos capítulos treze e quatorze resultam, no caso francês, na chamada Revolução Francesa (1789). No entanto, tal revolução local repercutiu no mundo ocidental, transformando-o politicamente. Economicamente a Inglaterra mexeu com a estrutura do mundo com sua Revolução Industrial, já ideológica e politicamente isso ficou por conta da França. A semente da Revolução O Iluminismo francês criou um aparato de novas ideias, com um novo discurso acerca do imaginário político social, e elas tornaram- se as armas da revolução: liberdade; igualdade; fraternidade; divisão dos poderes em executivo, legislativo e judiciário; direitos humanos; constituição; Novo Estado; etc. A Revolução Francesa teve como palco das manifestações o mais poderoso país da Europa da época. Naquele contexto a França era o país mais populoso da Europa. Enquanto a população passava fome, as pessoas que pertenciam à monarquia absolutista usufruíam de muitos privilégios. Venham todos! A revolução Francesa chamou toda a nação para o debate público e político, atitude inadmissível no Estado Absolutista, tendo em vista que o mundo politico estava não mãos do Rei. Vale ressaltar que se tratou de uma revolução burguesa, mas com a participação popular, que via no movimento uma oportunidade de transformar o mundo miserável ao seu redor. Os trabalhadores urbanos, camponeses e a pequena burguesia comercial pagavam altíssimos impostos para manter os luxos da nobreza, e qualquer trabalhador que tentasse questionar a forma de governo vigente era preso na Bastilha (prisão política da monarquia) ou condenado à morte. CAPÍTULO 10 • • • • • • • • • • A REVOLUÇÃO FRANCESA E A tRANSFORMAÇÃO pOLítICA “Allons enfants de la Patrie Le jour de gloire est arrivé ! Contre nous de la tyrannie L’étendard sanglant est levé L’étendard sanglant est levé Entendez-vous dans nos campagnes Mugir ces féroces soldats? Ils viennent jusque dans vos bras. Égorger vos fils, vos compagnes! Aux armes citoyens Formez vos bataillons Marchons, marchons Qu’un sang impur abreuve nos sillons” (Hino da França - La Marseillaise) “Avante, filhos da Pátria, O dia da Glória chegou. Contra nós, a tirania O estandarte encarnado se eleva! Ouvis nos campos rugirem Esses ferozes soldados? Vêm eles até nós Degolar nossos filhos, nossas mulheres. Às armas cidadãos! Formai vossos batalhões! Marchemos, marchemos! Nossa terra do sangue impuro se saciará!” (tradução - A Marselhesa. Uma Revolução Burguesa: o desejo pelo poder político. A revolução foi uma manifestação contra a sociedade hierárquica que propunha à nobreza grandes privilégios, mas não estava tão preocupada com a sociedade democrática e igualitária, pois acreditavam na necessidade de uma distinção social ao defender a propriedade privada e uma assembleia representativa que não era democraticamente eleita. Os representantes da pequena e média burguesia e das camadas populares desejavam justiça social e direitos políticos. Com o tema Liberdade e Igualdade, o homem francês se questiona sobre a submissão que exerceu durante anos, desenvolvendo um novo olhar sobre a sociedade, vendo- se como participante dela. Este novo homem ganha autonomia na vida social. E, diante da racionalização do mundo para compreender seu funcionamento (ideias amparadas do Iluminismo), surge a Sociologia como uma tentativa de compreensão, era a ciência que aparecia como fruto da revolução, das transformações sociais. A revolução Francesa alterou completamente as relações sociais. Extinguindo a nobreza do controle do poder e a monarquia absoluta, a revolução criou uma nova estrutura social na França e posteriormente em toda a Europa. Mudanças e permanências 39 filosofia e sociologiacaPÍTUlo 10 - a ReVolUÇÃo fRaNcesa e a TRaNsfoRMaÇÃo PolÍTica Como é possível observar, a ideia de igualdade ficou só na ideia, pois a burguesia ocupou o lugar da nobreza e fez do Estado um instrumento de interesse da sua classe social. Os direitos políticos, de votar e ser votado, eram direitos apenas da elite econômica, pois existia um modelo político de voto censitário, modelo este se difundiu pelo mundo Ocidental e que perdurou até o século XX. A revolução conseguiu: • Confiscar propriedades da Igreja, • Transferir as funções da educação, que até então eram atribuições da Igreja e da família, para o Novo Estado que se formava, • Acabou com os privilégios da Nobreza, • O Novo Estado passou a auxiliar os empresários (burgueses). E a desigualdade continuava. Com o surgimento da sociologia, cada esfera da sociedade passa por um cuidadoso olhar científico, com o objetivo de analisar e esclarecer como as mudanças ocorreram. EXERCíCIOS QUESTÃO 1 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Algumas transformações que antecederam a Revolução Francesa podem ser exemplificadas pela mudança de significado da palavra “restaurante”. Desde o final da Idade Média, a palavra ‘restaurant’ designava caldos ricos, com carne de aves e de boi, legumes, raízes e ervas. Em 1765 surgiu, em Paris, um local onde se vendiam esses caldos, usados para restaurar as forças dos trabalhadores. Nos anos que precederam a Revolução, em 1789, multiplicaram-se diversos ‘restaurateurs’, que serviam pratos requintados, descritos em páginas emolduradas e servidos não mais em mesas coletivas e mal cuidadas, mas individuais e com toalhas limpas. Com a Revolução, cozinheiros da corte e da nobreza perderam seus patrões, refugiados no exterior ou guilhotinados, e abriram seus restaurantes por conta própria. Apenas em 1835, o Dicionário da Academia Francesa oficializou a utilização da palavra restaurante com o sentido atual. A mudança do significado da palavra restaurante ilustra a) a ascensão das classes populares aos mesmos padrões de vida da burguesia e da nobreza. b) a apropriação e a transformação, pela burguesia, de hábitos populares e dos valores da nobreza. c) a incorporação e a transformação, pela nobreza, dos ideais e da visão de mundo da burguesia. d) a consolidação das práticas coletivas e dos ideais revolucionários, cujas origens remontam à Idade Média. e) a institucionalização, pela nobreza, de práticas coletivas e de uma visão de mundo igualitária. QUESTÃO 2 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Em 4 de julho de 1776, as treze colônias que vieram inicialmente a constituir os Estados Unidos da América (EUA) declaravam sua independência e justificavam a ruptura do Pacto Colonial. Em palavras profundamente subversivas para a época, afirmavam a igualdade dos homens e apregoavam como seus direitos inalienáveis: o direito à vida, à liberdade e à busca da felicidade. Afirmavam que o poder dos governantes, aos quais cabia a defesa daqueles direitos, derivava dos governados. Esses conceitos revolucionários que ecoavam o Iluminismo foram retomados com maior vigor e amplitude treze anos mais tarde, em 1789, na França. Emília Viotti da Costa. Apresentação da coleção. In: Wladimir Pomar. Revolução Chinesa. São Paulo: UNESP, 2003 (com adaptações). Considerando o texto acima, acerca da independência dos EUA e da Revolução Francesa, assinale a opção correta. a) A independência dos EUA e a Revolução Francesa integravam o mesmo contexto histórico, mas se baseavam em princípios e ideais opostos. b) O processo revolucionário francês identificou-se com o movimento de independência norte-americana no apoio ao absolutismo esclarecido. c) Tanto nos EUA quanto na França, as teses iluministas sustentavam a luta pelo reconhecimento dos direitos considerados essenciais à dignidade humana. d) Por ter sido pioneira, a Revolução Francesa exerceu forte influência no desencadeamento da independência norte americana. e) Ao romper o Pacto Colonial, a Revolução Francesa abriu o caminho para as independências das colônias ibéricas situadasna América. QUESTÃO 3 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Em nosso país queremos substituir o egoísmo pela moral, a honra pela probidade, os usos pelos princípios, as conveniências pelos deveres, a tirania da moda pelo império da razão, o desprezo à desgraça pelo desprezo ao vício, a insolência pelo orgulho, a vaidade pela grandeza de alma, o amor ao dinheiro pelo amor à glória, a boa companhia pelas boas pessoas, a intriga pelo mérito, o espirituoso pelo gênio, o brilho pela verdade, o tédio da volúpia pelo encanto da felicidade, a mesquinharia dos grandes pela grandeza do homem. HUNT, L. Revolução Francesa e Vida Privada. In: PERROT, M. (Org.) História da Vida Privada: da Revolução Francesa à Primeira Guerra. Vol. 4. São Paulo: Companhia das Letras, 1991 (adaptado). O discurso de Robespierre, de 5 de fevereiro de 1794, do qual o trecho transcrito é parte, relaciona-se a qual dos grupos político-sociais envolvidos na Revolução Francesa? a) À alta burguesia, que desejava participar do poder legislativo francês como força política dominante. 40 filosofia e sociologia caPÍTUlo 10 - a ReVolUÇÃo fRaNcesa e a TRaNsfoRMaÇÃo PolÍTica b) Ao clero francês, que desejava justiça social e era ligado à alta burguesia. c) A militares oriundos da pequena e média burguesia, que derrotaram as potências rivais e queriam reorganizar a França internamente. d) À nobreza esclarecida, que, em função do seu contato, com os intelectuais iluministas, desejava extinguir o absolutismo francês. e) Aos representantes da pequena e média burguesia e das camadas populares, que desejavam justiça social e direitos políticos. QUESTÃO 4 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Na França, o rei Luís XIV teve sua imagem fabricada por um conjunto de estratégias que visavam sedimentar uma determinada noção de soberania. Neste sentido, a charge apresentada demonstra a) a humanidade do rei, pois retrata um homem comum, sem os adornos próprios à vestimenta real. b) a unidade entre o público e o privado, pois a figura do rei com a vestimenta real representa o público e sem a vestimenta real, o privado. c) o vínculo entre monarquia e povo, pois leva ao conhecimento do público a figura de um rei despretensioso e distante do poder político. d) o gosto estético refinado do rei, pois evidencia a elegância dos trajes reais em relação aos de outros membros da corte. e) a importância da vestimenta para a constituição simbólica do rei, pois o corpo político adornado esconde os defeitos do corpo pessoal. QUESTÃO 5 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • “Um comerciante está acostumado a empregar o seu dinheiro principalmente em projetos lucrativos, ao passo que um simples cavalheiro rural costuma empregar o seu em despesas. Um frequentemente vê seu dinheiro afastar- se e voltar às suas mãos com lucro; o outro, quando se separa do dinheiro, raramente espera vê-lo de novo. Esses hábitos diferentes afetam naturalmente os seus temperamentos e disposições em toda espécie de atividade. O comerciante é, em geral, um empreendedor audacioso; o cavalheiro rural, um tímido em seus empreendimentos...” Adam Smith, A RIQUEZA DAS NAÇÕES, Livro III, capítulo 4) Neste pequeno trecho, Adam Smith, contrapõe lucro a renda, pois geram racionalidades e modos de vida distintos. A respeito do contexto histórico de emergência da Sociologia, marque a alternativa correta. a) A Sociologia consolidou-se, disciplinarmente, em resposta aos novos problemas e desafios desencadeados por transformações sociais, políticas, econômicas e culturais, cujos marcos históricos principais foram a Revolução Industrial e a Revolução Francesa. b) Um dos principais legados do Iluminismo foi a crítica severa às concepções científicas da realidade social, combinada com a reafirmação de princípios e interpretações de cunho religioso. c) A crescente legitimidade científica do saber sociológico, produzido por autores como Auguste Comte e Émile Durkheim, deveu-se à sua forte crítica ao Iluminismo. d) Herdeira direta das transformações sociais desencadeadas pela Revolução Industrial e pela Revolução Francesa, a Sociologia ignorou os métodos racionais de investigação em favor do conhecimento produzido pelo senso-comum. e) A sociologia surgiu mediante a necessidade de se explicar a sociedade as questões teológicas inerentes daquele momento. GABARItO 1.B 2.C 3.E 4.E 5.A ANOtAÇÕES 41 FILOSOFIA ARISTÓTELES Esse capítulo fechará a trilogia: Sócrates - Platão - Aristóteles, consagrada na história da Filosofia. Aristóteles é o mais completo dos três, discutiu sobre várias áreas do saber, veremos a seguir como ele desenvolveu sua filosofia e a herança deixada para nós. Vida de Aristóteles Sócrates e Platão eram figuras de Atenas, Aristóteles um filósofo do Império Greco-Macedônico. Aristóteles (384- 322 a.C.) nasceu em Estagira, cidade da Macedônia. Seu pai era o médico do rei da Macedônia, fato que contribuiu para sua formação tão ampla e completa. Aos 17 anos (por volta de 367 a.C), foi para a Academia de Platão em Atenas, convivendo 20 anos com seu mestre. O contexto histórico e social de Aristóteles pode ser considerado fundamental para suas escolhas pelo mundo sensível e experimental, e só posteriormente pelo mundo Metafísico. Após a morte de Platão, Aristóteles retorna à Macedônia, torna-se preceptor de Alexandre, filho do Rei Filipe II. O menino Alexandre conquistou as cidades-Estado daquela região, e veio a ser intitulado como Alexandre, o Grande. Aristóteles foi um filósofo profissional, e não um professor de Filosofia. Ele não herdou a Academia de Platão, montando então o Liceu para competir com a Academia (período em que a Grécia estava sendo dominada por Alexandre, por isso Aristóteles retorna à Atenas para criar sua escola.) No final de sua vida foge de Atenas, pois os Gregos já não viam mais os Macedônios com bons olhos. Aristóteles volta para Macedônia, para que Atenas não cometesse o segundo erro, condená-lo a morte, pois já havia cometido o primeiro condenando Sócrates. Aristóteles tinha um desejo pelo conhecimento, era curioso, e percorreu por vários campos de discussão. Foi um filósofo completo, estudou física, biologia, ética, lógica, política (...). Podemos dizer até que foi o primeiro “cientista” do mundo Ocidental. A diferença entre platão e Aristóteles Escola de Atenas, de Rafael Sanzio afresco, pintado de 1509 a 1510 Stanza della Segnatura (Vaticano) De um lado Platão, com sua dialética, entendida como ápice do saber; do outro Aristóteles, com a lógica, entendida como conjunto de técnicas para bem argumentar. Deparamo-nos aqui com o embate entre o universal que é o conceito; e o particular, visto como realidade. Platão apontando para acima e Aristóteles para baixo. CAPÍTULO 11 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • ARIStÓtELES filosofia capítulo 11 - aRistÓtElEs 42 Pense no seguinte problema: O que é a Escola? A Sala de aula é a sala de aula, não é a escola. O corredor é o corredor. O professor é o professor, não é a escola. Os alunos são os alunos. O refeitório é o refeitório. Então, o que é a Escola no conceito universal? Para Platão a escola existe. Para Aristóteles só é possível conhecer cada coisa que compõe a Escola. Sendo assim, voltamos no embate entre o universal (conceito) e o particular (realidade). Platão é um estudioso da Matemática, de estudos abstratos e conceitos. Aristóteles tem um pai Médico, sendo assim parte do empírico, do real, do que pode ser entendido parte a parte, o particular. O pensamento Sistemático Aristóteles é uma espécie de enciclopedista de seu tempo, pois se depara com uma grande quantidade de saber já produzido desde os pré-socráticos até Platão, o que fundamentou a Filosofia daquele momento, pois tudoque havia sido produzido até Aristóteles, em seu conjunto, era o que denominava a Filosofia. Esta “ciência” buscava compreender a totalidade do conhecimento, e toda esta ânsia de saber cai nas mãos de Aristóteles, e cabe a ele sistematizar todo o conjunto de pensamentos e práticas humanas. A lógica Aristóteles hierarquizou todo o conhecimento que o mundo Grego havia elaborado, sistematizou partindo dos mais simples e inferiores aos mais complexos e superiores. Segundo Aristóteles, para que seja possível conhecer o objeto e o campo de estudo, faz-se necessário conhecer os princípios e as leis que governam o pensamento, o que chamamos de Lógica. A Lógica não é uma ciência, mas o meio pelo qual necessitamos passar para chegar à ciência. Sua intenção era engendrar um mecanismo seguro para a elaboração da ciência, encontramos esta pretensão na obra Organon, que é um conjunto de textos sobre lógica, no qual o filósofo sistematiza e problematiza algumas das afirmações que tinham sido feitas pelos pré-socráticos e por Platão. A Questão do Ser: O que É? No que se refere à pergunta: O que é? Platão resolve com a teoria das formas. Aristóteles com a teoria as causas. Para Aristóteles o problema da teoria das formas de Platão é que este acredita que o pensamento sobre algo independe deste algo, ou seja, acima dos objetos que existem no mundo real existe um conceito abstrato deste objetivo. Já Aristóteles acredita que a observação dos objetos nos leva ao conceito deste objeto. Exemplo: — Aristóteles acredita que observar vários cachorros e comparar os diferentes cachorros leva a um conceito de cachorro. Enquanto que Platão acredita que o conceito de cachorro existe mesmo sem conhecermos o cachorro. Para responder a pergunta do ser, Aristóteles se utilizada da teoria das quatro causas diferentes e complementares: formal, material, eficiente, final. — Causa material: no exemplo da cadeira, a causa material é: madeira e metal. — Causa formal: a própria cadeira, a forma de cadeira, pois com madeira e metal é possível fazer inúmeras coisas. — Causa eficiente: a causa eficiente da cadeira é a ação do carpinteiro ou dos proletários da fábrica de cadeiras. — Causa final: a causa final é a intenção do construtor, qual a finalidade? Para que serve a cadeira? Para Aristóteles a essência de qualquer objeto é a sua finalidade. Entendendo isso, entendemos as coisas. Física e Metafísica “o percurso naturalmente vai desde o mais cognoscível e mais claro para nós em direção ao mais claro e mais cognoscível por natureza...” (ARISTÓTELES - Física I,184a16-17) Os seres da natureza e seu movimento são o objeto da física para Aristóteles. Para explicar o movimento da natureza e dos seres ele cria a teoria do Ato-Potência. O problema do movimento sempre esteve presente na Filosofia, desde o seu surgimento. Tal problema encontra seu grande paradoxo entre o “tudo muda” de Heráclito e a “permanência” de Parmênides. Aristóteles não nega o vir- a-ser de Heráclito, nem o ser de Parmênides, mas articula essas duas concepções de mundo. O “movimento” significa a “mudança” e “devir”. O problema do movimento foi um dos principais desafios com que o pensamento Aristotélico se depara. A física aristotélica é, resumidamente, uma teoria do movimento. “Tudo o que se move é movido por alguma coisa”. No entanto, para explicar epistemologicamente o movimento, é preciso buscar respostas na Metafísica, onde encontramos às noções de ato e potência. Aristóteles foi o primeiro filósofo a resolver os paradoxos do movimento pela teoria do ato e da potência. filosofia capítulo 11 - aRistÓtElEs 43 Resumindo: O ser é em Ato e Potência. Tudo está em Ato com Potência para se tornar outro Ato, que tem Potência para se tornar outro Ato, e assim sucessivamente. A transição de Ato para Potência é o que constitui o movimento segundo Aristóteles. Exemplificando: A semente da laranja está em ato, com potência para ser uma árvore. Quando se torna árvore é árvore em ato, com potência para dar frutos, a laranja. A laranja é laranja em ato, com potência para se tornar suco. Para Aristóteles este movimento Ato-Potência é um movimento natural. E o caminho do entendimento vai do simples ao complexo. Diante disso nos perguntamos: Para onde todas as coisas tendem? A partir desta indagação, Aristóteles cria a compreensão da divindade como motor imóvel, ato puro que atrai todas as coisas, pois as coisas tendem para o mais complexo. O Ato Puro não se relaciona com o mundo. Deus, de acordo com esse pensamento, nem sequer conhece o mundo, uma vez que o conhecer é movimento, é atualização de uma potência, e a divindade, sendo perfeita, é ato puro. Para Aristóteles tudo que se move se move para o Motor Imóvel que é o Ato Puro. Tudo tende em direção ao Bem que é o Motor Imóvel. O Bem é como a força que move o Universo. Ética e política “Toda arte e toda investigação, assim como toda ação e toda escolha, tem em mira um bem qualquer; por isso foi dito, com muito acerto, que o Bem é aquilo a que todas as coisas tendem” (ARISTÓTELES. Os Pensadores. Ed Abril Cultural. São Paulo.1973. 1094 a, pag 249) O trecho acima se refere às primeiras linhas da obra “Ética Nicômaco” de Aristóteles, no qual ele afirma que todas as coisas tendem em direção ao Bem. Para Aristóteles o sentido da Ética é a Felicidade, e para encontrar a felicidade é preciso viver bem, logo existe uma intrínseca relação entre ética e bem. Aristóteles mostra, na obra “Ética Nicômaco” como viver bem, como buscar o bem. Acredita que a Política compreende melhor o que é felicidade, pois o homem só consegue realizar sua natureza na comunidade política. Para Aristóteles, para todas as coisas que fazemos existe um fim, evidentemente tal fim será o bem. A partir do momento que o ser humano percebe que o fim último é o bem, fica mais fácil alcança-lo. O estudo do bem pertence, segundo o filósofo, à arte mestra, que para ele é a Política. A finalidade da política é o Bem Humano. O bem mais belo e mais divino é o alcançado por todos os membros da sociedade, e não apenas pelo individuo, pois “o homem é um animal Político”. E aquele que conhece o Bem fará o bem, pois é um bom juiz do assunto, e a ciência Política investiga as ações belas e justas. Aristóteles nos apresenta a virtude como o justo meio, a virtude é um ponto intermediário entre dois extremos. Sendo o Bem para onde tudo tende, acredita-se que é a finalidade das coisas. Para Aristóteles, o sumo Bem é um fim absoluto. Absoluto é aquilo que é desejável em si mesmo, e nunca no interesse de outra coisa. E a felicidade é absoluta, ela é sempre procurada em si mesma, nunca com vista em outra coisa. Em si mesma significa não esperar um resultado. Ou seja, se o homem tivesse uma função, ela seria fazer o BEM. ExErCÍCiOs QUESTÃO 1 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Segundo Aristóteles, “na cidade com o melhor conjunto de normas e naquela dotada de homens absolutamente justos, os cidadãos não devem viver uma vida de trabalho trivial ou de negócios — esses tipos de vida são desprezíveis e incompatíveis com as qualidades morais —, tampouco devem ser agricultores os aspirantes à cidadania, pois o lazer é indispensável ao desenvolvimento das qualidades morais e à prática das atividades políticas”. VAN ACKER, T. Grécia. A vida cotidiana na cidade-Estado . São Paulo: Atual, 1994. O trecho, retirado da obra Política, de Aristóteles, permite compreender que a cidadania: (A) possui uma dimensão histórica que deve ser criticada, pois é condenável que os políticos de qualquer época fiquem entregues à ociosidade, enquanto o resto dos cidadãos tem de trabalhar. (B) era entendida como uma dignidade própria dos grupos sociais superiores, fruto de uma concepção política profundamente hierarquizada da sociedade. (C) estava vinculada, na Grécia Antiga, a uma percepção política democrática,que levava todos os habitantes da pólis a participarem da vida cívica. (D) tinha profundas conexões com a justiça, razão pela qual o tempo livre dos cidadãos deveria ser dedicado às atividades vinculadas aos tribunais. (E) vivida pelos atenienses era, de fato, restrita àqueles que se dedicavam à política e que tinham tempo para resolver os problemas da cidade. QUESTÃO 2 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • No que se refere à Filosofia Política, Aristóteles considera que só o homem é um animal político, porque somente ele é dotado de linguagem na forma de palavra (lógos) e com ela pode exprimir o bem e o mal, o justo e o injusto. O fato de os homens poderem estabelecer em comum esses valores é o que torna possível a vida social e política. Sobre o contexto político do autor mencionado acima, Assinale o que for incorreto. filosofia capítulo 11 - aRistÓtElEs 44 (A) A obra filosófica de Platão é isenta de qualquer mito, é o que permite caracterizá-la como sendo absolutamente racionalista. (B) A retórica é a arte da eloquência, de bem falar e argumentar. Foi utilizada na Antiguidade Clássica como um dos principais recursos da política. (C) Os sofistas desenvolveram e ensinaram a retórica como instrumentalização da linguagem cujo objetivo era torná-la uma estratégia para vencer adversários nos embates políticos. (D) Para os gregos antigos, a palavra mito (mythos) significa narrativa, é a palavra que narra a origem dos deuses, do mundo, dos homens, da comunidade humana e da vida do grupo social. (E) A linguagem para os gregos antigos tem duas formas de expressão: o mythos e o lógos. O mythos desenvolve a palavra mágica e encantatória; o lógos, a linguagem como poder de conhecimento racional. QUESTÃO 3 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • “No ethos (ética), está presente a razão profunda da physis (natureza) que se manifesta no finalismo do bem. Por outro lado, ele rompe a sucessão do mesmo que caracteriza a physis como domínio da necessidade, com o advento do diferente no espaço da liberdade aberto pela práxis. Embora, enquanto autodeterminação da práxis, o ethos se eleve sobre a physis, ele reinstaura, de alguma maneira, a necessidade de a natureza fixar-se na constância do hábito. (Adaptado de: VAZ, Henrique C. Lima. Escritos de Filosofia II. Ética e Cultura. 3ª edição. São Paulo: Loyola. Coleção Filosofia - 8, 2000, p.11-12.) A partir do texto, é correto afirmar que a noção de physis, tal como empregada por Aristóteles, compreende: (A) A disposição da ação humana, que ordena a natureza. (B) A finalidade ordenadora, que é inerente à própria natureza. (C) A ordem da natureza, que determina o hábito das ações humanas. (D) A origem da virtude articulada, segundo a necessidade da natureza. (E) A razão matemática, que assegura ordem à natureza. QUESTÃO 4 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Em primeiro lugar, é claro que, com a expressão “ser segundo a potência e o ato”, indicam-se dois modos de ser muito diferentes e, em certo sentido, opostos. Aristóteles, de fato, chama o ser da potência até mesmo de não-ser, no sentido de que, com relação ao ser-em-ato, o ser-em- potência é não-ser-em-ato. REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. Vol. II. Trad. de Henrique Cláudio de Lima Vaz e Marcelo Perine. São Paulo: Loyola, 1994, p. 349. A partir da leitura do trecho acima e em conformidade com a Teoria do Ato e Potência de Aristóteles, assinale a alternativa correta. (A) Para Aristóteles, ser-em-ato é o ser em sua capacidade de se transformar em algo diferente dele mesmo, como, por exemplo, o mármore que é um ser-em-ato, em relação à estátua um ser-em-potência. (B) Para Aristóteles, ser-em-potência é o ser em sua capacidade de se transformar em algo diferente dele mesmo, como, por exemplo, a árvore (ser-em-ato) em relação à cadeira que é ser-em-potência, e nunca se tornará ato. (C) Para Aristóteles, a bem da verdade, existe apenas o ser-em-ato. Isto ocorre porque o movimento verificado no mundo material é apenas ilusório, e o que existe é sempre imutável e imóvel. (D) Segundo Aristóteles, o ato é próprio do mundo sensível (das coisas materiais) e a potência se encontra tão- somente no mundo inteligível, apreendido apenas com o intelecto. (E) Segundo Aristóteles, a teoria do ato e potência explica o movimento percebido no mundo sensível. Tudo o que possui matéria possui potencialidade (capacidade de assumir ou receber uma forma diferente de si), que tende a se atualizar (assumindo ou recebendo aquela forma). QUESTÃO 5 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Aristóteles afirma que a justiça é “uma virtude completa, porém não em absoluto e sim em relação ao nosso próximo” ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Abril Cultural, 1973, p. 332. De acordo com essa caracterização, é correto dizer que a função própria e universal atribuída à justiça, no estado de direito, é (A) conceber e aplicar, de forma incondicional, ideias racionais com poder normativo positivo e irrestrito. (B) instituir um ideal de liberdade moral que não existiria se não fossem os mecanismos contidos nos sistemas jurídicos. (C) estabelecer a regência na relação mútua entre os homens, na medida em que isso seja possível por meio de leis. (D) promover, por meio de leis gerais, a reciprocidade entre as necessidades do Estado e as de cada cidadão individualmente. (E) determinar, para as relações sociais, critérios legais tão universais e independentes que possam valer por si mesmos. QUESTÃO 6 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • A felicidade é, portanto, a melhor, a mais nobre e a mais aprazível coisa do mundo, e esses atributos não devem estar separados como na inscrição existente em Delfos “das coisas, a mais nobre é a mais justa, e a melhor é a saúde; porém a mais doce é ter o que amamos”. Todos estes atributos estão presentes nas mais excelentes atividades, e entre essas a melhor, nós a identificamos como felicidade. ARISTÓTELES. A Política. São Paulo: Cia. Das Letras, 2010. filosofia capítulo 11 - aRistÓtElEs 45 Ao reconhecer na felicidade a reunião dos mais excelentes atributos, Aristóteles a identifica como: (A) busca por bens materiais e títulos de nobreza. (B) plenitude espiritual e ascese pessoal. (C) finalidade das ações e condutas humanas. (D) conhecimento de verdades imutáveis e perfeitas. (E) expressão do sucesso individual e reconhecimento público. QUESTÃO 7 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Texto I Olhamos o homem alheio às atividades públicas não como alguém que cuida apenas de seus próprios interesses, mas como um inútil; nós, cidadãos atenienses, decidimos as questões públicas por nós mesmos na crença de que não é o debate que é empecilho à ação, e sim o fato de não se estar esclarecido pelo debate antes de chegar a hora da ação. TUCÍDIDES. História da Guerra do Peloponeso. Brasília: UnB, 1987 (adaptado). Texto II Um cidadão integral pode ser definido por nada mais nada menos que pelo direito de administrar justiça e exercer função públicas; algumas destas, todavia, são limitadas quanto ao tempo de exercício, de tal modo que não podem de forma alguma ser exercidas duas vezes pela mesma pessoa, ou somente podem sê-lo depois de certos intervalos de tempo prefixados. ARISTÓTELES. Política. Brasilía: UnB, 1985. Comparando os textos I e II, tanto para Tucídides (no século V a.C.) quanto para Aristóteles (no século IV a.C.), a cidadania era definida pelo(a): (A) Prestígio social. (B) Acúmulo de riqueza. (C) Participação política. (D) Local de nascimento. (E) Grupo de parentesco. GABARItO ExErCÍCiOs 01. B 02. A 03. B 04. E 05. C 06. C 07. C ANOtAÇÕES 46 FILOSOFIA O HELENISMO Esse capítulo tem como objetivo explicar o inícioda difusão do pensamento grego pelo Ocidente e Oriente. É devido a esse momento histórico que nós estamos hoje estudando a Filosofia. O período Helenístico é o momento em que a cultura dos gregos que espalha pelo mundo. O período Helenístico O período denominado Helenístico marca o fim da Filosofia Clássica, que é a base da Filosofia Europeia: — Sócrates — Platão — Aristóteles Os gregos se autodenominam Helenos. Heleno foi um personagem da mitologia grega (grego em grego: Ελληνικά, Elliniká - heleno). Se fosse possível resumir o Helenismo, seria: período em que a cultura dos gregos é disseminada pelo mundo antigo. Neste momento a pólis grega como centro político perde sua hegemonia, pois a Grécia é invadida, primeiramente pelo Império Macedônio, e posteriormente pelo Império Romano. Os questionamentos levantados pelos filósofos clássicos tiveram continuidade durante este período, com ênfase nas discussões sobre a ética. Ao perder a referência da pólis, os filósofos dizem que são cidadãos do mundo, e que agora o mundo é a sua cidade, pois estavam vivendo num contexto político imperial, no qual o mundo ocidental e oriental se encontrava sob o mesmo poderio. Este período também é chamado de cosmopolita. Tal período teve início com Alexandre, o Grande, rei da Macedônia. Alexandre foi aluno de Aristóteles, ambos admiradores da cultura grega. Alexandre levou a cultura grega por todos os cantos que conquistou, seus soldados se encarregaram desta missão ao se casarem com mulheres de outras culturas, a fim de criar laços que impossibilitariam revoltas contra o Império que se formava. Alexandre uniu à civilização Grega do Egito até a Índia. O centro cultural do helenismo passou a ser Alexandria, situada no Egito. Este momento marcou uma nova fase da história das civilizações antigas. Este período durou cerca de 300 anos, sendo marcado, portanto, pela centralidade das discussões acerca da ética, por significativas teorizações sobre a natureza, em um momento de crescente desagregação da pólis grega. Contexto — Aristóteles morreu em 322, período em que Atenas já havia perdido a sua posição hegemônica, devido à conquista de Alexandre Magno (356-323 a.C). — Helenismo (de Alexandre até por volta do ano 50 a.C): período de expansão da cultura grega. — A partir do ano 50 a.C, aproximadamente, Roma passou a assumir o predomínio militar. — Foi um período de mistura de diferentes culturas: gregos, egípcios, romanos, babilônios, sírios e persas. — Mistura de concepções: religiosas, filosóficas e científicas. — Usavam a mesma moeda. — Falavam a mesma língua, o grego. — Foi a primeira “globalização”. CAPÍTULO 12 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • O HELENISMO filosofiacapítulo 12 - o HElENisMo 47 Alexandria — Era o ponto de encontro entre o Oriente e o Ocidente. Transformou-se na metrópole do conhecimento. — Alexandria possuía uma biblioteca com um acervo superior a 500 mil obras, o que era monumental para o período. — A cidade passou a ser o centro da matemática, astronomia, biologia e medicina. A Filosofia no período helenístico. A Filosofia do helenismo continuou a investigar os problemas levantados por Sócrates, Platão e Aristóteles. Questionamentos: Como seria a melhor maneira de viver e de morrer. Em que consistia a verdadeira felicidade e como ela podia ser alcançada? Resumindo as principais escolas do helenismo Cínicos A filosofia cínica foi fundada em Atenas por Antístenes por volta de 400 a.C. Para os cínicos a verdadeira felicidade não depende de fatores externos como o luxo, o poder político e a boa saúde. Para eles a verdadeira felicidade consistia em se libertar dessas coisas efêmeras. A felicidade estava naquilo que poderia ser alcançado por todos. Diógenes: vivia dentro de um barril, só possuía uma túnica, um cajado e um embornal de pão. Para eles nós não deveríamos nos preocupar com a saúde, nem mesmo com o sofrimento e a morte. Estoicos Os estoicos foram influenciados pelos cínicos, esta escola surgiu em Atenas por volta de 300a.C, fundada por Zenão (nascido na ilha de Chipre, por volta 333/332a.C). Considerava a filosofia como “arte de bem viver”. Os estóicos tinham uma fé materialista e negavam a transcendência, acreditando que virtuoso e feliz é o homem que vive de acordo com a natureza e a razão. Para eles cada pessoa era um mundo em miniatura, um microcosmo que era reflexo do macrocosmo. Acreditavam na ideia de um cosmo harmonioso governado por uma razão universal. Defendiam o “Direito natural: válidos para todos, até mesmo para os escravos”. Para eles não havia diferença entre o homem e o universo. Também não havia diferença entre corpo e alma. Eram mais abertos à cultura contemporânea que os cínicos. Interessavam-se pela política. Romanos que foram influenciados pelos estóicos gregos: O Imperador romano Marco Aurélio (121-180d.C); Cícero (106-43a.C) cria o conceito de humanismo; Sêneca (4a.C- 65d.C) sendo um estóico escreveu “para a humanidade, a humanidade é sagrada”. Para os pensadores desta escola, existem leis naturais e os homens precisam saber encará-las e aceita-las: a enfermidade e a morte faziam parte da vida, assim como as coisas felizes. O ser humano precisa aceitar o destino. Epicurismo Epicuro nasceu em Samos em 341 a.C. Enquanto os cínicos e estóicos queriam suportar todas as formas de dor e sofrimento, os epicureus queriam afastar- se de toda dor e sofrimento. Para eles o bem supremo era o prazer, e o verdadeiro prazer era a ausência de sofrimentos. Ceticismo Os céticos acreditavam que não podemos conhecer a verdade. Tudo o que temos são ideias que podem ou não ser verdadeiras, por isso nossas sensações não são nem verdadeiras nem falsas, nada se deve afirmar com certeza absoluta. A partir do momento em que compreendemos isso encontramos a paz e a tranquilidade da alma. O primeiro filósofo totalmente cético foi Pirro de Élis, que ensinou que não há nada de que possamos estar seguros, pois todas as opiniões são igualmente válidas. O ceticismo pretende ajudar as pessoas a se acostumarem com o fato de que muito do que acontece está além do nosso controle. Ao percebemos que na vida nada é garantido, aceitamos mais facilmente a vida e nos libertamos das expectativas em relação às coisas. O ceticismo sustenta a impossibilidade de chegar a um juízo universal e indiscutível, dada a universal incerteza que envolve a natureza do mundo e do homem. Sendo assim, é impossível conhecer a verdade. Neoplatonismo “Influenciado pelos sincretismos religiosos, que se tornaram bastante comuns a partir do século I d.C., o neoplatonismo surgiu no Egito (especificamente em Alexandria) como um sincretismo filosófico. Este pensamento filosófico propunha uma nova abordagem das doutrinas de Platão, indo de encontro com algumas concepções aristotélicas, tradições herméticas e sincretismos helenísticos.” filosofia capítulo 12 - o HElENisMo 48 ExErCÍCiOs QUESTÃO 1 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • O Período Helenístico inicia-se com a conquista macedônica das cidades-Estado gregas. As correntes filosóficas desse período surgem como tentativas de remediar os sofrimentos da condição humana individual: o epicurismo ensinando que o prazer é o sentido da vida; o estoicismo instruindo a suportar com a mesma firmeza de caráter os acontecimentos bons ou maus; o ceticismo de Pirro orientando a suspender os julgamentos sobre os fenômenos. Sobre essas correntes filosóficas, assinale o que for incorreto. (A) Os estóicos, acreditando na idéia de um cosmo harmonioso governado por uma razão universal, afirmaram que virtuoso e feliz é o homem que vive de acordo com a natureza e a razão. (B) Conforme a moral estóica, nossos juízos e paixões dependem apenas dos deuses, e a importância das coisas provém da opinião que delastemos. (C) Para o epicurismo, a felicidade é o prazer, mas o verdadeiro prazer é aquele proporcionado pela ausência de sofrimentos do corpo e de perturbações da alma. (D) Para Epicuro, não se deve temer a morte, porque nada é para nós enquanto vivemos e, quando ela nos sobrevém, somos nós que deixamos de ser. (E) O ceticismo de Pirro sustentou que, porque todas as opiniões são igualmente válidas e nossas sensações não são verdadeiras nem falsas, nada se deve afirmar com certeza absoluta, e da suspensão do juízo advém a paz e a tranquilidade da alma. QUESTÃO 2 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • “A ciência helenística obteve grande desenvolvimento. Na medicina, iniciou a fisiologia destacando os vasos sanguíneos e a circulação sanguínea. Na arte, somente os ricos e os soberanos podiam apreciá-la. Apresentava formas orientais onde evidenciavam o patético e o teatral juntamente com o idealismo clássico.” A literatura helenística apresentava muitas obras, mas infelizmente foram perdidas restando apenas alguns de seus fragmentos. (http://www.historiadomundo.com.br/idade-antiga/helenismo.htm). O helenismo é um período da história da filosofia que se caracteriza pela (A) exclusividade que dá à dimensão prática da filosofia, em contraposição à dimensão investigativa das filosofias platônica e aristotélica. (B) importância que confere à lógica, à ética e à estética, como investigações necessárias para se alcançar a satisfação individual ou felicidade. (C) centralidade que atribui à ética, em meio a significativas teorizações sobre a natureza, em um momento de crescente desagregação da pólis grega. (D) valorização do indivíduo e sua ação, em detrimento da investigação lógica, fundamental em uma perspectiva como a de Aristóteles. (E) predominância de sistemas metafísicos voltados para a busca do bem comum, em oposição às perspectivas epistemológicas de Platão e Aristóteles. QUESTÃO 3 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • O filme Alexandre representou a vida do famoso imperador da Macedônia que constituiu um grande império, incluindo a Grécia, o Egito, a Síria, a Pérsia, indo até as fronteiras com a Índia. Alexandre foi educado pelo filósofo Aristóteles e o seu registro memorável na História deve-se, além de seus feitos militares, à difusão da cultura grega nas regiões do Oriente por ele conquistadas. Esse processo histórico-cultural, caracterizou-se pelo(a): (A) formação de uma nova cultura, sem elementos culturais gregos nem orientais. (B) desaparecimento das culturas orientais diante da cultura grega ou helênica. (C) conflito cultural irreconciliável entre a cultura grega e as culturas orientais. (D) desaparecimento da cultura grega diante das culturas orientais (persa e egípcia). (e) constituição de uma cultura diferenciada, com elementos gregos e orientais. QUESTÃO 4 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Apesar de sua diversidade e suas diferenças teóricas, todas as escolas do helenismo colocam a ética como a parte mais importante da filosofia. Analise as afirmativas sobre as concepções éticas dessas escolas: (A) para os epicuristas o prazer é o bem ético, por isso defendiam o hedonismo radical. (B) o cético pirrônico deseja chegar a e permanecer na tranquilidade decidindo-se por alguma doutrina específica. (C) segundo os epicuristas o filósofo só encontrará a felicidade ética se admitir que tudo que ocorre no mundo é justo, porquanto se realiza segundo as leis de uma divindade racional. (D) os estóicos preconizavam que a virtude para chegar ao bem ético deveria basear-se nas inclinações e desejos. (E) os cínicos eram críticos dos costumes estabelecidos porque acreditavam que as cidades existentes afastavam os seres humanos da felicidade, que para eles consistia no retorno à natureza. QUESTÃO 5 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • O helenismo foi marcado pelo rompimento de fronteiras entre países e culturas. Quanto à religião houve uma espécie de sincretismo; na ciência, a mistura de diferentes experiências culturais; e a filosofia dos pré-socráticos e de Sócrates, Platão e Aristóteles serviu como fonte de filosofiacapítulo 12 - o HElENisMo 49 inspiração para diferentes correntes. O período helenístico foi marcado por grandes transformações na civilização grega. Entre suas características, podemos destacar: (A) Um completo afastamento da cultura grega com relação às tradições orientais, decorrente, sobretudo, das rivalidades com os persas e da postura depreciativa que considerava bárbaros todos os povos que não falavam o seu idioma. (B) A manutenção da autonomia das cidades-Estado, a essa altura articuladas primeiro na Liga de Delos, sob o comando de Atenas e, posteriormente, sob a Liga do Peloponeso, liderada por Esparta. (C) O desenvolvimento de correntes filosóficas que, diante do esvaziamento das atividades políticas das cidades-Estado, faziam do problema ético o centro de suas preocupações visando, principalmente, o aprimoramento interior do ser humano. (D) A difusão da religião islâmica na região da Macedônia, terra natal de Felipe II, conquistador das cidades-Estado gregas. (E) O apogeu da cultura helênica representado, principalmente, pelo florescimento da filosofia e do teatro e o estabelecimento da democracia ateniense. QUESTÃO 6 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Alguns dos desejos são naturais e necessários; outros, naturais e não necessários; outros, nem naturais nem necessários, mas nascidos de vã opinião. Os desejos que não nos trazem dor se não satisfeitos não são necessários, mas o seu impulso pode ser facilmente desfeito, quando é difícil obter sua satisfação ou parecem ferradores de dano. (EPICURO DE SAMOS. Doutrinas principais, In SANSON, V. F..Textos de filosofia. Rio de janeiro. Eduff, 1974. No fragmento da obra filosófica de Epicuro, o homem tem como fim: (A ) Alcançar o prazer moderado e a felicidade (B) Valorizar os deveres e as obrigações sociais. (C) Aceitar o sofrimento e o rigorismo da vida com resignação. (D) Refletir sobre os valores e as normas dadas pela divindade. (E) Defender a indiferença e a impossibilidade de se atingir o saber. GABARItO ExErCÍCiOs 01. B 02. C 03. E 04. E 05. C 06. A ANOtAÇÕES 50 FILOSOFIA MEDIEVAL: SANtO AGOStINHO E tOMÁS DE AQUINO Esse capítulo estudará a influência da filosofia grega no mundo cristão e a influência do mundo cristão na filosofia Ocidental. Estudaremos os principais filósofos do mundo medieval europeu. O Imaginário Medieval O tempo dos vivos sempre foi descrito como mais breve que um piscar de olhos, o que importava era a hora da morte, ou seja, a travessia para o outro mundo. No contexto cristão medieval, os vivos se preparavam para o que viria adiante. Existia um laço entre os mortos e vivos, e o mundo real não era visto como esse no qual estamos, mas aquele que existe depois dessa vida. Anjos e demônios disputavam constantemente a posse de nossas almas. Todos aguardavam ansiosamente pelo dia do juízo final, quando as forças do bem e do mal se enfrentariam. Ética e pecado Para o cristianismo, a virtude se define por nossa relação com Deus e não com a cidade nem com os outros (concepção antiga de ética). Para os cristãos as duas primeiras virtudes são: a fé e a caridade. Partindo desta definição, percebemos a direta relação entre imoral e pecado, pois o homem moral é aquele que deve seguir as leis divinas, se ele não seguir, sua ação será em desacordo a norma, uma ação imoral. A Igreja Católica A igreja era a estrutura da sociedade Medieval, ela protegia as almas das forças malignas. A busca por deus é a essência humana neste período. Sendo assim, onde podemos colocar a Filosofia nesta história? O mundo ocidental era fundamentado no pensamento greco-romano quando se deu o nascimento do cristianismono século I d.C. Os apóstolos e os primeiros padres precisavam propagar os ensinamentos de Jesus Cristo, mas como fazer isso no mundo pagão? A patrística No esforço de alcançar seus objetivos, os apóstolos e os primeiros padres da Igreja buscaram conciliar a nova religião com o pensamento filosófico dos gregos e romanos, pois sem tal conciliação não seria possível converter os pagãos. Nasce a chamada filosofia patrística, que tem como objetivo a evangelização e defesa da religião cristã contra os ataques dos antigos. Para fundamentar o novo pensamento, os padres buscaram adaptar a filosofia antiga, para que, assim, pudessem usá-la como argumento de autoridade. A Patrística introduziu novas ideias: a criação do mundo a partir do nada; Deus como trindade una; pecado original; encarnação de Deus e juízo final. O grande tema da patrística é a possibilidade e impossibilidade de conciliar fé e razão. Nesse período que vai do século I ao século VII, a Patrística engendra a filosofia cristã. A Patrística tem como principal representante Santo Agostinho – Aurélio Agostinho De Hipona (354-430). Assim como os primeiros padres da Igreja, Santo Agostinho é herdeiro da filosofia de Platão, a qual buscou adaptar à fé cristã. Para Santo Agostinho a sabedoria perfeita e acabada só se daria através da revelação divina, ou seja, a fé é revelada por Deus. A filosofia de Santo Agostinho é essencialmente uma fusão das concepções cristãs com o pensamento platônico. Subordinando a razão à fé, Agostinho de Hipona afirma existirem verdades superiores e inferiores, sendo as primeiras compreendidas a partir da ação de Deus, fazendo assim uma analogia ao mundo das ideias da filosofia de Platão. Agostinho formula sua teoria do conhecimento a partir da máxima “creio tudo o que entendo, mas nem tudo que creio conheço”. A posição do filósofo não impede que cada um busque a sabedoria com suas próprias forças; o que ainda não é conhecido pode ser revelado mediante a consulta da verdade interior. Apesar de ter sido influenciado pela filosofia de Platão, por meio dos escritos de Plotino, o pensamento de Agostinho apresenta muitas diferenças se comparado ao pensamento de Platão. Para Platão, por exemplo, o conhecimento é, na verdade, um recordar, a alma reconhece as Ideias que ela contemplou antes de nascer; já Agostinho diz que o conhecimento é resultado da Iluminação divina. A Escolástica Do século VIII ao século XIV a Igreja Católica dominava a Europa, e a partir do século XII surgem as primeiras Universidades e escolas onde a filosofia medieval será ensinada, por isso esta filosofia é conhecida como escolástica. O principal representante desta fase da Filosofia Medieval foi Tomás De Aquino (1225-1274), pois fez a melhor articulação entre filosofia e cristianismo na Filosofia Medieval. São Tomás de Aquino retomou o problema mais importante da Patrística, a conciliação entre fé e razão. Buscou provar racionalmente a existência de Deus com base em Aristóteles. São Tomás de Aquino vai de encontro com a filosofia de Aristóteles ao conceber o universo como uma hierarquia de seres, onde os superiores dominam os inferiores. Tomás de Aquino desenvolveu uma concepção destinada a conciliar fé e razão. Tinha por problema fundamental levar o homem a compreender a verdade revelada pelo exercício da razão. CAPÍTULO 13 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • FILOSOFIA MEDIEVAL: SANtO AGOStINHO E tOMÁS DE AQUINO filosofiacapítulo 13 - filosofia MEDiEVal: saNto aGostiNHo E toMÁs DE aQuiNo 51 ExErCÍCiOs QUESTÃO 1 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • TEXTO I Anaxímenes de Mileto disse que o ar é o elemento originário de tudo o que existe, existiu e existirá, e que outras coisas provêm de sua descedência. Quando o ar se dilata, transforma-se em fogo, ao passo que os ventos são ar condensado. As nuvens formam-se a partir do ar por feltragem e, ainda mais condensadas, transformam-se em água. A água, quando mais condensada, transforma- se em terra, e quando condensada ao máximo possível, transforma-se em pedras. BURNET, J. A aurora da filosofia grega. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2006 (adaptado). TEXTO II Basílio Magno, filósofo medieval, escreveu: “Deus, como criador de todas as coisas, está no princípio do mundo e dos tempos. Quão parcas de conteúdo se nos apresentam, em face desta concepção, as especulações contraditórias dos filósofos, para os quais o mundo se origina, ou de algum dos quatro elementos, como ensinam os Jônios, ou dos átomos, como julga Demócrito. Na verdade, dão impressão de quererem ancorar o mundo numa teia de aranha.” GILSON, E.: BOEHNER, P. Historia da Filosofia Crista. São Paulo: Vozes, 1991 (adaptado). Filósofos dos diversos tempos históricos desenvolveram teses para explicar a origem do universo, a partir de uma explicação racional. As teses de Anaxímenes, filósofo grego antigo, e de Basílio, filósofo medieval, têm em comum na sua fundamentação teorias que (A) eram baseadas nas ciências da natureza. (B) refutavam as teorias de filósofos da religião. (C) tinham origem nos mitos das civilizações antigas. (D) postulavam um princípio originário para o mundo. (E) defendiam que Deus é o princípio de todas as coisas. QUESTÃO 2 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Quando Édipo nasceu, seus pais, Laio e Jocasta, os reis de Tebas, foram informados de uma profecia na qual o filho mataria o pai e se casaria com a mãe. Para evita-la, ordenaram a um criado que matasse o menino. Porém, penalizado com a sorte de Édipo, ele o entregou a um casal de camponeses que morava longe de Tebas para que o criasse. Édipo soube da profecia quando se tornou adulto. Saiu então da casa de seus pais para evitar a tragédia. Eis que, perambulando pelos caminhos da Grécia, encontrou- se com Laio e seu séquito, que, insolentemente, ordenou que saísse da estrada. Édipo reagiu e matou todos os integrantes do grupo, sem saber que entre eles estava seu verdadeiro pai. Continuou a viagem até chegar a Tebas, dominada por uma Esfinge. Ele decifrou o enigma da Esfinge, tornou-se rei de Tebas e casou-se com a rainha, Jocasta, a mãe que desconhecia. Disponível em: http://www.culturabrasil.org. Acesso em 28 ago. 2010 (adaptado). No mito Édipo Rei, são dignos de destaque os temas do destino e do determinismo. Ambos são características do mito grego e abordam a relação entre liberdade humana e providência divina. A expressão filosófica que toma como pressuposta a tese do determinismo é: (A) “Nasci para satisfazer a grande necessidade que eu tinha de mim mesmo.” Jean Paul Sartre (B) “Ter fé é assinar uma folha em branco e deixar que Deus nela escreva o que quiser.” Santo Agostinho (C) “Quem não tem medo da vida também não tem medo da morte.” Arthur Schopenhauer (D) “Não me pergunte quem sou eu e não me diga para permanecer o mesmo.” Michel Foucault (E) “O homem, em seu orgulho, criou a Deus a sua imagem e semelhança.” Friedrich Nietzsche QUESTÃO 3 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • A arquitetura de uma época aponta não só para um determinado estilo artístico, mas também pode indicar traços de vida moral e política de um grupo humano. As torres das igrejas góticas, por exemplo, mostraram a verticalidade na relação entre Deus e o homem, o céu e a terra, o superior e o inferior, característica básica da cultura medieval. A respeito da concepção de moralidade no período medieval, pode-se afirmar que: (A) A conduta humana deve se pautar em regras derivadas da natureza, ao contexto social em que o sujeito vive. (B) A razão humana ocupa o lugar central na vida ética durante a idade média. (c) A ética se preocupa, principalmente, com a autonomia moral do indivíduo. (D) A conduta humana não precisa estar ligada aos mandamentos, pois a ética é essencialmente humana, não se relaciona com a vida espiritual. (E) A imoralidadeestá relacionada com a desobediência às leis divinas reveladas, está ligada ao pecado. QUESTÃO 4 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Em sua obra Suma Teológica, Tomás de Aquino escreve: “Existe algo verdadeiríssimo, ótimo, nobilíssimo e, por conseguinte, o ser máximo, pois todas as coisas que são verdadeiras ao máximo são os maiores seres (...). O que é máximo em algum gênero é causa de tudo o que é daquele gênero.” (Tomás de Aquino, Suma teológica, I, q. 2, a. 1) “A perfeição do universo requer que haja coisas incorruptíveis assim como coisas corruptíveis, portanto, que haja coisas que possam deixar de ser boas, o que de fato por vezes ocorre.” (Tomás de Aquino, Suma teológica, I, q. 48, a. 2) filosofia capítulo 13 - filosofia MEDiEVal: saNto aGostiNHo E toMÁs DE aQuiNo 52 A partir do texto é possível afirmar respectivamente que: (A) Deus é a causa da existência de todos os seres, assim como de toda bondade e qualquer perfeição; e, portanto, o mal não pode estar presente nas coisas. (B) Deus é a causa da existência de todos os seres, assim como de toda bondade e qualquer perfeição; e o mal está presente nas coisas. (C) filosoficamente, não se pode provar a existência de Deus, mas apenas de um gênero supremo (ser); e não se pode concluir pela presença ou não do mal nas coisas. (D) filosoficamente, não se pode provar a existência de Deus, mas apenas dos gêneros relativos às perfeições; e o mal está presente nas coisas. (E) Deus é a causa da existência de todos os seres, mas não é possível provar racionalmente tal afirmação. QUESTÃO 5 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Tomás de Aquino contribuiu para a vida intelectual foi a de valorizar a inteligência humana e sua capacidade de alcançar a verdade por meio da razão natural, inclusive a respeito de certas questões da religião. Discorrendo sobre a “possibilidade de descobrir a verdade divina”, ele diz que há duas modalidades de verdade acerca de Deus. A primeira refere-se a verdades da revelação que a razão humana não consegue alcançar, por exemplo, entender como é possível Deus ser uno e trino. A segunda modalidade é composta de verdades que a razão pode atingir, por exemplo, que Deus existe. Sendo assim, a afirmativa que melhor expressa o pensamento de Tomás de Aquino é: (A) A fé é o único meio do ser humano chegar à verdade, por isso a razão não é considerada. (B) O ser humano só alcança o conhecimento graças à revelação da verdade que Deus lhe concede, através da fé. (C) A Filosofia é capaz de alcançar todas as verdades acerca de Deus. (D) Mesmo limitada, a razão humana é capaz de alcançar certas verdades. (E) Deus é um ser absolutamente misterioso e o ser humano não pode QUESTÃO 6 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Ora, em todas as coisas ordenadas a algum fim, é preciso haver algum dirigente, pelo qual se atinja diretamente o devido fim. Com efeito, um navio, que se move para diversos lados pelo impulso dos ventos contrários, não chegaria ao fim de destino, se por indústria do piloto não fosse dirigido ao porto; ora, tem o homem um fim, para o qual se ordenam toda a sua vida e ação. Acontece, porém, agirem os homens de modos diversos em vista do fim, o que a própria diversidade dos esforços e ações humanas comprova. Portanto, precisa o homem de um dirigente para o fim. AQUINO, T. Do reino ou do governo dos homens: ao rei do Chipre. Escritos políticos de São Tomás de Aquino. Petrópolis: Vozes, 1995 (adaptado). No trecho citado, Tomás de Quino justifica a monarquia como o regime de governo capaz de (A) refrear os movimentos religiosos contestatórios. (B) promover a atuação da sociedade civil na vida política. (C) unir a sociedade tendo em vista a realização do bem comum. (D) reformar a religião por meio do retorno à tradição helenística. (E) dissociar a relação política entre os poderes temporal e espiritual. QUESTÃO 7 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • TEXTO I Não é possível passar das trevas da ignorância para a luz da ciência a não ser lendo, com um amor sempre mais vivo, as obras dos Antigos. Ladrem os cães, grunhem os porcos! Nem por isso deixarei de ser um seguidor dos Antigos. Para eles irão todos os meus cuidados e, todos os dias, a aurora me encontrará entregue ao seu estudo. BLOIS, P. Apud PEDRERO SÁNCHEZ, M. G. História da Idade Média: texto e testemunhas. São Paulo: Unesp, 2000. TEXTO II A nossa geração tem arraigado o defeito de recusar admitir tudo o que parece vir dos modernos. Por isso, quando descubro uma ideia pessoal e quero torná-la pública, atribuo-a a outrem e declaro: — Foi fulano de tal que o disse, não sou eu. E para que acreditem totalmente nas minhas opiniões, digo: — O inventor foi fulano de tal, não sou eu. BATH, A. Apud PEDRERO SÁNCHEZ, M. G. História da Idade Média: texto e testemunhas. São Paulo: Unesp, 2000. Nos textos são apresentados pontos de vista distintos sobre as mudanças culturais ocorridas no século XII no Ocidente. Comparando os textos, os autores discutem o(a) (A) produção do conhecimento face à manutenção dos argumentos de autoridade da Igreja. (B) caráter dinâmico do pensamento laico frente à estagnação dos estudos religiosos. (C) surgimento do pensamento científico em oposição à tradição teológica cristã. (D) desenvolvimento do racionalismo crítico ao opor fé e razão. (E) construção de um saber teológico científico. GABARItO ExErCÍCiOs 01. D 02. B 03. E 04. B 05. D 06. C 07. A 53 FILOSOFIA MODERNA: A REVOLUÇÃO CIENtíFICA Nesse capítulo estudaremos um novo momento da história da filosofia, novas propostas de interpretação do mundo: a revolução do pensamento. (A criação de Adão – Michelangelo – Capela Sistina – Roma – obra de 1508- 1512). O Renascimento e a Filosofia Moderna A filosofia Moderna é marcada por uma nova realidade. A vida dos homens é mudada significativamente no início dos tempos modernos devido à multiplicidade de inovações econômicas, sociais, políticas, religiosas e culturais. Podemos dizer que a Filosofia Moderna se inicia a partir do Renascimento, que marca a transição do mundo Medievo para o mundo Moderno. Em decorrência de tais mudanças, as bases do pensamento filosófico moderno são engendradas, nascendo progressivamente o homem individual, autônomo e consciente de si, e que começa a pôr a sua razão e as suas capacidades intelectuais a serviço de uma nova compreensão e transformação do mundo. É por isso que a filosofia predominante no Renascimento é uma filosofia humanista: o homem olhando para si mesmo. O movimento de ideias, conhecido pelo nome de Renascença é marcado pela admiração à antiguidade clássica, dita pagã. A Filosofia deste período apresenta-se como uma reação as tendências medievais. Outras Obras de Platão e de Aristóteles são descobertas, obras que eram desconhecidas na Idade Média. No fim do século XVI, a especulação filosófica levava o mundo Ocidental para uma reforma. No campo dos estudos experimentais Copérnico, Kepler, Newton, Torricelli e, sobretudo, Galileu levaram a ciência pelo caminho que conhecemos hoje. No campo especulativo, Bacon (empirista) e Descartes (racionalista), com seus métodos científicos diferentes, inauguraram uma nova teoria do conhecimento, marcando assim uma nova fase no mundo Europeu. Vale ressaltar aqui que essa confiança do homem em si mesmo resultou em transformações irreversíveis para a humanidade, como as Grandes Navegações e a Reforma Religiosa. O pensamento naturalista e humanista Esse pensamento naturalista e humanista da Renascença é uma mistura do novo e do antigo, do paganismo e do cristianismo. O humanismo é a tentativa de compreender o homem inserido na natureza e na história. O homem passa a ocupar o lugar central na natureza, e assume o papel de dominador dela. Neste contexto existe o predomínio da razão sobre a fé.No humanismo o homem se sente livre por buscar sua individualidade e com a negação da superioridade da vida contemplativa sobre a vida ativa. Vive-se um momento de afirmação da importância das leis, da ciência e da ética em detrimento da tão consagrada metafísica. É uma relação entre homem e natureza, entre ciência e arte, e o homem passa a valorizar a experiência e a observação sobre o mundo, a fim de dominá-lo. A criação de Adão – Michelangelo – Capela Sistina. A Revolução Científica A Revolução Científica marca uma nova visão do mundo, ou seja, nasce um novo mundo. Tradicionalmente denomina-se Revolução Científica o período, entre os anos de 1550 e 1700, no qual ocorreram mudanças históricas na forma do pensamento Europeu. Acredita-se que ela teve início com Nicolau Copérnico (1473-1543), que propôs o modelo heliocêntrico, e terminou com Issac Newton (1642- 1727), que formulou Leis universais da natureza e foi um dos fundadores do Cálculo. Desde o período medieval até por volta do século XVII, a maioria estudiosos eram clérigos ou trabalhavam em instituições controladas pela Igreja, apenas alguns queriam e conseguiam separar os seus estudos científicos da então Instituição consagrada. Já no começo do período Moderno, surgiram outras fontes de interesse e de financiamento para pesquisas. Uma dessas correntes estava associada à cortes reais. Alguns Reis passaram a patrocinar matemáticos, astrônomos, os que viriam a ser chamados de cientistas; isso foi fundamental para o surgimento de um mundo científico. Com essa revolução, a ciência mudou sua forma e sua função, passando a ser repensada a partir da nova sociedade que estava surgindo. Os objetivos da ciência acabaram sendo redirecionados para uma era livre das influências religiosa e metafísica da idade média. ExErCÍCiOs QUESTÃO 1 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Acompanhando a intenção da burguesia renascentista de ampliar seu domínio sobre a natureza e sobre o espaço geográfico, através da pesquisa científica e da invenção tecnológica, os cientistas também iriam se atirar nessa CApítULO 14 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • FILOSOFIA MODERNA: A REVOLUÇÃO CIENtíFICA filosofia Capítulo 14 -filosofia MoDERNa: a REVoluÇÃo CiENtífiCa 54 aventura, tentando conquistar a forma, o movimento, o espaço, a luz, a cor e mesmo a expressão e o sentimento. (SEVCENKO, N. O Renascimento. Campinas: Unicamp, 1984). O texto apresenta um espírito de época que afetou também a produção artística, marcada pela constante relação entre (A) fé e misticismo. (B) ciência e arte. (C) cultura e comércio. (D) política e economia. (E) astronomia e religião. QUESTÃO 2 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • “(...) Depois de longas investigações, convenci-me por fim de que o Sol é uma estrela fixa rodeada de planetas que giram em volta dela e de que ela é o centro e a chama. Que, além dos planetas principais, há outros de segunda ordem que circulam primeiro como satélites em redor dos planetas principais e com estes em redor do Sol. (...) Não duvido de que os matemáticos sejam da minha opinião, se quiserem dar-se ao trabalho de tomar conhecimento, não superficialmente, mas duma maneira aprofundada, das demonstrações que darei nesta obra. Se alguns homens ligeiros e ignorantes quiserem cometer contra mim o abuso de invocar alguns passos da Escritura (sagrada), a que torçam o sentido, desprezarei os seus ataques: as verdades matemáticas não devem ser julgadas senão por matemáticos.” (COPÉRNICO, N. De Revolutionibus orbium caelestium). “Aqueles que se entregam à prática sem ciência são como o navegador que embarca em um navio sem leme nem bússola. Sempre a prática deve fundamentar-se em boa teoria. Antes de fazer de um caso uma regra geral, experimente-o duas ou três vezes e verifique se as experiências produzem os mesmos efeitos. Nenhuma investigação humana pode se considerar verdadeira ciência se não passa por demonstrações matemáticas.” (VINCI, Leonardo da. Carnets). O aspecto a ser ressaltado em ambos os textos para exemplificar o racionalismo moderno é (A) a fé como guia das descobertas. (B) o senso crítico para se chegar a Deus. (C) a limitação da ciência pelos princípios bíblicos. (D) a importância da experiência e da observação. (E) o princípio da autoridade e da tradição. QUESTÃO 3 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • O Renascimento, enquanto fenômeno cultural observado na Europa Ocidental no início da Idade Moderna, encontra-se inserido no processo de transição do feudalismo para o capitalismo, expressando o pensamento e a visão de mundos próprios de uma sociedade mercantil e, portanto, mais aberta e dinâmica. Manifestando-se principalmente através das artes e da filosofia, o movimento renascentista tinha como eixo (A) a sabedoria popular e o domínio da maioria, como mecanismo de combate ao poder aristocrático e de oposição aos novos segmentos sociais em ascensão. (B) a oposição a todas as religiões organizadas, pois os princípios religiosos impediam a liberdade de opinião e tornavam o homem alienado. A igualdade jurídica de todos os indivíduos, suprimindo-se os privilégios de classe e equiparando os direitos e obrigações dos cidadãos. (C) a liberdade de trabalho inerente a qualquer pessoa, como instrumento capaz de possibilitar a criação e o crescimento do ser humano, sendo necessário abolir as corporações de ofício. (D) a valorização do homem por sua razão e por suas criações, difundindo a confiança nas potencialidades humanas e superando o misticismo dominante no período medieval. (E) o Racionalismo e o Geocentrismo (convicção de que tudo pode ser explicado pela razão e pela ciência; concepção de que a Terra é o centro do universo). QUESTÃO 4 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • O Renascimento, amplo movimento artístico, literário e científico, expandiu-se da Península Itálica por quase toda a Europa, provocando transformações na sociedade. Sobre o tema, é correto afirmar que: (A) o racionalismo renascentista reforçou o princípio da autoridade da ciência teológica e da tradição medieval. (B) houve o resgate, pelos intelectuais renascentistas, dos ideais medievais ligados aos dogmas do catolicismo, sobretudo da concepção teocêntrica de mundo. (C) nesse período, reafirmou-se a ideia de homem cidadão, que terminou por enfraquecer os sentimentos de identidade nacional e cultural, os quais contribuíram para o fim das monarquias absolutas. (D) o humanismo pregou a determinação das ações humanas pelo divino e negou que o homem tivesse a capacidade de agir sobre o mundo, transformando-o de acordo com sua vontade e interesse. (E) os estudiosos do período buscaram apoio no método experimental e na reflexão racional, valorizando a natureza e o ser humano. QUESTÃO 5 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • De uma forma inteiramente inédita, os humanistas, entre os séculos XV e XVI, criaram uma nova forma de entender a realidade. Magia e ciência, poesia e filosofia misturavam-se e auxiliavam-se, numa sociedade atravessada por inquietações religiosas e por exigências práticas de todo gênero. (Adaptado de Eugenio Garin, Ciência e vida civil no Renascimento italiano. São Paulo: Ed. Unesp, 1994, p. 11.) filosofia Capítulo 14 -filosofia MoDERNa: a REVoluÇÃo CiENtífiCa 55 Sobre o tema, é correto afirmar que: (A) O pensamento humanista implicava a total recusa da existência de Deus nas artes e na ciência, o que libertava o homem para conhecer a natureza e a sociedade. (B) A mistura de conhecimentos das mais diferentes origens - como a magia e a ciência - levou a uma instabilidade imprevisível, que lançou a Europa numa onda de obscurantismo que apenas o Iluminismo pôde reverter. (C) As transformações artísticas e políticas do Renascimento incluíram a inspiraçãonos ideais da Antiguidade Clássica na pintura, na arquitetura e na escultura. (D) As inquietações religiosas vividas principalmente ao longo do século XVI culminaram nas Reformas Calvinista, Luterana, Anglicana e finalmente no movimento da Contrarreforma, que defendeu a fé protestante contra seus inimigos. (E) As inquietações religiosas vividas principalmente ao longo do século XII culminaram no movimento filosófico denominado Iluminismo. QUESTÃO 6 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • A filosofia encontra-se escrita neste grande livro que continuamente se abre perante nossos olhos (isto é, o universo), que não se pode compreender antes de entender a língua e conhecer os caracteres com os quais está escrito. Ele está escrito em língua matemática, os caracteres são triângulos, circunferências e outras figuras geométricas, sem cujos meios é impossível entender humanamente as palavras; sem eles, vagamos perdidos dentro de um obscuro labirinto. GALILEI, G. O ensaiador. Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1978. No contexto da Revolução Científica do século XVII, assumir a posição de Galileu Significava defender a (A) Continuidade do vínculo entre ciência e fá dominante na Idade Média. (B) Necessidade de o estudo linguístico ser acompanhado do exame matemático. (C) Oposição da nova física quantitativa aos pressupostos da filosofia escolástica. (D) Importância da independência da investigação cientifica pretendida pela Igreja. (E) Inadequação da matemática para elaborar uma explicação racional da natureza. GABARItO ExErCÍCiOs 01. B 02. D 03. D 04. E 05. C 06. C ANOtAÇÕES 56 MAQUIAVEL E A FILOSOFIA pOLítICA Esse capítulo dará início à filosofia política, trata-se de um momento fundamental para a filosofia ocidental. Maquiavel nos apresenta uma interpretação realista acerca da relação entre política e ética. Nicolau Maquiavel: o representante do novo Na Idade Média a contemplação estava acima da ação. A partirdo Renascimento, os pensadores dão um maior valor à ação do homem. É o momento do elogio do homem e de um olhar para suas potencialidades que haviam sido deixadas de lado. A política ganha outra perspectiva, agora passa a ser fruto exclusivamente humano. O homem moderno se afasta da providência divina, da ideia de que os acontecimentos humanos são geridos por deus. O homem pensa em como lidar com todas as possibilidades em aberto. Vale salientar que não há um anti-cristianismo, mas um movimento de laicização. Não há uma crítica a Santo Agostinho e São Tomás, eles simplesmente são deixados de lado. Maquiavel (1469-1527) é um herdeiro direto desta tradição humanista. Maquiavel percebeu que o que faltava nesta guinada – Idade Média/Idade Moderna – era enfrentar o problema da política com a sua relação com a ética. Maquiavel parte do ponto de separação entre Política e Ética, propondo uma filosofia inovadora. Faz uma crítica aos utópicos e seu o alvo é Platão, pois este acreditava que era possível construir pela razão uma forma ideal de governo, a República ideal. Para Maquiavel a política deve ser pensada a partir de modelos racionais, é preciso pensar a partir da “verdade efetiva das coisas”. Ele retira um recurso precioso da politica clássica grega que era a ideia de uma república ideal. É uma reinvenção do olhar. Além de sua crítica a Platão, Maquiavel enfrenta o Humanismo e a Igreja. Maquiavel deixa a discussão política ainda mais complexa, pois a vê com um resgate das possibilidades. O Realismo político moderno Apresentando ao mundo moderno um realismo político, em sua obra O Príncipe, Maquiavel expõe conselhos políticos de interesse do Estado, buscando explicar não as formas ou regimes de governo, mas apenas como surge e como se mantém o Estado Moderno. Maquiavel se distancia da concepção idealista de Estado, ou seja, de como o Estado deveria ser, a fim de explicar como o Estado realmente é. O príncipe - Capítulo XV “Mas, sendo minha intenção escrever algo de útil para quem por tal se interesse, pareceu-me mais conveniente ir em busca da verdade extraída dos fatos e não à imaginação dos mesmos, pois muitos conceberam repúblicas e principados jamais vistos ou conhecidos como tendo realmente existido. Em verdade, há tanta diferença de como se vive e como se deveria viver, que aquele que abandone o que se faz por aquilo que se deveria fazer, aprenderá antes o caminho de sua ruína do que o de sua preservação, eis que um homem que queira em todas as suas palavras fazer profissão de bondade, perder-se-á em meio a tantos que não são bons. Donde é necessário, a um príncipe que queira se manter, aprender a poder não ser bom e usar ou não da bondade, segundo a necessidade. Deixando de parte, assim, os assuntos relativos a um príncipe imaginário e falando daqueles que são verdadeiros, digo que todos os homens, máxime os príncipes por situados em posição mais preeminente, quando analisados, se fazem notar por alguns daqueles atributos que lhes acarretam ou reprovação ou louvor.” (MAQUIAVEL, O Príncipe). O filho do seu tempo Como filho do seu tempo, Maquiavel olha para o mundo a partir de um tempo e espaço. O tempo de Nicolau Maquiavel é a consolidação do Estado Moderno, o Estado Absolutista. O espaço é a Itália fragmentada, que vinha perdendo sua hegemonia comercial, pois regiões como a de Portugal e Espanha tornaram-se nações unificadas, capazes de uma organização que propiciou às Grandes Navegações e uma disputa no comércio internacional, até então concentrado na Itália e no Mar Mediterrâneo (Gênova e Veneza). Além disso, outros países que haviam se unificado como a França e Inglaterra também disputavam o Novo Mundo. CApítULO 15 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • MAQUIAVEL E A FILOSOFIA pOLítICA filosofia Capítulo 15 - MaQuiaVEl E a filosofia polítiCa 57 O objetivo de Maquiavel Com o objetivo de contribuir intelectualmente para uma Itália unificada, Maquiavel cria o protagonista dessa historia: O Príncipe, capaz de promover o Estado forte e estável. Maquiavel se propõe a analisar as técnicas do poder político, com o objetivo de compreender seu funcionamento de fato. Diferentemente de Thomas More que pensa em um Estado abstrato ideal-utópico, Maquiavel deseja descrever como o Estado efetivamente funciona. Seu livro, O Príncipe, é uma espécie de manual de governo para se conquistar e conservar o Estado, pautado no princípio de que os fins justificam os meios. Maquiavel apresenta uma concepção naturalista, partindo do pressuposto de que o Estado tem origens naturais. A separação entre Ética e política A grande inovação atribuída a Maquiavel foi a separação entre ética e política. Para Maquiavel, comandar o Estado só é possível se o soberano possuir força e inteligência. Força para conquistar o poder; e a inteligência para mantê-lo. Filósofos como Platão, Aristóteles, Santo Agostinho e Thomas Morus, buscaram fundamentar como deveria ser o funcionamento de um Estado ideal. Enquanto que Maquiavel procurou desenvolver uma teoria a partir do que o Estado era de fato. Ao pensar o Estado real, Maquiavel observa que atitudes do governante não deveriam ser previstos em nenhuma lei ou norma moral; ao contrário, era cada situação que determinaria o que seria certo ou errado, moral ou imoral, bom ou mal, inaugura, assim, a “moral de circunstância”. O Estado é visto pelo filósofo realista como uma criação da humanidade, por isso está acima da religião e da moral transcendente. Isto implica uma racionalidade estratégica, técnica da razão prática, uma política adquire a sua própria moral. Com reação à atitude medieval, Maquiavel inaugura a ideia moderna de política como categoria e disciplina autônoma, como ciência política, no sentido de compreensão da origem humana e das formas de poder. Segundo Maquiavel, a moral política é marcada pela necessidade de atingir seus propósitos. Assim, afunção do príncipe é governar e manter a ordem social, esse é o seu fim último, e se os fins justificam os meios, qualquer meio para manter a ordem é válido. Sendo assim, o Príncipe não precisa se preocupar com a imagem que possam formar de sua pessoa, como a reputação de cruel. Maquiavel defendia o poder absolutista do Estado, com o poder concentrado nas mãos do governante. “O príncipe, portanto, não deve se incomodar com a reputação de cruel, se seu propósito é manter o povo unido e leal. De fato, com uns poucos exemplos duros poderá ser mais clemente do que outros que, por muita piedade, permitem os distúrbios que levem ao assassínio e ao roubo.” (MAQUIAVEL, N. O Príncipe.). O príncipe deve ser amado ou temido? Pode-se afirmar que Maquiavel acredita que o governante deve ter como propósito a conquista e a manutenção do poder, mesmo que as atitudes para tal propósito não sejam éticas, pois, para ele, a política não depende da ética. “Daqui nasce um dilema: é melhor ser amado que temido, ou o inverso? Respondo que seria preferível ser ambas as coisas, mas, como é muito difícil conciliá-las, parece-me muito mais seguro ser temido do que amado, se só se puder ser uma delas (...).” (MAQUIAVEL, N., O Príncipe). A justificativa filosófica do Absolutismo Maquiavel faz a justificativa filosófica do absolutismo, para ele era necessária a concentração do poder em uma única pessoa. Sua filosofia se consolida na ideia de que ética e política são coisas totalmente diferentes. A política trabalha com razões diferentes da ética, e tem outros princípios. Na política vale tudo para manter a ordem, sendo assim, os fins justificam os meios. Para ele o que poderia ser moral na vida privada, poder ser fraqueza na vida pública e vice-versa; o que poderia ser imoral do ponto de vista da ética privada pode ser virtú política. Maquiavel é considerado realista por não fazer uma filosofia que explica como a sociedade deveria ser, mas por se amparar no que ela realmente é: desigual. Não aceita a ideia de boa comunidade política constituída para o bem comum e a justiça, pois a sociedade é originariamente dividida. Para ele a política resulta da ação social a partir das divisões sociais. Para os pensadores gregos, romanos e cristãos, a finalidade da política é a justiça e o bem comum. Já Maquiavel acreditava que a finalidade da politica é a tomada e manutenção do poder. Para ele o Estado deve estar acima dos indivíduos, e o governante não deve deixar-se envolver pelas regras morais quando está em jogo a razão do Estado. Virtude e Fortuna A oposição fortuna-virtude sempre esteve presente nas discussões éticas, mostrando-se inseparável da política. Até Maquiavel, o governante virtuoso era aquele cujas virtudes o protegiam do poderio da caprichosa inconstante fortuna. Maquiavel faz uma transformação sobre tal discussão. Para ele, a virtude é a capacidade do príncipe em ser flexível às circunstancias, mudando com elas, para agarrar e dominar a fortuna. filosofia Capítulo 15 - MaQuiaVEl E a filosofia polítiCa 58 ExErCÍCiOs QUESTÃO 1 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Não ignoro a opinião antiga e muito difundida de que o que acontece no mundo é decidido por Deus e pelo acaso. Essa opinião é muito aceita em nossos dias, devido às grandes transformações ocorridas, e que ocorrem diariamente, as quais escapam à conjectura humana. Não obstante, para não ignorar inteiramente o nosso livre arbítrio, creio que se pode aceitar que a sorte decida metade dos nossos atos, mas [o livre-arbítrio] nos permite o controle sobre a outra metade. MAQUIAVEL, N. O Príncipe. Brasília: EdUnB, 1979 (adaptado). Em O Príncipe, Maquiavel refletiu sobre o exercício do poder em seu tempo. No trecho citado, o autor demonstra o vínculo entre o seu pensamento político e o humanismo renascentista ao (A) valorizar a interferência divina nos acontecimentos definidores do seu tempo. (B) rejeitar a intervenção do acaso nos processos políticos. (C) afirmar a confiança na razão autônoma como fundamento da ação humana. (D) romper com a tradição que valorizava o passado como fonte de aprendizagem. (E) redefinir a ação política com base na unidade entre fé e razão. QUESTÃO 2 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • O príncipe, portanto, não deve se incomodar com a reputação de cruel, se seu propósito é manter o povo unido e leal. De fato, com uns poucos exemplos duros poderá ser mais clemente do que outros que, por muita piedade, permitem os distúrbios que levem ao assassínio e ao roubo. MAQUIAVEL, N. O Príncipe. São Paulo: Martin Claret, 2009. No século XVI, Maquiavel escreveu O Príncipe, reflexão sobre a Monarquia e a função do governante. A manutenção da ordem social, segundo esse autor, baseava-se na (A) inércia do julgamento de crimes polêmicos. (B) bondade em relação ao comportamento dos mercenários. (C) compaixão quanto à condenação dos servos (D) neutralidade diante da condenação dos servos. (E) conveniência entre o poder tirânico e a moral do príncipe QUESTÃO 3 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • A política foi, inicialmente, a arte de impedir as pessoas de se ocuparem do que lhes diz respeito. Posteriormente, passou a ser a arte de compelir as pessoas a decidirem sobre aquilo de que nada entendem. (VALÉRY, P. Cadernos. Apud BENEVIDES, M. V. M. A cidadania ativa. São Paulo: Ática, 1996.) Nessa definição, o autor entende que a história da política está dividida em dois momentos principais: um primeiro, marcado pelo autoritarismo excludente, e um segundo, caracterizado por uma democracia incompleta. Considerando o texto, qual é o elemento comum a esses dois momentos da história política? (A) A distribuição equilibrada do poder. (B) O impedimento da participação popular. (C) O controle das decisões por uma minoria (D) A valorização das opiniões mais competentes (E) A sistematização dos processos decisórios. QUESTÃO 4 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • “Sendo, portanto, um príncipe obrigado a bem servir- se da natureza da besta, deve dela tirar as qualidades da raposa e do leão, pois este não tem defesa alguma contra os laços, e a raposa, contra os lobos. Precisa, pois, ser raposa para conhecer os laços e leão para aterrorizar os lobos. Os que se fizeram unicamente de leões não serão bem sucedidos. Por isso um príncipe prudente não pode nem deve guardar a palavra dada quando isso se lhe torne prejudicial e quando as causas que o determinaram cessem de existir. Se os homens todos fossem bons, este preceito seria mau. Mas dado que são pérfidos e que não a observariam a teu respeito, também não és obrigado a cumpri-la para com eles.” (Maquiavel, O Príncipe. In Os Pensadores, Ed. Abril, São Paulo, 1973, p. 80.) Segundo a passagem acima, podemos inferir que: (a) O leão representa a força que o príncipe deve ter. A raposa, por sua vez, representa a astúcia que o príncipe deve imprimir às suas ações. (B) O príncipe deve agir com a força de uma raposa e a astúcia de um leão. (C) Os homens são bons por natureza e não precisam de proteção. (D) O príncipe deve ser apenas como os leões para ser bem sucedido. (E) O príncipe deve sempre guardar a palavra dada. QUESTÃO 5 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Na obra O Príncipe, Maquiavel defendia o absolutismo como forma de consolidar e fortalecer o Estado. Entre seus argumentos, destaca-se: (A) a necessidade de o governante cercar-se de bons conselheiros, com os quais dividiria o poder. (B) a ideia de que somente a lei moral e religiosa limitaria os poderes do rei; (C) a constante utilização da guerra como meio de filosofia Capítulo 15 - MaQuiaVEl E a filosofia polítiCa 59 demonstrar a força do Estado; (D) o reconhecimento de que todos os meios utilizados para defender os interesses do governantee do Estado seriam justificados; (E) o princípio da constante mudança das instituições, para que elas se adequassem sempre às novas situações. QUESTÃO 6 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Nasce daqui uma questão: se vale mais ser amado que temido ou temido que amado. Responde-se que ambas as coisas seriam de desejar; mas porque é difícil juntá-las, é muito mais seguro ser temido que amado, quando haja de faltar uma das duas. Porque dos homens que se pode dizer, duma maneira geral, que são ingratos, volúveis, simuladores, covardes e ávidos de lucro, e enquanto lhes fazes bem são inteiramente teus, oferecem-te o sangue, os bens, a vida e os filhos, quando, como acima disse, o perigo está longe; mas quando ele chega, revoltam-se. MAQUIAVEL, N.O Príncipe. Rio de Janeiro: Bertrand, 1991. A partir da análise histórica do comportamento humano em suas relações sociais e políticas, Maquiavel define o homem como um ser (A) munido de virtude, com disposição nata a praticar o bem a si e aos outros. (B) possuidor de fortuna, valendo-se de riquezas para alcançar êxito na política. (C) guiado por interesses, de modo que suas ações são imprevisíveis e inconstantes. (D) naturalmente racional, vivendo em um estado pré- social e portando seus direitos naturais. (E) sociável por natureza, mantendo relações pacíficas com seus pares. GABARItO ExErCÍCiOs 01. C 02. E 03. C 04. A 05. D 06. C ANOtAÇÕES 60 SOCIOLOGIA O NASCIMENtO DA SOCIOLOGIA Esse capítulo tem como objetivo apresentar a teoria de Auguste Comte e a sua contribuição para a ciência da Sociedade. Estudaremos o Positivismo e sua influência no Brasil Republicano. Auguste Comte (1798-1857) “O amor por princípio, a ordem por base, o progresso por fim“ (COMTE, Auguste) Auguste Comte, filósofo francês, inaugura o debate sobre um estudo científico da sociedade, pois é o primeiro a colocar em pauta a necessidade do surgimento de uma ciência que tivesse como objeto de estudo a da sociedade. Comte é o primeiro a empregar a palavra sociologia quando se referia ao estudo da sociedade, sendo, portanto, o pai do termo sociologia, mas não da Sociologia enquanto ciência. Foi no final do século XIX, com Émile Durkheim que a sociologia se tornou uma ciência. Em 1895, Durkheim escreve “Ás regras do método sociológico”, no qual delimitou o objeto de estudo, um método, e uma proposta de estudo que retornaria para sociedade, a fim de tornar a Sociologia uma ciência de interesse para mundo social. Voltando a Auguste Comte, temos que ressaltar que a sociologia proposta por ele se tornará um instrumento que será utilizado para consolidar a ordem e o progresso sociedade. O positivismo O século XIX foi marcado por uma racionalização mundo. O homem passou a acreditar que poderia dominar a natureza, desde que a compreendesse. A ciência é resultado de tal vontade dominadora. O desenvolvimento científico e a criação de novas técnicas faziam com que o homem acreditasse na possibilidade de elaborar mecanismos para resolver todos os problemas da humanidade. O mundo estava nas mãos dos estudiosos, pensadores e cientistas. O positivismo propôs um método para analisar os seres humanos na sociedade, que seguiria a mesma lógica das ciências exatas. A proposta era olhar para o mundo material, o mundo real, pois o conhecimento decorre dos dados ‘positivos’ da experiência, e pesquisador deve estudar o que se pode observar. Na medida em que os homens se atem aos fatos, ao mundo real, discussões do mundo teológico e metafísico devem ser desconsideradas para que a sociedade progrida, afinal não é possível verificar cientificamente os conhecimentos gerados nestas duas esferas de compreensão do mundo. Com isso Auguste Comte elabora a teoria dos três estados. Os três estados Segundo Comte em sua “Lei dos Três Estados”, o espírito humano, em seu esforço para explicar o universo, passa sucessivamente por três estados: — Teológico (tudo é explicado por deuses ou por Deus); — Metafísico (tudo é explicado num mundo conceitual, abstrato, além do mundo físico); — Positivo (o mundo é explicado através de um conhecimento empírico, científico). para o positivismo só há fatos O positivismo buscou apresentar uma teoria de estudo que estava pautada em um esforço concreto de análise científica da sociedade. Os critérios estabelecidos por esta corrente de pensamento eram rígidos e amparados na ideia de que toda afirmação e toda lei científica deve ter como ponto de partida a observação dos fatos, nas provas recolhidas pelos cientistas. O pensamento positivista guiará essa ciência que surgirá poucos anos depois: a Sociologia. O positivismo no Brasil e sua influência na nova educação brasileira No século XIX o Brasil ainda era muito dependente do pensamento Europeu. As grandes famílias que compunham a elite brasileira enviavam seus filhos para CApítULO 16 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • O NASCIMENtO DA SOCIOLOGIA sociologiacapítulo 16 - o NasciMENto Da sociologia 61 Europa para estudarem, a fim de que voltassem prontos para assumirem o comando político e econômico no Brasil. Este intercâmbio resultava na produção de pensadores que reproduziam ideias europeias, sendo assim, o positivismo de Comte chega ao Brasil no século XIX, tendo como sua máxima na Proclamação da República em 1889. O grupo social que teve a melhor receptividade das ideias de ordem para se alcançar o progresso foram os oficiais do exército. A frase ‘ordem e progresso’, que faz parte da bandeira brasileira é a maior representação influência positivista na política brasileira. As reformas educacionais, logo no início da República, estavam firmemente amparadas no positivismo. A reforma educacional buscou uma laicização, a fim de romper com o tradicional ensino que ficou por mais de três séculos nas mãos dos setores religiosos no Brasil, primeiramente nas mãos dos jesuítas e depois nas escolas religiosas. A Sociologia e a sua vinculação ao poder Estudar a sociedade passou a ser interessante para os governos imperialistas do século XIX. A necessidade de ampliação das grandes potências europeias pedia uma melhor compreensão de territórios que se revelavam estranhos, mas de grande interesse, tais como a África e a Ásia. As potências europeias criaram um discurso civilizador que tinha em seu âmago o objetivo de moldar esses povos de acordo com os padrões europeus de sociedade, para que assim pudessem domina-los mais facilmente, eis o neocolonialismo. O projeto civilizador estava pautado na ideia de hierarquia dos povos, uns melhores e evoluídos, o europeu, outros no “estado primitivo” no qual tais povos desconhecidos se encontravam. Os Europeus se apresentavam como bons homens que tinham como objetivo levar a civilização para os “primitivos”, os que não conseguiram se “desenvolver”. A fim de alcançar o objetivo de proposto, os colonizadores europeus buscaram estudos de cientistas e pensadores do século XIX para justificar a atuação das potências colonialistas europeias na Ásia e na África. Partindo do pressuposto que a sociedade evolui, os Europeus, os “evoluídos”, buscaram justificar essa teoria a partir dos estudos de Charles Darwin, que foi a chave encontrada para abrir a porta da dominação europeia. O darwinismo social Charles Darwin (1809-1882) acreditava no princípio da seleção natural, que determina quais membros da espécie têm mais chance de sobrevivência. Com o passar dos séculos, a seleção natural elimina as espécies antigas e produz novas e adaptadas. Os homens seriam produtos da seleção natural, tendo em vista que muitas especiais de animais desapareceram e o homem continua existindo. A Teoria da Evolução teve consequências revolucionárias, e bateu de frente principalmente com as religiões, pois o criacionismo foi posto em xeque com debate científico. A Sociologia também foi afetada, pois algunspensadores sociais adaptaram os estudos darwinianos à discussão social, produzindo teorias que explicariam os problemas sociais e as diferenças entre os povos. A ideia de que só os mais fortes sobrevivem foram tomadas de Darwin para apoiar a defesa que faziam do individualismo econômico, da desigualdade social, e a dominação de um povo sobre outro. Com a aplicação da teoria biológica de Darwin na ciência social, criou-se uma concepção de sociedade dividida entre fortes e fracos, dividida em raças superiores e inferiores, teoria que fundamentava o racismo, o nacionalismo, o etnocentrismo e principalmente o imperialismo, pois foi “provado cientificamente” que o fato dos europeus estarem dominando o mundo se dá devido à sua superioridade. Este era o discurso europeu no século XIX e que adentrou o século XX. Assim, os primeiros sociólogos, que eram europeus, inspiraram-se nessas concepções influenciadas pelo darwinismo social para, a partir delas, compreenderem a sociedade. No entanto, essa transposição de conceitos das ciências físicas e biológicas para a compreensão das sociedades e das diferenças entre elas foi alvo de muitas críticas de sociólogos e antropólogos do século XX. Conforme a ciência da sociedade foi amadurecendo, o darwinismo social e o positivismo perderam sua força na esfera das discussões sobre a sociedade. sociologia capítulo 16 - o NasciMENto Da sociologia 62 ExErCÍCiOs QUESTÃO 1 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Enquanto ciência que se propõe a estudar a sociedade, a sociologia nasce no séc. XIX após as revoluções burguesas, pensada, inicialmente a partir do positivismo elaborado por Augusto Comte. Para Auguste Comte: (A) que a partir do momento em que os homens pensam cientificamente, a atividade principal das coletividades passa a ser a luta de classes que leva necessariamente à resolução de todos os conflitos. (B) a sociedade é regida por leis sociais tal como a natureza é regida por leis naturais; as ciências humanas devem utilizar os mesmos métodos das ciências naturais e a ciência deve ser neutra. (C) a sociedade humana atravessa três estágios sucessivos de evolução: o metafísico, o empírico e o teológico, no qual predomina a religião positivista. (D) a sociologia como ciência da sociedade, ao contrário das ciências naturais, não pode ser neutra porque tanto o sujeito quanto o objeto são sociais e estão envolvidos reciprocamente. (E) o processo de evolução social ocorre por meio da unidade entre ordem e progresso, o que necessariamente levaria a uma sociedade comunista. QUESTÃO 2 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Comte pensava que a organização científica da sociedade industrial levaria a atribuir a cada indivíduo um lugar proporcional à sua capacidade, realizando-se assim a justiça social e o progresso da sociedade. O lema da bandeira do Brasil, “Ordem e Progresso”, indica a forte influência do positivismo na formação política do Estado brasileiro. Qual das sentenças abaixo apresenta ideias contidas nesse lema: (A) Crença na resolução dos conflitos sociais por meio do estímulo à coesão social e à evolução natural da nação. (B) Ideais de movimentos juvenis, que visam superar os valores das gerações adultas. (C) Denúncia dos laços de funcionalidade que unem as instituições sociais e garantem os privilégios dos ricos. (D) Ideal de superação da sociedade burguesa através da revolução das classes populares. (E) Negação da instituição estatal e da harmonia coletiva baseada na hierarquia social. QUESTÃO 3 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • A Sociologia para se afirmar no campo das ciências adotou o Positivismo. Assinale a assertiva que melhor expressa o sentido do Positivismo sociológico. Sobre o positivismo, como uma das formas de pensamento social, podemos afirmar que todas estão corretas, exceto: (A) é a primeira corrente teórica do pensamento sociológico preocupada em definir o objeto, estabelecer conceitos e definir uma metodologia. (B) derivou-se da crença no poder absoluto e exclusivo da razão humana em conhecer a realidade e traduzi-la sob a forma de leis naturais. (C) foi um pensamento predominante na Alemanha, no século XXI, nascido principalmente de correntes filosóficas da Ilustração. (D) nele, a sociedade foi concebida como um organismo constituído de partes integradas e coisas que funcionam harmoniosamente, segundo um modelo físico ou mecânico. (E) busca da objetividade e neutralidade – sociedade concebida como um organismo combinado de partes integradas e coesas que funcionam harmoniosamente, de acordo com um modelo físico ou mecânico de organização. QUESTÃO 4 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Augusto Comte, em sua obra A filosofia da História sistematizou a célebre “Lei dos Três Estados” que tinha como objetivo mostrar porque o pensamento positivista deve imperar entre os homens. Sobre a “Lei do Três Estados” formulada por Comte, é correto afirmar que: (A) o estado positivista apresenta-se na “Lei dos Três Es(tados” como o momento em que a observação prevalece sobre a imaginação e a argumentação, e na busca de leis imutáveis nos fenômenos observáveis. (B) na “Lei dos Três Estados” a argumentação desempenha um papel de primeiro plano no estado teológico. O estado teológico, na sua visão, corresponde a uma etapa posterior ao estado positivo. (C) o estado teológico, segundo está formulada na “Lei dos Três Estados”, não tem o poder de tornar a sociedade mais coesa e nenhum papel na fundamentação da vida moral. (D) Augusto Comte demonstra com essa lei que todas as ciências e o espírito humano desenvolvem-se na seguinte ordem em três fases distintas ao longo da história: a positiva, a teológica e a metafísica. (E) para Comte, o estado metafísico não tem contato com o estado teológico, pois somente o estado metafísico procura soluções absolutas e universais para os problemas do homem. QUESTÃO 5 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Auguste Comte (1798-1857) foi um pensador positivista que propôs uma nova ciência: a Sociologia, que inicialmente foi chamada de Física Social. Para Augusto Comte, uma das funções da Sociologia era encontrar leis sociais que conduzissem o progresso da humanidade. Sobre os estágios do progresso social discutidos pelo autor, é correto afirmar: (A) No estágio positivo, a vida social será explicada sociologiacapítulo 16 - o NasciMENto Da sociologia 63 pela filosofia, triunfando sobre todas as outras formas de pensamento. (B) A imposição da disciplina era, para os positivistas, uma função primordial da família, pois ali os membros de uma sociedade aprenderiam, desde pequenos, a importância da obediência e da hierarquia. (C) O positivismo é o estágio superior do progresso social, porque se sustenta nos métodos científicos. (D)A maturidade do espírito seria encontrada na ciência; por isso, na escola de inspiração positivista, os estudos literários e artísticos prevalecem sobre os científicos. (E) Defendeu a necessidade de substituir a educação europeia, ainda essencialmente científica, metafísica e literária, por uma educação teológica, conforme o espírito da civilização moderna. QUESTÃO 6 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • O filósofo Auguste Comte (1798 - 1857) preenche sua doutrina com uma imagem do progresso social na qual se conjugam ciência e política deve assumir o aspecto de uma ação científica e a política deve ser estudada de maneira científica (a física social). Desde que a Revolução francesa favoreceu a integração do povo na vida social, o posotivismo obstina-se no programa de uma comunidade pacífica. E o Estado, instituição do “reino absoluto da lei”, é a garantia da ordem que impede o retorno potencial das revoluções e engendra o progresso. RUBY, C. Introduçãoà filosofia política. São Paulo: Unesp, 1998 (adaptado). A característica do Estado positivo que lhe permite garantir não só a ordem, como também o desejado progresso das nações, é ser (A) espaço coletivo, onde as carências e desejos da população se realizam por meio das leis. (B) produto científico da física social, transcendendo e transformando as exigências da realidade. (C) elemento unificador, organizando e reprimindo, se necessário, as ações dos membros da comunidade. (D) programa necessário, tal como a Revolução Francesa, devendo portanto se manter aberto a novas insurreições. (E) agente repressor, tendo um papel importante a cada revolução, por impor pelo menos um curto período de ordem. GABARItO ExErCÍCiOs 01. B 02. A 03. C 04. A 05. C 06.C ANOtAÇÕES 64 ÉMILE DURKHEIM – FAtO SOCIAL Nesse capítulo estudaremos as teorias de Émile Durkheim e a sua importância para a consolidação da Sociologia enquanto ciência. Émile Durkheim (1858 -1917) O Francês Émile Durkheim (1858 -1917) é considerado o pai da Sociologia enquanto ciência. Ele acreditava que seria possível estudar a sociedade se ela fosse encarada como coisa, seu estudo deveria seguir a mesma lógica que a física e a biologia, ou seja, um estudo racional e objetivo. Para analisar a sociedade que é tão complexa, seria necessário tomar os fatos sociais como objeto desse estudo. Se os fatos sociais fossem encarados como coisa, seria possível estudar, analisar, compreender e apresentar uma explicação racional sobre eles, sobre a sociedade. Émile Durkheim acreditava que os fatos sociais são externos e objetivos, não depende da consciência individual para existir, mas segue leis externas. O sociólogo dizia que os fatos sociais são “maneiras coletivas de agir ou de pensar”, com isso exercem uma influencia sobre os indivíduos particulares. Os Fatos sociais O fato social, segundo Durkheim, consiste na nossa maneira de ser na sociedade, ou seja, no nosso jeito de pensar e de se manifestar no mundo. O fato social é um conjunto de medidas que nos são impostas ao longo da nossa existência. Nós somos obrigados a aceitar o que a sociedade impõe para que possamos conviver nela. As características do fato social são: exterioridade, generalidade e coercitividade. — Exterioridade: o fato social é exterior ao individuo, pois antes mesmo de nascer, a sociedade já está pronta para ele. As regras já existem, a religião já está organizada, o sistema econômico e as instituições já existem. A única coisa que resta é aprender como a sociedade funciona para fazer parte dela. A escola já está lá, esperando para ensinar como que se vive em sociedade. — Generalidade: o fato social é generalizado, todos devem seguir o padrão da sociedade, para que se possa viver coletivamente, é preciso que todos sigam as regras. — Coercitividade: o fato social é coercitivo, pois somos obrigados a seguir. Os padrões culturais são impostos aos indivídu Exemplo de fato social: Escola: a escola é um fato social, pois antes de nascermos ela já existia (exterioridade), todas as crianças devem ir para escola (generalidade) e se somos obrigados a ir para escola, se não formos seremos punidos socialmente (coercivo). Casamento: o casamento é um fato social, pois antes de existirmos já existe o casamento (exterioridade), todas as pessoas precisam constituir uma família (generalidade), e os que não constituem uma família são cobrados pela sociedade (coercitividade). Coesão Social e Anomia Durkheim encarava a sociedade um organismo vivo que necessita de uma harmonia do todo para sobreviver. A coesão social é fundamental para o funcionamento da sociedade. No entanto, existem momentos em que esta coesão é abalada, e os problemas que surgem na sociedade são encarados por Durkheim como patologia social, que ele chamou de anomia. Para que o organismo social volte a funcionar faz- se necessário curar a doença que o prejudica, e cabe ao sociólogo o papel de médico, que busca investigar, encontrar os fatos sociais adoecidos, apresentar a solução do problema, e dar o remédio que cure a sociedade. Imagine que a sociedade é um corpo humano. Se um cachorro com raiva morder o braço deste corpo, todo o organismo ficará prejudicado, e não apenas o braço. Para Durkheim a sociedade é um todo integrado. Como a sociedade é uma rede de relação, qualquer ponto alterado desta rede modifica o conjunto como um todo. Podemos citar como exemplos de anomia: greves, manifestações, rebeliões, violência, o egoísmo das pessoas, entre outras. CApítULO 17 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • ÉMILE DURKHEIM – FAtO SOCIAL sociologiacapítulo 17 - ÉMilE DuRKHEiM – Fato social 65 Como pessoas tão diferentes conseguem viver juntas na sociedade? Segundo Émile Durkheim o que mantem pessoas tão diferentes vivendo em harmonia em sociedade é o consenso entre os indivíduos. O consenso se dá na medida em que a consciência individual passa a se adequar, a se influenciar pela consciência coletiva que é responsável pela formação de nossos valores morais, e exerce uma pressão externa aos indivíduos no momento de suas escolhas. Este consenso gera uma solidariedade entre os indivíduos que pode ser de dois tipos: mecânica e orgânica. Para Durkheim a sociedade está em constante evolução, e quanto maior o grau de evolução, maior a quantidade de papéis sociais. Solidariedade mecânica A partir da ideia de evolução, Durkheim acreditava que a sociedade em sua fase primitiva se organizava a partir de poucos papéis sociais, por serem mais simples os integrantes dessa sociedade viveriam de maneira semelhante e, geralmente ligados por crenças e sentimentos comuns, o que ele chama de consciência coletiva. Nesta modelo de sociedade, não há espaço para o individualismo, pois a forte ligação entre os membros não dá espaço para o eu individual. Podemos citar como exemplo algumas aldeias indígenas. Solidariedade orgânica Na concepção de Durkheim, as sociedades “modernas” aumentaram os papéis sociais, tornaram-se mais complexas, e por isso são chamadas por ele de sociedade que vivem na fase de solidariedade orgânica. Nestas sociedades modernas, cada indivíduo tem uma função e depende dos outros para sobreviver. A Solidariedade Orgânica é resultado da complexidade da interação entre os indivíduos, pois as diferenças sociais são maiores, no entanto, são essas diferenças que unem os indivíduos devido à interdependência entre eles. ExErCÍCiOs QUESTÃO 1 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Èmile Durkheim (1858 – 1917) sempre esteve preocupado com a coesão social, por isso acreditava que o Estado é fundamental numa sociedade que fica cada dia maior e mais complexa. Para Durkheim o Estado deve estar acima das organizações comunitárias. Durkheim dizia que o Estado “concentrava e expressava a vida social Tendo como base o enunciado acima, assinale a afirmativa correta: (A) Para Durkheim as organizações sociais estão acima do Estado. (B) Para Durkheim o Estado prejudica a coesão social. (C) Para Durkheim a vida social é representada pelo Estado. (D) Para Durkheim não existe vida social enquanto existir coesão social. (E) Para Durkheim o Estado se mantem através da ausência da coesão social. QUESTÃO 2 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • De acordo com Emile Durkheim, o Estado não é antagônico ao indivíduo, pelo contrário, foi o Estado que emancipou o indivíduo do controle despótico e imediato dos de grupos como a família, a Igreja, dando-lhe um espaço mais amplo para o desenvolvimento de sua liberdade. A partir do enunciado acima sobre o posicionamento de Durkheim em relação ao Estado, assinale a alternativa correta: (A) O homem é livre devido à existência do Estado. (B) As famílias tornam os seres humanos livres. (C) As religiões libertam os seres humanos. (D) O Estado caminha contra as ideias dosindivíduos. (E) Os homens encontram a liberdade na religião e na família. QUESTÃO 3 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Émile Durkheim (1858-1917), afirmava ser o objeto de estudo dos sociólogos: uma representação coletiva que além de ser válida para todos os indivíduos que fazem parte de um determinado grupo, expressa a exterioridade e a coercitividade. As regras que regem o comportamento e as maneiras de se conduzir em sociedade podem ser denominadas, segundo o sociólogo, como fato social. Assinale a afirmativas correta sobre as características do fato social para Émile Durkheim. (A) O fato social é todo fenômeno que ocorre ocasionalmente na sociedade, como por exemplo, cumprimentar alguém da rua. (B) O fato social caracteriza-se por exercer um poder de coerção sobre as consciências individuais. Além disso é exterior ao indivíduo e apresenta-se generalizado na coletividade. (C) O fato social expressa o predomínio do ser individual sobre o ser social, pois o mais importante no fato social é a ação social. (D) é característica do fato social dar liberdade ao indivíduo, em uma dada sociedade, de praticar ações e atitudes ligadas ao seu senso crítico. (e) O fato social se caracteriza por ser particular de cada indivíduo, sem interferência do grupo social no qual está inserido. QUESTÃO 4 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Segundo o sociólogo francês Emile Durkheim, a função do Estado é moral, pois ele deve realizar e organizar o ideário do individuo e assegurar-lhe pleno desenvolvimento. E isso se faria por meio da educação pública, voltada para uma formação moral sem fins conceituais ou religiosos. A partir da compreensão de Estado para Durkheim e de dos sociologia capítulo 17 - ÉMilE DuRKHEiM – Fato social 66 conceitos coesão social e anomia, assinale a alternativa correta. (A) O Estado e a sociedade são inimigos, pois a função do Estado é tirar a liberdade dos indivíduos através da imposição da moral. (B) O Estado aprisiona o homem, por isso a sociedade está cada vez mais complexa, devido à sua falta de desenvolvimento. (C) A sociedade cria o Estado, mas não é obrigação do Estado manter a coesão social. (D) A coesão social e principalmente a anomia, garantem o funcionamento do Estado, devido à imposição dos princípios religiosos. (E) O Estado mantem a coesão social, ou seja, o funcionamento da sociedade. QUESTÃO 5 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • “O dia em que os manifestantes bateram na porta do Planalto: A Reportagem de VEJA desta semana revela como Dilma Rousseff reagiu à maior manifestação popular desde as Diretas Já. Perdido, o governo tenta achar formas de ganhar tempo e vislumbrar um plano para serenar a fúria do povo. No dia 20 de junho de 2013, a presidente Dilma Rousseff ficou por quase duas horas acuada no Palácio do Planalto, impedida de deixar o local pela porta da frente por uma multidão que, do lado de fora, bradava contra a corrupção, a PEC 37, os gastos na Copa, ela, o seu governo, todos os governos e mais uma lista sem fim de insatisfações - todas naquele momento atribuídas aos políticos no poder. (http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/o-poder-acuado) Assinale a alternativa correta sobre o significado de anomia social em Durkheim. (A) Ocorre quando há, nas sociedades modernas, com seus intensos processos de mudança, uma situação em que o conjunto de regras, valores e procedimentos são reconhecidos por todos os indivíduos, levando ao desenvolvimento da sociedade. (B) Conceito que descreve os sentimentos de falta de objetivos e de desespero provocados pelo processo de mudanças do mundo moderno, os quais resultam na perda da influência das normas sociais sobre o comportamento individual. (C) Conceito que descreve a ocorrência, nas sociedades modernas, com seus intensos processos de mudança, de um estado de complementaridade e interdependência entre os indivíduos, o que leva a uma menor divisão do trabalho social e ao fortalecimento das instituições sociais. (D) Ocorre quando os sentimentos de falta de objetivos e de desespero provocados pelo processo de mudanças do mundo moderno resultam no fortalecimento da coesão social e da influência das normas sociais sobre o comportamento individual. QUESTÃO 6 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • A sociologia ainda não ultrapassou a era das construções e das sínteses filosóficas. Em vez de assumir a tarefa de lançar luz sobre uma parcela restrita do campo social, ela prefere buscar as brilhantes generalidades em que todas as questões são levantadas sem que nenhuma seja expressamente tratada. Não é com exames sumários e por meio de intuições rápidas que se pode chegar a descobrir as leis de uma realidade tão complexa. Sobretudo, generalizações às vezes tão amplas e tão apressadas não são suscetíveis de nenhum tipo de prova. DURKHEIM, E. O suicídio: estudo de sociologia. São Paulo: Martins Fontes, 2000. O texto expressa o esforço de Émile Durkheim em construir uma sociologia com base na (A) vinculação com a filosofia como saber unificado. (B) reunião de percepções intuitivas para demonstração. (C) formulação de hipóteses subjetivas sobre a vida social. (D) adesão aos padrões de investigação típicos das ciências naturais. (E) incorporação de um conhecimento alimentado pelo engajamento político. GABARItO ExErCÍCiOs 01. C 02. A 03. B 04. E 05. B 06. C ANOtAÇÕES 67 MAX WEBER – AÇÃO SOCIAL Nesse capítulo estudaremos as teorias de Max Weber e a sua importância para o desenvolvimento da Sociologia enquanto ciência. Max Weber (1864-1920) O Sociólogo Alemão Max Weber olhava para a sociedade de maneira diferente de Émile Durkheim. Weber acreditava que a sociedade pode ser compreendida a partir do conjunto das ações individuais, e não como meros reprodutores de fatos sociais. Max Weber defendia a ideia de que o método da Sociologia não pode ser igual aos das Ciências da Natureza, pois ao estudar indivíduos na sociedade, faz-se necessário levar em consideração uma dimensão subjetiva. E o papel do sociólogo não seria o de descrever a sociedade, como defendia Durkheim, mas sua função seria a de interpretá-la. Ao interpretar a sociedade, o sociólogo busca os sentidos que os indivíduos dão a suas escolhas e atitudes, ou seja, é uma busca pela compreensão das ações sociais. Ação Social Max Weber definiu ação social como todo tipo de ação que o indivíduo faz, orientando-se pela ação de outros. Sendo assim, nem toda ação é uma ação social, para se encaixar neste conceito precisa que exista uma interação entre indivíduos, ou melhor, uma relação social. Por exemplo, ficar em uma fila do banco com mais vinte pessoas e não conversar com nenhuma delas não é uma ação social, só passa a ser uma ação social se houver relação entre as pessoas dessa fila. Com o objetivo de tornar sua teoria mais compreensiva e, na tentativa de explicar a realidade social, Weber propôs uma divisão da ação social em quatro modalidades. — Ação tradicional: está diretamente ligada aos hábitos passados de pais para filhos. — Ação afetiva: estão ligadas a sentimentos, afeto entre os praticantes desta ação social. — Ação racional com relação a valores: são ações praticadas a partir de crença consciente num valor importante, independentemente do êxito desse valor na realidade. — Ação racional com relação a fins: são ações ligadas a um objetivo, a um planejamento racional para alcançar o fim desejado. Para Weber a ação social não é exterior ao indivíduo, como acreditava Durkheim com seu conceito de fato social. Para Weber as normas e regras sociais são o resultado do conjunto de ações individuais. Max Weber acreditava que no âmago das relações entre os indivíduos existe uma constante luta, jogo de dominações. tipos de Dominação A sociedade está constantemente em um jogode interesses, em um jogo de dominação. Para Weber a sociedade está estruturada em três tipos de dominações: — Dominação Legal: é um tipo de dominação amparada nas leis. A dominação é legitimada pela lei, se o indivíduo não obedecer poderá ser punido. O respeito não é prestado ao dominador, mas à lei, é estruturado em regras racionalmente estabelecidas. Sendo assim, a autoridade tem seu poder garantido legalmente, por isso é um poder estável. — Dominação Tradicional: esta dominação está amparada pela tradição. O que existe aqui é uma relação de fidelidade pautada nos ensinamentos morais que estruturam determinadas sociedades. As pessoas respeitam à pessoa de autoridade, e não às leis. Esta dominação está fortalecida pelo conformismo. O patriarcalismo é um exemplo deste tipo de dominação. — Dominação Carismática: a dominação carismática está amparada no respeito que os dominados têm pela pessoa da autoridade devido ao seu carisma, tal autoridade é reconhecida, é exaltada pelos dominados. A obediência à autoridade se dá devido às suas qualidades pessoais. Weber classifica esse a dominação carismática como instável, pois o dominador pode perder seu carisma, e nada mais assegura seu poder, a não ser ele mesmo. CApítULO 18 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • MAX WEBER – AÇÃO SOCIAL sociologia capítulo 18 - MaX WEBER – aÇÃo social 68 A Violência legítima Ao analisar o Estado Alemão, Max Weber afirma que o verdadeiro poder estatal está nas mãos da burocracia militar e civil. Sendo assim, para Weber, o Estado é uma relação de dominação, de homens dominando homens, mediante a violência considerada legítima. Para que essa relação exista, é necessário que os dominados obedeçam à autoridade dos que detém o poder. Podemos citar como exemplo de violência considerada legítima pela sociedade, os protestos pacíficos, que são reprimidos por policiais que usam da força física para conter as manifestações. ExErCÍCiOs QUESTÃO 1 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • “A ação social (incluindo tolerância ou omissão) orienta-se pela ação de outros, que podem ser passadas, presentes ou esperadas como futuras (vingança por ataques anteriores, réplica a ataques presentes, medidas de defesa diante de ataques futuros). Os ´outros` podem ser individualizados e conhecidos ou um pluralidade de indivíduos indeterminados e completamente desconhecidos” (Max Weber. Ação social e relação social. In M.M. Foracchi e J.S Martins. Sociologia e Sociedade. Rio de Janeiro, LTC, 1977, p.139). Max Weber, um dos clássicos da sociologia, autor dessa definição de ação social, que para ele constitui o objeto de estudo da sociologia, apontou a existência de quatro tipos de ação social. Quais são elas? (A) Ação tradicional, ação emotiva, ação racional com relação a fins e ação política não esperada. (B) Ação tradicional, ação afetiva, ação racional e ação carismática. (C) Ação tradicional, ação afetiva, ação política com relação a valores, ação política com relação a fins. (D) Ação tradicional, ação afetiva, ação racional com relação a fins, ação racional com relação a valores. (E) Ação tradicional, ação afetiva, ação política com relação a valores, ação racional com relação a fins. QUESTÃO 2 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Para Max Weber existem três formas de dominação legítima: a tradicional, a carismática e a legal. A dominação tradicional é legitima pelos costumes, valores tradicionais que nos levam ao conformismo. A dominação carismática está fundada do carisma pessoal, na qualidade de liderança individual. A dominação legal é legitimada pela legalidade que decorre de um estatuto, da competência funcional e das regras racionalmente criadas. A partir da definição dos três fundamentos da legitimidade da dominação do Estado, assinale a afirmativa correta no que se refere à representação de cada um dos três tipos de dominação. (A) A dominação carismática pode ser representada por funcionários públicos, a dominação tradicional é aquela exercida pelos patriarcas e a dominação legal exercida por políticos como Lula. (B) A dominação tradicional é aquela exercida pelos patriarcas; a dominação carismática representada por políticos como Getúlio Vargas, e a dominação legal exercida, por exemplo, por funcionários públicos. (C) A dominação tradicional pode ser representada por funcionários públicos; a dominação legal é aquela exercida pelos príncipes patrimoniais; e a dominação carismática pode ser representada por Adolf Hitler. (D) A dominação legal é a exercida, por exemplo, por funcionários públicos; a dominação tradicional pode ser representada por políticos como a Presidente Dilma; e a dominação carismática pode ser representada pelo Padre Marcelo Rossi. (E) A dominação legal é a exercida, por exemplo, pelo Padre Marcelo Rossi; a dominação tradicional pode ser representada por políticos como a Presidente Dilma; e a dominação carismática pode ser representada pelo Barack Obama. QUESTÃO 3 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Nas Ciências Sociais, particularmente na Ciência Política, definir o Estado sempre foi uma tarefa prioritária. As tentativas em definir o Estado fizeram com que vários intelectuais o vissem o de formas diferentes, com naturezas diferentes. Numa palestra intitulada Política como vocação, Max Weber nos adverte, por exemplo, que o Estado pode ser entendido como uma relação de homens dominando homens. A partir da perspectiva weberiana, podemos afirmar que a dominação do Estado: (A) é exercida pela autoridade legal reconhecida, daí caracterizar-se fundamentalmente como dominação legal. (B) é estabelecida por meio da violência prioritariamente exercida contra grupos e classes excluídos social e economicamente. (C) ocorre a partir da imposição da razão de Estado, ainda que contra as vontades dos cidadãos que, normalmente, àquela resistem. (D) a exemplo da dominação de outras instituições, opera de forma genérica, exterior e coercitiva. (E) é fundamental para que a sociedade permaneça em harmonia e para manter a coesão social. QUESTÃO 4 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • “[...]. De um lado, nosso conhecimento não é uma reprodução do real, porque ele pode somente transpô- lo, reconstruí-lo com a ajuda de conceitos, de outra parte, nenhum conceito e nem também a totalidade dos conceitos são perfeitamente adequados ao objeto ou ao mundo que eles se esforçam em explicar e compreender. Entre conceito e realidade existe um hiato intransponível. Disso resulta que todo conhecimento, inclusive a ciência, sociologiacapítulo 18 - MaX WEBER – aÇÃo social 69 implica uma seleção, seguindo a orientação de nossa curiosidade e a significação que damos a isto que tentamos apreender”. (Max Weber) Com base no texto e nos conhecimentos sobre a relação entre a ciência social e verdade, é correto afirmar que, para Weber: (A) A ciência social, por tratar de um objeto cujas causas são infinitas, ao invés de buscar compreendê-lo, deve limitar-se a descrever sua aparência. (B) A ciência social revela que a infinitude das variáveis envolvidas na geração dos fatos sociais permite a elaboração teórica totalizante a seu respeito. (C) O conhecimento nas ciências sociais pode estabelecer parcialmente as conexões internas de um objeto, portanto, é limitado para abordá-lo em sua plenitude. (D) Alguns fenômenos sociais podem ser analisados cientificamente na sua totalidade porque são menos complexos do que outros nas conexões internas de suas causas. (E) O obstáculo para a ciência social estabelecer um conhecimento totalizante do objeto é o fato de desconsiderar contribuições de áreas como a biologia e a psicologia, que tratam dos eventos físicos e mentais. QUESTÃO 5 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •• • • • • • • • • • • • • • Do ponto de vista do agente, o motivo é o fundamento da ação; para o sociólogo, cuja tarefa é compreender essa ação, a reconstrução do motivo é fundamental, porque, da sua perspectiva, ele figura como a causa da ação. Numerosas distinções podem ser estabelecidas e Weber realmente o faz. No entanto, apenas interessa assinalar que, quando se fala de sentido na sua acepção mais importante para a análise, não se está cogitando da gênese da ação, mas sim daquilo para o que ela aponta, para o objetivo visado nela; para o seu fim, em suma. (COHN, Gabriel Org.. Max Weber: sociologia. São Paulo: Ática, 1979.) A categoria weberiana que melhor explica o texto em evidência está explicitada em (A) O sociólogo deve investigar o sentido das ações que não são orientadas pelas ações de outros. (B) A luta de classes tem sentido porque é o que move a história dos homens. (C) Os fatos sociais não são coisas, e sim acontecimentos que precisam ser analisados. (D) O tipo ideal é uma construção teórica abstrata que permite a análise de casos particulares. (E) A ação social possui um sentido que orienta a conduta dos atores sociais. QUESTÃO 6 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • A crescente intelectualização e racionalização não indicam um conhecimento maior e geral das condições sob as quais vivemos. Significa a crença em que, se quiséssemos, poderíamos ter esse conhecimento a qualquer momento. Não há forças misteriosas incalculáveis; podemos dominar todas as coisas pelo cálculo. WEBER, M. A ciência como vocação. In: GERTH, H.; MILLS, W. (Org.). Max Weber: ensaios de sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1979 (adaptado). Tal como apresentada no texto, a proposição de Max Weber a respeito do processo de desencantamento do mundo evidencia o(a) (A) progresso civilizatório como decorrência da expansão do industrialismo. (B) extinção do pensamento mítico como um desdobramento do capitalismo. (C) emancipação como consequência do processo de racionalização da vida. (D) afastamento de crenças tradicionais como uma característica da modernidade. (E) fim do monoteísmo como condição para a consolidação da ciência. GABARItO ExErCÍCiOs 01. D 02. B 03. A 04. C 05. E 06. C ANOtAÇÕES 70 KARL MARX – MUDANÇA SOCIAL Nesse capítulo estudaremos as teorias de Karl Marx e a sua importância para as Ciências Humanas, especialmente para a Sociologia. Buscaremos entender sua nova proposta política e econômica, e o seu legado para o mundo ocidentalizado. Karl Marx (1818-1883) Alguns críticos apontam que muitos falam de Karl Marx, mas poucos pararam para ler, no mínimo a introdução de uma de suas obras. Por isso começaremos esse capítulo lendo partes das obras de Karl Marx para posteriormente fazermos juntos algumas considerações acerca deste pensador que marcou o século XIX, fundamentou o século XX, e continua sendo respeitado no século XXI. O manifesto Comunista Marx Começa sua obra O manifesto Comunista dizendo: “A história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história das lutas de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre de corporação e companheiro, numa palavra, opressores e oprimidos, em constante oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada; uma guerra que terminou sempre, ou por uma transformação revolucionária, da sociedade inteira, ou pela destruição das duas classes em luta. Nas primeiras épocas históricas, verificamos, quase por toda parte, uma completa divisão da sociedade em classes distintas, uma escala graduada de condições sociais. Na Roma antiga encontramos patrícios cavaleiros, plebeus, escravos; na Idade Média, senhores, vassalos, mestres, companheiros, servos; e, em cada uma destas classes, gradações especiais. A sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de classe. Não fez senão substituir novas classes, novas condições de opressão, novas formas de luta às que existiram no passado.” “As armas que a burguesia utilizou para abater o feudalismo, voltam-se hoje contra a própria burguesia. A burguesia, porém, não forjou somente as armas que lhe darão morte; produziu também os homens que manejarão essas armas - os operários modernos, os proletários. Com o desenvolvimento da burguesia, isto é, do capital, desenvolve-se também o proletariado, a classe dos operários modernos, que só podem viver se encontrarem trabalho, e que só encontram trabalho na medida em que este aumenta o capital. Esses operários, constrangidos a vender-se diariamente, são mercadoria, artigo de comércio como qualquer outro; em consequência, estão sujeitos a todas as vicissitudes da concorrência, a todas as flutuações do mercado. O crescente emprego de máquinas e a divisão do trabalho, despojando o trabalho do operário de seu caráter autônomo, tiram-lhe todo atrativo. O produtor passa a um simples apêndice da máquina e só se requer dele a operação mais simples, mais monótona, mais fácil de aprender. Desse modo, o custo do operário se reduz, quase exclusivamente, aos meios de manutenção que lhe são necessários para viver e perpetuar sua existência.”. Marx finaliza sua obra gritando: “Que as classes dominantes temam à ideia de uma revolução comunista! Os proletários nada têm a perder nela a não ser suas cadeias. Têm um mundo a ganhar. proletários de todos os países, uni-vos!”. (Marx e Engels) O Estado e a burguesia Para Marx o Estado é uma organização cujos interesses são os da classe dominante na sociedade capitalista, ou seja, a burguesia. “Cada etapa da evolução percorrida pela burguesia foi acompanhada de um progresso político correspondente. Classe oprimida pelo despotismo feudal, associação armada e autônoma na comuna, aqui república urbana independente, ali terceiro estado tributário da monarquia; depois, durante o período manufatureiro, contrapeso da nobreza na monarquia feudal ou absoluto, base principal das grandes monarquias, a burguesia, com estabelecimento da grande indústria e do mercado mundial, conquistou, finalmente, a soberania politica exclusiva no Estado representativo moderno. O executivo no Estado moderno não é senão um comitê para gerir os negócios comuns de toda a classe burguesa.” (Marx, Karl. Manifesto Comunista). O materialismo histórico Marx e Engels em “A ideologia Alemã” criticam a concepção do idealismo de Hegel em que as ideias CApítULO 19 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • KARL MARX – MUDANÇA SOCIAL sociologia 71 Capítulo 19 -KaRl MaRX – MuDaNÇa SoCIal condicionam a realidade, ou seja, de que o mundo ideal interfere no mundo material. Para Marx a mudança da realidade está pautada no mundo material, pois para o pensador é o mundo material que interfere na maneira como pensamos, e não o contrário como defendia Hegel. De acordo com o materialismo histórico, o processo histórico, desde as sociedades mais remotas até à atual, se dá pelos confrontos entre diferentes classes sociais chamados por Marx de “luta de classes” que seriam decorrentes da “exploração do homem pelo homem”. Para Karl Marx a luta de classe é o motor da transformação social. Neste embate, a classe dominante procura conservar sua posição de dominante e as classes sociais exploradas buscam romper com essa lógica de exploração. Infraestrutura O conjunto das forças produtivas e das relações sociais caracterizam a base material, ou seja, a infraestrutura, que é o fundamento no qual constituem as instituições políticas e sociais, base essa que é expressa no conceito de modo de produção que serve para distinguir etapas da história humana. Superestrutura Enquanto o mundo material, como os meios de produção, é denominado por Marx de infraestrutura, a maneira como as pessoas pensam, suas ideologias, concepção políticas, concepções religiosas,códigos morais, sistemas jurídicos, sistemas de ensino, de comunicação, o conhecimento filosófico e cientifico, entre outros formam a superestrutura, que no capitalismo legitimam os modos de produção e asseguram à classe burguesa sua manutenção como classe dominante e detentora dos meios de produção. A superestrutura é determinada pela infraestrutura, ou seja, a maneira na qual a economia de uma sociedade é organizada irá influenciar nas ideologias presentes nesta sociedade. O mundo material influencia as ideias, a maneira de pensar. A propriedade e a desigualdade social “A primeira forma de propriedade é a propriedade tribal. Corresponde a um estágio não desenvolvido da produção em que um povo vive da caça e da pesca, criando animais ou, na fase mais elevada, da agricultura. (...) A divisão do trabalho, neste estágio, é muito elementar ainda, e está limitada a uma extensão da divisão natural do trabalho imposta pela família: a estrutura social é, portanto, resumida a uma extensão da própria família (…) A segunda forma é a antiga propriedade comunal e do Estado, que provém, particularmente, da união de várias tribos numa cidade, por acordo ou conquista, e ainda é acompanhada pela escravidão. Ao lado da propriedade comunal, já encontramos a propriedade privada móvel e, mais tarde, a imóvel, em desenvolvimento, mas como forma subordinada à propriedade comunal. (...) toda a estrutura da sociedade baseada em tal propriedade comunal, e com ela o poder do povo, entra em decadência na mesma medida em que progride a propriedade privada imóvel. A divisão do trabalho já está mais desenvolvida. Já encontramos o antagonismo entre a cidade e o campo, depois o antagonismo entre aqueles estados que representam interesses urbanos e os que representam interesses rurais e, dentro das próprias cidades, o antagonismo entre a indústria e o comércio marítimo. As relações de classe entre os cidadãos e os escravos estão, agora, totalmente desenvolvidas.” (MARX; ENGELS. A ideologia Alemã) Alienação e Mais-valia Para Marx a Alienação acontece na medida em que o trabalhador perde a consciência do valor real de seu trabalho. A alienação surge com a divisão social do trabalho, e com esta divisão surge a separação entre os que dirigem e os que executam o processo de trabalho. Ao fazer de sua capacidade de trabalho um meio para atingir determinados fins, como por exemplo, a sobrevivência, a sua atividade deixa de ser uma atividade livre e tornando-se trabalho alienado. Em consequência disso, o trabalhador não reconhece o produto de seu trabalho, é um produto “estranho”, sintoma de que seu trabalho é trabalho alienado. Quanto mais o trabalhador trabalha para o outro, mais alienado ele se torna, e mais pobre ele fica, pois o trabalho deveria libertar o homem. De uma forma simplória, podemos dizer que a mais-valia é produto desta alienação, em que o trabalhador recebe menos pelo tempo de trabalho realizado. Jornal do Brasil, 19 de fevereiro de 1997. ExErCÍCiOs QUESTÃO 1 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Na produção social que os homens realizam, eles entram em determinadas relações indispensáveis e independentes de sua vontade; tais relações de produção correspondem a um estágio definido de desenvolvimento das suas forças matérias de produção. A totalidade dessas relações constitui a estrutura econômica da sociedade – fundamento real, sobre o qual se erguem as superestruturas politicas e jurídicas, e ao qual correspondem determinadas formas de consciência social (MARX, K. Prefácio à Crítica da economia política. In. MARX, k, ENGELS, F. Textos 3. São Paulo. Edições Sociais, 1977 (adaptado). Para o autor, a relação entre economia e politica estabelecida no sistema capitalista faz com que sociologia 72 Capítulo 19 -KaRl MaRX – MuDaNÇa SoCIal (A) O proletariado seja contemplado pelo processo de mais-valia. (B) O trabalho se constitua como fundamento real da produção material. (C) A consolidação das forcas produtivas seja compatível com o progresso humano. (D) A autonomia da sociedade civil seja proporcional ao desenvolvimento econômico. (E) A burguesia revolucione o processo social de formação da consciência de classe. QUESTÃO 2 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • O movimento operário ofereceu uma nova resposta ao grito do homem miserável no princípio do século XIX. A resposta foi à consciência de classe e a ambição de classe. Os pobres então se organizavam em uma classe específica, a classe operária, diferente da classe dos patrões (ou capitalistas). A Revolução Francesa lhes deu confiança: a Revolução Industrial trouxe a necessidade da mobilização permanente. (HOBSBAWN, E. J. A era das revoluções. São Paulo: Paz e Terra, 1977.) No texto, analisa-se o impacto das Revoluções Francesa e Industrial para a organização da classe operária. Enquanto a “confiança” dada pela Revolução Francesa era originária do significado da vitória revolucionária sobre as classes dominantes, a “necessidade da mobilização permanente”, trazida pela Revolução Industrial, decorria da compreensão de que. (A) a competitividade do trabalho industrial exigia um permanente esforço de qualificação para o enfrentamento do desemprego. (B) a completa transformação da economia capitalista seria fundamental para a emancipação dos operários. (C) a introdução das máquinas no processo produtivo diminuía as possibilidades de ganho material para os operários. (D) o progresso tecnológico geraria a distribuição de riquezas para aqueles que estivessem adaptados aos novos tempos industriais. (E) a melhoria das condições de vida dos operários seria conquistada com as manifestações coletivas em favor dos direitos trabalhistas. QUESTÃO 3 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Karl Marx (1818 -1883), autor clássico da Sociologia, escreveu sobre questões que envolvem o Estado num período em que o capitalismo ainda estava em formação. Tal pensador não formulou uma teoria específica sobre Estado e poder, mas foram discussões presentes em suas obras. “Cada etapa da evolução percorrida pela burguesia foi acompanhada de um progresso político correspondente. Classe oprimida pelo despotismo feudal, associação armada e autônoma na comuna, aqui república urbana independente, ali terceiro estado tributário da monarquia; depois, durante o período manufatureiro, contrapeso da nobreza na monarquia feudal ou absoluto, base principal das grandes monarquias, a burguesia, com estabelecimento da grande indústria e do mercado mundial, conquistou, finalmente, a soberania politica exclusiva no Estado representativo moderno. O executivo no Estado moderno não é senão um comitê para gerir os negócios comuns de toda a classe burguesa.” (Marx, Karl. Manifesto Comunista. São Paulo: Boitempo, 1998. P.41-42.). A partir do texto I, assinale a alterativa correta: (A) A burguesia tinha o poder do Estado desde o sistema feudal. (B) A burguesia buscou poder desde o feudalismo, mas nunca alcançou. (C) A burguesia conseguiu ganhar espaço já com o Estado Moderno. (D) A burguesia começou a ganhar força apenas no Estado representativo. (E) A burguesia só conseguiu o poder durante o sistema feudal. QUESTÃO 4 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Para Karl Marx existe uma intrínseca relação entre Estado e burguesia. A partir do trecho do livro manifesto Comunista, pode-se depreender que: (A) Karl Marx faz uma crítica à situação na qual sua sociedade se encontrava, devido ao fato do Estado estar servindo aos interesses da burguesia. (B) Marx era um burguês que estava defendendo sua classe, afirmando sua trajetória de conquistas, com o objetivo de justificar sua entrava no poder do Estado. (C) Marx compreendia a situação histórica na qual sua sociedade se encontrava, demonstrando ser a favorda permanência da burguesia no poder. (D) Karl Marx faz uma crítica à situação na qual sua sociedade se encontrava, devido ao fato do Estado estar servindo apenas a classe dos trabalhadores, os proletários. (D) Karl Marx faz uma defesa sociológica à situação na qual sua sociedade se encontrava, devido ao fato do Estado estar servindo apenas a classe dos trabalhadores, os proletários. QUESTÃO 5 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • (Adaptado ENEM) De acordo com as análises de Karl Marx, a história da humanidade é a história da luta de classes, a divisão social do trabalho revela duas classes que se contrapõem. Na produção capitalista, as duas classes antagônicas são as indicadas em sociologia 73 Capítulo 19 -KaRl MaRX – MuDaNÇa SoCIal (A) senhor e escravo. (B) clero e burguesia. (C) servos e senhores. (D) nobreza e burguesia. (E) burguesia e proletariado. QUESTÃO 6 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Na produção social que os homens realizam, eles entram em determinadas relações indispensáveis e independentes de sua vontade; tais relações de produção correspondem a um estágio definido de desenvolvimento das suas forças materiais de produção. A totalidade dessas relações constitui a estrutura econômica da sociedade – fundamento real, sobre o qual se erguem as superestruturas política e jurídica, e ao qual correspondem determinadas formas de consciência social. MARX, K. Prefácio à Crítica da economia política. In: MARX, K.; ENGELS, F.Textos 3. São Paulo: Edições Sociais, 1977 (adaptado). Para o autor, a relação entre economia e política estabelecida no sistema capitalista faz com que (A) o proletariado seja contemplado pelo processo de mais-valia. (B) o trabalho se constitua como o fundamento real da produção material. (C) a consolidação das forças produtivas seja compatível com o progresso humano. (D) a autonomia da sociedade civil seja proporcional ao desenvolvimento econômico. (E) a burguesia revolucione o processo social de formação da consciência de classe GABARItO ExErCÍCiOs 01. B 02. B 03. C 04. A 05. E 06. B ANOtAÇÕES 74 AS INStItUICÕES SOCIAIS E O pApEL DA EDUCAÇÃO Nesse capítulo estudaremos as Instituições Sociais enquanto uma estrutura de organização social. As Instituições Sociais tem como objetivo atender as necessidades sociais, por isso é um objeto de estudo da Sociologia. Buscaremos entender como elas funcionam. Uma definição A sociedade criou mecanismos para que pudesse funcionar, dentre eles encontramos as instituições sociais. A instituição social é o conjunto de regras que tem como objetivo conservar e manter a organização de um grupo e satisfazer as necessidades dos indivíduos que dele participam. A Instituição é toda forma ou estrutura social instituída na sociedade, seu objetivo é atender as necessidades sociais. As instituições são conservadoras, são formas de organização social estáveis, pois é uma espécie de padrão de controle, busca orientar a conduta dos indivíduos, seja na família, escola, governo, religião, empresa, polícia ou qualquer outra. Elas agem contra as mudanças, buscando a manutenção da ordem. Durkheim registra em sua obra o quanto acredita que essas instituições são importantes. O sociólogo é um grande defensor das instituições com todas as suas regras de controle, o que o deixou com reputação de conservador, o que causou antipatia a sua obra durante muitos anos. Durkheim defende as instituições pautado num ponto fundamental, o de que o ser humano necessita se sentir seguro, protegido e respaldado. Uma sociedade sem regras claras entra em estado de anomia, sem organização, o que leva o ser humano ao caos e a angústia. Imagine se os policiais e as forças armadas não saíssem para as ruas para nos proteger, você sairia de casa? A interdependência entre as instituições. A vida em sociedade é uma vida de interdependências. As instituições existem para cumprir um papel na sociedade, ou seja, toda as instituições que existem, existem para cumprir um papel especifico para fazer a sociedade funcionar, sendo assim, todas as instituições são interdependentes. Esta rede de relações é tão fundamental que qualquer alteração em determinada instituição pode acarretar mudanças maiores ou menores nas outras. Podemos citar como exemplo a mudança na instituição familiar. A mudança nesta instituição, como por exemplo, a saída da mulher do lar para o mercado de trabalho, gera mudanças em outras instituições, como as empresas, a polícia, as forças armadas, o Estado, etc. Fez-se necessário reorganizar seus padrões de comportamento e suas regras e normas. A família A família é a primeira instituição da qual fazemos parte. Cada família tem suas próprias normas e costumes. A família é a instituição que exerce a primeira influência no processo de formação do indivíduo. Esta instituição sofreu fortes transformações ao longo da história do homem, e vem sofrendo nos últimos anos. A ideia de família nuclear, composta por mãe, pai e filhos já se apresenta ultrapassada, tendo em vista que atualmente a concepção de família não está mais amparada na ideia de casais heterossexuais. Além disso, o conceito “família” varia de acordo com a cultura de um povo. A família pode ser: monogâmica ou poligâmica. A instituição “família” tem como principais funções: — Reprodutiva — Econômica — Educacional Os índices de divórcio e o número de filhos de mães solteiras cresceram acentuadamente no Brasil. Segundo o IBGE (Instituto Brasileira de Geografia e Estatística), em 2011 o Brasil registrou a maior taxa de divórcios nos últimos anos o número de divórcios chegou a 351.153, um crescimento de 45,6% em relação a 2010, quando foram registrados 243.224. Foram 2,6 divórcios para cada mil habitantes de 15 anos ou mais de idade, contra 1,8 separações em 2010. A função nuclear reprodutiva da família está igualmente ameaçada, pois, na medida em que a ideia de família se modificou, muitos casais decidiram por não ter filhos. Devido a essas transformações, cresce o número de famílias monoparental: em muitos casos, os filhos moram só com o pai, ou só com a mãe. A Escola A escola é a instituição que faz uma ponte entre a família e o mundo público, entre a família e a sociedade. A escola é a Instituição que busca adequar o indivíduo ao meio social que o envolve, busca transmitir a cultura acumulada de seu povo para as gerações do presente e do futuro. Ela integra o indivíduo na sociedade, criando padrões de comportamento que são considerados fundamentais para nossa vivência em sociedade. A Igreja A religião é a uma das instituições mais importantes e antigas. A religião tem uma imensa capacidade de influenciar o comportamento dos seres humanos. O homem encontra na religião uma estabilidade para seus problemas intrínsecos e espirituais. A religião proporciona CApítULO 20 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •AS INStItUICÕES SOCIAIS E O pApEL DA EDUCAÇÃO 75 sociologiacapítulo 20-as iNstituicÕEs sociais E o papEl Da EDucaÇÃo uma segurança emocional que nenhuma outra instituição fornece. Vale ressaltar que cada povo tem suas crenças religiosas e seus conceitos de verdade. A religião, assim como as outras instituições, está amparada em regras e normas que exigem obediência. As mudanças nas outras instituições acabam pressionando a religião a rever seus dogmas. Podemos citar como exemplo as religiões cristãs que se deparam atualmente com questões como o casamento entre pessoas do mesmo sexo, o aborto, a separação no religioso, entre outras questões consideradas polêmicas. O Estado A instituição “Estado” é caracterizada pelo seu poder de coercitivo. Legalmente amparado, o Estado mantem a ordem social. Ele criou o seu direito de impor e obrigar os cidadãos a seguir suas regras. O Estado é o agente de controle por excelência. Além disso, é o único que pode legalmente usar a violência.Para Max Weber o Estado moderno é “uma comunidade humana que, dentro dos limites de determinado território (...), reivindica o monopólio do uso legítimo da violência física”. “(...) o Estado consiste em uma relação de dominação do homem pelo homem, com base no instrumento da violência legítima – ou seja, da violência considerada como legítima” (61). O Estado moderno é um agrupamento de dominação que apresenta caráter institucional e que procurou – com êxito – monopolizar, nos limites de um território, a violência física legítima como instrumento de domínio e que, tendo esse objetivo, reuniu nas mãos dos dirigentes os meios materiais de gestão. (Adaptado - disponível em http://stoa. usp.br) O Estado é a nação, e a Nação é um conjunto de pessoas ligadas entre si por vínculos permanentes, tais como: — Idioma, — Costumes, — Valores, — Religião, O Estado é um conjunto de instituições políticas, dentre eles o que denominamos: governo. O governo faz parte do Estado, que é algo abstrato. Se te perguntarem: “O que é o Estado”, não encontrará uma resposta ligando-o á uma pessoa. Já o governo é fácil de identificar. O governo muda, mas o Estado permanece. Por exemplo, nos últimos anos tivemos o Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, do Presidente Luíz Inácio Lula da Silva, da Presidente Dilma Rousseff e atualmente do Presidente Michel Temer. Mas o que é o Estado? O Estado é o Brasil, e não o Michel Temer. E o que é o Brasil? Ou melhor, quem é o Brasil? Perceba que é difícil de responder, por isso respondemos: “O Brasil é todo brasileiro”. O presidente não governa sozinho, pois vivemos em uma República presidencialista que é dividida em três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. ExErCÍCiOs QUESTÃO 1 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • “Instituição social é um conjunto de regras e procedimentos padronizados, reconhecidos, aceitos e sancionados pela sociedade e que tem grande valor social. A instituição não existe isolada das outras. Todas elas possuem uma interdependência mútua, de tal forma que uma modificação numa determinada instituição pode acarretar mudanças maiores ou menores nas outras. As instituições sociais servem como um meio para a satisfação das necessidades da sociedade. Nenhuma instituição surge sem que tenha surgido antes uma necessidade. Mas, além desse papel, as instituições sociais cumprem também o de servir de instrumento de regulação e controle das atividades do homem. As principais instituições sociais são: família, religião, econômica, política, educação e recreação.” (Pérsio Santos de Oliveira. Introdução à Sociologia. Ed. Ática. 2008) Diante do texto apresentado é possível inferir que: (A) As instituições sociais são totalmente independentes entre si. As mudanças estruturais de uma não interferem na estrutura da outra. (B) As instituições sociais são criadas devido à necessidade da sociedade, pois é preciso que existam regras e padrões sociais para que a sociedade funcione. (C) As instituições surgem sem que antes tenha surgido uma necessidade. (D) A instituição família é mais importante que a política, pois ela é a única que cumpre o papel de servir de regulação e controle das atividades do homem. (E) As instituições não possuem grande valor social devido a sua imposição a sociedade, fazendo com que todos percam a liberdade que faz do homem um ser social. QUESTÃO 2 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Um dos principais objetivos do estudo da Sociologia é explicar o processo social, a construção histórica da sociedade, e mostrar que o que existe não foi sempre assim. Ela busca auxiliar a “desnaturalização” dos fatos sociais, a desconstruir alguns conceitos que, de tão repetidos que foram, parecem ser os únicos verdadeiros. Marque a opção que não está relacionada com o conceito destacado acima. (A) Desnaturalizar é compreender que a realidade cotidiana é resultado de decisões, de interesses particulares ou coletivos, de ideologias; (B) Não é uma tendência natural e imutável e pode ser modificada pela vontade humana; 76 sociologia capítulo 20-as iNstituicÕEs sociais E o papEl Da EDucaÇÃo (C) Desnaturalizar é empreender a estagnação das formas de interpretação da sociedade, pois tudo já está determinado e certo. (D) Desnaturalizar é pensar no mutável a todo instante e ter como certo as possibilidades de se pensar a mesma realidade ou conceito por vias diferentes. (E) Todas as alternativas acima estão verdadeiras. QUESTÃO 3 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Florestan Fernandes (1920-1995), importante nome da Sociologia brasileira, estudou os povos Tupinambás, e sua pesquisa nos permite conhecer alguns elementos que caracterizam a educação das sociedades tribais. Três importantes valores perpassam a educação dos tupinambás que é o diferencial de uma sociedade “desescolarizada” (educação informal) aponte-as: (A) A tradição, o valor da ação e o valor do exemplo; (B) A tradição, o valor da palavra e o valor do exemplo; (C) A educação dos menores, a pesca e o chefe da tribo; (D) O valor da ação, o valor do exemplo e a magia. (E) O Estado, a família, e a escola formal. QUESTÃO 4 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Segundo um dos fundadores da sociologia moderna, Emile Durkheim, as instituições sociais são consideradas como uma maneira de proporcionar proteção a sociedade, e nas mesmas são aceitas as regras que geralmente são impostas pela sociedade, mantendo então uma organização do grupo, onde geralmente as necessidades dos indivíduos de cada grupo são saciadas. Sobre a concepção de Émile Durkheim (1858–1917) é correto afimar: (A) É um dos representantes do pensamento progressista. (B) Sua teoria faz a defesa da ordem social dominante. (C) A escola não têm a função de imprimir valores morais e disciplinares. (D) As crises não são causadas por aspectos morais, mas econômicos. (E) As instituições sociais devem desaparecer, pois causam o estado de anomia. QUESTÃO 5 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Sobre as instituições sociais, assinale a alternativa incorreta: (A) A família pode ser definida como um grupo de pessoas diretamente unidas por conexões parentais, sejam decorrentes de sangue, casamento ou adoção. (B) O casamento é a base definida da união entre duas pessoas de sexos diferentes, e responsável direto pelas constituições familiares, que devem ser sacralizadas e legais para serem considerados instituição. (C) Além da socialização primária de crianças, a família tem como papel a estabilização de personalidades, pois cabe a ela a assistência e apoio emocional de seus membros adultos. (D) O casamento e família são instituições estabelecidas, mas que na atualidade passam por tensões e transformações. (E) Nas sociedades ocidentais, o casamento e a família estão associados à monogamia. QUESTÃO 6 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • tEXtO I O que vemos no país é uma espécie de espraiamento e a manifestação da agressividade através da violência. Isso se desdobra de maneira evidente na criminalidade, que está presente em todos os redutos — seja nas áreas abandonadas pelo poder público, seja na política ou no futebol. O brasileiro não é mais violento do que outros povos, mas a fragilidade do exercício e do reconhecimento da cidadania e a ausência do Estado em vários territórios do país se impõem como um caldo de cultura no qual a agressividade e a violência fincam suas raízes. Entrevista com Joel Birman. A Corrupção é um crime sem rosto. IstoÉ. Edição 2099; 3 fev. 2010 tEXtO II Nenhuma sociedade pode sobreviver sem canalizar as pulsões e emoções do indivíduo, sem um controle muito específico de seu comportamento. Nenhum controle desse tipo é possível sem que as pessoas anteponham limitações umas às outras, e todas as limitações sãoconvertidas, na pessoa a quem são impostas, em medo de um ou outro tipo. ELIAS, N. O Processo Civilizador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993. Considerando-se a dinâmica do processo civilizador, tal como descrito no Texto II, o argumento do Texto I acerca da violência e agressividade na sociedade brasileira expressa a: (A) incompatibilidade entre os modos democráticos de convívio social e a presença de aparatos de controle policial. (B) manutenção de práticas repressivas herdadas dos períodos ditatoriais sob a forma de leis e atos administrativos. (C) inabilidade das forças militares em conter a violência decorrente das ondas migratórias nas grandes cidades brasileiras. (D) dificuldade histórica da sociedade brasileira em institucionalizar formas de controle social compatíveis com valores democráticos. (E) incapacidade das instituições político-legislativas em formular mecanismos de controle social específicos à realidade social brasileira. 77 sociologiacapítulo 20-as iNstituicÕEs sociais E o papEl Da EDucaÇÃo QUESTÃO 7 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Ações de educação patrimonial são realizadas em diferentes contextos e localidades e têm mostrado resultados surpreendentes ao trazer à tona a autoestima das comunidades. Em alguns casos, promovem o desenvolvimento local e indicam soluções inovadoras de reconhecimento e salvaguarda do patrimônio cultural para muitas populações. PELEGRINI, S. C. A.; PINHEIRO, A. P. (orgs.). Tempo, memória e patrimônio cultural. Piauí: Edupi, 2010. A valorização dos bens mencionados encontra-se correlacionada a ações educativas que promovem a(s); (A) evolução de atividades artesanais herdadas do passado. (B) representações sociais formadoras de identidades coletivas. (C) mobilizações políticas criadoras de tradições culturais urbanas. (D) hierarquização de festas folclóricas praticadas por grupos locais. (E) formação escolar dos jovens para o trabalho realizado nas comunidades. QUESTÃO 8 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Quando surgiram as primeiras notícias sobre a presença de seres estranhos, chegados em barcos grandes como montanhas, que montavam numa espécie de veados enormes, tinham cães grandes e ferozes e possuíam instrumentos lançadores de fogo, Montezuma e seus conselheiros ficaram pensando: de um lado, talvez Quetzalcóatl houvesse regressando, mas, de outro, não tinham essa confirmação. PINSKY, J. et alii. História da América através de textos. São Paulo: Contexto, 2007 (adaptado). A dúvida apresentada inseria-se no contexto da chegada dos primeiros europeus à América, e sua origem estava relacionada ao (A) domínio da religião e do mito. (B) exercício do poder e da política. (C) controle da guerra e da conquista. (D) nascimento da filosofia e da razão. (E) desenvolvimento da ciência e da técnica. GABARItO ExErCÍCiOs 01. B 02. C 03. A 04.B 05. B 06. D 07. B 08. A ANOtAÇÕES 78 FILOSOFIA tEORIA DO CONHECIMENtO : RACIONALISMO (RENÉ DESCARtES) X EMpIRISMO (DAVID HUME) Nesse capítulo estudaremos a questão do conhecimento. O problema do conhecimento é uma das questões filosóficas mais investigadas durante toda a história da Filosofia. A seguir conheceremos os principais filósofos dessa discussão e as suas teorias. O problema do conhecimento É possível conhecer as coisas que existem no mundo? Qual o limite do conhecimento humano? Questionamentos como esses eram feitos desde os filósofos pré-socráticos. A diferença sempre esteve na maneira como cada filósofo abordava esse tema. Podemos dividir tal abordagem em racionalismo e empirismo, que representam concepções opostas sobre a aquisição do conhecimento. As sementes Os dois filósofos mais consagrados da Filosofia Clássica - Platão e Aristóteles - poderiam ser colocados como os representantes das sementes que engendraram as duas correntes de pensamento acerca do conhecimento. Platão (427 a. C.- 347 a. C.) desenvolve uma compreensão de mundo partindo da ideia de que para chegar à verdade era preciso ultrapassar os dados da experiência, que era vista por ele como incapaz de atingir o mundo inteligível, local onde se encontra o conhecimento verdadeiro, o princípio de todas as coisas. Já Aristóteles (384 a.C.-322 a. C) era divergente, pois acreditava que o conhecimento está no mundo sensível, classificado por ele como o mundo real. Para Aristóteles, apenas por meio das informações adquiridas através da experiência é que se podem tirar conclusões, e destas criar regras que explicam o funcionamento da Natureza. A partir desta concepção de aquisição do conhecimento, Aristóteles funda as ciências da natureza, representando então o realismo, que parte sempre do empírico. A denominação racionalismo e empirismo só entram em vigor na Filosofia Moderna, pois neste período os filósofos se classificam como pertencentes a uma dessas correntes de pensamento. O Racionalismo O racionalismo é uma corrente filosófica que coloca em evidência as limitações dos sentidos como fornecedores do conhecimento verdadeiro. Para o racionalismo a razão é a única fonte de conhecimento. Os sentidos podem enganar o homem apresentando um falso conhecimento, mas a razão não. A verdade só pode ser alcançada através da razão. A escola racionalista, inaugurada por René Descartes (1596-1650), tinha como fundamento para o conhecimento verdadeiro os conceitos imutáveis, como por exemplo, os conceitos da matemática: 2 + 2 = 4, esses conceitos são imutáveis, dois mais dois serão sempre igual a quatro. Para os filósofos racionalistas todo conhecimento deve ser construído através de um método de investigação racional: o método dedutivo. Este método tem como ponto de partida o todo, conceitos universais, para chegar às partes. Os principais representantes dessa corrente filosófica foram Descartes, Nicolas Malebranche (1638-1715), Baruch Espinosa (1632-1677) e Leibniz (1646-1716). Descartes acreditava que os conhecimentos válidos não provêm da experiência, mas são inatos. Para Descartes, faz- se necessário colocar em dúvida qualquer conhecimento que não seja claro e distinto. “Experimentei algumas vezes que os sentidos eram enganosos, e é de prudência nunca se fiar inteiramente em quem já nos enganou uma vez.” (Descartes, R. Meditações Metafísicas. São Paulo: Abril Cultural, 1979). “... desde meus primeiros anos, recebera muitas falsas opiniões como verdadeiras, e de que aquilo que depois eu fundei em princípios tão mal assegurados não podia ser senão mui duvidoso e incerto. Era necessário tentar seriamente, uma vez em minha vida, desfazer-me de todas as opiniões a que até então dera crédito, e começar tudo novamente a fim de estabelecer um saber firme e inabalável.” (Descartes, R. Meditações Concernentes à Primeira Filosofia. São Paulo: Moderna, 2001 – Adaptado) CAPÍTULO 21 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •tEORIA DO CONHECIMENtO 79 filosofia e sociologiacapítulo 21 - teoRia Do coNHeciMeNto O conhecimento claro e distinto pode ser obtido através da análise racional. O pensamento de Descartes se articula com o platônico, amparado em princípios tidos como racionais e universalmente válidos. Descartes colocou em questão as verdades fundamentadas na tradição, a ponto de duvidar de tudo e então estabeleceu suas premissas. • Duvido da existência de tudo ao meu redor. • Se duvido de tudo, a minha única certeza é de que eu existo, pois estou aqui duvidando. • Se duvido é porque penso. • “Cogito ergo sum” – Penso, logo existo. Sendo assim, o conhecimento passa então a ter necessidade de uma base lógica. O Empirismo O empirismo, enquanto corrente filosófica, teve origem na Inglaterra com Francis Bacon (1561-1626) – um dos elaboradores do método científico. Segundo Bacon todo conhecimento precisa necessariamente passar pelo crivo da experiência, semexperiência não há conhecimento. Os sucessores intelectuais de Bacon foram os empiristas ingleses: Thomas Hobbes (1588-1674), John Locke (1632- 1704), George Berkeley (1685-1753) e David Hume (1711- 1776). Os questionamentos desses filósofos estavam amparados no problema do conhecer. Os empiristas voltaram-se para as ciências naturais e experimentais. Como filhos de seu tempo, os filósofos ingleses refletiam o ambiente pragmático de sua nação. É possível, a partir da experiência sensível, chegar às leis universais? John Locke John Locke acreditava que o ser humano nasce uma “tábula rasa”, uma folha em branco, e as experiências vão escrevendo o conhecimento nela, negando assim a concepção racionalista da existência de ideias inatas. Para o filósofo inglês, todo o conhecimento é construído a partir dos sentidos, e posteriormente é trabalhado pela razão. Algo só é verdadeiro se for comprovado na experimentação. Assim, de observação em observação chega-se ao funcionamento do sistema, que tem como ponto de partida as partes para chegar ao todo, ou seja, pelo método indutivo. David Hume David Hume (1721-1776) foi o principal filósofo da corrente de pensamento empirista moderna. Para Hume, no início do conhecimento, estão as percepções que provocam impressões. Segundo o empirista, as ideias derivam dessa experiência que causa emoções, levando o ser humano a converter suas sensações em conhecimento sobre algo. Para Hume o que mais rege o conhecimento é o costume ou hábito. Ele acreditava que o hábito é o princípio com base no qual, da simples constatação da contiguidade e sucessão entre dois fenômenos, se infere também a necessidade da conexão entre os dois fenômenos, considerando-os um como “causa” e o outro “efeito” (REALE, 2007, p. 137). O conhecimento para Hume é todo baseado na experiência, partindo e derivando do mundo empírico. A partir do exposto sobre o empirismo podemos afirmar que tal corrente filosófica forneceu a base para a ciência moderna, que está essencialmente amparada na experiência. Um olhar diferente: a proposta Kantiana O representante das ideias Iluministas na Alemanha Immanuel Kant (1724-1804) é reconhecido como um marco na história da Filosofia com a sua revolução copernicana, pois renovou o debate sobre o conhecimento. Assim como Copérnico, que afirmou que a Terra não era o centro do Universo, Kant buscou provar que o lugar atribuído ao objeto do conhecimento é que estava equivocado. Para Kant não se deve colocar como centro do debate acerca do conhecimento o objeto a ser conhecido, mas a razão que busca conhecê-lo. Kant criticou a ideia de uma razão absoluta, inaugurando o Idealismo Alemão. Ele encontrou a solução para a divergência entre racionalismo e empirismo. A solução para a oposição entre o racionalismo e o empirismo foi chamada por ele mesmo de “Revolução copernicana da filosofia”. Kant tentou provar que tanto os inatistas quanto os empiristas estavam errados. Ou seja, os conteúdos do conhecimento não eram inatos nem eram adquiridos pela experiência. Para Kant a razão é a priori, uma estrutura inata, mas é vazia e sem conteúdo. A razão não depende da experiência para existir, já esta é a posteriori, pois o conteúdo que preenche a estrutura vazia é obtido pela experiência. Baseado nessas premissas, Kant afirma que o conhecimento é racional e verdadeiro. Mas Kant ressalta que o homem não é capaz de conhecer “a coisas em si”. Para Kant a realidade não está nas coisas, mas no ser humano. simULAdO QUESTÃO 1 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • tEXtO I Há já algum tempo eu me percebi de que, desde meus primeiros anos, recebera muitas falsas opiniões como verdadeiras, e de que aquilo que depois eu fundei em princípios tão mal assegurados não podia ser senão mui duvidoso e incerto. Era necessário tentar seriamente, uma vez em minha vida, desfazer-me de todas as opiniões a que 80 filosofia e sociologia capítulo 21 - teoRia Do coNHeciMeNto até então dera crédito, e começar tudo novamente a fim de estabelecer um saber firme e inabalável. (Descartes, R. Meditações Concernentes à Primeira Filosofia. São Paulo: Moderna, 2001 – Adaptado) tEXtO II É o caráter radical do que se procura que exige a radicalização do próprio processo de busca. Se todo o espaço for ocupado pela dúvida, qualquer certeza que aparecer a partir daí terá sido de alguma forma gerada pela própria dúvida, e não será seguramente nenhuma daquelas que foram anteriormente varridas por essa mesma dúvida. (SILVA, F.L. Descartes: a metafísica da modernidade. São Paulo: Moderna, 2001 – Adaptado). A exposição e a análise do projeto cartesiano indicam que, para viabilizar a reconstrução radical do conhecimento, deve-se: (A) retomar o método da tradição para edificar a ciência com legitimidade. (B) questionar de forma ampla e profunda as antigas ideias e concepções. (C) investigar os conteúdos da consciência dos homens menos esclarecidos. (D) buscar uma via para eliminar da memória saberes antigos e ultrapassados. (E) encontrar ideias e pensamentos evidentes que dispensam ser questionados. QUESTÃO 2 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Até hoje admita-se que nosso conhecimento se devia regular pelos objetos; porém, todas as tentativas para descobrir, mediante conceitos, algo que ampliasse nosso conhecimento, malogravam-se com esse pressuposto. Tentemos, pois, uma vez, experimentar se não se resolverão melhor as tarefas da metafísica, admitindo que os objetos se deveriam regular pelo nosso conhecimento. (Kant, I. Crítica a razão pura. Lisboa, 1994 – Adaptado). O Trecho em questão é uma referência ao que ficou conhecido como revolução copernicana na filosofia. Nele confrontam-se duas posições filosóficas que (A) assumem pontos de vista opostos acerta da natureza do conhecimento. (B) defendem que o conhecimento é impossível, restando-nos somente o ceticismo. (C) revelam a relação de interdependência entre os dados da experiência e a reflexão filosófica. (D) apostam, no que diz respeito às tarefas da filosofia, na primazia das ideias em relação aos objetos. (E) refutam-se mutuamente quando à natureza do nosso conhecimento e são ambas recusadas por Kant. QUESTÃO 3 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Os produtos e seu consumo constituem a meta declarada do empreendimento tecnológicos. Essa meta foi proposta pela primeira vez no inicio da Modernidade, como expectativa de que o homem poderia domina a natureza. No entanto, essa expectativa, convertida em programa anunciado por pensadores como Descartes e Bacon e impulsionado pelo Iluminismo, não surgiu de um prazer de poder”, “de um mero imperialismo humano”, mas da aspiração de libertar o homem e de enriquecer sua vida, física e culturalmente. ( Cupani, A. A tecnologia como problema filosófico: três enfoques. Scientias Studia, São Paulo, 2004 – Adaptado) Autores da filosofia moderna, notadamente Descartes e Bacon, e o projeto iluminismo concebem a ciência como uma forma de saber que almeja libertar o homem das intempéries da natureza. Nesse contexto, a investigação científica consiste em (A)expor a essência da verdade e resolver definitivamente as disputas teóricas ainda existentes. (B)oferecer a última palavra acerca das coisas que existem e ocupar o lugar que outrora foi da filosofia. (C) ser a expressão da razão e servir de modelo para outras áreas do saber que almejam o progresso. (D) explicitar as leis gerais que permitem interpretar a natureza e eliminar os discursos éticos e religiosos. (E) explicar a dinâmica presente entre o fenômenos naturais e impor limites aos debates acadêmicos. QUESTÃO 4 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • tEXtO I Experimentei algumas vezes que os sentidos eram enganosos, e é de prudência nunca se fiar inteiramente em quem já nos enganou uma vez. DESCARTES,R. Meditações Metafísicas. São Paulo: Abril Cultural, 1979. tEXtO II Sempre que alimentarmos alguma suspeita de que uma ideia esteja sendo empregada sem nenhum significado, precisaremos apenas indagar: de que impressão deriva esta suposta ideia? E se for impossível atribuir-lhe qualquer impressão sensorial, isso servirá para confirmar nossa suspeita. HUME, D. Uma investigação sobre o entendimento. São Paulo: Unesp, 2004 (adaptado). Nos textos, ambos os autores se posicionam sobre a natureza do conhecimento humano. A comparação dos excertos permite assumir que Descartes e Hume (A) defendem os sentidos como critério originário para considerar um conhecimento legítimo. 81 filosofia e sociologiacapítulo 21 - teoRia Do coNHeciMeNto (B) entendem que é desnecessário suspeitar do significado de uma ideia na reflexão filosófica e crítica. (C) são legítimos representantes do criticismo quanto à gênese do conhecimento. (D) concordam que conhecimento humano é impossível em relação às ideias e aos sentidos. (E) atribuem diferentes lugares ao papel dos sentidos no processo de obtenção do conhecimento. QUESTÃO 5 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • David Hume nasceu na cidade de Edimburgo, em pleno Século das Luzes, denominação pela qual ficou conhecido o século XVIII. Para investigar a origem das ideias e como elas se formam, Hume parte, como a maioria dos filósofos empiristas, do cotidiano das pessoas. Do ponto de vista de um empirista, (A) não existem ideias inatas. (B) não existem ideias abstratas. (C) não existem ideias a posteriori. (D) não existem ideias formadas pela experiência. (E) não existe a razão. QUESTÃO 6 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Nunca nos tornaremos matemáticos, por exemplo, embora nossa memória possua todas as demonstrações feitas por outros, se nosso espírito não for capaz de resolver toda espécie de problemas; não nos tornaríamos filósofos, por ter lido todos os raciocínios de Platão e Aristóteles, sem poder formular um juízo sólido sobre o que nos é proposto. Assim, de fato, pareceríamos ter aprendido, não ciências, mas histórias. Descartes, R. Regras para a orientação do espírito. Em sua busca pelo saber verdadeiro, o autor considera o conhecimento, de modo crítico, como resultado da (A) Investigação de natureza empírica (B) Retomada da tradição intelectual (C) Imposição de valores ortodoxos (D) Autonomia do sujeito pensante (E) Liberdade do agente moral QUESTÃO 7 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • É o caráter radical do que se procura que exige a radicalização do próprio processo de busca. Se todo o espaço for ocupado pela dúvida, qualquer certeza que aparecer a partir daí terá sido de alguma forma gerada pela própria dúvida, e não será seguramente nenhuma daquelas que foram anteriormente varridas por essa mesma dúvida. SILVA, F. l. Descartes: a metafísica da modernidade. São Paulo: Moderna, 2001 (adaptado). Apesar de questionar os conceitos da tradição, a dúvida radical da filosofia cartesiana tem caráter positivo por contribuir para o(a) (A) dissolução do saber científico. (B) recuperação dos antigos juízos. (C) exaltação do pensamento clássico. (D) surgimento do conhecimento inabalável. (E) fortalecimento dos preconceitos religiosos. QUESTÃO 8 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Todo o poder criativo da mente se reduz a nada mais do que a faculdade de compor, transpor, aumentar ou diminuir os materiais que nos fornecem os sentidos e a experiência. Quando pensamos em uma montanha de ouro, não fazemos mais do que juntar duas ideias consistentes, ouro e montanha, que já conhecíamos. Podemos conceber um cavalo virtuoso, porque somos capazes de conceber a virtude a partir de nossos próprios sentimentos, e podemos unir a isso a figura e a forma de um cavalo, animal que nos é familiar. HUME, D. Investigação sobre o entendimento humano. São Paulo: Abril Cultural, 1995. Hume estabelece um vínculo entre pensamento e impressão ao considerar que (A) os conteúdos das ideias no intelecto têm origem na sensação. (B) o espírito é capaz de classificar os dados da percepção sensível. (C) as ideias fracas resultam de experiências sensoriais determinadas pelo acaso. (D) os sentimentos ordenam como os pensamentos devem ser processados na memória. (E) as ideias têm como fonte específica o sentimento cujos dados são colhidos na empiria. GABARItO simULAdO 01. B 02. A 03. C 04. E 05. A 06. D 07. D 08. A ANOtAÇÕES 82 A FILOSOFIA ILUMINIStA Nesse capítulo buscaremos compreender o contexto Europeu do período denominado Iluminista. Entenderemos esse momento histórico como uma manifestação filosófica e crítica ao sistema até então vigente. Uma manifestação filosófica O Iluminismo foi um movimento intelectual e filosófico ocorrido no século XVIII, que atingiu todas as esferas do mundo europeu e consequentemente todo o mundo Ocidental. Amparado no ideal da razão e na crítica à Idade Média, que era encarada como o período da estagnação do pensar, os Iluministas se viam como os iluminadores dos possíveis caminhos do mundo do conhecimento, a fim de levar o mundo ao progresso. O maior exemplo disso foi a criação da enciclopédia. Essencialmente burguês, o movimento iluminista apresentava um discurso que era divergente ao autoritarismo. Com forte presença na França, os iluministas buscaram compreender a crise que se iniciava no governo absolutista, discutiam sobre a política e a sociedade como um todo. Na esfera social, o debate ficava pautado na desigualdade, os iluministas problematizaram a divisão da sociedade em “estados” ou “ordens”, divisão que limitava a burguesia e o povo em geral, a fim de privilegiar e privilegiava a aristocracia. Dando continuidade aos questionamentos já levantados no século XVII pelo inglês John Locke sobre a crise do absolutismo, os iluministas franceses estruturaram um pensamento que se apresentou como base das transformações que ocorreram no final do século XVIII e no século XIX. A crítica ao absolutismo Os filósofos iluministas franceses fizeram uma forte crítica ao absolutismo, pensadores como Montesquieu (1689–1755), Voltaire (1694-1778), Rousseau (1712-1778) e os enciclopedistas. Tais filósofos marcaram a história da Filosofia por suas propostas de mudança social. Montesquieu Montesquieu propôs à França um novo modelo político, uma nova maneira de governar que se apresentava fortemente contra o absolutismo vigente naquela nação. O grande legado do filósofo iluminista foi a ideia da descentralização do poder, baseado na divisão do poder em três: Executivo, responsável pela administração, aquele que executa a lei; Legislativo, poder que cria as leis; e Judiciário, que julga os que não obedecem as leis, garantindo que elas sejam cumpridas. A divisão do poder impede o surgimento de governos autoritários e tiranos. Montesquieu apresentou um modelo de governo democrático. Além disso, acreditava na necessidade da separação entre igreja e Estado. A sua obra mais importante foi O Espírito das Leis, na qual Montesquieu apresenta os três modelos políticos vigentes na Europa de sua época: a monarquia, a república e o despótico. Para Montesquieu a democracia estaria pautada em leis que garantiriam a liberdade dos cidadãos. “É verdade que nas democracias o povo parece fazer o que quer; mas a liberdade política não consiste nisso. Deve- se ter sempre presente em mente o que é independência e o que é liberdade. A liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis permitem; se um cidadão pudesse fazer tudo o que elas proíbem, não teria mais liberdade, porque os outros também teriam tal poder.” (MONTESQUIEU. Do Espirito das Leis. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1997). Voltaire Voltaire foi um dos pensadores que defendeu a consolidação dos Direitos Humanos. Amparado na ideia de liberdade,Voltaire se dedicou na defesa da tolerância religiosa, e da igualdade entre burgueses e nobres. Além da liberdade religiosa, Voltaire defendia a liberdade de expressão. Foi um dos maiores críticos da Igreja Católica devido ao seu histórico repressor. Na tentativa de se distanciar da Metafísica, Voltaire ressalta a necessariedade de se compreender o mundo natural a partir de um olhar realista, e não mais Metafísico, pois para ele este nada respondia. O bem e o mal não são ordens divinas, mas conceitos criados pela sociedade a fim de discernir o que é útil ou desnecessário para a sociedade. Para Voltaire a razão é o que existe de mais “divino” no homem, ela garante a liberdade do ser humano. Pensar é o maior poder do homem. O Iluminismo e os filósofos alemães Immanuel Kant Além de sua revolução no campo da teoria do conhecimento, Kant afirmava que o esclarecimento deu ao homem a liberdade, pois a autonomia da capacidade racional é a expressão da maioridade do homem. Segundo Kant: “(...) o esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem CAPÍTULO 22 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • A FILOSOFIA ILUMINIStA 83 filosofia e sociologiacapítulo 22 - a filosofia iluMiNista de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. Tem coragem de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento. A preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma tão grande parte dos homens, depois que a natureza de há muito os libertou de uma condição estranha, continuem, no entanto, de bom grado menores durante toda a vida.” (KANT, I. Resposta à pergunta: o que é esclarecimento? Petrópolis: Vozes, 1985) Hegel Para Hegel (1770-1831) a consciência é o referencial das coisas que existem. O homem é um sujeito consciência de si. Para o idealismo hegeliano as ideias condicionam a realidade, a consciência tem uma relação de poder com as coisas que existem. Para Hegel a história da humanidade é uma consequência do processo dialético, a história é movida pela contradição. DIALÉTICA: Tese + Antítese = Síntese. simULAdO QUESTÃO 1 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • É verdade que nas democracias o povo parece fazer o que quer; mas a liberdade política não consiste nisso. Deve- se ter sempre presente em mente o que é independência e o que é liberdade. A liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis permitem; se um cidadão pudesse fazer tudo o que elas proíbem, não teria mais liberdade, porque os outros também teriam tal poder. MONTESQUIEU. Do Espirito das Leis. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1997 (adaptado). A característica de democracia ressaltada por Montesquieu diz respeito (A) ao status de cidadania que o indivíduo adquire ao tomar as decisões por si mesmo. (B) ao condicionamento da liberdade dos cidadãos à conformidade às leis. (C) à possibilidade de o cidadão participar no poder e, nesse caso, livre da submissão às leis. (D) ao livre-arbítrio do cidadão em relação àquilo que é proibido, desde que ciente das consequências. (E) ao direito do cidadão exercer sua vontade de acordo com seus valores pessoais. QUESTÃO 2 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. Tem coragem de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento. A preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma tão grande parte dos homens, depois que a natureza de há muito os libertou de uma condição estranha, continuem, no entanto, de bom grado menores durante toda a vida. KANT, I. Resposta à pergunta: o que é esclarecimento? Petrópolis: Vozes, 1985 (adaptado). Kant destaca no texto o conceito de Esclarecimento, fundamental para a compreensão do contexto filosófico da Modernidade. Esclarecimento, no sentido empregado por Kant, representa: (A) a reivindicação de autonomia da capacidade racional como expressão da maioridade. (B) o exercício da racionalidade como pressuposto menor diante das verdades eternas. (C) a imposição de verdades matemáticas, como caráter objetivo, de forma heterônoma. (D) a compreensão de verdades religiosas que libertam o homem da falta de entendimento. (E) a emancipação da subjetividade humana de ideologias produzidas pela própria razão. QUESTÃO 3 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Entre os séculos XVI e XVIII ocorreram diversas transformações culturais na Europa ocidental. Assinale a seguir a opção que identifica corretamente uma dessas transformações: (A) o desenvolvimento do pensamento científico, nos séculos XVII e XVIII, baseava-se na crítica, no empirismo e no naturalismo. (B) o movimento reformista, no século XVI, caracterizou- se por uma unidade de pensamento e práticas nos diversos países nos quais se difundiu. (C) a Contrarreforma, expressa no Concílio de Trento, entre 1545 e 1563, alterou os dogmas católicos a partir de um enfoque humanista, que extinguiu os Tribunais da Santa Inquisição. (D) o Iluminismo, no século XVIII, baseando-se no racionalismo, criticou os fundamentos do poder da Igreja, apoiando os princípios do poder monárquico absoluto. (E) o Liberalismo econômico, na segunda metade do século XVIII, criticava o sistema colonial, defendendo a manutenção dos monopólios como geradores de riqueza 84 filosofia e sociologia capítulo 22 - a filosofia iluMiNista a sociedade. QUESTÃO 4 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • “Não se veem, porventura (...) povos pobres em terras vastíssimas, potencialmente férteis, em climas dos mais benéficos? E, inversamente, não se encontra, por vezes, uma população numerosa vivendo na abundância em um território exíguo, até algumas vezes em terras penosamente conquistadas ao oceano, ou em territórios que não são favorecidos por dons naturais? Ora, se essa é a realidade, é por existir uma causa sem a qual os recursos naturais (...) nada são (...). Uma causa geral e comum de riqueza, causa que, atuando de modo desigual e vário entre os diferentes povos, explica as desigualdades de riqueza de cada um deles (...)” (SMITH, Adam. Apud HUGON, Paul. “História das Doutrinas Econômicas.” São Paulo: Atlas, 1973.) O texto anterior evidencia a preocupação, por parte de pensadores do século XVIII, com a fonte geradora de riqueza. As “escolas” econômicas do período - Fisiocracia e Liberalismo - apresentavam, contudo, discordâncias quanto a essa fonte. Os elementos geradores de riqueza para a Fisiocracia e para o Liberalismo eram, respectivamente: (A) terra e trabalho (B) agricultura e capital (C) indústria e comércio (D) metal precioso e tecnologia (E) indústria e artesanato QUESTÃO 5 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • O Iluminismo do século XVIII abrigava, dentre seus valores, o racionalismo. Tal perspectiva confrontava-se com as visões religiosas do século anterior. Esse confronto anunciava que o homem das luzes encarava de frente o mundo e tudo nele contido: o Homem e a Natureza. O iluminismo era claro, com relação ao homem: um indivíduo capaz de realizar intervenções e mudanças na natureza para que essa lhe proporcionasse conforto e prazer. Seguindo esse raciocínio, pode-se dizer que, para o Homem das Luzes, a Natureza era: (A) misteriosa e incalculável, sendoa base da religiosidade do período, o lugar onde os homens reconheciam a presença física de Deus e sua obra de criação; (B) infinita e inesgotável, constituindo-se um campo privilegiado da ação do homem, dando em troca condição de sobrevivência, principalmente no que se refere ao seu sustento econômico; (C) apenas reflexo do desenvolvimento da capacidade artística do homem, pois ajudava-o a criar a ideia de um progresso ilimitado relacionado à indústria; (D) um laboratório para os experimentos humanos, pois era reconhecida pelo homem como a base do progresso e entendimento do mundo; daí a fisiocracia ser a principal representante da industrialização iluminista; (E) a base do progresso material e técnico, fundamento das fábricas, sem a qual as indústrias não teriam condições de desenvolver a ideia de mercado. QUESTÃO 6 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Para que não haja abuso, é preciso organizar as coisas de maneira que o poder seja contido pelo poder. Tudo estaria perdido se o mesmo homem ou o mesmo corpo dos principais, ou dos nobres, ou do povo, exercesse esses três poderes: o de fazer leis, o de executar as resoluções públicas e o de julgar os crimes ou as divergências dos indivíduos. Assim, criam-se os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, atuando de forma independente para a efetivação da liberdade, sendo que esta não existe se uma mesma pessoa ou grupo exercer os referidos poderes concomitantemente. MONTESQUIEU, B. Do Espírito das Leis. São Paulo: Abril Cultural, 1979 (adaptado). A divisão e a independência entre os poderes são condições necessárias para que possa haver liberdade em um Estudo. Isso pode ocorrer apenas sob um modelo político em que haja (A) exercício de tutela sobre atividades jurídicas e políticas. (B) consagração do poder político pela autoridade religiosa. (C) concentração do poder nas mãos de elites técnico- científicas. (D) estabelecimento de limites aos atores públicos e às instituições do governo. (E) reunião das funções de legislar, julgar e executar nas mãos de um governo eleito. QUESTÃO 7 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • No período do Iluminismo, no século XVIII, o filósofo Montesquieu defendia: (A) Divisão dos poderes executivo, legislativo e judiciário. (B) Divisão da riqueza nacional. (C) Divisão da política em nacional e internacional. (D) Formação de um Poder Moderador no Congresso Nacional. (E) Implantação da ditadura moderna. QUESTÃO 8 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Até hoje admitia-se que nosso conhecimento se devia regular pelos objetos; porém, todas as tentativas para descobrir, mediante conceitos, algo que ampliasse nosso conhecimento, malogravam-se com esse pressuposto. 85 filosofia e sociologiacapítulo 22 - a filosofia iluMiNista Tentemos, pois, uma vez, experimentar se não se resolverão melhor as tarefas da metafísica, admitindo que os objetos se deveriam regular pelo nosso conhecimento. KANT, I. Crítica da razão pura. Lisboa: Calouste-Gulbenkian, 1994 (adaptado). O trecho em questão é uma referência ao que ficou conhecido como revolução copernicana na filosofia. Nele, confrontam-se duas posições filosóficas que (A) assumem pontos de vista opostos acerca da natureza do conhecimento. (B) defendem que o conhecimento é impossível, restando-nos somente o ceticismo. (C) revelam a relação de interdependência entre os dados da experiência e a reflexão filosófica. (D) apostam, no que diz respeito às tarefas da filosofia, na primazia das ideias em relação aos objetos. (E) refutam-se mutuamente quanto à natureza do nosso conhecimento e são ambas recusadas por Kant. GABARItO Simulado 01. B 02. A 03. A 04. A 05. B 06. D 07. A 08. A ANOtAÇÕES 86 OS CONtRAtUALIStAS: tHOMAS HOBBES, JEAN-JACQUES ROUSSEAU E JOHN LOCKE Esse capítulo é dedicado ao estudo da Filosofia Política. Buscando compreender as consagradas explicações sobre o surgimento do Estado, analisaremos a seguir os filósofos contratualistas. FILOSOFIA pOLítICA A Filosofia Política moderna é estruturada a partir de três grandes pensadores que também contribuíram com outros temas para a Filosofia, são eles: Hobbes, Locke e Rousseau. Os três pensadores desenvolveram o conceito do “Contrato Social”, que dá origem ao Estado Civil do qual fazemos parte. Defendem que o Estado foi constituído a partir de um contrato firmado entre os homens, um consenso para garantir a existência social. Tais pensadores são divergentes quanto ao funcionamento do Estado de Natureza e do Estado Civil, e quanto aos motivos que levaram a criação do contrato, veremos as diferenças a seguir: thomas Hobbes (1588-1679) O pensador inglês acreditava que o contrato social entre os homens foi feito devido ao fato de viverem uma constante guerra de todos contra todos. Ele defendia a teoria de que o homem é mal por natureza. Para Hobbes o Estado de Natureza e o Estado Civil eram caracterizados da seguinte maneira: Estado de Natureza Estado Civil (Sociedade) CONtRAtO SOCIAL • Os homens são livres; • Os homens vivem isolados; • Os homens vivem numa luta permanente; • Os homens são violentos; • Os homens têm os mesmos desejos básicos, por isso guerreiam entre si, • Vivem em c o m p e t i ç ã o constante, em estado de guerra. • O governante precisa ter o poder absoluto para manter a ordem, é a criação do Estado Soberano; • Os homens criam um corpo político, uma pessoa artificial que se chama Estado; • O Estado precisa ser um mostro forte como um Leviatã; • Reina a insegurança; • A guerra de todos contra todos; • Neste Estado reina o medo, o grande medo: da morte violenta. • É uma vida sem garantias, o mais forte sempre vence o mais fraco; • A posse de terras não tem o reconhecimento, a única lei é a força. • “o homem é o lobo do homem” • O soberano detém a espada e a lei, enquanto que os governados ganham a vida e a propriedade dos bens; • O regime político mais capaz de cumprir tal finalidade é a monarquia, no entanto, para Hobbes o soberano pode ser um rei, um grupo de aristocratas ou uma assembleia, para ele o importante não é a quantidade de governantes, pois o fundamental é a determinação de quem possui o poder ou a soberania, o poder deve ser absoluto. Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) Rousseau nasceu em Genebra - Suíça, mas viveu praticamente a vida toda na França. Acreditava que o homem é bom por natureza, ou seja, é essencialmente bom, no entanto é corrompido pela sociedade. “O homem nasce livre e em toda parte encontra-se a ferros.” (Rousseau). “Toda nossa sabedoria consiste em preconceitos servis; todos os nossos usos são apenas sujeição, coação, e constrangimento. O homem nasce, vive e morre na escravidão: ao nascer cosem-no numa malha; na sua morte pregam-no num caixão: enquanto tem figura humana é encadeado pelas nossas instituições.” (Rousseau). “O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de dizer isto é meu e encontrou pessoas suficientemente simples para acreditá- lo. Quantos crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores não pouparia ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas ou enchendo o fosso, tivesse gritado a seus semelhantes: ‘Defendei-vos de ouvir esse impostor; estareis perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos e que a terra não pertence a ninguém!’”. (Rousseau) Para Rousseau o poder emana do povo, e considera que o povo tem a soberania. Foi um defensor da Democracia e teve grande influência na Revolução Francesa. Para o pensador, o Estado de Natureza e o Estado Civil eram caracterizados da seguinte maneira: CAPÍTULO 23 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • OS CONtRAtUALIStAS 87 filosofia e sociologiacapítulo 23 - os coNtRatualistas Estado de Natureza EstadoCivil (Sociedade) CONtRAtO SOCIAL • Os homens são livres; • Os homens são bons; • Vivem isolados pelas florestas sobrevivendo do que a natureza os oferece; • Os homens desconhecem a luta, porque não precisam lutar por nada, tudo é de todos; • O homem é o “Bom Selvagem”; um ser inocente. • O homem perde sua inocência a partir do surgimento da propriedade privada, que surge quando alguém cerca o terreno e diz “é meu”; • Temos aqui a origem da desigualdade entre os homens. • Neste Estado reina a guerra de todos contra todos, pois todos lutam pela propriedade privada que não existia no estado de natureza. • No estado civil o homem tem o direito à propriedade. • Neste Estado reina a insegurança, a luta, e o medo da morte. • O governante nada mais é do que o r e p r e s e n t a n t e do povo, ou seja, recebe uma delegação para exercer o poder em nome do povo. • Rousseau distingue a soberania de governo, atribuindo ao povo a soberania inalienável. • O governante não é o soberano, mas o representante da soberania popular. • Os homens são cidadãos do Estado e súditos da lei. • O regime político mais capaz de cumprir tal finalidade, segundo Rousseau, é a democracia. John Locke (1632-1704) O filósofo inglês John Locke é considerado o pai do liberalismo. Locke acreditava que o Estado Civil surgiu devido ao fato da necessidade de uma organização de acordo com os interesses de todos. Os cidadãos devem escolher o seu governante, que deverá cumprir com seu papel que é garantir os direitos naturais do homem, o direito à vida, à liberdade e à propriedade privada. As leis devem ser representação da vontade da Assembleia e não fruto da vontade de um soberano. Locke criticava o absolutismo. Para o pensador, o Estado de Natureza e o Estado Civil eram caracterizados da seguinte maneira: Estado de Natureza Estado Civil (Sociedade) CONtRAtO SOCIAL • Existem os direitos naturais (Jusnaturalismo): -Vida; -Liberdade; - P r o p r i e d a d e privada (que é fruto legítimo do trabalho). • O homem não é nem bom, nem mau. • No Estado Civil e n c o n t r a m o s o surgimento do Direito Civil, que existe para preservar os direitos naturais; • Este Estado assegura por meio das leis a posse de bens e a legitima na forma de propriedade privada; • Este Estado surge em nome da segurança e da paz. • Se o governante não cumprir com seu dever, o povo tem total autonomia para tirá-lo do poder. • As leis devem ser expressão da vontade da assembleia e não fruto da vontade de um soberano. • O poder pertence ao povo e é por ele conferido ao soberano. • A função do Estado não é a de criar ou instituir a propriedade privada, mas de garanti-la e defendê-la (teoria do Estado liberal). simULAdO QUESTÃO 1 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Para Hobbes, criar uma sociedade submetida à lei e na qual os seres humanos vivam em paz e deixem de guerrear entre si, pressupõe que todos os homens renunciem a sua liberdade original e deleguem a um só deles (o soberano) 88 filosofia e sociologia capítulo 23 - os coNtRatualistas o poder completo e inquestionável. A Filosofia Política Moderna, associada à teoria política de Hobbes, justifica qual modalidade de governo: (A) Sistema Republicano (B) Sistema Parlamentar (C) Monarquia Absoluta (D) Monarquia censitária (E) Sistema democrático QUESTÃO 2 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • “Hobbes realiza o esforço supremo de atribuir ao contrato uma soberania absoluta e indivisível [...]. Ensina que, por um único e mesmo ato, os homens naturais constituem-se em sociedade política e submetem-se a um senhor, a um soberano. Não firmam contrato com esse senhor, mas entre si. É entre si que renunciam, em proveito desse senhor, a todo o direito e toda liberdade nocivos à paz”. (CHEVALLIER, Jean-Jacques. As grandes obras políticas de Maquiavel a nossos dias. Trad. de Lydia Cristina. 7. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1995. p. 73.) A frase que representa a teoria de Hobbes em relação a sua concepção de Estado de Natureza é: (A) O homem é um bom selvagem, mas a sociedade o corrompe. (B) O homem é o construtor do próprio homem. (C) O homem está em constante guerra, sendo lobo do homem. (D) O homem é um animal político por natureza. (E) O homem é livre e igual, incapaz de matar outro homem. QUESTÃO 3 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Thomas Hobbes e John Locke fazem parte da mesma escola filosófica, a do direito natural ou jusnaturalista, que se baseia no trinômio “estado de natureza”, “contrato social” e “estado civil”. Apesar de divergirem em relação a esses conceitos, Hobbes e Locke convergem quanto à ideia de que: (A) os indivíduos renunciam à liberdade irrestrita de que gozam no estado de natureza para ganhar do soberano a segurança. (B) o contrato social consiste num pacto de submissão entre indivíduos livres e iguais. (C) os governados são portadores do direito natural de resistir às arbitrariedades do governante no estado civil. (D) o trabalho é o legitimador da propriedade privada no estado de natureza. (E) a autoridade soberana deve ser dividida no estado civil entre o rei e o parlamento. QUESTÃO 4 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • “Se todos os homens são, como se tem dito, livres, iguais e independentes por natureza, ninguém pode ser retirado deste estado e se sujeitar ao poder político de outro sem o seu próprio consentimento. A única maneira pela qual alguém se despoja de sua liberdade natural e se coloca dentro das limitações da sociedade civil é através do acordo com outros homens para se associarem e se unirem em uma comunidade para uma vida confortável, segura e pacífica uns com os outros, desfrutando com segurança de suas propriedades e melhor protegidos contra aqueles que não são daquela comunidade”. (LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo civil. Trad. de Magda Lopes e Marisa Lobo da Costa. Petrópolis: Vozes, 1994. p.139.) A partir do texto acima, pode-se afirmar que: (A) No Estado de Natureza os homens não têm direito à propriedade privada. (B) No Estado de Natureza os homens são considerados livres e iguais. (C) No Estado de Natureza não existe liberdade e propriedade. (D) No Estado de Natureza os homens têm uma vida confortável. (E) No Estado de Natureza existem leis e organização social. QUESTÃO 5 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • “O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de dizer isto é meu, e encontrou pessoas suficientemente simples para acreditá-lo.” (ROUSSEAU, Jean-Jacques). A partir do trecho da obra de Rousseau, é possível afirmar que: (A) a desigualdade faz parte da natureza de todos os animais. (B) o mundo nunca será desigual, desde que o homem acredite em Deus. (C) a desigualdade social é resultado dos Direitos naturais do homem. (D) a propriedade privada é um Direito Natural do ser humano. (E) a desigualdade social nasce na Sociedade Civil. QUESTÃO 6 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • O filósofo inglês John Locke (1632-1704) é um dos fundadores da concepção liberal da vida política. Em sua defesa da liberdade como um atributo que o homem possui desde que nasce, ele diz: “Para compreender corretamente o que é o poder político e derivá-lo a partir de sua origem, devemos considerar qual é a condição em que todos os homens se encontram segundo a natureza. E esta condição é a de completa liberdade para poder decidir suas ações e dispor de seus bens e pessoas do modo que quiserem, respeitados os limites das leis naturais, sem precisar solicitar a permissão ou de depender da vontade de qualquer outro ser humano.” Assinale o documento histórico que foi diretamenteinfluenciado pelo pensamento de Locke. 89 filosofia e sociologiacapítulo 23 - os coNtRatualistas (A) O livro “O que é a propriedade?”, de Proudhon (1840) (B) O “Manifesto Comunista”, de Karl Marx e Frederico Engels (1848) (C) A “Concordata” estabelecida entre Napoleão e o Vaticano (1801) (D) A declaração da “Doutrina Monroe” (1823) (E) A “Declaração de Independência” dos Estados Unidos (1776) QUESTÃO 7 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • A natureza fez os homens tão iguais, quanto às faculdades do corpo e do espírito, que, embora por vezes se encontre um homem manifestamente mais forte de corpo, ou de espírito mais vivo do que outro, mesmo assim, quando se considera tudo isto em conjunto, a diferença entre um e outro homem não é suficientemente considerável para que um deles possa com base nela reclamar algum benefício a que outro não possa igualmente aspirar. HOBBES, T. Leviatã. São Paulo: Martins Fontes, 2003. Para Hobbes, antes da constituição da sociedade civil, quando dois homens desejavam o mesmo objeto, eles (A) entravam em conflito. (B) recorriam aos clérigos. (C) consultavam os anciãos. (D) apelavam aos governantes. (E) exerciam a solidariedade. QUESTÃO 8 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Desde a Idade Moderna, quase todas as sociedades enfrentaram o dilema de optar entre duas concepções distintas e opostas sobre o poder. Dois filósofos ingleses Thomas Hobbes e John Locke foram responsáveis por sintetizarem essas concepções. Segundo Thomas Hobbes, o ser humano em seu estado natural é selvagem e cada um é inimigo do outro; mas, quando o ser humano abre mão de sua própria liberdade e a autoridade plena do Estado é estabelecida, passam a predominar a ordem, a paz e a prosperidade. Para John Locke, o ser humano já é dotado em seu estado natural dos direitos de vida, liberdade e felicidade e, assim, a autoridade do Estado só é legítima quando reconhece e respeita esses direitos e, para que isso se concretize, é necessário limitar os poderes do Estado. Assinale a alternativa que apresenta as duas concepções políticas associadas, respectivamente, a esses filósofos. (A) Mercantilismo e Fisiocracia. (B) Classicismo e Barroco. (C) Absolutismo e Liberalismo. (D) Subjetivismo e Objetivismo. (E) Nacionalismo e Internacionalismo. GABARItO simULAdO 01. C 02. C 03. A 04. B 05. E 06. E 07. A 08. C ANOtAÇÕES 90 INtRODUÇÃO À ÉtICA (CAtEGORISMO X CONSEQUENCIALISMO) Nesse capítulo estudaremos um assunto muito importante para o ser humano e a sua convivência social, nos dedicaremos às discussões acerca da Ética. Teremos como principal base teórica o filósofo Immanuel Kant. Senso Moral e Consciência Moral Segundo a filósofa brasileira Marilena Chaui senso moral é a maneira como avaliamos nosso comportamento e dos nossos semelhantes, a conduta e a ação de outras pessoas, segundo ideias como as de justiça e injustiça, certo e errado, bem e mal. Já a consciência moral não se limita aos nossos sentimentos morais, mas se refere também a avaliação de conduta que nos levam a tomar decisões por nós mesmos, a agir em conformidade com elas e a responder por elas perante os outros. Sendo assim é possível afirmar que as atitudes amparadas nesses conceitos variam de cultura para cultura, por exemplo, a ideia de poligamia, que é considerada correta para determinadas culturas e errada para outras. O senso moral e a consciência moral têm como pressuposto fundamental a ideia de liberdade. Referem- se a valores, a sentimentos amparados nos valores e a decisões que conduzem as ações dos indivíduos. Os valores morais Cotidianamente não percebemos que os valores morais são culturais. O senso moral e da consciência moral do indivíduo surgem através de uma educação em determinada cultura. O fato de nascermos inundados por esses valores nos faz acreditar que são naturais, quando na verdade são culturais. Essa naturalização dos conceitos morais nos leva, muitas vezes, ao etnocentrismo, pois sempre veremos a nossa cultura como certa, tendo em vista que para nós é o natural. O olhar filosófico exige uma desnaturação desses valores. Para desnaturalizar a moral é preciso percebê-la e reconhecê-la como uma criação histórico-cultural. Ética A ética é um campo de estudo da Filosofia que busca compreender a relação dos indivíduos com a sociedade que o cerca, levando em consideração os costumes e valores de cada cultura. Por sermos seres racionais, somos livres para escolher o que é melhor para nós. Mas o que é melhor para mim? Do ponto de vista da ética, o que é melhor pra mim deve estar relacionado ao que é melhor para todos que vivem comigo em sociedade. Os valores éticos se tornam uma garantia de nossa condição de seres viventes em sociedade, eles garantem nossa liberdade de sujeitos racionais, pois esses valores são construídos pelos próprios seres humanos, que tem como principal objetivo proibir moralmente a violência. Sendo assim, podemos afirmar que a ética é normativa, pois suas normas determinam permissões e proibições para que seja possível viver em sociedade. Independentemente do conteúdo e da forma que cada cultura lhe dá, todas as culturas tem um princípio ético, amparado na ideia de bem e mal, certo e errado, e no princípio de virtude. Todas as culturas consideram a virtude como a excelência, a realização da melhor maneira de ser e atuar em sociedade. Sendo assim, o virtuoso é o individuo ativo, que controla internamente seus impulsos e suas paixões, agindo conforme a razão. Kant e sua concepção Ética: O Imperativo Categórico “Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal.” A filosofia ética de Immanuel Kant (1724-1804) está fundamentada na frase acima. Essa é a formula do imperativo categórico. Por máxima pode-se entender o princípio subjetivo de uma ação, distinto do princípio objetivo, ou seja, da lei prática, válida para todo ser racional. No imperativo categórico a ação é representada como boa em si, e não como meio para qualquer outra coisa. Para Kant, ao obedecer à lei o indivíduo obedece a sua própria vontade, pois o homem é um ser racional. Segundo o filósofo alemão, a lei protege a liberdade. A vontade absolutamente boa visa à boa disposição para agir na proteção dessa liberdade, como base de todo bem que possa ser alcançado. A natureza racional busca a realização da razão. Sendo assim, a vontade absolutamente boa quer a realização do Imperativo Categórico. A moral é a razão, não tem a ver com a cultura, mas com a razão, que todo ser racional possui. Neste sentido: É errado dizer: “não vou mentir para ser feliz” O correto é: “não vou mentir porque não devo mentir”. Com isso Kant coloca em evidência a relação entre: LIBERDADE, RAZÃO, DEVER. O imperativo categórico é a proteção da liberdade. O ser racional pensa e escolhe em termos de bem e de mal, e a escolha é racional. A autonomia da vontade liga a vontade à universalização da conduta: “haja de maneira que a sua conduta se torne uma máxima universal”. Para Kant, ser racional é ter consciência da sua liberdade de escolha. Ser moral é ser livre. Sendo assim, a liberdade está ligada ao conceito de autonomia, que é a base de todos os seres racionais. O homem se pensa como livre, por isso é um ser moral, pois escolhe se fará o bem ou o mal. A Filosofia moral Kantiana é definida como Imperativo Categórico, pois pode ser sintetizada em: o dever pelo dever. CAPÍTULO 24 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • INtRODUÇÃO À ÉtICA 91 filosofia e sociologiacapítulo 24 - iNtRoDuÇÃo À Ética Ética Consequencialista As teorias consequencialistas exibem três características importantes. Em primeiro lugar, aplicam-se diretamente a atos individuais. Em segundo lugar, prescrevem a maximização do bem, isto é, afirmam que os agentes morais estãosob a obrigação permanente e ilimitada de dar origem aos melhores estados de coisas ou situação. Em terceiro lugar, pressupõem uma teoria do valor que resulta numa avaliação dos estados de coisas em termos estritamente impessoais. (adaptado - http://www.ifl.pt) O exemplo típico da ética teleológica e consequencialista (que busca se preocupar com o que a ação produz) é a ética utilitarista, pois identifica a moralidade com a promoção do bem-estar coletivo. Já a teoria deontológica da experiência moral acredita que o dever é superior ao homem. • a teoria deontológica antepõem o justo ao bom. • a teoria teleológica antepõem o bom ao justo. • a teoria deontológica não é utilitarista. • a teoria teleológica interpreta o justo como algo que maximiza o bom. O Utilitarismo clássico de Jeremy Bentham (1789) defende que agir acertadamente é escolher, entre as opções disponíveis, aquela que resulta no maior total do prazer. Pressupondo uma teoria hedonista do valor, segundo a qual o prazer é o único bem fundamental e a dor o único mal. Sendo assim, pode-se depreender que o útil está relacionado à felicidade. Podemos considerar o utilitarismo como uma variante do consequencialismo que consiste em avaliar uma ação pelo seu resultado e não, à maneira de Kant, pela intenção que preside à sua realização. O Utilitarismo é uma corrente filosófica que surgiu no século XVIII, na Inglaterra. Tal corrente afirma a utilidade como o valor máximo no qual a elaboração de uma ética deve se fundamentar. O utilitarismo baseia-se na compreensão empírica de que os homens regulam suas ações de acordo com o prazer a e dor, compreendendo a utilidade igualmente como felicidade. Os utilitaristas não aceitam sem restrições o princípio segundo o qual o fim justifica os meios. Para Bentham, é necessário: a) que o fim seja bom; b) que os meios sejam bons ou que os seus inconvenientes sejam menores do que o bem esperado do fim; c) que seja como for os meios implicados comportem mais bem (ou menos mal) do que todos os outros que permitiriam alcançar o mesmo fim”. (Adaptado - AUROUX, Sylvain; WEIL, Yvonne - Dicionário de Filosofia. A partir do texto apresentado, pode-se afirmar que o utilitarismo prega uma moral baseada apenas na obtenção de prazer individual? Não, pois o utilitarismo compreende a felicidade como o maior prazer do maior número de pessoas. Se fosse individual não seria um problema da ética. Ética Cristã A ética cristã se diferencia da filosofia moral grega que estava amparada as ações e nas atitudes práticas do sujeito moral, pois nela existe a ideia de intenção. Na ética cristã as intenções também são julgadas como virtuosas ou viciosas. Por exemplo, a intenção de roubar ou matar alguém, mesmo sem colocá-la em prática, é considerada imoral para o cristianismo. A ética para Rousseau “Rousseau (1712-1778) acreditava que o dever não é uma imposição externa, mas sim que nos força a recordar nossa boa natureza originaria. Obedecendo ao dever, estamos obedecendo a nós mesmos, aos nossos sentimentos e não a razão, pois esta privilegia a utilidade e interesses individuais, sendo assim responsável pela sociedade egoísta e perversa. Já Immanuel Kant (1724- 1804) opõe-se à “moral do coração”, afirmando o papel da razão na ética, pois para ele somos agressivos, cruéis, destrutivos, egoístas, ávidos de prazeres que nunca nos saciam e pelos quais somos capazes de matar.” (adaptado, Marilena Chauí). Rousseau defendia em sua filosofia que a consciência moral e o sentimento do dever são inatos, são “a voz da natureza e o dedo de Deus” em nosso coração. Nascemos puros e bons, mas somos corrompidos pela sociedade que está preocupada com a propriedade privada e interesses privados. Para Rousseau a natureza humana e a ética estão intrinsicamente relacionadas, pois para o pensador: “o homem é bom por natureza”. simULAdO QUESTÃO 1 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • A ética precisa ser compreendida como um empreendimento coletivo a ser constantemente retomado e rediscutido, porque é produto da relação interpessoal e social. A ética supõe ainda que cada grupo social se organize sentindo-se responsável por todos e que crie condições para o exercício de um pensar e agir autônomos. A relação entre ética e política é também uma questão de educação e luta pela soberania dos povos. É necessária uma ética renovada, que se construa a partir da natureza dos valores sociais para organizar também uma nova prática política. CORDI et al. Para filosofar. São Paulo: Scipione, 2007 (adaptado). O Século XX teve de repensar a ética para enfrentar novos problemas oriundos de diferentes crises sociais, conflitos ideológicos e contradições da realidade. Sob esse enfoque e a partir do texto, a ética pode ser compreendida como (a) instrumento de garantia da cidadania, porque através dela os cidadãos passam a pensar e agir de acordo com valores coletivos. (b) mecanismo de criação de direitos humanos, porque é da natureza do homem ser ético e virtuoso. (c) meio para resolver os conflitos sociais no cenário da globalização, pois a partir do entendimento do que é efetivamente a ética, a política internacional se realiza. 92 filosofia e sociologia capítulo 24 - iNtRoDuÇÃo À Ética (D) parâmetro para assegurar o exercício político primando pelos interesses e ação privada dos cidadãos. (E) aceitação de valores universais implícitos numa sociedade que busca dimensionar sua vinculação a outras sociedades. QUESTÃO 2 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Na ética contemporânea, o sujeito não é mais um sujeito substancial, soberano e absolutamente livre, nem um sujeito empírico puramente natural. Ele é simultaneamente os dois, na medida em que é um sujeito histórico-social. Assim, a ética adquire um dimensionamento político, uma vez que a ação do sujeito não pode mais ser vista e avaliada fora da relação social coletiva. Desse modo, a ética se entrelaça, necessariamente, com a política, entendida esta como a área de avaliação dos valores que atravessam as relações sociais e que interliga os indivíduos entre si. SEVERINO, A. J. Filosofia. São Paulo: Cortez, 1992 (adaptado). O texto, ao evocar a dimensão histórica do processo de formação da ética na sociedade contemporânea, ressalta (A) os conteúdos éticos decorrentes das ideologias político-partidárias. (B) o valor da ação humana derivada de preceitos metafísicos. (C) a sistematização de valores desassociados da cultura. (D) o sentido coletivo e político das ações humanas individuais. (E) o julgamento da ação ética pelos políticos eleitos democraticamente. QUESTÃO 3 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • A ética exige um governo que amplie a igualdade entre os cidadãos. Essa é a base da pátria. Sem ela, muitos indivíduos não se sentem “em casa”, experimentam-se como estrangeiros em seu próprio lugar de nascimento. SILVA, R. R. Ética, defesa nacional, cooperação dos povos. OLIVEIRA, E. R. (Org.) Segurança & Defesa Nacional: da competição à cooperação regional. São Paulo: Fundação Memorial da América Latina, 2007 (adaptado). Os pressupostos éticos são essenciais para a estruturação política e integração de indivíduos em uma sociedade. De acordo com o texto, a ética corresponde a (A) valores e costumes partilhados pela maioria da sociedade (b) preceitos normativos impostos pela coação das leis jurídicas (c) normas determinadas pelo governo, diferentes das leis estrangeiras (d) transferência dos valores praticados em casa para a esfera social (e) proibição da interferência de estrangeiros em nossa pátria QUESTÃO 4 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • O brasileiro tem noção clara dos comportamentos éticos e morais adequados, mas vive sob o espectro da corrupção, revela pesquisa. Se o país fosse resultado dos padrões morais que as pessoas dizemaprovar, pareceria mais com a Escandinávia do que com Bruzundanga (corrompida nação fictícia de Lima Barreto). FRAGA, P. Ninguém é inocente. Folha de S. Paulo. 4 out. 2009 (adaptado). O distanciamento entre “reconhecer” e “cumprir” efetivamente o que é moral constitui uma ambiguidade inerente ao humano, porque as normas morais são (A) decorrentes da vontade divina e, por esse motivo, utópicas. (B) parâmetros idealizados, cujo cumprimento é destituído de obrigação. (C) amplas e vão além da capacidade de o indivíduo conseguir cumpri-las integralmente. (D) criadas pelo homem, que concede a si mesmo a lei à qual deve se submeter. (E) cumpridas por aqueles que se dedicam inteiramente a observar as normas jurídicas. QUESTÃO 5 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • “Ética (do grego ethos, que significa modo de ser, caráter, comportamento) é o ramo da filosofia que busca estudar e indicar o melhor modo de viver no cotidiano e na sociedade. Diferencia-se da moral, pois enquanto esta se fundamenta na obediência a normas, tabus, costumes ou mandamentos culturais, hierárquicos ou religiosos recebidos, a ética, ao contrário, busca fundamentar o bom modo de viver pelo pensamento humano.” (disponível em http://filosofiapratica.tumblr.com) A partir do texto acima, pode-se inferir que: (A) Moral é uma análise da ética. (B) Ética e moral são princípios religiosos (C) Moral é cultural e ética universal (D) Ética se fundamente em tabus (E) Ética não pode ser articulada à moral QUESTÃO 6 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • A pura lealdade na amizade, embora até o presente não tenha existido nenhum amigo leal, é imposta a todo homem, essencialmente, pelo fato de tal dever estar implicado como dever em geral, anteriormente a toda experiência, na ideia de uma razão que determina a vontade segundo princípios a priori. KANT, I. Fundamentação da metafísica dos costumes. São Paulo: Barcarolla, 2009. A passagem citada expõe um pensamento caracterizado pela: (A) eficácia prática da razão empírica. (B) transvaloração dos valores judaico-cristãos. (C) recusa em fundamentar a moral pela experiência. 93 filosofia e sociologiacapítulo 24 - iNtRoDuÇÃo À Ética (D) comparação da ética a uma ciência de rigor matemático. (E) importância dos valores democráticos nas relações de amizade. QUESTÃO 7 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • A promessa da tecnologia moderna se converteu em uma ameaça, ou esta se associou àquela de forma indissolúvel. Ela Vai além da constatação da ameaça física. Concebida para a felicidade humana, a submissão da natureza, na sobremedida de seu sucesso, que agora se estende à própria natureza do homem, conduziu ao maior desafio já posto ao ser humano pela sua própria ação. O novo continente da práxis coletiva que adentramos com a alta tecnologia ainda constitui, para a teoria ética, uma terra de ninguém. JONAS, H. O princípio da responsabilidade. Rio de Janeiro: Contraponto; Editora PUC-Rio, 2011 (adaptado). As implicações éticas da articulação apresentada no texto impulsionam a necessidade de construção de um novo padrão de comportamento, cujo objetivo consiste em garantir o(a) (A) pragmatismo da escolha individual. (B) sobrevivência de gerações futuras. (C) fortalecimento de políticas liberais. (D) valorização de múltiplas etnias. (E) promoção da inclusão social. QUESTÃO 8 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Autonomia da vontade é aquela sua propriedade graças à qual ela é para si mesma a sua lei (independentemente da natureza dos objetos do querer). O princípio da autonomia é, portanto: não escolher senão de modo a que as máximas da escolha estejam incluídas simultaneamente, no querer mesmo, como lei universal. KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Tradução de Paulo Quintela. Lisboa: Edições 70, 1986, p. 85. De acordo com a doutrina ética de Kant: (A) O Imperativo Categórico não se relaciona com a matéria da ação e com o que deve resultar dela, mas com a forma e o princípio de que ela mesma deriva. (B) O Imperativo Categórico é um cânone que nos leva a agir por inclinação, vale dizer, tendo por objetivo a satisfação de paixões subjetivas. (C) Inclinação é a independência da faculdade de apetição das sensações, que representa aspectos objetivos baseados em um julgamento universal. (D) A boa vontade deve ser utilizada para satisfazer os desejos pessoais do homem. Trata-se de fundamento determinante do agir, para a satisfação das inclinações. GABARItO simULAdO 01. A 02. D 03. A 04. D 05. C 06. C 07. B 08. A ANOtAÇÕES 94 EStÉtICA – FUNÇÕES DA ARtE Nesse capítulo estudaremos um assunto que está presente em nosso cotidiano, que vemos por todos os lados e muitas vezes não paramos para refletir a seu respeito: a arte. Estética A palavra estética vem do grego “aistheses” que significa capacidade de sentir, compreensão pelos sentidos, sensibilidade. Filosoficamente a estética está voltada para as ideias de criação e percepção artísticas, ligada à noção de beleza. Sendo assim, a arte faz parte da estética e vai ocupar um lugar privilegiado em tal reflexão filosófica. Como definir o que belo e feio? O que é beleza? A Filosofia desde Platão busca conceituar o que é arte e beleza. Para Platão, o “belo em si” independe das obras individuais que buscam o belo. A partir dessa concepção de belo ideal fundamentada por Platão, criou-se o que denominamos de estética normativa, pois para que algo seja considerado belo deve estar dentro do padrão estabelecido. Os filósofos empiristas relativizaram o conceito de belo, com isso a beleza poderia variar de indivíduo para individuo. A concepção de belo deixou o objeto e passou para o sujeito, não existe mais o belo em si, mas um sujeito que julga se é belo ou não, que está relacionada à recepção de cada indivíduo. O gosto agora é relativo. Algumas posições filosóficas sobre o belo: • Kant tentou ultrapassar a dicotomia objetividade x subjetividade, afirmando que o belo é aquilo que agrada universalmente, ainda que não se possa justificá- lo intelectualmente. O objeto belo passa a residir na sensibilidade do sujeito. Logo, o princípio do juízo estético é o sentimento do sujeito e não o conceito do objeto. • Já para Hegel o conceito de belo é histórico, pois afirma que a beleza muda através dos tempos. A transformação da arte depende mais da cultura e da visão de mundo vigente do que de uma exigência interna do belo. • Para a Fenomenologia de Husserl, o belo é uma qualidade de certos objetos singulares que nos são dados à percepção. Sendo assim, cada objeto singular estabelece seu próprio tipo de beleza. Qual a Função da arte? Tendo em vista que arte é “toda atividade humana submetida a regras com vista à fabricação de alguma coisa”, podemos dizer que a função da arte variou ao longo da história, pois a produção humana variou ao longo da História. Na Idade Média servia para ensinar os principais preceitos da religião católica e dos relatos bíblicos. Finalidade pedagógica da arte. No final do século XIX e início do século XX, o “realismo socialista” procurava retratar a melhoria das condições de vida do trabalhador e as principais figuras da revolução socialista visando despertar o sentimento cívico e manter a lealdade da população, conscientizando-a de sua situação socioeconômica. Finalidade social da arte. Sendo assim, a função da arte se transforma ao longo da história. No século XX, com a escola de Frankfurt, surge a crítica à indústria cultural. Os filósofos dessa escola acreditavam que a arte estava sendo sacrificada pelo capitalismo. As críticas continuam: “Depois de um século de colonização política e geográfica, as potências industriais começaram a colonizar a grande reserva que é a alma humana. Os novos domínios seriam a inteligência, a vontade, o sentimentoe a imaginação de centenas de milhares de seres humanos que veem cinema, ouvem rádio, veem e ouvem televisão. A técnica feita indústria permitiu a consolidação de grandes complexos, produtores e fornecedores de imagens, de palavras e de ritmos, que funcionam como um sistema entre mercantil e cultural.” (BOSI, Ecléa. Cultura de massa e cultura popular, 1972.) O texto acima se refere criticamente ao advento dos meios de comunicação de massa, que invadem cada dia mais o cotidiano das sociedades contemporâneas. A filosofia da arte tem a função de compreender como o mundo compreende a arte. Atualmente a estética é vista como toda investigação filosófica que tem por objeto as artes. A estética busca compreender como se dá a realização da beleza, além de interpretar a reação dos receptores à obra de arte. simULAdO QUESTÃO 1 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Na antiga Grécia, o teatro tratou de questões como destino, castigo e justiça. Muitos gregos sabiam de cor inúmeros versos das peças dos seus grandes autores. Na Inglaterra dos séculos XVI e XVII, Shakespeare produziu peças nas quais temas como o amor, o poder, o bem e o mal foram tratados. Nessas peças, os grandes personagens falavam em verso e os demais em prosa. No Brasil colonial, CAPÍTULO 25 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • EStÉtICA – FUNÇÕES DA ARtE 95 filosofia e sociologiacapítulo 25 - estÉtica – fuNÇÕes Da aRte os índios aprenderam com os jesuítas a representar peças de caráter religioso. Esses fatos são exemplos de que, em diferentes tempos e situações, o teatro é uma forma (A) de manipulação do povo pelo poder, que controla o teatro. (B) de diversão e de expressão dos valores e problemas da sociedade. (C) de entretenimento popular, que se esgota na sua função de distrair. (D) de manipulação do povo pelos intelectuais que compõem as peças. (E) de entretenimento, que foi superada e hoje é substituída pela televisão. QUESTÃO 2 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • A concepção de arte tem mudado ao longo dos séculos. A arte como imitação da natureza e a arte como expressão e construção são, respectivamente, concepções dos seguintes períodos antigo e contemporâneo. Da Antiguidade até os dias de hoje a classificação das artes veio passando por mudanças significativas. É incorreto dizer que: (A) a arte é pensada por Aristóteles em sua relação com a ética e a política, com as quais forma o conjunto dos saberes práticos, distintamente da ciência, que ele define como saber teórico. (B) as ditas belas-artes surgiram com a noção de estética e se distinguiram das artes liberais pelo seu sentido autônomo e desinteressado (não utilitário), resultado da expressão criadora do artista. (C) Platão considera as artes imitativas ou miméticas como uma das formas de acesso ao conhecimento verdadeiro, já que representam a realidade tal como ela é. (D) a filosofia, do ponto de vista da poética, estuda as obras de arte no sentido da “fabricação” (de seres, ações e gestos artificiais). (E) a classificação das artes em liberais (dignas do homem livre) e mecânicas (próprias do trabalhador manual) seguiu o padrão determinado pela estrutura social antiga, fundada na escravidão. QUESTÃO 3 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Temos que repudiar a ideia de que só com palavras se pensa, pois que pensamos também com sons e imagens, ainda que de forma subliminar, inconsciente, profunda! Temos que repudiar a ideia de que existe uma só estética, soberana, à qual estamos submetidos — tal atitude seria nossa rendição ao pensamento único, à ditadura da palavra — e que, como sabemos, é ambígua. O pensamento sensível, que produz arte e cultura, é essencial para a libertação dos oprimidos, amplia e aprofunda sua capacidade de conhecer. Só com cidadãos que, por todos os meios simbólicos (palavras) e sensíveis (som e imagem), se tornam conscientes da realidade em que vivem e das formas possíveis de transformá-la, só assim surgirá, um dia, uma real democracia. Augusto Boal. A estética do oprimido. Rio de Janeiro: Garamond, 2009, p. 16. Augusto Boal, um dos expoentes do Teatro de Arena de São Paulo, atuou como diretor, dramaturgo e pesquisador, e notabilizou-se com a criação do Teatro do Oprimido, um método dinâmico que visa à democratização dos meios de produção teatrais. Considerando essas informações e o texto acima, assinale a opção correta. (A) O Teatro de Arena desenvolveu-se em um momento de estabilidade política, tendo sua atuação centrada na realização de comédias leves. (B) Bastante rígido, o método elaborado por Augusto Boal caracteriza-se por priorizar a execução de exercícios de preparação corporal e vocal de atores profissionais. (C) Como dramaturgo, Augusto Boal ganhou notoriedade internacional por trabalhar com atores consagrados nas maiores emissoras de TV do Brasil. (D) A estética do oprimido prevê a atuação direta dos cidadãos — todos potencialmente atores (espectadores) — no sentido de encontrarem, coletivamente, alternativas para a transformação de uma realidade opressora. (E) a arte do teatro do oprimido ganhou destaca por trabalhar com ideias e programas do governo e por ser realizado apenas nos maiores teatros do Brasil. QUESTÃO 4 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • “A rua era das mais animadas da cidade; por todo o dia estivera cheia de gente. Mas agora, ao anoitecer, a multidão crescia de um minuto para outro; e quando se acenderam os lampiões de gás, duas densas, compactas correntes de transeuntes cruzavam diante do café. Jamais me sentira num estado de ânimo como o daquela tarde; e saboreei a nova emoção que de mim se apossara ante o oceano daquelas cabeças em movimento. Pouco a pouco perdi de vista o que acontecia no ambiente em que me encontrava e abandonei- me completamente à contemplação da cena externa.” (Walter Benjamin – Sobre alguns temas em Baudelaire) O texto nos leva a uma compreensão de estética como: (A) uma concepção de que o belo não está em uma forma definida, mas na plasticidade do cotidiano. (B) um estudo do caos humano representado pela multidão e suas relações econômicas. (C) estabelecimento de um padrão de beleza para a obra de arte. (D) técnica de reprodução da obra de arte em massa. (E) imitação do mundo sensível. QUESTÃO 5 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • a arte é uma forma de compreender e transformar a realidade. Nos últimos anos, observa-se a presença considerável de questões ligadas à arte nas escolas formais 96 filosofia e sociologia capítulo 25 - estÉtica – fuNÇÕes Da aRte e informais. Sobre o tema, aponte qual alternativa reflete essa visão. (A) A arte conduz o espírito humano a uma forma de vida completamente destituída de interesses materiais e sociais. (B) Muitos artistas contribuíram para grandes transformações sociais, provocando a supervalorização econômica das obras de arte. (C) O discurso estético tem a capacidade de atrair as pessoas, porque lida fundamentalmente com a perspectiva de harmonia e beleza. (D) Conhecendo a arte de cada época, as sociedades presentes têm melhores condições de decidir quanto à tendência estética atual. (E) Há uma função pedagógica da arte que é traduzida pela ideia de que ela leva a conhecer o que escapa ao discurso da ciência e de outras linguagens discursivas. QUESTÃO 6 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Nos últimos anos, observa-se a presença considerável de questões ligadas à arte nas escolas formais e informais. Isto se dá, segundo alguns teóricos que se ocupam do discurso estético, porque a arte é uma forma de compreender e transformar a realidade. Aponte qual alternativa reflete essa visão. (A) A arte conduz o espírito humano a uma forma de vida completamentedestituída de interesses materiais e sociais. (B) Muitos artistas contribuíram para grandes transformações sociais, provocando a supervalorização econômica das obras de arte. (C) O discurso estético tem a capacidade de atrair as pessoas, porque lida fundamentalmente com a perspectiva de harmonia e beleza. (D) Conhecendo a arte de cada época, as sociedades presentes têm melhores condições de decidir quanto à tendência estética atual. (E) Há uma função pedagógica da arte que é traduzida pela ideia de que ela leva a conhecer o que escapa ao discurso da ciência e de outras linguagens discursivas. QUESTÃO 7 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Temos que repudiar a ideia de que só com palavras se pensa, pois que pensamos também com sons e imagens, ainda que de forma subliminar, inconsciente, profunda! Temos que repudiar a ideia de que existe uma só estética, soberana, à qual estamos submetidos — tal atitude seria nossa rendição ao pensamento único, à ditadura da palavra — e que, como sabemos, é ambígua. O pensamento sensível, que produz arte e cultura, é essencial para a libertação dos oprimidos, amplia e aprofunda sua capacidade de conhecer. Só com cidadãos que, por todos os meios simbólicos (palavras) e sensíveis (som e imagem), se tornam conscientes da realidade em que vivem e das formas possíveis de transformá-la, só assim surgirá, um dia, uma real democracia. Augusto Boal. A estética do oprimido. Rio de Janeiro: Garamond, 2009, p. 16. Augusto Boal, um dos expoentes do Teatro de Arena de São Paulo, atuou como diretor, dramaturgo e pesquisador, e notabilizou-se com a criação do Teatro do Oprimido, um método dinâmico que visa à democratização dos meios de produção teatrais. Considerando essas informações e o texto acima, assinale a opção correta. (A) O Teatro de Arena desenvolveu-se em um momento de estabilidade política, tendo sua atuação centrada na realização de comédias leves. (B) Bastante rígido, o método elaborado por Augusto Boal caracteriza-se por priorizar a execução de exercícios de preparação corporal e vocal de atores profissionais. (C) Como dramaturgo, Augusto Boal ganhou notoriedade internacional com a peça Eles não usam Blacktie. (D) A estética do oprimido prevê a atuação direta dos cidadãos — todos potencialmente atores (espect-atores) — no sentido de encontrarem, coletivamente, alternativas para a transformação de uma realidade opressora. QUESTÃO 8 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • “A solução da antinomia do gosto encontra aqui sua explicação e seu significado. Contrariamente ao que afirma o racionalismo clássico, o juízo de gosto não se fundamenta em conceitos (regras) determinados: portanto, torna-se impossível ‘disputar’ acerca dele como se tratasse de um juízo de conhecimento científico. No entanto, ele não se limita a remeter à pura subjetividade empírica do sentimento, porque se baseia na presença de um objeto, que se é belo (...), desperta uma ideia necessária da razão que é, enquanto tal, comum à humanidade. Portanto, é em referência a essa ideia determinada (..) que é possível ‘discutir’ o gosto e ampliar a esfera da subjetividade pura para visar uma partilha não dogmática da experiência estética com outrem enquanto outro homem” (LUC FERRY: Homo aestheticus: a invenção do gosto na era democrática). A partir da leitura do texto acima, é correto afirmar que: (A) o dito “questão de gosto não se discute” tem sentido, uma vez que o gosto não é objeto científico. (B) os juízos de gosto concorrem para a constituição da cultura e da socialidade. (C) se pode e se deve discutir e formular juízos de gosto, embora sirvam apenas como exercícios teóricos. (D) o discutir sobre o gosto é condição suficiente para o entendimento entre as subjetividades. (E) o autor aponta um outro critério científico, além dos métodos científicos conhecidos. GABARItO simULAdO 01. B 02. C 03. D 04. A 05. E 06. E 07. D 08. A 97 SOCIOLOGIA tRABALHO E SOCIEDADE: OS MODOS DE pRODUÇÃO E O MODO DE pRODUÇÃO CApItALIStA. Nesse capítulo buscaremos estudar algumas questões cotidianas a partir da perspectiva sociológica. Nosso principal objetivo é compreender o conceito de trabalho e a sua importância para a manutenção da sociedade. trabalho Tudo o que é produzido pelo homem materialmente, e toda atividade humana que resulte em serviço é considerado trabalho. Bens e serviços são resultados do trabalho do homem. O trabalho é um ato social, pois, para produzir bens e serviço, os homens estabelecem uma relação entre si, denominada relação de produção. Bens e serviço Um carro é um bem ou um serviço? Uma aula ministrada pelo professor de Sociologia é um bem ou serviço? Todo material existente na natureza que passa por um processo de transformação pelo homem é considerado um bem. Toda atividade econômica desenvolvida para satisfazer as necessidades do homem é considerado serviço. Portanto, um carro é um bem e a aula é um serviço. Para que o sistema econômico funcione há uma interligação entre os bens e serviços. Por exemplo, o vendedor de uma loja de carros presta serviço com o objetivo de vender um bem. Ambos estão relacionados à transformação da natureza em benefício do homem. Como ocorre o processo de transformação da natureza? Através do trabalho, que está ligado aos meios utilizados para se produzir um bem ou serviço. O indivíduo sozinho não é capaz de produzir tudo o que precisa para viver, por isso vive em sociedade. Em sociedade participamos de uma teia de relações que economicamente consistem em produzir bens e serviços, distribui-los, e consumi-los. O processo de produção Todo processo de produção consiste na associação de três coisas: Trabalho humano, a) Matéria-prima, b) Instrumentos para produzir, ou seja, para transformar a natureza. Os meios de produção somados ao trabalho humano resultam no que denominamos como força produtiva. Modos de produção O modo de produção é o jeito de se produzir em determinado momento histórico, é um conjunto de fatores que tem como objetivo produzir os bens e serviços que serão consumidos pela sociedade. O modo de produção é resultado da articulação entre as forças produtivas e as relações entre os membros da sociedade, objetivando a produção. Ao longo da história da espécie humana encontramos diferentes modos de produção que estão diretamente ligados ao contexto sociocultural em que os povos se encontravam. Na medida que os modos de produção se modificavam, as relações sociais ganhavam outras características. Vejamos agora os diferentes modos de produção: • Modo de produção primitivo ou modo comunal de produção Por volta de 10 mil anos antes de Cristo, alguns grupos humanos se tornaram sedentários devido ao domínio da agricultura. Sendo assim, começaram a cultivar a terra e a criar animais. Na comunidade primitiva os homens trabalhavam juntos cooperando uns com os outros em prol do grupo como um todo, e não individualmente. A terra era o principal meio de produção e tudo que era produzido nela era propriedade de todos, inclusive a própria terra era propriedade de todos. A propriedade privada, a concepção de meu e de posse não existiam entre os integrantes dos grupos. No modo de produção primitivo não existia competição. A base das relações entre os integrantes do grupo estava amparada na cooperação para o desenvolvimento do grupo como um todo. Ou seja, não existe relação de dominação entre os que possuem os meios de produção e os que trabalham, pois ninguém possui os meios de produção, a terra era de todos. Essa relação de cooperação dispensava a existência de mecanismos de controle, como o Estado, por isso não existia Estado nesse modelo de sociedade. • Modo de produção escravista A História não identificou com exatidão onde e quando as comunidades comunais deram espaço para o surgimento das sociedades escravistas.O que é identificado historicamente é que as guerras entre grupos levavam à escravidão dos derrotados. Este modelo econômico tem como principais representantes as sociedades grega e romana. A palavra trabalho é derivada da palavra latina tripallium que significa: instrumento de tortura. Nas CAPÍTULO 26 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • tRABALHO E SOCIEDADE 98 filosofia e sociologia capítulo 26 - tRaBalHo e socieDaDe sociedades escravistas, diferentemente das primitivas, as terras, os instrumentos de produção, e os escravos eram propriedade de um indivíduo, o senhor. O escravo era visto como um instrumento de trabalho de posse do seu dono. Nas sociedades grega e romana a palavra trabalho estava associada à ideia de atividade torturante e penosa. Os senhores eram donos dos meios de produção, da mão-de-obra e do produto do trabalho dos escravos. Esse modelo de sociedade estava amparado na dominação e na competição pela posse. Sendo assim, foi necessário o surgimento do Estado como um mecanismo de controle para que os que tinham a posse pudessem ter a garantia de seus bens. O Estado surge para garantir a propriedade privada. O modelo econômico escravista foi reformulado na Idade Moderna no que denominamos escravismo colonial. • Modo de produção asiático O modo de produção asiático está amparado no fortalecimento do Estado. Neste modelo econômico encontramos o controle do Estado sobre os meios de produção e força de trabalho. O imperador sendo o representante desse Estado é o dono de tudo. Abaixo dele estão os sacerdotes, os nobres e os guerreiros. Existiam também os administradores, que faziam parte de um grupo muito poderoso, pois eram representantes do Imperador. O modo de produção asiático predominou na América pré-colombiana com os Incas, Astecas e Maias, também no Egito, na China, na Índia e em outras partes do mundo. Nesses Estados, a parte produtiva ficava nas mãos dos escravos e camponeses que mantinham os grupos privilegiados. Os altos custos para manter os setores improdutivos geraram revoltas que, ao longo da história, deram fim ao modo de produção asiático. • Modo de produção feudal O Modo de produção feudal está amparado na propriedade do senhor sobre a terra e o trabalho agrícola do servo, na relação entre o senhor e o servo. O senhor feudal não tem a posse do servo, mas sim do seu trabalho na terra, o servo está ligado à terra. Os servos não eram escravos. Eles serviam em troca de proteção e alimentação. Trabalhavam para o senhor e para si mesmos. A sociedade feudal também era composta por religiosos, artesãos e mercadores. • O modo de produção capitalista O modo de produção capitalista consiste na produção de mercadorias objetivando o lucro, além disso, é caracterizado por suas relações assalariadas de produção. O capitalismo é um sistema econômico amparado na divisão entre meios de produção e trabalho: a) Os meios de produção como propriedade privada da burguesia, substituindo a propriedade feudal, b) O trabalho assalariado, substituindo o trabalho servil do feudalismo. O capitalismo é um modo de produção dividido basicamente em duas classes sociais: a) a dos proprietários dos meios de produção b) a dos proletários, que são obrigados a vender a sua força de trabalho. O capitalismo não existe em lugar nenhum em estado puro, pois é um sistema econômico que acontece no mundo social, e quando se trata de sociedade, não existem rupturas históricas, as mudanças sociais ocorrem por meio de um processo que carrega muito das sociedades passadas. Sendo assim, ao lado dessas duas classes fundamentais (proprietários e proletários) vivem outras classes sociais, tais como: a) Classe dos proprietários individuais de meios de produção e troca, b) Pequenos artesãos, c) Pequenos camponeses, d) Pequenos comerciantes. e) Proprietários fundiários semifeudais (muito encontrado em países subdesenvolvidos) f ) Desempregados Entre outras... A lógica desse sistema faz com que o conjunto de elementos da vida econômica seja transformado em mercadoria, tais como: a terra, os instrumentos de trabalho, as máquinas, o capital-dinheiro, e até mesmo a mão-de- obra. Tudo é mercadoria! O nascimento do modo de produção capitalista está diretamente vinculado à criação do mercado mundial, com produção mercantil, juntamente com a Revolução Industrial. Essas transformações foram fundamentais para a consolidação da burguesia capitalista. - A burguesia e o Capitalismo O Estado Moderno é marcado pelo fortalecimento da burguesia, uma classe reconhecida pelo Estado Absoluto como “parceira” estratégica. A corte, na tentativa de permanecer no poder, elabora um jogo político que está amparado na articulação de relações entre essa “classe nova”, a burguesia, e a “classe velha”, a nobreza. A burguesia foi crescendo e ganhando corpo na medida em que o poder político passava a depender financeiramente de seus recursos. A burguesia cria o capitalismo na medida em que o capitalismo cria a burguesia. 99 filosofia e sociologiacapítulo 26 - tRaBalHo e socieDaDe O sistema capitalista tem como base a desigualdade entre: os que possuem os meios de produção e os que possuem a mão-de-obra. simULAdO QUESTÃO 1 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Quem construiu a Tebas de sete portas? Nos livros estão nomes de reis. Arrastaram eles os blocos de pedra? E a Babilônia várias vezes destruída. Quem a reconstruiu tantas vezes? Em que casas da Lima dourada moravam os construtores? Para onde foram os pedreiros, na noite em que a Muralha da China ficou pronta? A grande Roma está cheia de arcos do triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem triunfaram os césares? BRECHT, B. Perguntas de um trabalhador que lê. Disponível em: http:// recantodasletras.uol.com.br. Acesso em: 28 abr. 2010. Partindo das reflexões de um trabalhador que lê um livro de História, o autor censura a memória construída sobre determinados monumentos e acontecimentos históricos. A crítica refere-se ao fato de que (A) os agentes históricos de uma determinada sociedade deveriam ser aqueles que realizaram feitos heróicos ou grandiosos e, por isso, ficaram na memória. (B) a História deveria se preocupar em memorizar os nomes de reis ou dos governantes das civilizações que se desenvolveram ao longo do tempo. (C) grandes monumentos históricos foram construídos por trabalhadores, mas sua memória está vinculada aos governantes das sociedades que os construíram. (D) os trabalhadores consideram que a História é uma ciência de difícil compreensão, pois trata de sociedades antigas e distantes no tempo. (E) as civilizações citadas no texto, embora muito importantes, permanecem sem terem sido alvos de pesquisas históricas. QUESTÃO 2 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • A economia solidária foi criada por operários, no início do capitalismo industrial, como resposta à pobreza e ao desemprego que resultavam da utilização das máquinas, no início do século XIX. Com a criação de cooperativas (de produção, de prestação de serviços, de comercialização ou de crédito), os trabalhadores buscavam independência econômica e capacidade de controlar as novas tecnologias, colocando-as a serviço de todos os membros da empresa. Essa ideia persistiu e se espalhou: da reciclagem ao microcrédito, já existem milhares de empreendimentos desse tipo hoje em dia, em várias partes do mundo. Na economia solidária, todos os que trabalham são proprietários da empresa. Trata-se da possibilidade de uma empresa sem divisão entre patrão e empregados, sem busca exclusiva pelo lucro e mais apoiada na qualidade do que na quantidade de trabalho, em convivência com a economia de mercado. SINGER, Paul. A recente ressurreição da economia solidária no Brasil. Disponível em: <http://www.cultura.ufpa.br/itcpes/documentos/ecosolv2.pdf>. Acesso em: 23 mar. 2009. (com adaptações).A economia solidária, no âmbito da sociedade capitalista, institui complexas relações sociais, demonstrando que (A) a fraternidade entre patrões e empregados, comum no cooperativismo, tem gerado soluções criativas para o desemprego desde o início do capitalismo. (B) a rejeição ao uso de novas tecnologias torna a empresa solidária mais ecologicamente sustentável que os empreendimentos capitalistas tradicionais. (C) a prosperidade do cooperativismo, assim como a da pirataria e das formas de economia informal, resulta dos benefícios do não pagamento de impostos. (D) as contradições inerentes ao sistema podem resultar em formas alternativas de produção. (E) o modelo de cooperativismo dos regimes comunistas e socialistas representa uma alternativa econômica adequada ao capitalismo. QUESTÃO 3 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • As mulheres quebradeiras de coco-babaçu dos Estados do Maranhão, Piauí, Pará e Tocantins, na sua grande maioria, vivem numa situação de exclusão e subalternidade. O termo quebradeira de coco assume o caráter de identidade coletiva na medida em que as mulheres que sobrevivem dessa atividade e reconhecem sua posição e condição desvalorizada pela lógica da dominação, se organizam em movimentos de resistência e de luta pela conquista da terra, pela libertação dos babaçuais, pela autonomia do processo produtivo. Passam a atribuir significados ao seu trabalho e as suas experiências, tendo como principal referência sua condição preexistente de acesso e uso dos recursos naturais. ROCHA, M. R. T. A luta das mulheres quebradeiras de coco-babaçu, pela libertação do coco preso e pela posse da terra. In: Anais do VII Congresso Latino-Americano de Sociologia Rural, Quito, 2006 (adaptado). A organização do movimento das quebradeiras de coco de babaçu é resultante da (A) constante violência nos babaçuais na confluência de terras maranhenses, piauienses, paraenses e tocantinenses, região com elevado índice de homicídios. (B) falta de identidade coletiva das trabalhadoras, migrantes das cidades e com pouco vínculo histórico com as áreas rurais do interior do Tocantins, Pará, Maranhão e Piauí. 100 filosofia e sociologia capítulo 26 - tRaBalHo e socieDaDe (C) escassez de água nas regiões de veredas, ambientes naturais dos babaçus, causada pela construção de açudes particulares, impedindo o amplo acesso público aos recursos hídricos. (D) progressiva devastação das matas dos cocais, em função do avanço da sojicultura nos chapadões do Meio- Norte brasileiro. (E) dificuldade imposta pelos fazendeiros e posseiros no acesso aos babaçuais localizados no interior de suas propriedades. QUESTÃO 4 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • tEXtO I A Europa entrou em estado de exceção, personificado por obscuras forças econômicas sem rosto ou localização física conhecida que não prestam contas a ninguém e se espalham pelo globo por meio de milhões de transações diárias no ciberespaço. ROSSI, C. Nem fim do mundo nem mundo novo. Folha de S. Paulo, 11 dez. 2011 (adaptado). tEXtO II Estamos imersos numa crise financeira como nunca tínhamos visto desde a Grande Depressão iniciada em 1929 nos Estados Unidos. Entrevista de George Soros. Disponível em: www.nybooks.com. Acesso em: 17 ago. 2011 (adaptado). A comparação entre os significados da atual crise econômica e do crash de 1929 oculta a principal diferença entre essas duas crises, pois (A) o crash da Bolsa em 1929 adveio do envolvimento dos EUA na I Guerra Mundial e a atual crise é o resultado dos gastos militares desse país nas guerras do Afeganistão e Iraque. (B) a crise de 1929 ocorreu devido a um quadro de superprodução industrial nos EUA e a atual crise resultou da especulação financeira e da expansão desmedida do crédito bancário. (C) a crise de 1929 foi o resultado da concorrência dos países europeus reconstruídos após a I Guerra e a atual crise se associa à emergência dos BRICS como novos concorrentes econômicos. (D) o crash da Bolsa em 1929 resultou do excesso de proteções ao setor produtivo estadunidense e a atual crise tem origem na internacionalização das empresas e no avanço da política de livre mercado. (E) a crise de 1929 decorreu da política intervencionista norte-americana sobre o sistema de comércio mundial e a atual crise resultou do excesso de regulação do governo desse país sobre o sistema monetário. QUESTÃO 5 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Na imagem do início do século XX, identifica-se um modelo produtivo cuja forma de organização fabril baseava-se na (A) autonomia do produtor direto. (B) adoção da divisão sexual do trabalho. (C) exploração do trabalho repetitivo. (D) utilização de empregados qualificados. (E) incentivo à criatividade dos funcionários. QUESTÃO 6 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • No final do século XX e em razão dos avanços da ciência, produziu-se um sistema presidido pelas técnicas da informação, que passaram a exercer um papel de elo entre as demais, unindo-as e assegurando ao novo sistema uma presença planetária. Um mercado que utiliza esse sistema de técnicas avançadas resulta nessa globalização perversa. SANTOS, M. Por uma outra globalização. Rio de Janeiro: Record, 2008 (adaptado). Uma consequência para o setor produtivo e outra para o mundo do trabalho advindas das transformações citadas no texto estão presentes, respectivamente, em: (A) Eliminação das vantagens locacionais e ampliação da legislação laboral. (B) Limitação dos fluxos logísticos e fortalecimento de associações sindicais. (C) Diminuição dos investimentos industriais e desvalorização dos postos qualificados. (D) Concentração das áreas manufatureiras e redução da jornada semanal. (E) Automatização dos processos fabris e aumento dos níveis de desemprego. 101 filosofia e sociologiacapítulo 26 - tRaBalHo e socieDaDe QUESTÃO 7 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Na imagem, estão representados dois modelos de produção. A possibilidade de uma crise de superprodução é distinta entre eles em função do seguinte fator: (A) Origem de matéria-prima. (B) Qualificação de mão de obra. (C) Velocidade de processamento. (D) Necessidade de armazenamento. (E) Amplitude do mercado consumidor. GABARItO simULAdO 01. C 02. D 03. E 04. B 05. C 06. E 07. D ANOtAÇÕES 102 MEIOS DE pRODUÇÃO E FORÇAS pRODUtIVAS. O MODO SOCIALIStA (MARXISMO) E AS IDEIAS ANARQUIStAS Esse capítulo buscará apresentar algumas características do meio de produção socialista e as principais diferenças das ideias anarquistas. Modo de produção socialista Karl Marx (1818-1883) apresentou ao mundo o chamado “socialismo científico”. O Socialismo é um conjunto de ideias e concepções que tem como objetivo socializar os meios de produção. Ao analisar os modos de produção pelos quais a espécie humana perpassou ao longo de sua existência, Karl Marx percebe que o motor que impulsiona a História é a luta entre os dominantes e os dominado. “A história de todas as sociedades tem sido a história das lutas de classe. Classe oprimida pelo despotismo feudal, a burguesia conquistou a soberania política no Estado moderno, no qual uma exploração aberta e direta substituiu a exploração velada por ilusões religiosas. A estrutura econômica da sociedade condiciona as suas formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou filosóficas. Não é a consciência do homem que determina o seu ser, mas, ao contrário, são as relações de produção que ele contrai que determinam a sua consciência.” (Adaptado de K. Marx e F. Engels) Marx compreendia que os problemas sociais são consequências das desigualdades entre as classes, e a única maneira de igualdade entre os homens seria o fim da propriedade privada. O fim do capitalismo daria lugar primeiramente ao socialismo para que a partir dessa fase