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Laura Vieira Gomes de Oliveira – Medicina UNIFG → Sono é um estado fisiológico que ocorre na maioria dos animais, dentro de períodos de 24 horas e se alterna com o estado de vigília (ritmo circadiano). O ritmo circadiano sofre interferência de: • Estruturas anatômicas do sistema nervoso central, • Mecanismos fisiológicos, • Neurotransmissores que se relacionam com a manutenção da vigília e do sono através da ativação e inativação cortical. Para que o ciclo vigília-sono seja mantida corretamente é necessário a integração de vários sistemas neurais, tanto para as fases do sono como para as fases de vigília. Tal manutenção é decorrente de mecanismos de inibição e excitação que ocorrem, principalmente, em núcleos localizados no tronco cerebral e em centros hipotalâmicos. Mecanismos anatomofuncionais responsáveis pela Vigília (porque ficamos acordados?) Ao estudar sobre o sono, Bremer (1929) observou que o tronco cerebral possuía um papel fundamental na manutenção da vigília (estado de alerta). Sua observação constatou que no tronco estavam núcleos e vias ativadoras ascendentes importantes para manter o estado de vigília. o Sistema reticular ativador ascendente – SRAA: se localiza no tronco encefálico e é responsável pela ativação cortical por meio de neurotransmissores (ex. do interruptor – sistema – com as lâmpadas – partes do córtex). o Quando há lesão no tronco cerebral, ocorre o comprometimento dessa ativação e o paciente pode perder o estado de vigília e entrar no estado de coma. o O SRA tem como função enviar vias que interligam e atravessam o tálamo e hipotálamo até chegar aos prosencéfalo basal e córtex cerebral com o intuito de controlar a atividade elétrica cortical de sono e vigília. Laura Vieira Gomes de Oliveira – Medicina UNIFG A partir da formação reticular ocorre uma estimulação talâmica até chegar ao córtex cerebral = via que mantem o ciclo sono-vigília. Neurotransmissores e moduladores: ativação do córtex Sistema colinérgico ▪ Os núcleos responsáveis pela produção da acetilcolina (Ach) estão presentes no mesopotino e prosencefalo basal; ▪ Uma vez produzida, essa Ach é liberada a nível talâmico e cortical, sendo responsável pela dessincronização cortical e uma manutenção da vigília, uma vez que ela ativa o cérebro; ▪ Possui uma participação no som REM e relação com a memória. Sistema orexina-hipocretina ▪ São neuropeptídios sintetizados nas áreas perifornical da região tuberal do hipotálamo; ▪ Tem projeções para o córtex e para o tronco; ▪ Modula sistemas ativadores como o locus coeruleus, sistema histaminérgico e colinérgicos; ▪ Deficiência presente na narcolepsia (pacientes possuem sonolência diurna, está todo o tempo cochilando e dormindo). Sistema noradrenérgico (NE) ▪ Produzido nos neurônios do locus coeruleus no tronco; ▪ Emite projeções para o prosencefalo basal córtex cerebral e medula espinhal; dessa forma, mantendo e aumentando a ativação cortical (via descendente e ascendente). Sistema dopaminérgico ▪ Produzido nos núcleos da substância nigra e área tegmental ventral; ▪ Emitem projeções para o núcleo estriado e para o córtex frontal; Laura Vieira Gomes de Oliveira – Medicina UNIFG ▪ Possuem papel fundamental no alerta comportamental e também participam do sono REM. Sistema histaminérgico ▪ Produzidos na região do hipotálamo posterior; ▪ Emitem projeções para o córtex cerebral e recebem projeções do tronco cerebral e do prosencéfalo ; ▪ Participação importante na ativação cortical e na vigília. Laura Vieira Gomes de Oliveira – Medicina UNIFG Mecanismos anatomofuncionais responsáveis pelo sono (por que sentimos sono e dormimos?) Assim como o córtex possui os neurotransmissores que ativam ele, possui aqueles que o inibem. Entre estes, o principal inibidor do SRA são os neurônios GABAergicos – também conhecidos como gama-aminobutirico). O GABA e os demais neurotransmissores causam o “desligamento” do Sistema Ativador do tronco, hipotálamo e prosencéfalo basal. Como consequência, não há ativação cortical e entra-se na fase de sono. Neurotransmissores e neuromoduladores: inibição do córtex e estruturas extras Sistema serotoninérgico ▪ A serotonina é produzida nos núcleos da Rafe (mais precisamente no núcleo dorsal da rafe) que fica no tronco cerebral; ▪ Emite projeções para o prosencéfalo e córtex cerebra (quesito sono)l; ▪ Papel fundamental no desencadeamento do sono (ondas lentas) Sistema GABA ▪ Neurotransmissor inibitório produzido no núcleo pré-óptico ventro-lateral (VLPO); ▪ Papel importante no desencadeamento do sono uma vez que inibi vários núcleos excitatórios, chegando a inibir o SRAA; ▪ Medicamentos agem nos receptores GABAergicos – como o benzodiazepínico – estimulando os receptores GABA e fazendo o paciente de sono. Além disso, os receptores podem ser alvo de efeitos colaterais de outras medicações. Laura Vieira Gomes de Oliveira – Medicina UNIFG Adenosina ▪ É um neuromodulador que mantém o sistema nervoso central inibido; ▪ Ele age sobre diversas vias mas, principalmente, inativando os sistemas colinérgicos e monoaminérgicas; ▪ A cafeína possui um efeito antagonista à adenosina em seus receptores, ou seja, ao tomar muito café, os receptores são bloqueados e consequentemente a adenosina não vai se ligar e o sono não vai acontecer. Mecanismos de homeostase sono-vigília 1. Processo “S” – mecanismo de controle do sono de natureza acumulativa, no qual a necessidade de sono aumenta durante a vigília; Independente do ciclo circadiano (dorme mesmo sem querer); a adenosina, produto de metabolismo das células cerebrais, acumula durante a vigília e favorece o aparecimento de ondas lentas. 2. Ciclo circadiano – se repete com uma periodicidade ao redor de 24 horas; o ciclo sono-vigília é sincronizado com o ciclo claro-escuro (dia e noite); - o hormônio melatonina é sintetizado pela glândula pineal e liberada no licor e na circulação; ela é considerada um cronobiótico que sincroniza e promove o sono atuando em receptores localizados no núcleo supraquiasmático no hipotálamo anterior; recebe aferência da retina (estimulo iluminoso) que inibe sua promoção; atua em dois receptores – MT1 e MT2 – sendo que o primeiro sofre diminuição e, consequentemente, diminuio o estado de alerta e promove o sono e, o segundo é apenas regulado pela melatonina; seu pico é no horário entre 2-4 horas da manhã. Laura Vieira Gomes de Oliveira – Medicina UNIFG A produção de melatonina pela pineal é estimulada pela escuridão e inibida pela luz Motivo de idosos dormirem menos que jovens: a diminuição do hormônio melatonina Laura Vieira Gomes de Oliveira – Medicina UNIFG Estrutura do sono O sono é dividido em duas grandes fases: 1. Sono não-REM - Ni1 – superficial, está começando, - N2 – intermediário, - N3 ou ondas lentas – profundo, 2. Sono REM Estágio 1 (N1): Mais superficial; Momento de transição da vigília para o sono; Discreto alentenciamento da atividade elétrica cerebral (neurotransmissores inibitórios começam a inibir os neurotransmissores ativadores); Presença de movimentos oculares rápidos e discreta hipotonia da musculatura mentoniana; Estágio 2 (N2): 50% do tempo total do sono; Sono sincronizado (sincronização dos elementos do EEG – assim como o sono de ondas lentas); Dois elementos que parecem no tracejado do ECG na fase N2 são os fusos – ondas que ocorrem em surto = ritmo sigma (rápida frequência) – e o complexo K com média amplitude e frequência aumentada OBS: a vigilia e o sono REM possuem dessincronização da atividade elétrica cerebral Laura Vieira Gomes de Oliveira – Medicina UNIFG Sono de ondas lentas (SOL) (N3): Alentencimento significativo da ondas cerebrais; Fluxo sanguíneo e a utilização de glicose estão reduzidos; SRAA inibido pelas GABAergicos (pico);Nesse momento é em que ocorre o momento de pico do hormônio de crescimento – IGH; Serotonina, GABA, adenosina e peptídeos estão atuantes; Sono cincronizado – EEG – alta amplitude e ondas lentas Resumão do sono não-REM o Relaxamento muscular com manutenção do tônus; o Progressiva redução dos movimentos corporais; o Aumento progressivo de ondas lentas no EEG (20%-50% de ondas delta em N3); o Ausência de movimentos oculares rápidos; o Respiração e ECG regulares; o Ocupa predominantemente a primeira metade da noite. Sono REM: ❖ Hipotonia ou atonia muscular; ❖ Dessincronização cortical – ondas em tipo de dente de serra; ❖ Ondas theta de baixa voltagem e frequência mista como na fase de vigília; ❖ Consumo de oxigênio é igual ou maior que na vigília; ❖ Sono paradoxal pois apesar de ser um sono profundo, o EEG é parecido com o da vigilia, mas com uma máxima hipotonia; ❖ Movimentos físicos e mioclonias multifocais/emissão de sons; ❖ Movimentos oculares rápidos; ❖ Respiração e ECG irregulares; ❖ Sonhos; ❖ Concentra-se na segunda metade da noite; ❖ É encerrado por neurônios do locus ceruleus – neurônios de despertar. Laura Vieira Gomes de Oliveira – Medicina UNIFG Microdespertares o Durante o sono podem ocorrer os microdespertares que são mudanças súbitas no EEG com duração de 3-15 segundos; o Não é necessário a contração muscular para definir um despertar ou microdespertar; o Pode prejudicar a qualidade do sono (sono longo mas com muito microdespertar). Sono e as funções biológicas ❖ Sistema cardiovascular: - maior atividade durante a vigília; - reduzida atividade durante o sono REM e sofre oscilações durante o sono não-REM; - sono de ondas lentas: queda da FC e PA (descenso pressórico fisiológico noturno:<10% dos valores basais da vigília). ❖ Sistema respiratório: - durante a vigília: comandos voluntários (córtex) e involuntários (tronco-hipoxemia/hipercapnia e acidose); - durante o sono: perda do controle voluntario e diminuição da resposta ventilatória do controle metabólico. ❖ Sistema digestivo: - sono: provoca inibição do fluxo de saliva, redução na frequência das deglutições e contrações primarias; diminuição acentuada da pressão no esfíncter superior do esôfago; diminuição da função motora do estomago, - a mobilidade intestinal é mais regular durante o sono. ❖ Sistema endocrinológico: - ciclos de secreção são modulados pelo ciclo circadiano; - o sistema hipotálamo: a hipófise-adrenal é o principal sistema neuroendócrino relacionado ao sono (cortisol); - GH: pico de secreção com o sono em ondas lentas; ❖ Sistema renal: - fluxo de urina e a excreção de eletrólitos são maiores durante a vigília pois são modulados pelo ciclo circadiano; - sono REM: diminuição do fluxo urinário e aumento da osmolaridade. ❖ Temperatura corporal: - hipotálamo possui mecanismos regulatórios do sono e controle termoregulatório; - inibição durante o sono REM. Sono e emoções Laura Vieira Gomes de Oliveira – Medicina UNIFG Conclusão: o sono é uma atividade que ocupa cerca de 1/3 de nossas vidas. Respeitar o ciclo vigilo-sono nos permitirá uma vida com boa saúde mental e emocional.
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