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Curso de Dimensionamento de Redes de Dutos de Ar 2015 M. Milaré 2 1. Pressão estática – definição p Onde F é a força aplicada e A é a área perpendicular à direção de aplicação da força. Se F for medida em N (newtons) e A em m2, p será expressa em Pa (pascal), ou seja: Pa Exemplo: na figura 1, um recipiente de área de base A contém um fluido de densidade ρ [kg/m3], que ocupa uma altura h. Figura 1 A força que atua sobre a área é o peso P, dado por: P m . g V . ρ . g, sendo V [m3] o volume do líquido e g [m/s2] a aceleração da gravidade local. A pressão que o fluido exerce sobre a base do recipiente é: p P A V . ρ . g A A. h . γ A p h . γ eq. 1 Onde γ é o peso específico do fluido. Para a água, temos γ ≈ 10.000 [N/m3]. Baseado na eq. (1), a base de qual recepiente da figura abaixo está submetida a maior pressão ? Figura 2 É comum se utilizar o valor da altura h para se referir à pressão estática. Por exemplo, a pressão estática de um ventilador geralmente é dada em mmca (milímetros de coluna de água). A rigor, quando utilizamos essa unidade, estamos nos referindo à pressão por unidade de peso (γ). Para h = 1 mm(ca), a pressão será de aproximadamente 10 Pa, pois: 3 p 1 mm x 1 1000 m mm x 10000 N m 10 N m 10 Pa 2. Perda de carga É a diminuição da pressão estática, no sentido do escoamento, entre duas seções de um duto. A perda de carga por unidade de comprimento é denominada perda de carga unitária; geralmente a unidade de comprimento adotada é o metro. Desta forma, um trecho reto de duto com 10 m de comprimento e que tenha uma perda de carga de 20 Pa, terá uma perda de carga unitária de: Δpun 20 Pa 10 m 2,0 Pa m Figura 3 3. Variação da perda de carga com a vazão (seção constante do duto) Para um duto de Ø300 mm, a tabela abaixo mostra a variação da perda de carga unitária em função da vazão: Q [l/h] 500 1000 1500 Δpun [Pa/m] 2,0 7,5 16,0 O gráfico dessa função é mostrado na fig. 4. A equação da curva é da forma: Figura 4 Δpun = k . Q 2 eq. (2) 0 5 10 15 0 1000 2000D p ( P a/ m ) Q (l/s) 4 sendo k uma constante de proporcionalidade. Verifica-se que a perda de carga varia com o quadrado da vazão. Se um duto foi dimensionado para uma vazão Q e deseja-se dobrar o valor dessa vazão, a perda de carga resultante será: Δpun’ = k . (2.Q) 2 = 4.k.Q2 eq. (2’) Verifica-se das eq. (2) e eq. (2’) que a perda de carga resultante será quatro vezes maior que a perda correspondente à vazão inicial. 4. Relação entre vazão e velocidade A velocidade e a área da seção transversal de um duto estão relacionada com a vazão através da equação: _ Q = V . A eq. (3) _ V é a velocidade média na seção. Nesta equação, se a velocidade estiver em [m/s] e a área em [m2], a vazão será expressa em [m3/s]. Em ventilação e ar condicionado a vazão é geralmente expressa em [m3/h]. As transformações de unidades são: [m3/s] = / ; [l/s] = / , 5. Seção equivalente É possível selecionar uma família de seções retangulares que tenham a mesma perda de carga unitária de uma dada seção circular. Os lados L e H de cada seção dessa família estão relacionados com o diâmetro da seção circular por: Ø 1,3 . L . H , L H , eq. 4 Através de réguas de cálculo (ex: “Ductulator” da Trane), consegue-se obter facilmente a solução desta equação, sejam conhecidos o diâmetro ou os lados de um único retângulo. Exemplo: dado Ø = 400 mm, determinar algumas seções retangulares que acarretem a mesma perda de carga unitária da seção circular. Resposta: (a) 700x200mm; (b) 400x325mm; (c) 440x300mm. É importante notar que apenas a perda de carga unitária é a mesma em qualquer das seções retangulares e na seção circular equivalente. A velocidade que se obtém no “Ductulator” é a velocidade média na seção circular. Para uma vazão de 1,4 m3/s (1400 l/s), por exemplo, a velocidade média em um duto de Ø = 400 mm será de aproximadamente 11 m/s; já, nas seções retangulares teremos: a V 1,4 0,7 . 0,4 10 m/s 5 b V 1,4 0,4 . 0,325 10,8 m/s c V 1,4 0,44 . 0,3 10,6 m/s Podemos afirmar que: a velocidade média em qualquer seção retangular será sempre menor que a velocidade média na seção circular equivalente. 5. Dimensionamento de um duto pelo método da igual perda de carga unitária Dada uma certa vazão Q, o dimensionamento do duto consiste em dimensionar o diâmetro do mesmo, de modo que certas condições sejam satisfeitas. Essas condições geralmente são : (a) manter V max em função da aplicação, para evitar nível de ruido excessivo; (b) manter Δpun que resulte na perda de carga total compatível com o equipamento (ventilador) utilizado. Exemplo: se a pressão estática disponível do ventilador de um condicionador de ar for de 100Pa, o Δpun deve ser adotado de forma que a perda total da rede de dutos seja menor ou igual à pressão disponível. O método da igual perda de carga unitária consiste em dimensionar as seções de todos os trechos de uma rede de dutos de forma que resultem no mesmo Δpun. Exemplo: para a figura abaixo, dimensione os dutos A e B, de forma que as vazões indicadas não acarretem V maior que 8 [m/s]. Calcular qual a pressão estática requerida no reservatório. Usar o método da igual perda de carga unitária. Figura 5 Devemos utilizar a maior vazão com a condição de maior V, para determinar o Δpun. Q = 2000 [l/s] (com auxílio do “Ductulator”) Δpun = 1,2 [Pa/m] V = 8 [m/s] Duto superior: Ø = 560 mm Duto inferior: Q = 1500 [l/s]; Δpun = 1,2 [Pa/m] Ø = 500 mm Pressão do reservatório: como ambos os dutos têm a mesma perda de carga unitária, o duto de maior comprimento terá uma maior perda de carga total. Assim, a pressão estática requerida será (desprezando-se outras perdas): preserv = 20 . 1,2 = 24 [Pa] Ao se estabelecer a pressão estática do reservatório para atender à maior perda de carga requerida, gera-se um problema de balanceamento. Os dois dutos estão descarregando as vazões no 6 mesmo ambiente, cuja pressão consideramos nula. Se o duto inferior está submetido a uma pressão à montante de 24 Pa, e a perda de carga total do mesmo é 10 x 1,2 = 12 Pa, a pressão estática na saída do mesmo será de 24 – 12 = 12 Pa, o que é incompatível com a pressão do ambiente. Então, para que sejam mantidas as vazões desejadas, é necessário aumentar a perda de carga do duto inferior em 12 Pa. Isto é feito com a inclusão de um registro de regulagem de vazão. No dimensionamento de uma rede de dutos pelo método de igual perda de carga, a pressão total requerida será sempre a do caminho que possui maior comprimento equivalente. Os outros caminhos deverão possuir registros de regulagem, de forma a permitirem o balanceamento das vazões. 6. Dimensionamento de redes de dutos Consideremos o dimensionamento de uma rede de dutos para transportarnuma vazão de 560l/s e distribuí-la em um ambiente. Para dimensionamento da rede de dutos devem-se seguir algumas etapas. A primeira etapa é dispor no desenho todas as bocas de ar e anotar as vazões de cada uma delas (fig. 6). Figura 6 Com as posições definidas, traçam-se os trajetos dos dutos, levando-se em conta a melhor distribuição, simetria, interferências, etc. A fig. 7 mostra alguns traçados unifilares da rede de dutos. Figura 7 Definido o melhor traçado, devem-se marcar as vazões em cada tramo da rede de dutos, para facilitar o dimensionamento (fig. 8). 7 Figura 8 Cumpridas as etapas, passa-se ao dimensionamento da rede de dutos. Este dimensionamento terá que obedecer a várias restrições e é importante conhecê-las antes de se iniciar o processo, para se evitar retrabalho. Duas destas restrições já foram vistas anteriormente, que são as velocidade e perda de carga unitária máximas permitidas. Outras restrições são: - a altura máxima livre para passagem dos dutos; - idem para a largura; - a altura (e/ou largura) mínima do duto que permite a instalação de um acessório (registros, bocas de ar, etc.); Para o exemplo da fig. 8 consideremos as seguintes restrições : - V ≤ 7,0 m/s - Δpun máx = 1,2 Pa/m - altura livre para passagem dos dutos = 350 mm - difusores com caixas-plenum - velocidade máxima no flexível de 5 m/s - espessura do isolamento do duto = 25 mm Dimensionamento: Q = 560 l/s Δpun = 1,9 Pa/m > Δpun máx Não atende ! V max = 7,0 m/s Q = 560 l/s V = 5,8 m/s < V máx atende ! Δpun = 1,2 Pa/m Portanto, a rede de dutos será dimensionada com Δpun = 1,2 Pa/m A vazão em cada difusor é 140 l/s e a interligação entre o duto e a caixa-plenum do difusor é feita com duto flexível. Assim: Q = 140 l/s Øflex = 200 mm V max = 5,0 m/s Observe que o Δpun obtido do “Ductulator” somente é válido para chapas lisas de aço, para a qual o instrumento foi desenvolvido. O duto flexível não é liso; portanto não podemos utilizar o Δpun para cálculo de perda de carga. Vamos estabelecer que o flexível será conectado na face lateral do duto. Assim, o duto deverá ter altura maior que 200 mm, para permitir a instalação do colarinho, ao qual o flexível será preso. 8 Essa altura deve ser, no mínimo, 50 mm maior que o diâmetro do flexível, o que determina que a altura mínima do duto que alimenta o difusor seja de 200 + 50 = 250mm. A altura máxima para passagem do duto é de 350 mm. Como o duto é isolado, a altura máxima do mesmo será de 350 – 2 x 25 = 300 mm. De posse de todas as informações necessárias, podemos dimensionar a rede de dutos. Porém, antes devemos estabelecer algumas convenções. Figura 9 9 Figura 10 Na fig. 9, as dimensões do duto são representadas em função de como ele é observado. Na vista frontal (vista C), se o duto estiver sob pressão (insuflamento), serão desenhadas as duas diagonais do retângulo; se o duto estiver em depressão (retorno, exaustão), apenas uma diagonal será representada. 10 Na fig. 10 é apresentado um trecho de rede de dutos em perspectiva e em planta. Tramo A Q = 560 l/s H = 250 mm; L = 400 mm Δpun = 1,2 Pa/m Tramo B Q = 280 l/s H = 250 mm; L = 230 mm Δpun = 1,2 Pa/m Tramo C Neste caso, os tramos C são os dutos flexíveis com Ø = 200 mm Figura 11 A representação final da rede de dutos unifilar é mostrada na fig. 11. Uma vez dimensionada a rede de dutos, atendendo a todas as restrições impostas, passa-se ao desenho bidimensional e em escala da representação unifilar. As fig. 12a e 12b representam duas formas de redes de dutos. Figura 12a Figura 12b 11 Exemplo: dimensionar a rede de dutos para a disposição da figura 13, considerando V ≤ 8,0 m/s e demais restrições do exemplo anterior. Figura 13 12 Figura 14 Figura 15 13 Figura 16 Figura 17 14 Notemos que apenas a rede de dutos da fig. 14 está balanceada. As redes das fig. 15 a 17 requerem registros de regulagem de vazão. Geralmente, as bocas de ar possuem registros; porém, esses registros servem para regulagem fina da vazão de ar e não podem ser utilizados para introduzir grandes perdas de carga no ramal. Figura 18 Figura 19 15 Figura 20 16 Figura 21 DETALHES DO PROJETO DE REDE DE DUTOS 17 18 19 VELOCIDADES RECOMENDADAS EM DUTOS (NBR-16401) EM m/s residências escolas, teatros e edifícios públicos prédios industriais recomen-dável máxima recomen- dável máxima recomen- dável máxima dutos principais 4,5 6,0 6,5 8,0 9,0 10 ramal horizontal 3,0 5,0 4,5 6,5 5,0 9,0 ramal vertical 2,5 4,0 3,5 6,0 4,0 8,0 20 7. Levantamento de chapa e isolamento Os dutos são confeccionados geralmente em chapas de aço glavanizadas, A espessura (bitola, #) da chapa é determinada em função de vários fatores, como classe de pressão, velocidade, dimensão do duto, tipo de reforço utilizado, etc. Neste curso utilizaremos um método simplificado, no qual a bitola da chapa será determinada em função do diâmetro ou do lado maior do duto, conforme tabela abaixo: Bitola Duto circular (*) Φ (cm) Duto retangular lado maior (cm) Massa específica da chapa de aço galvanizada (kg/m2) #26 até 23 até 30 4,425 #24 de 23 a 60 de 31 a 75 5,645 #22 de 61 a 90 de 76 a 140 6,866 #20 de 91 a 125 de 141 a 210 8,086 #18 de 131 a 150 de 211 a 300 10,528 (*) construção helicoidal Para determinarmos a massa de um duto temos que saber: a) bitola da chapa com a qual será construido; b) área da superfície do duto (área desenvolvida). Multiplicando-se a área desenvolvida pela massa específica, obtemos a massa do duto. Geralmente utiliza-se um fator de perda que depende de como o duto é confeccionado. Para dutos construidos em máquinas automáticas, que utilizam bobinas de chapa, a perda fica em toprno de 10%. Se o duto for confeccionado em viradeira manual, a partir de chapas coms dimensões de 2,0 x 1,0 m, a perda pode chegar a 30%. O isolamento da rede de dutos é quantificada em área (m2). Geralmente adota-se perda de material em torno de 10%. Exemplo: calcular a quantidade de chapa (em kg) para confecicionar um duto com secção de 70 x 45 cm e comprimento de 5m, em viradeira manual e a quantidade de isolamento necessária. a) bitola da chapa: lado maior = 70 cm → #24, 5,645kg/m2 b) área da superfície do duto perímetro: 2 x (0,7 + 0,45) = 2,3m área desenvolvida = perímetro x comprimento (seção retangular constante) = 2,3 x 5 = 11,5m2 A massa do duto é m = 11,5 (m2) x 5,645 (kg/m2)= 64,92 kg. Adotando-se perda de 30% para duto confecicionado em viradeira manual, temos: Massa total de chapa = 1,3 x 64,92 ≈ 85 kg, ou seja, serão necessários 85kg de chapa galvanizada #24 para confeccionar o duto. A quantidade de isolamento necessária, considerando perda de 10%, será: 1,1 x 11,5 ≈ 13m2. 21 8. Lista de materiais Esta lista consiste na descrição/discriminação (identificação, tipo, modelo, etc) e quantificação dos equipamentos e materiais utilizados na rede de dutos. De forma simplificada, para a rede de dutos da figura 11ª (pág. 9), temos: Item Descrição Discriminação Qdade 1 Difusor de ar direcional, quatro vias, com registro de lâminas opostas Tam.4, modelo ADLQ, com caixa plenum AK6, Trox 4 2 Duto de chapa de aço galvanizada Dimensões conforme desenho 100kg 3 Duto flexível de alimínio, isolado Φ20cm 6,0m 4 Isolamento do duto em manta de lã de vidro espessura 25mm, revestida com papel alumínio em uma das faces 20m2 9. Memória de cálculo de rede de dutos Todos os cálculos de dimensionamento da rede de dutos e de levantamento de chapa e isolamento pode ser resumida em uma tabela, como a indicada abaixo. TABELA DE DIMENSIONAMENTO DE REDE DE DUTOS Tramo Vazão (l/s) Largura (cm) Altura (cm) Compr. (m) ∆Punit. (Pa/m) Área (m2) Chapa Massa (kg) # massa (kg)
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