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História da África Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Avelar Cezar Imamura Revisão Textual: Profa. Ms. Rosemary Toffoli Os Tráficos Negreiros 5 • Introdução • O Trabalho Escravo • Primeiros escravos africanos na Europa • Os primeiros escravos africanos para o Caribe • O Tráfico para o Brasil • Algumas considerações · Entender como os tráficos negreiros causaram um grave impacto demográfico, econômico e social sobre as sowciedades africanas tradicionais e a sua relação com a história brasileira. Caro(a) aluno(a), Leia atentamente o conteúdo desta Unidade, que lhe possibilitará conhecer as várias fases do processo de escravização de pessoas e de como a descoberta do Novo Mundo alimentou o comércio transatlântico de escravos. Você também encontrará nesta Unidade uma atividade composta por questões de múltipla escolha, relacionada ao conteúdo estudado. Além disso, terá a oportunidade de trocar conhecimentos e debater questões no fórum de discussão. É extremante importante que você consulte os materiais complementares, pois são ricos em informações, possibilitando-lhe o aprofundamento de seus estudos sobre este assunto. Bons estudos! Os Tráficos Negreiros 6 Unidade: Os Tráficos Negreiros Contextualização “Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus! Se é loucura... se é verdade Tanto horror perante os céus?! Ó mar, por que não apagas Co’a esponja de tuas vagas De teu manto este borrão?... Astros! noites! tempestades! Rolai das imensidades! Varrei os mares, tufão!” (ALVES, C. O Navio Negreiro) Este trecho do poema de Castro Alves ilustra o horror da travessia no tumbeiro. A violência e o sofrimento dos africanos não findavam ao pisar em portos brasileiros. Leia com atenção os textos, pesquise, e reflita sobre a situação dos africanos e seus descendentes. O trabalho escravo deixou marcas e como a sociedade reage com as consequências de mais de três séculos de escravidão no Brasil. Bons estudos! 7 Introdução A venda de pessoas para o trabalho escravo é conhecido desde a Antiguidade. As civilizações gregas e romanas tinham pessoas que executavam trabalhos na condição de escravos. Também a Europa Oriental e Central, sobretudo, os eslavos, forneceram escravos ao Oriente Médio e à África do Norte. Em 1492, a chegada de Cristóvão Colombo às Américas irá inaugurar uma nova modalidade para o comércio, o tráfico transatlântico de pessoas para o trabalho escravo. Da África, serão retiradas, de forma organizada, milhares de pessoas para o trabalho forçado, desumano e de caráter perpétuo, cujas consequências são sentidas até os dias atuais. O Trabalho Escravo A história da Humanidade conheceu diferentes formas e períodos para reduzir pessoas a escravos. Os motivos eram os mais diversos: dívidas, prisioneiros de guerra... A venda de pessoas ocorreu tanto no Império Romano como na Europa do século VI. Os documentos históricos permitem facilmente constatar que todos os povos do mundo venderam como escravos, em regiões longínquas e no curso de uma ou outra época, alguns de seus conterrâneos. Aprendemos, assim, que a missão enviada no século VI para converter o povo inglês ao cristianismo estava ligada à venda, no mercado de Roma, de crianças inglesas, vítimas das frequentes lutas entre os povos anglo-saxões que vendiam, como escravos, os prisioneiros capturados durante seus combates. Situação idêntica verifica-se em outros territórios europeus. INIKORI, p. 91/92, 2010 Antes do século IX, o comércio de pessoas da África Subsaariana já ocorria, porém de forma esporádica. A rota comercial do Mediterrâneo será usada para o tráfico de pessoas da África Negra para o resto do mundo a partir do século IX, sobretudo para algumas regiões da Europa, Oriente Médio e Ásia. Entretanto, o volume de pessoas não foi significativo, isto mudará a partir de 1492. O continente americano será o destino de uma verdadeira multidão de pessoas para o trabalho como escravas, quando a liderança do comércio de escravos passa para as mãos dos europeus. Os dois períodos do tráfico (o do Mediterrâneo e o transatlântico) irão arrancar milhares (alguns afirmam que milhões) de africanos de suas pátrias para o trabalho escravo e, somados, este lucrativo comércio durará por quase quatro séculos. Alguns aspectos, por vezes, minimizados por pesquisadores e que torna o tráfico transatlântico um evento singular na história é seu caráter econômico, a extensão geográfica a abastecer e abastecida por esse comércio e os bens por eles produzidos. 8 Unidade: Os Tráficos Negreiros Primeiros escravos africanos na Europa Não é possível indicar com precisão a data de chegada dos primeiros africanos em solo europeu. As primeiras notícias tratam da presença de africanos no exército mulçumano que alcança, em 711, a Ibéria. Outras campanhas mulçumanas contam em seus quadros com africanos e a partir do século XIII, na feira de Guimarães em Portugal, é possível encontrar mouros, mercadores de escravos vendendo africanos vindos das regiões ao sul do Saara, a África Negra. Mapa – África Negra Fonte: Adaptado de Wikimedia Commons Os primeiros registros de envio de africanos à Europa datam de 1441, quando Portugal, depois de ter alcançado Ceuta (1415), Senegal (1435) e o Congo (1483), deu início à deportação de africanos para Lisboa. A partir de então, a introdução forçada de milhares de africanos em continente europeu só cresceu. Estima-se que em meados do século XVII havia em Portugal e nas Ilhas Madeiras, aproximadamente, cem mil escravos. Essa prática, apesar de desumana, foi legitimada pelas autoridades e reconhecida pela Igreja. Os Papas Nicolau V (Romanus pontifex, 1455) e Calixto III, com o objetivo de justificar o aumento de escravos africanos em Portugal, editaram bulas que legitimavam, teologicamente, o domínio de Portugal sob a África, tendo em vista a sua necessária evangelização. O desembarque e o comércio de escravos era um fenômeno urbano, uma vez que se dava nos portos de Barcelona, Cádiz, Sevilha e Valencia, na Espanha, e Lisboa, em Portugal, e o trabalho podia ser realizado nos mais diferentes setores da sociedade. Tanto na área agrícola como nos afazeres domésticos e, no caso das mulheres, também como concubinas, eram empregados negros africanos adquiridos como escravos. 9 O ambiente urbano oferecia muitas possibilidades de trabalho aos negros, inclusive com situações propícias para fuga e, como ocorreu em alguns casos, o escravo conseguia comprar sua própria alforria. Nas cidades, era comum ver africanos organizarem-se em confrarias religiosas, a fim de conseguir comprar a liberdade de outros escravos, organizar festas e, principalmente, levantar fundos para preparar o sepultamento dos irmãos falecidos. A sociedade espanhola conheceu a ascensão de alguns libertos. Além de casos de ex- escravos que se tornaram padres, pintores ou jurisconsultor: Ainda mais notável foi o caso de Juan Latino, letrado de raça negra que obteve dois diplomas na Universidade de Granada, o primeiro em 1546, e o outro em 1556. Embora não tenha sido nomeado oficialmente, chegou a lecionar nessa mesma universidade. (HARRIS, p. 135, 2010) Em 1518, a Espanha irá definir uma verdadeira política oficial de estado para tratar do tráfico negreiro para o Novo Mundo. E, neste mesmo ano, o rei Carlos I de Portugal proclamou o Asiento do Negroes, acirrando a concorrência pelo domínio do lucrativo comércio ultramarino de pessoas. Mesmo sob o domínio espanhol (de 1580 a 1640), em 1600, Portugal conseguiu o monopólio para fornecimento de mão-de-obra escrava para o trabalho nas colônias espanholas da América. O monopólio irá ser transferido, posteriormente, para Holanda e França, em 1640 e 1701, respectivamente. Em 1713, após a Guerra da Sucessão Espanhola, a Inglaterra, sob a forma de asiento, ficará com este monopólio e se tornará o maior mercador de escravos do mundo. A Inglaterra já conhecia o tráficonegreiro e em suas terras havia um número tão grande de africanos trabalhando como escravos ao ponto de, em 1556, a Rainha Elizabeth I achar necessário mandá-los de volta à África. Foi assim que muitos comerciantes começaram a levar, em suas viagens, os seus escravos. O fato de possuir serviçais negros passou a ser um distintivo social, sinal de posse e de status. Nos jornais, começaram a aparecer anúncios de venda de escravos e, tendo em vista o número de fugitivos que buscavam ajuda dos abolicionistas, liam-se também alerta de fugitivos. Haviam pessoas especializadas no trabalho de captura dos escravos e, muitas vezes, estes eram reconhecidos pelos senhores pela cor da pele. O mesmo acontecia na África. Cedo se criou a ideia de supremacia de brancos sobre negros e, a partir do século XVIII, o processo de desumanização do africano. A conversão dos africanos ao cristianismo parecia para alguns ingleses a garantia dos mesmos direitos e liberdade, como pensava o advogado Grandville Sharp que abraçou a causa abolicionista em defesa de vários negros, inclusive alcançando a liberdade para alguns. Entretanto, foi somente em 1772 que o processo para abolir a escravidão da Inglaterra teve início, e, por esta época, estima-se em mais de 15 mil o número de africanos vivendo na mais gritante miséria em terras inglesas. A França fará suas primeiras incursões ao continente africano a partir da costa da África Ocidental e das ilhas de Cabo Verde e do Rio Senegal. Já no século XV, o número de africanos vivendo na França começa a ser notado. Os franceses levavam africanos, primeiro como prova de viagens realizadas e depois para vendê-los. Em 1595, um capitão português relata o encontro com africanos que falavam o francês ou que haviam vivido na França. 10 Unidade: Os Tráficos Negreiros Em cidades como Angers, Lyon, Orleaes e Paris, podiam ser vistos africanos no desempenho de várias atividades, nos lares e nos comércios. No exército, alguns deles ganharam destaque como foi o caso de Alexandre Davy Dumas. Entretanto, a França, como “pátria da liberdade”, não poderia aceitar a prática da escravidão, mas, pouco a pouco, isto irá acontecer. A política francesa irá permitir que os donos de escravos nas Américas os tragam para a França, a partir do final do século XVII e durante o XVIII. E, assim, os franceses se acostumarão com à presença dos negros realizando trabalhos como escravos entre eles. Alexandre Davy Dumas Fonte: Olivier Pichat/Wikimedia Commons Além da presença de africanos, emissários e peregrinos, monges ou mesmo escravos em Veneza – local de proprietários e de comércio de escravos - desde o final da Idade Média, existem poucos relatos acerca de sua presença no restante da Europa. E, embora gozassem de certa proteção legal, e do batismo cristão, segundo Harris (p. 141, 2010) “[...] a escravidão era um estado de servidão e de desigualdade que, associado à coerção física e psicológica, deveria ser estudada mais adiante a fim de inferir conclusões definitivas.” 11 Os primeiros escravos para o Caribe Apesar da experiência na Europa, nada será mais devastador e dramático para a dispersão africana do que a experiência da escravidão em terras do Novo Mundo. O tráfico negreiro, durante o século XV, manteve relações diretas com as plantações de cana no Brasil e nas Guianas, o que restringiu a presença de africanos às Américas do Sul e Central e ao Caribe. O século XVI verá a penetração de negros, junto com os espanhóis, no interior do continente. Chegarão junto com os exploradores ao México, a Quito e ao Peru. Estevanico – um negro africano - terá um importante papel na exploração do Novo México e do Arizona. Existem registros da presença de africanos nas expedições no Canadá junto aos franceses, principalmente com os missionários jesuítas, e também na conquista do vale do Mississipi. A chegada de negros para trabalhar como funcionários de holandeses, em 1619, irá gerar questionamentos a respeito da restrição do trabalho de africanos, bem como da possibilidade de criar mecanismos que os impeçam de escolher sua ocupação. Este movimento irá desencadear, em 1620, a institucionalização da escravidão nas colônias da América do Norte. O final do século XVII irá transformar o homem negro em mero objeto, e o africano destituído de sua humanidade é reduzido à condição de escravo. A superioridade do europeu sobre o africano era o argumento legitimador deste sistema, a cor de pele e as feições eram suficientes para confirmar tal crença. A população de africanos no Caribe aumentou consideravelmente quando Inglaterra e Espanha lutaram para controlar a região. Assim, em 1627 e 1655 a Inglaterra tomou Barbados e Jamaica, respectivamente. Os africanos, trazidos como escravos, chegavam da região de Angola, da chamada Costa do Ouro, do reino Congo, da Nigéria e Daomé e, após 1690, também da Ilha de Madagascar. Mapa – Rotas do tráfico durante o século XVII Fonte: profwladimir.blogspot.com 12 Unidade: Os Tráficos Negreiros O século XVII verá o domínio da Inglaterra e da França no Caribe. E será este sistema que servirá como modelo para a escravização de negros na América do Norte. A grande quantidade de africanos “domesticados” nas Ilhas do Caribe apontava para o sucesso do modelo, mas também funcionava como um barril de pólvora pronto para explodir. Os africanos da América do Norte viam nos caribenhos um exemplo para a resistência e para a revolta. E várias foram as revoltas nas colônias onde predominava o elemento negro. Na Guiana Inglesa, eles chegaram a compor 90% da população, eram numerosos na Jamaica, no Brasil e em Santo Domingo (Haiti) e menos significativos em Cuba. Tal quadro não se verificava nas colônias da América do Norte, pois apenas nos estados do Mississipi e da Carolina do Sul eles eram maioria. E, de fato, excetuando a de Santo Domingo (Haiti), as revoltas mais violentas no Caribe foram as ocorridas na Jamaica e na Guiana. Desde 1725 as revoltas e guerras ocuparam boa parte dos esforços dos colonizadores na tentativa de conter os escravos. Também no México, durante os séculos XVI e XVII, as revoltas promovidas por escravos foram constantes. O desejo de provocar a emergência das comunidades africanas será sentido também no Panamá, Colômbia, Venezuela, Peru e Cuba. Antes de Santo Domingo, a maior revolta armada de escravos, em termos de duração e amplitude, contra o sistema, será a criação de Palmares, no Brasil. A escravidão no Brasil sempre foi marcada por constantes revoltas e levantes. O Estado de Palmares durará por quase todo o século XVII (1605 a 1695) e terá cerca de 20 mil africanos, em sua maioria bantos oriundos de Angola e do Congo, que tentarão recriar suas sociedades de origem. Somente depois de várias investidas de portugueses e holandeses é que Palmares será destruído. O intuito das revoltas não se resumia às fugas para as montanhas, nelas estava contido o objetivo de fundar localidades organizadas de tal forma que permitisse a defesa contras os inimigos. Tais desejos tinham apoio nas religiões de matriz africana e, no caso de mulçumanos no Brasil, a capacidade de unir etnias adversárias, como os iorubas e haussás na Bahia. Durante todo o século XVIII, ocorreram revoltas em todos os locais do continente americano onde havia trabalho escravo. 13 O tráfico para o Brasil A princípio, o Brasil não era o principal destino de africanos trazidos para as colônias nas Américas. A região do Caribe produzia a cobiçada cana para a produção e lucrativo comércio do açúcar. Por volta de 1550, a Ilha Hispaniola tinha cerca de trinta engenhos e no auge da produção do açúcar (1560-70) tinha uma população africana estimada entre 12 e 20 mil escravos. O comércio negreiro se voltará para o Brasil apenas ao final do século XVI, com o objetivo de suprir as promissoras lavouras de cana. Até 1575, haviam no Brasil, apenas 10 mil escravos, enquanto nas colônias da América espanhola estimava-se a presençade, aproximadamente, 37.500 africanos. Os portugueses eram os responsáveis pelo comércio de africanos e dos 125 mil deportados para a América, apenas 40% foram destinados aos portos brasileiros. A queda na produção de açúcar nas ilhas de Madeira e São Tomé, e a elevação do açúcar brasileiro ao primeiro lugar no Império português, irá determinar a mudança no destino dos africanos. Mapa – Tumbeiro Fonte: Wikimedia Commons As políticas da Corte adotadas para a colônia do Brasil ajudaram na importação da mão- de-obra necessária para a produção do açúcar em todas as suas etapas. Entre elas, podemos destacar os incentivos fiscais - dos alvarás de 1554 e 1559, que favorecem a construção de engenhos e a importação de africanos. O controle português do trato negreiro permite à Corte o comando da reprodução do sistema escravista. O tráfico também irá gerar novas fontes de renda à Coroa que provêm dos direitos de entrada e saída dos portos africanos e entrada nos brasileiros, além de outras taxas administrativas. Além da Coroa, o clero será outro beneficiário das taxas pagas, neste caso, para o batismo obrigatório de escravos. Os conflitos da colônia, opondo a administração aos moradores e aos jesuítas, destes últimos entre si será contornado com o uso do elemento africano para facilitar a evangelização e libertar os indígenas do cativeiro. Nesta busca por riquezas, também os comerciantes farão seus próprios acertos e todos irão lucrar com a exploração do escravo africano. 14 Unidade: Os Tráficos Negreiros As fases do tráfico terão os nomes dos portos de embarques. Em sua primeira fase, que perdurou todo o século XVI, os portugueses utilizando-se das rotas fluviais usadas pelos nativos, capturarão negros no interior do continente africano, levando-os para serem comercializados no litoral da Guiné para, a partir do porto no Golfo de Guiné, serem transportados para as colônias nas Américas. O nome do porto de embarque designará, a partir de então, as várias etnias africanas que chegarão, sempre em maior número, aos portos brasileiros. A antiga presença de comerciantes portugueses ajudará na transferência do porto de saída para o embarque de africanos rumo às colônias na América. A partir de 1580, aproximadamente, até o final do século XVII, a África Austral – região que abrange o Sul do Continente, conhecida também como África Meridional, será o principal ponto de embarque de negros para o trabalho escravo nas Américas. Da região entre Angola e Congo serão transportados cerca de 600 mil africanos com destino aos portos brasileiros. Um surto de varíola irá afastar os comerciantes para a Costa da Mina. Mapa – Regiões portuárias africanas: Costa da Guiné – que contempla as Costas do Ouro e dos Escravos, África Austral e Costa da Baia do Benim Costa do Ouro e dos escravos Baia do Benin Accra África Austral Uidá Fonte: Adaptado de Wikimedia Commons Localizada entre a atual Gana e o Golfo da Guiné, a região da Costa da Mina verá serem embarcados em seus portos, por cerca de dois terços do século XVIII, aproximadamente 1,3 milhões de escravos. O seu porto mais importante era o localizado em São Jorge da Mina, que era assim conhecido pela fortaleza, de igual nome, construída pelos portugueses para servir como entreposto comercial. Ali foram embarcadas inúmeras etnias (nagôs, jejes, fantis e axantis, haussás, tapas, fulas, mandigas e os islamizados, malês entre outras), entretanto, por sua proximidade com o Sudão, todos os africanos ali embarcados receberam a designação de sudaneses. A maior parte foi desembarcada na Baia de Todos os Santos. 15 Representantes de etnias Fonte: Etnia Nagôs/Wikimedia Commons O último período, que abrange também o tráfico clandestino, será realizado a partir da Baia do Benim, entre 1770 e 1850. A Baia do Benim fica na parte setentrional do Golfo da Guiné, sendo a região adjacente ao Delta do Níger conhecida como Costa dos Escravos. Com os negros do período anterior, aumenta o número de africanos das etnias iorubas, sobretudo na Bahia, onde serão conhecidos como jejes, haussás, mas, principalmente, como nagô-iorubas. 16 Unidade: Os Tráficos Negreiros Algumas Considerações A diáspora africana, embora seja um dos eventos de maior impacto nas relações intercontinentais do período moderno, tem sua influência pouco estudada, em particular no que diz respeito aos impactos político-econômicos gerados pelo tráfico e os produtos dele derivados. Por outro lado, como bem conclui Harris (p. 163, 2010) a presença dos negros no mundo inteiro deve-se principalmente ao tráfico intercontinental de escravos. De fato, a natureza de tal tráfico e suas consequências, mais especificamente na América e nos Caribes, levaram os africanos a travarem lutas por sua liberdade. Essas lutas, com o passar do tempo, despertaram nas consciências a preocupação generalizada da redenção da África e da libertação dos negros do mundo inteiro. Esse processo constituiu- se no início da época moderna e demonstrou, por volta de 1800, uma real influência em escala mundial. A presença de negros nos vários países para onde foram levados africanos, ainda carrega o ônus do preconceito, uma vez que a segregação e a discriminação, em seus aspectos físicos, culturais ou religiosos, continuam tendo a cor da pele como critério de julgamento e avaliação. Daí derivam as demandas nas agendas de reivindicações dos afro-descentes. 17 Material Complementar Para complementar os conhecimentos adquiridos nesta Unidade, duas sugestões de filmes: Filmes: HERZOG, Werner (diretor). COBRA VERDE. 1987 (111 min.). Filmado no Gana, Brasil e na Colômbia, segue a história verídica de um bandido brasileiro do século XIX chamado Cobra Verde, exilado em África para rejuvenescer o tráfico de escravos. Uma vez no continente africano, a sua sanidade é testada ao limite. O filme retrata a descida de Cobra Verde às profundezas da loucura e da auto-destruição. SPILBERG, Steven (diretor). AMISTAD. 1997 (148 min.). Baseado em fatos reais. Este filme relata a incrível história de um grupo de escravos africanos que se rebela e se apodera do controle do navio que os transporta e tenta retornar à sua terra de origem. Quando o navio, La Amistad, é aprisionado, esses escravos são levados para os Estados Unidos, onde são acusados de assassinato e são jogados em uma prisão à espera do seu destino. Uma empolgante batalha se inicia, o que capta o interesse de toda a nação e confronta os alicerces do sistema judiciário norte-americano. Entretanto, para os homens e mulheres sendo julgados, trata-se simplesmente de uma luta pelos diretos básicos de toda a humanidade... Liberdade. 18 Unidade: Os Tráficos Negreiros Referências HARRIS, J. E. A diáspora africana no Antigo e no Novo Mundo in OGOT, Bethwell Allan (editor). História Geral da África V - África do século XVI ao XVIII. Brasília: UNESCO, 2010. ALENCASTRO, Luiz Felipe. O Trato dos Viventes. Formação do Brasil no Atlântico Sul – séculos XVI a XVII. 4ª reimpressão. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. 19 Anotações
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