Fundamentos de Jogos Digitais: O que é um jogo

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Fundamentos de Jogos Digitais
Aula 1: O que é um jogo
Apresentação
Nesta aula iremos compreender o que é um jogo de maneira geral, dentro de uma perspectiva com base em
comportamentos nas sociedades antigas e modernas, e seus desdobramentos culturais, a �m de elaborar um
entendimento desse termo e sua in�uência para a disciplina de fundamentos.
Também ampliaremos o conceito de jogo especi�cando seus tipos e especi�cidades até chegarmos aos jogos eletrônicos
– foco do nosso curso. Somente com essa re�exão poderemos evoluir do pensamento gamer e explorar as possibilidades
do desenvolvedor de jogos, na sua ótica de pensar e construir seus games.
Objetivos
Decodi�car o que signi�ca a palavra jogo, sua construção e tipi�cação dentro do fenômeno sociocultural;
Esclarecer a representação do binômio jogo eletrônico e seu modelo formal.
O que é jogo
Quando falamos de jogos, estamos tratando de uma
composição cultural que está muito além da
compreensão que temos dos videogames. Ao longo da
história do homem e seus diversos eventos históricos, os
jogos sempre estiveram presentes.
O que dizer de momentos ao longo da existência humana
quando jogos de�niram guerras, reis e impérios.
 Pintura antiga em que soldados jogam enquanto crucificam condenados pelo
Império Romano.
No ramo da Psicologia
os jogos estão no campo das
relações sociais.
No ramo da Política, da
Ideologia, da Física, da
Geogra�a e da
Matemática
jogo remete a uma ação que
envolve desa�o, negociação,
comparação, disputa.
No entanto, nós conhecemos jogos por um outro olhar. A partir dos movimentos modernistas, percebemos o jogo atrelado
ao entusiasmo, à diversão e ao entretenimento. Essa visão tem grande in�uência de um viés cultural, bem diferente da
abordagem anterior do mundo antigo, do jogo como atividade social.
Exemplo
Quando falamos do esporte, temos as brincadeiras como crianças: as disputas e confusões nos corredores dos colégios,
ou as competições que fomos obrigados a enfrentar uns contra os outros, seja por medalhas, notas ou reconhecimento
pessoal.
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Para os pedagogos, a visão recreativa do jogo na escola ainda era algo limitado para o entendimento do que é um jogo
dentro da perspectiva deste curso.
Os teóricos avançam em seus estudos sobre o potencial social, recreativo e lúdico do jogo, e lançam tratados sobre o
tema. Estamos falando da década de 1940, quando o mundo ainda enfrentaria o pós-guerra e se desenhariam as
potências econômicas. Foram estas que, em determinado momento da história mundial, ofereceriam os primeiros jogos
em massa em uma indústria que hoje simboliza o que entendemos por jogo, movimentando um mercado milionário e
consolidando o jogo digital como cultura em diversos prismas analíticos.
O que queremos com isso é identi�car que existe o gamer, ou simplesmente o jogador, que precisa ter uma
re�exão profunda sobre o ato de jogar, e o que signi�ca a palavra jogo. Sabemos que esse é um processo, e que,
de forma escalonada, serão reveladas todas as nuances do que signi�ca não somente a palavra jogo, mas seu
binômio: o jogo eletrônico ou jogo digital.
Vamos começar com a de�nição de jogo:
Atividade cuja natureza ou �nalidade é a diversão, o
entretenimento”.
Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa.
Portanto, não adianta qualquer outra área do
conhecimento inferir que jogo ensina, educa, treina, ajuda
pessoas. Jogo diverte – e é no ato de divertir-se que as
pessoas podem vir a aprender outras coisas.
Percebemos também que jogos, segundo sua acepção ,
devem ser submetidos a um conjunto de regras – isso o
de�ne como uma atividade articulada, organizada e
pensada para um propósito não totalmente criativo e
ocioso: têm objetivos. Geralmente, são disputas em que
existem vencedores e perdedores.
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A forma de lutar, de criar táticas e de se relacionar com um jogo tendo um propósito de�ne o jogo como um complexo
elemento construtivo e que pode ser desenhado por alguém. Daí a percepção do game designer ou criador de jogos.
Mesmo conceituando um universo de assuntos a discutir, apontaremos, nesta seção em especí�co, os elementos que
de�nem o que é um jogo digital, e concomitantemente apresentaremos uma análise dos fundamentos dos jogos quanto a
sua representação e motivação, pois elementos dos jogos com suas respectivas peculiaridades só têm consistência se
estudados conjuntamente.
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Conceito Geral
Explicamos anteriormente que jogos estão em todos os lugares e são atividade sociorrecreativas com participação de
pessoas interagindo em um evento. Sendo uma potência cultural de grande relevância e que depende da região geográ�ca
que o circunda, podemos dizer que os jogos em sua grande maioria são atividades de coletivos humanos. Pode-se tornar
uma grande paixão de um país, como é o caso do futebol no Brasil.
http://estacio.webaula.com.br/cursos/go0118/aula1.html
Percebemos notícias de jornal e TV sobre o que os torcedores de um time são capazes de fazer por sua paixão; as suas
reações para com os jogadores, os clubes e outros, extrapolando o jogo em si, isto é, as regras que acontecem dentro das
quatro linhas do campo de futebol.
Jogadores, espectadores, colaboradores. Todos interagem em um evento de jogo – forma de trabalho para muitos atletas,
inclusive os digitais. A partir dos anos 2010, uma grande onda de jogos online invadiu a cena, construindo centenas de
milhares de grupos organizados de jogos, que se pro�ssionalizaram e contribuem para um mercado de bilhões de dólares.
Os autointitulados e-atletas possuem fãs, técnicos e dietas especiais.
Jogo também depende do jogador e de seus estímulos.
Exemplo
Imagine pessoas que sejam obrigadas involuntariamente a jogar. Atletas, por exemplo, tratam jogo como uma pro�ssão:
buscam maior desempenho, lucros com base no uso físico do seu corpo e talento, precisam se condicionar �sicamente,
superar problemas pessoais, en�m, agir pro�ssionalmente.
Como atividade recreativa, os jogos eletrônicos têm a vantagem de ter usuários que se motivam espontaneamente com o
foco na diversão. Assim, não seria difícil que você, como desenvolvedor de jogos, �zesse com que seu público jogasse seu
jogo, mas sabemos que isso não é verdade. Ao �nal desta disciplina há questões que mostrarão ao aluno indicadores de
que a produção trabalha ao pensar em jogos, despertando gatilhos motivacionais que os fazem, antes de tudo, comprar
seu jogo.
A priori, o que devemos saber é que os jogos digitais são sedutores enquanto mídia. Sempre foram forma de
entretenimento, mas hoje servem para inúmeros �ns que não são somente criativos – pro�ssionais, usados em contextos
educacionais, usados para tratamentos médicos, no despertar da cultura da sociedade, e em muitos outros planos.
Devemos salientar que o jogador pode de�nir o que é jogo ou não.
Observe quando um jogador pro�ssional e outro jogador entusiasta joga o mesmo jogo. Perceba as suas reações físicas,
a maneira com que pega no controle, com que interage com as pessoas. São formas totalmente diferentes de entender o
jogo e interagir com ele. Os diversos formatos de tratar o que é um jogo para uma pessoa é o princípio fundamental da
gami�cação – utilizar jogos em contextos que não são de jogos.
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Exemplo
Uma pessoa vai cozinhar. Ele pode criar um jogo a partir dessa atividade, determinando variáveis como sabor, tempo,
gordura, tempero e cozimento como algo que pode ser de�nido como competição ou desa�o a se atingir. Ele pode
competir consigo mesmo ou com amigos em uma noite gourmet em sua casa, estabelecendo regras e determinando
quem ganha e quem perde. O simples fato de você encarar o seu dia a dia como um jogo pode deixá-lo ainda mais
motivado, e assim acontece um círculo virtuoso no processo de gami�cação.
Tipos de Jogos
Uma vez que sabemos determinar o jogo em sua construção mais abstrata, envolvendo as características
socioeconômicas,políticas, pragmáticas, culturais e de comportamento dos jogos, citando inclusive alguns formantes
característicos dele, apresentamos os tipos de jogos, agrupados de maneira que você possa perceber padrões de forma e
função desses jogos.
 Exemplos de Jogos 
 Clique no botão acima.
Exemplos de Jogos
Tabuleiro
Os jogos de tabuleiro, também conhecidos como jogos analógicos, são considerados os modelos mais jogados
no mundo e um dos mais tradicionais.
O Jogo Real de Ur (2600 AC, Mesopotâmia), Senet (3500 AC, Egito) e Mancala (tipo de jogo de captura de pedras
jogado na Arábia, Síria, Egito e África) são alguns dos jogos de tabuleiro mais antigos da humanidade, e datam de
tempos que não se sabia nem o que signi�cava jogo.
Partindo do princípio de que os jogos analógicos são tangíveis, estes são formados por peças ou qualquer tipo de
objeto, chamado de tokens, que marcam espaços e de�nem posições em determinada superfície, o próprio
tabuleiro.
A dinâmica de um jogo analógico é construída com base em um sistema de regras que vai gerar relacionamentos
entre a superfície e os tokens, ou os tokens e eles mesmos. Os tokens podem ser dados, miniaturas, �chas,
cartões, qualquer peça padronizada que simbolizará algo no tabuleiro. O conjunto de relações desses objetos é
in�nito, portanto, podemos dizer que também são in�nitas as possibilidades de se construírem mecânicas para
jogos analógicos.
Os primeiros jogos de tabuleiro clássicos mundialmente difundidos remontam ao período dos reis. Xadrez e
Damas são exemplos de jogos que até hoje possuem inclusive federações de jogadores.
Com o passar das décadas, os jogos de tabuleiro ganharam força comercial ao serem vendidos nos anos 1950
como brinquedos educativos para o uso das famílias. Os anos 1980 e 1990 deu grande evidência a jogos,
principalmente no Brasil, com jogos simulando guerras (WAR e Combate), economia (Banco Imobiliário – jogo de
tabuleiro mais vendido no mundo), trivia (Master, Imagem e Ação) e sociabilização (Jogo da vida).
 Jogo WAR, jogo Banco Imobiliário, jogo Imagem e Ação e jogo da vida.
Os jogos segmentavam faixa etária e taxonomia, e aos poucos foram perdendo espaço para os jogos digitais.
Contudo, se você pensa que estes estão esquecidos, se engana: eles ganharam um nicho de jogadores que
movimentam um mercado editorial feroz. Centenas de milhares de jogos analógicos são vendidos no planeta,
desta vez com mecânicas robustas e um visual grá�co de alta qualidade. Hoje eles conseguem ser até mais
caros que os jogos de videogame.
Uma derivação especial que destacamos aqui são os jogos Role Playing Game (RPG) – criados na década de
1970 e amplamente difundidos a partir da década de 1980 –, que possuem normas mais complexas e seguem
diversas técnicas de cálculos de regras. Misturados com interpretação de papéis e simulações de cenas, utilizam
tabuleiros e dados para o jogo. Dungeons & Dragons é um dos títulos mais conhecidos. A partir daí os jogos de
storytelling, como Generic Universal Roleplaying System (GURPS), buscaram fugir do tabuleiro e deixar a ação
mais livre, já que a ideia é que o jogador tenha de interpretar um personagem e não �car restrito ao tabuleiro e a
planilhas de cálculo de jogadas.
A partir daí, os jogos RPG começaram a se tornar atividades de interpretação teatral e fugiram um pouco do
conceito geral dos tabuleiros, preservando alguns elementos. Devemos colocar inclusive o RPG como outra forma
de jogo.
Cartas
Os jogos de cartas são declaradamente jogos analógicos tradicionais e também persistem por séculos na
sociedade humana. Nas rodas de convívio entre pessoas de alto e baixo clero, os jogos de carta animavam festas
e reuniões. Como parte de uma cultura emergente, de�niu ações de jogo como cortar o baralho, embaralhar,
distribuir cartas e fazer blefes, mecânicas exclusivas deste modelo de jogo. Entre os mais conhecidos destacam-
se o Poker, Solitária, Pif Paf, Truco e Burrinha.
Após os anos 1970, os jogos de cartas tomaram uma nova dimensão com a criação de jogos como Super Trunfo
(disputa de valores de uma carta especí�ca), que se tornou bastante popular também na década de 1980, dando
margem a novos tipos de relações entre jogadores interagindo com cartas. Em pouco tempo, jogos como UNO
inauguravam uma forma de mecânica interativa de jogo que chamamos de Party Game. Nessa perspectiva, os
jogos são de fácil entendimento (perceba que para jogos analógicos é preciso perder muito tempo lendo o
manual das regras) e rapidamente se inicia o jogo.
Uma década depois, os jogos de cartas também sofreram com a massi�cação dos digitais. Foram desenvolvidos
jogos mais so�sticados, como Magic the Gathering, em que o jogador possui um deck especial de cartas que
simbolizam magias especí�cas, desencadeando assim um novo tipo de taxonomia com diversas mecânicas
novas para os jogos de cartas.
São essas mecânicas que diferenciam essencialmente um jogo de cartas de um de tabuleiro. No jogo de cartas,
qualquer mecânica trabalha simplesmente comparando valores e códigos, gerando, assim, resultados de derrota
ou vitória. Não importa como são coletados esses valores, mas ao �nal existe um fator comparativo.
Atléticos
Os jogos atléticos são muito antigos e começaram com a criação dos jogos olímpicos enquanto torneios e
competições. Envolvem atividades que essencialmente exigem desdobramento físico e, portanto, são jogos
excludentes por certo ponto de vista.
Por meio da visão hedônica do homem, os corpos mais bem trabalhados �sicamente eram a visão da beleza e do
correto, excluindo os jogos de raciocínio. Atualmente, temos a visão do esporte como jogos de desempenho, que
envolvem as práticas saudáveis e também o lazer de amadores e pro�ssionais.
Infantis
Os jogos infantis são brincadeiras entre crianças que trabalham narrativas de compreensão da sociedade e seu
lugar no mundo. Apesar de trabalharem com desa�os, vitórias e derrotas, procuram mais fazer com que os
jogadores entendam as relações do jogo com comportamentos que envolvem a própria educação em si, mas
também valores sociais, cidadania etc.
Trabalhando mecânicas simpli�cadas e que misturam raciocínio e físico, brincadeiras como bola de gude,
queimada, amarelinha e outras são promovidas pelos educadores nos colégios e reutilizadas em convívios
familiares, principalmente até os anos 1990. Atualmente, as brincadeiras infantis competem com o desejo das
crianças no uso dos jogos digitais.
Eletrônicos
Uma construção bastante simplória para de�nir o jogo eletrônico seria dizer que ele nada mais é do que a
aplicação de qualquer outro tipo de jogo analógico ou físico em meio digital. Iniciaram-se ainda nos anos 1950, e
com mais propriedade nos anos 1960 e 1970.
Abrange a diversi�cada gama de �iperamas, videogames, computadores, portáteis etc. Na maioria das vezes, os
jogos digitais não requerem quaisquer tipos de qualidade física, mas demandam coordenação, cognição e
re�exos.
Os jogos eletrônicos funcionam por um grupo de instruções digitais estimuladas dentro de circuitos eletrônicos,
guardadas em memórias em uma placa ou cartucho, que são processadas por uma unidade computacional e
controladas pelo jogador, por meio de inúmeros dispositivos, como: mouse, joysticks, pedais, botões, volantes e
teclado.
Atividade
1. Selecione pelo menos duas atividades do seu dia a dia que envolvem um jogo. Descreva como você participa desses
eventos e com quantas e quais são as pessoas que interagem com você.
2. Escolha pelo menos três jogos tradicionais e identi�que se existem versões eletrônicas dos mesmos jogos. Aponte as
principais diferenças e semelhanças desses jogos.
3. Faça uma pesquisa na internet e selecione pelo menos cinco jogos eletrônicos dos anos 1970 e 1980, informando as
regras do jogo e a empresa fabricante. Veri�que se possuem versões analógicas, analisando sua representação.
Notas
acepção 1
A acepção do jogo no dicionário ainda versa sobre a ação de jogar ou o modo de jogar de alguém, isto é, como ele se
movimenta, usa as regras e cria suas estratégiaspara ganhar.
Referências
CRAWFORD, Chris. The Art of Computer Game Design. Amazon: Online.
HUIZINGA, Johan. Homo Ludens: o Jogo como Elemento na Cultura (1938). São Paulo: Perspectiva, 2008.
Próxima aula
Investigar a representação do jogo;
Construir a identidade do jogo.
Explore mais
Assista ao vídeo Pesquisa e Jogos: Qual o conceito de jogo? <https://www.youtube.com/watch?v=Beo_10VT_50>
https://www.youtube.com/watch?v=Beo_10VT_50