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NECRÓPSIA – INSTITUTO MÉDICO LEGAL – MÓDULO IV 
 
 
- 1 - 
 
 
PROF. EWERTON RODRIGUES 
 
1. INTRODUÇÃO À MEDICINA LEGAL 
As inúmeras relações com outras ciências e o seu extenso raio de atividade tornam a 
Medicina Legal difícil de ser definida com precisão. Em geral, cada definidor conceitua esta 
ciência levando em consideração sua forma de atuação, como entende sua prática, sua 
contribuição e sua importância diante dos justos e elevados reclamos da sociedade. 
Ambroise Paré definiu medicina legal como “a arte de fazer relatórios em juízo”, e 
Foderé como “a arte de aplicar os conhecimentos e os preceitos dos diversos ramos 
principais e acessórios da Medicina à composição das leis e às diversas questões de direito, 
para iluminá-los e interpretá-los convenientemente”. 
A Medicina Legal é uma ciência de largas proporções e de extraordinária importância 
no conjunto de interesses da coletividade, porque ela existe e se exercita em razão 
das necessidades de ordem pública e social. 
É difícil definir com precisão a Medicina Legal. Cada especialista costuma defini-la de 
maneira subjetiva, partindo de suas relações práticas e convívio com a mesma. Vejamos a 
definição de alguns dos maiores especialistas em Medicina Legal: 
 "É a Medicina considerada com suas relações com a existência das leis e a 
administração da Justiça" (Adelon). 
 "A aplicação dos conhecimentos médicos nos casos de procedimento civil e 
criminal eu possam ilustrar" (Marc). 
 "É a ciência do médico aplicada aos fins da ciência do Direito" (Buchner). 
 "A aplicação do conhecimento médico cirúrgico à legislação" (Peyró e 
Rodrigo). 
 "A ciência que ensina, através dos conhecimentos naturais, maneiras de 
auxiliar a Justiça a descobrir a verdade" (Schermeyer). 
 "Disciplina que utiliza a totalidade das ciências médicas para dar respostas às 
questões judiciais" (Bonnet). 
Deve-se saber que tanto o Direito quanto a Medicina se preocupam com a harmonia 
que deve existir com o ser humano. Os dois têm um ponto em comum. O Direito se ocupa 
do ser integrado na sociedade, onde há leis, regras e ordenamentos que lhes ditam 
obrigações e lhes conferem direitos para que exista uma convivência serena e pacífica. 
 NECRÓPSIA – INSTITUTO MÉDICO LEGAL – MÓDULO IV 
 
 
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A medicina cuida do homem dotado de inteligência, de órgãos e aparelhos, que 
devem funcionar a contento. Quando o equilíbrio orgânico é quebrado surgem doenças e 
enfermidades. Entre os direitos protegidos temos a saúde, a integridade física e a vida, mas 
esses direitos podem ser violados, num grupo social, é aí que essas ciências se tocam, 
sendo a Medicina Legal o elo de união, que age como uma ponte unindo ambas. 
A expressão da violência e dos conflitos em geral, na atualidade, torna cada vez 
mais difícil a manutenção da ordem social, pois os direitos aumentam e os deveres se 
atenuam. A Medicina Legal sendo um ramo extenso e complexo dos conhecimentos 
científicos que une a Medicina ao Direito, na aplicação e elaboração das leis que regulam os 
atos humanos, é de extraordinária importância para a solução de fatos de interesse jurídico. 
 
 Desta forma, a medicina legal não se restringe apenas ao estudo de cadáveres, 
mas se estende a outras áreas, envolvendo o ser humano ainda vivo, tendo surgido 
para colaborar na solução das questões existentes entre os membros da sociedade, 
tornando, desta forma, a vida em grupo viável e menos conturbada. 
O Direito Processual Penal tem como meta o reconhecimento e o estabelecimento 
de uma verdade jurídica, e tal fim se alcança por meio das provas que se produzem e se 
valoram segundo as normas prescritas em lei. A finalidade da prova é formar a convicção do 
juiz sobre os elementos necessários para a decisão da causa. 
Para tanto, o magistrado se vale dos documentos médico-legais, que são 
instrumentos escritos ou simples exposições verbais mediante os quais o médico fornece 
esclarecimentos à justiça. Dentre estes se citam: atestado, laudo, parecer, auto, relatório, 
etc. e cada um deles possui características diferentes, tanto do ponto de vista médico como 
jurídico, e serve à finalidade também diversificada como será visto após. 
 NECRÓPSIA – INSTITUTO MÉDICO LEGAL – MÓDULO IV 
 
 
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Desta forma, a Medicina Legal é uma ciência de largas proporções e importância nos 
interesses da comunidade, porque existe e se exercita em razão das necessidades de 
ordem pública e social. É uma disciplina de amplas possibilidades e de profunda dimensão, 
porque não se resume ao estudo da Medicina, mas de se constituir na soma de todas as 
especialidades médicas acrescidas de fragmentos de outras ciências acessórias, 
destacando o Direito. 
2. HISTÓRICO DA MEDICINA LEGAL 
Historicamente, embora seja comprovada a participação médica em processos 
judiciais, os antigos não conheciam a Medicina Legal como ciência. Pompílio, em Roma, 
ordenou o exame médico na morte das grávidas. Adriano e Justiniano utilizaram-se dos 
conhecimentos médicos para esclarecer fatos de interesse da Justiça. Somente com a 
legislação de 1209, por um decreto de Inocêncio III iniciou-se a perícia médica. Gregório IX, 
em 1234, exigia a opinião médica para distinguir dentre os ferimentos, aquele considerado 
mortal e até no cancelamento de casamentos, caso houvesse suspeitas comprovadas de 
sexo entre os noivos antes da cerimônia. 
 O início da Medicina Legal prática foi na Itália, em 1525. Foi no séc. XVI que a 
Medicina Legal teve sua contribuição reconhecida, quando começou a ser exigida a 
presença dos peritos na avaliação dos diversos tipos de delitos. Em 1521, quando o Papa 
Leão X morreu com suspeita de envenenamento, seu corpo foi necropsiado. 
 
Ambroise Paré é considerado o pai da Medicina Legal por ter lançado o primeiro 
tratado de Medicina Legal, em 1575. Nos séculos seguintes, mais avanços aconteceram, 
principalmente nas áreas de toxicologia, e psiquiatria médico-legal. No Brasil, a Medicina 
Legal francesa foi decisiva. Hoje, a escola portuguesa também fornece importante 
contribuição, através das obras de diversos autores. Inúmeros são os nomes de 
pesquisadores e cientistas que veem desenvolvendo a Medicina Legal até os dias atuais. 
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3. O INSTITUTO MÉDICO LEGAL (IML) 
 
Visto pela sociedade como sinônimo de repulsa e evitação, o Instituto Médico Legal 
(IML) ou Posto Médico-Legal (PML) é uma instituição que tem a função de manter a ordem 
pública garantindo o bem-estar da sociedade de maneira geral. A busca pela justiça, o 
trabalho coerente, ético e a conduta prezando pelo ser humano na sua singularidade, são 
características que permeiam o cotidiano dessa instituição e de todos os profissionais que 
atuam frente a ela. 
Por tratar da violência em seus múltiplos âmbitos e adjuntamente ao trabalhar com a 
morte é que a maioria das pessoas evita falar sobre esse assunto a fim de não se aproximar 
de algo que causa medo, tristeza, ou angústia, característica visível na vivência de todo o 
ser humano. A morte representa uma das maiores dores sentida pelo ser humano, a dor da 
perda, que apesar de todos os esforços, não pode ser negada, ignorada. 
Visto como tabu cultural e histórico, a finitude humana ainda é um assunto que 
precisa ser desmistificado e trabalhado a fim de que ela possa ser compreendida como um 
ciclo natural da vida humana nos reconhecendo como seres finitos. A dor é universal, está 
presente em todas as crenças e religiões. Em nenhum lugar a morte é motivo de alegria. O 
nível de tolerância é que varia. 
O Instituto Médico-Legal (IML) é responsável pela avaliação de casos de pessoas 
que foram violentadas ou decorrentes de morte e tem como objetivo assegurar o cuidado 
singular encontrando as causas de tais violências a fim de buscar pela justiça e assegurar a 
integridade do ser humano. Adiante será analisado emque é pautado o exercício 
desenvolvido nos IMLs; qual é a importância que este tem diante da comunidade; como os 
colaboradores avaliam suas atividades e quais as condições de trabalho e de saúde desses 
profissionais. 
O exercício realizado pelos colaboradores que atuam frente ao Instituto Médico-Legal 
(IML) ainda é pouco conhecido e valorizado pela sociedade, o que, por vezes, os coloca 
como meros atores em um cenário do qual, na realidade, são protagonistas. A sublime 
atividade desenvolvida por eles frente à comunidade é pautada na busca pela segurança, 
justiça e cuidado pleno para todas as pessoas que a procuram. Bem como suas condutas 
de zelarem pelos corpos, garantindo que as histórias e identidades sejam mantidas sob 
sigilo e cuidado a fim de garantir a integridade de cada ser humano. 
 
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3.1. CONCEPÇÕES GERAIS ACERCA DA COMPREENSÃO DO TRABALHO 
REALIZADO NO INSTITUTO MÉDICO-LEGAL (IML) 
O IML é o órgão da Polícia Civil responsável pela realização de perícias médicas e 
pela emissão de laudos para subsidiar as investigações e o julgamento de processos 
criminais sobre agressões físicas, acidentes, estupro, atentado violento ao pudor, tentativas 
de homicídio, homicídios consumados e suicídios. A instituição que tem como missão 
manter a ordem pública, a moralidade, a saúde pública e assegurar o bem-estar coletivo é 
vista, por boa parte da sociedade, como sinônimo de amoralidade, ameaça à saúde, à vida, 
ao bem-estar coletivo. 
O estigma carregado pelo IML aos olhos da sociedade é diferente do estigma da 
Polícia, até porque as pessoas sequer associam uma instituição à outra. Não se sabe que o 
IML está subordinado à Polícia Civil porque não se deseja saber nada sobre o IML. Ninguém 
quer conhecer, de preferência nem passar perto do IML. A identidade institucional é 
“amaldiçoada” pela natureza do trabalho, pela intimidade que este tem com a morte, tabu 
cultural e histórico difícil de romper. 
De acordo com alguns autores apesar de a morte ser reconhecida como natural 
universal e inevitável, o homem é incapaz de imaginar a sua própria morte e, por esta razão, 
na sociedade a maioria das pessoas tende a evitá-la. A sociedade marcada por um ritmo 
alucinante parece ter deixado de lado o fato de todos nós sermos finitos. Assim, o homem, 
tende a não pensar sobre sua finitude e a das pessoas que o rodeiam. Nota-se um 
despreparo no que diz respeito ao enfrentamento dessa situação. 
Os IMLs não trabalham somente com situações já decorrentes de mortes, mas com 
um número cada vez maior de lesões e outras agressões que não chegam a provocar a 
letalidade. 
 
95% das perícias realizadas no IML são em pessoas vivas. 
 
Costuma-se dividir as áreas técnicas do IML em: 
 Clínica Médico Legal: Oferece serviços de realização de exames de conjunção 
carnal, ato libidinoso, lesão corporal, verificação de aborto, verificação de idade, sanidade 
física, sanidade mental, identificação de sexo somático, psiquiátrico; emitindo seus laudos. 
 Laboratórios: Executam serviços de realização de exames anatomopatológicos, 
toxicológicos e de química legal emitindo seus laudos. 
 
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 Técnica-Pericial/Outros: Existem outros trabalhos realizados no IML necessários 
como complementação aos demais serviços mencionados, como: identificação do cadáver, 
radiologia para localização de projéteis/objetos, antropologia (exame em ossadas), coleta de 
material para dosagem alcoólica, controle dos materiais analisados, etc. 
O IML também é responsável por fazer o exame de corpo de delito em vítimas vivas 
ou mortas, relacionando-se com os mais diversos campos do direito, e elaborando laudos 
que permitam a análise de fatos ocorridos durante o crime, de armas utilizadas, da causa da 
morte. Esses laudos auxiliam na investigação de cada caso, e é imprescindível na resolução 
de casos judiciais, consubstanciando os inquéritos e ações penais. 
3.2. O EXAME DE CORPO DE DELITO 
O exame corpo de delito é o conjunto de elementos sensíveis do fato criminoso, ou 
seja, o conjunto de vestígios materiais deixados pelo crime. Nas infrações criminais que 
deixam vestígios, é necessário o exame de corpo de delito, isto é, a comprovação dos 
vestígios materiais por ela deixados torna-se indispensável, sob pena de não se receberem 
a queixa ou a denúncia. De todas as perícias o exame de corpo de delito é considerado o 
mais importante e pode ser realizado SOMENTE por um médico legista. 
Há seis tipos de exames de corpo de delito: 
 LESÃO CORPORAL: É feito quando envolve um episódio de violência e classifica 
em que ponto a integridade física foi afetada. A vítima relata o ocorrido e o legista 
procura sinais que comprovem ou não o que foi dito. Se num acidente, um osso foi 
quebrado, o legista verifica o quanto essa fratura impossibilita os movimentos da 
pessoa. Agressões físicas são o motivo mais comum para solicitar um exame de 
corpo de delito. 
 EXAME DE IMPUTABILIDADE PENAL: Feito para avaliar se o acusado é ou não, 
capaz de responder pelo crime que cometeu. Pela lei, uma criança não pode 
responder por um crime, porém se o crime foi cometido contra uma criança, o 
exame também é realizado para incriminar o agressor. Exames psiquiátricos 
também são válidos para se considerar a imputabilidade. 
 
 EMBRIAGUEZ: Além do bafômetro, que mede a quantidade de álcool no sangue 
(mas não determina se a pessoa está ou não embriagada), são feitas perguntas 
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passíveis de reações exaltadas pelo médico legista para a avaliação emocional. 
Após esta fase, passa-se para testes de equilíbrio. 
 
 VIOLÊNCIA SEXUAL: Exame composto por três pontos: sinais de violência (no 
corpo de quem sofreu a agressão), presença de material genético masculino e, se a 
vítima for uma mulher, diagnosticam a possibilidade de gravidez. Nestes exames, o 
legista é especialista em ginecologia. As vítimas de estupro devem procurar uma 
delegacia rapidamente, sem tomar banho ou trocar de roupa. 
 
 EXAME PSIQUIÁTRICO: É realizado para saber se quem cometeu o crime estava 
sob influência de drogas ou para avaliar uma pessoa fora de seu estado normal. O 
legista neste caso é um especialista em psiquiatria. Os trabalhos podem ser 
iniciados por um psicólogo. 
 
 EXAME CAUTELAR EM DETENTOS: Feito por precaução para a verificação de 
lesões recentes no preso. O legista examina se a integridade física do indivíduo foi 
mantida durante seu transporte a caminho da delegacia, tribunal ou em uma 
transferência de presídio, por exemplo. É realizado sempre que os presos entram e 
saem da cadeia, caso seja comprovada alguma agressão a vítima pode processar o 
Estado. 
 
3.3. O PAPEL DO TÉCNICO EM NECRÓPSIA NO IML 
 
São atos privativos do profissional médico as atividades que envolvam diagnósticos e 
indicação terapêutica, todavia, os atos que não impliquem nestas ações, podem ser atos 
profissionais compartilhados. Os técnicos em necrópsia poderão realizar os atos que não 
maculem estas normas sob a orientação ou supervisão do médico legal. 
As atribuições típicas consistem na identificação dos corpos; abertura, evisceração e 
fechamento dos corpos; identificação dos órgãos; projéteis e traumas; fixação de peças 
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anatômicas para posterior exame; a devida identificação, guarda, organização e 
arquivamento temporário do material em estudo e de reserva, tanto do material de necrópsia 
quanto das peças cirúrgicas; preparo das várias soluções fixadoras; manutenção dos 
aparelhos e instrumental; arrumação e limpeza da mesa de necropsia e instrumental; 
afiação do instrumental cortante; embalsamento de cadáveres. 
Estas atividades são executadas tanto pelo profissional da polícia cientifica(APC) 
quanto pelo técnico em necrópsia, sempre sob a supervisão e orientação do médico. A 
capacitação de cada um se dá por vias diferentes, sendo o APC através de concurso e 
curso de aprendizado e o técnico através de curso de aprendizado. 
As atribuições dos técnicos em necrópsias ainda não foram tratadas em todos os 
seus aspectos porem existe normatizações, leis e pareceres que nos auxiliam a determina 
estas atribuições entre os quais, citam-se os artigos do Código de ética ANANEC - 
Associação Nacional de Auxiliar de Necrópsia: 
Art. 2º. – O Técnico de Necropsia, ciente de que o desempenho de sua função requer 
formação aprimorada, procurará ampliar e atualizar seus conhecimentos técnicos, científicos 
e do desenvolvimento da própria profissão; 
Art. 3º. – O Técnico de Necropsia executará com rigor e presteza as orientações do Médico 
legista, com vistas ao pleno sucesso da necrópsia; 
Art. 4º. – O Técnico de Necrópsia, evitará abandonar o corpo em meio à necrópsia sem 
causa justa e sem garantia de solução de continuidade de sua atividade; 
Art. 6º. – O Técnico de Necrópsia procurará manter relações cordiais, espírito de 
colaboração e integração com todos os membros da equipe de necrópsia; 
Art. 7º. – O Técnico de Necropsia guardará segredo sobre fatos que tenha conhecimento no 
exercício de sua profissão; 
Art. 9º. – O Técnico de Necropsia colocará seus serviços profissionais à disposição da 
comunidade em casos de urgência, independentemente de qualquer proveito pessoal; 
 
Quem deve proceder à reconstituição de cadáver vítima de morte violenta? 
 Entende-se reconstituição como sendo a sutura para fechamento de cavidades pós-
autópsia. Este ato é habitualmente executado pelo auxiliar de necrópsia, por designação do 
médico legista. Sendo parte do ato necroscópico médico-legal (morte violenta), todas as 
pessoas sem competência específica para o mesmo não poderão realizá-lo. 
A retirada de órgãos é parte do ato necroscópico e não tem como objetivo a 
reconstituição do cadáver. Os órgãos removidos, após examinados macroscopicamente, 
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são encaminhados para exames complementares (toxicológicos, histopatológicos, etc.), ou 
então recolocados nas cavidades do cadáver. 
3.4. HUMANIZAÇÃO DO AMBIENTE DE TRABALHO 
 
É sabido que o ambiente do Instituto Médico Legal (IML) geralmente causa medo, 
nojo, incômodo na maioria das pessoas, e é interessante observar reações populares 
quando retratam como alguém pode se interessar em estudar este ambiente que é 
desagradável, execrado, e excluído da sociedade. 
Para estudiosos da área, melhorar a imagem do IML é um desafio. A sociedade 
precisa ser mais bem atendida e tomar conhecimento de que o IML não é sinônimo de 
“morte”, mas sim de justiça. É necessário lutar para que o cidadão não tenha medo de 
procurá-lo quando necessário e lhe instruir sobre a real função do IML, mostrando em que 
situações devem recorrer à instituição e a importância deste ato. 
Vítimas de violência precisam de um atendimento diferenciado, ágil e de qualidade, 
que possa ao menos aliviar a dor e dar suporte aos familiares que perderam seus entes 
queridos. Por este motivo, precisam-se humanizar os ambientes de atendimento, tornando-
os mais confortáveis e reservados. Afinal, são situações de extrema delicadeza que ali são 
tratadas. 
O trabalho realizado pelos profissionais que atuam junto ao Instituto Médico-Legal 
(IML) ainda é pouco compreendido pela sociedade. As atividades por eles desempenhadas 
têm uma grande dimensão, surtindo situações de trabalho saturadas de sofrimento mental. 
Conforme relatos de profissionais, as primeiras experiências nesse local de trabalho foram 
de sentimento de certo mal-estar, deixados pelo cheiro e pela visão de corpos a ser 
necropsiados. 
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O odor característico de corpos em decomposição aliado aos riscos potenciais de 
contaminação e prática de medicina forense, que envolve evidências de crime em muitos 
casos, limitam consideravelmente o trânsito de pessoas nesse local. Vale ressaltar que, o 
odor também é responsável muitas vezes pela manutenção das portas abertas durante o 
procedimento de necropsia o que contribui para a inadequação da temperatura ambiente e 
dificuldade da sala em relação à refrigeração ideal. Nesse ambiente é fundamental o 
emprego dos equipamentos de proteção individual (EPIs), que reduzem os riscos de 
contaminação. 
Os profissionais que trabalham nas áreas em que a morte ocorre frequentemente 
devem compartilhar sentimentos e reações com os outros. A vivência dos colaboradores 
que trabalham no IML por vezes desperta sentimentos de angústia, aflição e desconforto 
emocional. Há um elevado desgaste psicológico dos profissionais que atuam no instituto, 
tendo em vista o contato direto com cenas de crimes graves que exigem do profissional um 
grande preparo emocional. 
 Também é produzido sobre o trabalhador um alto grau de pressão institucional, 
onde os prazos processuais são curtos, e devido à escassez de recursos e profissionais, 
esses prazos, por vezes, não são cumpridos, surgindo então à pressão do judiciário. Por 
vezes, a rotina desses profissionais se dá de forma árdua, onde a carga horária de trabalho 
excede o que está estabelecido, fazendo com que os colaboradores desempenhem suas 
funções acompanhadas de esgotamento e cansaço. 
Partindo de tal pressuposto, é importante que os profissionais desenvolvam a auto 
eficácia, ou seja, crenças individuais na capacidade de organizar e executar os cursos de 
ação necessários para lidar com situações potencialmente estressantes mantendo o 
equilíbrio mental. Pessoas que possuem forte sensação de controle pessoal têm mais 
probabilidade de utilizar formas adaptativas e focalizadas nos problemas para lidar com 
eles. 
O crescente aumento do profissionalismo, conjuntamente com o aumento da 
apuração da opinião pública, requer que a atividade forense seja clara, correta e franca com 
os seus valores fundamentais. Sendo o desempenho e credibilidade dos profissionais 
forenses colocados cada vez mais em causa, os seus valores, espelhados num código de 
ética, poderão ser a melhor “proteção” por se apresentarem claramente afirmados e 
continuamente atualizados. 
 
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3.5. EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL (EPIs) 
 
O termo “Segurança Profissional Durante Procedimento de Necropsia” traduz para 
os peritos e auxiliares que a prática deste ato técnico deve estar revestida de toda garantia 
de segurança. Uma vez que durante a necropsia os profissionais se expõem às áreas com 
solução de continuidade na pele ou nas mucosas do cadáver, a fluídos, secreções orgânicas 
e dejetos humanos. 
Qualquer pessoa em vida pode ser portadora de microrganismos altamente 
patogênicos, o que, mesmo após a morte, põe em risco a saúde de quem entra em contato 
com eles, principalmente, os profissionais de necropsia. Agentes infecciosos como vírus, 
bactérias, fungos, parasitas e prions podem infectar esses profissionais, em especial quando 
as barreiras usuais do corpo são ultrapassadas ou não estão íntegras. 
Em geral, os organismos penetram no corpo através de feridas feitas 
acidentalmente por agulhas ou pontas afiadas, gotículas em membranas mucosas, inalação 
ou passagem de microrganismos por feridas preexistentes. Portanto, peritos médicos-
legistas e auxiliares técnicos que realizam necropsias, estão expostos a risco de 
contaminação caso medidas adequadas de proteção não sejam rigorosamente observadas. 
A fim de minimizar o risco de se infectar, barreiras adequadas devem ser 
acionadas. É bastante difícil determinar quais casos de necropsias envolvem agentes 
infecciosos e quais não. Portanto, é prudente considerar que todas as necropsias são 
potenciais fontesde agentes infecciosos. O plano central de todo programa de 
biossegurança em necrópsia é a utilização de precauções-padrão de controle de infecções. 
Assim, toda necropsia e seus objetos devem ser tratados como se portassem algum agente 
infeccioso. 
 Toda a área do procedimento e seus conteúdos são designados como áreas de 
ameaça biológica e, portanto, devem ter placas informativas. A sala de necropsia ideal deve 
ser bem ventilada, com sistema exaustor negativo. Todos os procedimentos devem visar 
diminuir o risco de derramamentos, respingos ou aerossóis. 
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 Equipamentos contaminados, instrumentos, bacias e demais objetos devem ser 
confinados a áreas designadas até sua desinfecção (mesa de necropsia, mesa de 
instrumentos, mesa de dissecção, pia e etc.). Os Equipamentos de Proteção Individual - EPI 
são dispositivos usados individualmente para proteger a integridade física do trabalhador e 
incluem: luvas, jaleco, protetores oculares ou faciais, protetores respiratórios, aventais, bota 
e proteção para os membros inferiores. São equipamentos de uso obrigatório no ambiente 
da sala de necropsia e nas salas de radiologia pericial. 
A utilização de equipamentos como barreira contra as infecções externas passa por 
constantes modificações, sobretudo, na busca de novos materiais que sejam impermeáveis 
a microrganismos sob pressão, flexíveis, distensíveis e confortáveis, além de permitir a boa 
prática nos procedimentos. 
As principais funções dos EPI são: 
I - redução da exposição humana aos agentes infecciosos; 
II- redução de riscos e danos ao corpo provocados por agentes; 
III - redução da exposição a produtos químicos tóxicos; 
IV- redução da contaminação de ambientes 
 
3.6. LAVAGEM DAS MÃOS 
A ação de lavar as mãos utilizando água, sabão ou detergente é considerado o mais 
importante modo de atuar na prevenção e controle de infecções. O objetivo da lavagem das 
mãos é impedir que microrganismos mantenham-se nas mãos do profissional de necropsia, 
e que este carreie os mesmos para outras áreas ou demais pessoas. Portanto, a correta 
lavagem das mãos é, sem dúvida, a rotina mais simples, mais eficaz, e de maior importância 
na prevenção e controle da disseminação de infecções, devendo ser praticada por toda 
equipe, sempre ao iniciar e ao término de uma tarefa. 
 
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3.7. DOCUMENTOS MÉDICO-LEGAIS 
Os exames médico-legais deverão ser realizados somente mediante requisição 
escrita por parte de autoridade competente em que conste o tipo de exame a ser realizado, 
o órgão solicitante e o registro da ocorrência. Se for solicitado por juiz constará o número do 
processo e não da ocorrência. Em caráter excepcional poderá ser solicitado verbalmente e 
depois formalizado. 
Nestas solicitações necessariamente o pedido do exame deverá estar consignado 
conforme consta na relação de exames realizados pelo IML, cabe ao solicitante especificar o 
exame desejado para esclarecimento do caso não podendo o perito subtrair, alterar ou 
acrescentar pedidos do exame. As solicitações de exames podem ser emitidas pelas 
seguintes autoridades: delegado de polícia, promotor de justiça, juiz de direito ou autoridade 
militar presidindo inquérito. 
O resultado da perícia feita no IML será exposto na forma de um documento médico-
legal. Entende-se por documento qualquer base do conhecimento fixada materialmente e 
disposta de maneira que se possa utilizar para consulta, de estudo, prova; e pode se 
apresentar na forma de notificações, atestado, relatório, consulta, parecer ou 
depoimento oral. 
 NOTIFICAÇÕES 
São comunicações compulsórias feitas pelos médicos às autoridades competentes 
de um fato profissional, por necessidade social ou sanitária, como acidente do trabalho, 
doenças infectocontagiosas, uso habitual de substâncias entorpecentes ou crime de ação 
pública que tiverem conhecimento e não exponham o cliente a procedimento criminal. 
 ATESTADOS 
É a afirmação simples e por escrito de um fato médico e suas consequências. Pode 
ser de vacina, de sanidade física ou mental, de óbito ou de insanidade física ou mental. A 
legislação diz: “Dar o médico no exercício de sua profissão, atestado falso”. Pena: detenção 
de 1 mês a 1 ano. 
 RELATÓRIO 
É a descrição minuciosa de um fato médico e de suas consequências, requisitadas 
por autoridade competente. O relatório recebe o nome de AUTO quando é ditado pelo perito 
ao escrivão, durante ou logo após, e denominado de LAUDO quando é redigido pelo(s) 
próprio(s) perito(s), posteriormente ao exame. 
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Partes de um relatório oficial: 
 
 Preâmbulo: É a parte onde os peritos declaram suas identificações, títulos, 
residências, qualificam a autoridade que requereu e a autoridade que autorizou a 
perícia, e o examinado; hora e data em que a perícia é realizada e a sua finalidade. 
 
 Quesitos: São as perguntas formuladas pela autoridade judiciária ou policial, pela 
promotoria ou pelos advogados das partes. 
 
 Histórico: Consiste no registro dos fatos mais significativos que motivam o pedido da 
perícia ou que possam esclarecer e orientar a ação do legisperito. 
 
 Descrição: É a descrição minuciosa, clara, metódica e singular de todos os fatos 
apurados diretamente pelo perito. Constitui a parte essencial do relatório. 
 
 Discussão: É a análise cuidadosa dos fatos fornecidos pelo exame e registrado na 
descrição, compará-los com os informes disponíveis relatados no histórico, 
encaminhando naturalmente o raciocínio do leitor para o entendimento da conclusão. 
 
 Conclusão: É o sumário de todos os elementos objetivos observados e discutidos 
pelo perito, constituindo a dedução sintética natural da discussão elaborada. 
 
 Resposta aos Quesitos: As respostas aos quesitos formulados devem ser precisas 
e concisas. 
 
 CONSULTA MÉDICO-LEGAL: 
É a solicitação na qual o(s) interessado(s) ouvem a opinião de um ou mais 
especialistas a respeito do valor científico de determinado relatório médico-legal, quando o 
mesmo deixa dúvidas a respeito de seu conteúdo. 
 PARECER MÉDICO-LEGAL: 
É a resposta escrita de autoridade médica, de comissão de profissionais ou de 
sociedade científica, a consulta formulada com o intuito de esclarecer questões de interesse 
jurídico (Preâmbulo, Exposição, Discussão, Conclusão). 
 DEPOIMENTO ORAL: 
São os esclarecimentos dados pelo perito, acerca do relatório apresentado, perante 
o júri ou em audiência de instrução e julgamento. Consideramos ainda o prontuário médico, 
o boletim, e até mesmo a receita médica como documentos de importância médica e 
jurídica. 
 NECRÓPSIA – INSTITUTO MÉDICO LEGAL – MÓDULO IV 
 
 
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4. A MORTE NAS DIFERENTES SOCIEDADES 
A morte é sem dúvida um acontecimento importante em qualquer sociedade. Sua 
importância se deve, entre outras razões, ao fato de ela torna necessária a transmissão de 
costumes dentro de um grupo, já que o contato entre diferentes gerações é sempre limitado. 
Nos dias de hoje, por exemplo, a expectativa de vida média faz com que uma pessoa 
dificilmente tenha contato direto com alguém de uma geração que vá além de seus bisavós, 
da mesma maneira dificilmente poderá conhecer os filhos de seus bisnetos. 
 Para que os costumes de uma cultura sejam duráveis, ou seja, para serem 
conhecidos por tataravô ou tataraneto é preciso que sejam transmitidos sucessivamente de 
geração em geração. Por isso, a cultura está diretamente relacionada à morte. A existência 
da cultura, isto é, de um patrimônio coletivo de saberes, só tem sentido porque a gerações 
morrem e é constantemente preciso transmiti-las as novas gerações. 
A morte não se refere apenas ao envelhecimento contínuo, às doenças constantes, á 
perda de forças, ela refere-se também a outro mundo,aterrador “aquele da confusão, do 
caos, onde não existe mais nada nem ninguém.” Nas principais civilizações da antiguidade, 
eram muitas as diferenças que existiam sobre o significado ético – religioso da morte, mas 
em todas as civilizações existe uma semelhança: a morte é um lugar inacessível para os 
vivos. 
É necessário aprender a trabalhar a questão da morte desde cedo, pois morrer é um 
dos fatos mais concretos que existe no desenvolvimento humano. Muitas vezes somos 
apresentados a ela durante o período da infância com a perda do primeiro animal de 
estimação ou a perda de um familiar querido o que nos faz perceber mais uma vez o quanto 
a morte se apresenta de forma contraditória e conflituosa em nossas vidas. Observa-se que 
as sociedades contemporâneas utilizam o mecanismo da negação em relação a morte para 
se afastar da mesma, como se ela ocorresse apenas para com o outro nunca em relação a 
si próprio, demonstrando assim o temor que a sociedade atualmente sente em relação a 
própria morte. 
Todos nós possuímos uma herança cultural que define a nossa visão da morte e 
nossas interpretações atuais, estas constituem parte da herança que as gerações 
anteriores, as antigas culturas, nos deixaram. A visão da morte ao longo do tempo, e a 
construção da sua própria identidade coletiva constitui um dos elementos mais relevantes 
para a formação de uma tradição cultural comum. Mas, como a concepção de morte se 
moldou ao longo do tempo em diferentes sociedades? 
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PRÉ-HISTÓRIA 
 
Na pré-história as primeiras tribos humanas não enterravam seus mortos, eles eram 
deixados ao ar livre para seus corpos se decomporem. Com o tempo, o homem pré-histórico 
percebeu que os corpos deixados em grutas ou cavernas tinha um tipo de decomposição 
diferente porque decomposta a carne, os ossos se cobriam de carbonato de cálcio e o 
esqueleto era preservado por muito mais tempo. Praticamente esta era a forma encontrada 
para cristalizar a presença daquele que morreu. Os túmulos, assim, passaram também a ser 
local de adoração ao ancestral morto. 
SOCIEDADE DA ANTIGA MESOPOTÂMIA 
Os povos mesopotâmios tinham por costume enterrar os corpos dos mortos da 
maneira mais escrupulosa, sendo o cadáver cuidadosamente acompanhado de todas as 
marcas da sua identidade pessoal e familiar, como seus pertences, objetos de uso, roupa e 
até mesmo as suas comidas prediletas. O ato de enterrar os corpos é quase tão antigo 
quanto o próprio ser humano. Pesquisadores descobriram cemitérios estimados em 60000 
a.C., com chifres de animais sobre os restos mortais, indicando que já existia o ritual de 
presentear o falecido. 
 
A necessidade de “esconder” os corpos embaixo da terra, ou mesmo de pedras, 
tinha um sentido diferente do atual: corpos em putrefação atraíam animais. Sendo assim, 
essa era uma maneira de se proteger dos predadores. 
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SOCIEDADE HINDU 
Na sociedade hindu, era praticada a incineração crematória. O cadáver não era 
conservado com as marcas da sua identidade, personalidade e inserção social, mas 
completamente consumido pelo fogo, destruído até às cinzas, que eram lançadas ao vento, 
ou nas águas dos rios, sendo o morto privado de todos os seus traços. A destruição do 
cadáver marcava a destruição integral da sua existência, ficando livre de todos os seus 
pecados. Nesta sociedade a morte era interpretada como a via de acesso ao absoluto, ao 
eterno e à paz originária 
. 
A lenda desta sociedade, diz que quando a “mãe terra” se encontrava 
sobrecarregada de pessoas vivas, apelava ao deus Brahma, que enviava a “mulher de 
vermelho” (que representa a morte, na mitologia ocidental) para levar pessoas, aliviando 
assim, os recursos naturais e a sobrecarga populacional da “mãe-terra”. 
ANTIGO EGITO 
 
Segundo o sistema de crenças egípcio, a morte consistia em um processo onde a 
alma se desprendia do corpo. Com isso, acreditavam que a morte seria um estágio de 
mudança para outra existência. Sendo o corpo compreendido como a morada da alma, 
havia uma grande preocupação em conservar o corpo dos que faleciam. Dessa forma, 
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desenvolveram-se variadas técnicas de mumificação capazes de preservar um cadáver 
durante anos a fio. 
A mumificação era realizada por um profissional específico. Após retirar as vísceras, 
os restos mortais da pessoa eram repousados em uma mistura contendo carbonato de sódio 
e água. Finalizada a imersão, diversas substâncias e ervas eram introduzidas no corpo para 
evitar a deterioração dos tecidos. Na etapa final do procedimento, o morto era enfaixado e 
coberto por uma cola que impedia a contaminação pelo ar. 
Terminada a mumificação, o falecido era colocado em um sarcófago posteriormente 
depositado em um túmulo. Através da análise dos túmulos, estudiosos puderam descobrir 
qual era a posição ocupada pelos mortos. Os sacerdotes e faraós eram sepultados nas 
mastabas, construções em formato de trapézio divididas em dois compartimentos, um 
destinado ao sarcófago e outro que armazenava as oferendas do ritual funerário. 
Logo após o falecimento, segundo a crença egípcia, o indivíduo perdia acesso a 
todos os prazeres e regalias que desfrutava em sua existência terrestre. Para recuperar 
seus benefícios em sua nova existência, a pessoa – seja qual fosse a sua posição social em 
vida – era conduzida pelo deus Anúbis para se apresentar ao Tribunal de Osíris, local em 
que sofria uma avaliação de seus erros por outros quarenta e dois seres divinos. 
Antes do início do julgamento, era entregue ao falecido o “Livro dos Mortos”, onde 
obtinha as devidas orientações de seu comportamento durante a sessão a ser realizada. 
Para que recebesse a aprovação das divindades, era necessário que o julgado não tivesse 
cometido uma série de infrações, como roubar, matar, cometer adultério, mentir, causar 
confusões, manter relações homossexuais e escutar as conversas alheias. No ápice do 
julgamento, Osíris pesava o coração do falecido em uma balança. 
Para que a pessoa recebesse aprovação, seu coração deveria ser mais leve que 
uma pena. Caso contrário, o indivíduo não poderia entrar no Duat, uma espécie de 
submundo dos mortos, e sua cabeça era devorada por um deus com cabeça de crocodilo. 
Dessa maneira, a civilização egípcia dedicou uma grande importância a seus mortos e 
demonstrou por meio destes rituais um instigante traço de sua cultura. 
5. A MORTE E SEU SIGNIFICADO 
A palavra morte desperta o medo no coração das pessoas, sendo um tema 
atualmente tão incompreensível quanto inevitável. Mal conseguem falar a respeito, 
 NECRÓPSIA – INSTITUTO MÉDICO LEGAL – MÓDULO IV 
 
 
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perscrutar além da palavra em si e se permitir contemplar suas verdadeiras implicações. 
Esta é uma reação compreensível, pelo fato de que tantas pessoas pensam sobre a vida 
como nada mais que um estado no qual o corpo humano está biologicamente ativo. Mas é 
hora de nos perguntarmos: o que a morte realmente significa? Como a morte moldou seu 
significado ao longo do tempo? 
O tema morte vem sendo discutido ao longo dos anos. Ultimamente tem-se 
observado um aumento crescente de estudos relativos a esta temática. Apesar de compor o 
ciclo biológico dos seres vivos (nascer, crescer e morrer), o homem moderno tem procurado 
manter-se afastado de sua evidência, em razão das mudanças de costumes que se 
processaram com o correr dos tempos. A morte é um desafio para os homens. A falta de 
explicações sobre o que acontece após a morte sempre despertou interesse e, ao mesmo 
tempo, grande temor entre os homens em razão de nossa dificuldade em lidar com este 
tema. 
De uma maneira geral, as sociedades desenvolveram costumes ou rituais de como 
conviverem com a morte. Durante muitos séculos foi consideradacomo um acontecimento 
natural esperado, sendo possível ao homem morrer em seu leito, cercado de familiares e 
amigos, mantendo um controle sobre suas últimas vontades. Temia-se a morte inesperada 
porque privava o homem de preparar-se para este momento. Desde a antiguidade, os 
egípcios possuíam um sistema mortuário explícito e detalhado em seu Livro dos Mortos, no 
qual eram traçadas ações individuais a serem desempenhadas diante da morte. Assim, 
acreditavam no controle mágico sobre as poderosas forças da morte e a pós vida 
estimulando-se com esta crença. 
Neste período, a morte era visualizada como algo agressivo que gerava a sensação 
de perda. Os homens apoiavam-se em crenças e mitos com o intuito de supera-Ia ou aceita-
Ia com mais resignação. Dos séculos V e VI até o século XII, a morte fazia parte do 
cotidiano dos homens. Não havia individualização da morte e quando alguém morria era 
enterrado em valas ou fossas comuns. Todos os corpos ficavam amontoados sem a 
preocupação de individualização, ou seja, de dar um túmulo especial para cada um. Apenas 
os sacerdotes e reis, grandes personalidades, possuíam um locai reservado em igrejas ou 
catedrais. 
A morte, nesta época, era encarada com naturalidade, não sendo interpretada de 
maneira dramática. Do século XII ao século XVIII, o aparecimento do capitalismo europeu 
na Europa Ocidental trouxe com ele a questão do individualismo. Começam a ocorrer 
transformações e a morte passa, então, a ser personalizada, surgindo inscrições em 
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túmulos ou placas no chão. Entretanto, ainda não havia a noção de sepultura individual. 
Nesse período, a morte era desejada, solicitada em preces, pedindo que se morresse de 
doença, cercado de familiares e amigos. Temia-se a morte inesperada, acidental ou por 
epidemias, sendo esta considerada um castigo divino. 
Na morte esperada, o próprio indivíduo preparava sua morte, procurava confessar-
se, eliminando suas culpas, dizia seus últimos desejos e partilhava seus bens entre seus 
familiares. A salvação da alma era a grande preocupação, sendo dada ao corpo pouca 
importância, o fundamental era a vida após a morte, conforme preconizam as ideias da 
igreja. No início do Cristianismo, a morte era considerada um fenômeno de perda, mas 
acreditava-se na vida após a morte. Nesse momento, apesar desta crença, já se inicia o 
sentido do individualismo, começando a se desejar o adiamento da morte. 
No século XVIII, decorrentes da Revolução Industrial, surgem mudanças essenciais 
a nível econômico, social e político na Europa Ocidental. Realiza-se a urbanização, 
aparecendo cidades e operários, sendo exaltado o indivíduo. A morte passa então, a ser 
dramatizada, começando os períodos de luto, os enterros e as cenas das choradeiras. 
Nesse momento, com a ampliação das populações, surgem os cemitérios públicos, em 
decorrência do sanitarismo e pelas mudanças na forma de pensar. O cemitério assume a 
característica de um local sagrado e de reverência onde residem os mortos. 
Das décadas de 30-40 deste século aos nossos dias, as sociedades mais avançadas 
transformaram-se e, graças à industrialização e à tecnologia, os homens passaram a 
controlar os fenômenos da vida e morte, através de mecanismos que visam prolongar a vida 
ou impedir a ocorrência da morte. Através da utilização de modemos recursos, aumenta a 
expectativa de vida e, em consequência, diminui o convívio do homem com a morte, que 
passa a ser, então, indesejável, devendo ser ocultada, escondida. 
O enfrentamento da morte, com o passar dos anos, modificou-se, deixando de ser 
um cerimonial cultuado entre familiares e amigos, para ser vivenciado ao lado de estranhos. 
Nos dias atuais, doenças e mortes são uma realidade das instituições de saúde. Estas, 
inseridas no sistema para o qual foram preparadas, ficam alicerçadas a uma estrutura 
muitas vezes desumana, separando o homem do contexto em que ele vive, levando-o a 
encontrar dificuldades no adoecer e morrer. 
6. A ELABORAÇÃO DO LUTO 
O luto (do latim luctu) é um conjunto de reações a uma perda significativa, 
geralmente pela morte de outro ser. Segundo estudiosos, quanto maior o apego ao objeto 
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perdido (que pode ser uma pessoa, animal, fase da vida, status social etc.), maior o 
sofrimento do luto. O luto pode apresentar diferentes formas de expressão em culturas 
distintas. 
A elaboração do luto – em casos de mortes – não pode ser considerada completa 
sem os rituais fúnebres. Essas celebrações, além de possibilitarem contatos afetivos e de 
conforto entre parentes, apresentam simbologias que pretendem concretizar o ocorrido. Em 
todas as sociedades existem ritos e mitos sobre a morte, pois ela implica a tomada de 
providências práticas e a reordenação das relações sociais. Existem também questões 
lógicas que os rituais têm que resolver. 
A morte é um grande desorganizador cultural; e a cultura encontra respostas para ela 
por meio dos rituais, que juntam as pessoas, dão uma condição segura para a expressão 
dos afetos e ajudam no processo de construção do significado. A morte física não é 
suficiente para que qualquer sociedade considere um de seus membros completamente 
extinto imediatamente após sua morte, isso porque a morte representa o desaparecimento 
de um ser social, a destruição de alguém que se relacionava com os outros e que era 
importante para consciência coletiva. Há, portanto uma discrepância entre o evento físico da 
morte e seu reconhecimento social. 
O tempo que transcorre até que a sociedade considera o morto como tal é o período 
durante o qual ocorre o luto, sua duração é determinada pelos costumes de cada cultura e 
pode variar conforme o status do morto. O luto por um chefe de estado, por exemplo, 
geralmente dura mais tempo do que o decorrente da morte de uma pessoa comum pelo 
primeiro ser considerado o mais importante para as pessoas em geral. 
A relação que havia com morto também influi na duração do luto. Os familiares mais 
próximos geralmente permanecem enlutados por um período maior do que as demais 
pessoas. Durante esse tempo, enquanto a morte “não está completa”, a presença da pessoa 
que morreu permanece sendo sentida ainda por algum tempo, mesmo que era 
completamente não esteja mais entre os vivos. 
Há sociedades que chegam a tratar o falecido como se ele estivesse vivo, como nas 
culturas primitivas da Oceania onde os vivos levam comida para o morto e seus parentes e 
amigos fazem companhia e conversam com ele. Há ainda povos do ártico em que as 
mulheres, parentes do morto, fazem um boneco com sua imagem que passam a vestir, 
banhar e alimentar todos os dias, durante dois anos e meio se o falecido for homem e por 
dois anos se for mulher. 
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 Assim como a duração do luto é estabelecida pelos costumes, os sentimentos 
experimentados ao longo desse período também são fruto do meio social. Qualquer que 
sejam os sentimentos individuais, os vivos devem mostrar a sua tristeza durante 
determinado período, mudar as cores de suas roupas e modificar os padrões e sua vida 
usual. Desta forma a morte tem um significado específico para consciência social, ela é 
objeto de uma representação coletiva que não é nem simples e nem imutável. 
Para alguns estudiosos as pessoas se lamentam não simplesmente por que estejam 
tristes, mas porque são “obrigadas” a se lamentar. É uma atitude ritual que se deve adotar 
para o respeito ao costume, mas que em larga medida independe do estado afetivo dos 
indivíduos. Os choros e outros tipos de expressões de sentimentos são fenômenos 
essencialmente sociais não espontâneos de caráter obrigatório, para diversos autores uma 
prova disso é que há mortes que despertam mais e outras que despertam menos emoções, 
na sociedade brasileira,por exemplo, a morte de um idoso é de certa forma esperada e por 
isso ela geralmente não gera a mesma comoção que é de um jovem que falece 
abruptamente. 
O fato de os sentimentos demonstrados serem determinados socialmente não 
significa, no entanto, que os enlutados estejam apenas simulando não sentindo 
efetivamente o que expressam. Tudo é ao mesmo tempo social, obrigatório e, todavia, 
violento e natural. A dor demonstrada de maneira obrigatória revela a existência de uma 
emoção original, assim, a tristeza e a dor exagerada não significa que este sentimento não 
sejam verdadeiramente sentidos durante o cerimonial. 
O luto pode ser visto de dois modos: 1 - Como um processo social e 2 - como um 
processo individual. O processo social corresponde ao que foi abordado nesta seção e diz 
respeito à maneira como os membros de uma determinada cultura devem reagir quanto à 
morte de uma pessoa e aos sentimentos despertados pelo falecimento. O processo 
individual, por sua vez, corresponde ao que se passa internamente do psiquismo de cada 
indivíduo, ambos os processos se inter-relacionam já que os indivíduos estão inseridos em 
contextos sociais específicos 
De acordo com a psiquiatra Elisabeth Kubler-Ross, é possível identificar a reação 
psíquica de cada paciente e elaborou cinco fases do luto. As fases do luto, não possuem 
um tempo predefinido para acontecerem. Depende da perda e da pessoa. Porém sabe-se 
que a que leva mais tempo é da fase da depressão para a fase de aceitação, algumas 
pessoas levam décadas de vida e outras nunca conseguiram aceitar com serenidade a 
perda. Acontece principalmente no caso de perda de um filho. 
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 FASE 1: NEGAÇÃO 
Seria uma defesa psíquica que faz com que o indivíduo acaba negando o problema, 
tenta encontrar algum jeito de não entrar em contato com a realidade seja da morte de um 
ente querido ou da perda de emprego. É comum a pessoa também não querer falar sobre o 
assunto. 
 
 FASE 2: RAIVA 
A raiva surge depois da negação. Mas mesmo assim, apesar da perda já consumada 
nega-se a acreditar. Pensamento de “porque a mim?” surgem nesta fase, como também 
sentimentos de inveja e raiva. Nesta fase, qualquer palavra de conforto, parece falsa, 
custando acreditar na sua veracidade. 
 
 FASE 3: NEGOCIAÇÃO 
Essa é fase que o indivíduo começa a negociar, começando com si mesmo, acaba 
querendo dizer que será uma pessoa melhor se sair daquela situação, faz promessas, 
procura conforto espiritual. É como o discurso “Vou ser uma pessoa melhor, serei mais 
gentil e simpático com as pessoas, irei ter uma vida saudável”. 
 FASE 4: DEPRESSÃO 
A depressão surge quando o individuo toma consciência que a perda é inevitável e 
incontornável. Não há como escapar à perda, este sente o “espaço” vazio da pessoa (ou 
coisa) que perdeu. Toma consciência que nunca mais irá ver aquela pessoa (ou coisa), e 
com o desaparecimento dele, vão com ela todos os sonhos, projetos e todas as lembranças 
associadas a essa pessoa ganham um novo valor. 
 FASE 5: ACEITAÇÃO 
Última fase do luto. Esta fase é quando a pessoa aceita a perda com paz e 
serenidade, sem desespero nem negação. Nesta fase o espaço vazio deixado pela perda é 
preenchido. Esta fase depende muito da capacidade da pessoa mudar a perspectiva e 
preencher o vazio. 
É importante esclarecer que não existe uma sequencia dos estágios de luto, mas é 
comum que as pessoas que passam por esse processo apresentem pelo menos dois 
desses estágios. E não necessariamente todas as pessoas conseguem passar por esse 
processo completo, algumas tendem a ficar estagnadas em uma das fases. A resolução do 
estágio exige a vivência de sentimentos e pensamentos que o indivíduo evitava, algumas 
vezes pode exigir auxílio profissional o qual permita que o paciente vivencie o luto. 
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7. DIVISÃO DIDÁTICA DA MEDICINA LEGAL 
Para maior facilidade de estudo divide-se a Medicina Legal em várias partes, a saber: 
Antropologia Forense: Estuda a identidade e a identificação do homem. A 
identificação médico legal é determinada através de métodos, processos e técnicas de 
estudo dos seguintes caracteres: idade, sexo, raça, altura, peso, sinais individuais, sinais 
profissionais, dentes, tatuagens, etc. e a identificação judiciária é feita através da 
antropometria, datiloscopia etc. 
Traumatologia Forense: Estuda as lesões corporais, (queimaduras, sevícias, 
infanticídio e asfixias) sob o ponto de vista jurídico e das energias causadoras do dano. Este 
reconhecimento é feito através do exame pericial na vítima, bem como no local do crime, 
denominado exame de corpo de delito. 
Sexologia Forense: Vê a sexualidade sob o ponto de vista normal, anormal e 
criminoso (estudo do matrimônio, gravidez, aborto, estupro, himeneologia, atentado aos 
costumes, contaminação venérea, etc.). 
Tanatologia Forense: Estudo científico da morte. Investiga os mecanismos e 
aspectos forenses da morte, tais como mudanças corporais que acompanham o período 
após a morte, bem como os aspectos sociais e legais mais amplos. É, principalmente, um 
estudo interdisciplinar. Envolve autópsias, embalsamamento, direitos sobre o cadáver, etc. 
Toxicologia Forense: É o estudo dos venenos, envenenamentos, intoxicações 
médicas legais, abuso de drogas, overdoses e etc. A toxicologia forense é uma ciência 
multidisciplinar que busca mostrar a verdade de um fato perante a lei, mas também 
identificar e quantificar os efeitos prejudiciais associados a produtos tóxicos, ou seja, 
qualquer substância que pode provocar danos ou produzir alterações no organismo. 
Psiquiatria Forense: É o estudo das doenças mentais, psicoses, psiconeuroses, 
personalidades psicopatias, simulação, dissimulação etc. Psiquiatras forenses avaliam a 
capacidade de criminosos serem responsabilizados criminalmente (quando não, são 
chamados "inimputáveis"), baseando-se no estado mental do indivíduo avaliado e 
determinando recomendações. 
Os principais tópicos relacionados às áreas de estudo da Medicina Legal serão 
explorados a seguir. 
 
 
 NECRÓPSIA – INSTITUTO MÉDICO LEGAL – MÓDULO IV 
 
 
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7.1. ANTROPOLOGIA FORENSE 
 
 
 
A questão da identificação vem preocupando os seres humanos há muito tempo. Nas 
sociedades primitivas, antes da descoberta da impressão digital o reconhecimento era feito 
de pessoa para pessoa. Com o evoluir das sociedades tornaram-se maior as exigências no 
que diz respeito a identidade individual no ser vivo e principalmente nos cadáveres 
decompostos, carbonizados, esqueletos etc. A identidade é o fim de todas as classificações, 
pertence a todos os seres e interessa particularmente ao homem. 
No estudo antropológico é importante conhecer alguns conceitos e suas respectivas 
definições: 
 
 
CONCEITO 
 
DEFINIÇÃO 
 
ANTROPOLOGIA 
 
Ciência que estuda o homem. 
 
 
ANTROPOLOGIA 
FORENSE 
 
É a aplicação prática de 
conhecimentos, dos métodos nos 
casos em que a lei deles necessita 
para a sua execução. 
 
 
IDENTIDADE 
 
Conjunto de caracteres próprios e 
exclusivos de uma pessoa. Qualidade 
de ser a mesma coisa e não diversa. 
 
RECONHECER 
 
Conhecer de novo, afirmar, admitir 
como certo, certificar-se de. 
IDENTIFICAR 
 
Determinar a identidade. 
 
IDENTIFICAÇÃO 
 
Processo pelo qual se determina a 
identidade ou não 
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IDENTIFICAR OU RECONHECER? 
Identificar – Procedimento técnico-científico pelo qual se determina, de maneira 
indubitável, a personalidade de um indivíduo. No âmbito da polícia técnica, identificar é o 
processo ou conjunto de processos realizados por especialistas, destinados a estabelecer a 
identidade de uma pessoa. 
 
Reconhecer – Processo empírico, realizado por testemunhas, sem o emprego de 
técnicas específicas. Reconhecimentoé uma identificação empírica e identificação é o 
reconhecimento cientifico. 
NECESSIDADE SOCIAL DA IDENTIFICAÇÃO 
No meio social há necessidade da identificação individual das pessoas, tanto para 
assegurar direitos como para exigir cumprimento dos deveres. Evita erros sobre a 
pessoa. 
REQUISITOS TÉCNICOS DA IDENTIFICAÇÃO: 
 Unicidade (ser único) 
 Imutabilidade (não mudar) 
 Praticabilidade (qualidade de ser prático, fácil) 
 Classificabilidade (ser possível classificar) 
 Perenidade (desde a vida embrionária à putrefação) 
Qual o método mais eficaz e que preenche todos os requisitos técnicos da identificação? 
___________________________________________________________________________ 
 
IDENTIFICAÇÃO MÉDICO-LEGAL 
 
a) ESPÉCIE ANIMAL: Ossos, dentes, pelos, sangue etc. 
b) RAÇA: Forma do crânio, índice cefálico, ângulo facial, dimensões da face, cor da 
pele, cabelos etc. 
c) IDADE: Elementos morfológicos = aparência, pele, estatura, pêlos, peso, olhos, 
dentes, órgãos genitais e raio x = dentes e ossos. 
d) SEXO: Vivo: Inspeção das genitálias. Morto e Esqueleto (ossos em geral, ossos do 
crânio, ossos do tórax e ossos da bacia, órgãos internos etc.). 
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e) ESTATURA: Vivos, mortos, esqueleto. 
f) PESO: Gordo, magro etc. 
g) MALFORMAÇÕES: Lábio leporino, pé torto, desvios da coluna, doenças cutâneas. 
h) CICATRIZES: Naturais, cirúrgicas, traumáticas etc. 
i) TATUAGENS: Bélicas, religiosas, amorosas, eróticas, sociais, profissionais, nomes. 
j) SINAIS PROFISSIONAIS: Espessura e coloração da pele, alterações musculares. 
k) SINAIS INDIVIDUAIS: Prótese, nariz, orelhas, mamas etc. 
l) BIÓTIPO: Síntese das qualidades vitais do indivíduo (morfológica, funcional, 
intelectual). 
 
7.2. TRAUMATOLOGIA FORENSE 
 
 
TRAUMATISMO (trauma): Qualquer lesão, aberta ou fechada, produzida no organismo pela 
ação mecânica de um agente exógeno. 
LESÃO: 
a) Medicina Curativa: É a alteração anatômica ou funcional do órgão. 
b) Medicina Pericial: Qualquer modificação de normalidade de origem externa, capaz 
de provocar dano pessoal em decorrência de culpa, dolo ou acidente. 
c) Doutrina Penal: Consequência de um ato violento, capaz de produzir direta ou 
indiretamente, qualquer dano a integridade ou a saúde de alguém ou responsável 
pelo agravamento ou continuidade de uma perturbação já existente. 
d) Lesão Corporal: São as que atingem a integridade física e psíquica de alguém. 
e) Lesões Pessoais: São as que atingem ao corpo, a saúde e à mente. 
f) Classificação das Lesões: 
• Quanto a Quantidade: Leves, graves, gravíssimas e seguidas de morte. 
• Quanto a Qualidade: Ofensa à integridade corporal, incapacidade para as ocupações. 
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VIOLÊNCIA: É toda ação material ou pressão moral exercida contra uma pessoa, visando 
submetê-la a vontade de outrem (física, moral, presumida). 
CAUSA: É o que leva a resultados imediatos e responsáveis por determinada lesão, 
suscitando uma relação entre causa e efeito. 
CONCAUSA: São as causas ou fatores que se associam para o agravamento ou melhora 
de uma lesão; geralmente são alegadas quando se produz agravamento. 
AGENTES TRAUMATIZANTES 
Os agentes traumatizantes (aqueles que provocam o trauma) podem ser 
classificados nas seguintes ordens de acordo com sua energia: 
ENERGIA DE ORDEM FÍSICA 
 TEMPERATURA 
a) Calor direto – Queimaduras: 
1º Grau – eritema; 
2º Grau – flictema; 
3º Grau – escara; 
4º Grau – carbonização; 
 
b) Calor difuso – Insolação; 
 
c) Frio -Direto – Geladuras: 
1º Grau - palidez; 
2º Grau - bolhas hemorrágicas; 
3º Grau - necrose; 
4º Grau – gangrena 
 
 ELETRICIDADE 
a) Natural ou Cósmica: 
Fulminação ou Fulguração (Litchtenberg) 
b) Artificial: 
Eletroplessão (Jellineck) 
 LUZ 
Velocidade 300.000 Km/s. 
Lesões visuais = cegueira. 
 
 
 
 Queimaduras de 1º, 2º e 3º grau 
 
 
 
Fulminação e eletroplessão 
 
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 SOM 
Ruído permitido 85 dB. As lesões provocadas por explosões, tiros, grandes ruídos 
são: surdez, ruptura da membrana do tímpano etc. 
ENERGIA DE ORDEM MECÂNICA 
 INSTRUMENTOS PERFURANTES 
 
É todo instrumento capaz de produzir uma lesão punctória (perfurações ou furos). 
Esses instrumentos propriamente ditos possuem forma cilíndrico-cônica, são alongados, 
finos e pontiagudos, tais como: agulha, espinho, arame, prego, alfinete, picador de gelo etc. 
Atuam por pressão através da ponta e afastamento das fibras do tecido e são 
caracterizados por um ponto. 
 A natureza jurídica geralmente leva a homicídios, principalmente entre detentos. 
Recém-nascidos também podem ser vítimas desse tipo de lesão (infanticídio). Não é de se 
desprezar a possibilidade de acidente comum ou do trabalho. Como meio de suicídio não é 
muito frequente. 
 
Os instrumentos perfurantes têm ponta, mas não tem gume. 
 
 INSTRUMENTOS CORTANTES 
 
 
É todo instrumento que atuando linearmente sobre a pele ou sobre os órgãos, produz 
feridas incisas. Agem por pressão e deslizamento sobre o seu fio ou gume. O 
aprofundamento depende da pressão ou fio, mas a extensão da lesão depende do 
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deslizamento do instrumento. Possuem bordas nítidas e regulares, há hemorragia 
geralmente abundante, corte perfeito dos tecidos moles, ausência de outro trauma em torno 
da lesão. Ex: Navalha, bisturi, lâmina, canivete, gilete, caco de vidro. 
A natureza jurídica pode variar, é frequentemente homicida, mas pode tratar-se de 
lesão de defesa ou suicídio. A lesão acidental pode ocorrer, mas geralmente é de menor 
gravidade e não chega ao legista, senão ao clínico. 
 
Os instrumentos cortantes têm gume, mas não tem ponta. 
 
 INTRUMENTOS CONTUNDENTES 
 
Os instrumentos contundentes provocam lesões através da pressão exercida em 
alguma parte do corpo, batendo ou chocando. A forma da lesão provocada é irregular, 
manifestando-se com hematomas ou escoriações. Quando alguém está com o “olho roxo” 
provavelmente foi vítima dum instrumento contundente. Esses instrumentos podem ser a 
mão de uma pessoa (soco), um pedaço de madeira, uma pedra, barra de ferro, para-choque 
de carro, taco de beisebol etc. 
Os instrumentos contundentes são os maiores causadores de danos, suas lesões 
mais comuns se verificam externamente. As lesões provocadas por instrumentos 
contundentes (lesões contusas) são classificadas em: 
Rubefação: Caracteriza‐se pela congestão repentina e momentânea de uma região do 
corpo atingida pelo traumatismo, evidenciada por uma mancha avermelhada, efêmera e 
fugaz, que desaparece em minutos. Pode ser produzida por tapas de mão aberta, 
palmatória, cinto, beliscão. Sinônimos: Vermelhidão, hiperemia. 
 
Edema: Consiste em um acúmulo anormal de líquido no compartimento extracelular 
intersticial ou nas cavidades corporais devido ao aumento da pressão hidrostática. É 
constituído de uma solução aquosa de sais e proteínas do plasma e sua composição varia 
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conforme a causa do edema. Caracterizado por elevação e palidez na área do impacto, 
surgindo de 1 a 3 minutos. Pode ser produzida, por exemplo, por um soco. 
 
 
Escoriação: Tem como resultado a ação tangencial (arraste) de meios contundentes. 
Define--se como o arranchamento da epiderme e o desnudamento da derme, de onde fluem 
serosidade e sangue (erosão epidérmica ou abrasão). A regeneração é por reepitelização. 
Nas escoriações produzidas post mortem, não há formação de crosta, a derme é branca e 
não sugila serosidade nem sangue. 
 
 
Equimoses: Se traduzem por infiltração hemorrágica nas malhas dos tecidos, quando se 
apresentam em forma de pequenos grãos, recebem o nome de sugilação e, quando em 
formade estrias, toma a denominação de víbice. 
 
A tonalidade de início é sempre avermelhada, depois passa por vermelho‐escura, violácea, 
azulada, esverdeada e amarelada, desaparecendo, em média entre 15‐20 dias, dependendo 
da extensão. Isto se denomina de espectro equimótico de Legrand du Saulle. 
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ESPECTRO EQUIMÓTICO DE LEGRAND DU SAULLE 
 
No morto, a equimose mantém seu colorido até surgirem os fenômenos putrefativos. 
A absorção dos pigmentos ocorre por atividade fagocitária, daí esse pigmento pode ser 
encontrado na rede ganglionar da região atingida, mesmo após o desaparecimento da 
equimose. 
 INSTRUMENTOS CORTOCONTUNDENTES 
 
 
São instrumentos que possuem gume rombo, de corte embotado e que agindo sobre 
o organismo, rompe a integridade da pele, produzindo feridas irregulares, retraídas e com 
bordas muito traumatizadas. Agem por pressão e percussão ou deslizamento. A lesão se faz 
mais pelo próprio peso e intensidade de manejo, do que pelo gume de que são dotados. 
 A forma das feridas varia conforme a região comprometida, a intensidade de 
manejo, a inclinação, o peso e o fio do instrumento. São em regra mutilantes, abertas, 
grandes, fraturas, contusões nas bordas, perda de substância e cicatrizam por segunda 
intenção. É mais frequente no homicídio e no acidente, sendo raro no suicídio. Ex: Machado, 
foice, facão, enxada, motosserra, rodas de trem, mordidas e garras de animais. 
Em casos de mordidas humanas, pode ser feito um swab de DNA, para possível 
confronto com o agressor. Fotografias também devem ser feitas, com escalas, para permitir 
comparações futuras. 
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 INSTRUMENTOS PERFUROCORTANTES 
 
 
São aqueles que além de perfurar o organismo exercem lateralmente uma ação de corte. 
Penetram perfurando com a ponta e cortam com a borda afiada (gume). Podem ser monocortante 
(faca, peixeira, canivete), bicortante (punhal), tricortante (lima, florete) ou multicortante (fresas, 
perfuratriz manual). Geralmente apresentam profundidade, mas depende da força aplicada. 
 INSTRUMENTOS PERFUROCONTUNDENTES 
 
 
 
É todo agente traumático que ao atuar sobre o corpo, perfura-o e contunde 
simultaneamente. Os instrumentos desta classe são, na maioria das vezes, os projeteis de 
arma de fogo que atuam perfurando por pressão e contundindo pelo impacto da energia 
cinética. 
 
 O projétil desloca-se da arma graças à combustão da pólvora (empuxe), quando 
ganha movimento de rotação propulsão, ao atingir o alvo atuam por pressão, havendo 
afastamento e rompimento das fibras. O alvo é também atingido por compressão de gases 
que acompanha o projétil. 
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Uma lesão completa por projétil de arma de fogo é constituída de 03 (três) 
partes: Orifício de entrada, Trajeto e Orifício de saída. 
 
 ORIFÍCIO DE ENTRADA: (ELEMENTOS): 
 
a) Zona de Contusão: Deve-se ao arrancamento da epiderme motivado pelo movimento 
rotatório do projétil antes de penetrar no corpo, pois sua ação é de início contundente. 
b) Orla de Enxugo: É uma zona que se encontra nas proximidades do orifício, de cor quase 
sempre escura que se adaptou às faces da bala, limpando-as dos resíduos de pólvora. 
 
c) Zona de Tatuagem: São mais ou menos arredondadas, nos tiros perpendiculares, ou de 
formas crescentes nos oblíquos. É resultante da impregnação de partículas de pólvora 
incombustas que alcançam o corpo. 
 
d) Zona de Esfumaçamento: É produzida pelo depósito de fuligem da pólvora ao redor do 
orifício de entrada, é superficial e pode ser facilmente removida por lavagem. Aumentando a 
distância entre a boca de fogo e o alvo, cresce o diâmetro da zona de esfumaçamento. 
 
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e) Zona de Queimadura: É produzida pelos gases superaquecidos resultantes da 
combustão do explosivo propelente e se forma nos tiros encostados (distância zero) e a 
curta distância. Facilmente identificada pelas queimaduras dos pelos e da pele da vítima 
(bem como de tecidos, podendo-se dar a combustão das vestes quando estas se interpõem 
no local atingido e são de fios sintéticos.) 
 
 
Tiro Encostado: É aquele dado com a boca da arma apoiada no alvo. Nesse caso todos os 
elementos que saem da arma penetram na vítima. A ferida de entrada adquire o aspecto de 
câmara de mina (Hoffman), acompanhado de deslocamento e trajeto. O sinal de Benasi, 
esfumaçamento/queimadura óssea, geralmente acompanha a câmara de mina. 
 
 TRAJETO 
É o caminho que o projétil descreve dentro do organismo. É aberto quando tem 
orifício de saída e em fundo de saco, quando termina em cavidade fechada. Pode ser 
retilíneo ou sofrer desvios. 
 ORIFÍCIO DE SAÍDA 
 É o orifício produzido pelo projétil isoladamente ou aderido por corpos ou autor que 
a ele se juntam no decorrer do trajeto. Apresenta-se de forma irregular ou dilacerado, maior 
que o orifício de entrada, com maior sangramento e ausência de orlas e zonas. Os 
ferimentos perfuro contusos podem causar morte, perda da função de um membro ou órgão 
ou prejuízo da função e ou deformidade local. A consequência vai depender: do tipo de 
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arma, número de tiros, o calibre, a distância, idade e condições de saúde prévia da vítima, 
do tempo decorrido entre o recebimento do tiro e os primeiros socorros 
A natureza jurídica pode ser: 
Suicídio (50%) 
Haverá um ferimento, ponto de eleição (têmporas, boca, pregão precordial), 
presença da arma na mão da vítima, disparo a curta distância, queima roupa ou com a arma 
apoiada e mãos escurecidas pela pólvora. 
 Homicídio (35%) 
Existência de impressões digitais do autor na arma ou nas cápsulas, vestígio do uso 
da arma nas mãos do atirador. 
Acidente (15%) 
ENERGIA DE ORDEM QUÍMICA 
As energias químicas, por sua vez, estudam todas as substâncias que, por ação 
física, química ou biológica, são capazes de, entrando em reação com os tecidos vivos, 
causar danos à vida ou à saúde. Tais energias podem agir de forma externa (cáusticos) ou 
interna (venenos). 
 
 CÁUSTICOS 
São consideradas substâncias cáusticas (de Kaustikos, aquilo que queima), tanto os 
ácidos (ácido sulfúrico ou óleo de vitríolo, que empresta seu nome à vitriolagem, o ácido 
azótico ou nítrico, o ácido clorídrico, o ácido crômico, o hipoclorito de sódio, o permanganato 
de potássio, o fenol, o fósforo branco, a água de cobre - mistura de água, ácido sulfúrico e 
ácido oxálico), que atuam por coagulação das albuminas e intensa desidratação dos tecidos 
mortificados, quanto as bases cáusticas (potassa, soda, amônia), liquefacientes que agem 
por dissolução dos minerais. 
Os cáusticos são todas as substâncias que, conforme sua natureza química, 
provocam lesões tegumentares mais ou menos graves. Essas substâncias podem ocasionar 
efeitos coagulantes ou liquefantes. As de efeito coagulante são aquelas que desidratam os 
tecidos e lhes causam escaras endurecidos e de tonalidade diversa, como, por exemplo, o 
nitrato de prata, o acetato de cobre e o cloridrato de zinco. Já as de efeito liquefaciente 
produzem escaras úmidas, translúcidas, moles e têm como modelo a soda, a potassa e a 
amônia. 
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 Queimadura por ácido (coagulante) Queimadura por base cáustica (liquefaciente) 
 
A importância do estudo das lesões externas acarretadas pela ação dos cáusticos 
possui um grande significado, não só pelo interesse de determinar sua gravidade, mas 
também quanto à necessidade de distinguir uma lesão in vitam e outra post mortem, e, 
finalmente, a identidade da substância usada. 
A gravidade da lesão varia de acordo com a quantidade, a concentração e a 
natureza do cáustico;seu prognóstico depende do seu desdobramento por infecção, 
cicatrizes retráteis ou lesões mais graves como a cegueira. A diferença entre as escaras 
produzidas em vida ou depois da morte nem sempre é fácil, pois alguns ácidos, por 
exemplo, atuam com a mesma intensidade e características no vivo ou no cadáver, e sua 
diferença é tanto mais difícil quanto mais precocemente o morto foi atingido. Ademais, a 
identidade da substância é feita pelo aspecto das lesões e por reações químicas. 
A natureza jurídica desses tipos de lesões pode ser criminosa, suicida ou 
acidental. A criminosa (quase sempre motivada por ciúme ou vingança) é crime cometido 
através do arremesso de ácidos ou de bases cáusticas na face, pescoço, tórax, ou aparelho 
genital da vítima, objetivando enfeia-la, causando-lhe danos corporais deformantes 
(permanentes e aparentes), resultando em lesão gravíssima. 
Também é possível o homicídio criminoso por ingestão forçada, nas hipóteses de 
superioridade de forças ou em que a vítima não possa, por qualquer motivo, oferecer 
resistência. O suicídio pode se dar por ingestão de potassa ou de soda cáustica; o acidente 
é explicado pela ingestão involuntária de substâncias cáusticas por embriagados ou nas 
fábricas, por explosões ou derrame de recipientes que as contêm. 
 
 
 
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 VENENOS 
Os doutrinadores são unânimes em asseverar ser muito difícil dar-se uma definição 
precisa de veneno, pois certas substâncias perigosas para a vida, em circunstâncias 
determinadas, revelam-se inócuas em outras; e quantas coisas que podem absorver-se, 
chegam a fazer-se perigosas para a saúde, ingeridas em excesso. 
Até mesmo os alimentos e os medicamentos podem, em determinadas situações, 
serem prejudiciais à vida ou à saúde (especialmente quando sua nocividade sofre profundas 
modificações em face da dosagem posta, da resistência individual, da maneira de 
ministração e do veículo utilizado); e o inverso também é verdadeiro: em certas situações, 
dependendo da dose, os venenos podem ser medicamentos. 
 
Veneno é uma substância que, quando introduzida no organismo em quantidades 
relativamente pequenas e agindo quimicamente, é capaz de produzir lesões graves à saúde. 
 
Os envenenamentos podem ocorrer: 
 
a) Por medicamentos 
 
 Depressores do SNC: Hipnóticos (barbitúricos e derivados); sedativos (brometos); 
neuroplégicos (clorpomazina); anestésicos (hidrato de cloral, clorofórmio); 
hipnoanalgésicos (codeína, morfina). 
 Vagolíticos: Atropina e derivados; extrato de beladona. 
 Bacteriostáticos e antiparasitários: Sulfas e derivados; tártaro emético; sulfonas; 
antimonais; tetracloreto de carbono; Neo-arsfenamina; extrato de feto macho; 
Metoquina; antibióticos. 
 Cardiotônicos: Digitálicos. 
 Estimulantes do SNC: Estricnina e derivados; Cardiazol-efedrina. 
 Antipiréticos: Ácido acetil-salicítico e derivados. 
 Antissépticos: Ácido fênico. 
 Antialérgicos: Fenergan, Benadryl, Neo-Antergan. 
 Expectorantes: Creosoto. 
 Hipotensores: Reserpina. 
 Vasodilatadores croronários: nitrato de pentaeritrol. 
 
 
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b) Por produtos químicos de usos diversos: 
 
 Produtos de uso caseiro: raticida e formicida; inseticidas em geral (DDT, 
Gammexane, Paration): detergentes (gasolina, benzina, creolina): corrosivos (soda cáustica, 
ácido muriático, ácido sulfúrico, bicloreto de mercúrio); gás de iluminação (monóxido de 
carbono); querosene; óleo diesel: loções: amoníaco: água sanitária. 
 
 Substâncias de laboratório: arsênio, fósforo, ácido cianídrico e cianetos, bicloreto 
de mercúrio, bissulfeto de carbono, etc. 
 
c) Por plantas tóxicas: 
Saia-branca (Datura arbórea e suaveolens); mandioca-brava (Manihot utilíssima): 
mamona (Ricinus communis): pinhão-do-paraguai (Jatropha curcas); fungos; Sabina 
(Juniparus sabina); arruda (Ruta graveolens): apiol (Apium graveolens). 
d) Por venenos animais: 
De répteis (serpentes); de artrópodes (aracnídeos: aranhas, escorpiões; insetos: 
abelhas, vespas) etc. 
Para este crime se dar como existente não é necessária a morte da vítima. Por isso a 
tentativa é já a consumação do crime. Todavia, o envenenamento pode não constituir crime 
e traduzir um caso de suicídio ou simples acidente. As mortes por envenenamento têm sido 
frequentemente atribuídas a suicídio ou acidente, especialmente quando a vítima consome 
regularmente drogas, por receita médica ou para alcançar estimulação. 
 
INTOXICAÇÃO COM ARSÉNIO 
Arsénio: elemento mineral que faz parte da composição de pesticidas. Pó branco, 
facilmente solúvel em açúcar e farinha. Os sinais são: descamação da pele, unhas 
quebradiças e estriadas, queda de cabelo, etc. Assim, as unhas e o cabelo, resistindo para 
além da putrefação do corpo, viabilizam as possibilidades de detecção. 
Devido à fácil aquisição no mercado (em raticidas e insecticidas) é frequente a sua 
utilização em suicídios e homicídio, sendo responsável por inúmeras situações acidentais. O 
arsénio permanece no corpo durante largo tempo e é possível determinar a sua presença 
em cadáveres. 
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O mesmo se pode dizer relativamente a um outro produto tóxico: paratião (insecticida 
Organofosforados), em cuja morte os livores adquirem uma cor característica, cinzento 
acastanhada. Esta forma de envenenamento está associada a crises sentimentais das 
vítimas, normalmente mulheres. Outra forma de intoxicação procurada por suicidas (também 
acidente, e em pequena escala, crime) é o envenenamento por gás. 
 
SINAIS DE ENVENENAMENTO 
 Morte rápida, sem sintomas especiais, sugere morte por ácido prússico ou por 
cianeto e potássio, apresentando o cadáver uma cor carminada e possível cheiro a 
amêndoas amargas; 
 Vómitos de cor escura (tipo café), com cheiro a cebola e alho, sugerem a utilização 
do mortífero fósforo incolor (fósforo vermelho não é venenoso); 
 Vómitos negros e escaras profundas nas vias de absorção, com aparência de 
queimaduras, com agonias de horas e dias são indicativos de ácido sulfúrico; 
 Vómitos brancos, que ficam negros à luz do dia, sugerem ingestão de sais de prata; 
 Vómitos de substâncias de cor acres sugerem a ingestão de vinagre ou amoníaco; 
 Escaras profundas nas vias de absorção, de cor amarela, resultam de ingestão de 
água forte (ácido nítrico), líquido corrosivo que causa agonia de dias; 
 Vómitos e diarreia, espuma abundante pela boca, suores e cólicas são sintomas de 
absorção de compostos de mercúrio, sais de arsénico ou chumbo. 
ENERGIA DE ORDEM FÍSICO-QUÍMICA 
É a parte da Medicina Legal que trata das asfixias (interrupção da hematose). 
 
 
Hematose é a transformação do sangue venoso em arterial, 
por meio de oxigenação nos pulmões. 
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Em sentido genérico entende-se asfixia como a suspensão da função respiratória por 
qualquer causa que se oponha à troca gasosa, nos pulmões, entre o sangue e o ar 
ambiente. 
HEMATOSE: 
a) Verificação Pulmonar: Inspiração de O2 e sua distribuição pelos alvéolos. 
b) Difusão: Passagem de O2 e CO2 através dos capilares. 
c) Fluxo Capilar Pulmonar: É a circulação sanguínea nos capilares pulmonares. 
 
CONDIÇÕES NORMAIS DA RESPIRAÇÃO 
a) Ambiente externo c) Funcionamento da caixa torácica 
b) Permeabilidade do aparelho respiratório d) Movimento sangue 
 
LEGISLAÇÃO: 
No CPB art. 61, inciso II, letra "d", diz que o emprego da asfixia como meio de 
produzir a morte constitui circunstância agravante do crime, pela crueldade de que se 
reveste este recurso. 
CLASSIFICAÇÃO MÉDICO-LEGAL: 
a) Modificação Física do Meio: 
 Quantitativa: Confinamento 
 Qualitativa: Líquido: Afogamento 
Sólido: Soterramento 
Gasoso: Gases Tóxicos 
 
b) Constrição no Pescoço:

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