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Profª. MSc. Larissa Vieira Fundações diretas Aula de 30 de março de 2020 – Parte 2 Recalques em fundações diretas Recalque de sapatas Definição: deslocamento vertical para baixo, da base da sapata em relação a uma referência fixa, indeslocável, como o topo rochoso. Podem ser provenientes de: • Deformações por redução do volume do maciço de solo; • Mudança da forma do maciço de solo ROCHA P σ z ROCHA P σ z - ρ ρ Recalque total (absoluto) x recalque diferencial (relativo) sapata isolada entre duas sapatas Recalque total (absoluto) x recalque diferencial (relativo) Recalque absoluto (ρ) 𝜌 = 𝜌𝑐 + 𝜌𝑖 ρc = recalque por adensamento ρi = recalque imediato Recalque por adensamento: • Ocorre tipicamente em argilas saturadas sob carregamentos permanentes; • Resulta de deformações volumétricas (redução do índice de vazios); • O adensamento se processa com a dissipação das pressões neutras, lentamente no decorrer do tempo, pois a baixa permeabilidade das argilas dificulta a expulsão da água intersticial. Recalque por adensamento ARGILA SATURADA AREIA ARGILA SATURADA AREIA σ σ ρc expulsão lenta da água intersticial para camadas mais permeáveis (areia) Redução do índice de vazios = redução de volume Recalque imediato: • As fundações diretas sofrem recalques provenientes de deformações a volume constante (sem redução do índice de vazios); • Contrariamente ao adensamento, esse tipo de recalque se processa em um tempo muito curto, quase simultâneo à aplicação do carregamento, em condições não drenadas; • Corresponde a uma distorção do solo abaixo da sapata → recalque de distorção; • Pode ser calculado pela Teoria da Elasticidade Linear. O solo é um material elástico? Não, o solo não é um material elástico, ou seja, os recalques imediatos não são recuperáveis após o descarregamento, podendo ser reversíveis apenas parcialmente. Comportamento tensão x deformação: Elástico-linear Elástico não linear Linear não elástico (solo) ES = módulo de deformabilidade (módulo de elasticidade) Variação do módulo de deformabilidade com a profundidade: • Se o valor de ES for constante com a profundidade → meio elástico homogêneo (MEH), como é o caso das argilas sobreadensadas. • Se o valor de ES for variável com a profundidade → meio elástico não homogêneo, como é o caso das areias, consideradas um meio linearmente não homogêneo quando a variação de ES com a profundidade (z) puder ser representada pela função: ES = E0 + k z onde E0 e k são constantes. Recalques imediatos em meio elástico homogêneo (MEH): A estimativa do recalque imediato de fundações diretas em MEH pode ser dada em três casos: • Camada semi-infinita; • Camada finita; • Multicamadas 1) Camada semi-infinita (topo do maciço rochoso não é conhecido): Equação obtida a partir de Boussinesq (1885): 𝜌𝑖 = 𝜎 𝐵 1 − 𝜈² 𝐸𝑆 𝐼𝜌 σ = tensão média na superfície de contato entre a sapata e o solo; B = largura da sapata; ν = coeficiente de Poisson do maciço do solo; ES = módulo de deformabilidade do solo; Iρ = fator de influência que depende da forma e da rigidez da sapata (Tabela 3.1) Exercício 1 – Capítulo 3 (livro Fundações Diretas – projeto geotécnico) 1) Estimar o recalque imediato da sapata indicada na figura, considerada rígida, com B = L = 3 m, aplicando ao solo uma tensão de 0,2 Mpa. Recalques imediatos em meio elástico homogêneo (MEH): 2) Camada finita (topo do maciço rochoso é conhecido): 𝜌𝑖 = 𝜇0 𝜇1 𝜎 𝐵 𝐸𝑆 σ = tensão média na superfície de contato entre a sapata e o solo; B = largura da sapata; ES = módulo de deformabilidade do solo; μ0 e μ1 = fatores de influência do embutimento da sapata e da espessura da camada do solo, respectivamente σ = tensão média na superfície de contato entre a sapata e o solo; B = largura da sapata h = profundidade de assentamento da sapata; H = distância da base da sapata até o topo do maciço rochoso (indeslocável) Exercício 2 – Capítulo 3 (livro Fundações Diretas – projeto geotécnico) 2) Estimar o recalque imediato da mesma sapata do Exercício 1, mas agora apoiada à cota -1,5 m e com o indeslocável (topo rochoso) à cota -7,5 m. Recalques imediatos em meio elástico homogêneo (MEH): 3) Multicamadas (topo do maciço rochoso é conhecido e acima dele há mais de uma camada de solo): 𝜌𝑖 = 𝜇0 𝜇1 𝜎 𝐵 𝐸𝑆 Neste caso, utiliza-se a mesma metodologia que no cálculo de camadas finitas, com a diferença de que devem ser determinados os recalques de cada uma das camadas, e depois obter o recalque total. No caso de duas camadas: 𝜌𝑖 = 𝜌1 + 𝜌2 onde ρ1 é o recalque da primeira camada; e ρ2 é o recalque da segunda camada. Recalques imediatos em meio elástico homogêneo (MEH): 3) Multicamadas (continuação) Recalque da primeira camada (ρ1 ): No cálculo de ρ1 fazemos uma aplicação direta do caso de camada finita, com o artifício de subir o indeslocável para o topo da segunda camada. Recalque da segunda camada (ρ2 ): Considera-se uma sapata fictícia apoiada no topo da segunda camada, com dimensões ampliadas através da propagação 1:2. Exercício 3 – Capítulo 3 (livro Fundações Diretas – projeto geotécnico) 3) Estimar o recalque imediato da mesma sapata do Exercício 2, mas com uma segunda camada antes de atingir o indeslocável. Recalques imediatos em areia: Módulo de deformabilidade (ES) não é constante com a profundidade Método de Schmertmann (1970): Dado um carregamento uniforme σ, que atua na superfície de um semiespaço elástico, isotrópico e homogêneo, com módulo de elasticidade ES, a deformação vertical εz à profundidade z, sob o centro do carregamento pode ser expressa por: 𝜀𝑧 = 𝜎 𝐸𝑆 𝐼𝑍 onde Iz é o fator de influência na deformação. Recalques imediatos em areia: Por meio de análises teóricas, estudos em modelos e simulações pelo método dos elementos finitos, o autor pesquisou a variação da deformação vertical ao longo da profundidade, em solos arenosos homogêneos, sob sapatas rígidas. Observou que a deformação máxima ocorre em uma profundidade em torno de z = B/2 e que a partir dessa profundidade, as deformações diminuem gradualmente e podem ser desprezadas depois de z = 2B. Recalques imediatos em areia: a) Embutimento da sapata: Schmertmann define um fator de correção do recalque (C1), variando de 1 a 0,5, dado por: 𝐶1 = 1 − 0,5 𝑞 𝜎∗ ≥ 0,5 onde: q = tensão vertical efetiva à cota de apoio da fundação (sobrecarga); σ*= tensão líquida aplicada pela sapata (σ*= σ – q) O uso da tensão líquida se justifica pelo fato de que a parcela correspondente à sobrecarga q não deve gerar recalque, pois representa a reposição do alívio de tensões decorrente da escavação realizada para execução da sapata. Recalques imediatos em areia: b) Efeito do tempo: Em areias, além do recalque imediato, outra parcela de recalque se desenvolve com o tempo (t): 𝐶2 = 1+ 0,2 𝑙𝑜𝑔 𝑡 0,1 com t em anos. Assim, após um ano, por exemplo, os recalques terão aumentado 20%. No caso de haver interesse apenas no recalque imediato, sem acréscimo do tempo, basta considerar C2 = 1. Recalques imediatos em areia: c) Formulação: O recalque de sapatas rígidas em areia (ρd) é dado pelo somatório dos recalques de n subcamadas consideradas homogêneas, na profundidade de 0 a 2B, incluindo os efeitos do embutimento e do tempo: 𝜌𝑑 = 𝐶1 𝐶2 𝜎 ∗ σ𝑖=1 𝑛 𝐼𝑧 𝐸𝑆 ∆𝑧 𝑖 onde Iz = fator de influência na deformação à meia altura da i-ésima camada; ES = módulo de deformabilidade da i-ésima camada; Δz = espessura da i-ésima camada Recalques imediatos em areia: d) Roteiro de cálculo: 1) Calcular os valores de q, σ*, C1 e C2; 2) A partir da base da sapata, desenhar o triângulo do fator de influência, no qual o valor máximo do fator de influência (vértice do triângulo) ocorre em B/2; 3) No intervalo de 0 a 2B abaixo da sapata, dividir o perfil NSPT num número conveniente de subcamadas, cada uma com ES constante. É necessária uma divisãoque passe por B/2, no vértice do triângulo e, além disso, a espessura máxima das subcamadas deve ser igual a B/2. 4) Preparar uma tabela com seis colunas: número da camada, Δz, Iz, NSPT, ES e Iz Δz/ES; 5) Encontrar o somatório dos valores da última coluna e aplicar na equação do recalque de sapatas rígidas em areia. Recalques imediatos em areia: Aperfeiçoamento do Método de Schmertmann (1978): Proposição de dois novos diagramas para a distribuição do fator de influência na deformação: • Aumento da profundidade z para sapatas corridas; • Valor inicial de Iz diferente de zero; • Valor de Izmáx não é fixo e não ocorre sempre na mesma profundidade (varia de sapatas quadradas para sapatas corridas) Recalques imediatos em areia: Aperfeiçoamento do Método de Schmertmann (1978): O valor máximo de Iz ocorre à profundidade z=B/2 para sapata quadrada (L/B = 1) e à profundidade z = B para sapatas corridas (L/B ≥ 10) e é dado pela expressão: 𝐼𝑧 𝑚á𝑥 = 0,5 + 0,1 𝜎∗ 𝜎𝑣 onde σv = tensão vertical efetiva na profundidade correspondente a Izmáx Exercício 4 – Capítulo 3 (livro Fundações Diretas – projeto geotécnico) 4) Estimar o recalque imediato da sapata indicada na figura, quadrada com B = L = 3 m, apoiada à cota -2 m, aplicando ao solo uma tensão de 0,2 MPa. TOLERÂNCIA A RECALQUES Distorção angular: Skempton e MacDonald (1956) associam a ocorrência de danos a valores limites para a distorção angular δ/l em que δ é o recalque diferencial entre dois pilares e l é a distância entre os pilares. De forma resumida, os valores limites são: δ/l = 1:300 (trincas em paredes de edifícios); δ/l = 1:150 (danos estruturais em vigas e colunas de edifícios) TOLERÂNCIA A RECALQUES Recalques totais limites: Teixeira e Godoy (1996): “Teoricamente, uma estrutura que sofresse recalques uniformes não sofreria danos, mesmo para valores exagerados do recalque total. Na prática, no entanto, a ocorrência de recalques uniformes não acontece, havendo sempre recalques diferenciais decorrentes de algum tipo de excentricidade de cargas, ou heterogeneidade do solo. A limitação do recalque total é uma das maneiras de limitar o recalque diferencial.” TOLERÂNCIA A RECALQUES Recalques totais limites: Valores limites para estruturas usuais de aço e concreto (Skempton- MacDonald): Areias: δmáx = 25 mm; ρmáx = 40 mm para sapatas isoladas; ρmáx = 40 a 65 mm para radiês. Argilas: δmáx = 40 mm; ρmáx = 65 mm para sapatas isoladas; ρmáx = 65 a 100 mm para radiês. TOLERÂNCIA A RECALQUES Danos causados por recalques: Skempton-MacDonald agrupam os danos causados pelo movimento de fundações em três categorias principais: 1) Danos arquitetônicos, ou à aparência visual da construção, são visíveis ao observador comum e causam algum tipo de desconforto: trincas em paredes, recalques de pisos, desaprumo de edifícios etc; TOLERÂNCIA A RECALQUES Danos causados por recalques: 2) Danos à funcionalidade ou ao uso da construção. O desaprumo de um edifício pode causar problemas de desgaste excessivo de elevadores e inverter declividades de pisos e tubulações. Recalques totais excessivos podem inverter a declividade e até romper tubulações. Recalques diferenciais podem causar o emperramento de portas e janelas, causar trincas por onde pode passar umidade etc. TOLERÂNCIA A RECALQUES Danos causados por recalques: 3) Danos estruturais são causados à própria estrutura e podem comprometer sua estabilidade. Parâmetros de compressibilidade Módulo de deformabilidade: Pode ser estimado por: ES = α K NSPT onde o fator α e o coeficiente K dependem do tipo do solo (Tabelas 3.3 e 3.4) Parâmetros de compressibilidade Coeficiente de Poisson: Para resolver: Exercícios 1, 2, 3 e 4 do Capítulo 3 do livro Fundações diretas – projeto geotécnico ✓ Prazo de entrega: 06/04 (próxima segunda) ✓ Valor: 0,5 pontos na nota da AV1 ✓ Enviar como trabalho pelo SAVA
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