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1 MANUAL SAÚDE DO TRABALHADOR BACHARELADO EM ENFERMAGEM PROF. Esp. HENRI MARTINI DE SOUSA BORGES SÃO PEDRO DO PIAUI 2020 2 MANUAL DE ENFERMAGEM SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO NORMAS REGULAMENTADORES UNIDADE I SÃO PEDRO DO PIAUI 2020 3 INTRODUÇÃO A SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO Breve Histórico A relação entre trabalho e saúde tem sido observada desde a Antiguidade. No século IV a.C., a toxicidade do chumbo nos mineiros foi reconhecida e identificada pelo médico e filósofo grego Hipócrates. Plínio, O Velho, escritor e naturalista romano, que viveu no início da era cristã, descreveu, em seu tratado De Historia Naturalis, as condições de saúde dos trabalhadores com exposição ao chumbo e poeiras. Ele fez uma descrição dos primeiros equipamentos de proteção respiratória conhecidos, feitos com membranas de pele de bexiga de animais e usados como máscaras a fim atenuar a inalação de poeiras nocivas. Também descreveu diversas moléstias do pulmão entre mineiros e o envenenamento em razão do manuseio de compostos de enxofre e zinco. Em meados do século XVI, o pesquisador alemão George Bauer publicou um trabalho chamado De Re Metallica, no qual apresentava os problemas relacionados à extração de minerais, com destaque para uma doença chamada “asma dos mineiros”, que sabemos hoje tratar da silicose, doença pulmonar que atinge os trabalhadores expostos à poeira de sílica. Entretanto, o marco de maior evidência histórica no tocante ao estudo das doenças dos trabalhadores ocorreu em 1700, na Itália, quando o médico Bernardino Ramazzini publicou um livro sobre doenças ocupacionais chamado De Morbis Artificum Diatriba (Doenças dos Trabalhadores), no qual relacionou os riscos à saúde ocasionados por produtos químicos, poeira, metais e outros agentes encontrados nos ambientes de trabalho em várias ocupações da época. Ele orientava os demais médicos a fazer a seguinte pergunta ao paciente: “Qual o seu trabalho?”, ou na linguagem da época, “Que arte exerce?”. Por sua vida dedicada a esse assunto, Ramazzini ficou conhecido como o pai da Medicina Ocupacional. Ao longo dos anos, vários médicos e higienistas se ocuparam da observação do trabalho em diversas atividades e conseguiram chegar a várias descobertas importantes, como o médico francês Patissier, que recomendava aos ourives levantarem a cabeça de vez em quando e olhar para o infinito como modo de evitar a fadiga visual. E também o médico francês Rene Villermé, que foi além dos ambientes de trabalho insalubres e identificou alguns dos hoje chamados fatores de risco psicossociais, e associou a influência das jornadas excessivas, as péssimas condições dos alojamentos, a baixa qualidade da alimentação e o salário abaixo das necessidades reais, ao estado de saúde dos trabalhadores. Segurança e Saúde no Trabalho no Brasil Enquanto no início do século XIX a Inglaterra já se preocupava com a proteção dos trabalhadores das indústrias têxteis, somente no final daquele século, por volta de 1870, que se tem notícia da instalação da primeira indústria têxtil no Brasil, no Estado de Minas Gerais. E somente vinte anos depois é que surgiria no Brasil um dos primeiros 4 dispositivos legais relativos à proteção do trabalho, mais precisamente em 1891, com a publicação do Decreto 1.313, considerado o marco da Inspeção do Trabalho no País. Esse decreto instituiu a fiscalização permanente de todos os estabelecimentos fabris em que trabalhavam menores. Em 1919, foi publicado o Decreto 3.724, que tratava dos acidentes de trabalho e respectivas indenizações e de vários assuntos que constam atualmente na Lei Previdenciária 8.213/1991, que dispõe sobre os planos de benefícios da Previdência Social. Em 1943 foi publicada a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) por meio do Decreto 5.452. A CLT foi um marco na legislação trabalhista brasileira, pois consolidou em um único documento as legislações esparsas sobre direito do trabalho e segurança e saúde no trabalho. Até meados da década de 1970, entretanto, a legislação da segurança no trabalho existente no Brasil era basicamente corretiva e não preventiva. Havia a preocupação em determinar as indenizações por acidentes de trabalho, mas não em investigar e prevenir as causas desses acidentes de forma efetiva. Em 1977, foi publicada a Lei 6.514, com o propósito de aprofundar as medidas preventivas para retirar o Brasil da incômoda posição de campeão mundial em acidentes do trabalho. 5 UNIDADE I NORMA REGULAMENTADORA I DISPOSIÇÕES GERAIS : INTRODUÇÃO A NR1 dispõe sobre a obrigatoriedade do cumprimento das normas regulamentadoras de Segurança e Saúde no Trabalho (SST), trata da competência dos diversos órgãos envolvidos e das responsabilidades do empregador e dos empregados. São também apresentados conceitos de termos e expressões, aplicáveis às normas regulamentadoras. Segundo Sebastião Geraldo de Oliveira, Desembargador do Tribunal Regional do Trabalho da 3.ª Região, o princípio constitucional de que a saúde é direito de todos e dever do Estado (art. 196), adaptado para o campo do Direito do Trabalho, indica que a saúde é direito do trabalhador e dever do empregador, razão pela qual o empregado não pode estar exposto a riscos que possam comprometer seu bem-estar físico, mental ou social . CUMPRIMENTO DAS NRs As normas regulamentadoras são de observância obrigatória pelas empresas privadas, pelas empresas públicas e por todos os órgãos públicos (administração direta e indireta, dos Poderes Legislativo e Judiciário) que possuam empregados contratados e regidos pela CLT. Ainda que a empresa ou órgão tenha apenas um empregado celetista, estará obrigada(o) a cumprir o disposto nas NRs. Conforme o item 1.1, estão obrigados(as) ao cumprimento das NRs: EMPRESA PRIVADAS EMPRESAS PUBLICAS QUE POSSUEM EMPREGADOS ÓRGÃO PUBLICO DA ADIMINISTRAÇÃO DIRETA REGIDOS PELA CLT ÓRGÃO PUBLICO DA ADIMINISTRAÇÃO INDIRETA ÓRGÃO DOS PODERES LEGISLATIVO E JUDICIARIO 6 O empregador (empresa ou órgão) ficará sujeito à autuação, pelo Auditor Fiscal do Trabalho (AFT), em caso de não cumprimento das disposições legais e regulamentares sobre segurança e saúde do trabalho. ÓRGÃOS COMPETENTES EM MATÉRIA DE SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO As atribuições relativas à inspeção da Segurança e Saúde no Trabalho no Brasil estão a cargo dos seguintes órgãos do Poder Executivo, integrantes do Ministério do Trabalho e Emprego: Órgão Nacional Atualmente o órgão nacional competente em matéria de Segurança e Saúde no Trabalho (SST) é a Secretaria de Inspeção do Trabalho (SIT), que realiza suas atribuições com o Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho (DSST). Observem que a redação atual do item 1.3 da NR1 se refere à SSST – Secretaria de Segurança e Saúde no Trabalho – e o item 1.10, à SSMT – Secretaria de Segurança e Medicina do Trabalho – SSMT. Ambas as denominações concernem ao mesmo órgão nacional, que existiu em épocas diferentes. Os itens que contêm a sigla SSST foram publicados em 1993, e aquele em que consta SSMT foi publicado dez anos antes, em 1983. Então, onde se lê SSST ou SSMT na NR1, leia-se SIT/DSST. COMPETÊNCIAS DO ÓRGÃO NACIONAL Estabelecem as competências do órgão nacional. Dentre essas competências estão a gestão das atividades de inspeção da segurança e saúde no trabalho e a atribuição de conhecer em última instância os recursos voluntários ou de ofício. Além da NR Segurança e Saúde no Trabalhoe os servidores públicos Os requisitos de segurança e saúde no trabalho referentes aos servidores públicos municipais, estaduais ou federais devem constar no seu respectivo estatuto. A Lei 8.112/1990, que dispõe sobre o regime jurídico dos servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais, carece de disposições efetivas de proteção à segurança e saúde desses servidores. Houve uma alteração relativamente a essa matéria, ainda que tímida, em 2009, com a publicação da Lei 11.209, que incluiu o art. 206-A à Lei 8.112/1990, com a seguinte redação: “O servidor será submetido a exames médicos periódicos, nos termos e condições definidos em regulamente”. A regulamentação do art. 206-A ocorreu com a publicação do Decreto 6.856/2009, que dispôs sobre a realização dos exames médicos periódicos dos servidores públicos federais. 7 COMPETENCIAS: COORDENAR ORIENTAR: CONTROLAR E SUPERVISIONAR. NORMA REGULAMENTADORA – V COMISSÃO INTERNA DE PREVENÇÃO DE ACIDENTES – CIPA INTRODUÇÃO: A Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), como o próprio nome diz, é uma comissão que tem por objetivo a prevenção de acidentes e doenças decorrentes do trabalho. Ela é composta por empregados que se dividem em dois grupos: representantes do empregador e representantes dos próprios empregados, em quantidade paritária, ou seja, a quantidade de membros da representação dos empregados e a do empregador é a mesma. Os representantes dos empregados são por eles eleitos, e os representantes do empregador são por ele indicados. A eleição dos representantes dos empregados é feita por meio de voto secreto; devem participar apenas os empregados interessados, independentemente de filiação sindical 1 , ou seja, participam da eleição apenas os empregados que assim o desejarem. Tanto os representantes dos empregados quanto os representantes do empregador se dividem em membros titulares (ou efetivos) e suplentes. Vejam o quadro a seguir: Não é exigido que os membros da CIPA tenham qualquer qualificação na área de Segurança e Medicina do Trabalho, ao contrário do que é requisitado para os membros do SESMT. Os membros da comissão devem receber treinamento com conteúdo programático específico. Importante ressaltar que a redação da NR5 faz menção a “trabalhadores” e “empregados”. Quando a norma diz “empregados”, faz referência àqueles com vínculo ATIVIDADES RELACIONADA COM SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO. CANPAT- CAMPANHA NACIONAL DE PREVENÇÃO DE ACIDENTES DO TRABALHO. PAT- PROGRAMA DE ALIMENTAÇÃO DO TRABALHO. FISCALIZAÇÃO DO COMPRIMENTO DOS PRECEITOS LEGAIS E REGULAMENTARES DE SST. “ EM TODO TERRITORIO NACIONAL”. CIPA REPRESENTANTE DOS EMPREGADOS REPRESENTANTES DO EMPREGADOR TITULARES + SUPLENTES TITULARES + SUPLENTES 8 de emprego com a empresa, e, quando cita “trabalhadores”, concerne a todos os que trabalham no(s) estabelecimento(s) da empresa, incluindo empregados de empresas contratadas. CONSTITUIÇÃO Devem constituir a CIPA e mantê-la em regular funcionamento: Empresas privadas; empresas públicas; sociedades de economia mista; órgãos da administração direta e indireta; instituições beneficentes; associações recreativas; cooperativas; outras instituições que admitam trabalhadores como empregados. Dessa forma, havendo em um órgão público empregados com vínculo celetista e outros submetidos ao regime estatutário, a CIPA deve ser constituída levando-se em consideração a quantidade de empregados efetivamente vinculados ao regime celetista. Nesse caso, só estes devem ser candidatos e apenas estes devem votar. E, no mesmo sentido, somente esses devem ser indicados pelo órgão como membros da representação do empregador. Obrigatoriedade de constituição da CIPA A CIPA deve ser constituída por estabelecimento. A obrigatoriedade de constituição dessa comissão depende da quantidade de empregados no estabelecimento e também do enquadramento da atividade econômica da empresa em determinado grupo, de acordo com os Quadros I, II e III da NR5, apresentados adiante. Temos aqui a primeira diferença entre CIPA e SESMT no que se refere ao critério de dimensionamento: no caso do SESMT, um dos parâmetros utilizados é o grau de risco do estabelecimento; no caso da CIPA, deve ser considerado o enquadramento da atividade econômica da empresa (e não o grau de risco). A tabela a seguir apresenta uma comparação entre esses dois critérios: Critério de constituição do SESMT Critério de constituição da CIPA Quantidade de empregados do estabelecimento Quantidade de empregados do estabelecimento Grau de risco da atividade principal Enquadramento da atividade econômica da empresa emumdos grupos da CNAE ATRIBUIÇÕES Uma das principais atribuições da CIPA é identificar os riscos do processo de trabalho. Destaco a diferença entre a atividade de identificação e quantificação dos riscos. A realização de avaliações quantitativas (quantificação) dos diversos agentes nocivos presentes no ambiente ou no processo de trabalho não é atribuição da CIPA, mas tão somente sua identificação. A CIPA também deve elaborar o mapa de riscos. Essas 9 atividades devem ser realizadas com a participação do maior número de trabalhadores e contar com a assessoria do SESMT, onde houver. Os membros da comissão também devem elaborar plano de trabalho que possibilite ação preventiva na solução de problemas de segurança e saúde no trabalho. Esse plano de trabalho é um cronograma com ações a serem executadas e metas a serem alcançadas durante a gestão vigente. A CIPA deve participar da implementação e do controle da qualidade das medidas de prevenção necessárias, bem como da avaliação das prioridades de ação nos locais de trabalho. Cabe ressaltar que a CIPA não é responsável pela implementação das medidas de prevenção nem pelo controle da qualidade das medidas implantadas, cabendo a essa comissão apenas a participação nesse processo. A CIPA deve realizar, periodicamente, verificações nos ambientes e condições de trabalho com o objetivo de identificar riscos que possam causar acidentes ou lesões de qualquer tipo ou severidade aos empregados, por exemplo, piso escorregadio, máquinas desprotegidas, realização de trabalho em altura sem a devida proteção coletiva e/ou individual. A CIPA também deve divulgar aos trabalhadores informações relativas à segurança e saúde no trabalho, o que poderá ser feito por quadro de avisos, campanhas internas, palestras, seminários, treinamentos ou por qualquer outro meio. Essa divulgação não se restringe somente aos empregados da empresa, mas sim a todos os trabalhadores (empregados da empresa, bem como terceirizados), e deve ser feita com as CIPA ou designados, onde houver, das empresas que prestam serviço no estabelecimento. Outras atribuições da CIPA são: Requisitar ao empregador e analisar as informações sobre questões que tenham interferido na segurança e saúde dos trabalhadores; requisitar à empresa as cópias das CAT emitidas; promover, anualmente, com o SESMT, onde houver, a Semana Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho (SIPAT); participar, anualmente, com a empresa, de Campanhas de Prevenção da AIDS. 10 NORMA REGULAMENTADORA – VI EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL –EPI INTRODUÇÃO A NR6 trata dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e estabelece as condições sob as quais esses equipamentos deverão ser fornecidos pelas empresas, bem como as responsabilidades dos empregados, do empregador, do fabricante nacional, do importador e as atribuições do Ministério do Trabalho e Emprego. Dispõe também sobre o Certificado de Aprovação (CA) que todos os EPI deverão possuir, como uma das condições para serem comercializadosou utilizados. Além do conceito de EPI, a norma também apresenta o conceito de Equipamento Conjugado de Proteção Individual (ECPI). O QUE É UM EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL (EPI)? Equipamento de Proteção Individual é todoproduto ou dispositivo que tem por objetivo proteger o trabalhador, individualmente, contra riscos que ameacem sua segurança, saúde e integridade física durante a atividade laboral. É preciso entender muito bem essa definição. Então vamos estudá-la por partes: I – O EPI é um produto ou dispositivo Vejam que esse é um conceito genérico, que nos mostra que o EPI é o resultado de um processo industrial. Podemos entender que o EPI do tipo produto é aplicado sobre a pele e por ela absorvido (como é o caso do Creme Protetor de Segurança para proteção dos membros superiores contra agentes químicos), e o EPI do tipo dispositivo é usado sobre o corpo ou partes do corpo do trabalhador, e pode ser colocado ou retirado a qualquer momento. Até 1994, segundo a redação da NR6, todo EPI era um dispositivo. II – Objetivo do EPI O objetivo do EPI éproteger o trabalhador, individualmente, contra riscos que ameacem sua segurança, saúde e integridade física durante sua atividade laboral. Vejam que o EPI protege o trabalhador contra riscos existentes no ambiente de trabalho, mas o EPI não evita acidentes. III – O EPI deve oferecer proteção contra quais riscos? O EPI deve oferecer proteção contra riscos oriundos de agentes ambientais existentes no local de trabalho (químicos, físicos e biológicos). Deve proteger também contra riscos de acidentes ou riscos de origem mecânica, por exemplo, queda de altura, choque elétrico, queda de objetos, entre outros. EQUIPAMENTO CONJUGADO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL (ECPI) O Equipamento Conjugado de Proteção Individual (ECPI) é um EP constituído por vários dispositivos que protegem o trabalhador contra um ou mais riscos que possam ocorrer simultaneamente no ambiente de trabalho. 11 ATENÇÃO: Os EPI também devem ser fornecidos durante a implantação das medidas de proteção coletiva. 2. O fornecimento de EPI também deverá ocorrer para atender asituações de emergência, por exemplo, vazamento de amônia em um frigorífico: os empregados da área atingida devem usar EPI do tipo máscara com filtro de amônia ou equipamento de respiração autônomo, durante sua retirada do ambiente. 3. Como medidas administrativas ou de organização do trabalho pode-se citar a implantação de rodízios ou a redução da jornada, reduzindo-se a exposição ao risco. A QUEM CABE A RECOMENDAÇÃO DO EPI? Até o ano de 2010, a recomendação do EPI ao empregador era responsabilidade da CIPA. No entanto, como tal atribuição requer competências técnicas, e considerando que não é exigido que os membros dessa comissão possuam tais competências, em 07.12.2010, o MTE publicou a Portaria SIT 194/2010, alterando a redação da NR6 no que se refere à responsabilidade dessa recomendação. A partir dessa alteração, a CIPA não tem mais a função de recomendar o EPI a ser utilizado, passando essa comissão a ter um papel opinativo. Atualmente, a atribuição de recomendação do EPI cabe aoSESMT, nas empresas obrigadas a constituir esse serviço, depois de ouvidos a CIPA e os trabalhadores usuários. 12 NORMA REGULAMENTADORA – VII PROGRAMA DE CONTROLE MÉDICO DE SAÚDE OCUPACIONAL – PCMSO INTRODUÇÃO As doenças ocupacionais não são um fenômeno recente no mundo do trabalho. Sabemos que todo trabalho implica um risco, de maior ou menor grau. Sendo assim, podemos dizer que as doenças ocupacionais são decorrência do surgimento do trabalho no mundo. A LER/DORT (Lesões por Esforços Repetitivos/Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho), hoje tão conhecida por todos nós, já havia sido identificada pelo médico italiano Bernardino Ramazzini há trezentos anos como a Doença dos Escribas e Notários 1 : PROGRAMA DE CONTROLE MÉDICO DE SAÚDE OCUPACIONAL O PCMSO É um programa de atenção à saúde do trabalhador. Possui caráter prevencionista e tem como objetivo principal a promoção e preservação da saúde dos empregados. Deve ser elaborado em função dos riscos aos quais eles estarão submetidos durante sua atividade laboral. Obrigatoriedade de elaboração Segundo a NR7, todos os empregadores e instituições que admitam trabalhadores como empregados devem elaborar e implementar o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional, independentemente da quantidade de trabalhadores e do grau de risco da empresa. Vejam que o empregador não é responsável somente pela elaboração do PCMSO (na prática, garantir sua elaboração), ele deve garantir também a sua implementação. A NR7 não determina expressamente quem ou qual profissional deve ser o responsável pela elaboração do PCMSO. Apesar disso, e é assim que acontece na prática, tal atribuição deve ser encarregada a um médico do trabalho 4-5 , uma vez que é esse profissional que reúne as competências para indicação e realização dos exames ocupacionais, bem como avaliação dos respectivos resultados. Nesse sentido, vejam a redação do Precedente Administrativo MTE 94: Diretrizes A fim de direcionar as ações a ser desenvolvidas na execução do PCMSO, a norma estabelece os parâmetros mínimos e diretrizes gerais a serem observados, dentro dos conhecimentos científicos atualizados e da boa prática médica. Esses parâmetros podem ser ampliados mediante negociação coletiva de trabalho. Isso significa que as Convenções Coletivas de Trabalho (CCT) ou Acordos Coletivos de Trabalho (ACT) poderão definir parâmetros aumentados para controles médicos específicos, cuja 13 implementação passa a ser objeto de auditoria do MTE. Veremos a seguir cada uma das diretrizes a partir das quais o PCMSO deve ser elaborado: Articulação com as demais NR: A própria NR7 deixa claro que o PCMSO é parte de um programa mais amplo na área da saúde ocupacional que deve existir na empresa, e estar articulado com as demais NRs, dentre elas a NR9, que trata da elaboração do PPRA. No PPRA deve constar a identificação dos riscos químicos, físicos e biológicos presentes no ambiente de trabalho. Além desses riscos previamente identificados no PPRA, o PCMSO também deve considerar outros fatores de adoecimento, como riscos ergonômicos e de acidentes, e também a análise das matérias-primas e dos produtos finais, informações administrativas e técnicas sobre o processo, bem como todas as evidências teóricas e práticas de possibilidade de agravos à saúde dos trabalhadores envolvidos. Abordagem clínico-epidemiológica A NR7 determina que o PCMSO deve privilegiar o instrumental clínico-epidemiológico na abordagem da relação entre a saúde do trabalhador e o seu trabalho. Isso significa que o PCMSO deve ser elaborado considerando não somente cada trabalhador individualmente (abordagem clínica), mas também a coletividade dos trabalhadores (abordagem epidemiológica). O diagnóstico coletivo é tão importante quanto o diagnóstico individual, e, juntos, são uma das bases de sustentação do desenvolvimento dos programas de controle médico nas empresas. Abordagem clínica A abordagem clínica, ou instrumental clínico, se refere à abordagem individual que se concretiza mediante a avaliação clínica à qual cada trabalhador deve ser submetido. A avaliação clínica deve incluir anamnese ocupacional, exame físico e mental. Anamnese é a conversa/entrevista que ocorre entre o médico e o paciente durante a consulta, a partir da qual o médico espera obter informações para uma avaliação e posterior diagnóstico de algum problema/doença que acomete o paciente. A anamnese ocupacional tem o mesmo objetivo da anamnese, porém com foco no histórico laboral do trabalhador. Para um melhor diagnóstico sobre a aptidão do trabalhador, também é importante que o médico se informe sobre a organizaçãodo trabalho na atividade realizada pelo trabalhador: jornada, ritmo de trabalho e produtividade, grau de autonomia e controle do trabalhador sobre o modo operatório, mecanismos de controle de metas individuais etc. Abordagem epidemiológica A epidemiologia objetiva “controlar os problemas de saúde em populações, isto é, por meio do conhecimento das ‘causas’, orientar a intervenção sobre elas, a fim de produzir mudanças nos quadros de saúde dessas populações” 6 . A abordagem epidemiológica em um contexto ocupacional prioriza a avaliação coletiva da população trabalhadora, avaliada a partir de “grupos homogêneos de exposição”, atualmente chamados de 14 “grupos de exposição similar”, que reúnem trabalhadores expostos a riscos semelhantes. O grupo de exposição similar corresponde a um grupo de trabalhadores que experimentam exposição semelhante, de forma que o resultado fornecido pela avaliação da exposição de qualquer trabalhador do grupo seja representativo da exposição do restante dos trabalhadores do mesmo grupo. Caráter prevencionista O médico do trabalho deverá identificar os indícios que podem sinalizar um provável adoecimento de determinados trabalhadores, e agir antes que a doença se manifeste. Mas como realizar esse rastreamento? Existem inúmeras formas de rastrear esses indícios. Exames médicos obrigatórios (lista não exaustiva) O PCMSO deve incluir, entre outros, a realização obrigatória dos seguintes exames médicos: Admissional; Periódico; Mudança de função; Retorno ao trabalho; Demissional. NORMA REGULAMENTADORA – 32 SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO EM SERVIÇOS DE SAÚDE INTRODUÇÃO A NR32 tem por finalidade estabelecer as diretrizes básicas para a implementação de medidas de proteção à segurança e à saúde dos trabalhadores dos serviços de saúde, bem como daqueles que exercem atividades de promoção e assistência à saúde em geral. Ou seja, o objetivo da NR32 é cuidar da saúde e segurança dos profissionais que cuidam da nossa saúde. Definição de serviços de saúde incorpora o conceito de edificação. Isso significa que todos os trabalhadores que exerçam atividades (relacionadas ou não com a promoção e assistência à saúde) nas edificações destinadas à prestação de assistência à saúde da população estarão também abrangidos pelas determinações da NR32. Por exemplo, o trabalhador que presta serviços de segurança patrimonial em um hospital, ou um servente de pedreiro que realiza um serviço de reforma em uma clínica de oftalmologia. Além da edificação, todas as ações de promoção, recuperação, assistência, pesquisa e ensino em saúde, em qualquer nível de complexidade, também são alcançadas pela expressão “serviços de saúde”. As atividades de pesquisa e ensino em saúde humana compreendem aquelas que envolvem a participação de seres humanos, animais ou o uso de suas amostras biológicas, sob protocolo de experimentação definido e aprovado previamente, em qualquer nível de complexidade. Finalmente, é importante salientar 15 que a NR32não se aplica aos serviços de saúde animal, por exemplo, trabalhadores de hospitais veterinários, mas somente aos serviços de saúde humana. ATIVIDADES ABRANGIDAS PELA NR32 Apresento a seguir uma lista não exaustiva das atividades abrangidas pela NR32 1 . Não incluí nela os serviços óbvios como atendimento hospitalar, atendimento em clínicas especializadas etc., mas sim alguns serviços que poderiam criar alguma dúvida se fossem cobrados na prova: Atividades de consultas e tratamento médico [...] realizadas no domicílio do paciente; Atividades de unidades móveis fluviais equipadas apenas de consultório médico e sem leitos para internação; Serviços de vacinação e imunização humana; Atividades de reprodução humana assistida, quando realizadas em unidades independentes de estabelecimentos hospitalares; Atividades dos laboratórios de anatomia patológica e citológica, tais como: exame de peças histológicas; testes para definição de paternidade; autópsias. Serviços prestados pelos bancos de sangue e demais serviços de hemoterapia; Serviços de litotripsia (tratamento para cálculo renal); Atividades realizadas por nutricionistas; Atividades de psicólogos e de psicanalistas; Atividades de fisioterapeutas realizadas em centros e núcleos de reabilitação física ou realizadas por fisioterapeutas legalmente habilitados exercidas de forma independente; Atividades de terapeutas ocupacionais; Atividades de fonoaudiólogos, ETC. RISCOS BIOLÓGICOS Os riscos biológicos, no âmbito das NRs, incluem-se no conjunto dos riscos ambientais, junto aos riscos físicos e químicos. Nos termos da NR32, risco biológico é a probabilidade de exposição ocupacional a agentes biológicos. Consideram-se agentes biológicos os micro-organismos, geneticamente modificados ou não; as culturas de células; os parasitas; as toxinas e os príons. Esses agentes são capazes de provocar dano à saúde humana, podendo causar infecções, efeitos tóxicos, efeitos alergênicos, doenças autoimunes e a formação de neoplasias e malformações. RISCO BIOLOGICOS AGENTES BIOLÓGICOS Probabilidade de exposição ocupacional a AGENTES BIOLÓGICOS. Microorganismos geneticamente modificados, ou não, Cultura de Células, Parasitas, Toxinas e Prions 16 Micro-organismos são formas de vida de dimensões microscópicas, visíveis individualmente apenas ao microscópio – entre aqueles que causam dano à saúde humana, incluem-se bactérias, fungos, alguns parasitas (protozoários) e vírus. Micro-organismos geneticamente modificados são aqueles que tiveram seu material genético alterado por meio de técnicas da biotecnologia moderna. Culturas de células se referem ao crescimento in vitro de células derivadas de tecidos ou órgãos de organismos multicelulares em meio nutriente e em condições de esterilidade – podem causar danos à saúde humana quando contiverem agentes biológicos patogênicos. Parasitas são organismos que sobrevivem e se desenvolvem às expensas de um hospedeiro, unicelulares ou multicelulares – as parasitoses são causadas por protozoários, helmintos (vermes) e artrópodes (piolhos e pulgas). Toxinas são substâncias químicas sintetizadas por organismos, que causam danos à saúde humana, podendo provocar a morte. Príons são estruturas proteicas alteradas relacionadas como agentes etiológicos (agentes causadores) de doenças degenerativas do sistema nervoso central. Em virtude da degeneração das células nervosas, o tecido cerebral adquire um aspecto esponjoso, e por isso as doenças causadas por príons são conhecidas como encefalopatias espongiformes (como o mal da vaca louca). Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) Todas as empresas que contratem empregados regidos pelo regime celetista devem elaborar e implementar o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO). De forma complementar, além das determinações da NR7, o PCMSO da área de saúde deve contemplar: Reconhecimento e avaliação dos riscos biológicos; Localização das áreas de risco; Lista com o nome dos trabalhadores, sua função, o local em que desempenham suas atividades e o risco a que estão expostos; Vigilância médica dos trabalhadores potencialmente expostos; Programa de vacinação. Comunicação de Acidente do Trabalho (CAT) Em toda ocorrência de acidente envolvendo riscos biológicos, com ou sem afastamento do trabalhador, deve ser emitida a Comunicação de Acidente de Trabalho – CAT (vejam bem: a letra “A” da sigla CAT se refere à palavra Acidente, e, não, Afastamento). Os acidentes com material biológico devem ser considerados emergências, tendo em vista que os resultados do tratamento profilático são mais eficientes quando o atendimento e a adoção das medidas pertinentes ocorrem no menor prazo possível após o acidente. Importante sempre lembrar que: 17 A CAT deve ser emitidamesmo que o trabalhador não tenha sido afastado; Caso haja mais de um trabalhador acidentado, deverá ser emitida uma CAT para cada um deles. Caso a empresa não faça a comunicação do acidente do trabalho, poderão fazê-lo: O próprio acidentado; Os dependentes do acidentado; A entidade sindical competente; O médico que o assistiu ou qualquer autoridade pública. Nos casos acima: Não prevalecerá o prazo de comunicação; Não eximem a empresa de responsabilidade pela não emissão da CAT. Plano de Prevenção de Riscos de Acidentes com Materiais Perfurocortantes A Portaria 1.748, de 30.06.2011, incluiu, na NR32, o Anexo III que instituiu a obrigatoriedade de elaboração de um Plano de Prevenção de Riscos de Acidentes com Materiais Perfurocortantes que tenham probabilidade de exposição a agentes biológicos. Perfurocortantes são materiais que têm ponta ou gume, e, como o próprio nome diz, podem perfurar ou cortar. Além do ferimento em si, o acidente de trabalho com um perfurocortante envolve também o risco de infecção com um patógeno de transmissão sanguínea, por exemplo, os vírus da hepatite B ou C ou ainda o vírus da AIDS. A elaboração e implementação desse plano possibilitam tornar mais seguro o ambiente de trabalho não só dos profissionais da saúde, mas também de todos os trabalhadores que atuam nesses serviços. Dentre os principais perfurocortantes envolvidos em acidentes percutâneos (por meio da pele) destacam-se: Seringas descartáveis/agulhas hipodérmicas; Agulhas de sutura; Escalpes; Lâminas de bisturi; Estiletes de cateteres intravenosos; Agulhas para coleta de sangue. Vacinação A todo trabalhador dos serviços de saúde deve ser fornecido, gratuitamente, programa de imunização ativa contra tétano, difteria, hepatite B. Outras vacinas também podem ser indicadas no PCMSO se for constatado o risco de exposição dos trabalhadores a outros agentes para os quais existam vacinas disponíveis. Sempre que houver vacinas eficazes contra outros agentes biológicos a que os trabalhadores estão ou poderão estar expostos, o empregador também deverá fornecê-las gratuitamente. DOS RISCOS QUÍMICOS Todo recipiente contendo produto químico manipulado ou fracionado deve ser identificado, de forma legível, por etiqueta com o nome do produto, composição química, sua concentração, data de envase e de validade e nome do responsável pela manipulação ou fracionamento.17 18 Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) No PPRA dos serviços de saúde deve constar uminventário de todos os produtos químicos, inclusive intermediários e resíduos, com indicação daqueles que impliquem riscos à segurança e saúde do trabalhador. Nesse inventário devem estar incluídas no mínimo as seguintes informações desses produtos: Características e formas de utilização; Riscos à segurança e saúde do trabalhador e ao meio ambiente, considerando as formas de utilização; Medidas de proteção coletiva, individual e controle médico da saúde dos trabalhadores; Condições e local de estocagem; Procedimentos em situações de emergência.
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