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CARDIOPATIA ISQUÊMICA A cardiopatia isquêmica é responsável por mais de 400.00 mortes anualmente nos Estados Unidos e cerca de sete milhões de mortes em países desenvolvidos. São múltiplas as síndromes relacionadas à isquemia miocárdica que consiste na incompatibilidade entre a demanda metabólica e o suprimento vascular de sangue oxigenado para o musculo cardíaco, ou seja, o musculo recebe muito menos sangue do que necessário para o funcionamento adequado do metabolismo. Os efeitos dessa cardiopatia são insuficiência de oxigênio gerando um quadro de hipóxia e até de anóxia, o suprimento inadequado de nutrientes e diminuição da remoção de metabólitos devido aos problemas gerados na circulação sistêmica por conta da insuficiência cardíaca. A principal causa da ocorrência de isquemia relaciona-se com o aparecimento de placas aterosclerótica fixa com a formação de trombos sobrepostos a placa fixa e com ou não vasoespasmos. O estreitamento dos vasos em virtude da formação da placa aterosclerótica pode afetar qualquer uma das principais artérias coronárias, seja a artéria anterior descendente esquerda, a artéria circunflexa esquerda e a artéria coronária direita, na maioria dos casos, a placa fixa deposita-se no inicio da artéria anterior descendente esquerda e da artéria circunflexa esquerda, e em toda a artéria coronária direita. A aterosclerose causa o estreitamente progressivo do lúmen das artérias coronárias afetadas que dependendo do grau de oclusão promovem consequências clínicas desfavoráveis: quando a oclusão chega até 70% do lúmen, não há o aparecimento de sintomas clínicos, quando ocorre a oclusão de mais de 70% do lúmen do vaso, apresenta-se um quadro de estenose crítica que significa o estreitamento anormal do vaso com dor torácica devido ao aumento da demanda como na execução de exercícios físicos de determinadas intensidades, por isso diz-se que existe uma angina estável (angina significa literalmente “dor no peito” provocada por um quadro de isquemia do miocárdio). E por fim, em um estado crítico em que a estenose critica atinge até 90% do lúmen do vaso produz dores no peito até em casos de repouso em um quadro denominado de angina instável (dor mesmo em repouso, ou sem aumento da demanda de sangue e nutrientes pelo musculo do coração). É importante destacar que caso essa obstrução do vaso ou estenose crítica ocorra lentamente durante anos em uma ou mais coronárias, os outros vasos coronarianos conseguem se adaptar a fim de compensar aquele vaso obstruído em um mecanismo denominado de perfusão colateral. Caso a oclusão ocorra de forma aguda, os outros vasos não possuem tempo de adaptação e isso leva a ocorrência do infarto agudo do miocárdio de maneira rápida. Além do mecanismo reduzido do fluxo coronariano, o aumento da demanda miocárdica em casos de esforço físico, por exemplo, levam a um quadro de hipertrofia e taquicardia. A incapacidade muscular do coração prejudica a distribuição de sangue, nutrientes e remoção de metabólitos que podem provocar anemia, doença pulmonar, e envenenamento por CO ou tabagismo. São inúmeros os mecanismos que contribuem para o desenvolvimento e as consequências da aterosclerose coronariana: a inflamação desempenha uma função essencial em todos os estágios da aterosclerose a partir do recrutamento de células de defesa circulantes para tentar combater a placa aterosclerótica fixa ao endotélio a partir da ação de macrófagos e linfócitos T e induzem a produção de MEC pelas células musculares lisas a fim de envolver a placa aterosclerótica internamente, limitando por um processo de fibrose e até necrose (como um processo de neoplasia) até ocorrer, nos estágios finais, a desestabilização da placa por secreções de substancias como metaloproteínas pelos macrófagos. A trombose decorrente do rompimento da placa aterosclerótica provocando uma lesão endotelial pode levar a formação de trombos sobre essa placa formada causando maior oclusão dos vasos das coronárias e até provocando pequenos infartos nas zonas mais internas do coração (infarto subendocárdico) em um quadro de angina instável. Além disso, trombos murais podem formar êmbolos caso não diminuam e se soltem das paredes endoteliais e esses êmbolos recém-formados podem obstruir vasos coronarianos e prejudicar a circulação, levando até a um infarto miocárdico maciço. A vasoconstrição pode ser um agravamento importante já que alterações no lúmen dos vasos e seu consequente estreitamento promovem o aumento da tensão de cisalhamento ou choque mecânico com o endotélio o que pode potencializar a ruptura da placa aterosclerótica e formação de trombos devido à lesão endotelial. O rompimento ou alteração na placa aterosclerótica é o principal fator que leva a uma síndrome isquêmica ou síndrome coronariana aguda. Quando uma placa oclusiva se rompe tanto por fatores intrínsecos como secreções de macrófagos quanto por fatores extrínsecos como o aumento da pressão arterial ou volume sanguíneo que promovem o aumento do estresse mecânico ou tensão de cisalhamento, ocorre uma lesão endotelial que expõe os agentes trombogênicos do subendotélio e inicia rapidamente um quadro de trombose. As placas que contêm núcleos ateromatosos grandes ou são cobertas por cápsulas fibrosas finas têm maior propensão à ruptura e são, por essa razão, denominadas “vulneráveis”. As fissuras frequentemente ocorrem na junção da cápsula fibrosa com o segmento arterial adjacente normal e livre de placas, onde os estresses mecânicos são maiores e a cápsula fibrosa é mais fina. As cápsulas fibrosas também estão em constante remodelamento; o equilíbrio total entre a síntese e a degradação de colágeno determina a resistência mecânica e a estabilidade da placa. O colágeno é produzido pelas células musculares lisas e degradado pela ação de metaloproteases elaboradas por macrófagos. Assim sendo, as lesões ateroscleróticas com escassez de células musculares lisas ou com grande número de células da inflamação são mais suscetíveis à ruptura. Vale ressaltar que as estatinas (inibidores da hidroximetilglutaril CoA redutase, uma enzima-chave da síntese do colesterol), além de reduzir os níveis de colesterol, podem trazer benefício adicional para os pacientes com doença arterial coronariana e cardiopatia isquêmica ao diminuir a inflamação nas placas e aumentar sua estabilidade. As influências extrínsecas à placa também são importantes. A estimulação adrenérgica pode aumentar o estresse físico aplicado sobre a placa ao causar hipertensão ou vasoespasmos local. De fato, o aumento da estimulação adrenérgica associada ao despertar e ao levantar pode ser o fundamento da maior incidência de IAM entre as seis horas da manhã e o meio-dia. O estresse emocional intenso também provoca estimulação adrenérgica e explica a associação entre catástrofes naturais, como terremotos e inundações, e ondas subsequentes de IM em indivíduos suscetíveis. Na maioria dos casos, a lesão “culpada” vulnerável dos pacientes que sofrem um IM não estava criticamente estenosada ou não era sintomática antes de sua ruptura. Conforme já foi dito, os sintomas da angina normalmente ocorrem quando as lesões são fixas e obstruem mais de 70% do lúmen de um vaso. Estudos clínicos e patológicos mostraram que dois terços das placas rompidas tinham uma obstrução de 50% ou menos antes da ruptura e que 85% tinham obstrução inicial de 70% ou menos. Assim, a conclusão inquietante é que um número elevado de adultos assintomáticos corre risco significativo de sofrer um evento coronariano catastrófico. No momento, é impossível prever a ruptura de uma placa em determinado paciente. A ruptura de uma placa e a trombose não oclusiva resultante também são complicações comuns, repetitivas e muitas vezes clinicamente silenciosas dos ateromas. A cicatrização de tal ruptura subclínica da placa e a trombose sobrejacente é um mecanismo importantepor meio do qual as lesões ateroscleróticas crescem progressivamente. Alguma síndromes são comuns de estarem associadas ao desenvolvimento do processo isquêmico de redução do aporte sanguíneo para as células musculares do coração, essa síndromes denominadas de síndromes isquêmicas são consequências da isquemia nos miócitos entre elas a Angina pectoris, o Infarto Agudo do Miocárdio, Morte Súbita Cardíaca (MSC) e Cardiopatia Isquêmica Crônica. 1. ANGINA PECTORIS A angina pectoris é uma dor torácica intermitente causa de uma isquemia miocárdica transitória e reversível que ocorre quando a demanda cardíaca excede o suprimento vascular. Esse quadro ocorre quando a duração e a gravidade da isquemia não são suficientes para causar infarto e a dor é atribuída à liberação de adenosina, bradicinina e outras moléculas que estimulam vias aferentes autônomas tanto simpáticas e como vagais (parassimpáticas). Pode ser caracterizada como estável ou instável, e geralmente, a isquemia silenciosa, ou seja, sem a presença de angina é comum na neuropatia diabética e em pacientes geriátricos. Como já dito antes, a maioria dos casos de ruptura da placa aterosclerótica e promoção do infarto do miocárdio ocorrem em oclusões de cerca de 50%, fato que corresponde isquemias silenciosas e assintomáticas sendo impossível prever uma ruptura de placa e a ocorrência do IM já que nem sempre a angina ou dor precordial/subesternal paroxística como um aperto ou facada está presente. O sinal de Levine é fundamental para o diagnostico de isquemia miocárdica com a presença de angina em que se pede ao paciente que coloque o punho cerrado sobre o tórax, ao se queixar de dor torácica. Característico da isquemia miocárdica. Sinal patognomônico de angina. A dor torácica de origem cardíaca é descrita geralmente como opressão, queimação ou mal-estar torácico mal definido. Para auxiliar na caracterização da dor, deve-se pedir para o paciente: “Mostre com a mão onde é o local da dor”. O Sinal de Levine acontece caso o paciente feche a mão e coloque sobre a área esternal imprecisamente. Esse sinal é altamente sugestivo de dor de origem isquêmica, ou seja, tem uma especificidade alta. Contudo, a sensibilidade é baixa, portanto se não estiver presente, não afasta dor anginosa. Já a dor pontual, bem localizada, súbita e de curtíssima duração geralmente não se relaciona com doença coronariana. Quanto maior a área demonstrada, maior a chance de ser isquemia. A. ANGINA ESTÁVEL A angina estável ocorre quando o estreitamento do vaso ou estenose é maior ou igual a 70% do lúmen sendo que a dor ocorre geralmente com a realização de esforço físico. A dor característica consiste na sensação de aperto subesternal, com irradiação para o braço esquerdo ou pela mandíbula esquerda que consiste em uma dor referida, ou seja, que é transmitida para aquele local, mas não ocorre exatamente ali, como se fosse uma dor visceral. Essa dor geralmente dura entre 2 a 15 minutos e é resolvida com o repouso que irá reduzir a demanda de sangue do coração e aliviada pelo uso de fármacos como a nitroglicerina que é um importante vasodilatador que aumenta a perfusão coronariana. B. ANGINA DE PRINZMETAL A angina de prinzmetal ocorre devido a vasoespasmos em locais de placa aterosclerótica ou próximo delas, onde ocorre a diminuição do lúmen do vaso devido ao espasmo de contração. Provocando uma dor em repouso imediata que pode até interferir em outros vasos e no funcionamento deles ainda que ocorram próximos as artérias comprometidas pela placa aterosclerótica. Os sintomas não estão relacionados ao esforço e esse tipo de angina responde rapidamente ao uso de fármacos vasodilatadores como nitroglicerina ou fármacos bloqueadores dos canais de cálcio. C. ANGINA INSTÁVEL A angina instável ocorre quando a oclusão do lúmen chega a ser superior que 90% prejudicando de forma crítica a circulação coronariana. A angina instável é um padrão de dor que ocorre com quantidades cada vez menores de esforço e até em repouso frequentemente prolongada causada pela ruptura da aterosclerose e na maioria dos casos sem obstrução completa dos vasos. Quando ocorre a angina instável devido ao rompimento da placa aterosclerótica seguida da formação do trombo e obstrução completa ou não do vaso é um prenuncio da ocorrência de infarto do miocárdio (principio de infarto) em que aproximadamente metade desses pacientes realmente tem necrose miocárdica. 2. INFARTO DO MIOCÁRDIO O infarto do miocárdio, também conhecido como ataque cardíaco consiste na morte do músculo cardíaco como resultado de um processo isquêmico grave e prolongado gerando um quadro de necrose dos miócitos. Cerca de 1,5 milhão de pessoas nos Estados Unidos sofrem de IM anualmente, cerca de 10% dos infartos do miocárdio ocorrem em pessoas com menos de 40 anos e 45% ocorrem em pessoas com menos de 65 anos, negros e brancos são igualmente afetados e homens são mais afetados que mulheres na maioria dos casos. O inicio de um processo de infarto começa devido a uma obstrução arterial coronariana em que a placa formado pela aterosclerose se rompe devido a inúmeros fatores tanto intrínseco como excesso de células imunológicas e pouca quantidade de célula muscular lisa produtora de colágeno ou por fatores extrínsecos como aumento da pressão arterial e choques de cisalhamento ou estresse mecânico entre o sangue e o endotélio provocado pelo aumento do fluxo sanguíneo ou vasoespasmos. Assim sendo, o rompimento da placa promove a fissura do endotélio expondo em contato com o sangue os tecidos subendoteliais e a musculatura lisa que liberam fatores trombóticos e de ativação plaquetária que promove vasoespasmos a fim de diminuir o fluxo sanguíneo na região lesionado e para controlar a hemorragia endotelial, associado à rede de fibrinas formadas pelo sistema fibrinolítico e células de Von Wilebrand formando o trombo sobreposto a ruptura da placa aterosclerótica. Em questão de minutos, essa trombose aguda pode evoluir rapidamente e obstruir totalmente o lúmen das coronárias. OBS: a oclusão arterial coronariana e isquemia podem ocorrer sem a presença de aterosclerose e trombose coronariana detectável. Fatores como desordens de pequenos vasos intramurais coronarianos causados por vasculites, anormalidades, doença falciforme, deposição de amiloide nas paredes vasculares e dissecção vascular podem gerar um quadro isquêmico obstrutivo. Outros casos como vasoespasmos podem provocar o IM sem que ocorra a oclusão coronariana e formação trombótica êmbolos provenientes de outras regiões também são causas de IM. O coração reage rapidamente em resposta inicial ao problema de isquemia devido a obstrução das artérias coronárias. A falta de sangue para os miócitos, assim como a diminuição do aporte de oxigênio (hipóxia) leva a uma interrupção do processo de respiração aeróbica já que o principal reagente não está suficiente no local. A interrupção da respiração aeróbica promove uma depleção de ATP e leva ao acúmulo de substancias toxicas como o ácido lático. A consequência funcional rápida dessa disfunção é a perda de contratilidade dos miócitos, minutos após o início do processo isquêmico. Outras alterações estruturais que englobam a depleção do glicogênio, relaxamento das miofibrilas e a tumefação celular e mitocondrial também se tornam evidentes e contribuem para o agravamento do caso. Essas alterações iniciais são totalmente reversíveis e passiveis de resolução caso atendidas rapidamente. Caso a isquemia grave dure entre 20 a 40 minutos, o dano provocado nos miócitos passa a ser irreversível. A interrupção do fluxo por mais tempo promove lesão vascular e trombose na microvasculatura (2 a 4 horas). Já a necrose é geralmentecompleta dentro de 6 horas de isquemia severa. Ainda que as lesões reversíveis sejam recuperadas a partir de um processo de reperfusão sanguínea, o coração demora um tempo para se recuperar totalmente devido as transformações bioquímicas e contrateis provocadas pelo processo de isquemia grave. O coração ainda não recuperado é denominado de miocárdio atordoado que pode levar a uma IC transitória, mas reversível. A isquemia do miocárdio contribui para o aparecimento de inúmeras arritmias devido aos problemas provocados pela morte dos miócitos e dificuldades no sistema de condução célula a célula como ocorre no coração. A fibrilação ventricular é o principal tipo de arritmia cardíaca, sendo fatal e presente em 80% a 90% dos casos de isquemia grave do miocárdio. É importante salientar que a necrose do miocárdio após determinada quantidade de horas sem intervenção no quadro, inicia-se na região subendocárdica e progride até as regiões epicárdicas do coração. É como se a necrose ocorresse de dentro para fora, já que as regiões mais distantes das artérias coronárias são as últimas a receberem aporte sanguíneo e portanto, as primeiras a serem afetadas em caso de obstrução do fluxo. Em resumo, nos primeiros minutos ocorre a depleção do ATP e acúmulo de metabólitos tóxicos nos miócitos, levando a perda de contratilidade nos primeiros dois minutos após a isquemia severa. Cerca de 10 a 40 minutos após a isquemia, ocorre uma perda de ATP gradual de até 50% e as lesões miocárdicas tornam-se irreversíveis. Após mais de 2 horas da isquemia, ocorre lesões na microvasculatura e formação de trombos, e em até 6 horas ocorre a necrose do miocárdio. A localização precisa, o tamanho e as características morfológicas especificas dependem de inúmeros fatores para a descrição do IM: o local, a intensidade e a taxa de desenvolvimento das obstruções ateroscleróticas nas artérias coronárias devido a aterosclerose e trombose, o tamanho do leito vascular que é irrigado pelos vasos que foram obstruídos, a duração da oclusao, as necessidades metabólicas do miocárdio, quanto maior a necessidade, maior será o dano causado, a quantidade de vasos sanguíneos colaterais, a presença, local e intensidade de espasmo arterial coronariano e outros fatores como FC, ritmo cardíaco e oxigenação sanguínea. A oclusão do miocárdio pode afetar diferentes tipos de artérias coronárias. Na maioria dos casos (40% a 50%) a artéria descendente anterior esquerda é afetada, essa artéria envolve a parede anterior do ventrículo esquerdo próximo ao ápice, a parte anterior do septo ventricular e o ápice de modo circular. Outra artéria bastante afetada é a artéria coronária direita (ACD) em 30% a 40% dos casos, essa artéria envolve a parede inferior e posterior do ventrículo esquerdo, a parte posterior do septo ventricular e a parede livre inferior/posterior do ventrículo direito em alguns casos. Outra artéria afetada é artéria circunflexa esquerda (CE) que envolve a parede lateral do ventrículo esquerdo, com exceção do ápice do coração. A artéria descendente posterior irriga as regiões do septo e parte posterior do ventrículo esquerdo, e é originada ou pela ACD ou pela CE. Quando originada pela ACD, denomina-se o coração com vaso dominante direito, quando origina pela CE o coração é chamado de coração vaso dominante esquerdo. E por fim, quando a obstrução é encontrada na artéria coronária esquerda é denominada de “fazedora de viúvas” já que uma grande área do coração é irrigada por essa artéria, e a lesão nela é potencialmente fatal. Com base no tamanho do vaso envolvido e na circulação colateral (aquela que progride em pequenos vasos ou ramificações que não sejam as principais artérias coronárias), o infarto pode se subdividir em três padrões distintos: o primeiro padrão é o INFARTO TRASMURAL ou SUBEPICÁRDICO que envolve toda a porção ventricular e são causados pela oclusão de vasos epicárdicos geralmente de uma única artéria coronária devido a aterosclerose e a alteração aguda de placa com trombose, no ECG mostra elevações no segmento ST. Vale lembrar que para atingir o epicárdio, já deve ter ocorrido todo comprometimento das porções mais internas como o endocárdio e o pericárdio. Outro padrão de infarto é INFARTO SUBENDOCÁRDICO que limita-se de 20% a 30% da parede interna do ventrículo, podendo envolver mais territórios do que apenas aquele perfundido por uma única coronária. Como já foi mencionado, a região subendocárdica é mais vulnerável à hipoperfusão e à hipóxia. Assim, na presença de doença arterial coronariana grave, diminuições transitórias do fornecimento de oxigênio (como resultado de hipotensão, anemia ou pneumonia) ou aumentos da demanda de oxigênio (como ocorre na taquicardia e na hipertensão) podem provocar lesão isquêmica subendocárdica. Esse padrão também pode ocorrer quando um trombo oclusivo sofre lise antes que ocorra um infarto de espessura total. O último padrão de infarto classificado principalmente pela área de abrangência é o INFARTO MICROSCÓPICO que ocorre quando há oclusões de pequenos vasos e podem não apresentar nenhuma alteração no ECG. Ocorrem em casos de microembolização de pequenos vasos, vasculite ou espasmo vascular decorrente da elevação de catecolaminas (adrenalina por exemplo). Portanto, os padrões de infarto são determinados tanto pela área de abrangência da isquemia seguida de necrose, quanto pelo tempo de oclusão. Os infartos transmurais se desenvolvem a partir de infartos não transmurais que iniciam o comprometimento a partir do tecido subendocárdico, até atingir a camada epicárdica do coração e comprometer todo o ventrículo. Todo tipo de infarto, ocorre inicialmente uma isquemia onde a porção subendocárdica é afetada primeiramente, caracterizando uma lesão subendocárdica, caso essa obstrução continue, a necrose passa expandir para as regiões subepicárdicas caracterizando um infarto transmural de toda a parede ventricular e provocando no ECG uma elevação no segmento ST. Já na lesão subendocárdica, ocorre um abaixamento do segmento ST no ECG. 3. MORFOLOGIA Quase todos os infartos transmurais (que envolvem 50% ou mais da espessura do ventrículo) afetam pelo menos uma parte do ventrículo esquerdo e/ou do septo interventricular. Aproximadamente 15-30% dos IM que afetam a parede posterior ou posterosseptal também se estendem até o ventrículo direito. Os infartos isolados do ventrículo direito ocorrem em apenas 1-3% dos casos. Mesmo nos infartos transmurais, observa-se uma margem estreita (de aproximadamente 0,1 mm) de miocárdio subendocárdico viável que é preservada pela difusão de oxigênio e nutrientes do lúmen ventricular. O IM provoca o aumento da quantidade de lesões ao longo do tempo e conforme ocorre o processo de infarto, inicialmente ocorre necrose por coagulação, inflamação aguda, inflamação crônica e fibrose. Não necessariamente todas as alterações ocasionadas nas células são vistas macroscopicamente principalmente nas primeiras 12 horas iniciais ao infarto do miocárdio. Existem alguns métodos alternativos que permitem a visualização de uma área de necrose isquêmica como o uso de corantes específicos como o CLORETO DE TRIFENILTETRAZÓLIO em que as áreas onde ocorreu o IM ficam brancas e brilhantes e não se coram como o resto do coração devido ao vazamento de enzimas especificas por conta do processo de necrose, e algumas cicatrizes brilhantes podem indicar a presença de infartos antigos. Ainda macroscopicamente, após cerca de 12 a 24 horas do infarto, começa a aparecer uma coloração vermelho azulada devido ao sangue preso dentro do coração já que este parou de funcionar. Posteriormente, essa região passa a ter uma cor amarela-acastanhada devido a ação de macrófagosque realizarão a fagocitose das células mortas locais e cerca de 10 a 14 dias do infarto é envolvida por tecido de granulação hiperêmico altamente vascularizado até atingir um estado de fibrose do tecido. Microscopicamente é possível identificar alterações na forma das miofibrilas que se tornam “miofibrilas onduladas” e não de maneira reta e organizada. A partir da morte dos miócitos e desregulação das miofibrilas, é possível identificar a presença de fagócitos para realizar a fagocitose das células mortas, formação de um tecido de granulação até a fibrose colagenosa densa para formar a cicatriz. O miocárdio necrosado provoca inflamação aguda (normalmente mais intensa 1-3 dias após o infarto), seguida por uma onda de macrófagos que removem os miócitos necrosados e os fragmentos de neutrófilos (mais pronunciada 5-10 dias após o IM). A zona infartada é substituída progressivamente por tecido de granulação (mais evidente 1-2 semanas após o IM), que, por sua vez, forma a base provisória sobre a qual se assenta a cicatriz colagenosa densa. Na maioria dos casos, a cicatrização está bem avançada perto do final da sexta semana, mas a eficiência do reparo depende do tamanho da lesão original. A cicatrização requer a migração de células inflamatórias e o crescimento de novos vasos a partir das margens do infarto. Assim, o IM cicatriza das bordas para o centro, e um infarto grande pode não cicatrizar tão rápido ou tão bem quanto um infarto pequeno. Assim que o IM estiver totalmente cicatrizado, será impossível determinar sua idade: a cicatriz fibrosa de um IM ocorrido há oito semanas é semelhante à cicatriz de um com 10 anos de idade. 4. REPERFUSÃO A reperfusão é o restabelecimento do fluxo sanguíneo para as áreas que sofreram isquemia e provocou lesões reversíveis devido ao pouco tempo de ocorrência do infarto. O restabelecimento sanguíneo pode retomado a partir de diversos mecanismos como trombólise que é a dissolução do trombo devido a ação de agentes fibrinolíticos, por cirurgia de reparação vascular ou angioplastia. Nem sempre a reperfusão é benéfica para o coração, podendo ser maléfica e provocar uma lesão denominada de “lesão por reperfusão” e inicialmente as células contrateis permanecem fracas e o “coração atordoado”. São inúmeros os fatores e mecanismos que contribuem para provocar as lesões por reperfusão. A primeira delas é que durante a isquemia, as mitocôndrias sofrem uma alteração na permeabilidade das membranas permitindo a entrada de proteínas na organela que irá levar a uma tumefação mitocondrial e consequentemente romper a membrana externa mitocondrial promovendo a apoptose. Outro fator é que durante a isquemia, os níveis de cálcio intracelular estão elevados devido aos distúrbios na circulação e lesões no sarcolema, os miócitos tornam-se hipercontráteis quando ocorre a reperfusão causando danos no citoesqueleto e morte celular. Além disso, os radicais livres como OH, O2-, H2O2 são produzidos logo após a reperfusão e promovem lesões nas membranas (fosfolipídeos) e proteínas celulares. A agregação de leucócitos pode contribuir no processo de obstrução da microvasculatura e promover mesmo após a reperfusão, um fenômeno denominado de “não refluxo”, além de produzir proteases e elastases que contribuem para a morte celular. A agregação de plaquetas e do sistema complemento contribuem para o fenômeno de não refluxo já que obstruem os vasos da microcirculação e o sistema complemento pode provocar lesões endoteliais assim como os EROS. Macroscopicamente, geralmente infartos seguidos de um processo de reperfusão apresentam quadros de hemorragia devido ao extravasamento do sangue por conta da lesão vascular, é possível identificar elevadas áreas com processos hemorrágicos. Já em uma visão microscópica, a reperfusão promove a hipercontratura dos miócitos, alterando a conformação e organização das miofibrilas de actina e miosina nos miócitos que sofreram necrose. Portanto, a reperfusão pode salvar os miócitos com lesões reversíveis e alteram a conformação dos miócitos que sofreram lesões irreversíveis. 5. MARCADORES DE LESÃO A avaliação laboratorial de um IM envolve a detecção de moléculas que extravasam durante a lesão do miocárdio e consequentemente dos miócitos. Essas moléculas são utilizadas como biomarcadores do infarto do miocárdio. As principais moléculas envolvidas são as troponinas cardíacas T e I (TnT e TnI), a creatina cinase (CK), mais especificamente a CK-MB e a lactato desidrogenase. A CK-MB possui alta especificidade e sensibilidade para o infarto do miocárdio. A CK-MB continua a ser um marcador valioso de lesão miocárdica, perdendo apenas para as troponinas específicas do coração. A atividade da CK total não é um marcador confiável de lesão cardíaca, já que várias isoformas dessa enzima também são encontradas no encéfalo, no miocárdio e no músculo esquelético. Contudo, a isoforma CK-MB — que provém principalmente do miocárdio, mas que também está presente em níveis baixos no músculo esquelético — é o indicador mais específico de lesão cardíaca. A atividade da CK-MB começa a se elevar 2-4 horas após o IM, atinge um pico 24-48 horas depois e volta ao normal em aproximadamente 72 horas. A TnI e a TnT normalmente não são encontradas na circulação. Contudo, quando ocorre um IAM, as duas são detectáveis 2-4 horas após o infarto, e seus níveis atingem valores máximos em 48 horas e permanecem elevados durante 7-10 dias. Embora a troponina cardíaca e a CK-MB sejam marcadores igualmente sensíveis dos estágios iniciais de um IM, a persistência de níveis elevados de troponina por aproximadamente 10 dias permite o diagnóstico de um IAM muito tempo depois de os níveis de CK-MB terem retornado ao normal. Quando a reperfusão ocorre, os níveis de troponina e CK-MB podem atingir valores séricos máximos mais cedo por causa da remoção mais rápida da enzima do tecido necrosado. 6. COMPLICAÇÕES DO INFARTO DO MIOCÁRDIO Quando diagnosticado a tempo e com o tratamento hospitalar adequado, a morte por infarto do miocárdio é relativamente baixa, cerca de apenas 7%. No entanto, essa cardiopatia coronariana quando não tratada a tempo ou com tratamento hospitalar eficiente e rápido, pode causar óbito. A maioria das mortes ocorrem fora do âmbito hospitalar, e cresce principalmente em países em desenvolvimento com pouca disponibilidade de hospitais para o tratamento da cardiopatia. A. DISFUNÇÃO CONTRÁTIL Disfunção (perda de função) contrátil é a primeira e mais frequente complicação do IM, principalmente em ao se pensar no ventrículo esquerdo de modo proporcional ao volume da lesão. A “falência da bomba” ou choque cardiogênico ocorre em aproximadamente 10% dos pacientes com IM transmural e normalmente está ligada a infartos que causam lesão em 40% ou mais do VE. B. DISFUNÇÃO DOS MUSCÚLOS PAPILARES Os músculos papilares são aqueles responsáveis por auxiliar na abertura e fechamento das valvas cardíacas e direcionar o fluxo sanguíneo durante o ciclo. Apesar de pouco comum no IM, a disfunção dos músculos papilares levam a um quadro de regurgitação mitral pós-infarto e posteriormente a fibrose e encurtamento dos músculos ou a dilatação ventricular global também pode causar insuficiência da valva atrioventricular esquerda. C. INFARTO DO VENTRÍCULO ESQUERDO O infarto do ventrículo direito é pouco comum em IM e é especificamente resultado de cardiopatias ventricular esquerda. Na maioria dos casos, a insuficiência cardíaca direita leva a um quadro de congestão da circulação venosa e hipotensão arterial sistêmica. Lembrando que o retorno venoso é um dos fatores de controle da PAM. D. RUPTURA DO MIOCÁRDIO A ruptura do miocárdio não é muito comum nos casos de IM, masquando ocorre é potencialmente fatal. Ruptura da parede do ventrículo esquerdo causa hemopericárdio (quando o pericárdio fica cheio de sangue) fatal, assim como o tamponamento cardíaco. A ruptura do septo ventricular promove um DSV com shunt de esquerda para direita e a ruptura dos músculos papilares promove uma regurgitação mitral, alterando todo o fluxo do sangue e o ciclo cardíaco. Os fatores de risco para a ruptura da parede livre englobam idade acima de 60 anos, infartos na parede anterior ou lateral, sexo feminino, ausência de hipertrofia do ventrículo esquerdo e primeiro IM (já que a cicatrização associada a IMs prévios tende a limitar o risco de laceração do miocárdio). E. ARRITMIAS Os IMs causam irritabilidade miocárdica e distúrbios da condução responsáveis por provocar a morte súbita. Aproximadamente 90% dos pacientes desenvolvem alguma forma de distúrbio do ritmo, e a incidência é maior entre os pacientes que sofrem um infarto com elevação do ST do que entre os que sofrem um infarto sem elevação do ST. As arritmias associadas aos IMs englobam o bloqueio cardíaco de diferentes graus (inclusive assistolia), a bradicardia, as taquiarritmias supraventriculares, as contrações ventriculares prematuras ou a taquicardia ventricular e a fibrilação ventricular. O risco de arritmias graves (p. ex., fibrilação ventricular) é maior na primeira hora e declina nas horas seguintes. F. PERICARDITE Os IMs transmurais podem provocar pericardite fibrino- hemorrágica; essa pericardite é uma manifestação epicárdica da inflamação miocárdica subjacente. A pericardite manifesta-se como dor torácica anterior e atrito pericárdico; normalmente surge 2-3 dias após o infarto e desaparece gradualmente nos dias que se seguem. Os infartos extensos ou a inflamação pericárdica grave às vezes podem provocar derrames grandes ou se organizar e formar aderências densas que, com o tempo, manifestam-se como lesão constritiva. G. DILATAÇÃO DAS CÂMARA Por causa do enfraquecimento do músculo necrosado, pode haver estiramento, afinamento e dilatação da região infartada (sobretudo nos infartos anterosseptais). H. TROMBO MURAL Em qualquer infarto, a combinação de contratilidade miocárdica reduzida (que causa estase) com lesão endocárdica (que produz uma superfície trombogênica) pode favorecer o aparecimento de trombose mural (que, com o tempo, conduz ao tromboembolismo do lado esquerdo. I. ANEURISMA VENTRICULAR Uma complicação tardia, os aneurismas do ventrículo geralmente resultam de infarto transmural anterosseptal grande que, ao cicatrizar, forma uma parede fina de tecido cicatricial. Embora os aneurismas ventriculares originem com frequência trombos murais, arritmias e insuficiência cardíaca, eles não se rompem. O risco de complicações e o prognóstico após o IM dependem do tamanho, do local e do tipo do infarto (subendocárdico versus transmural). Assim, os infartos transmurais grandes estão associados a uma probabilidade maior de choque cardiogênico, arritmias e ICC tardia, e os pacientes com IMs transmurais anteriores correm risco maior de ruptura da parede livre, expansão do infarto e formação de trombos murais e aneurismas. Já os infartos transmurais posteriores têm maior propensão a apresentar como complicações bloqueios de condução graves, envolvimento do ventrículo direito ou ambos; quando DSVs de início agudo surgem nessa área, seu tratamento é difícil. Em geral, os pacientes com infarto anterior têm evolução clínica muito pior do que aqueles com infarto posterior. Nos infartos subendocárdicos, os trombos podem se formar na superfície do endocárdio, mas raramente ocorre pericardite, ruptura e aneurismas. Além da cicatrização já mencionada, o miocárdio viável restante tenta compensar a perda de massa contrátil. As regiões não infartadas sofrem hipertrofia e dilatação; juntamente com a cicatrização e o adelgaçamento das zonas infartadas, as alterações são coletivamente denominadas remodelamento ventricular. A hipertrofia compensatória inicial do miocárdio não infartado é benéfica para a hemodinâmica. No entanto, o efeito adaptativo do remodelamento poderá ser sobrepujado e o funcionamento ventricular poderá declinar se houver expansão do infarto e formação de aneurisma ventricular. O prognóstico a longo prazo após um IM depende de vários fatores, dos quais os mais importantes são o funcionamento do ventrículo esquerdo e a gravidade do estreitamento aterosclerótico dos vasos que irrigam o miocárdio viável remanescente. A taxa de mortalidade global dentro do primeiro ano é de cerca de 30% e inclui aqueles que morrem antes de chegar a um hospital. Depois do primeiro ano, a taxa de mortalidade anual é de 3-4%. O mais importante no tratamento do infarto é a desobstrução da artéria entupida. Existem duas formas de realizar esta desobstrução: angioplastia coronária (desobstrução mecânica) ou fibrinolíticos (desobstrução com medicamentos). No primeiro, um cateter-balão é inserido por meio de uma punção arterial (no punho ou virilha) e direcionado até o local do entupimento da artéria. Esse cateter é inflado para que seja aberta a artéria. Em seguida é colocado um stent (um dispositivo semelhante a uma mola), mantendo a artéria aberta e normalizando a circulação de sangue. Já os fibrinolíticos são medicamentos para dissolução do coágulo. Essa técnica é indicada somente quando não é possível a desobstrução por angioplastia, pois pode causar hemorragias. Além disso, são associados ao tratamento outros medicamentos que tem por objetivo evitar a formação de novos coágulos, prevenir arritmias e controlar o colesterol, além de favorecer a cicatrização da área afetada.
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