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SAÚDE COLETIVA SISTEMA PÚBLICO DE SAÚDE NO BRASIL: LEIS ORGÂNICAS E ORGANIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA Prof. MSc. Gilberto Faustino LEI ORGÂNICA No município, a lei orgânica representa a lei de maior magnitude, devendo, no entanto, respeitar as diretrizes da Constituição Federal da República. Para uma lei orgânica ser estabelecida, é preciso haver a aprovação da câmara municipal e a superioridade de 2/3 dos votos dos vereadores; após aprovada, esta não pode ser facilmente modificada, mesmo que seja a vontade do prefeito da cidade. A elaboração de leis orgânicas, de maneira autônoma, pelos municípios é um processo relativamente recente. Voltando no tempo e analisando o histórico de constituições brasileiras, podemos verificar que: ✓ A constituição de 1824, vigente durante o Brasil império, nem ao menos utiliza a palavra município; ✓ A constituição de 1891 afirma, somente, que os estados devem se organizar para assegurar a soberania dos interesses municipais; ✓ A constituição de 1934 e 1937 menciona o estabelecimento da lei orgânica somente para o Distrito Federal; ✓ A constituição de 1946 faz alusão à lei orgânica, somente, para designar que até a promulgação desta, a lei deve se manter conforme a legislação precedente; ✓ A constituição de 1967 não faz referências diretas à lei orgânica; ✓ A constituição de 1988, atualmente vigente, afirma, no seu artigo 29, que o município irá reger-se através de lei orgânica, com votação em dois turnos, e com o interstício mínimo de dez dias. Ela deve ser aprovada por 2/3 dos membros da câmara municipal, que a promulgará, desde que sejam atendidos os princípios estabelecidos na constituição. Como visto, as leis orgânicas começaram a ser estabelecidas somente no Brasil República; com o fim do império priorizou-se dar autonomia aos estados e consentir que estes determinassem a autonomia dos seus respectivos municípios. Foi com a constituição federal de 1988 que se instituiu a total autoridade dos municípios na criação de suas próprias leis orgânicas. Também foi a partir dessa época que a federação passou a ser composta pelos âmbitos da união, dos estados, dos municípios e do distrito federal. LEI 8.080/90 E 8142/90 As leis números 8.080 e 8.142 são leis do tipo orgânica, que foram instituídas em 1990 para reger a saúde e regulamentar o Sistema Único de Saúde (SUS). Ambas são válidas em todo território nacional, sendo conhecidas e denominadas como as “leis orgânicas da saúde”, as quais discorrem preponderantemente a respeito do repasse intergovernamental de verbas na saúde, da presença da sociedade na gestão do SUS, e da estrutura e execução de atividades no sistema público de saúde (ROCHA, 2012; MOREIRA, 2018). As leis orgânicas da saúde têm como proposito o esclarecimento da conjuntura adequada à realização da proteção, recuperação e promoção da saúde no país. Por designarem a saúde como um direito fundamental a vida, à aprovação das leis 8.080/90 e 8.142/90 foram, e são, compreendidas como uma importante vitória da sociedade brasileira. Estas enfatizam que o governo é responsável por garantir o acesso universal, integral e equitativo em todos os níveis de atenção à saúde. Ressalta-se, no entanto, que as leis orgânicas da saúde não se abstêm da responsabilidade individual de cada cidadão, família e empregador de proteger e promover a saúde dos seus dependentes. A lei 8.080/90 atribui ainda como objetivos do SUS (BRASIL, 1990; ARRUDA, 2017): A lei 8.080/90 exige que todas as políticas públicas de saúde sigam os princípios da universalidade, equidade, integralidade, regionalização e hierarquização, de modo a resguardar a individualidade e a soberania de cada indivíduo. GESTÃO DO SUS De acordo com a lei 8.080/90, a assistência prestada pelo SUS deve sempre obedecer a um padrão de complexidade crescente, ou seja, do nível mais simples para o nível mais complexo. Agora que já discutimos e entendemos os preceitos da lei 8.080/90, vamos analisar detalhadamente a LEI ORGÂNICA 8.142/90. Um importante marco histórico para a regulamentação dos serviços de saúde, já que a mesma engloba medidas garantidoras da participação social na gerência do SUS e deliberações econômicas intergovernamentais do sistema de saúde. No tocante à participação social, a lei orgânica 8.142 expressa duas competências, as Conferências Nacionais de Saúde e o Conselho de Saúde. Os principais objetivos das conferências são analisar a conjuntura de saúde do país e discutir a elaboração de propostas para os problemas de saúde pública identificados (BRASIL, 1986; SALIBA et al, 2009). O conselho é responsável por desenvolver mecanismos de manejo da efetivação da política de saúde pública, incluindo a criação de medidas socioeconômicas. O artigo 2 da lei 8.142 trata dos recursos do Fundo Nacional de Saúde, que são investidos na cobertura assistencial ambulatorial e hospitalar, sendo alocados das seguintes formas (ROLIM et al, 2013): ORGANIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE Vimos que a noção de saúde não se limita à ausência de doenças. Mas você já pensou como se dá a atuação do profissional de saúde dentro dessa visão ou como se organizam os serviços para a promoção da saúde, em busca do cumprimentos dos princípios do SUS? A organização do sistema de saúde (sua estrutura e cultura organizacional, os recursos e sistemas de incentivo, sua forma de gestão, entre outros fatores internos) deve considerar a condição de saúde da população, os riscos e vulnerabilidades, e deve apresentar coerência com os fatores contextuais externos. Nesse sentido, para traçar estratégias de atenção em saúde, são considerados aspectos demográficos e epidemiológicos, além de outros fatores contextuais externos, como avanços científicos e tecnológicos, que podem ser indicativos de doenças, riscos e vulnerabilidades. Organização dos serviços Para compreender melhor a organização dos serviços no sistema de saúde, veremos alguns pontos importantes para sua estrutura. ✓ os sistemas de saúde apresentam diversos componentes, como os sistemas de planejamento, controle e avaliação; ✓ redes de serviços assistenciais (hospitais, laboratórios, consultórios, Unidades Básicas de Saúde, entre outras); ✓ as pessoas que participam do sistema, como trabalhadores, gestores e usuários em geral. ✓ sistemas de apoio – o sistema de apoio diagnóstico e terapêutico, o sistema de assistência farmacêutica e os sistemas de informação em saúde; os sistemas logísticos: o cartão de identificação das pessoas usuárias, o prontuário clínico, o sistema de transporte. Para que o sistema de saúde funcione de maneira apropriada, todos os seus componentes devem estar organizados, articulados e integrados entre si. Os sistemas de saúde podem se organizar em níveis de atenção: A atenção primária tem como foco a promoção da saúde e a prevenção da doença. Ocorrem, por exemplo, nas unidades básicas tradicionais, nas unidades de saúde da família e no atendimento domiciliar. A atenção de média complexidade tem como foco o tratamento de doenças e a realização de diagnósticos, Os locais de atendimento secundário podem ser os ambulatórios gerais, unidades mistas, hospitais locais e hospitais regionais. A atenção de alta complexidade preocupa se com o tratamento da doença e concentra os equipamentos com alta incorporação tecnológica. Acontece em ambulatórios de especialidades, hospitais de base e hospitais especializados. A organização do sistema de atenção à saúde deve apresentar coerência com os fatores contextuais externos. Em uma abordagem tradicional, consideram se aspectos demográficos e epidemiológicos que orientam a análise da situação de doenças. E como a situação da saúde da população pode ser analisada? Aspectos demográficos – como vimos, a transição demográfica alterou o perfil da população, aumentando o percentual de pessoas idosas, eo processo de envelhecimento da população resulta no aumento relativo de doenças crônicas. As taxas de fecundidade estão em declínio, mas nas próximas décadas a população ainda crescerá, por consequência dos padrões de fecundidade anteriores. Aspectos epidemiológicos – investigações epidemiológicas dão um perfil da situação de doenças da população, em determinado território e num período de tempo específico. Contudo, índices de morbidade (indivíduos acometidos por determinada doença ou agravo) e de mortalidade (número de óbitos registrados) podem não ser suficientes para definir a organização dos sistemas de saúde. Dessa forma, conhecer as condições de saúde da população pode ser mais importante para a organização do sistema de saúde do que saber quais patologias acometem a população. Condições agudas – têm duração limitada, manifestação abrupta; são autolimitadas e com diagnóstico e prognóstico usualmente precisos. Utilizam se a intervenção efetiva e, como resultado, a cura. Condições crônicas – têm duração longa, manifestação gradual, não são autolimitadas, diagnóstico, prognóstico e intervenção incerta, e têm como resultado o cuidado. Exigem a organização de um sistema de ação contínuo e integrado. Envolvem as doenças crônicas, mais as doenças transmissíveis de curso longo (como a tuberculose, HIV/Aids e outras), as condições maternas e infantis, os acompanhamentos por ciclos de vida, as deficiências físicas contínuas (amputações, cegueira, deficiências motoras) e os distúrbios mentais de longo prazo. De acordo com o que estudamos até aqui em relação ao processo saúde - doença, condicionantes e determinantes da saúde, políticas de saúde, entre outras questões, você acredita que os aspectos demográficos e epidemiológicos são suficientes para orientar a organização do sistema de saúde? Avaliando a condição da saúde para além da situação da doença, há outras tendências a serem consideradas: as desigualdades econômicas e sociais, os efeitos da urbanização mal gerida, a globalização, alterações climáticas, desafios de segurança alimentar, tensões sociais, crises políticas, entre outras. Os sistemas fragmentados de atenção à saúde são pouco eficientes, pois não respondem às demandas da população e pouco contribuem para a equidade e justiça social. Sob o desafio de superar esse tipo fragmentado de atenção e gestão nas regiões de saúde e aperfeiçoar o funcionamento político institucional do sistema de saúde, o SUS estabeleceu a Rede de Atenção à Saúde (RAS). Em sintonia com o Pacto pela Saúde, foram aprovadas a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) e a Política Nacional de Promoção à Saúde (PNPS), ambas voltadas para a configuração de um modelo de atenção capaz de responder às condições crônicas e agudas e promover ações de vigilância e promoção à saúde, efetivando a Atenção Primária à Saúde (APS) como eixo estruturante da RAS no SUS. A Rede de Atenção à Saúde organiza-se a partir de um processo de gestão da clínica associado ao uso de critérios de eficiência na aplicação de recursos, mediante planejamento, gestão e financiamento intergovernamentais cooperativos, voltados para o desenvolvimento de soluções integradas de política de saúde. As Redes de Atenção à Saúde são compostas por várias redes temáticas, como urgência e emergência, rede materno infantil (Rede Cegonha), de atenção psicossocial, de atenção à pessoal com deficiência etc. A operacionalização das Redes de Atenção à Saúde (RAS) se dá pela interação entre seus três elementos: População e região de saúde definidas – a região de saúde deve ser bem definida, com estruturas bem distribuídas no território, assim como garantir um tempo de resposta adequado ao atendimento, com melhor proporção de estrutura/população/território e viabilidade operacional sustentável. Estrutura operacional – a estrutura operacional das RAS é constituída pelos diferentes pontos de atenção à saúde, ou seja, lugares institucionais onde se ofertam serviços de saúde, e pelas ligações que os comunicam. Os componentes que estruturam as RAS incluem: Atenção Básica à Saúde – centro de comunicação; os pontos de atenção secundária e terciária; os sistemas de apoio; os sistemas logísticos e o sistema de governança. Modelo de atenção à saúde – o modelo de atenção à saúde é um sistema lógico que organiza o funcionamento das RAS, articulando, de forma singular, as relações entre a população e suas subpopulações estratificadas por riscos, os focos das intervenções do sistema de atenção à saúde e os diferentes tipos de intervenções sanitárias. A criação do SUS é tida como resultado da VIII Conferência Nacional de Saúde. As leis números 8.142/90 e 8.080/90 são o marco legislatório do SUS. Estas leis são conhecidas como as leis orgânicas da saúde. O sistema de saúde pública brasileiro possui uma política nacional de organização dos serviços de saúde. Esta política determina as atribuições dos diferentes serviços de saúde ofertados à população. A atenção básica é considerada a porta de entrada dos pacientes no SUS, tanto no sistema hierarquizado, que divide a saúde em níveis de complexidade, quanto no sistema de redes de atenção à saúde, que é organizado através de um complexo de unidades assistenciais à saúde, não considerando um serviço inferior ou superior ao outro. SINTETIZANDO
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