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RESUMO DIREITO APLICADO A GESTÃO

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Direito Aplicado a Gestão
AULA 1
O conhecimento do direto, e a habilidade para analisar o seu conteúdo, se revela ainda mais essencial ao gestor, porque ele será responsável pela condução não apenas de sua própria existência e de seu próprio patrimônio, mas também pela condução das economias, dos patrimônios, das carreiras de outras pessoas que confiam em sua capacidade e experiência – seja ele atuante em algum Governo ou em uma empresa pública, seja na esfera privada de uma empresa comercial ou empresarial, por exemplo.
FONTES DO DIREITO
O Direito não nasce aleatoriamente em uma sociedade, tampouco surge de um fato isolado, que importe apenas a certo e restrito grupo de pessoas durante um tempo determinado. Ele é o resultado de séculos, às vezes milênios, de convivência social, e representa os anseios, os ideais, os valores de um determinado povo em seu atual estágio civilizatório; mas, para além disso, ele pode representar o substrato mínimo de valores comuns a todos os componentes do gênero humano, indicando o grau civilizatório a que chegamos enquanto Humanidade (quando terá natureza própria e supranacional). Vê-se, portanto, que o Direito não se limita – ou não poderia limitar-se – à criação de uma lei ou à assinatura de um contrato.
O Direito Representa as nossas aspirações e anseios, nosso senso moral e ético, nossos sentimentos e nossas expectativas enquanto sociedade e demonstra não apenas o amadurecimento de nossa democracia como o próprio grau civilizatório a que chegamos.
São fontes do Direito: a lei, a jurisprudência e a doutrina (de caráter mais específico), mas também a analogia e a equidade, os usos e costumes do povo.
A Lei
É talvez, atualmente, a fonte do Direito por definição e excelência (ao menos certamente será aquela mais visível, pela própria publicidade que lhe é inerente) em nossa sociedade e representa o resultado final do processo de elaboração legislativa.
No sistema de tripartição dos Poderes em que vivemos – com os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário dotados de atribuições e competências diversas, todas elas definidas no texto constitucional – a tarefa da elaboração das leis toca exclusivamehte ao Poder Legislativo e, portanto, apenas a ele cabe legislar, vale dizer, votar e promulgar as leis.
As leis obedecem a uma hierarquia, sendo a mais importante delas e a mais fundamental a Constituição Federal, na qual estão dispostos os fundamentos da Nação e seus elementos mais essenciais.
A Constituição é fruto de um Poder específico, a que se denomina Poder Constituinte, e tem por finalidade apenas a sua elaboração, dissolvendo-se tão logo termine.
Além da Constituição Federal temos, resumidamente, leis federais, estaduais e municipais, conforme sejam promulgadas pelos respectivos Poderes Legislativos. A abrangência e o alcance destas leis correspondem à competência territorial de cada uma dessas partições da Federação
IMPORTANTE: Às leis deve ser dada publicidade, e passam a vigorar após a sua publicação nos meios oficiais, o que, via de regra, corresponde à sua publicação no Diário Oficial do ente federativo cujo legislativo a tenha promulgado – assim, teremos a publicação no Diário Oficial da União (para a hipótese de leis federais), nos Diários Oficiais dos estados (para leis estaduais) e nas imprensas oficiais dos municípios (para leis municipais).
Presume-se que entrem imediatamente em vigor, a não ser que seu próprio texto determine prazo diverso para o início de sua vigência, variando esse período – a que chamamos vacância – conforme a complexidade da lei publicada e as suas consequências e efeitos na sociedade
EFICÁCIA DA LEI NO TEMPO 
A lei – assim considerada a fonte do direito positivo e o resultado do processo de elaboração legislativa – não é uma constante imutável, eterna e perene, dissociada da realidade social e humana e presente em qualquer momento histórico ou político.
Temos que o momento inicial de validade e obrigatoriedade de uma lei, como anteriormente pudemos comentar, é o momento de sua promulgação, que se dá via de regra com a publicidade de sua divulgação pela imprensa oficial; vimos, ainda, que a lei pode passar a surtir seus efeitos após um prazo por ela própria estabelecido, denominado vacância da lei.
Em regra, as leis possuem duração indeterminada. Pressupõe-se que deixarão de surtir seus efeitos apenas quando foram revogadas (o que pode se dar expressa ou tacitamente), e isso deriva da necessidade de estabilidade e segurança nas relações sociais, que não existiriam se as leis fossem sempre concebidas com prazos de validade previamente determinados.
Esse fato demonstra a relevância do Poder Legislativo e a seriedade de sua função: as leis não podem ser criadas senão sob o pressuposto de corresponderem ao estágio civilizatório atingido pela sociedade cuja vida regulamentam, e este não é percebido por prazo determinado, nem tem data prefixada para modificação – e por isso mesmo a promulgação de leis casuísticas, que apenas atendam a interesses imediatos, principalmente quando de titularidade limitada a certos segmentos sociais, não é a melhor técnica de elaboração legislativa, já que a sociedade não evolui na velocidade dessas demandas, ainda quando legítimas.
É claro que excepcionalmente a lei pode determinar um prazo ao cabo do qual cesará sua vigência, mas essa não é e nem poderia ser a regra. Essencialmente a lei é revogada quando uma lei posterior de mesma hierarquia a revogue ( REVOGAÇÃO EXPRESSA)  ou disponha de forma diversa sobre a mesma matéria. (REVOGAÇÃO TÁCITA)
A irretroatividade da lei – ou seja, o fato de uma lei não poder viger sobre atos ou negócios praticados antes de sua vigência – é a regra para a sua eficácia, admitindo-se excepcioná-la apenas quando isso se der em benefício do réu, como, por exemplo, na retroatividade da lei penal quando se deixa de considerar criminosa a conduta praticada – e isso se fundamenta no próprio interesse social, já que não teria qualquer finalidade manter encarcerado, por exemplo, aquele que tenha cometido um ato que deixe de ser considerado criminoso em momento posterior ao seu julgamento.
A EFICÁCIA DA LEI NO ESPAÇO
Assim como é importante analisarmos a aplicação da lei no tempo, não menos importante será o conhecimento de sua validade em dimensão espacial.
A própria divisão administrativa do Estado brasileiro já sinaliza para a eficácia da lei no espaço quando determina existirem Legislativos nas esferas federal, estadual e municipal, o que pressupõe logicamente a possibilidade de existirem leis que vigorarão nos limites dos respectivos estados e municípios, ou que sejam aplicáveis em todo o território nacional, conforme sejam leis estaduais, municipais ou federais.
Nosso País é uma República Federativa em que determinadas matérias, por sua relevância, são de competência legislativa apenas federal, ou da União, como, por exemplo, as normas penais; outras serão de competência dos estados e, finalmente, outras ainda serão de competência municipal, segundo dispõe o próprio texto da Constituição Federal – e são exemplos matérias tributárias, em que se determina que alguns tributos terão sua legislação definida e serão arrecadados pela União (como o imposto sobre a renda), outros pelos estados (como o imposto sobre a propriedade de veículos automotores, ou IPVA) e outros, ainda, pelos municípios (como o Imposto sobre a Propriedade Territorial Urbana, ou IPTU).
Então, qual será o limite da abrangência espacial de uma lei?
Será o limite de seu território, assim compreendido como o espaço localizado no interior de suas fronteiras. Em essência, temos que a lei federal adere a toda a superfície de nosso território, a lei estadual adere a toda a superfície do território do estado e a lei municipal à superfície territorial do município.
Essa realidade nem sempre é isenta de conflitos, sendo comum se falar de “guerras fiscais” ou de “barreiras fiscais”, por exemplo, que nada mais representam senão o aspecto visível da aplicação das leis no espaço: quer entre países (como nos casos das lutasde alíquotas tributárias de exportação ou importação conforme determinado país proteja os interesses de seus produtores ou fabricantes, por exemplo), quer entre estados e municípios, como já pudemos observar em diversos momentos.
Na verdade, a eficácia espacial da lei é de vital importância para qualquer administrador público, porque importa até mesmo no planejamento de políticas para determinados segmentos sociais ou para estratégias de crescimento.
A JURISPRUDÊNCIA
Por jurisprudência entende-se o conjunto das decisões proferidas pelos Tribunais sobre determinados assuntos, e compõe as fontes clássicas do Direito, ao lado da lei e da doutrina, porém não sendo de menor importância dentro dos meios de sua formação.
Sabemos que nosso Estado compõe-se de três Poderes Constituídos, que são o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Pois bem, já vimos que ao Poder Legislativo toca legislar, ou seja, é o Poder competente para elaborar as leis; todavia, o Legislativo não as aplica. Essa aplicação cabe, com exclusividade, ao Poder Judiciário, que é composto, novamente, na forma determinada pela Constituição Federal (em nosso caso, a de 1988).
Embora seja exclusivamente competente para julgar, vale dizer, para interpretar a lei e aplicá-la a um determinado caso concreto , o Poder Judiciário não atua discricionariamente – suas decisões devem ser baseadas não apenas na lei mas, ainda, nos demais elementos componentes de nosso sistema de Direito, e que englobam todas as suas outras fontes.
Assim como quanto às leis, há hierarquia na Jurisprudência, e essa hierarquia corresponde, igualmente, à competência dos Tribunais. A composição do nosso Poder Judiciário inclui, em brevíssima síntese não restritiva:
· o Supremo Tribunal Federal (a quem cumpre a interpretação da Constituição Federal);
· os Tribunais Superiores (Superior Tribunal de Justiça, Superior Tribunal Militar, Tribunal Superior do Trabalho, Tribunal Superior Eleitoral);
· os Tribunais Regionais Federais e os Juízes Federais;
· os Tribunais Regionais do Trabalho e os Juízes Trabalhistas;
· os Tribunais Regionais Eleitorais; e
· os Tribunais de Justiça dos Estados e os Juízes Estaduais, não havendo Poder Judiciário de competência municipal.
Compõem ainda o Poder Judiciário os advogados e os Juízes de Paz.
A DOUTRINA
Compõem a Doutrina os tratados, livros, artigos e demais obras intelectuais dos estudiosos do Direito, também chamados juristas, que representam as diversas visões científicas sobre as matérias que envolvam noções humanas, sociais e jurídicas.
A doutrina é fonte fundamental do Direito justamente porque oxigena a sua teoria, proporcionando a seus estudiosos e operadores a análise de uma infinita variedade de visões sobre os seus institutos, auxiliando de maneira essencial a construção do pensamento jurídico e a sua elevação ao patamar civilizatório atingido pela sociedade cuja convivência se presta a regulamentar.
MECANISMOS INTERPRETATIVOS 
A ANALOGIA- se mostra uma fonte do Direito como um mecanismo de integração em que se aplica um exemplo para constituir um raciocínio, vale dizer, entende-se que a solução de determinado problema deve ser empregada para solucionar outro problema que lhe seja semelhante.( Nesse sentido, é um meio de se estender uma norma a um caso que ela não preveja (aplicando, por exemplo, uma determinada lei a casos que não sejam descritos em seu texto, mas que se revistam de semelhanças com aqueles que regulamenta expressamente).
A EQUIDADE- Importa a equidade na adaptação de uma regra a uma situação em concreto, com a finalidade de melhor aplicar o Direito, vale dizer, empregando os critérios da justiça e da igualdade; tem por finalidade aproximar a norma jurídica da realidade da vida, uma vez que é impossível pretender impor a aproximação da vida humana à norma, abstratamente estabelecida.
OS USOS E COSTUMES- os usos e costumes de um povo são fontes do Direito na medida em que demonstram o seu estado civilizatório, e os princípios considerados intrinsecamente relevantes para o exercício da vida em coletividade, mesmo quando não estejam previstos em qualquer norma legal ou código de conduta – talvez até mesmo pela desnecessidade dessa previsão formal, em razão do estabelecimento de seu uso.
CONSUETUDOS- Essa é a origem das normas consuetudinárias, que são aquelas normas de conduta encontradas não necessariamente nos textos legais, mas sim nos usos e costumes de um povo – quer sejam escritas ou não.
O Direito não se compõe unicamente pelas leis, resultantes do processo de elaboração legislativa. Outras fontes criam o Direito, regulamentando a convivência em sociedade. Essas fontes também geram Direito na medida em que criam normas de comportamento que passam a compor as regras de convivência em sociedade. Um exemplo são os usos e costumes do povo, que criam normas não escritas respeitadas socialmente como parte do Sistema Jurídico, embora não estejam, necessariamente, elencadas no direito positivo ou nos textos legais. Assim, é certo que a vida social não se regerá unicamente pelas leis, decretos e demais normas escritas e codificadas, mas sim também por uma grande diversidade de fatores que se alteram na composição do corpo social. 
Aula 2
Os ramos do Direito e a Gestão
Seu conhecimento é fundamental porque não se admite que uma empresa vá interagir negocialmente desconhecendo as estruturas de decisão nas diversas matérias de sua ação e abrangência empresariais. 
A mais importante das normas jurídicas de qualquer Estado é a Constituição. Como sua própria denominação sugere, é o texto fundamental do ordenamento jurídico, político, econômico e social de um País e, de todos os Diplomas Legais (ou textos legais) de qualquer ordenamento organizado, sempre será o primeiro e mais importante. A Constituição é promulgada por um Poder especialmente reunido para sua elaboração, um Poder diverso de todos os demais – ou seja, um Poder diverso dos Poderes já analisados, Executivo, Legislativo e Judiciário.
Apenas para contextualizar, é na Constituição Federal que:
· Se encontram definidas a forma e o sistema de governo do Brasil – uma República Presidencialista;
· Encontra-se a disposição acerca da própria existência dos três Poderes (por isso mesmo dito Poderes Constituídos) e a sua divisão em Executivo, Legislativo e Judiciário;
· Estão delimitadas as suas estruturas e competências.
Enfim, a Constituição Federal é como já visto um Diploma Jurídico de natureza ímpar, é a norma fundamental do Estado, dispõe sobre as estruturas sociais, econômicas, políticas e jurídicas e, portanto, também determina a natureza e a orientação de todos os demais textos legais.
Classificação do Direito
· Direito Nacional Aquele composto pelo ordenamento jurídico brasileiro 
· Direito internacional Aquele composto pelos Tratados e Convenções Internacionais que o Brasil seja signatário- quer sejam bilaterais ou multilaterais.
· Direito internacional Público Regulamenta as relações entre indivíduos e países. EX: Questões referentes à imigração de um estrangeiro.
· Direito Internacional Privado Trata das relações entre os indivíduos em seus diversos sistemas jurídicos. EX: Divórcio de indivíduos ora residentes no Brasil, mas que contraíram matrimônio no estrangeiro. (Partilha de bens, etc.)
Dessa forma, o gestor de uma empresa dedicada ao comércio internacional, à exportação ou à importação deverá ter conhecimento de normas de Direito Internacional, além daquelas que regulamentem os negócios de sua expertise, já que diferentes países terão diferentes legislações e emprestarão tratamentos diversos às mesmas matérias, pelo que o administrador vai se defrontar com diferentes hipóteses de incidência e alíquotas tributárias, diferentes normas penais, diferentes normas trabalhistas, diferentes normas contratuais, de direito do consumidor ou de responsabilidade civil, por exemplo, na atuação internacional. 
Porém, ainda quando a sua atuação circunscreve-se ao nosso território, deixa de ser complexo o panorama a ser conhecido: em planos nacionais – ouna competência interna – também dividimos os sistemas de Direito em blocos, não apenas para facilitar a sua compreensão e análise, mas também para permitir a própria especialização de seus agentes e operadores.
· Direito público Matérias que digam respeito a direitos considerados indisponíveis, como, por exemplo, os direitos à vida e à liberdade (são direitos que, pela sua própria natureza, não podem sofrer limitação, ainda que voluntária e ainda que pretendida pelo seu titular).
· Direito Privado Matérias que versem sobre direitos que possam ser objeto de transação pelos cidadãos, ou seja, direitos disponíveis, como por exemplo, e via de regra, as relações patrimoniais.
Como exemplos temos o Direito Penal, como ramo do Direito Público – porque cuida de direitos absolutamente indisponíveis, como a liberdade, e o Direito Civil, em regra, como um ramo do Direito Privado, porque dispõe sobre direitos patrimoniais, essencialmente disponíveis (sem essa disponibilidade a própria circulação de riquezas na sociedade ficaria comprometida, com prejuízo das atividades comerciais e econômicas).
Atuação do Estado
· Posição Estática – Legislador, ordena a sociedade abstratamente – Direito Constitucional
· Posição Dinâmica – Executivo, administrador da sociedade, gestor – Direito Administrativo
· Posição Dinâmica – Executivo, organiza as finanças públicas – Direito Tributário
· Estado – Juiz – Composição dos litígios em sociedade – Direito Processual
· Estado organizador social – Prevenção da criminalidade – Direito Penal
É evidente que esta divisão não esgota as possibilidades da matéria, muito menos é isenta de divergências. Por exemplo, a natureza do Direito do Trabalho é fonte de acalorados debates, havendo correntes que o inserem entre os Direitos Públicos (a que nos filiamos) e outras que o inserem entre os Direitos Privados.
Importante
Critérios para divisão entre direito público e direito privado
Para o fim de analisar e caracterizar a divisão entre direito público e direito privado, importa estabelecer uma série de critérios objetivos para compreender a relação jurídica em questão. Destacam-se os seguintes critérios:
· Quanto ao conteúdo da relação jurídica: importa para esse critério verificar qual é o interesse predominante na relação jurídica. De maneira geral, se o interesse tutelado se referir ao particular, o domínio será do direito privado; caso seja o interesse público, será pertencente ao domínio do direito público.
· Quanto ao tipo da relação jurídica: será considerada uma relação jurídica de direito privado quando ocorre uma relação de coordenação dos sujeitos, isto é, quando as partes se encontram em situação de igualdade. Caso contrário, caso seja uma relação de imposição, na qual uma das partes pode sujeitar a outra a sua vontade, será pertencente ao direito público.
· Quanto à forma da relação jurídica: de maneira geral, a norma que apresenta um caráter imperativo (ius cogens) e, portanto, obrigatória para todos, deverá pertencer ao domínio do direito público. Ao contrário, caso prevaleça a autonomia da vontade e dos interesses dos particulares, será o domínio do direito privado.
Nem sempre o Estado terá interesse imediato no resultado das relações entre os indivíduos, e é claro que nem sempre será uma das partes nessas relações. Os ramos do Direito em que os interesses se revestem dessa característica – não serem de interesse imediato ou objetivo do Estado – se denominam ramos de Direito Privado, sendo exemplos o Direito Civil e o Direito Empresarial.
Aula 3
O Estado Democrático de Direito no Brasil
Formação do Estado
O Estado é decorrência natural da organização buscada pelo ser humano e que o Direito é inerente à própria formação do Estado, já que fora dele teríamos apenas a liberdade essencial à selvageria, do uso da força como manifestação de vontade.
O Estado Brasileiro na Constituição Federal
A composição do nosso Estado se encontra logo no primeiro artigo da Constituição Federal, que dispõe:
“Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I. a soberania;
II. a cidadania;
III. a dignidade da pessoa humana;
IV. os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V. o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.”
Percebemos, portanto, que segundo a Constituição Federal de 1988 o Brasil é uma República Federativa, composta pela união indissolúvel dos estados, municípios e Distrito Federal. Vale dizer: somos uma República formada pela Federação de entes públicos que chamamos estados, municípios e o Distrito Federal. Além do regime de governo esse dispositivo determina a indissolubilidade da União, determina a proibição do seu desmembramento, bem como da saída – voluntária ou não – de qualquer dos estados ou municípios.
Também determina que nos constituímos em um Estado Democrático de Direito, portanto, nosso Estado pressupõe a participação popular na determinação das políticas e da gestão públicas e a supremacia da lei, que vincula não apenas os atos dos cidadãos como, principalmente, os atos da administração pública, do governo.
Os fundamentos de nosso Estado estão delineados nos incisos do dispositivo ora sob análise, prendendo-se à soberania, à cidadania, à dignidade da pessoa humana, ao pluralismo político e aos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa.
Soberania
Foi Jean Bodin o primeiro teórico a elaborar um conceito de soberania, referindo-se a ela como à entidade que não conhece superior na ordem externa nem igual na ordem interna, não admitindo subordinação a qualquer outra externamente, na seara internacional, tampouco admitindo um poder idêntico internamente, na seara nacional.
É fato que o conceito de soberania vem se alterando ao longo da História, e isso se verifica mesmo em razão das mudanças de regimes, de Estados e de governos; porém as características da não subordinação a qualquer Poder externo e da não equiparação a qualquer Poder interno se mantêm, posto serem verdadeiramente essenciais para a formação do Estado.
O Estado é soberano quando mantém o poder sobre todo o seu território, não havendo quem lhe anteponha autoridade de igual calibre. Por isso não se admite que se mantenham poderes paralelos dentro do território de um Estado – e daí a gravidade da existência, dentro de qualquer Estado, de locais em que a sua autoridade não é respeitada, ou em que seus poderes constituídos não podem ser impostos a todos os cidadãos.
Cidadania
Diz-se cidadania o exercício dos direitos e deveres políticos, sociais e civis pelo cidadão, ou na origem do termo o residente de uma cidade, aquele que vive em sociedade, interagindo com seus concidadãos, ou seja, com os seus iguais em obrigações e em direitos. A cidadania, na medida do pertencimento a determinada coletividade, determina a faculdade de fruir das prerrogativas e a obrigação de obedecer às normas impostas por seu Estado.
Pluralismo
Por pluralismo político entende-se o direito de que são titulares todos os Partidos Políticos à participação no processo eleitoral, ainda que sejam pequenos, ainda que não disponham de poder econômico, todos os partidos constituídos legalmente têm direito de participação de eleições cujas regras tenham sido preconcebidas, participando do poder político, votando e sendo votados.
**A dignidade da pessoa humana é um princípio fundamental do Estado Democrático de Direito e impõe o reconhecimento de cada ser humano como um fim em si mesmo, no tocante à proteção que lhe deve ser garantida pelo Direito e se assenta no pensamento de Immanuel Kant.**
RESUMO DA UNIDADE
· O que é o Direito, como ele é formado e como se divide?
Em breve síntese, e para o objeto de estudo de nossa Unidade, Direito representa o conjunto das normas de conduta originárias de diversas fontes que regulamenta a vida em sociedade, dividindo-seem diversos ramos de especialização.
· Por que, quando e como o Direito interessa à atividade do gestor e como ele a influencia?
O Direito importa à atividade do gestor desde o exercício de sua cidadania até o desempenho de suas atividades profissionais.
· Com se estrutura o sistema legal e jurídico no Brasil?
O sistema legal brasileiro se origina da Constituição Federal e é composto – em breve síntese e para o objeto de estudo de nossa Unidade – por leis federais, estaduais e municipais.
Unidade 2
Aula 1- Personalidade e Capacidade: pessoas e bens
No estudo do Direito Civil, os sujeitos de Direitos são a primeira e mais essencial definição do nosso sistema de Direito e estão na base de toda e qualquer relação jurídica, porque definem pessoa, estabelecem as suas características e determinam a capacidade civil – ou capacidade de interação das pessoas no universo; definem bens e patrimônio e fundamentam o mundo econômico e negocial; as obrigações e os contratos estabelecem as diretrizes para a segurança dos negócios em sociedade e, finalmente, a responsabilidade civil identifica os atos ilícitos civis, os danos e as indenizações ou reparações deles decorrentes, garantindo a própria perpetuação da vida em sociedade.
Sujeitos de Direitos, pessoa e personalidade
· Sujeito de Direitos O detentor de direitos e de deveres em esfera jurídica e social, o destinatário do conjunto de normas de conduta que conhecemos por Direito, aquele de quem se pode exigir determinado comportamento conforme a lei ou a quem se pode aplicar determinada sanção pela sua inobservância. Só será Sujeito de Direitos o ser humano.
· Pessoa A representação social da individualidade, da distinção dentre todos os demais seres humanos, da apreensão da natureza de ente dotado de direitos e deveres, de obrigações e faculdades, de ente que interage em sociedade na forma estabelecida ou não proibida por tais normas de conduta.
· Personalidade Medida da aptidão da pessoa para tornar-se titular de direitos e de obrigações em planos jurídicos e sociais.
As pessoas poderão ter duas formas de existência:
· Existência natural, física ou concreta: Forma plasticamente compreendida no ser humano.
· Existência ideal ou abstrata: Criação artificial do Direito na medida em que não corresponde a um estado encontrado na natureza.
Essas pessoas serão:
· Físicas: cuja dimensão concreta e externa será o próprio ser humano
· Jurídica: denominação que se empresta usualmente à pessoa ideal, à pessoa abstrata, que é uma criação humana, uma ficção a que se empresta personalidade permitindo a prática de determinados atos ou negócios e que possui vida distinta de seus componentes. 
Nosso Código Civil enumera a tipologia das pessoas jurídicas de que ora tratamos na forma seguinte:
“Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:
I. as associações;
II. as sociedades;
III. as fundações;
IV. as organizações religiosas;
V. os partidos políticos;
VI. as empresas individuais de responsabilidade limitada.
§ 1º São livres a criação, a organização, a estruturação interna e o funcionamento das organizações religiosas, sendo vedado ao poder público negar-lhes reconhecimento ou registro dos atos constitutivos e necessários ao seu funcionamento.
§ 2º As disposições concernentes às associações aplicam-se subsidiariamente às sociedades que são objeto do
§ 3º Os partidos políticos serão organizados e funcionarão conforme o disposto em lei específica.”
Coisas e Bens
· Coisa: tudo aquilo que não for pessoa. Existem para serem apropriadas e, assim, atenderem à sua finalidade econômica.
· Bens: Coisas que possuem valor econômico – qualquer que seja a sua natureza ou ordem de grandeza.
Tipologia e classificação dos Bens
a. Bens Móveis - São aqueles que se podem transportar de um ponto a outro sem que percam as suas características físicas. Exemplo: uma cadeira.
b. Imóveis - São aqueles que não se podem transportar de um ponto a outro sem que percam as suas características físicas. Exemplo: uma casa
c. Semoventes - São aqueles que se movem de um ponto a outro por seus próprios meios ou forças. Exemplo: um cão.
d. Fungíveis - São aqueles que se podem substituir por outros de igual quantidade, qualidade e forma. Exemplo: dinheiro.
e. Infungíveis - São aqueles que não se podem substituir por outros de igual quantidade, qualidade e forma. Exemplo: uma pintura de determinado autor.
f. Materiais, corpóreos ou concretos - São os que possuem esfera concreta, física. Exemplo: um automóvel.
g. Imateriais, incorpóreos ou abstratos - São os que não possuem esfera concreta, física. Exemplo: o software.
h. Presentes - Aqueles que já existem no momento do contrato. Exemplo: um animal já existente.
i. Futuros - Aqueles que ainda não existem no momento do contrato, mas têm sua existência previsível. Exemplo: um animal ainda em gestação.
j. Estimáveis- Aqueles cujo valor pode ser estimado. Exemplo: uma escultura que se encontre em comércio.
k. Inestimáveis - Aqueles cujo valor não pode ser estimado. Exemplo: a escultura O Pensador, de Rodin.
l. Bens no comércio - Aqueles que podem ser objeto de apropriação pelas pessoas e consequentemente de negócios jurídicos entre elas. Exemplo: um livro.
m. Fora de comércio - Aqueles que não podem ser objeto de apropriação pelas pessoas e consequentemente de negócios jurídicos entre elas. Exemplo: órgãos humanos.
n. Públicos - Aqueles que ainda não existem no momento do contrato, mas têm sua existência previsível. Exemplo: as praias.
o. Privados - Aqueles que pertencem a indivíduos particulares. Exemplo: um terreno particular.
Início e fim da personalidade
A personalidade, que permite ao sujeito de direitos interagir socialmente, possui delimitação temporal definida; vale dizer, possui início e final; a personalidade humana se inicia no momento do nascimento com vida e se extingue no momento da morte.
Segundo nosso Código Civil, em seus artigos 2º e 6º:
“Art. 2o A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.
(...)
Art. 6o A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva.”
A pessoa jurídica também possui marcos inicial e final de existência – são eles o registro de seu contrato ou de seus atos constitutivos junto ao Órgão competente e a formalização e posterior registro de sua dissolução, e isso se dá porque não possui esfera concreta ou morfológica, não podendo, como as pessoas de existência real, nascer e morrer.
Tal é o disposto no Código Civil:
“Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo.
Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a constituição das pessoas jurídicas de direito privado, por defeito do ato respectivo, contado o prazo da publicação de sua inscrição no registro.
(...)
Art. 51. Nos casos de dissolução da pessoa jurídica ou cassada a autorização para seu funcionamento, ela subsistirá para os fins de liquidação, até que esta se conclua.
§ 1º Far-se-á, no registro onde a pessoa jurídica estiver inscrita, a averbação de sua dissolução.
§ 2º As disposições para a liquidação das sociedades aplicam-se, no que couber, às demais pessoas jurídicas de direito privado.”
§ 3º Encerrada a liquidação, promover-se-á o cancelamento da inscrição da pessoa jurídica.
Nosso Direito estende às pessoas jurídicas a proteção dos direitos da personalidade, que representam o substrato mínimo necessário para a existência da própria pessoa, nos termos seguintes:
“Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade.”
Capacidade
Consiste em poder a pessoa, por si só e sem a participação de quem quer que seja, gerir sua vida e seus bens e praticar livremente todos os atosda vida, tais como casar-se, comprar, vender, exercer uma profissão, entre inúmeros outros.
Teremos dois graus de restrições à plena capacidade: aqueles decorrentes da inexperiência presumida, ou seja, que são empregados à proteção dos menores, e aqueles decorrentes da enfermidade ou da má formação, que levam à impossibilidade, de fato, do exercício pleno da vida negocial, como na hipótese dos portadores de enfermidades ou deficiências mentais.
Assim dispõe o Código Civil:
“Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil:
I. os menores de dezesseis anos;
II. os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos;
III. os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.
Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer:
I. os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
II. os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido;
III. os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo;
IV. os pródigos.
Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial.”
À representação ou assistência do menor denomina-se tutela; à representação ou assistência dos portadores de enfermidade ou deficiência mental denomina-se curatela. Portanto, terão tutores os menores e curadores os enfermos ou deficientes mentais.
Domicílio
Local que será o de sua residência ou o de seu estabelecimento, aquele onde exercerá os atos jurídicos e onde demandará e será demandada judicialmente; a esse local se chama domicílio civil, e pode coincidir ou não com o endereço residencial ou comercial.
O Código Civil regulamenta o estabelecimento do domicílio das pessoas na forma seguinte:
“Art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo.
Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva, considerar-se-á domicílio seu qualquer delas.
Art. 72. É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à profissão, o lugar onde esta é exercida.
Parágrafo único. Se a pessoa exercitar profissão em lugares diversos, cada um deles constituirá domicílio para as relações que lhe corresponderem.
Art. 73. Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não tenha residência habitual, o lugar onde for encontrada.
Art. 74. Muda-se o domicílio, transferindo a residência, com a intenção manifesta de o mudar.
Parágrafo único. A prova da intenção resultará do que declarar a pessoa às municipalidades dos lugares, que deixa, e para onde vai, ou, se tais declarações não fizer, da própria mudança, com as circunstâncias que a acompanharem.”
O domicílio não será sempre voluntário. Algumas pessoas têm seu domicílio determinado por lei, portanto terão domicílio necessário. Nos termos do Código Civil:
“Art. 76. Têm domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o militar, o marítimo e o preso.
Parágrafo único. O domicílio do incapaz é o do seu representante ou assistente; o do servidor público, o lugar em que exercer permanentemente suas funções; o do militar, onde servir, e, sendo da Marinha ou da Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar imediatamente subordinado; o do marítimo, onde o navio estiver matriculado; e o do preso, o lugar em que cumprir a sentença.”
domicílio de eleição, que é aquele estabelecido pelos contratantes como sendo o foro, o local onde deverão ser dirimidas as questões eventualmente suscitadas pelo negócio jurídico. É usualmente empregado nas atividades empresariais e o Código Civil o regulamenta na forma seguinte:
“Art. 78. Nos contratos escritos, poderão os contratantes especificar domicílio onde se exercitem e cumpram os direitos e obrigações deles resultantes.”
É de extrema relevância o estabelecimento e a determinação do domicílio, tanto para os atos da vida civil como para os atos empresariais; ele determina, como já vimos, onde a pessoa será demandada judicialmente em termos espaciais (sendo a medida do alcance da lei, como vimos anteriormente), bem como onde será tributada ou onde realizará as suas atividades empresariais.
No tocante às pessoas jurídicas, a disposição é a seguinte:
“Art. 75. Quanto às pessoas jurídicas, o domicílio é:
I. da União, o Distrito Federal;
II. dos Estados e Territórios, as respectivas capitais;
III. do Município, o lugar onde funcione a administração municipal;
IV. das demais pessoas jurídicas, o lugar onde funcionarem as respectivas diretorias e administrações, ou onde elegerem domicílio especial no seu estatuto ou atos constitutivos.
§ 1o Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em lugares diferentes, cada um deles será considerado domicílio para os atos nele praticados.
§ 2o Se a administração, ou diretoria, tiver a sede no estrangeiro, haver-se-á por domicílio da pessoa jurídica, no tocante às obrigações contraídas por cada uma das suas agências, o lugar do estabelecimento, sito no Brasil, a que ela corresponder.”
Aula 2
Obrigações e Contratos
Introdução
Historicamente a passagem do mundo feudal para o mundo moderno foi marcada pela ascensão da burguesia enquanto classe social em planos políticos; essa ascensão representou, em planos econômicos, a alteração dos mecanismos de acumulação de riqueza, que deixaram de se concentrar na propriedade de terras e de servos, passando a valorizar principalmente a mercancia, vale dizer, o comércio.
E, para a viabilidade do comércio, essencial se revelava a formação de um sistema jurídico que regulamentasse os atos de comércio, os atos negociais, em vez de proteger a propriedade fundiária e a manutenção das relações entre proprietários e servos, relações absolutamente diversas das relações econômicas que a nova ordem impunha.
Esse sistema jurídico foi representado pela estruturação do Direito das Obrigações e Contratos, em planos civis e comerciais. Assim como a uniformidade da moeda, nesse momento histórico e social havia a necessidade do estabelecimento de regras comuns à maior parte do mundo, que permitissem os atos de mercancia entre os diversos povos.
Requisitos do estabelecimento do direito obrigacional
O primeiro requisito para o ingresso no Direito das Obrigações é a relevância econômica dos negócios praticados; sem coeficiente econômico esses negócios serão de outra natureza, como, por exemplo, aqueles advindos dos direitos da personalidade, que são dissociados de coeficiente econômico ou são dotados de um coeficiente econômico inestimável.
Assim, apenas podemos considerar um determinado negócio jurídico como compra e venda – e, portanto, integrante do Direito das Obrigações – quando preencha os elementos coisa, partes e preço, ou seja, quando presente o conteúdo econômico na relação. Da mesma forma uma doação, embora não tenha o elemento preço vinculando o ato entre as partes, recairá sobre um bem que possua valor econômico, já que, sem possuí-lo, jamais será objeto de um contrato.
Os negócios jurídicos estabelecidos entre as pessoas, as obrigações, têm sua origem na formação de contratos, em disposição legal ou em virtude do cometimento de atos ilícitos (hipótese da responsabilidade civil). São hipóteses de que trataremos nesta Unidade.
Formação e cumprimento dos contratos
A formação de contratos se verifica quando as partes – as convergências de interesses contratantes (por exemplo: parte vendedora e parte compradora, em um contrato de compra e venda) – estabelecem um negócio jurídico, dispondo sobre a destinação econômica que pretendem emprestar a determinado bem (qualquer que seja a sua natureza).
O fato de nosso Código Civil regulamentar determinados contratos, chamados por isso de contratos típicos, não impede que as partes livremente convencionem a formação de contratos diversos destes, a que se chamarão contratos atípicos.
Outro elemento essencial do direito das obrigações é a coercitividade patrimonial que se estabelece quando da contratação, quando da conclusão do negócio. Não se podesimplesmente assumir uma obrigação, concluir um negócio jurídico, sem a intenção de cumpri-la, sem a seriedade na sua execução; sem esse animus, sem essa vontade, não subsistiria qualquer negócio, mormente aqueles de conteúdo economicamente apreciável.
Isso quer dizer que, em caso de inadimplemento, de descumprimento da obrigação, o patrimônio da parte inadimplente, daquela que deixou de cumprir o que lhe cabia por força do contrato, responderá por esse inadimplemento, ou seja, o devedor terá seus bens comprometidos com o cumprimento da obrigação ou do contrato.
Em última instância, o Estado pode executar os bens componentes do patrimônio do inadimplente para o cumprimento da obrigação, ou para sua indenização.
Contrato é a convergência de interesses, que preexiste à sua formalização, ou seja, preexiste à sua redação e até mesmo à sua assinatura, porque a assinatura nada mais é do que a reiteração da vontade anteriormente manifestada, que a parte exterioriza sob um critério de formalidade.
Repercussões patrimoniais das obrigações e contratos
Quando as partes estabelecem um negócio jurídico, comprometem o seu patrimônio para garantir a sua consecução ou o seu cumprimento. Como já pudemos observar, o direito obrigacional não se sustentaria desprovido do poder de coerção patrimonial; de tal forma que ao cumprimento de um contrato se submetem os bens dos contratantes.
O inadimplemento, ou o descumprimento dos contratos, impõe não apenas o seu cumprimento coercitivo como gera a obrigação de indenizar nas hipóteses em que o cumprimento coercitivo se mostrar impossível ou naquelas em que a sua simples imposição não se mostra suficiente para compensar o prejuízo causado ao devedor pelo inadimplemento.
Como vimos anteriormente, ao Estado cabe a exclusividade na administração da Justiça e ainda no que diga respeito ao uso da força, ao monopólio da violência lícita, ou social e juridicamente admissível; tocam-lhe a estrutura judicial e o denominado Poder de Polícia.
Portanto, o Estado – Juiz (que, como anteriormente mencionamos, é a representação do Estado quando compõe os conflitos surgidos entre os cidadãos) poderá determinar que o bem objeto do contrato de compra e venda descumprido pelo vendedor seja transferido para o patrimônio do comprador, por exemplo, e, além disso, pode determinar o emprego da força para realizar essa transferência.
Tipologia das Obrigações em nosso sistema de Direito
Em brevíssima síntese, e para fins acadêmicos, podemos classificar as obrigações segundo a natureza do negócio e da prestação que encerram da seguinte forma:
· Obrigação de dar são aquelas cuja prestação encerra a entrega de um determinado bem, ou de seu equivalente; por exemplo, na compra e venda necessariamente teremos a entrega do objeto ao comprador quando do pagamento do preço ou quando da formalização do negócio. Assim também na doação, em que apenas não encontramos o preço, ou o valor estimado para o bem objeto da relação obrigacional.
· Obrigação de fazer são aquelas cujo objeto compreende a realização de atos providos de conteúdo econômico ou economicamente apreciável, pelo devedor, em benefício do credor, mediante determinada remuneração – como, por exemplo, na prestação de serviços.
· Obrigação de não fazer teremos por objeto, ao contrário, a determinação da inércia do devedor, a exigibilidade do comportamento consistente em não praticar determinado ato em desfavor do credor – por exemplo, a obrigação de não incluir os dados de alguém nos cadastros restritivos de crédito, que se obtém por determinação judicial: o comportamento imposto ao réu, que será o devedor da obrigação gerada pela decisão do Estado – Juiz é de abstinência, é de não praticar o ato que seria prejudicial à parte.
Contratos e obrigações e as relações de consumo
O fenômeno da criação da sociedade de consumo impôs ao Direito uma evolução de conceitos e uma nova abordagem da teoria obrigacional e da teoria da relação contratual, denominada relação de consumo de massa.
Também a forma de contratar, de assumir obrigações economicamente estimáveis em sociedade, se alterou profundamente na era das relações de massa, na medida em que os contratos, ou instrumentos das obrigações, deixaram de ser redigidos em razão de um acordo de vontades entre pessoas e passaram a ser a bem da verdade instrumentos preconcebidos, elaborados anteriormente pelos fabricantes ou fornecedores e veiculados à população como um todo e indistintamente, cabendo ao cidadão, então tornado consumidor, apenas escolher entre assinar ou não o contrato ou, por outra, entre contratar na forma preestabelecida ou simplesmente não contratar.
A esse tipo de instrumento chamou-se contrato de adesão, porque a participação do consumidor na elaboração de seu conteúdo simplesmente inexiste ou se limita à adesão a cláusulas predefinidas pelos fornecedores, fabricantes e vendedores.
O Direito relativiza a liberdade e a autonomia das partes na formação de contratos para estabelecer, tanto quanto possível, o equilíbrio nas relações negociais.
E o fez por meio da definição das figuras do consumidor, do fabricante e do vendedor e da instituição de alguns princípios, que são:
· A interpretação em benefício do consumidor dos contratos de adesão;
· A nulidade ou anulação das cláusulas abusivas destes instrumentos em seu desfavor;
· A consideração de sua deficiência em termos processuais quando de ação judicial em face de fornecedores, fabricantes e vendedores (a denominada hipossuficiência) com a consequente inversão do ônus da prova em seu favor.
Essas alterações integram um fenômeno que em doutrina passou a denominar-se dirigismo estatal das relações contratuais, e representa, de fato, uma intervenção do Estado na formação dos contratos, porém com a finalidade de garantir, tanto quanto possível, a isonomia e a igualdade de condições entre as partes contratantes.
Aula 3
Responsabilidade Civil
Não apenas os contratos são fontes de obrigações na esfera negocial reconhecida e regulamentada pelo Direito; também são fontes de obrigações os atos ilícitos e abusivos de direito.
Atos ilícitos e abusivos de direito Aqueles que, ultrapassando a esfera do exercício regular dos direitos do indivíduo em sociedade, causam dano ou prejuízo a outrem – e isso impõe o seu ressarcimento, que se dá, tecnicamente, em forma de reparação ou indenização, conforme a natureza dos danos e dos prejuízos causados a vitima.
EX:Um acidente que cause um dano ao veículo de alguém não será necessariamente tipificado como crime, porém o fato de ser imputável a uma determinada conduta do autor, somado ao prejuízo sofrido pela vítima, farão incidir a obrigação de indenizar ou de reparar o prejuízo – e essa é a essência própria da responsabilidade civil.
	Ato ilícito praticado pelo autor
	→
	dano sofrido pelo patrimônio da vítima
	→
	hipótese de incidência da obrigação de reparar os prejuízos patrimoniais
	=
	responsabilidade civil
Assim, temos que a responsabilidade civil forma-se a partir da integração dos seguintes elementos, que lhe são essenciais:
Para a configuração do ato ilícito civil não é necessário que esse ato também seja, por exemplo, um ato criminalmente censurável (ou seja: um crime); tampouco será necessário que o agente (aquele que pratica o ato) o faça com intenção de causar prejuízo à vítima (hipótese de dolo); basta que tenha agido com negligência, imprudência ou imperícia (portanto com culpa) para que a responsabilidade civil se configure.
Dolo significa fraude, má fé, maquinação. É todo ato com que, conscientemente, alguém induz, mantém ou confirma o outro em erro. É a vontade dirigida à obtenção de um resultado criminoso ou o risco de produzi-lo.
A segunda hipótese, do ato abusivo ou praticado com abuso de direito, pode num primeiro momento ser considerada mais complexa dada a aparente subjetividade de seu conceito; todavia, é de aplicação corriqueira no Direito. Age com abuso de direito aquele que, mesmo praticando um ato que, a priori, é lícito, extrapola a utilidade que este lhe teria, causando umprejuízo a outrem.
Um exemplo claro dessa regra é a definição da legítima defesa enquanto excludente de ilicitude. Somente poderá ser considerado ato de legítima defesa para fins de exclusão da ilicitude aquele praticado estritamente no limite do necessário para repelir a agressão injusta ou para remover o perigo que ameaça o agente.
Para a aferição da culpabilidade, ou, melhor dizendo, para a análise da razoabilidade da conduta do agente, o Direito emprega a figura do homem médio, que funciona como paradigma para julgamento da conduta individual em matéria legal.
Tanto na primeira como na segunda possibilidade acima mencionadas serão os seguintes os elementos essenciais estruturantes da responsabilidade civil: ato ilícito ou abusivo de direito praticado pelo agente, o dano sofrido pela vítima e a hipótese de incidência, que é o vínculo, o liame entre o ato ilícito e o dano, fundamental para a criação da hipótese de incidência da obrigação de indenizar.
A responsabilidade civil impõe o estabelecimento da obrigação de indenizar; é o caso clássico de obrigação decorrente de uma decisão judicial, posto que necessariamente decorre de uma sentença.
Esferas da reparabilidade na responsabilidade civil
A obrigação de indenizar é a regra genérica que engloba algumas vicissitudes cuja análise, ainda que em síntese, se faz necessária.
A finalidade essencial da responsabilidade civil é a restauração das coisas ao estado em que se encontravam antes da verificação do evento danoso. Isso significa dizer que se o dano admitir reparação, será observado o que o Direito chama de status quo ante. Porém, se o dano causado for de impossível valoração, porque foi infligido a uma esfera imaterial da personalidade da vítima, dar-se-á a indenização, que é a forma de se estabelecer uma medida de ressarcimento, de conforto para a vítima, ao mesmo tempo em que impõe uma censura, uma punição ao agente.
O ser humano não é composto simplesmente por matéria e patrimônio; pelo contrário, são perceptíveis sentimentos, abalos e vicissitudes de natureza tão diversa como a morfológica e a moral, como a patrimonial e a psiquiátrica, por exemplo. Portanto, serão factíveis tantas indenizações ou reparações quantas forem as esferas da personalidade, e a vítima, aquele que sofreu o dano, pode pleitear estas indenizações ou reparações cumulativamente, independentemente de quantidade, qualidade e valor, numa mesma ação e num só procedimento, já que mesmo sua personalidade sendo una, é fato que as suas esferas são individualizadas.
A culpa na responsabilidade civil
Há dois sistemas de responsabilidade civil: aquele que independe da verificação da culpa na atuação do agente e o que dela depende para a configuração da hipótese de obrigação de indenizar.
Sistema da responsabilidade civil objetiva ou responsabilidade civil legal
Essa responsabilidade nasce da lei ou de qualquer ação do agente que cause o dano à vítima, independentemente de sua culpa ou dolo.
São exemplos dessa modalidade de responsabilidade civil aquela do patrão ou comitente pelo ato de seu preposto ou empregado, que decorre de dispositivo do Código Civil, a responsabilidade civil do transportador pelo dano causado ao transportado (que deflui da lei e do contrato de transporte, que é um contrato de adesão, nos moldes já anteriormente analisados), a responsabilidade civil do Estado pelos eventuais acidentes nucleares e, finalmente, a responsabilidade baseada nos dispositivos do Código de Defesa do Consumidor, que impõe, independentemente da verificação de culpabilidade, a obrigação de indenizar ao fornecedor, ao fabricante e ao vendedor, nas relações de consumo.
Porém, as hipóteses da responsabilidade objetiva – aí considerada, amplamente, como a responsabilidade independente da culpa – são exceções, devem estar previstas em lei ou no contrato firmado entre as partes, sendo a regra a verificação da culpa do agente para a imposição da obrigação de indenizar.
Culpa Em linhas gerais podemos conceituá-la como sendo o ato cometido com imprudência, negligência ou imperícia pelo agente, que cause danos a outrem.
Negligência, imprudência e imperícia são qualidades de atuação eminentemente subjetivas e, para a sua avaliação, o Direito se vale, uma vez mais, do paradigma do homem médio, também chamado bonus pater famílias – ou bom pai de família, do Direito Romano – para, segundo o seu modelo, e numa interpretação analógica (como já anteriormente pudemos analisar), aferir se a conduta do agente foi, de fato e tendo por base o usual entre os membros da sociedade, permeada pela culpa e, portanto, se incidirá obrigação de indenizar.
É evidente que, sendo subjetivos os critérios para a avaliação da responsabilidade sob o fundamento da culpa, diversos serão os entendimentos dos julgadores sobre o tema e sobre as condutas humanas; para equacionar as eventuais disparidades, aplica-se a jurisprudência, que, sendo o conjunto das decisões dos Juízes e Tribunais, traçarão parâmetros para a apreciação das diferentes hipóteses ocorridas na realidade.
Importante destacar que a culpa possui gradações, sendo a primeira delas a denominada culpa levíssima e a mais grave o dolo.
Culpa Levíssima Decorre essa assertiva do brocardo latino segundo o qual in lege Aquilia levissima culpa venit, usualmente empregado como significando que, para a aferição da responsabilidade (chamada aquiliana porque tem seu antecedente histórico na Lex Aquilia romana, que cuidava de hipóteses de indenização) basta a presença da mais remota culpa.
IMPORTANTE: A motivação do agente também importará para a apreciação da incidência ou não da obrigação de indenizar e para o estabelecimento do montante que comporá o seu objeto – também denominado quantum indenizatório, ou seja, o valor a ser adimplido como compensação, indenização ou reparação à vítima pela prática do ato ilícito que lhe tenha causado prejuízo.
Abrangência e natureza da responsabilidade civil
A responsabilidade civil é de natureza privada e abrange a reparação ou a indenização dos danos ou prejuízos causados à vítima que estejam compreendidos nessa esfera do Direito – ou seja, é inteiramente díspar e independente de outras modalidades obrigacionais estipuladas pela lei, como a responsabilidade criminal, ou a responsabilidade fiscal ou tributária, por exemplo.
A hipótese de incidência da obrigação de indenizar que constitui a responsabilidade civil se assenta em um dano que surja de uma violação à esfera da personalidade compreendida em sua matéria, o que, por exclusão ou residualmente, compõe-se de todas aquelas que não se limitam a obrigações de outra natureza.
A Responsabilidade Civil do Estado
Assim como os cidadãos, o Estado também poderá ser sujeito passivo da hipótese de incidência da obrigação de indenizar na esfera da responsabilidade civil.
Pela sua própria natureza (o Estado é uma pessoa jurídica de direito público interno), a responsabilidade do Estado decorrerá de lei que a determine (via de regra, na modalidade objetiva, como na hipótese da atividade nuclear) ou de ato de seu preposto, que, na hipótese, é o agente público, quando na prática da sua função pública.
UNIDADE 3
AULA 1- ATIVIDADE EMPRESARIAL
A livre circulação de bens e riquezas em sociedade, ponto nevrálgico de nosso Direito privado e objetivo de realização de nosso ordenamento em sede de obrigações e contratos de qualquer ordem, nem sempre foi possível ou até mesmo admitida.
No mundo feudal, cujas relações se baseavam no imobilismo da estratificação estamental do organismo social e político, e onde as estruturas de poder dependiam, fundamentalmente, da garantia de manutenção desse imobilismo, a dinâmica necessária para as relações comerciais não era possível e, mais do que isso, não era mesmo desejada pelas elites.
A própria atividade lucrativa era algo destinado a pessoas que não comporiam, jamais, a aristocracia, integrada pelos nobres – cuja riqueza não se lastreava no comércio ou na circulação de riquezas, mas, pelo contrário, baseava-se na posse da terra e na percepção da riquezaadvinda de sua exploração em sistema servil – e pela alta hierarquia clerical, que partilhava com a nobreza esse mecanismo de acumulação de riqueza e de manutenção do poder.
Na medida em que o exercício da atividade comercial, empresarial, proporcionava crescentes riquezas e prestígio àqueles que a exerciam, impunham-se alterações sociais no sentido não apenas de sua valorização, mas, também e principalmente, no da facilitação de suas atividades, o que resultou na gradativa ruptura das barreiras comerciais, na unificação dos sistemas de pesos e medidas e na adoção da universalidade de um meio circulante com função de valorímetro que fosse reconhecido e aceito nos diversos locais onde essa atividade era praticada, e, portanto, pressupunha certa padronização antes inimaginável.
Com efeito, essas novas realidades impunham a formação de inéditas estruturas sociais e, no esteio de sua constituição, trouxeram novos padrões éticos, estéticos e, consequentemente, sistemas e ordenamentos jurídicos adequados à garantia de funcionalidade dessas novas relações, estabelecendo-se normas destinadas a legitimar e a proteger o maior dinamismo das classes sociais, a maior permeabilidade destas às influências e acessos das demais classes ou dos indivíduos que as integram e as relações comerciais então ascendentes.
Nossas relações com o mundo europeu – e o início de nossa história colonial – devem seu início à alteração das estruturas de pensamento econômico-político (e consequentemente jurídico), que desembocaram no mercantilismo, do qual a expedição destinada à nossa descoberta foi significativo antecedente: um empreendimento multinacional, concebido na multiétnica e multicultural Escola de Sagres. 
Nosso sistema jurídico formal, então, em um primeiro momento, foi importado da Metrópole. As Ordenações do Reino vigeram em nosso território (ao menos formalmente) desde o descobrimento até a outorga de nossa primeira Constituição, em 1824, e já no curso do Primeiro Império; todavia, o primeiro de nossos Códigos foi, sintomaticamente, o Código Comercial, de 1850 – apenas para contextualizar, promulgado mais de 50 anos antes de nosso primeiro Código Civil, de 1916.
Desde 1850 e até 2002, foi o Código Comercial o Diploma Legal norteador de toda a atividade empresarial, então inserida no conceito de atividade comercial (que é uma categoria necessariamente mais restrita), realidade alterada apenas com a promulgação do atual Código Civil, que passou a dispor sobre o denominado Direito de Empresa, incorporando a atividade empresarial à nossa lei civil.
Além do Código Civil, a matéria é regida, atualmente, pela lei de Falências, de 2005, pela lei das microempresas e pela lei das sociedades anônimas, apenas para contextualizar a disposição do sistema jurídico construído sobre a matéria.
ATO COMERCIAL E ATIVIDADE EMPRESARIAL
Sob a égide do Código Comercial, a atividade empresarial centrava-se na prática do comércio, da mercancia, e era representada pela hipótese da prática do ato de comércio, que era aquele que dava a quem o praticasse a condição de comerciante, devendo ser resolvido pelas normas próprias do Direito Comercial.
O ato de comércio se estabelecia subjetiva ou objetivamente, segundo fosse considerada a sua identificação pela pessoa que o praticava ou pelo próprio ato praticado (determinando a teoria da consideração subjetiva o estabelecimento de uma relação comercial quando decorrente de um ato praticado por comerciante, e a objetiva, o estabelecimento dessa natureza de relação quando praticado um ato de comércio).
A definição de ato de comércio, assim, se prendia mais à identificação da prática de uma atividade que não pudesse ser inserida naquelas consideradas de esfera civil, ou seja, definia comércio basicamente pela sua distinção em face de atos de outra natureza, ou de natureza não necessariamente lucrativa, que não envolvessem acumulação ou transferência de capital.
Tal definição evoluiu na medida das modificações percebidas em nossa sociedade, de tal sorte que não mais nos atemos à definição circunscrita aos atos comerciais restritivamente para a consideração da atividade negocial, que, hoje, consideramos como sendo aquela do empresário, como tal considerando-se quem exerce atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou serviços, excluídos aqueles que exercem profissão intelectual, de natureza científica ou artística e literária, ainda com o concurso de auxiliares e colaboradores, salvo se o próprio exercício da profissão constituir elemento da empresa.
Não sem razão, sobre a atividade empresarial dispõe nosso Código Civil, em seu artigo 966, ser “atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços”, estabelecendo, portanto, os critérios, os requisitos ou elementos para a sua configuração, quais sejam: a organização da atividade sob finalidade econômica ou visando a circulação de riquezas, fundada no ato de produção ou circulação, em sociedade, de bens da vida economicamente apreciáveis ou da circulação, pela prestação ou pelo agenciamento, de serviços.
Importante destacar, ainda, que:
BENS: entende-se por qualquer dos objetos suscetíveis de apreciação econômica, aí incluídas as atividades de prestação de serviços, dado que necessariamente vai integrar a sua realização um conteúdo de valor economicamente apreciável, sem o qual não seriam admitidas empresarialmente.
CIRCULAÇÃO: se refere à mudança de titularidade, de propriedade, de posse ou de uso desses bens economicamente apreciáveis, e não à própria atividade física, de deslocamento corpóreo.
AULA 2
EMPRESÁRIO
Aquele que exerce profissionalmente uma atividade econômica organizada para o fim de produção ou troca de bens e serviços. Para tanto, necessário o preenchimento de outras condições ou requisitos, quais sejam: a capacidade civil, a ausência de impedimento legal e a efetivação do Registro Público junto ao Registro de Empresas Mercantis da sede da atividade, antes de seu início.
Art. 966 – Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.
Parágrafo único – Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão consistir elemento de empresa.
REGISTRO PÚBLICO: serviços públicos com a função de perpetuar documentos para a prova de atos jurídicos em qualquer tempo, sua publicidade e conhecimento de terceiros.
Para a obtenção da condição de empresário, determina o dispositivo do artigo 972 do Código Civil a necessidade do exercício da capacidade civil e a inexistência de impedimento legal:
Art. 972 – Podem exercer a atividade de empresário os que estiverem em pleno gozo da capacidade civil e não forem legalmente impedidos.
A necessidade de registro se encontra nos artigos 967 e 968 do Código Civil, que determinam:
Art. 967 – É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade.
Art. 968 – A inscrição do empresário far-se-á mediante requerimento que contenha:
I. o seu nome, nacionalidade, domicílio, estado civil e, se casado, o regime de bens;
II. a firma, com a respectiva assinatura autógrafa;
III. o capital;
IV. o objeto e a sede da empresa.
§ 1º - Com as indicações estabelecidas neste artigo, a inscrição será tomada por termo no livro próprio do Registro Público de Empresas Mercantis, e obedecerá a número de ordem contínuo para todos os empresários inscritos.
§ 2º À margem da inscrição, e com as mesmas formalidades, serão averbadas quaisquer modificações nela ocorrentes.
Esse registro será efetuado, no caso das sociedades empresárias e das empresas mercantis, perante as Juntas Comerciais e, no caso das sociedades simples, será realizado perante o Registro Civil de Pessoas Jurídicas, em razão das respectivas competências, determinadas pela natureza das atividades por elas exercidas.Os Registros Públicos, em nosso sistema de Direito, serão Pessoais, Reais e Obrigacionais, conforme a natureza dos dados que contenham. Os Pessoais são o Registro Civil de pessoas naturais e de pessoas jurídicas e o de empresas mercantis. Os Reais são os registros de imóveis, de propriedade marítima ou aeronáutica, de propriedade industrial ou intelectual. Os Obrigacionais são representados pelos registros de títulos e documentos
AULA 3
EMPRESA
São constituídas com finalidade certa e determinada, expressa em seus atos constitutivos – via de regra, o contrato social ou o ato de instituição –, compõem-se de pessoas físicas (ou até mesmo de outras pessoas jurídicas, contanto que admitido no ato de constituição ou na lei), que exercem sua representação, podem se relacionar em sociedade, dispõem de patrimônio próprio e independente dos seus sócios, dirigentes ou componentes, sendo sujeitos de direitos e obrigações em sede judicial.
Como as pessoas naturais, ou físicas, também as pessoas jurídicas apresentam início de existência determinado – nesse caso, o momento do registro de seus atos constitutivos no Órgão competente –, o mesmo se dando quanto ao seu final – que ocorre nas hipóteses de dissolução da pessoa jurídica.
Algumas pessoas jurídicas terão existência:
· NECESSÁRIA: Como a União, os estados e os municípios, cuja constituição integra a própria formação do Estado.
· VOLUNTÁRIA: Como as associações ou sociedades, cuja criação se constitui em ato de deliberação de vontade de seus sócios.
Denominamos “empresas”: As pessoas jurídicas organizadas em forma e com natureza civil ou mercantil, destinadas à exploração por pessoa física ou jurídica, de atividade com fins lucrativos. Essas empresas são constituídas pelos indivíduos a quem denominamos empresários, para a prática das atividades consideradas empresariais.
A enumeração estabelecida pelo Código Civil não é restritiva, existindo empresas cuja regulamentação não se encontra nesse Diploma Legal como, por exemplo, a microempresa, a empresa de pequeno porte e a sociedade anônima, e isso se dá em razão de suas peculiaridades.
A criação da microempresa, como da empresa de pequeno porte, atendeu à antiga reivindicação social, consistente na simplificação dos procedimentos para a constituição ou para a regularização de empresas voltadas a determinadas atividades ou que percebam faturamento anual em valores até determinado patamar considerado adequado à simplificação de que se trata – hipóteses consideradas de menor complexidade, daí a facilitação dos procedimentos.
Importante frisar que, assim agindo, o Estado brasileiro deu importante passo no sentido da tão almejada desburocratização, reduzindo o denominado “Custo Brasil” – ao menos no que diz respeito a tais atividades
Custo Brasil é um termo genérico, usado para descrever o conjunto de dificuldades estruturais, burocráticas e econômicas que encarecem o investimento no Brasil, dificultando o desenvolvimento nacional, aumentando o desemprego, o trabalho informal, a sonegação de impostos e a evasão de divisas. Por isso, é apontado como um conjunto de fatores que comprometem a competitividade e a eficiência da indústria nacional.
A dissolução das empresas pode se verificar:
· Pelo seu simples distrato, quando seus sócios decidem pelo encerramento de suas atividades.
· Pela cassação da autorização para funcionamento – nas hipóteses em que essa autorização é dependente do Poder Público, que pode revogá-la.
· Em razão da impossibilidade da continuação do cumprimento de sua finalidade social, nas hipóteses de falência ou de recuperação judicial.
FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO
Ocorrem a falência e a recuperação judicial quando a empresa não possui mais condições econômicas ou financeiras para manter-se em funcionamento na forma de seu contrato social – ou seja, quando o lucro, ou resultado, for inferior à despesa, o que afeta sua saúde financeira, comprometendo a sua viabilidade.
São hipóteses diversas: quando ocorre a recuperação, ainda subsiste a possibilidade de retorno da empresa ao seu normal funcionamento, pelo que se dá a prorrogação dos prazos de vencimento das obrigações, redução do valor das dívidas, enfim, há planejamento para recuperar a viabilidade da empresa e para mantê-la no mercado, retomando sua atividade.
A recuperação pode ser:
· JUDICIAL: Quando esse processo ocorre em Juízo (em que um plano de recuperação é entregue ao Juiz, que supervisiona o cumprimento da lei).
· EXTRAJUDICIAL: Quando o devedor interage diretamente com os seus credores sem a participação do Judiciário.
UNIDADE 4
DIREITO TRIBUTÁRIO E DIREITO PENAL ECONÔMICO
AULA 1
TRIBUTOS
A organização do Estado e o seu estabelecimento como único e exclusivo detentor da soberania e do poder de estruturação social impuseram a necessidade da criação de estruturas responsáveis, em planos concretos, por suas ações.
Assim, para a prática de suas atribuições, como, por exemplo, a administração da justiça, da segurança, da saúde, o funcionamento de seus Poderes e instâncias, o executivo, o legislativo e o judiciário, o Estado necessita de recursos econômicos, denominadas receitas.
Tais recursos, com os quais o Estado mantém as instituições responsáveis pela realização de suas finalidades e demais projetos, vêm, principalmente, dos tributos e compõem a sua atividade financeira.
O próprio funcionamento do Estado conduz, necessariamente, à existência de uma atividade financeira consistente na obtenção de recursos, sua gestão e sua aplicação.
É uma atividade fundamental, já que, em termos práticos, garante a existência de todas as demais que toquem ao Estado.
São diversos os fins colimados pelo Estado, tais como:
· Manutenção da ordem pública.
· Garantia da defesa contra eventual inimigo externo.
· Distribuição da justiça.
· Realização e feitura das leis.
· Prestação de serviços públicos.
· Fiscalização das atividades particulares.
· Atuar nos campos, social e econômico por meio de projetos de várias naturezas.
A implementação e realização dessas tarefas envolve, necessariamente, custos que não podem ser cobertos ou garantidos simplesmente com o patrimônio do próprio Estado. Ele necessita de outros recursos, que deverão ser obtidos em volume tal que importe na execução de métodos (Tais métodos, de exclusividade estatal, revelam-se coercitivos, portanto de natureza diversa dos atos entre particulares.) que lhe são exclusivos.
O Direito Tributário é, assim, um conjunto de normas e princípios que têm por objeto a atuação econômica do Estado por meio da atividade tributária, caracterizada por ser aquela de que a Administração Pública se vale para a obtenção de recursos com os quais custeia as suas despesas, quando não puderem ser atendidas com o próprio patrimônio.
Outra característica da atividade tributária consiste em ser o tributo exclusivo do Poder Público, privativo do Estado. Apenas o Estado poderá instituir e arrecadar tributos, por meio dos processos e procedimentos adequados.
A atividade tributária, privativa do Estado, atende a determinados princípios, que lhe são próprios e se encontram no texto da Constituição Federal de 1988. São eles:
a. O Princípio da Estrita Legalidade.
b. O Princípio da Anterioridade.
c. O Princípio da Irretroatividade.
d. O Princípio da Isonomia.
e. O Princípio da Não-cumulatividade.
f. O Princípio da Uniformidade Geográfica.
Vejamos, brevemente, o que determina cada um deles:
· PRINCÍPIO DE ESTRITA LEGALIDADE: Determina que ninguém poderá ser obrigado a adimplir tributo que não tenha sido anteriormente previsto por lei. Representa um dos princípios essenciais do Estado moderno, o Princípio da Legalidade na tributação, contido na universalidade do Princípio da Reserva Legal, ou da Reserva da Lei, empregado, ainda, em outros ramos do Direito Público como, por exemplo, no Direito Penal (em que não há crime sem lei anterior que o defina e não há pena sem lei anterior que a estabeleça).
· PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE: Determina que nenhum tributo pode ser cobrado no mesmo exercício financeiro em que foi instituído ou aumentado.A lei que cria ou aumenta um tributo tem a sua eficácia suspensa até o início do exercício financeiro subsequente. O Princípio da Anterioridade sucede ao Princípio da Anualidade, que, mais restritivo, determinava que cada tributo, para ser exigível, deveria ser previsto na lei orçamentária elaborada e aprovada no exercício antecedente ao da cobrança.
· PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE: Segundo o Princípio da Irretroatividade – que também se aplica a normas de outros ramos do Direito Público, como o Direito Penal –, a lei nova apenas pode surtir efeitos quanto a atos praticados em momento que lhe seja anterior quando for mais benéfica ao cidadão, que, no caso, é o contribuinte. Dessa forma, a lei apenas poderá ser aplicada a atos ocorridos em exercícios anteriores quando reduzir a alíquota ou deixar de impor qualquer sanção ao contribuinte.
· PRINCÍPIO DA ISONOMIA: determina que todos os contribuintes que se encontrem em determinada situação devem ser tratados da mesma maneira, ou seja, estarão sujeitos ao pagamento da mesma alíquota tributária, aos mesmos processos e procedimentos de lançamento do crédito tributário ou de cobrança do valor eventualmente devido. Não se admite que o Estado ignore a dívida de uns e cobre as dívidas de outros quando todos sejam sujeitos passivos da mesma relação obrigacional. O tratamento desigual, que é naturalmente uma fonte de abusos, é vedado pelo nosso ordenamento jurídico.
· PRINCÍPIO DA NÃO- ACUMULATIVIDADE: não poderá haver repetição de cobranças em desfavor do contribuinte. Não poderá o cidadão ser obrigado a adimplir duas vezes o mesmo valor a título de tributo, bem como não poderá ter um mesmo ato tributado duplamente.
· PRINCÍPIO DA UNIFORMDIDADE GEOGRÁFICA: Determina que, em matéria tributária, os tributos, quando determinados pela União, deverão ser aplicados igualmente em todos os Estados; da mesma forma, quando determinados pelo Estado, deverão ser aplicados igualmente pelos seus Municípios e, nestes, serão aplicados igualmente a todas as localidades. Não se admite que determinado tributo de competência da União seja exigível em certo Estado e não em outro, em respeito ao pacto federativo. Por extensão lógica, o mesmo se dá nos tributos de competência das demais esferas da administração pública, uma vez que todas são sujeitos ativos da relação tributária e em nenhuma delas se admitirá um tratamento diverso entre os seus cidadãos.
Nosso Código Tributário Nacional define tributo em seu artigo 3º:
Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada.
Os tributos exigíveis em nosso sistema de Direito são os impostos, as taxas e as contribuições de melhoria, como determina o artigo 5º do Código Tributário Nacional, que dispõe:
Art. 5º Os tributos são impostos, taxas e contribuições de melhoria.
Contribuições de melhoria são tributos cobrados em decorrência de obras públicas; é de modalidade vinculada, porém indireta, pois, além da atuação do Estado, se impõe uma consequência. É paga por todos que se beneficiem da obra pública que custeia, na medida do benefício auferido.
Tem sua definição no artigo 81 do Código Tributário Nacional, que dispõe:
Art. 81. A contribuição de melhoria cobrada pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, é instituída para fazer face ao custo de obras públicas de que decorra valorização imobiliária, tendo como limite total a despesa realizada e como limite individual o acréscimo de valor que da obra resultar para cada imóvel beneficiado.
AULA 2
CONTRIBUINTES
Assim, como no direito das obrigações, a obrigação tributária consiste em um vínculo que une o direito de crédito do sujeito ativo ao dever de pagamento do sujeito passivo. Há, pois, em toda obrigação, um direito de crédito, que pode referir-se a uma ação ou omissão a que se subordina o patrimônio do sujeito passivo, do devedor, no campo tributário denominado contribuinte.
O objeto da obrigação consiste em dar, fazer ou deixar de fazer algo economicamente apreciável em favor de alguém. Na obrigação tributária, teremos sempre uma obrigação de dar, revestida de caráter patrimonial.
As obrigações tributárias serão: ou:
· Principais: Como obrigação principal, teremos sempre uma obrigação de dar, consistente no adimplemento de certo tributo, no montante e na forma determinados em lei.
· Acessórias: Como obrigações acessórias, teremos as obrigações cujo objeto remonte às obrigações de fazer ou de não fazer, também necessariamente previstas em lei.
São obrigações tributárias aquelas que os contribuintes são obrigados a fazer em nome do fisco e para o fisco, tais como a escrituração dos seus livros, a manutenção de seus documentos, a emissão de notas fiscais.
A obrigação tributária terá duas partes: o credor, ou sujeito ativo, e o devedor, ou sujeito passivo, sobre cujo patrimônio incide a obrigação patrimonial. Todavia, dada a sua especialidade, os sujeitos da relação tributária estão definidos em lei, não podendo ser determinados pela manifestação da vontade das partes, como é regra no direito obrigacional, em que o esperado é a liberdade de contratar – na orbe tributária, a obrigação nasce da lei, é impositiva, e essa mesma lei, como vimos, determina o sujeito ativo, o sujeito passivo, o objeto da obrigação e a forma de seu cumprimento.
O Código Tributário Nacional determina serem sujeitos ativos da obrigação tributária:
Art. 119. Sujeito ativo da obrigação é a pessoa jurídica de direito público, titular da competência para exigir o seu cumprimento.
 podemos dizer que sujeitos ativos da relação tributária serão as pessoas jurídicas de natureza pública (ou de natureza privada, restritivamente, quando atuem por delegação – o que é uma modalidade excepcional) que, por força de lei, poderão tomar as medidas necessárias para o recebimento do crédito tributário.
Sujeito passivo da relação tributária será aquele a quem incumbe adimpli-la; é, portanto, aquele a quem toca o pagamento do débito, na hipótese da obrigação principal e, em caso de obrigação acessória, será aquele a quem tocar o seu atendimento.
É o que dispõem os artigos 121 e 122 do Código Tributário Nacional:
Art. 121. Sujeito passivo da obrigação principal é a pessoa obrigada ao pagamento de tributo ou penalidade pecuniária.
Parágrafo único. O sujeito passivo da obrigação principal diz-se:
i. Contribuinte, quando tenha relação pessoal e direta com a situação que constitua o respectivo fato gerador;
ii. Responsável, quando, sem revestir a condição de contribuinte, sua obrigação decorra de disposição expressa de lei.
Art. 122. Sujeito passivo da obrigação acessória é a pessoa obrigada às prestações que constituam o seu objeto.
Essa distinção se verifica pois, em muitas hipóteses, não há conveniência do fisco em fazer coincidir na pessoa que realiza o ato que faz incidir a hipótese de incidência, a condição de sujeito passivo, embora essa seja a hipótese mais comum.
Isso não impede que a cobrança do tributo diretamente do contribuinte seja, de fato, onerosa para o Estado – e por isso o Código Tributário Nacional admite que a lei determine outro responsável pelo adimplemento, ou seja, determine que uma pessoa alheia à relação tributária se torne responsável pelo pagamento do tributo.
O contribuinte continua a ser o cidadão de quem essas instituições retiveram o imposto, mas são as responsáveis diretas perante o Estado, o que as torna responsáveis pelo crédito tributário, respondendo pelo eventual inadimplemento.
A definição legal do sujeito passivo não poderá ser estabelecida por ato entre particulares, não podendo ser constituída pela sua simples manifestação de vontade, senão nas hipóteses em que a lei expressamente o permita.
A solidariedade na obrigação tributária apenas se poderá verificar, evidentemente, mediante expressa determinação legal e sobre os sujeitos passivos, sobre os

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