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Identificação molecular do vírus da Doença de Gumboro

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26/10/2020 Identificação molecular do vírus da Doença de Gumboro
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Identificação molecular do vírus da Doença de Gumboro
Maria Judite Bittencourt Fernandes
A doença infecciosa da bursa (IBD) é uma doença viral aguda altamente contagiosa de aves jovens. Também é
conhecida como doença de Gumboro em razão da sua primeira descrição, em 1962, ter ocorrido na região de Gumboro em
Delaware, nos EUA. O vírus da IBD (IBDV) pertencente à família Birnaviridae, apresenta um capsídeo icosaédrico, sem
envoltório e cerca de 60nm de diâmetro, e dois sorotipos, 1 e 2, sendo que apenas o sorotipo 1 é patogênico para galinhas. O
genoma viral é constituído por dois segmentos de RNA de dupla fita (segmento A e B).
A doença pode se manifestar de duas formas, a aguda e a subclínica, dependendo da idade das aves infectadas. A
forma subclínica ocorre em galinhas com menos de 3 semanas de idade. Nesta fase ocorre o desenvolvimento do sistema
imunitário das aves pela bursa de Fabrício, ou seja, os linfócitos B produzidos nela migram para os órgãos linfoides secundários.
Como a bursa é o órgão alvo principal do vírus, uma infecção nesta fase, onde o sistema imune da galinha não está maduro,
produzirá uma imunossupressão severa e prolongada.
A forma aguda ocorre normalmente em aves entre 3 a 6 semanas de idade e, neste caso, a imunossupressão é
temporária com manifestação da forma clínica. Os sinais clínicos são: eriçamento das penas, diarreia aquosa ou com fezes
esbranquiçadas, depressão, tremores, anorexia, desidratação e morte. A severidade da doença e suas consequências variam de
acordo com a dose infectante, status imunológico e presença de fatores intercorrentes, que podem ocasionar quadros de
mortalidade entre 5 a 30%.
Desde 1987 identificaram-se isolados virais de IBDV, sorotipo 1, nos EUA, causando surtos da doença subclínica em
lotes vacinados. Esses isolados não neutralizados pela vacinação apresentaram diferenças antigênicas detectadas pelo teste de
vírus-neutralização (VN) cruzada que os distinguiram em subtipos, mas ainda dentro do sorotipo 1. Esses vírus foram
denominados de variantes e foram, posteriormente, encontrados também na Austrália, Nova Zelândia e Canadá.
Na Europa, nesta mesma época, ocorreram surtos da doença clínica, mas com uma mortalidade muito elevada,
atingindo 100% em alguns lotes. Esses isolados não apresentaram mudanças antigênicas apesar dessa alteração na virulência.
Os vírus responsáveis por esses surtos foram denominados de “muito virulentos”, em inglês “very virulent” (sigla vv). Nas
infecções com esses vvIBDV, os sinais clínicos são similares aos produzidos pelos vírus convencionais, agora denominados
clássicos virulentos, porém mais severos e exacerbados, além da alta mortalidade. Os vvIBDVs disseminaram-se para todos os
continentes e, no Brasil, o primeiro relato ocorreu em 1999.
Assim, o IBDV, sorotipo 1, pode ser classificado de acordo com sua antigenicidade e patogenicidade em amostras
clássicas-virulentas (cv), variantes antigênicas e muito virulentas (vv). Estudos demonstraram que a base molecular dessa
antigenicidade e patogenicidade está localizada na região hipervariável do gene VP2 do segmento A que codifica a proteína
VP2, responsável pela indução de anticorpos neutralizantes. As alterações genéticas ocorridas nesta região é que são as
responsáveis pelo surgimento das variantes e vvIBDV.
O gene VP1 do segmento B que codifica a proteína VP1, uma RNA polimerase RNA dependente (RdRp), parece
também apresentar um papel na virulência desse vírus. Alterações na virulência de outros vírus RNA, causada por mutações
em suas RdRp, já são bem documentadas. Na verdade, sugere-se que a virulência dos vvIBDVs deve-se a um efeito sinérgico
de mutações em ambos segmentos do vírus.
A importância da IBD na avicultura comercial decorre das perdas econômicas resultantes das altas taxas de
mortalidade na forma aguda da doença ou das consequências da imunossupressão que reduz o desempenho produtivo do
plantel por meio do aumento de infecções secundárias, baixa taxa de conversão alimentar e redução das respostas contra
vacinas. No presente, a doença está bem controlada pela vacinação que é um dos principais métodos de controle da IBD aliado
a medidas rigorosas de biossegurança em razão da alta resistência do vírus no ambiente.
As vacinas chamadas “fortes”, que são menos atenuadas e foram introduzidas com o aparecimento dos vvIBDVs,
estão sendo substituídas recentemente por vacinas recombinantes ou associadas a anticorpos. Isto porque, apesar de
reduzirem os altos índices de mortalidade da época e manterem a doença sob controle, essas vacinas menos atenuadas podem
causar lesões na bursa, imunossupressão e especula-se o risco de reversão da virulência. Já foram constatados, no Brasil,
casos de IBD após a vacinação com essas cepas menos atenuadas e recentes relatos de vírus rearranjados, provavelmente
surgidos de troca genética entre vírus de campo e vacinas, coloca em foco o uso de vacinas vivas.
Os métodos de diagnóstico molecular baseados na RT-PCR são os mais utilizados hoje em dia por serem mais rápidos
e sensíveis que os métodos convencionais de isolamento viral, ou VN, nada práticos para a rotina, assim como a técnica de
ELISA de captura, que é utilizada para a diferenciação das cepas de IBDV. O teste de ELISA convencional é o método atual para
pesquisa sorológica e também para programas de imunização e eficiência das vacinas.
O gene VP2, mais precisamente a região hipervariável, tem sido o principal alvo destes métodos. A identificação
posterior dos vírus em cv, vv e variantes pode ser feita por uma variedade de testes pós-RT-PCR como a digestão por enzimas
de restrição (RE) dos produtos da RT-PCR (RT-PCR/RE) e/ou sequenciamento. Já os resultados da análise do polimorfismo de
comprimento dos fragmentos de restrição (RT-PCR/RFLP) são utilizados para a distinção dos vírus em grupos moleculares que
também pode correlacionar com os tipos antigênicos e patogênicos. Recentemente dois tipos de PCR em tempo real foram
desenvolvidos não só para o diagnóstico, mas para a diferenciação dos IBDVs.
A construção de árvores filogenéticas, baseada na sequência de nucleotídeos ou aminoácidos, também colabora no
estudo e origem dos diferentes IBDVs. Outros genes como VP1 e VP3, em menores escalas, também são objeto de estudo por
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esses métodos.
O Laboratório de Biologia Celular, do Centro de P&D de Sanidade Animal, vem estudando esse vírus desde 1995 e,
atualmente, realiza estudos moleculares com a implantação e padronização da técnica de RT-PCR tanto para a região
hipervariável do gene VP2 como de um fragmento do gene VP1 para diagnóstico e diferenciação de amostras IBDV, além do
sequenciamento e filogenia.
Baseado no gene VP2 de amostras de bursa de galinhas provenientes de granjas de corte e postura, principalmente
de municípios dos estados de São Paulo e Paraná, pesquisadores do Instituto Biológico realizaram um estudo sobre a
distribuição dos IBDV entre 1997-2005. Confirmou-se que, independente do tipo de granja, a identificação dos vvIBDVs teve
início a partir de 1999, com aumento de casos entre 2001 a 2003 e posterior declínio, coincidindo com a introdução das vacinas
fortes no mercado. Além disso, a presença também dos cvIBDV durante este período mostra a necessidade da manutenção da
vacinação. Há relatos recentes de surtos da doença clássica em lotes não vacinados.
Já com o estudo adicional do gene VP1 foi possível detectar uma amostra que, pelo sequenciamento e filogenia do
gene VP2, foi caracterizada como vv e pela sequência do gene VP1 como cv. A maioria manteve a classificação de vv ou cv
definidas anteriormente pelogene VP2. A amostra VP2vv/VP1cv é o primeiro relato de um rearranjo natural de IBDV isolado no
Brasil. O seu sequenciamento completo, assim como estudos in vivo para confirmação de sua patogenicidade, deve esclarecer o
real papel do gene VP1 na virulência dessa amostra.
O monitoramento contínuo dos IBDV é de extrema importância e fundamental não só para o conhecimento da
epidemiologia molecular desse vírus que ainda tem um grande significado para a avicultura, mas também para o controle da
IBD, na manutenção ou redefinição de medidas preventivas, vacinas efetivas e programas de vacinação.
Referências
Jackwood, D.J. Recent trends in the molecular diagnosis of infectious bursal disease viruses. Animal Health
Research Review, v.5, n.2, p.313-316, 2004.
Fernandes, M.J.B. Análise molecular parcial dos genes VP1 e VP2 do vírus da doença infecciosa da bursa
isolados no Brasil. 2010. 60f. Dissertação (Doutorado em Genética e Biologia Molecular, área Microbiologia)
– Instituto de Biologia – Unicamp, Campinas, 2010.
Lukert, P.D.; Saif, Y.M. Infectious bursal disease. In: Y.M. Saif (Ed.). Diseases of poultry. 11th.ed. Ames:
Iowa State University Press, p.161-179, 2003.
Müller, H.; Islam, R.; Raue, R. Research on infectious bursal disease — the past, the present and the future.
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Van den Berg, T.P. Acute infectious bursal disease in poultry: a review. Avian Pathology, v.29, p.175-194,
2000.
Wu, C.C.; Rubinelli, P.; Lin, T. L. Molecular detection and differentiation of infectious bursal disease virus.
Avian Disease, v.51, p.515-526, 2007.
Origem: Instituto Biológico - www.biologico.sp.gov.br 
Maria Judite Bittencourt Fernandes possui mestrado em Microbiologia e Imunologia pela Universidade Federal de São Paulo (1987).
Atualmente é pesquisador científico do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Animal do Instituto Biológico. Tem experiência na
área de Microbiologia, com ênfase em Virologia, atuando principalmente nos seguintes temas: culturas celulares, caracterização de linhagens
celulares através de suscetibilidade viral e de isoenzimas, vírus da doença infecciosa da bursa de galinha, atividade antiviral de produtos naturais
e respectiva citotoxicidade.
Contato: judite@biologico.sp.gov.br 
 
Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte
Dados para citação bibliográfica(ABNT):
FERNANDES, M.J.B. Identificação molecular do vírus da Doença de Gumboro. 2010. Artigo em Hypertexto. Disponível em:
<http://www.infobibos.com/Artigos/2010_3/gumboro/index.htm>. Acesso em: 26/10/2020
Publicado no Infobibos em 11/08/2010
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