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AESOP | PRÁTICAS RECOMENDADAS PARA O BLOCO OPERATÓRIO | 1 PRÁTICAS RECOMENDADAS PARA O BLOCO OPERATÓRIO FICHA TÉCNICA Título Práticas Recomendadas para o Bloco Operatório Autor AESOP - Associação dos Enfermeiros de Sala de Operações Portugueses Impressão e acabamento: Contactos Av. do Brasil, n.º 1, Piso 4, Salas 1 e 2 1700-008 Lisboa Capa Rita Gomes - ritaivogomes@hotmail.com Paginação Espaço Gráfico, Lda. Impressão e Acabamento Espaço Gráfico, Lda. ISBN 978-989-20-3725-7 Depósito Legal 232171/05 3º Edição Abril 2013 Adoptadas como Normas de Boas Práticas, pela Ordem dos Enfermeiros, em Janeiro 2011 “A AESOP escreve de acordo com a antiga ortografia “ Associação dos Enfermeiros de Sala de Operações Portugueses Pessoa Colectiva de Utilidade Pública desde 28 de Setembro de 2001 2 | SUMÁRIO î 1. PRÁTICAS RECOMENDADAS: 4 O VESTUÁRIO DO BLOCO OPERATÓRIO 9 O USO DE ANTISSÉPTICOS NO BLOCO OPERATÓRIO 14 DESINFECÇÃO DO CAMPO OPERATÓRIO 19 PREPARAÇÃO PRÉ CIRURGICA DAS MÃOS 24 O USO DE LUVAS NO BLOCO OPERATÓRIO 31 TÉCNICA ASSÉPTICA CIRÚRGICA 40 UTILIZAÇÃO DE CAMPOS CIRÚRGICOS NO BLOCO OPERATORIO 47 MANIPULAÇÃO E ARMAZENAMENTO DE MATERIAL ESTÉRIL NO BLOCO OPERATÓRIO 53 UTILIZAÇÃO DE ELECTROCIRURGIA 63 UTILIZAÇÃO DE GARROTES PNEUMÁTICOS 71 CONTAGEM DE COMPRESSAS, INSTRUMENTOS E MATERIAIS CORTOPERFURANTES 76 DESINFECÇÃO DE MATERIAIS: USO DE DESINFECTANTES NO BLOCO OPERATÓRIO 83 TRATAMENTO DE INSTRUMENTOS CIRÚRGICOS 91 TRATAMENTO DE MATERIAL DE VIDEOCIRURGIA 97 LIMPEZA E DESINFECÇÃO DE EQUIPAMENTO ANESTÉSICO 105 HIGIENIZAÇÃO DAS SALAS DE OPERAÇÕES 113 FACTORES AMBIENTAIS NO BLOCO OPERATÓRIO 117 CUIDADOS A UTENTES COM DOENÇA DE CREUTZFELDT JAKOB 122 UTILIZAÇÃO DE PROTECÇÕES RESPIRATÓRIAS 128 USO DO LATEX NO BLOCO OPERATÓRIO 132 PREVENÇÃO DA CIRURGIA NO LOCAL ERRADO, DO PROCEDIMENTO CIRURGICO ERRADO E DO UTENTE ERRADO 135 DOTAÇÕES SEGURAS EM AMBIENTE PERIOPERATÓRIO 140 UTILIZAÇÃO DE AGENTES ANESTÉSICOS INALATÓRIOS 146 SEGURANÇA NO REPROCESSAMENTO DE INSTRUMENTOS CIRURGICOS REUTILIZÁVEIS, CEDIDOS EM REGIME DE EMPRÉSTIMO î2. TOMADAS DE POSIÇÃO DA AESOP • RECOMENDAÇÕES DA AESOP PARA A GESTÃO DA DESPESA E REDUÇÃO DO DESPERDICIO NO BLOCO OPERATÓRIO – Jan. 2011 • TOMADA DE POSIÇÃO DA AESOP SOBRE REPROCESSAMENTO DE DISPOSITI- VOS MÉDICOS DE USO ÚNICO – Junho 2012 • O PAPEL DOS DELEGADOS DA INDUSTRIA DE DISPOSITIVOS MÉDICOS EM AMBIENTE PERIOPERATÒRIO - Out. 2012 î3. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS AESOP | PRÁTICAS RECOMENDADAS PARA O BLOCO OPERATÓRIO | 3 AGRADECIMENTOS Agradecemos a todos que com os seus saberes, experiência profissional, disponibi- lidade, compreensão e amizade contribuíram para que este livro fosse uma realidade. INTRODUÇÃO Parte integrante do papel do enfermeiro perioperatório é garantir a segurança do utente e as condições ideais do ambiente cirúrgico. Como todos sabemos, cumprir estes objectivos, nem sempre é fácil dadas as inúmeras limitações que diversos blocos operatórios portugueses apresentam e os condicionalismos muitas vezes impostos à organização e gestão dos serviços. No entanto, em matéria de segurança de utentes e profissionais, as condições a que estão sujeitos representam um risco que deve ser minimizado através da implementação de boas práticas no desempenho quotidiano de toda a equipa mul- tiprofissional. Este livro pretende fornecer linhas de orientação e fundamentação científica relativamente a procedimentos comuns em bloco operatório. As Práticas Recomendadas são recomendações fundamentadas em evidência científica, obtidas através de compilação de literatura publicada, investigação e opinião de peritos. Representam a posição oficial da AESOP – Associação dos Enfermeiros de Sala de Operações Portugueses - e resumem o que acreditamos ser a boa prática que permite atingir um óptimo nível de cuidados no bloco operatório. Destinam-se a ser implementadas nos blocos operatórios, unidades de cirurgia ambulatória, salas de endoscopia, radiologia de intervenção e todas as áreas onde se realizam técnicas invasivas. As Tomadas de Posição são documentos fundamentados na prática baseada na evidência, elaborados por um grupo de peritos, com recomendações pertinentes para a resolução de problemas, que tem como objectivo defender a qualidade e se- gurança dos cuidados perioperatórios e as condições de trabalho dos enfermeiros. A AESOP sempre esteve atenta às situações politicas, económicas e sociais que possam causar dano ou por em risco a sociedade, com o sentido de oportunidade de evidenciar a importância e as competências dos enfermeiros perioperatórios. 4 | îO VESTUÁRIO DO BLOCO OPERATÓRIO Edição 2005 Estas Práticas Recomendadas pretendem fornecer linhas de orientação sobre o vestuário que deve ser usado e como deve ser usado nas áreas restritas e semi- restritas do bloco operatório. O corpo humano é a maior fonte de contaminação microbiana do bloco operatório. O vestuário do bloco, constituído por fatos próprios, toucas, barretes, másca- ras, protecções oculares, calçado e outras barreiras protectoras, é usado como medida preventiva de contaminação de utentes e profissionais expostos a micror- ganismos e materiais de risco. O vestuário do bloco é também um importante factor no controlo da contamina- ção do ambiente cirúrgico e é usado para promover um elevado nível de higiene. RECOMENDAÇÃO I Antes de entrar no bloco operatório deverão ser retiradas todas as jóias e adornos. Justificação – Pulseiras, relógios, anéis e outros adornos, podem alojar mi- crorganismos e impedir a sua remoção durante a lavagem das mãos. Os brincos podem ser permitidos desde que sejam de pequenas dimensões, usados junto aos lóbulos das orelhas e contidos dentro da touca. RECOMENDAÇÃO II Todas as pessoas que entram no bloco operatório devem vestir roupa própria para ser usada em ambiente cirúrgico – ROUPA DE CIRCULAÇÃO. A ROUPA DO BLOCO É DE USO EXCLUSIVO NESSE LOCAL Justificação – O uso de roupa exclusiva no bloco operatório, pretende promo- ver um elevado nível de higiene, o controlo da contaminação do ambiente cirúrgico, proteger os profissionais de parte dos diversos riscos a que estão expostos e evitar a contaminação de áreas exteriores ao bloco. 1 – As diversas peças de roupa devem ser produzidas a partir de materiais seleccionados, 100% algodão ou “tecido não tecido”, que não libertem cotão, pro- porcionem conforto e confiram uma aparência profissional aos utilizadores. Justificação – Os materiais que não libertam partículas, minimizam a dispersão microbiana e consequentemente, a contaminação do ambiente cirúrgico. 2 – Os fatos de circulação devem ser de cor perfeitamente distinta da roupa estéril e devem ser constituídos por duas peças: calça e blusa de manga curta. As mangas e pernas devem ter acabamentos justos. Os decotes devem ser reduzidos de forma a limitar a área de pele exposta e os bolsos, se necessários, devem ser colocados de chapa, lateralmente, nas pernas das calças. AESOP | PRÁTICAS RECOMENDADAS PARA O BLOCO OPERATÓRIO | 5 Justificação – A movimentação dos profissionais liberta, por fricção da pele, microrganismos para a atmosfera. Estudos indicam que o uso de calças e blusas em vez de batas ou vestidos, diminui significativamente os níveis de dispersão de partículas no ambiente cirúrgico. Os decotes reduzidos e os acabamentos justos nas extremidades, pretendem funcionar como um mecanismo de contenção da libertação de partículas de des- camação da pele. A ausência de bolsos nas blusas previne a queda acidental de objectos permi- tindo uma maior liberdade de movimentos aos profissionais. Para além disso, os bolsos nas pernas permitem o uso das blusas contidas dentro das calças, o que contribui também para a diminuição do número de partículas libertadas. 3 – Devem existir casacos com manga comprida, fabricados a partir dos mes- mos materiais dos fatos de circulação, que deverão ser usados fechados, sempre que a temperatura no bloco se torne desagradavelmente friapara os profissionais. Justificação – O conforto dos profissionais é fundamental para um bom desem- penho. O uso de blusões próprios para o bloco, protege os profissionais do frio e o ambiente cirúrgico da contaminação desnecessária. Não é permitido o uso de casacos de malha dentro do bloco operatório, quer pelo elevado grau de contaminação que representam (uma vez que não são pro- cessados diariamente), quer pelo elevado número de partículas que libertam para a atmosfera. 4 – Todas as peças que constituem o vestuário do bloco operatório devem ser mudadas e processadas, diariamente e sempre que se encontrem visivelmente sujas ou molhadas. Justificação – Roupas visivelmente sujas ou molhadas, deixam de constituir barreira protectora e podem ser um veículo de infecção cruzada. 5 – Após o uso, os fatos de circulação devem ser colocados em contentor pró- prio para recolha de roupa, o qual deve ser mantido fechado até à sua evacuação. Não é aconselhável a prática de pendurar ou colocar em armários roupa usada, mesmo que aparentemente limpa, para voltar a ser utilizada posteriormente. Justificação – A roupa de circulação do bloco, fica contaminada por diversos mi- crorganismos durante o seu uso. Foi demonstrado que se encontra um maior núme- ro de microrganismos nos blocos onde é rotina guardar a roupa utilizada, por exem- plo, nas horas em que os profissionais se ausentam para fazer as suas refeições. A colocação da roupa usada em contentor fechado, imediatamente após ter sido despida, diminui o risco de contaminação e promove um elevado nível de higie- ne no ambiente cirúrgico. 6 – Após a utilização, a roupa de circulação deve ser processada, diariamente, em lavandaria com qualificação para o processamento de roupa hospitalar. Justificação – O processamento de roupa hospitalar em locais sem qualifica- ção para o efeito, pode traduzir-se numa descontaminação ineficaz e tornar-se numa potencial fonte de disseminação de microrganismos patogénicos. 6 | 7 – Após o processamento, a roupa deve ser manipulada o mínimo possível e deve ser protegida de posterior recontaminação, durante o transporte e armaze- namento nos serviços de origem. Deve circular em carro próprio, fechado e deve ser armazenada em local limpo, seco e com boas condições de arejamento. Justificação – Os processos de transporte e armazenamento de roupa trata- da, são fundamentais para garantir óptimas condições na altura da utilização. Diversos estudos demonstram um aumento significativo de colónias de micror- ganismos na roupa processada, quando não são respeitados os requisitos neces- sários durante o transporte e armazenamento. RECOMENDAÇÃO III Cabelos e pêlos faciais, incluindo patilhas, devem estar completamente cobertos quando se entra no bloco operatório. 1 – Deve ser usado barrete ou touca cirúrgica, que cubra o cabelo na sua to- talidade. Justificação – Os barretes e toucas impedem a libertação de partículas para a atmosfera e a queda de cabelos sobre as roupas ou campos cirúrgicos. 2 – Os barretes e toucas cirúrgicas devem ser fabricados a partir de materiais que não libertem cotão. Devem ser escolhidos modelos de uso único que minimi- zem a dispersão microbiana. Imediatamente após a utilização, devem ser descartados em recipiente próprio. Justificação – Quando descoberto, o cabelo capta e fixa microrganismos na proporção do seu comprimento, ondulação e oleosidade. Está provado que, os microrganismos dos cabelos, têm implicações directas com a infecção das feridas operatórias pelo que, é necessário o seu isolamento total. RECOMENDAÇÃO IV Todas as pessoas que entram em áreas restritas do bloco operatório, devem usar máscara, quando decorrem procedimentos cirúrgicos, quando existem materiais estéreis abertos ou na presença de pessoas desinfectadas. 1 – A máscara deve ser usada na presença de ferida aberta, materiais estéreis abertos ou pessoas desinfectadas. Deve cobrir tanto a boca como o nariz e deve ser colocada de forma a desviar lateralmente as partículas provenientes das vias respiratórias que não devem ser dirigidas para o campo operatório. As máscaras de alto risco com protecção ocular devem ser utilizadas sempre que se prevêem aerossóis ou salpicos de sangue ou outros fluídos orgânicos. Justificação – O uso de máscara é uma importante medida de controlo de infecção. Tem a função de conter e filtrar as gotículas e microrganismos expelidos pela boca e nariz, durante a respiração, conversação, tosse, espirros, etc. AESOP | PRÁTICAS RECOMENDADAS PARA O BLOCO OPERATÓRIO | 7 Para além disso, as máscaras são também uma barreira protectora contra o contacto com fluídos orgânicos e/ou contra microrganismos patogénicos possíveis de transmissão por gotículas, minimizando o risco a que os profissionais estão expostos - Precauções Básicas (Standard). 2 – Todos os profissionais devem substituir regularmente as máscaras, de acor- do com as recomendações do fabricante relativamente à duração da sua capacidade de filtração (no máximo 5 horas) e sempre que se encontrem sujas ou danificadas. A equipa estéril, deve proceder sempre à substituição de máscaras entre proce- dimentos cirúrgicos, independentemente do tempo de duração das intervenções. Após o uso, as máscaras devem ser cuidadosamente removidas, seguras ape- nas pelas fitas e imediatamente descartadas em recipiente próprio para resíduos sólidos contaminados. Justificação – O uso da máscara pretende ser uma medida de controlo de infecção bem como uma barreira protectora para os profissionais. A acumulação de humidade e microrganismos expelidos pelas vias aéreas conduz à saturação da máscara e consequente ineficácia da sua capacidade de filtração. Um correcto protocolo de substituição de máscaras favorece a segurança de utentes e profissionais. RECOMENDAÇÃO V Todas as pessoas que entram no bloco operatório, devem ter disponível calçado para uso exclusivo nas áreas semi-restritas e restritas, resistente ao processa- mento diário recomendado (lavagem e desinfecção). 1 – A substituição de calçado deve ser obrigatoriamente respeitada nas zonas transfer. Justificação – O uso de calçado próprio exclusivo das áreas semi-restritas e res- tritas do bloco operatório, favorece o controlo da contaminação do ambiente cirúr- gico e limita a disseminação de microrganismos patogénicos nas áreas adjacentes. 2 – O calçado, (socos ou botas), deve ser fabricado a partir de materiais anties- táticos, resistentes à lavagem e desinfecção mecânica. A sua parte superior deve ser lisa, apresentando orifícios apenas nas partes laterais. Justificação – O calçado constitui uma das barreiras protectoras que devem estar disponíveis para uso dos profissionais. Os socos com orifícios superiores não protegem os profissionais do derramamento de fluídos orgânicos. Os orifícios late- rais são suficientes para o arejamento dos pés. O uso de socos é preferencial ao uso de botas uma vez que, para além do seu processamento ser simples, são práticos de calçar e descalçar o que favorece o respeito pelas zonas transfer. As botas só estão indicadas quando se prevê o der- ramamento dum elevado volume de fluídos. 3 – O calçado utilizado deve ser diariamente submetido a um processo de lava- gem e desinfecção, de preferência mecânico. 8 | Justificação – O processamento diário do calçado limita o grau de contamina- ção do ambiente cirúrgico e o risco a que os profissionais estão expostos, promove um elevado nível de higiene no bloco operatório e diminui substancialmente o nú- mero de calçado necessário uma vez que, o mesmo calçado pode ser usado, em óptimas condições, por vários profissionais em alturas diferentes. 4 – O uso de coberturas de sapatos não é permitido no bloco operatório. Justificação – As coberturas de sapatos de pano, plástico ou “tecido não teci- do”, para além de se rasgarem e sujarem facilmente, não constituem uma barreira protectora eficaz contra o derramamento de fluídos ou o risco de acidentes com objectoscortoperfurantes. Como não são completamente aderentes, funcionam como «vassoura», contri- buindo também para o aumento do grau de contaminação do bloco operatório. AESOP | PRÁTICAS RECOMENDADAS PARA O BLOCO OPERATÓRIO | 9 îO USO DE ANTISSÉPTICOS NO BLOCO OPERATÓRIO Edição 2005 Estas Práticas Recomendadas, pretendem fornecer linhas de orientação sobre o uso de antissépticos no bloco operatório. A prevenção da infecção durante procedimentos cirúrgicos, depende da inter- relação de diversos factores. Quanto mais invasivo o procedimento e mais suscep- tível o utente, maiores são os cuidados necessários. Para controlar o risco de infecção cirúrgica é necessário eliminar a contami- nação microbiana transitória, reduzir ao mínimo e impedir a proliferação da flora microbiana residente da pele e/ou mucosas quer do utente, quer dos profissionais envolvidos no processo cirúrgico. Um antisséptico é um desinfectante que obedece a determinadas caracterís- ticas que o tornam inócuo, para poder ser aplicado em tecidos vivos. Tais carac- terísticas também reduzem a sua adequação para outros fins, nomeadamente a desinfecção de materiais ou superfícies. A eficácia dos antissépticos na desinfecção da pele e mucosas, depende da sua escolha adequada e da correcta utilização pelos profissionais. As práticas aqui recomendadas têm o intuito de reter o que se considera ne- cessário para atingir um óptimo nível de cuidados nesta área. RECOMENDAÇÃO I A aplicação pré-operatória de qualquer antisséptico, obriga a uma limpeza prévia e rigorosa da pele e/ou mucosas. Justificação – A quantidade de microrganismos na pele ou mucosas, pode influenciar a eficácia do antisséptico. A redução de microrganismos e a remoção da sujidade por acção mecânica, é uma condição essencial, de preparação da pele e mucosas, para que a desinfecção seja eficaz. 1 – Na véspera e no dia da cirurgia (até duas horas antes da intervenção cirúr- gica) é obrigatório o banho do utente. Justificação – A limpeza mecânica com água e sabão, visa remover a sujidade e reduzir ao mínimo a presença de microrganismos transitórios na pele. 2 – No dia da intervenção após o banho, o utente deve vestir roupa lavada. Justificação – O uso de roupa lavada é fundamental para manter um baixo nível de microrganismos na pele. 3 – Sempre que possível a tricotomia deve ser evitada. Justificação – A prática da tricotomia causa micro-lesões da pele que favore- cem a multiplicação microbiana. 4 – Quando não é possível evitar a tricotomia, esta deve ser reduzida ao mínimo indispensável, efectuada o mais próximo possível do acto cirúrgico, de preferência no bloco operatório, em área própria, fora da sala de operações, com máquina eléctrica e lâminas descartáveis. 10 | Justificação – Quanto mais alargada e maior o tempo de exposição da área tricotomizada, maior o risco de infecção. O uso de máquina eléctrica evita as micro-lesões da pele. O uso de lâminas descartáveis é fundamental para prevenir contaminações cruzadas. RECOMENDAÇÃO II Antes de qualquer procedimento invasivo é obrigatório o uso de um antisséptico para desinfecção da área a intervencionar. Justificação – O uso de antisséptico pretende reduzir ao máximo o número de microrganismos residentes da pele e impedir a sua proliferação. 1 – Deverá ser assegurada a tolerância do utente ao antisséptico e a compati- bilidade deste com o produto usado para a higiene da pele. Justificação – A prevenção de reacções alérgicas aos antissépticos é funda- mental para a segurança e bem-estar do utente. O uso indiscriminado de detergentes na pele, pode favorecer a ineficácia do antisséptico. 2 – A aplicação do antisséptico deve ser feita com movimentos circulares, par- tindo do local da incisão para a periferia. Justificação – Os movimentos circulares facilitam uma maior penetração do antisséptico em toda a área a desinfectar e favorecem a remoção de partículas de descamação. Uma área desinfectada alargada, diminui o risco de infecção cirúrgica. 3 – Após a aplicação do antisséptico, a área desinfectada deve estar seca antes de serem colocados os campos cirúrgicos. O excesso de antisséptico que eventu- almente escorra, tem obrigatoriamente de ser limpo. Justificação – A humidade, para além de favorecer a proliferação de microrga- nismos, aumenta significativamente o risco de queimaduras no utente, em especial quando utilizado o bisturi eléctrico. RECOMENDAÇÃO III A utilização de antissépticos deve obedecer a normas de procedimentos que assegurem a eficácia do processo. Justificação – O incumprimento das normas pode influenciar a eficácia do an- tisséptico e consequentemente o resultado final. 1 – Devem ser rigorosamente seguidas as instruções do fabricante relativas à utilização e armazenamento. AESOP | PRÁTICAS RECOMENDADAS PARA O BLOCO OPERATÓRIO | 11 Justificação – O não cumprimento das indicações do fabricante compromete a eficácia do antisséptico. 2 – Devem ser respeitados os prazos de validade conforme indicações do fabri- cante e estes devem estar registados na embalagem, em rótulo facilmente visível. Justificação – O respeito pelo prazo de validade é um factor importante para garantir a eficácia do antisséptico. 3 – Os reservatórios de antissépticos devem ser de utilização única, de peque- nas dimensões e ser mantidos ao abrigo da luz e do calor. Justificação – O cumprimento destas medidas evita a contaminação e a possí- vel inactivação do produto. 4 – Os frascos que contêm antissépticos devem ser manipulados sem contami- nar o seu interior e devem manter-se rolhados quando não estão em uso. Justificação – O manuseamento correcto evita a contaminação e favorece a conservação das características do antisséptico. 5 – A lavagem e secagem dos doseadores são obrigatórias sempre que os reservatórios são substituídos. Justificação – Este procedimento é fundamental para remover resíduos de antissépticos e prevenir a contaminação do novo produto. 6 – Não é permitida a prática de acrescentar novo produto ao já existente nos reservatórios de antissépticos. Justificação – Esta prática favorece a contaminação do produto e consequen- temente da pele, quer dos utentes quer dos profissionais utilizadores. RECOMENDAÇÃO IV A gama de antissépticos a utilizar nas instituições de saúde, deve ser orientada pela Comissão de Controlo de Infecção. Justificação – Estas Comissões são os órgãos competentes para seleccionar os antissépticos adequados às necessidades das instituições e fornecer linhas de orientação sobre a sua utilização. 12 | CARACTERÍSTICAS DE ALGUNS ANTISSÉPTICOS Os antissépticos podem ser apresentados em soluções aquosas, com ou sem sabão, ou em soluções alcoólicas, sendo estes (álcoois e soluções alcoóli- cas), mais eficazes e de acção mais rápida do que qualquer solução aquosa. ÁLCOOIS - Etanol, Propanol, Isopropanol, com ou sem outro antisséptico as- sociado Em concentrações apropriadas os álcoois produzem maior e mais rápida redu- ção do número de microrganismos na pele. Actuam por desnaturação das proteí- nas, sendo necessário, após a aplicação, deixar secar. Espectro de acção Bactericida, incluindo BK, fungicida e virucida. Não têm acção esporicida. Vantagens Acção rápida, baixa toxicidade, evaporação rápida, boa tolerância Desvantagens Secam a pele, pelo que necessitam da adição de derma- protectores. São voláteis, inflamáveis e têm baixa pene- tração em presença de matéria orgânica. AMÓNIOS QUATERNÁRIOS Em solução alcoólica Cloreto de Benzalcónio - Etilsulfato de Mecetrónio São surfactantes (tensioactivos, bipolares) catiónicos, muito solúveis em água, álcoois e acetona. Têm uma acção detergente e solubilizante. O seu poder antis- séptico aumenta com a temperatura. Actuam por destruição da membrana citoplasmática e desnaturação das proteínas. Espectro de acção Bacteriostáticos em concentrações baixas. Bactericidas em concentrações elevadas e com contac- tos mais prolongados. O seu espectro de actividade englobaGram positivos e, em menor grau, Gram negativos, fungos e vírus. Não têm acção esporicida. Vantagens Pouco irritantes e pouco alergizantes. Desvantagens São inactivados por sabões, matéria orgânica e borra- cha. Não devem ser utilizados em soluções aquosas CLOROHEXIDINA - Digluconato É um bi-guanido catiónico. Tem melhor actividade em pH neutro ou ligeiramente alcalino. Sendo uma substância básica, forma sais com ácidos orgânicos e inorgâ- nicos. O digluconato é solúvel na água. Incolor e inodor, tem sabor amargo. Geralmente apresentado sob a forma de sabões antissépticos, com uma con- centração de clorohexidina de 4% indicado para desinfecção das mãos. Em solução alcoólica contendo 0,5% de clorohexidina em 70% de propanol e AESOP | PRÁTICAS RECOMENDADAS PARA O BLOCO OPERATÓRIO | 13 1% de glicerol como emoliente, usado para desinfecção das mãos. Existe ainda uma formulação a 0,2% com indicação para desinfecção pré-ope- ratória da mucosa oral. Actuam por rotura da parede celular. Espectro de acção Mais activo sobre Gram positivos do que Gram negativos. É fungicida, não tem actividade sobre BK e tem pouca actividade virucida. Não é esporicida e algumas espécies de Pseudomonas e Proteus são resistentes. Vantagens Pouco inactivado em presença de matéria orgânica. Tem actividade residual. Absorção cutânea nula e baixa toxi- cidade. Desvantagens Inactivado pelo sabão e detergentes aniónicos. Não deve ser utilizado em cirurgia cerebral e do ouvido interno. OXIDANTES-HALOGENADOS - Iodopovídona e Iodo Iodopovídona em solução aquosa - 0,4% solução espuma; 10 % (1% de iodo) solução dérmica, 10% (1% de iodo) solução ginecológica e 10% (1% de iodo) so- lução oral. Iodopovidona em solução alcoólica – 10% Iodo em solução alcoólica - 1% Actuam por destruição das proteínas e das estruturas dos ácidos nucleicos da célula. Espectro de acção Bactericida incluindo BK, virucida, fungicida e com algu- ma actividade esporicida, dependendo do tempo de con- tacto. Vantagens Iodopovidona – Indicada como antisséptico da pele e mu- cosas. Não é irritante e não mancha. Tintura de Iodo – Seca mais rapidamente, tem uma ac- ção relativamente rápida e tem maior actividade. Desvantagens Não deve ser utilizado em recém-nascidos. É rapidamente neutralizado na presença de matéria or- gânica (sangue ou secreções). Não tem actividade residual. A Tintura de Iodo é mais alergizante que a Iodopovidona 14 | îDESINFECÇÃO DO CAMPO OPERATÓRIO Edição 2005 A flora da pele pode ser de dois tipos: Flora transitória, adquirida na sequência do contacto e que não sobrevive na pele mas pode ser fixada pelo oleosidade ou sujidade e, flora residente que se mul- tiplica na pele e se encontra nas camadas mais profundas. A preparação da pele do utente antes da cirurgia e a correcta desinfecção do campo operatório, têm como objectivo minimizar o risco de infecção operatória, já que facilmente as bactérias encontradas na pele podem ser causa de infecção. O cumprimento rigoroso das normas de procedimentos de desinfecção do cam- po operatório é uma medida fundamental para o controlo da infecção. Esta RECOMENDAÇÃO, pretende reter o que se considera ser necessário para atingir um óptimo nível de cuidados nesta área. RECOMENDAÇÃO I A aplicação pré-operatória de qualquer antisséptico obriga a uma limpeza prévia e rigorosa da pele e/ou mucosas Justificação – A quantidade de microrganismos na pele ou mucosas influencia a eficácia do antisséptico. A redução destes microrganismos e a remoção da su- jidade (por acção mecânica) é uma condição essencial da preparação da pele e / ou mucosas. 1 – Na véspera e no dia da cirurgia (até 2 horas antes da intervenção cirúrgica) é obrigatório o banho do utente. Justificação – A limpeza mecânica com água e sabão visa remover a sujidade e reduzir ao mínimo a presença dos microrganismos transitórios da pele. 2 – No dia da intervenção após o banho, o utente deve vestir roupa lavada. Justificação – O uso de roupa lavada é fundamental para minimizar o aumento de microrganismos na pele. 3 – Sempre que possível a tricotomia deve ser evitada. Justificação – A prática da tricotomia causa micro lesões da pele que podem favorecer a ocorrência da infecção. 4 – Quando não é possível evitar a tricotomia, esta deve ser reduzida ao míni- mo. A sua realização deve ocorrer entre o banho da véspera e o do dia que deverá ser o mais próximo possível da intervenção cirúrgica, não ultrapassando um perí- odo superior a 2 horas. Justificação – Quanto mais alargada e maior o tempo de exposição das áreas tricotomizadas, maior o risco de infecção. AESOP | PRÁTICAS RECOMENDADAS PARA O BLOCO OPERATÓRIO | 15 5 – A tricotomia indispensável deve ser feita com máquina eléctrica (clipper cirúrgico) e lâminas descartáveis. Justificação – O uso de máquina eléctrica evita as micro lesões da pele. O uso de lâminas descartáveis é fundamental para prevenir contaminações cruzadas. RECOMENDAÇÃO II Antes de qualquer procedimento invasivo é obrigatório o uso de antisséptico para desinfecção da área a intervencionar. Justificação – O uso de antisséptico tem como objectivo reduzir ao máximo o número de microrganismos residentes da pele e impedir a sua proliferação. 1 – A gama de antissépticos a utilizar deve ser orientada pela Comissão de Controlo de Infecção. Justificação – Estas Comissões são os órgãos competentes para seleccionar os antissépticos adequados às necessidades das instituições e fornecer linhas de orientação sobre a sua utilização. 2 – Na escolha do antisséptico a utilizar deve ter-se em atenção os seguintes aspectos: • Local a intervencionar, • Base do antisséptico, • Tempo de contacto, • Acção residual, • Toxicidade. Justificação – A escolha criteriosa do antisséptico em função dos aspectos mencionados é fundamental para a eficácia do processo. Os solutos de base alcoólica, em concentrações apropriadas, produzem maior e mais rápida redução de microrganismos na pele. Os solutos de base aquosa necessitam de um maior tempo de contacto para produzir uma redução eficaz de microrganismos, o período de secagem é significa- tivamente superior. Os solutos com detergente necessitam ser retirados com água, pelo que são indicados para a higiene da pele e não para a desinfecção do campo operatório. 3 – Deverá ser assegurada a tolerância do utente ao antisséptico utilizado e a compatibilidade deste com o produto usado para a higiene da pele. Justificação – A prevenção de reacções alérgicas aos antissépticos é funda- mental para a segurança e bem-estar do utente. O uso indiscriminado de detergentes da pele pode reduzir a eficácia do antis- séptico. 16 | RECOMENDAÇÃO III Deve ser estabelecido um protocolo de desinfecção cirúrgica da pele no Bloco Operatório. Justificação – A existência de protocolos favorece a execução correcta das manobras de desinfecção. 1 – O protocolo estabelecido deve ter em atenção os seguintes aspectos: • Antissépticos utilizados, • Elemento da equipa que procede á desinfecção, • Técnica da desinfecção do campo operatório, • Registos que devem ser feitos relativos á desinfecção. Justificação – É fundamental que todos estes pontos estejam estabelecidos e sejam do conhecimento dos profissionais para favorecer a eficácia do processo da desinfecção, impedir a má técnica e a indisciplina no bloco operatório, salvaguar- dando a segurança do utente. RECOMENDAÇÃO IV A técnica de utilização de antissépticos deve obedecer às normas protocoladas para a desinfecção do campo operatório. Justificação – O não cumprimento destas normas pode influenciar a eficácia do antisséptico e consequentemente o resultado final. 1 – A desinfecção da pele deve ser realizada por pessoal qualificado e com co- nhecimentos suficientes que lhe permitam executar a técnica com todo o rigor. Justificação – Um campo operatório mal desinfectado constitui por si só, um elevado risco de infecção intra-operatória que pode pôr em perigo o sucesso de todo o procedimentocirúrgico. 2 – Antes de iniciar a desinfecção do campo operatório é obrigatória a desin- fecção cirúrgica das mãos. Justificação – A desinfecção cirúrgica das mãos é fundamental para reduzir os microrganismos minimizando assim o risco de contaminação do campo operatório. 3 – A desinfecção do campo operatório deve ser realizada sem roupa estéril vestida. Justificação – A desinfecção do campo operatório obriga a uma proximidade de risco que acidentalmente pode conduzir à contaminação da roupa estéril. AESOP | PRÁTICAS RECOMENDADAS PARA O BLOCO OPERATÓRIO | 17 4 – A área a desinfectar deverá ser suficientemente alargada de forma a im- pedir a transição de microrganismos para o campo estéril a estabelecer. Deverá ter-se em consideração o tamanho da incisão e todos os procedimentos tais como, colocação de drenos, necessidade de aumentar a incisão ou converter a cirurgia. Justificação – A definição de uma área alargada a desinfectar, diminui o risco de contaminação do campo operatório por transferência de microrganismos du- rante a colocação de campos estéreis. 5 – A técnica de desinfecção do campo operatório deve ser padronizada para todo o pessoal de acordo com os seguintes procedimentos: • Deve ser preparada uma mesa própria para a desinfecção, • O antisséptico deve ser aplicado com compressa estéril montada em pinça ou similar descartável, com luvas esterilizadas que terão que ser retiradas após este procedimento. • A aplicação do antisséptico deve ser feita sempre com movimentos circulares partindo do local da incisão para a periferia, sem voltar à área já desinfectada, • O antisséptico em solução alcoólica deve ser aplicado com compressas reno- vadas e os movimentos circulares da 2ª aplicação deverão ser realizados até o antisséptico evaporar. Justificação – O cumprimento rigoroso de todos os procedimentos favorece a optimização da técnica e a eficácia do processo. 6 – Deve-se evitar que o antisséptico escorra para os lados, durante a aplicação. O excesso de antisséptico que eventualmente escorra tem obrigatoriamente que ser limpo. A pele do utente não deve estar em contacto com materiais (lençóis, eléctrodos, etc.), húmidos. Justificação – A humidade, para além de favorecer a proliferação de microrga- nismos, aumenta significativamente o risco de queimaduras no utente, em especial quando é utilizado o bisturi eléctrico. Os antissépticos com iodo são especialmente bons condutores de corrente eléctrica o que potencia este risco. Os antissépticos em solução alcoólica têm maior risco de incêndio. Só deve ser iniciada a utilização de electrocoagulação após a sua completa evaporação. 18 | RECOMENDAÇÃO V Devem ser efectuados registos de todos os procedimentos efectuados no bloco operatório relativos à preparação da pele da área a intervencionar. Justificação – Os registos intra-operatórios são fundamentais para a continui- dade dos cuidados. 1 – Relativamente à preparação da pele deverá ser registado no processo do utente: • Hora da tricotomia, • Descrição da área tricotomizada e material utilizado, • Observação da pele antes da desinfecção, • Antisséptico utilizado na desinfecção do campo operatório, • Descrição da área desinfectada, • Nome do profissional que procedeu á desinfecção, • Eventuais sinais de alergia no final da intervenção. Justificação – Os registos detalhados permitem a avaliação dos cuidados, a apreciação da responsabilidade da actuação da equipa e, ainda, podem ser uma fon- te de informação preciosa para o despiste e resolução de eventuais complicações. AESOP | PRÁTICAS RECOMENDADAS PARA O BLOCO OPERATÓRIO | 19 îPREPARAÇÃO PRÉ - CIRÚRGICA DAS MÃOS Edição 2005 1ª Revisão 2010 2ª Revisão 2012 A pele constitui a principal fonte de contaminação microbiana do ambiente ci- rúrgico. Apesar de todos os elementos da equipa estéril usarem bata, impermeável e estéril, e luvas esterilizadas, a descontaminação pré - cirúrgica das mãos é obriga- tória antes de qualquer procedimento cirúrgico / invasivo. São seus objectivos: • Remover na totalidade partículas e microrganismos transitórios das unhas, mãos e antebraços, • Reduzir ao mínimo o número de microrganismos residentes da pele • Inibir a proliferação dos microrganismos. Na última década a reintrodução de soluções de base alcoólica como produtos padrão para as práticas de higiene das mãos, veio alterar as práticas de descon- taminação pré- cirúrgica das mesmas. Estes produtos com acção anti-séptica de elevada eficiência, rápida acção, largo espectro e reduzida agressividade para pele, têm demonstrado uma superior actividade microbicida, condicionando alterações muito significativas nas práticas de preparação pré - cirúrgica, adicionalmente e de acordo com a evidência acumulada ao longo de vários anos, a alteração da prática de preparação ditou a exclusão da escova e a inclusão de palheta ou estilete como ferramenta para a descontaminação das unhas. Na Europa a norma EN 12791 – “Chemical disinfectants and antiseptics. Surgi- cal hand desinfection. Test method and requirement”, usa como solução padroniza- da para a preparação pré-cirurgica das mãos, uma solução de base alcoólica. A Organização Mundial da Saúde, nas suas orientações de boa prática publica- das no ano de 2009, no âmbito do primeiro desafio mundial para a segurança dos doentes, afirma serem estes os produtos com o melhor perfil para as práticas de preparação pré - cirúrgica das mãos. RECOMENDAÇÃO I Toda a equipa deve estar devidamente fardada antes de iniciar a preparação pré- cirúrgica das mãos. 1 – Antes de entrar em áreas semi-restritas e restritas, os profissionais devem estar devidamente fardados. Justificação – A utilização correcta do vestuário de circulação do bloco opera- tório reduz o grau de contaminação do ambiente cirúrgico e promove a segurança de utentes e profissionais. 20 | 2 – Devem ser retirados todos os adornos (anéis, relógios, pulseiras, etc.). Justificação – A presença de adornos durante a preparação pré-cirúrgica, impede a remoção de microrganismos, inibe a acção dos produtos antissépticos e impede o enxaguamento eficaz para a remoção destes produtos o que favorece a ocorrência de lesões na pele. 3 – As zonas de preparação pré-cirurgica devem dispor de um espelho que possibilite aos profissionais procederem a uma correcta colocação da máscara e verificarem a total cobertura de cabelos ou pêlos faciais, antes de iniciarem a preparação pré-cirúrgica das mãos. Justificação – São inúmeras as situações e os movimentos que podem provo- car o deslize dos barretes ou toucas, particularmente quando se trata de toucas que cobrem cabelos compridos e pesados. A garantia da correcta utilização destas barreiras é obrigatória antes da descontaminação pré-cirúrgica das mãos e não deve implicar a deslocação dos profissionais a áreas não restritas do bloco opera- tório. A existência de um espelho nas zonas de preparação permite a realização destas manobras e promove uma atitude responsável por parte dos profissionais. 4 – As condições em que se apresentam as unhas, mãos e antebraços devem ser verificadas antes de se iniciar a preparação pré- cirúrgica. As unhas, naturais, devem ser mantidas curtas, sem verniz, limpas e saudá- veis. As mãos e antebraços não devem apresentar soluções de continuidade ou qualquer outro tipo de lesão. Justificação – A região sub-unguial aloja grande quantidade de microrganismos e a remoção / inactivação destes microrganismos requer condições que não im- peçam a acção dos produtos antissépticos. A presença de verniz nas unhas, para além de poder ser um factor estético inibidor para uma correcta descontaminação, pode facilitar o alojamento de microrganismos nas áreas em que se encontra de- teriorado, estalado ou com soluções de continuidade. O risco de rompimento das luvas é maior quando as unhas ultrapassam as extremidades dos dedos. Cortes, queimaduras e lesões exsudativas da pele, constituem um meio óptimo para a proliferaçãode microrganismos, pelo que são uma contra indicação à prá- tica de procedimentos invasivos pelos riscos implicados. 5 – Antes de iniciar o procedimento, devem ser reunidos e verificados todos os recursos necessários para uma correcta preparação pré- cirúrgica das mãos. As extremidades das mangas nos braços, devem estar a uma altura que evite o toque nos antebraços quando se assume a posição correcta de descontaminação. Caso se utilize uma técnica de lavagem com detergente antisséptico, deve-se: Efectuar ligeira projecção do tórax para a frente, braços afastados do tronco e as mãos elevadas num plano perpendicular ao plano dos cotovelos. A pressão da água deve ser regulada de forma moderada, para permitir um en- xaguamento eficaz das mãos e antebraços mas impedir os salpicos e a projecção para a roupa de circulação ou para o chão. Reservatórios de antissépticos, doseadores e estiletes devem estar colocados AESOP | PRÁTICAS RECOMENDADAS PARA O BLOCO OPERATÓRIO | 21 de forma acessível e a uma distância que permita a sua utilização, sem obrigar a deslocações depois dos profissionais terem assumido a posição de descontamina- ção e iniciado o procedimento. Justificação – A altura das mangas compatível com a posição de descontami- nação e a acessibilidade dos recursos, são medidas importantes para evitar conta- minações acidentais que, quando ocorrem, obrigam a reiniciar o procedimento. A pressão moderada da água, evita salpicos que podem causar a recontami- nação das mãos e antebraços e impede que a roupa de circulação se molhe. A humidade excessiva na roupa de circulação pode causar a contaminação do campo estéril uma vez que, diminui a resistência inicial dos materiais de que são consti- tuídas as batas esterilizadas, reduzindo a sua capacidade de barreira bacteriana e favorecendo a penetração de microrganismos. A presença de água no chão é uma das principais causas de acidentes de tra- balho por queda. RECOMENDAÇÃO II A selecção e gama de antissépticos disponíveis para a preparação pré-cirurgica das mãos, deve ser orientada e aprovada pela Comissão de Controlo de Infecção de cada instituição, atendendo a aspectos como qualidade, eficácia e custos. 1 – Um produto antisséptico deve: • Reduzir significativamente os microrganismos da pele sã, • Ser de largo espectro de acção, • Ter uma acção rápida e efeito residual. Justificação – A fácil proliferação microbiana no ambiente húmido e fechado das luvas, exige um efeito inicial altamente eficiente e um efeito residual, que o prolongue. Uma característica de determinados produtos é a capacidade de aderirem aos estratos cutâneos, favorecendo uma persistente actividade química. Os compostos iodados, têm pouco ou nenhum efeito residual. O gluconato de clorohexidina e o etilsulfato de mecetrónio têm efeito residual. As soluções alcoóli- cas têm uma actividade mais intensa e prolongada. 2 – Recomenda-se a lavagem com sabão simples, seguida da aplicação de um produto em solução alcoólica, considerando um intervalo de pelo menos 10 minu- tos, para uma perfeita secagem da totalidade das mãos. Justificação – O sabão remove partículas e microrganismos transitórios. A posterior desinfecção com um produto de base alcoólica é o método mais eficaz. A necessidade de uma completa secagem, explica-se pelo efeito de diluição que a água condiciona sobre qualquer produto que possamos utilizar. 3 – Os produtos de descontaminação devem ser armazenados em recipientes limpos e fechados. Justificação – O processo de reabastecimento e a reutilização incorrecta dos re- cipientes, pode constituir um meio de cultura e de transmissão de microrganismos. 22 | RECOMENDAÇÃO III A preparação pré - cirúrgica das mãos, é uma técnica que deve ser padronizada para todos os profissionais, de acordo com o tipo antisséptico a utilizar. Procedimento com utilização de detergente antisséptico • Verificar a altura das mangas e, se necessário, regular a pressão da água, • Assumir a posição de preparação – projecção do tórax para a frente, braços afastados do tronco e mãos elevadas num plano perpendicular ao plano dos cotovelos. As mãos têm que se manter sempre acima da linha dos cotovelos, • Molhar mãos e antebraços, (caso existam resíduos sub unguiais, utilizar pre- viamente, estilete, para a sua limpeza), envolvê-los com o volume recomendado do produto antimicrobiano, até 5cm acima do cotovelo, • Friccionar mãos e antebraços, primeiro um, depois o outro. Dedos, mãos e antebraços devem ser vistos como tendo quatro lados e cada um dos lados deve ser friccionado. Uma mão lava a outra, dando particular atenção aos es- paços interdigitais. Remover na totalidade o antisséptico sob água corrente, • Repetir a técnica. Friccionar ambos os antebraços com antisséptico até 5cm abaixo do cotovelo. Proceder à remoção total do antisséptico sob água corren- te, • Proceder à última aplicação de antisséptico, desta vez envolvendo e friccio- nando apenas mãos e punhos. Terminar com a remoção total do antisséptico sob água corrente, • Em todas os procedimentos devem ser respeitados, o volume de antisséptico e o tempo de contacto recomendado pelo fabricante, • Após a preparação inicial, mãos e antebraços devem ser secos, com toalhete estéril descartável, um para cada braço, no sentido distal-proximal. Procedimento com utilização de antissépticos de base alcoólica A utilização de antissépticos de base alcoólica, não dispensa a higienização das mãos. Este procedimento prévio deve ser efectuado, á entrada do Bloco Opera- tório, de forma a que o tempo de secagem total das mãos seja respeitado. • Molhar mãos e antebraços e friccionar com sabão simples, • Secar completamente cada braço, com toalhete de papel não estéril, este momento deve demorar o tempo suficiente para uma secagem eficaz, • Após um período mínimo de dez minutos, friccionar com antisséptico, dedos, mãos e antebraços, dando especial atenção aos espaços interdigitais, até o produto evaporar por completo, • Respeitar o tempo de contacto recomendado pelo fabricante que, deve cor- responder ao tempo mínimo que o produto deve estar em contacto com a pele na fase líquida até á sua completa evaporação. Fazer uma segunda aplicação de anti-séptico e manter as manobras de fricção até à completa secagem do produto, caso o tempo mínimo de contacto não tenha sido cumprido, • Não utilizar toalhetes de secagem. Não calçar as luvas estéreis antes da total secagem do produto de base alcoólica. Justificação – A preparação pré-cirúrgica das mãos, tem uma componente mecânica e química. AESOP | PRÁTICAS RECOMENDADAS PARA O BLOCO OPERATÓRIO | 23 A acção mecânica remove a sujidade, microrganismos transitórios e alguns microrganismos residentes. A acção química inibe a proliferação da flora residente. A inadequada secagem das mãos, condiciona diluição da solução antisséptica alcoólica, com resultados não controláveis. A preparação pré-cirúrgica só é eficaz se, a técnica utilizada for a recomendada em relação ao material disponível, se for correctamente realizada e se todas as áreas forem expostas à acção mecânica e à acção química do antisséptico, cujo tempo de contacto deve ser, no mínimo, 1,5 a 5 minutos (conforme indicação do fabricante). A temperatura das mãos, o seu tamanho e a temperatura ambiente, condicio- nam volumes diferentes de solução de base alcoólica, para uma adequada prepa- ração pré - cirúrgica das mãos 24 | îO USO DE LUVAS NO BLOCO OPERATÓRIO Edição 2005 O uso de luvas constitui uma importante medida de prevenção e controlo da infecção e é um dispositivo essencial ao equipamento de protecção individual. “Entende-se por equipamento de protecção individual (EPI) todo o equipamento, bem como qualquer complemento ou acessório, destinado a ser utilizado pelo tra- balhador para se proteger dos riscos, para a sua segurança e para a sua saúde” (Decreto-Lei nº 348/93, de 1 de Outubro, art. 3º). As luvas devem ser usadas para protecção do utente, do profissional ou de ambos,de acordo com as situações. Existe uma multiplicidade de tipos de luvas no mercado, pelo que deve ser feita uma selecção adequada a cada procedimento, pois o seu uso indiscriminado pode conduzir a um aumento de custos desnecessário e constituir um risco acrescido para utentes, profissionais e meio ambiente. De acordo com a Direcção Geral da Saúde (2006), dado o grau de incerteza relativamente à presença e/ou tipo de agentes biológicos deverão os profissionais desenvolver hábitos de trabalho seguro, adoptar um conjunto de procedimentos de- signados por “Precauções universais ou padrão”, que englobam aspectos relativos às barreiras de protecção e ao uso de luvas. As práticas aqui recomendadas têm o intuito de reter o que se considera ne- cessário para atingir um óptimo nível de cuidados nesta área. RECOMENDAÇÃO I Deve ser estabelecido um protocolo para a utilização de luvas no Bloco Operatório. Justificação – A existência de um protocolo favorece a correcta utilização dos diversos tipos de luvas em função das tarefas específicas que se pretendem de- sempenhar. 1 - O protocolo de utilização de luvas, deve ter em atenção: • As características dos diversos tipos de luvas quanto a resistência, maleabili- dade, permeabilidade, etc, • Os procedimentos a executar, • O risco previsto, • O tempo recomendado de utilização e mudança de luvas, • Tipos de luvas alternativos para casos de alergia ao látex dos profissionais e dos utentes. Justificação – O uso de luvas adequadas a cada tarefa é uma importante medi- da de controlo de infecção e/ou contaminação, favorece a boa prática de técnicas assépticas e a boa gestão de recursos materiais no meio hospitalar. O recurso a materiais com baixo teor de proteínas de látex e sem pó diminui o risco de sensibilização de profissionais e utentes. Em casos de alergia declarada de- vem ser utilizadas luvas isentas de látex para segurança de utentes e profissionais. AESOP | PRÁTICAS RECOMENDADAS PARA O BLOCO OPERATÓRIO | 25 RECOMENDAÇÃO II A lavagem das mãos é uma prática complementar da utilização de qualquer tipo de luvas. Justificação – Quanto maior for o grau de impermeabilidade das luvas e o tem- po de utilização, maior será o grau de humidade desenvolvido no espaço compreen- dido entre as mãos dos profissionais e as luvas, criando um meio particularmente favorável à proliferação de microrganismos. A má higienização das mãos potencia este risco. A permeabilidade dos materiais e a existência de micro roturas favorece a contaminação das mãos pelo que no fim dos procedimentos as mãos podem estar contaminadas. A lavagem das mãos depois da remoção de qualquer tipo de luva, é uma medida de segurança para os profissionais e uma medida de controlo de contaminação cruzada. 1 - Após a realização do procedimento para o qual foram calçadas, todas as luvas, devem ser descartadas de imediato, em local próprio, tendo em atenção a correcta triagem dos resíduos hospitalares. Justificação – Esta medida pretende limitar o risco de contaminação dos pro- fissionais e o nível de contaminação do ambiente cirúrgico. RECOMENDAÇÃO III Todos os procedimentos cirúrgicos, técnicas invasivas e/ou assépticas implicam o uso de luvas esterilizadas. Justificação – As luvas esterilizadas, constituem uma barreira microbiana que minimiza o risco de transferência de microrganismos das mãos dos profissionais para os utentes, durante procedimentos cirúrgicos e técnicas invasivas, para além de serem uma barreira protectora para os profissionais. 1 – O uso de luvas esterilizadas implica obrigatoriamente, uma prévia desinfec- ção das mãos. Justificação – A correcta desinfecção cirúrgica das mãos elimina os micror- ganismos transitórios e reduz significativamente os microrganismos residentes da pele, minimizando assim, o perigo de transferência destes microrganismos entre áreas não estéreis e estéreis. 2 – Os métodos preferenciais de colocação de luvas estéreis em bloco operató- rio são o método fechado e o método assistido. Justificação – A colocação de luvas estéreis por método aberto, implica o manuseamento da face interna do punho da luva que, posteriormente fica em con- tacto com o punho da bata esterilizada contaminando-a. Assim, o método aberto só deve ser utilizado quando não é possível um método alternativo ou quando o procedimento a realizar não implica a utilização de bata esterilizada. 26 | MÉTODO FECHADO: • Vestir a bata estéril sem exteriorizar as mãos, (Fig.1), • Mantendo as duas mãos dentro das mangas da bata, colocar a primeira mão a ser calçada, aberta com a palma voltada para cima. Com a outra mão, pegar na luva pelo punho dobrado e colocá-la sobre a mão que vai ser calçada, invertendo o sentido da luva de forma a apontar os dedos da luva ao punho, tendo o cuidado de fazer coincidir a posição do polegar da luva com a posição do polegar da mão, (Fig.2), • Mover a mão que vai ser calçada de forma a fazer chegar os dedos à metade do punho da bata sem os exteriorizar e segurar a luva pela extremidade adja- cente do seu punho dobrado, • Com a outra mão mantida dentro da manga da bata, pegar pelo punho e rodar a luva sobre a mão que está a ser calçada para que esta fique dentro da luva com os punhos da bata e da luva sobrepostos, (Fig.3), • Fazer deslizar a mão dentro do punho da bata e da luva, até os dedos ficarem devidamente acomodados na luva, (Fig.4), • Com a mão calçada, pegar na outra luva pelo punho dobrado e repetir as manobras. Fig. 1 Fig. 3 Fig. 2 Fig. 4 MÉTODO ASSISTIDO: Utilizado pelo elemento da equipa estéril que assiste os restantes elementos a vestir bata e calçar luvas esterilizadas. • Retirar da embalagem de protecção a primeira luva a ser calçada, • Desdobrar o punho da luva, • Colocar a luva em posição para ser calçada, segurando pelo punho, com os dedos voltados para baixo e o polegar da luva voltado para o elemento que vai ser calçado, AESOP | PRÁTICAS RECOMENDADAS PARA O BLOCO OPERATÓRIO | 27 • Proteger as próprias luvas de contaminação acidental afastando ao máximo os polegares e cobrindo os restantes dedos com a extremidade do punho da luva que vai ser calçada, • Segurar a luva e afastar as mãos de forma a abrir, suficientemente o punho, para que o elemento da equipa a ser calçado, possa introduzir a mão na luva sem tocar nas mãos do elemento que o assiste ou na face externa da luva que está a ser calçada, • Depois de introduzida a mão, largar suavemente o punho da luva sobre o punho da bata estéril, • Repetir as manobras para calçar a segunda luva. 3 - A integridade das luvas esterilizadas deve ser inspeccionada logo após terem sido colocadas e frequentemente ao longo do procedimento cirúrgico. Sempre que se encontrem danificadas, devem ser imediatamente substituídas. Justificação – A verificação da inexistência de roturas ou outros danos visíveis nas luvas, minimiza o risco de transferência de microrganismos das áreas não estéreis para as estéreis e consequentemente o risco de infecção. 4 - As luvas esterilizadas devem adaptar-se perfeitamente às mãos dos profis- sionais. Justificação – O uso de luvas demasiado grandes ou demasiado pequenas, para além de dificultar o desempenho, pode levar a quebras da barreira microbiana e consequentemente à transferência de microrganismos, favorecendo o risco de infecção intra-operatória e de contaminação dos profissionais. 5 - A boa prática de utilização de luvas cirúrgicas obriga a que se adapte o tipo de luva ao tipo de cirurgia. Ex: Luva cirúrgica reforçada para cirurgia ortopédica, luvas cirúrgicas finas para cirurgia oftalmológica. Justificação - A correcta selecção de luvas estéreis, em função da especifici- dade do procedimento cirúrgico a que se destinam, para além de diminuir o risco de deterioração e consequente quebra de barreira microbiana, favorece boas con- dições de sensibilidade aos utilizadores. 6 – A utilização de duplo par de luvas é uma boa prática em todas as cirurgias, principalmentequando se prevê a existência de grande quantidade de fluidos ou a ocorrência de elevado stress mecânico e químico. O primeiro par a calçar terá de ser um número acima do indicado para o profis- sional sendo o segundo par, o normalmente utilizado pelo profissional pois só assim será confortável a utilização de duplo par. Justificação – A utilização de duplo par é um método efectivo para reduzir po- tenciais exposições dos profissionais a fluidos orgânicos e a ocorrência de infecção do local cirúrgico, constituindo uma medida eficaz de protecção adicional. Estudos confirmam que o duplo par de luvas reduz em 70%, a ocorrência de contaminação dos utilizadores por perfuração das luvas. A AORN (Association Of perioperative Registered Nurses) recomenda, a dupla 28 | luva em procedimentos com duração superior a duas horas ou com uma perda de sangue previsível superior a 100 ml. A probabilidade de rotura aumenta com o tempo de utilização. 7 - Sempre que ocorra perfuração das luvas exteriores, devem ser mudados os dois pares de luvas. Justificação – Quando ocorre rotura da luva exterior a possibilidade de existir contaminação do utilizador, leva a que se recomende também a mudança do par de luvas interior, mantendo-se assim íntegra a barreira de protecção. 8 - Deverá ser estabelecido um protocolo de mudança de luvas esterilizadas durante os procedimentos cirúrgicos, tendo em atenção os seguintes aspectos: • Tempos intra-operatórios recomendados para mudança de luvas (ex. antes do encerramento), • Manipulação de próteses e implantes, • Colocação de dispositivos médicos implantáveis, • Características das luvas, • Recomendações do Fabricante. Justificação – A durabilidade da barreira microbiana varia consoante o proces- so de fabrico das luvas e a qualidade dos materiais pelo que, as luvas cirúrgicas não devem ser utilizadas por períodos superiores aos recomendados pelo fabricante. A mudança sistemática de luvas antes da colocação de próteses ou dispositivos médicos implantáveis diminui significativamente o risco de infecção. 9 – As luvas cirúrgicas devem ser substituídas após 90 minutos de utilização, es- pecialmente em procedimentos com grau elevado de exposição a fluidos orgânicos. Justificação – A evidência demonstrou que a inspecção visual não é um método seguro para detectar perfurações nas luvas, sendo que 11-43% das perfurações são do conhecimento dos utilizadores só no fim do procedimento cirúrgico. Estes valores aumentam nas situações em que a utilização das luvas é superior a 3horas. 10 - Após a remoção final de luvas estéreis é recomendada a lavagem das mãos. Justificação - A lavagem das mãos minimiza o risco de contaminação acidental por quebra da barreira protectora e o risco de lesões cutâneas que, em pessoas sensíveis, podem ocorrer devido ao contacto da pele com o pó das luvas. 11 - As luvas esterilizadas devem ser armazenadas em áreas de armazenamen- to de material estéril do Bloco Operatório. Justificação – As áreas de armazenamento de material estéril do Bloco Ope- ratório, oferecem condições ambientais que, para além de favorecerem a manu- tenção da esterilidade dos materiais, previnem a alteração dos seus componentes e estrutura. AESOP | PRÁTICAS RECOMENDADAS PARA O BLOCO OPERATÓRIO | 29 RECOMENDAÇÃO IV O uso de luvas não estéreis é recomendado para protecção dos profissionais, em todos os procedimentos que não requeiram técnica asséptica e em que se anteveja o contacto com sangue, outros líquidos orgânicos ou materiais conta- minados. Justificação - O correcto uso de barreiras protectoras, minimiza o risco de contaminação dos profissionais de saúde. 1 - As caixas de luvas não estéreis, devem estar em locais acessíveis, que faci- litem a sua colocação, quando os procedimentos a realizar o justifiquem. Justificação – A acessibilidade das barreiras protectoras é uma medida impor- tante para a sua correcta e regular utilização, para limitar a exposição ao risco e para facilitar uma atitude responsável por parte dos profissionais. 2 - Para cada utente e para cada procedimento no mesmo utente, deverá ser usado um novo par de luvas. Justificação – A prática de usar as mesmas luvas de utente para utente favo- rece a infecção cruzada. A utilização das mesmas luvas em procedimentos diferen- tes no mesmo utente, poderá proteger os profissionais mas não protege o utente podendo mesmo constituir um risco acrescido. 3 - As luvas deverão ser de utilização única, calçadas apenas na altura da utilização e retiradas imediatamente após a realização do procedimento para que foram calçadas. Justificação – O recurso à utilização de luvas não estéreis justifica-se quando se pretende proteger os profissionais do contacto com materiais potencialmente infecciosos. Se após a realização dos procedimentos as luvas contaminadas não forem reti- radas, os profissionais estarão inadvertidamente a disseminar a contaminação do ambiente cirúrgico. 4 - Após a remoção de luvas não estéreis é recomendada a lavagem das mãos. Justificação – A lavagem das mãos minimiza o risco de contaminação acidental por quebra da barreira protectora e o risco de lesões cutâneas que, em pessoas sensíveis, podem ocorrer devido ao contacto da pele com o pó das luvas. 5 - Os tipos e tamanhos de luvas não estéreis disponíveis no bloco operatório, deverão estar de acordo com os procedimentos a executar e os utilizadores. Justificação – O uso de luvas mal adaptadas às mãos do utilizador pode condu- zir à contaminação acidental. A barreira protectora será mais eficaz se a selecção do tipo de luva for adequa- do ao procedimento. As luvas não estéreis de látex, são mais permeáveis, ao fim de algum tempo de contacto com líquidos do que as luvas de nitrilo. 30 | 6 - O uso de luvas não estéreis de nitrilo é recomendado para procedimentos em que se preveja um maior contacto com líquidos ou para utilizadores que apre- sentem reacções alérgicas ao látex. Justificação – As luvas não estéreis de nitrilo, embora sejam menos maleáveis, são mais resistentes e menos permeáveis, pelo que oferecem maior protecção em procedimentos como a manipulação de citostáticos, a lavagem de materiais ou outros em que o contacto com líquidos seja mais prolongado. Por serem fabricadas com um polímero sintético, não contêm as proteínas da borracha natural sendo uma opção de escolha em casos de alergias ao látex. RECOMENDAÇÃO V O uso de luvas de polietileno, vulgarmente chamadas de luvas de “palhaço”, não é recomendado para a realização de procedimentos em bloco operatório. Justificação – Estas luvas são muito permeáveis e muito frágeis, podendo facil- mente ceder nos pontos de selagem pelo que não constituem barreira protectora eficaz. RECOMENDAÇÃO VI É recomendado o uso de luvas isentas de látex ou com baixo teor de proteínas e revestimento sintético e sem pó. Justificação – A utilização de luvas de látex constitui uma das causas mais frequentes de alergia do profissional ao látex, dado ser uma das principais fontes de exposição. É de salientar que há uma relação directa entre a frequência e a du- ração da utilização e o desenvolvimento de sintomatologia, sabe-se também que os efeitos são cumulativos ao longo do tempo, provocando sensibilização progressiva. Segundo a guideline do Royall College of Physicians de Londres a percentagem do pessoal de saúde com sensibilidade ao látex é superior a 17%. AESOP | PRÁTICAS RECOMENDADAS PARA O BLOCO OPERATÓRIO | 31 îTÉCNICA ASSÉPTICA CIRURGICA Edição 2005 1ª Revisão 2012 Esta Prática Recomendada pretende fornecer linhas orientadoras que assegu- rem o estabelecer e manter um campo cirúrgico estéril. A técnica asséptica cirúrgica consiste num conjunto de medidas e procedimen- tos realizados intencionalmente pela equipa cirúrgica, com o objectivo de: • Reduzir o risco de IACS (infecção associada aos cuidados de saúde), nomea- damente da infecção do local cirúrgico, minimizando a contaminação microbia- na daincisão, • Prevenir a contaminação dos profissionais envolvidos no processo cirúrgico. Todos os profissionais presentes na sala de operações têm o dever de garantir um ambiente cirúrgico seguro. Devem reger-se por um conjunto de valores individuais e de ética profissional que motivem uma prática clínica de excelência, independentemente do controlo efectuado – Consciência Cirúrgica e promover medidas correctivas em situações de quebra de assepsia. A prática rigorosa da técnica asséptica cirúrgica é fundamental para a preven- ção da infecção. As recomendações aqui referidas têm o intuito de minimizar o risco de contaminação e favorecer um óptimo nível de cuidados. RECOMENDAÇÃO I Um ambiente asséptico deve ser estabelecido e mantido, com a finalidade de prevenir a contaminação do campo operatório. Justificação – Um ambiente asséptico implica: controlo dos parâmetros de tratamento do ar: filtração, fluxo, renovações de ar, temperatura (20 a 23º) e humidade (30 a 60%). A temperatura e a humidade controladas reduzem a proli- feração microbiana e a electricidade estática. Implica existência de pressão positiva na sala de operações, para mobilização do ar para fora, arrastando partículas em suspensão. Para a manutenção da pres- são, é essencial manter as portas sempre fechadas. A circulação de profissionais deve ser minimizada e controlada porque aumenta o risco de contaminação pelo aumento da turbulência do ar na sala. RECOMENDAÇÃO II Sempre que realizam técnicas cirúrgicas ou invasivas os profissionais têm que utilizar bata e luvas estéreis o que implica obrigatoriamente uma prévia prepara- ção cirúrgica das mãos. Justificação – A correcta preparação cirúrgica das mãos elimina os micror- ganismos transitórios e reduz os microrganismos residentes da pele, As batas e 32 | luvas esterilizadas constituem uma barreira microbiana e uma barreira protectora que diminui o risco de contaminação dos utilizadores. 1 – A bata deve ser vestida com técnica asséptica, assistida por um enfermeiro (circulante para o instrumentista, instrumentista para a restante equipa). Deve ser correctamente apertada com o apoio da enfermeira circulante, que deve realizar a passagem da fita em torno do outro profissional. Depois de vestida, a bata só é considerada estéril nas seguintes áreas: • Área anterior, desde 5cm abaixo da linha das axilas até ao nível do campo esterilizado adjacente, • Mangas, desde 5cm acima do cotovelo até ao início do punho. São consideradas não estéreis: Decote, ombros, axilas, punhos, costas e área anterior abaixo do nível do cam- po esterilizado adjacente. Justificação – Decote, ombros, axilas e punhos são áreas de fricção e humida- de consequentemente, podem não constituir uma barreira bacteriana eficaz. As costas e a área anterior da bata abaixo do nível do campo esterilizado adja- cente, não são consideradas estéreis uma vez que não podem estar sob observa- ção directa por parte dos utilizadores. 2 - Preferencialmente, as luvas estéreis devem ser colocadas pelo método fechado através do qual, a face interna do punho das luvas é manipulado com as mãos cobertas pelas mangas da bata estéril ou, pelo método assistido em que um elemento da equipa já vestido com roupa estéril, coloca as luvas aos restantes elementos. Estes métodos permitem a colocação das luvas sem a contaminação da face interna do seu punho. Após terem sido colocadas as primeiras luvas, particularmente se for utilizado o método aberto, os punhos da bata são considerados área contaminada pelo que devem permanecer sempre cobertos na totalidade. Justificação – A colocação de luvas estéreis por método aberto implica a ma- nipulação não estéril da face interna do punho das luvas que, posteriormente irá ficar em contacto com os punhos da bata contaminando-os. 3 – As batas e luvas cirúrgicas devem ser seleccionadas de acordo com as indicações e situações, devem constituir barreira eficaz, devem ser mantidas in- tegras e substituídas quando houver quebra da técnica asséptica e sempre que protocolado. Justificação – A integridade e esterilidade das batas e luvas utilizadas pela equipa cirúrgica é um factor importante na manutenção da esterilidade do campo cirúrgico e na segurança dos profissionais. 4 – Só após a colocação da bata e das luvas esterilizadas podem ser manusea- das coberturas ou campos estéreis para a preparação de mesas de instrumentos ou para estabelecer o campo de incisão. AESOP | PRÁTICAS RECOMENDADAS PARA O BLOCO OPERATÓRIO | 33 Justificação – O manuseamento de coberturas ou campos estéreis tem de ser efectuada pela equipa estéril, já equipada, para evitar a sua contaminação. RECOMENDAÇÃO III Deve ser assegurada a técnica asséptica durante a preparação das mesas ci- rúrgicas. Justificação – O correcto estabelecimento do campo estéril minimiza o risco de contaminação. 1 – Todas as superfícies planas devem estar secas e isentas de partículas an- tes da colocação de campos ou trouxas estéreis, que devem ser impermeáveis a líquidos e fluidos corporais. Justificação – A humidade pode deteriorar os campos e contaminá-los. Cam- pos impermeáveis estabelecem uma barreira asséptica eficaz. 2 – Apenas a superfície da área do campo em que se está a trabalhar se deve considerar estéril. Justificação – O campo abaixo da superfície de trabalho não está sob observa- ção directa e não pode ser considerado estéril. Os tampos das mesas servem de demarcação entre estéril e não estéril. 3 – Durante a preparação da mesa cirúrgica, a enfermeira instrumentista deve mantê-la permanentemente sob vigilância directa, preferencialmente deve estar de frente para a restante equipa e atenta à sua movimentação e proximidade. Justificação – Só mantendo-se vigilante a enfermeira instrumentista consegue assegurar a esterilidade na preparação das mesas e prevenir contaminações aci- dentais. 4 – As mesas cirúrgicas não devem ser cobertas com campos. Justificação – Não é possível remover a cobertura da mesa sem contaminação da mesma. O campo que serve de cobertura é considerado contaminado abaixo do tampo da mesa sendo impossível retirá-lo sem tocar no campo da mesa. 5 – Se o paciente entrar na sala e for cancelado, todos os dispositivos médicos que foram abertos devem ser descartados. Justificação – Esta medida previne a ocorrência de contaminação cruzada. 34 | RECOMENDAÇÃO IV Tem de ser garantida a esterilidade e utilizada a técnica asséptica na dispensa de dispositivos médicos a utilizar no procedimento cirúrgico. Justificação – O uso de dispositivos médicos sem garantia de esterilidade pode conduzir à contaminação do campo estéril. 1 – Os dispositivos médicos devem ser abertos o mais perto possível do início do procedimento cirúrgico, ou da altura em que vão ser utilizados. Justificação – O risco de contaminação aumenta com o tempo de exposição. Poeiras e outras partículas, levantadas pela movimentação dos profissionais, po- dem depositar-se nas superfícies horizontais. 2 – Deve ser previamente confirmada a esterilidade de todos os dispositivos médicos a adicionar ao campo cirúrgico, através da verificação da data de vali- dade inscrita pelo fabricante (se os dispositivos foram reprocessados devem ser considerados 6 meses após a data da esterilização, desde que armazenados e manipulados de acordo com Recomendação VII), da integridade e segurança do empacotamento (só deve ser permitido duplo empacotamento) e dos indicadores químicos (externo e interno) do processo de esterilização. Os dispositivos devem ser considerados “não seguros” na data em que expira a validade pré definida. Os dispositivos com empacotamentos ou indicadores químicos duvidosos devem ser considerados não estéreis. Justificação – A observação directa e cuidada das embalagens, das validades e dos indicadores químicos de esterilização são uma importante medida para des- pistar situações que possam conduzir à contaminação do campo estéril. Se houver alguma dúvida relativamente à esterilidadede um dispositivo médico, este deve ser considerado contaminado e ser descartado. A fita ou papel testemunho indicam que o dispositivo esteve exposto ao proces- so de esterilização, mas não garante a eficácia do processo e como tal não garante a esterilidade. 3 – As embalagens de material esterilizado devem possuir uma margem de abertura suficiente para permitir a técnica de abertura asséptica e apresentação do conteúdo à enfermeira instrumentista sem risco de contaminação. Justificação – A ausência de margens conduz ao risco de contaminação do material durante o processo de abertura da embalagem. 4 – Devem ser abertas ambas as embalagens, de forma lenta e cuidadosa, as margens devem ser mantidas seguras e progressivamente voltadas no sentido externo e distal. Não é permitido o método de abertura por rasgadura de embalagens de mate- rial estéril. AESOP | PRÁTICAS RECOMENDADAS PARA O BLOCO OPERATÓRIO | 35 Justificação – A rasgadura implica a contaminação dos bordos da embalagem e do material à sua passagem. Manter seguras as margens da embalagem previne a contaminação acidental do material. 5 – Os artigos esterilizados abertos para um campo estéril devem ser entre- gues à mão da enfermeira instrumentista. Não é aceitável a prática de “atirar” artigos esterilizados para a mesa de ins- trumentos. Justificação – Abrir as embalagens com técnica asséptica e entregar os con- teúdos à mão da instrumentista é a única forma de não “sobrevoar” o campo estabelecido como estéril. O material atirado provoca turbulência, pode cair, ficar contaminado ou deslocar outro material que já se encontre no campo. 6 – O uso de “clamp” para colocação de material estéril na mesa de instrumen- tos, não é permitido. Justificação – Depois de aberto, o “clamp” permanece sem ser vigiado, não devendo por isso, ser considerado estéril. As manobras para exteriorizar e colocar o “clamp” na coluna, são susceptíveis de contaminações acidentais pelo que não devem existir “clamps” em salas de operações. 7 – Os frascos de soluções que são dadas para o campo estéril devem possuir abertura de rosca e ser abertos apenas na altura da sua utilização. A transferência do soluto deve ser feita num gesto único e o excedente deve ser desperdiçado. Justificação – A abertura de rosca é a única que garante a assepsia dos bordos do frasco, prevenindo a contaminação dos solutos durante a transferência para o campo operatório. A prática de abrir, utilizar e voltar a tapar um frasco aumenta o risco de conta- minação, devem ser utilizados frascos de pequenos volumes, que permitam uma única utilização, sem desperdício. 8 – Na transferência de solutos para o campo estéril, os recipientes que lhes são destinados devem ser posicionados pela instrumentista, de forma a evitar sal- picos acidentais para a mesa de instrumentos. Justificação – A manutenção do campo estéril seco é uma importante medida para a prevenção da contaminação. A humidade provoca quebras da resistência inicial dos materiais. 36 | RECOMENDAÇÃO V Devem ser utilizadas campos impermeáveis estéreis para definir o local de inci- são e o campo operatório alargado e usadas coberturas estéreis para os equi- pamentos. Justificação – Os campos e coberturas impermeáveis esterilizados constituem uma barreira que minimiza a passagem de microrganismos entre áreas não esté- reis e estéreis e devem ter as características especificadas na Prática Recomen- dada “ Utilização dos Campos Cirúrgicos”. 1– Os campos estéreis devem apresentar-se dobrados de forma a possibilitar à equipa cirúrgica desdobrá-los progressivamente, partindo da área de incisão para a periferia mantendo a técnica asséptica. Justificação – O processo de colocação de campos esterilizados partindo da área desinfectada para a periferia, previne a transferência de microrganismos e consequente contaminação do campo operatório. 2 – Os campos e coberturas devem cobrir a totalidade da área corporal do doen- te, os equipamentos necessários e todas as áreas adjacentes ao campo operatório que entrem em contacto com material estéril, de forma a permitir o funcionamento de toda a equipa cirúrgica sem risco de contaminação. O seu manuseamento deve ocorrer o mais próximo possível da sua utilização. Justificação – A definição de uma área estéril alargada diminui o risco de contaminação e favorece a manutenção da assepsia no campo operatório Quanto maior for o tempo de exposição de materiais estéreis a partículas e possíveis agen- tes contaminantes em suspensão no ar, maior é o risco de infecção. 3 – Os campos cirúrgicos devem ser colocados por 2 elementos da equipa estéril e ser manuseados o mínimo possível, com movimentos suaves e seguros e devem envolver as mãos dos profissionais que procedem à sua colocação. Justificação – Movimentos rápidos durante a colocação de campos esteriliza- dos, favorecem a deslocação de ar e consequentemente de partículas em suspen- são, aumentando o risco de contaminação do campo operatório. Manter as mãos por dentro dos campos esterilizados durante o processo de colocação evita a contaminação acidental das luvas esterilizadas. 4 – Deve ser mantida uma distância mínima de 30cm entre um campo esteri- lizado e o chão. Justificação – O chão é uma área com elevado grau de contaminação. O con- tacto de campos esterilizados com esta área, favorece a transferência de micror- ganismos potencialmente infecciosos. Por outro lado, a permanência de campos esterilizados no chão, leva a que facilmente sejam pisados, podendo causar a sua deslocação do campo operatório e dar origem a acidentes intra-operatórios ou acidentes de serviço. AESOP | PRÁTICAS RECOMENDADAS PARA O BLOCO OPERATÓRIO | 37 5 – Após a colocação, não é permitido o reposicionamento de campos es- terilizados. O posicionamento incorrecto de um campo esterilizado obriga à sua substituição. Justificação – A deslocação e reposicionamento de campos compromete a sua esterilidade porque favorece a transferência de microrganismos. RECOMENDAÇÃO VI A manutenção da esterilidade do campo operatório é da responsabilidade das equipas estéril e não estéril, presentes na sala de operações. Justificação – Todos os elementos da equipa são responsáveis pelos seus procedimentos de segurança e de prevenção da infecção e pela monitorização dos procedimentos dos outros profissionais. 1 – Todos os dispositivos médicos abertos devem ser continuamente observa- dos para detecção de factores de contaminação. Justificação – Só a observação contínua assegura a esterilidade dos dispo- sitivos. A contaminação pode ocorrer em qualquer altura por via aérea, líquidos, insectos ou profissionais. 2 – A equipa estéril deve permanecer junto do campo estéril estabelecido. Justificação – A permanência da equipa estéril junto do campo estéril estabe- lecido, diminui o risco de contaminação do campo operatório. Abandonar a área definida como estéril ou a sala de operações com a bata esterilizada vestida, aumenta o risco de infecção para o utente e o grau de conta- minação do ambiente cirúrgico por transferência de microrganismos. 3 – Os elementos da equipa estéril devem movimentar-se apenas entre áreas estéreis e nunca voltar as costas aos campos esterilizados. Justificação – As costas das batas esterilizadas não são consideradas estéreis porque não estão sob constante observação directa e podem ser facilmente con- taminadas. O contacto entre as costas das batas e os campos esterilizados, pode provocar a sua contaminação. 4 – Sempre que haja necessidade de mudança de posição entre elementos da equipa estéril, esta deverá ser feita costas com costas, mantendo distância do campo operatório. Justificação – A mudança de posição entre os elementos da equipa estéril feita costas com costas, diminui o risco de contaminação do campo operatório e das áreas, consideradas estéreis, das batas esterilizadas. 5 - A equipa estéril deve sempre manter as mãos e os antebraços nas zonas consideradas estéreis. 38
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