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Recuperação Judicial Lei 11.101/2005 Introdução O ordenamento jurídico deve assegurar aos empresários em principio de crise- econômico financeira condições de recuperação de sua atividade empresarial, sem solução de continuidade de sua atividade produtiva e com o pagamento aos credores. A recuperação de empresas, entretanto, não deve ser vista como um instrumento de amparo estatal às empresas em crise. Para que a recuperação possa ser levada a cabo, é essencial que a empresa requerente demonstre viabilidade econômica. VIABILIDADE ECONÔMICA: Capacidade de uma empresa recuperar-se economicamente por seus próprios meios. Definição Conforme Fábio Bellote Gomes, Recuperação Judicial é o Acordo judicial realizado entre o devedor (empresário, EIRELI ou sociedade empresária) e seus credores, com vistas à recuperação da atividade empresarial em crise e ao pagamento do passivo submetido aos seus efeitos. Em suma... a recuperação judicial trata-se de um instituto que busca viabilizar a reestruturação da empresa em crise, pois nem sempre as soluções existentes no próprio mercado mostram-se suficientes para auxiliá-la na superação desse mal momento. Objetivo “Viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica.” Art. 47, LEI 11.101/2005 É bom frisarmos que o devedor deverá mostrar a capacidade real de recuperação, caso contrário terá sua falência decretada! Ao mercado nada interessa a manutenção de empresas inadimplentes, atrasadas, mal administradas. Para empresas desse tipo esta reservada o instituto da falência na qual acarreta na extinção da empresa no mundo jurídico e econômico. Concordata X Recuperação Judicial O instituto da concordata, previsto no decreto-lei nº 7.661/45 foi extinto e substituído pela recuperação judicial, na qual é um mecanismo mais eficaz e moderno no combate à crise da empresa. QUADRO COMPARATIVO CONCORDATA RECUPERAÇÃO JUDICIAL Remissão (perdão) de dívidas e dilação de prazos para pagamento dos credores Prevê um plano de recuperação judicial, na qual confere efetiva chance de superação da crise Os credores eram meros espectadores que deveriam contentar-se com a remissão e/ou moratória imposta Intensa participação dos credores, responsáveis pela aprovação ou rejeição do plano de recuperação escolhido pelo devedor Requisitos DISPOSITIVO LEGAL: Art. 48: “Pode requerer a recuperação judicial o devedor que, no momento do pedido, exerça regularmente suas atividades há mais de 2 anos e que atenda aos seguintes requisitos, cumulativamente: I – não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada em julgado, as responsabilidades daí decorrentes; II – não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial; III - não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial com base no plano especial de que trata a Seção V deste Capítulo; IV – não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador, pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos nesta Lei. § 1º A recuperação judicial também poderá ser requerida pelo cônjuge sobrevivente, herdeiros do devedor, inventariante ou sócio remanescente. § 2º Tratando-se de exercício DE ATIVIDADE RURAL POR PESSOA JURÍDICA, admite-se a comprovação do prazo estabelecido no caput deste artigo por meio da declaração de informações econômico-fiscais da pessoa jurídica - dipj que tenha sido entregue tempestivamente. No que se refere ao §2º temos uma ressalva importantíssima: PRECEDENTE DO STJ ACERCA DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL PARA O PRODUTOR RURAL O precedente foi fixado no julgamento envolvendo o Grupo JPupin, e tratou da inclusão na recuperação judicial de débitos contraídos por produtor rural como pessoa física (antes de sua inscrição na Junta Comercial). Argumento Contrário: O Banco do Brasil alegou que, nos termos do art. 48 da lei 11.101/05, o requisito temporal para o requerimento da recuperação judicial é o exercício regular da atividade empresária há pelo menos dois anos, que deve ser respeitado, igualmente, pelos empresários rurais; assim, sustentou a impossibilidade dos recorrentes beneficiarem-se da recuperação judicial em relação às operações realizadas antes de registrarem-se na Junta Comercial. Argumento favorável e vencedor: O Ministro Luis Felipe Salomão assentou que: a) o produtor rural que exerce atividade empresária é sujeito de direito da recuperação judicial; b) é condição para o requerimento da recuperação judicial pelo produtor rural a inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, observadas as formalidades do art. 968 e seus parágrafos; c) a aprovação do requerimento de recuperação judicial pelo produtor rural está condicionada à comprovação de exercício da atividade rural há mais de dois anos, por quaisquer formas admitidas em direito; e d) comprovado o exercício da atividade pelo prazo mínimo exigido pelo art. 48 (lei 11.101/05), sujeitam-se à recuperação os créditos constituídos, que decorram de atividades empresariais. Ou seja, mesmo que o produtor rural não tenha registro na junta comercial por no mínimo 2 anos, ele terá direito a requerer a recuperação judicial se tiver como comprovar que exerceu atividade empresária durante esse período, e consequentemente as dívidas, também serão incluídas no instituto da RJ (mesmo que na época que contraiu não estivesse registrado). OBS: O devedor poderá fazer o requerimento de recuperação judicial, mesmo que exista um pedido de falência contra ele. Isso porque a recuperação judicial pode ser requerida diretamente, ou no prazo de defesa em pedido de falência formulado pelo credor, nos termos do art. 95. Características Gerais É um acordo judicial celebrado entre devedores e credores, na qual todos os credores estão obrigados a respeitá-las; O devedor não pode desistir do pedido de recuperação judicial, após o deferimento do seu processamento; O devedor tem ampla liberdade para propor aos credores as medidas jurídicas e econômicas que entender convenientes; Após a distribuição do pedido de recuperação, o devedor empresário não poderá alienar ou onerar bens ou direitos de seu ativo permanente; A recuperação judicial do devedor principal não impede o prosseguimento das ações e execuções ajuizadas contra terceiros devedores solidários ou coobrigados em geral, por garantia cambial, real ou fidejussória. (Súmula 581 do STJ). Créditos NÃO submetidos à Recuperação Judicial Fiscais e parafiscais; Proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis Arrendador Mercantil Proprietário ou promitente vendedor de imóveis cujos respectivos contratos contenham cláusula de irrevogabilidade, irretratabilidade, incorporações imobiliárias; Credor de Contrato de câmbio (ACC). Créditos submetidos à Recuperação Judicial Titulares de créditos derivados da legislação do trabalho e decorrentes de acidente de trabalho. *ressalva importante*: O entendimento atual do STJ é que os créditos resultantes de honorários advocatícios têm natureza alimentar e equiparam-se aos trabalhistas para efeito de habilitação de falência e recuperação judicial. Titulares de créditos com garantia real, até o limite do valor do bem agravado; Titulares de créditos com privilégio especial; Titulares de créditos com privilégio geral (créditos decorrentes de obrigações contraídas pelo devedor durante a Recuperação Judicial); Titulares de créditos quirografários; Titulares de créditos subordinados (sócios e administradores sem vínculo empregatício). Meios de RecuperaçãoJudicial A recuperação judicial se operacionaliza mediante um plano de recuperação. Esse plano deve apresentar instrumentos ou meios jurídico-econômicos de recuperação da empresa. A lei em seu artigo 50 traz um elenco enumerativo, porém não exclusivo, podendo ser utilizado de forma isolada ou cumulativa. Sem a exclusão da possibilidade de o devedor vir a propor outros meios não previstos em lei. DISPOSITIVO LEGAL: Art. 50. Constituem meios de recuperação judicial, observada a legislação pertinente a cada caso, dentre outros: I – concessão de prazos e condições especiais para pagamento das obrigações vencidas ou vincendas; II – cisão, incorporação, fusão ou transformação de sociedade, constituição de subsidiária integral, ou cessão de cotas ou ações, respeitados os direitos dos sócios, nos termos da legislação vigente; III – alteração do controle societário; IV – substituição total ou parcial dos administradores do devedor ou modificação de seus órgãos administrativos; V – concessão aos credores de direito de eleição em separado de administradores e de poder de veto em relação às matérias que o plano especificar; VI – aumento de capital social; VII – trespasse ou arrendamento de estabelecimento, inclusive à sociedade constituída pelos próprios empregados; VIII – redução salarial, compensação de horários e redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva; IX – dação em pagamento ou novação de dívidas do passivo, com ou sem constituição de garantia própria ou de terceiro; X – constituição de sociedade de credores; XI – venda parcial dos bens; XII – equalização de encargos financeiros relativos a débitos de qualquer natureza, tendo como termo inicial a data da distribuição do pedido de recuperação judicial, aplicando-se inclusive aos contratos de crédito rural, sem prejuízo do disposto em legislação específica; XIII – usufruto da empresa; XIV – administração compartilhada; XV – emissão de valores mobiliários; XVI – constituição de sociedade de propósito específico para adjudicar, em pagamento dos créditos, os ativos do devedor. Art. 59. O plano de recuperação judicial implica NOVAÇÃO dos créditos anteriores ao pedido, e obriga o devedor e todos os credores a ele sujeitos, sem prejuízo das garantias, observado o disposto no § 1º do art. 50 desta Lei. § 1º A decisão judicial que conceder a recuperação judicial constituirá título executivo judicial, nos termos do art. 584, inciso III, do caput da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil. § 2º Contra a decisão que conceder a recuperação judicial caberá agravo, que poderá ser interposto por qualquer credor e pelo Ministério Público. *novação: é uma operação jurídica do Direito das obrigações que consiste em criar uma nova obrigação, substituindo e extinguindo a obrigação anterior e originária. O próprio termo "novar" já é utilizado no vocabulário jurídico para se referir ao ato de se criar uma nova obrigação. Órgãos da Recuperação Judicial Podem existir três órgãos distintos: a) ADMINISTRADOR JUDICIAL; b) ASSEMBLEIA GERAL DE CREDORES (AGC); c) COMITÊ DE CREDORES A) ADMINISTRADOR JUDICIAL: Tem poderes mais limitados, visto que não existe massa falida. A administração da empresa ficará com o próprio devedor ou a terceiro indicado. Função: fiscaliza a administração da empresa que esta a cargo do devedor ou de terceiro. Atribuições do Administrador Judicial: DISPOSITIVO LEGAL: Art. 22. Ao administrador judicial compete, sob a fiscalização do juiz e do Comitê, além de outros deveres que esta Lei lhe impõe: I – na recuperação judicial e na falência: a) enviar correspondência aos credores comunicando a data do pedido de recuperação judicial ou da decretação da falência, a natureza, o valor e a classificação dada ao crédito; b) fornecer, com presteza, todas as informações pedidas pelos credores interessados; c) dar extratos dos livros do devedor, que merecerão fé de ofício, a fim de servirem de fundamento nas habilitações e impugnações de créditos; d) exigir dos credores, do devedor ou seus administradores quaisquer informações; e) elaborar a relação de credores de que trata o § 2º do art. 7º desta Lei; f) consolidar o quadro-geral de credores nos termos do art. 18 desta Lei; g) requerer ao juiz convocação da assembléia-geral de credores nos casos previstos nesta Lei ou quando entender necessária sua ouvida para a tomada de decisões; h) contratar, mediante autorização judicial, profissionais ou empresas especializadas para, quando necessário, auxiliá-lo no exercício de suas funções; i) manifestar-se nos casos previstos nesta Lei; II – na recuperação judicial: a) fiscalizar as atividades do devedor e o cumprimento do plano de recuperação judicial; b) requerer a falência no caso de descumprimento de obrigação assumida no plano de recuperação; c) apresentar ao juiz, para juntada aos autos, relatório mensal das atividades do devedor; d) apresentar o relatório sobre a execução do plano de recuperação, de que trata o inciso III do caput do art. 63 desta Lei; B) ASSEMBLEIA GERAL DE CREDORES (AGC) Presidida pelo Administrador Judicial, a AGC é o órgão máximo de deliberação dos credores. Podendo ser convocada pelo juiz, nas hipóteses legais ou quando este julgar conveniente, e por credores titulares em conjunto. Atribuições da AGC: DISPOSITIVO LEGAL: Art. 35. A assembléia-geral de credores terá por atribuições deliberar sobre: I – na recuperação judicial: a) aprovação, rejeição ou modificação do plano de recuperação judicial apresentado pelo devedor; b) a constituição do Comitê de Credores, a escolha de seus membros e sua substituição; c) (VETADO) d) o pedido de desistência do devedor, nos termos do § 4º do art. 52 desta Lei; e) o nome do gestor judicial, quando do afastamento do devedor; f) qualquer outra matéria que possa afetar os interesses dos credores; Art. 36. A assembléia-geral de credores será convocada pelo juiz por edital publicado no órgão oficial e em jornais de grande circulação nas localidades da sede e filiais, COM ANTECEDÊNCIA MÍNIMA DE 15 (QUINZE) DIAS, o qual conterá: DEVERÁ CONTER NO EDITAL AS SEGUINTES INFORMAÇÕES: I – local, data e hora da assembléia em 1ª (primeira) e em 2ª (segunda) convocação, não podendo esta ser realizada menos de 5 (cinco) dias depois da 1ª (primeira); II – a ordem do dia; III – local onde os credores poderão, se for o caso, obter cópia do plano de recuperação judicial a ser submetido à deliberação da assembléia. § 1º Cópia do aviso de convocação da assembléia deverá ser afixada de forma ostensiva na sede e filiais do devedor. § 2º Além dos casos expressamente previstos nesta Lei, credores que representem no mínimo 25% (vinte e cinco por cento) do valor total dos créditos de uma determinada classe poderão requerer ao juiz a convocação de assembléia-geral. § 3º As despesas com a convocação e a realização da assembléia-geral correm por conta do devedor ou da massa falida, salvo se convocada em virtude de requerimento do Comitê de Credores ou na hipótese do § 2º deste artigo. Classe dos Credores Conforme os termos do art. 41, estão assim divididas: CLASSE DE CREDORES NATUREZA DO CRÉDITO VOTO QUANTITATIVO (Nº DE CREDORES) VOTO QUALITATIVO (VALOR DE CRÉDITO) QUORUM DE DELIBERAÇÃO Classe I Trabalhista de decorrentes de acidente de trabalho Maioria simples dos credores presentes (maioria das cabeças) Não leva em consideração o valor do crédito Apenas o voto da “quantidade das cabeças” Classe II Créditos com garantia real Maioria simples dos credores presentes (maioria das cabeças) Maioria Simples (mais da metade do valor total dos créditos nesta classe PRESENTES na AGC) Por cabeça: Maioria simples Por crédito: MaioriaSimples Classe III Créditos quirografários Maioria simples dos credores presentes (maioria das cabeças) Maioria Simples (mais da metade do valor total dos créditos nesta classe PRESENTES na AGC) Por cabeça: Maioria simples Por crédito: Maioria Simples Classe IV Créditos de ME (Micro Empresas) EPP (Empresas de Pequeno Porte) Maioria simples dos credores presentes (maioria das cabeças) Não leva em consideração o valor do crédito Apenas o voto da “quantidade das cabeças” Em suma: CLASSE I (trabalhista) E IV (ME e EPP): voto exclusivamente por cabeça, não considera o crédito CLASSE II E III: voto por cabeça e por valor de crédito Lembrando que: ME: Micro Empresa, pessoa jurídica que tenha auferido, no ano, receita bruta igual ou inferior a R$ 240,000,00 EPP: Empresa de Pequeno Porte, pessoa jurídica que tenha auferido, no ano, receita bruta superior a 240,000,00 Tem direito ao voto - Credores relacionados ao quadro geral de credores, ou na sua falta, na relação de credores apresentadas pelo Administrador judicial; - Credores habilitados na data da realização da assembléia ou que tenham crédito admitido ou alterado por decisão judicial. NÃO tem direito ao voto Fiscais e parafiscais; Proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis Arrendador Mercantil Proprietário ou promitente vendedor de imóveis cujos respectivos contratos contenham cláusula de irrevogabilidade, irretratabilidade, incorporações imobiliárias; Credor de Contrato de câmbio (ACC). CREDORES RETARDATÁRIOS (são os credores que não habilitaram o seu crédito dentro do prazo legal de 15 dias). C) COMITÊ DE CREDORES É um órgão facultativo tanto na falência como na recuperação judicial, sendo formado por representantes das classes de credores. Possuem as seguintes atribuições: DISPOSITIVO LEGAL: Art. 27. O Comitê de Credores terá as seguintes atribuições, além de outras previstas nesta Lei: I – na recuperação judicial e na falência: a) fiscalizar as atividades e examinar as contas do administrador judicial; b) zelar pelo bom andamento do processo e pelo cumprimento da lei; c) comunicar ao juiz, caso detecte violação dos direitos ou prejuízo aos interesses dos credores; d) apurar e emitir parecer sobre quaisquer reclamações dos interessados; e) requerer ao juiz a convocação da assembléia-geral de credores; f) manifestar-se nas hipóteses previstas nesta Lei; II – na recuperação judicial: a) fiscalizar a administração das atividades do devedor, apresentando, a cada 30 (trinta) dias, relatório de sua situação; b) fiscalizar a execução do plano de recuperação judicial; c) submeter à autorização do juiz, quando ocorrer o afastamento do devedor nas hipóteses previstas nesta Lei, a alienação de bens do ativo permanente, a constituição de ônus reais e outras garantias, bem como atos de endividamento necessários à continuação da atividade empresarial durante o período que antecede a aprovação do plano de recuperação judicial. Processo de Recuperação Judicial O processo de recuperação judicial é composto por três fases distintas e seqüenciais, são elas: 1. FASE PRELIMINAR OU POSTULATÓRIA; 2. FASE DE DELIBERAÇÃO OU ASSEMBLEAR; 3. FASE DE EXECUÇÃO. A) FASE PRELIMINAR OU POSTULATÓRIA O processo terá inicio com o protocolo, pelo devedor, de sua petição inicial. Devendo conter na inicial: Art. 51. A petição inicial de recuperação judicial será instruída com: I – a exposição das causas concretas da situação patrimonial do devedor e das razões da crise econômico-financeira; II – as demonstrações contábeis relativas aos 3 (três) últimos exercícios sociais e as levantadas especialmente para instruir o pedido, confeccionadas com estrita observância da legislação societária aplicável e compostas obrigatoriamente de: a) balanço patrimonial; b) demonstração de resultados acumulados; c) demonstração do resultado desde o último exercício social; d) relatório gerencial de fluxo de caixa e de sua projeção; III – a relação nominal completa dos credores, inclusive aqueles por obrigação de fazer ou de dar, com a indicação do endereço de cada um, a natureza, a classificação e o valor atualizado do crédito, discriminando sua origem, o regime dos respectivos vencimentos e a indicação dos registros contábeis de cada transação pendente; IV – a relação integral dos empregados, em que constem as respectivas funções, salários, indenizações e outras parcelas a que têm direito, com o correspondente mês de competência, e a discriminação dos valores pendentes de pagamento; V – certidão de regularidade do devedor no Registro Público de Empresas, o ato constitutivo atualizado e as atas de nomeação dos atuais administradores; VI – a relação dos bens particulares dos sócios controladores e dos administradores do devedor; VII – os extratos atualizados das contas bancárias do devedor e de suas eventuais aplicações financeiras de qualquer modalidade, inclusive em fundos de investimento ou em bolsas de valores, emitidos pelas respectivas instituições financeiras; VIII – certidões dos cartórios de protestos situados na comarca do domicílio ou sede do devedor e naquelas onde possui filial; IX – a relação, subscrita pelo devedor, de todas as ações judiciais em que este figure como parte, inclusive as de natureza trabalhista, com a estimativa dos respectivos valores demandados. DEFERIMENTO DA PETIÇÃO Distribuída a petição inicial com o pedido de recuperação pelo devedor legitimado, e estando em termos a documentação exigida, o juiz deferirá o processamento da recuperação judicial. Há, porem, que se esclarecer que esse despacho do juiz- determinando o processamento da recuperação judicial – NÃO SE CONFUNDE com sua efetiva concessão. QUADRO COMPARATIVO DESPACHO DE PROCESSAMENTO CONCESSÃO Serve apenas para autorizar o Decisão que será tomada somente após a prosseguimento do feito para que as demais fases mencionadas na lei possam ser realizadas aprovação do plano de recuperação judicial Observe o momento de cada um no fluxograma FLUXOGRAMA INDEFERIMENTO DA PETIÇÃO INICIAL Se o devedor, ao distribuir o pedido de recuperação, não demonstrar legitimidade, ou não apresentar a documentação exigida, terá o processamento do pedido indeferido e consequentemente o processo será extinto. No entanto, nada impede que ingresse novamente com outro pedido, sanando as falhas constatadas. OS PRAZOS SERÃO CONTADOS EM DIAS ÚTEIS OU CORRIDOS? Com o advento do novo código de processo civil tem surgido algumas decisões judiciais considerando que a contagem do referido prazo de 180 dias deveria ser efetuada de acordo com o critério fixado pelo CPP, ou seja em dias úteis. Respeitosamente, Fábio Bellote Gomes discorda, dizendo que tal entendimento não deve prosperar, por dois motivos: a) A lei falimentar é norma de natureza especial (ao passo que CPC é lei geral); b) Caso fosse considerado em dias úteis tal prazo iria impor um ônus demasiado grande aos credores, à espera de um acordo para a recuperação judicial da empresa e a satisfação do crédito, e sobretudo também iria prejudicar a eficiência exigida da atividade empresarial, e o princípio da continuidade da empresa. Stay Period “Quando a empresa ingressa com pedido de Recuperação Judicial, após a análise de cumprimento dos requisitos da lei, o Juiz defere o processamento da recuperação, ou seja, o processo começa a caminhar. Uma das consequências dessa decisão é o chamado stay period, período de suspensão das ações e execuções em face da empresa em recuperação judicial. Assim, no prazo de 180 dias, todos os processos em face da empresa e, consequentemente, os atos de constrição do seu patrimônio devem ser congelados conforme artigo 6º da lei 11.101/05. Muito se discute sobre a possibilidadede prorrogação desse prazo, já que nos termos do §4º do mencionado artigo 6º da LFR, os 180 dias seriam improrrogáveis. Ocorre que, para que a empresa possa aprovar seu plano de recuperação em assembleia geral de credores é necessário ajustar as formas de pagamento dos credores para atender o interesse de todos e o prazo de 180 dias, que deveria ser o lapso de tempo entre o deferimento da recuperação e a aprovação do plano, muitas das vezes, se mostra insuficiente. Nesse sentido, o poder judiciário tem sido mais complacente do que a lei. Isso porque, os Tribunais entendem que é possível a prorrogação do stay, desde que, reste claro que a Recuperanda não retardou o andamento do processo, bem como não foi por sua culpa que a aprovação do plano não ocorreu no prazo de 180 dias. Geralmente, o Tribunal entende pela prorrogação do stay por mais 180 dias, o que não impede de acontecer por um prazo menor ou até a realização da assembleia geral de credores e/ou aprovação do plano de recuperação judicial. Sendo assim, não há uma regra que delimite o novo prazo de stay period.” Site Migalhas Caso Verídico “O juiz de Direito Tiago Henriques Papaterra Limongi, da 1ª vara de Falências e Recuperações Judiciais de SP, deferiu pedido de prorrogação do stay period de uma empresa em recuperação judicial pelo período de suspensão da assembleia geral dos credores. O magistrado levou em consideração o período de crise ocasionado pelo novo coronavírus.” Observação importante: Os crédito de natureza estritamente salarial, cujo valor não exceda o limite de 5 SALÁRIOS MINIMOS, e que se tenha vencido nos três meses anteriores ao pedido de recuperação judicial, deverão ter o seu pagamento no prazo máximo de 30 dias. DISPOSITIVO LEGAL: Art. 54. O plano de recuperação judicial não poderá prever prazo superior a 1 (um) ano para pagamento dos créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho vencidos até a data do pedido de recuperação judicial. Parágrafo único. O plano não poderá, ainda, prever prazo superior a 30 (trinta) dias para o pagamento, até o limite de 5 (cinco) salários-mínimos por trabalhador, dos créditos de natureza estritamente salarial vencidos nos 3 (três) meses anteriores ao pedido de recuperação judicial. B) FASE DE DELIBERAÇÃO OU ASSEMBLEAR O plano e recuperação deve ser protocolado em cartório pelo devedor no prazo improrrogável de 60 dias contados da publicação do despacho que deferir o processamento, sob pena de decretação de falência. O plano de recuperação judicial terá o seguinte conteúdo: DISPOSITIVO LEGAL: Art. 53. O plano de recuperação será apresentado pelo devedor em juízo no prazo improrrogável de 60 (sessenta) dias da publicação da decisão que deferir o processamento da recuperação judicial, sob pena de convolação em falência, e deverá conter: I – discriminação pormenorizada dos meios de recuperação a ser empregados, conforme o art. 50 desta Lei, e seu resumo; II – demonstração de sua viabilidade econômica; e III – laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens e ativos do devedor, subscrito por profissional legalmente habilitado ou empresa especializada. Hipóteses de Aprovação do Plano de Recuperação Judicial NÃO HÁ OBJEÇÃO DE QUALQUER CREDOR HÁ OBJEÇÃO DE ALGUM CREDOR Dentro do prazo de 30 dias contados da publicação da relação dos credores ou do aviso aos credores sobre o recebimento do plano não tiver nenhuma objeção, prosseguirá. Nesse caso, o juiz deverá convocar a assembléia geral dos credores para deliberar sobre o plano de recuperação judicial, sendo que a data para a realização da assembléia geral de credores não Nesse caso o juiz deverá conceder a recuperação judicial poderá exceder 150 dias, contados do deferimento do processamento da recuperação judicial. Ocorrendo a objeção, e acontecendo a assembléia geral de credores haverá duas hipóteses, são elas: A ASSEMBLEIA GERAL APROVA O PLANO E O JUIZ CONCEDE A RECUPERAÇÃO JUDICIAL A ASSEMBLEIA GERAL NÃO APROVA O PLANO, MAS O JUIZ CONCEDE A RECUPERAÇÃO JUDICIAL “CRAM DOWN” Para que haja a aprovação do plano, é necessário que todas as classes de credores votem favoravelmente ao plano de recuperação. Conforme art. 45. O juiz poderá conceder a recuperação judicial com base no plano que não obteve aprovação. CRAM DOWN “De guela a baixo” / “jogar para baixo”. Essa expressão é citada na doutrina e jurisprudência que consiste na concessão da recuperação judicial quando o plano apresentado pelo devedor não obtiver aprovação em todas as classes de credores. Nesse caso, conforme o art. 58, §1º: “O juiz poderá conceder a recuperação judicial com base em plano que não obteve aprovação pelo critério de todas as classes aprovarem, desde que na mesma assembléia, tenha obtido DE FORMA CUMULATIVA: O VOTO FAVORÁVEL DE CREDORES QUE REPRESENTEM MAIS DA METADE DO VALOR DE TODOS OS CRÉDITOS PRESENTES À ASSEMBLEIA, INDEPENDENTEMENTE DE CLASSES A APROVAÇÃO DE DUAS CLASSES DE CREDORES NO TERMOS DO ART. 45, CASO HAJA SOMENTE DUAS CLASSES COM CREDORES VOTANTES, A APROVAÇÃO DE PELO MENOS UMA DELAS NA CLASSE QUE HOUVER REJEITADO, O VOTO FAVORÁVEL DE MAIS DE UM TERÇO DE CREDORES Com a atualização da lei em 2014, trazendo uma 4ª classe (CLASSE IV), houve uma mudança na aplicação do cram down, visto que tinha apenas 3 classes de credores, agora são quatro. Resultado: admite-se o Cram down desde que aprovado o plano por duas das quatro classes de credores, cumulativamente ao demais requisitos lega, ao invés do critério original baseado na aprovação por duas das três classes, em entendimento ao PRINCÍPIO DA PRESERVAÇÃO DA EMPRESA, ART 47. C) FASE DE EXECUÇÃO Uma vez aprovado o plano de recuperação e concedida judicialmente a recuperação, tem inicio o seu cumprimento, nos exatos termos em que for acordado entre o devedor e seus credores. Convolação da recuperação judicial em falência Convolação significa “converter” a recuperação judicial em falência, a lei consagra as seguintes hipóteses: I – por deliberação da assembléia-geral de credores, na forma do art. 42 desta Lei; II – pela não apresentação, pelo devedor, do plano de recuperação no prazo do art. 53 desta Lei; III – quando houver sido rejeitado o plano de recuperação, nos termos do § 4º do art. 56 desta Lei; IV – por descumprimento de qualquer obrigação assumida no plano de recuperação, na forma do § 1º do art. 61 desta Lei.
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