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Cartwright e Zander • Dinâmica de grupo | Origens da dinâmica de grupo 1 
[1] 
 
Parte Um 
INTRODUÇÃO À DINÂMICA DE GRUPO 
 
[3] 
 
1 
Origens da Dinâmica de Grupo 
 
 
 
Se um estafado hipotético marciano pudesse ver ingenuamente os habitantes da 
Terra, talvez ficasse impressionado com o tempo despendido pelos homens em fazer coi-
sas reunidos em grupos. Notaria que quase todas as pessoas se congregam em grupos 
relativamente pequenos, cujos participantes moram na mesma casa, satisfazem suas ne-
cessidades biológicas fundamentais no interior do grupo, dependem da mesma fonte para 
o sustento econômico, a criação dos filhos e o cuidado mútuo da saúde. Observaria que a 
educação e a socialização das crianças quase sempre ocorrem em outros grupos, geral-
mente maiores, isto é, igrejas, escolas e outras instituições sociais. Verificaria que grande 
parte do trabalho do mundo é executado por pessoas que desempenham suas atividades 
em estreita interdependência, no interior de associações relativamente duradouras. Talvez 
se entristecesse ao descobrir grupos de homens empenhados em guerra, na qual conse-
guem coragem e elevado moral através do orgulho em sua unidade e do sentimento de 
segurança com relação aos companheiros. Poderia alegrar-se ao ver grupos de pessoas 
que se divertem em recreações e esportes de vários tipos. Finalmente, poderia ficar intri-
gado com os motivos pelos quais tanta gente gasta tanto tempo em pequenos grupos, pla-
nejando, conversando e “em conferência”. Com certeza concluiria que, para compreender 
bem o que se passa na Terra, deveria examinar com muita atenção as maneiras pelas 
quais os grupos se formam, funcionam e desaparecem. 
Se voltarmos a una perspectiva mais conhecida e observarmos a nossa sociedade 
através de olhos dos habitantes da Terra, descobriremos que cada vez mais se reconhece, 
como um dos principais problemas da sociedade, o funcionamento e o mau funcionamen-
to dos grupos. No comércio, no governo e nos meios militares existe um grande interesse 
em aumentar a produtividade dos grupos. Muitos estudiosos se alarmam com o [4] enfra-
quecimento e a aparente desintegração da família. Educadores começam a acreditar que 
não podem realizar integralmente suas tarefas se não compreenderem o funcionamento da 
classe como um grupo social. Os interessados no bem-estar social procuram, diligente-
mente, maneiras de reduzir os conflitos intergrupais entre o trabalho e o capital, e entre 
grupos religiosos e étnicos. O funcionamento de gangs juvenis é um dos obstáculos mais 
difíceis nas tentativas de impedir o crime. Comprova-se que muitas doenças mentais pro-
vêm, de alguma forma, das relações do indivíduo com os grupos e que os grupos podem 
ser utilizados eficientemente na terapia mental. 
Quer se deseje compreender, quer se deseje aperfeiçoar o comportamento huma-
no, é preciso conhecer a natureza dos grupos. Não é possível ter uma visão coerente do 
homem, nem uma tecnologia social adiantada, sem respostas seguras a uma série de ques-
 
Cartwright e Zander • Dinâmica de grupo | Origens da dinâmica de grupo 2 
tões referentes ao funcionamento dos grupos, à ligação dos indivíduos com os grupos e à 
relação entre estes e a sociedade mais ampla. Quando e em que condições se formam os 
grupos? Quais as condições necessárias para o seu desenvolvimento e funcionamento 
eficiente? Quais os fatores que provocam o declínio e a desintegração dos grupos? Quais 
os tipos de grupos-possíveis? Podem possuir qualquer série arbitrária de propriedades ou 
só pode existir uma determinada combinação? Como os grupos influenciam o comporta-
mento, o pensamento, a motivação e o ajustamento dos indivíduos? O que faz com que 
alguns grupos tenham grande influência sobre seus: participantes, enquanto outros exer-
cem uma influência pequena ou nula? Quais as características individuais que são deter-
minantes importantes das propriedades dos grupos? Quais as combinações de personali-
dade, aptidão, motivação e valores dos participantes que influenciam a natureza e o fun-
cionamento dos grupos? O que determina a natureza das relações entre grupos? Quando 
os grupos fazem parte de um sistema social mais amplo, quais as circunstâncias que for-
talecem ou enfraquecem a organização interior? De que maneira o ambiente social de um 
grupo influi em suas características? Questões como estas precisam ser respondidas antes 
de obtermos uma compreensão real da natureza humana e do homem. Precisam, também, 
ser respondidas antes de podermos esperar o planejamento e a realização de uma socie-
dade melhor. [5] 
O estudioso de dinâmica de grupo se interessa por conhecimentos sobre a natureza 
dos grupos e principalmente sobre as forças psicológicas e. sociais a eles associadas. É 
claro que, há séculos, esse interesse vem motivando as atividades intelectuais dos pensa-
dores. A mais antiga literatura filosófica de que se tem; conhecimento contém muita sa-
bedoria sobre a natureza dos grupos e as relações entre indivíduos e grupos. Apresenta, 
igualmente, uma série de especificações sobre as “melhores” maneiras de organizar a 
vida coletiva. No período entre o século dezesseis e o dezenove, criou-se na Europa uma 
significativa literatura a respeito da natureza do homem e de seu lugar na sociedade. Nes-
sa literatura pode-se encontrar a maioria das principais tendências ou “suposições bási-
cas” que orientam as atuais pesquisas e reflexões sobre grupos. É evidente que o estudan-
te atual de dinâmica de grupo tem interesses fundamentais semelhantes aos dos que es-
creveram em outras épocas através de séculos. Apesar disso, é igualmente claro que a 
maneira de estudar os grupos, conhecida como “dinâmica de grupo”, é, estritamente, um 
desenvolvimento do século XX; difere significativamente da forma de estudo dos séculos 
precedentes. 
O que é, então, a dinâmica de grupo? A expressão popularizou-se desde a Segun-
da Grande Guerra, mas, infelizmente, com a maior divulgação, seu sentido tornou-se im-
preciso. Segundo um emprego freqüente, a dinâmica de grupo refere-se a um tipo de ideo-
logia política, interessada nas formas de organização e direção dos grupos. Essa ideologia 
acentua a importância da liderança democrática, a participação dos membros nas deci-
sões, e as vantagens, tanto para a sociedade quanto para os indivíduos, das atividades 
cooperativas em grupos. Os críticos desse ponto de vista às vezes fazem sua caricatura, 
dizendo que apresenta a “participação” como a virtude suprema que propõe que tudo de-
va ser feito em grupos, que não têm e não precisam de um líder, porque todos participam 
inteira e igualmente das atividades. Outro conhecido emprego da expressão dinâmica de 
grupo refere-se a um conjunto de técnicas tais como o desempenho de papéis, discussões, 
observação e “feedback” de processos coletivos – muito empregadas nas duas últimas 
décadas em programas de treinamento, planejados para o desenvolvimento de habilidade 
em relações humanas e na direção de conferências e comissões. Essas técnicas identifi-
cam-se mais estreitamente com os National Training Laboratories cujos programas 
 
Cartwright e Zander • Dinâmica de grupo | Origens da dinâmica de grupo 3 
anuais em Bethel e Maine se tornaram muito [6] conhecidos. Segundo o terceiro emprego 
da expressão dinâmica de grupo, esta refere-se a um campo de pesquisa dedicado a obter 
conhecimento a respeito da natureza dos grupos, das leis de seu desenvolvimento e de 
suas inter-relações com os indivíduos, outros grupos e instituições mais amplas. 
Evidentemente, não é possível legislar quanto ao emprego das expressões de uma 
língua. Contudo, é importante, para a clareza do pensamento e da comunicação, distinguir 
entre essas três coisas tão diferentes, rotuladas da mesma forma nas discussões leigas. 
Ainda que não sejam capazes de apresentá-la muito explicitamente, todos têm uma ideo-
logia sobre as formas de organização da vida coletiva. Os responsáveis pela direção de 
grupose pelo treinamento de pessoal para participar de grupos só podem fazê-lo através 
do emprego de um ou outro tipo de técnicas. Todavia, não existe uma correspondência 
rígida entre uma determinada ideologia sobre a natureza “ideal” dos grupos e o emprego 
de técnicas específicas de direção e treinamento. E deve ser evidente que a busca de me-
lhor compreensão da natureza da vida coletiva não precisa ligar-se a uma determinada 
ideologia ou depender da aceitação de determinadas técnicas de direção. Neste livro, li-
mitaremos o emprego da expressão dinâmica de grupo às referências ao campo de pes-
quisa dedicado a desenvolver o conhecimento sobre a natureza da vida coletiva. 
Neste sentido, a dinâmica de grupo é um ramo do conhecimento ou uma especia-
lização-intelectual. Como se interessa pelo comportamento humano e pelas relações so-
ciais, pode ser localizado entre as ciências sociais. Todavia, não pode ser identificado 
imediatamente como um setor de uma das disciplinas acadêmicas tradicionais. Para com-
preender melhor em que a dinâmica de grupo difere dos outros campos conhecidos, con-
sideremos rapidamente algumas de suas características distintivas. 
 
1. Acentuação da pesquisa empírica, teoricamente significativa. Observamos 
acima que, na história, é possível encontrar um interesse por grupos, e esse interesse não 
pode, portanto, distinguir a dinâmica de grupo das disciplinas mais antigas. A diferença 
está, principalmente, na maneira pela qual se explora esse interesse. Até o início deste 
século, quem sentia curiosidade pela natureza dos grupos para obter-respostas às suas 
questões dependia, sobretudo, da experiência pessoal [7] e de documentos históricos. 
Sem a necessidade de explicar uma acumulação de dados empíricos cuidadosamente reu-
nidos, os escritores desse período de especulações dedicaram suas energias à criação de 
explicações teóricas e compreensivas dos grupos. Esses sistemas teóricos, principalmente 
os criados no século dezenove, eram complexos e muito amplos, pois foram criados por 
homens de notável capacidade intelectual. A lista de nomes desse período apresenta 
grandes pensadores, entre os quais Cooley, Durkheim, Freud, Giddings, LeBon, McDou-
gall, Ross, Tarde, Tönnies e Wundt. Suas idéias ainda são encontradas nas discussões 
contemporâneas da vida coletiva. 
Por volta da segunda década deste século começou, na ciência social, uma rebe-
lião empírica, principalmente nos Estados Unidos, e ligada sobretudo à psicologia e à 
sociologia. Em vez de aceitar as especulações sobre a natureza dos grupos, algumas pes-
soas começaram a procurar os fatos e tentaram separar dados objetivos e impressões sub-
jetivas. Embora, inicialmente, essa pesquisa tenha sido orientada por questões empíricas 
muito simples, estabeleceu-se um critério, fundamentalmente novo, para avaliar o conhe-
cimento sobre grupos. Em vez de perguntar apenas se certa proposição; sobre a natureza 
dos grupos era; plausível ou logicamente consistente, os interessados nos grupos começa-
ram a exigir que a proposição se apoiasse em dados seguros, que poderiam ser reproduzi-
dos por um outro pesquisador. O principal esforço consistiu em planejar e aperfeiçoar 
 
Cartwright e Zander • Dinâmica de grupo | Origens da dinâmica de grupo 4 
técnicas de pesquisa empírica, a fim de proporcionar precisão de medidas, padronização 
da observação, planos experimentais eficientes e análises estatísticas de dados. Quando, 
pelo fim da década de 30, a dinâmica de grupo começou a aparecer como campo identifi-
cável, a rebelião empírica já tinha avançado na psicologia social e na sociologia, e desde 
o início a dinâmica de grupo pôde empregar os métodos de pesquisa característicos de 
uma ciência empírica. De fato, a dinâmica de grupo distingue-se de suas predecessoras 
intelectuais principalmente por depender, basicamente, de observação, quantificação, 
mensuração e experimentação cuidadosas. 
Mas não se deve identificar a dinâmica de grupo exclusivamente com um empi-
rismo extremo. Mesmo em seus primeiros tempos, o trabalho em dinâmica de grupo de-
monstrou interesse pela construção de teoria e por hipóteses testáveis, derivadas da teoria, 
e chegou, progressivamente,a manter estreita inter-relação entre a coleta de dados e o 
avanço teórico. [8] 
 
2. Interesse pela dinâmica de interdependência dos fenômenos. Embora a expres-
são dinâmica de grupo especifique os grupos como o objeto de estudo, concentra, ainda 
mais nitidamente, a atenção nas questões de dinâmica da vida coletiva. O estudante de 
dinâmica de grupo não se satisfaz unicamente com descrições das características dos gru-
pos ou com fatos ligados a estes. Nem se contenta com uma classificação de tipos de gru-
pos ou de formas de comportamento coletivo. Deseja saber como os fenômenos que ob-
serva dependem um do outro, e quais os novos fenômenos que podem provir da criação 
de condições não observadas anteriormente. Em resumo, procura descobrir os princípios 
gerais, segundo os quais certas condições produzem determinados efeitos. 
Essa pesquisa exige a preposição de muitas perguntas minuciosas sobre a interde-
pendência entre fenômenos específicos. Se se modifica a participação num grupo, que 
outros aspectos do grupo se modificarão e quais permanecerão estáveis? Em que condi-
ções um grupo tende a sofrer mudança de liderança? Quais as pressões que, num grupo, 
produzem uniformidade de pensamento entre seus participantes? Quais as condições que 
inibem a capacidade criadora dos participantes? Quais as transformações num grupo que 
aumentam, diminuem ou não alteram a produtividade? Se aumenta a coesão do grupo que 
outros aspectos serão alterados? As respostas a perguntas como estas revelam como de-
terminados processos e características dependem de outros. 
As teorias da dinâmica de grupo tentam formular relações causais entre fenôme-
nos como esses. À medida que foram elaboradas, essas teorias orientaram o trabalho de 
dinâmica de grupo para a investigação intensiva de mudança, resistência à mudança, 
pressão social, influência, coerção, poder, coesão, atração, rejeição, interdependência, 
equilíbrio e instabilidade. Termos como estes referem-se, através da indicação do funcio-
namento de forças psicológicas e sociais, a aspectos dinâmicos de grupos e desempenham 
um importante papel nas teorias da dinâmica de grupo. 
 
3. Importância interdisciplinar. É importante reconhecer que a pesquisa da dinâ-
mica de grupo não se ligou, exclusivamente, a uma das disciplinas das ciências sociais. 
Os sociólogos naturalmente dedicaram grande energia ao estudo dos grupos, como o de-
monstram as pesquisas sobre família, “gangs”, [9] grupos de trabalho, unidades militares 
e associações voluntárias. Os psicólogos dirigiram sua atenção a muitos grupos do mes-
mo tipo, concentrando-se, principalmente, na maneira pela qual os grupos influenciam o 
comportamento, as atitudes e as personalidades dos indivíduos, e os efeitos das caracte-
rísticas destes últimos no funcionamento do grupo. Os antropólogos culturais, ao investi-
 
Cartwright e Zander • Dinâmica de grupo | Origens da dinâmica de grupo 5 
gar muitos tópicos estudados por sociólogos e psicólogos, contribuíram com dados sobre 
grupos que vivem em condições muito diferentes das encontradas na sociedade industrial 
contemporânea. Os especialistas em ciência política ampliaram seu tradicional interesse 
pelas grandes instituições e realizaram estudos sobre o funcionamento de grupos de pres-
são e sobre a influência eleitoral da participação no grupo. E, cada vez mais, os econo-
mistas passaram a reunir dados sobre a maneira pela qual a família decide gastar ou eco-
nomizar dinheiro, sobre a influência, no número dos que trabalham, das necessidades e 
relações da família; sobre a influência dos objetivos dos sindicatos nas decisões dos ne-
gócios e sobre a maneira de os vários ramos de negócios chegarem a decisões que têm 
conseqüências econômicas. Como as diversas ciências sociaistêm interesse pelos grupos, 
é claro que qualquer conhecimento geral sobre a dinâmica dos grupos tem significação 
para todas. 
 
4. Aplicabilidade potencial dos resultados. Todos aqueles que sentem responsabi-
lidade pelo aperfeiçoamento do trabalho coletivo e pela qualidade de suas conseqüências 
para os indivíduos e a sociedade devem fundamentar suas ações numa visão mais ou me-
nos explícita dos resultados de diferentes condições e processos. Todos aqueles que se 
interessam pelo aperfeiçoamento da qualidade do trabalho numa equipe de pesquisa, pela 
eficiência de uma classe de escola dominical, pela moral de uma unidade militar, pela 
redução das conseqüências destrutivas do conflito intergrupal, ou que procuram atingir, 
através dos grupos, qualquer objetivo socialmente desejável, podem alimentar sua efi-
ciência, fundamentando-a num firme conhecimento das leis que governam a vida do grupo. 
As diversas profissões que se especializam no tratamento das necessidades espe-
cíficas dos indivíduos e da sociedade têm muito a ganhar com os progressos do estudo 
científico dos grupos. No século passado, um desenvolvimento notável nas sociedades 
mais adiantadas foi a progressiva diferenciação por que passaram as profissões tradicio-
nais – medicina, direito, educação e [10] teologia. Atualmente existem pessoas que rece-
bem um preparo extensivo e dedicam suas vidas a especializações profissionais: media-
ção nas relações trabalhistas, educação sanitária, aconselhamento matrimonial, relações 
humanas, relações intergrupais, trabalho em equipe, aconselhamento religioso, adminis-
tração hospitalar, educação de adultos, administração pública, psiquiatria e psicologia 
clínica – para mencionar apenas algumas. A especialização nesses vários campos criou 
um desejo autoconsciente de melhorar os padrões e estabelecer exigências de preparação 
adequada. Atualmente, as principais universidades têm escolas especializadas em muitos 
desses campos. À medida que esse estudo se expandiu e racionalizou, os especialistas 
perceberam, cada vez mais, a necessidade de conhecer os resultados e os princípios fun-
damentais criados nas ciências sociais. Todos esses profissionais precisam lidar com pes-
soas, não apenas individualmente, mas em grupos e através de instituições sociais. Por-
tanto, não é surpreendente verificar que os cursos de dinâmica de grupo se tornam cada 
vez mais comuns nas escolas de formação especializada, que agências interessadas pelo 
preparo profissional empregam pessoas com preparo em dinâmica de grupo e que a pes-
quisa neste campo se realiza, freqüentemente, ligando-se ao trabalho dessas agências. 
Em resumo, propomos que a dinâmica de grupo se defina como um campo de 
pesquisa dedicado ao conhecimento progressivo da natureza dos grupos, das leis de seu 
desenvolvimento e de suas inter-relações com indivíduos, outros grupos e instituições 
mais amplas. Pode ser identificada por quatro características distintivas: (a) uma acentua-
ção da pesquisa empírica, teoricamente significativa, (b) um interesse pela dinâmica e 
pela interdependência entre os fenômenos, (c) uma importância geral para todas as ciên-
 
Cartwright e Zander • Dinâmica de grupo | Origens da dinâmica de grupo 6 
cias sociais e (d) a aplicabilidade potencial dos resultados nas tentativas de aperfeiçoar o 
trabalho dos grupos e suas conseqüências nos indivíduos e na sociedade. Dentro desta 
concepção, a dinâmica de grupo não precisa estar ligada a qualquer ideologia específica, 
referente às maneiras pelas quais os grupos devem ser organizados e dirigidos, nem com 
a utilização de.quaisquer técnicas específicas de direção de grupo. De fato, um dos obje-
tivos básicos da dinâmica de grupo é proporcionar um melhor fundamento científico para 
a ideologia e a ação. [11] 
 
 
Condições que estimularam o desenvolvimento da dinâmica de grupo 
 
A dinâmica de grupo apareceu, como um campo identificável de pesquisa, nos Es-
tados Unidos, no fim da década de 30. Sua origem como especialidade separada está li-
gada, sobretudo, a Kurt Lewin (1890-1947), que popularizou a expressão dinâmica de 
grupo, fez significativas contribuições tanto à pesquisa quanto à teoria e, em 1945, esta-
beleceu a primeira organização dedicada especificamente à pesquisa nesse campo A con-
tribuição de Lewin foi de grande importância; todavia, como veremos minuciosamente, a 
dinâmica de grupo não foi criada apenas por uma pessoa. De fato, foi o resultado de mui-
tos desenvolvimentos ocorridos durante um período de vários anos e em diversas disci-
plinas e profissões. Numa perspectiva histórica, a dinâmica de grupo pode ser vista como 
a convergência de determinadas tendências nas ciências sociais e, mais amplamente, co-
mo o produto da sociedade específica em que surgiu. 
A época e o lugar do aparecimento da dinâmica de grupo não foram, naturalmen-
te, acidentais. A sociedade americana da década de 30 fornecia o tipo de condições exigi-
das para a emergência desse movimento intelectual. E, através dos anos, desde aquele 
tempo, unicamente determinados países apresentam um ambiente favorável para o seu 
desenvolvimento. Atualmente, a dinâmica de grupo enraizou-se principalmente nos Esta-
dos Unidos e nos países do noroeste da Europa, embora tenham aparecido estudos impor-
tantes em Israel, no Japão e na Índia. Três condições básicas parecem indispensáveis para 
o seu aparecimento e subseqüente desenvolvimento. 
 
 
O apoio da sociedade 
 
Para que qualquer campo de pesquisa se desenvolva, é preciso haver uma socie-
dade que proporcione o apoio suficiente dos necessários recursos institucionais. Pelo fim 
da década de 30, as condições culturais e econômicas dos Estados Unidos favoreciam o 
aparecimento e o desenvolvimento da dinâmica de grupo. Atribuía-se grande valor à 
ciência, à tecnologia, à solução racional dos problemas e ao progresso. [12] Havia uma 
convicção fundamental de que, numa democracia, a natureza humana e a sociedade po-
dem ser deliberadamente aperfeiçoadas, através da educação, da religião, da legislação e 
de muito trabalho. Acreditava-se que a indústria americana se desenvolvera com muita 
rapidez, não só por causa da abundância de recursos naturais, mas, principalmente, por-
que adquirira “métodos” tecnológicos e administrativos. Os heróis do progresso america-
no eram inventores – como Franklin, Fulton, Whitney, Morse, Bell e Edison – e indus-
triais que modelaram novas organizações sociais, para a eficiente produção em massa. 
Embora tenha crescido o mito do inventor como lobo solitário, trabalhando em sua ca-
verna de instrumentos, a pesquisa já se tornava uma operação em larga escala – o que 
 
Cartwright e Zander • Dinâmica de grupo | Origens da dinâmica de grupo 7 
pode ser visto pelo fato de as despesas públicas e privadas para a pesquisa, em 1930, te-
rem atingido US$ 160.000.000 nos. Estados Unidos e terem aumentado, mesmo durante o 
período de depressão, a quase US$ 350.000.000, por volta de 1940. 
A maior parte dessa pesquisa era feita, naturalmente, em ciências naturais e bioló-
gicas, assim como em engenharia e medicina. A idéia de que a pesquisa poderia ser pro-
veitosamente dirigida para a solução dos problemas sociais conseguiu uma aceitação 
muito mais lenta. No entanto, mesmo na década de 30 destinaram-se recursos significati-
vos para as ciências sociais. A extraordinária utilização dos testes de inteligência durante 
a Primeira Grande Guerra estimulou a pesquisa das capacidades humanas e a aplicação 
de programas de testes nas escolas, na indústria e no governo. “A direção científica”, 
embora lenta no reconhecimento da importância dos fatores sociais, estabeleceu as bases 
de uma forma científica de direção das organizações. Começava a ser aceita a crença de 
que a solução de “problemas sociais” poderia ser facilitada pela pesquisa sistemática dos 
fatos. Por volta de 1920, Thomas e Znaniecki (45) demonstraram que as dificuldades 
inerentes à absorção dos imigrantes pela sociedadeamericana podiam ser investigadas 
sistematicamente; criaram-se diversos centros de pesquisa para aumentar o conhecimento 
e aperfeiçoar a ação referente ao bem-estar das crianças; pelo início da década de 30 mo-
dificaram-se as práticas do serviço social e das cortes juvenis, a partir dos resultados de 
uma grande série de estudos de “gangs” juvenis de Chicago, realizada por Thrasher (46) 
[13] e Shaw (40); em 1939, já havia um número suficiente de pesquisas sobre relações 
intergrupais, o que permitiu a Myrdal (31) escrever um tratado compreensivo do “Pro-
blema do Negro” nos Estados Unidos. O estabelecimento, em 1936, da Society for the 
Psychological Study of Social Issues, com 333 participantes, é sintomático da crença na 
possibilidade de realização de pesquisa empírica de problemas sociais. Quando, depois da 
Segunda Grande Guerra, começou a rápida expansão da dinâmica de grupo, havia setores 
importantes da sociedade americana preparados para apoiar financeiramente essa pesqui-
sa. O apoio veio não só de instituições e fundações acadêmicas, como também do mundo 
dos negócios, do Governo Federal e de várias organizações preocupadas com o aperfei-
çoamento das relações humanas. 
Não se deve esquecer a importante contribuição, para o aparecimento e a difusão 
da dinâmica de grupo, das normas administrativas das instituições acadêmicas america-
nas. O caráter interdisciplinar e multiprofissional da dinâmica de grupo só poderia desen-
volver-se no interior de instituições acadêmicas com uma considerável flexibilidade ad-
ministrativa. A pesquisa de dinâmica de grupo foi facilitada onde havia disposição para 
romper as separações tradicionais entre os departamentos de ciências sociais das escolas 
especializadas, assim como entre uma e outra disciplina. É significativo, por exemplo, 
que o primeiro trabalho especificamente denominado dinâmica de grupo tenha sido reali-
zado não num dos departamentos tradicionais de ciência social, mas na Child Welfare 
Research Station, na Universidade Estadual de Iowa, e tenha contado com a colaboração 
de psicólogos, nutricionistas, assistentes sociais e engenheiros industriais. O Research 
Center for Groups Dynamics, a primeira instituição dedicada explicitamente à pesquisa 
desse novo campo, estabeleceu-se no Massachusetts Institute of Technology, em condi-
ções que permitiam elevado nível de liberdade para inovação. Quando se transferiu para a 
Universidade de Michigan, o Centro se tornou uma parte de uma unidade administrativa, 
o Institute for Social Research, planejado para permitir compromissos conjuntos com 
qualquer departamento adequado ou escola especializada. Outros importantes centros de 
pesquisa no campo de dinâmica de grupo gozaram de liberdade semelhante quanto a res-
trições [14] disciplinares, tal como ocorre com o Research Center for Human Relations 
 
Cartwright e Zander • Dinâmica de grupo | Origens da dinâmica de grupo 8 
da Universidade de New York, o Laboratory for Research in Social Relations da Univer-
sidade de Harvard, e o Institute for Research in Social Science da Universidade de Caro-
lina do Norte. 
 
 
Elevado nível de especialização 
 
A tentativa de formular uma visão coerente da natureza da vida coletiva pode ser 
motivada pela curiosidade intelectual ou pelo desejo de aperfeiçoar a ação social. Um 
estudo das condições criadoras da dinâmica de grupo revela que essas duas motivações 
desempenharam um papel importante. Muito cedo evidenciou-se entre os cientistas so-
ciais – que, segundo um estereótipo comum, são motivados por curiosidade absurda – 
interesse por grupos e o reconhecimento de sua importância na sociedade. Todavia, deve-
se também notar que alguns dos primeiros e mais significativos trabalhos sistemáticos 
sobre a natureza dos grupos foram escritos por profissionais liberais, cuja motivação tem 
sido freqüentemente considerada como exclusivamente prática. Antes de considerar a 
origem da dinâmica de grupo na ciência social, descreveremos, resumidamente, alguns 
dos desenvolvimentos nas profissões liberais e que facilitaram seu aparecimento. 
Na década de 1930 surgiram novas profissões liberais, provavelmente mais nos 
Estados Unidos que em qualquer outro país. Muitas delas trabalhavam diretamente com 
grupos de pessoas e, à medida que se preocupavam com o aperfeiçoamento qualitativo de 
sua ação, tentaram codificar processos de descobrir princípios gerais para lidar com gru-
pos. Gradualmente ficou evidente, em algumas profissões mais do que em outras, que as 
generalizações a partir da experiência não podiam ultrapassá-la e que, para chegar à com-
preensão mais profunda, é necessária a pesquisa sistemática. Portanto, quando a dinâmica 
de grupo começou a surgir como um campo distinto, os líderes de algumas profissões 
liberais estavam bem preparados para aceitar a idéia de que a pesquisa sistemática da vida 
coletiva poderia trazer uma contribuição significativa para as suas especializações. Con-
seqüentemente, diversas profissões liberais [15] contribuíram para a criação de uma at-
mosfera favorável para o financiamento das pesquisas de dinâmica de grupo; deram, a 
partir de sua experiência acumulada, uma ampla concepção sistemática do funcionamento 
do grupo, a partir da qual era possível formular hipóteses de pesquisa; deram meios para 
a realização de pesquisas; forneceram os princípios de uma tecnologia para criar e mani-
pular as variáveis na experimentação com grupos. Quatro profissões desempenharam um 
papel especialmente importante na origem e desenvolvimento da dinâmica de grupo. 
Serviço social. Esta profissão deve ser mencionada em primeiro lugar por ter sido 
uma das primeiras a reconhecer explicitamente que os grupos podem ser orientados de 
forma a obterem seus participantes as modificações desejadas. Responsáveis pela admi-
nistração de clubes, grupos de recreação, acampamentos, quadros esportivos, os assisten-
tes sociais compreenderam que suas técnicas de lidar com grupos tinham efeitos impor-
tantes nos processos coletivos e nos comportamentos, nas atitudes e nas personalidades 
dos participantes. Embora o objetivo do serviço social incluísse finalidades diversas, tais 
como “formação do caráter”, “recreação construtiva”, “retirar as crianças da rua e evitar 
problemas para elas”, e, posteriormente, “psicoterapia”, gradualmente ficou evidente que, 
qualquer que fosse o objetivo, algumas técnicas de orientação do grupo obtinham mais 
êxito do que outras. Um dos primeiros estudos experimentais de grupos referia-se aos 
resultados de diferentes formas de liderança no ajustamento de meninos aos alojamentos, 
nos acampamentos de verão (33). A riqueza de experiência obtida pelos assistentes so-
 
Cartwright e Zander • Dinâmica de grupo | Origens da dinâmica de grupo 9 
ciais foi sistematizada por Busch (9), Coyle (11), e Wilson e Ryland (54). Inicialmente, a 
dinâmica de grupo esteve muito ligada a essa experiência, e os especialistas. continuaram 
a colaborar com os assistentes sociais em diversos projetos de pesquisa. 
Psicoterapia de grupo. Embora a psicoterapia de grupo seja usual como um ramo 
da psiquiatria, a utilização de grupos para fins psicoterapêuticos ultrapassou os limites 
estritamente médicos, do que é um exemplo notável o movimento dos A.A. (Alcoólatras 
Anônimos). No desenvolvimento de uma forma especializada de psicoterapia de grupo, a 
teoria psicanalítica exerceu uma influência básica, mas não [16] exclusiva. A obra de 
Freud (principalmente: Psicologia Coletiva e Análise do Ego) estabeleceu os princípios, 
mas muitas das técnicas para tratar com grupos e grande parte da acentuação sobre pro-
cessos de grupo foram contribuições de pessoas provenientes do campo do serviço social 
– ver, por exemplo, os trabalhos de Redl (37), Scheidlinger (39) e Slavson (43). Uma 
tradição um pouco diferente, embora fortemente psicanalítica em sua orientação, se de-
senvolveu na Inglaterra, sob a influencia de Bion (7) e um grupo de pessoas ligadas aoTavistock Institute of Human Relations (53). Um aspecto importante dessa perspectiva é a 
aplicação do trabalho psicanalítico de grupo a grupos “naturais”, em estabelecimentos 
militares, industriais e na comunidade. Ainda outra forma de psicoterapia de grupo foi 
estabelecida pela obra extraordinariamente criadora e pioneira de Moreno (90). Suas téc-
nicas de desempenho de papéis (mais precisamente, psicodrama e sociodrama) e a so-
ciometria foram algumas das primeiras contribuições para este campo e tiveram um gran-
de valor, tanto na psicoterapia de grupo quanto na pesquisa de dinâmica de grupo. Embo-
ra muitos dos progressos na. psicoterapia de grupo e na dinâmica de grupo tenham sido 
contemporâneos, os primeiros trabalhos de psicoterapia de grupo tiveram uma influência 
clara e distinta no trabalho inicial em dinâmica de grupo. E as duas linhas de esforços 
continuaram a influir uma na outra, como se pode verificar, por exemplo, no tratamento 
sistemático da psicoterapia de grupo de Bach (3). 
Educação. A revolução na educação pública americana, no primeiro quartel deste 
século, fortemente-influenciada pela obra de Dewey, ampliou a concepção das finalida-
des e dos processos da educação. O objetivo da educação nas escolas públicas tornou-se a 
preparação das crianças para a vida em sociedade, em vez de ser a simples transmissão de 
conhecimento. “Aprender fazendo” tornou-se um slogan popular através de projetos cole-
tivos, atividades extracurriculares e autogoverno dos alunos. Os professores procuraram 
ensinar capacidade de liderança, cooperação, participação responsável e relações huma-
nas. Pouco a pouco tornou-se evidente que os professores, como os assistentes sociais, 
precisavam influir no que ocorria nos grupos de crianças e precisavam de princípios que 
dirigissem o comportamento para finalidades construtivas. Simultaneamente, na educação 
de adultos apareceu uma tendência semelhante, pois os problemas eram aí mais eviden-
tes, dada a [17] natureza voluntária da participação nos programas de educação. Começou 
a surgir a concepção do professor como um líder do grupo, que influi na aprendizagem 
dos alunos, não só por sua competência na matéria, como também por sua habilidade em 
alimentar a motivação, estimular a participação e criar entusiasmo. Embora continue até 
hoje a controvérsia quanto a essa maneira geral de encarar a educação, os educadores 
tinham acumulado, no fim da década de 30, um considerável conjunto de conhecimento 
sobre a vida dos grupos. A dinâmica de grupo se utilizou dessa experiência, ao formular 
hipóteses de pesquisa, e seus especialistas estabeleceram estreitas relações de trabalho 
 
Cartwright e Zander • Dinâmica de grupo | Origens da dinâmica de grupo 10 
com os educadores e escolas de educação.1 Tanto a prática educacional quanto a pesquisa 
de dinâmica de grupo se beneficiaram com essa associação. 
Administração. Todo um conjunto de especialidades se reúne sob esse rótulo, to-
das interessadas pela direção de grandes organizações. Entre elas, estão profissões especí-
ficas, tais como administração comercial, administração pública, administração hospitalar 
e administração escolar. Embora cada uma deva criar especialistas em sua esfera especí-
fica de ação, todas têm necessidade de planejar processos eficientes para a coordenação 
do comportamento das pessoas. Por esta razão, têm um interesse comum pelos resultados 
da ciência social. Seria de esperar, portanto, que as formas de tratamento sistemático dos 
processos de direção logo reconhecessem a importância dos grupos nas grandes empre-
sas, e que se desenvolvessem as formas de direção dos grupos. Na realidade, os fatos his-
tóricos são muito diferentes. Até a década de 1930, os esforços para desenvolver os prin-
cípios de direção ignoravam nitidamente a existência de grupos. Uma exceção marcante 
são os trabalhos de Mary P. Follett (13, 14), que, depois da Primeira Grande Guerra, ten-
tou construir uma forma sistemática de estudo da administração e, de maneira mais geral, 
do governo, em que se reconheciam os grupos como elementos importantes. Todavia, 
suas idéias tiveram pouca aceitação. 
De fato, a orientação individualista foi predominante até 1933, quando apareceu o 
primeiro dos diversos livros de Mayo e colaboradores (27, 38). Essas publicações apre-
sentaram um [18] programa extensivo de pesquisas, iniciadas em 1927 na fábrica Haw-
thorne da Western Electric Company. O objetivo inicial dessa pesquisa era estudar a rela-
ção entre as condições de trabalho e a incidência da fadiga nos operários. Introduziu-se 
uma série de variações experimentais – freqüência das pausas para descanso, quantidade 
de horas de trabalho, natureza dos incentivos salariais – com a intenção de verificar sua 
influência sobre a fadiga e a produtividade. O grande mérito desses pesquisadores foi 
aceitar a existência de efeitos não previstos, pois, segundo se verificou, as modificações 
importantes provocadas por seus experimentos apareceram nas relações interpessoais 
entre operários e entre os operários e a administração. Os resultados desse programa de 
pesquisa levaram Mayo e seus colaboradores a acentuar, principalmente, a organização 
social do grupo de trabalho, as relações sociais entre o supervisor e os subordinados, os 
padrões informais que dirigem o comportamento dos participantes dos grupos de traba-
lho, os motivos e atitudes dos operários no contexto do grupo. 
Dificilmente se pode exagerar o impacto dessa pesquisa em todos os ramos da 
administração. Haire descreve-o da seguinte maneira (17, 376): 
 
Depois da publicação dessas pesquisas, mudou radical e irrevogavelmente o pen-
samento sobre os problemas industriais. Já não era possível considerar uma redução da 
produtividade apenas como função de mudanças de iluminação, fadiga física e coisas se-
melhantes. Não era mais possível procurar uma explicação da mobilidade do operário 
apenas através de um homem econômico, procurando ganhar o máximo possível. O papel 
do líder começou a passar de dirigente do trabalho para mobilizador da cooperação. O in-
centivo para o trabalho não mais foi compreendido como simples e unitário, mas como 
infinitamente variado, complexo e mutável. A nova perspectiva não só permitiu, mas exi-
giu novas pesquisas e novas conceituações, destinadas a enfrentar os problemas. 
 
Outra importante contribuição para essa nova visão da administração foi a teoria 
sistemática de administração, publicada em 1938 por Barnard (5), e resultante de muitos 
 
1 Nas universidades americanas, os professores para escolas primárias e secundárias devem obter diplo-
mas em escolas de educação. (Nota do tradutor). 
 
Cartwright e Zander • Dinâmica de grupo | Origens da dinâmica de grupo 11 
anos de experiência como gerente de empresa comercial. Embora esse livro não coloque 
a principal ênfase no grupo como tal, considera, em primeiro lugar, as necessidades hu-
manas e os processos sociais. Barnard deixou claro que só se pode compreender satisfato-
riamente e modelar eficientemente a prática da administração se se concebem as grandes 
organizações como [19] instituições sociais, compostas por pessoas em inter-relações 
sociais. 
O aparecimento da dinâmica de grupo, no fim da década de 1930, ocorreu quando 
administradores e teóricos da organização começaram a acentuar a importância dos gru-
pos e das “relações humanas” na administração. Nos anos subseqüentes os resultados da 
pesquisa de. dinâmica de grupo foram progressivamente incorporados aos tratamentos 
sistemáticos de administração, e um número cada vez maior de administradores apóia, de 
várias formas, a pesquisa de dinâmica de grupo. 
Antes de abandonar a discussão do papei das profissões liberais na origem e no 
desenvolvimento da dinâmica de grupo, devemos observar que os desenvolvimentos aqui 
apresentados tiveram correspondentes, em diversos graus, em outros campos da ação 
social,muitos dos quais não apresentaram elevado nível de especialização. Deve-se men-
cionar especialmente o apoio proveniente dos interessados em proporcionar um funda-
mento científico para o trabalho em relações intergrupais, saúde pública, forças militares, 
educação religiosa, organização comunitária e linguagem.2 
 
 
Desenvolvimento das ciências sociais 
 
Ao considerar as condições que estimularam a perspectiva atual da dinâmica de 
grupo, nas ciências sociais, é essencial reconhecer que essa perspectiva só pôde aparecer 
porque houve determinados progressos em todas as ciências sociais. O aparecimento da 
dinâmica de grupo exigiu, portanto, não só uma sociedade que a apoiasse, mas também o 
desenvolvimento de profissões liberais e das ciências sociais. 
Uma premissa básica da dinâmica de grupo é o emprego de métodos científicos 
no estudo de grupos. Só se poderia manter seriamente essa suposição depois da aceitação 
da crença mais [20] geral de que o homem, seu comportamento e suas relações sociais 
podem ser adequadamente estudados pela pesquisa científica. E, naturalmente, o emprego 
de métodos científicos, para o conhecimento do comportamento humano e das relações 
sociais, não poderia aparecer antes de suficiente desenvolvimento dos métodos científi-
cos. As discussões sérias dessa possibilidade ocorreram somente no século dezenove. O 
tratamento extensivo do positivismo, apresentado por Comte em 1830, contribuiu com o 
principal avanço no exame autoconsciente das suposições básicas da possibilidade de 
submeter os fenômenos humanos e sociais à pesquisa científica; as controvérsias sobre as 
teorias evolucionistas do homem, na última metade do século, apresentaram uma visão 
drasticamente nova da possibilidade de expansão da atividade científica ao comportamen-
to humano. Antes das últimas décadas do século dezenove não havia muitas pessoas de-
dicadas a observar e medir o comportamento humano ou realizar experimentos nesse 
campo. O primeiro laboratório psicológico só foi instalado em 1879. 
 
2 Por exemplo, ao mesmo tempo que Lewin estabeleceu o Research Center for Group Dynmics at M.I.T., 
o Congresso Judeu-Americano criou uma organização correlata, conhecida como a Community Interre-
lations, para realizar “pesquisa em ação”.de problemas de relações intergrupais. E houve grande apoio 
financeiro, para pesquisa, do National Institute of Mental Health, da marinha e.aeronáutica dos E.U.A., 
assim como de diversas grandes organizações comerciais. 
 
Cartwright e Zander • Dinâmica de grupo | Origens da dinâmica de grupo 12 
É quase impossível imaginar como poderia surgir a dinâmica de grupo antes de se 
firmar a crença quanto à possibilidade de realizar pesquisas empíricas com grupos de 
pessoas, de medir fenômenos sociais importantes, de manejar, para fins experimentais, as 
variáveis de grupo e de descobrir as leis que governam a vida do grupo. Só recentemente 
essas crenças tiveram aceitação, embora desde o século XVII tenham sido defendidas 
ocasionalmente por alguns autores; ainda hoje, não são universalmente aceitas. Ainda 
existem os que afirmam que o comportamento humano não obedece a leis, que os fenô-
menos sociais importantes não podem ser quantificados e que a experimentação com gru-
pos é impossível ou imoral, ou ambas as coisas. William H. Whyte Jr. (52), em seu ata-
que ao “homem da organização”, justificou, com a maior eloqüência, os que se conser-
vam céticos quanto à possibilidade de aplicação de métodos científicos ao estudo do ho-
mem. Define cientismo como “a promessa de criar, finalmente, com as mesmas técnicas 
que obtiveram êxito nas ciências físicas, uma ciência exata do homem”. Identifica o cien-
tismo a um componente importante da Ética Social que, em sua opinião, está enfraque-
cendo a sociedade americana. A tragédia do cientismo, afirma ele, é basear-se numa ilu-
são, pois “uma ciência do homem não pode atuar de acordo com o que dela [21] esperam 
os seres crentes”. Se predominasse esse ponto de vista, seria impossível o desenvolvi-
mento da dinâmica de grupo. 
A realidade dos grupos. Uma parte importante do progresso inicial na ciência so-
cial consistiu no esclarecimento de determinadas suposições fundamentais a respeito da 
realidade dos fenômenos sociais. As primeiras expansões do método científico ao com-
portamento humano ocorreram em estreita ligação com a biologia. As técnicas de expe-
rimentação e mensuração foram aplicadas inicialmente a pesquisas das reações dos orga-
nismos, a estimulação dos órgãos sensoriais e a modificações dessas reações pela estimu-
lação repetida. Nunca houve muita dúvida quanto à “existência” de organismos indivi-
duais. Contudo, quando a atenção se voltou para grupos de pessoas e instituições sociais, 
houve uma grande confusão. A discussão dessas questões apresentou expressões tais co-
mo “mentalidade coletiva”, “representações coletivas”, “inconsciente coletivo” e “cultu-
ra”. E as pessoas discutiam acaloradamente se tais expressões se referiam a algum fenô-
meno real ou se eram simples “abstrações” ou “analogias”. De maneira geral, as discipli-
nas dedicadas a instituições (antropologia, economia, ciência política e sociologia) atri-
buíram livremente uma realidade concreta a entidades supra-individuais, enquanto a psi-
cologia, com seu interesse pelos fundamentos fisiológicos do comportamento, relutou em 
admitir a existência de alguma coisa além do comportamento dos organismos. Mas em 
todas essas disciplinas houve conflitos entre “institucionalistas” e “comportamentistas”. 
A cisão mais marcante ocorreu, naturalmente, nos primeiros dias da psicologia 
social, pois esta lida diretamente com as relações entre o indivíduo e a sociedade. Nesta 
disciplina, o grande debate sobre a “'mentalidade coletiva” atingiu seu clímax na década 
de 1930. Embora muitos tomassem parte, os nomes de William McDougall e Floyd All-
port são os mais estreitamente ligados a essa controvérsia. Num extremo sustentava-se 
que grupos, instituições e cultura têm uma realidade independente dos indivíduos compo-
nentes. Sustentava-se que um grupo pode continuar a existir, mesmo depois de ter havido 
uma completa mudança dos seus participantes; que apresenta características, tais como 
divisão de trabalho, sistema de valores e estrutura de papéis, que não podem ser concebi-
das como características individuais, e que as leis que [22] governam essas características 
de nível coletivo devem ser apresentadas em nível coletivo. Um slogan que reflete essa 
perspectiva é a afirmação, atribuída a Durkheim, segundo a qual “toda vez que um fenô-
meno social é explicado diretamente por um fenômeno psicológico, podemos estar certos 
 
Cartwright e Zander • Dinâmica de grupo | Origens da dinâmica de grupo 13 
do erro dessa explicação.” Em direta oposição a tudo isso, encontra-se a opinião apresen-
tada de maneira mais eficiente por Allport, segundo a qual unicamente os indivíduos são 
reais, enquanto grupos e instituições são “conjuntos de ideais, pensamentos e hábitos, 
repetidos em cada mente individual, e existentes unicamente nessas mentes” (1, 9). Por-
tanto, os grupos são abstrações. a partir de reuniões de organismos individuais. A “mente 
coletiva” refere-se apenas a semelhanças entre mentes individuais, e os indivíduos não 
podem ser partes de grupos, pois os grupos existem apenas na mente dos homens. 
Pode parecer estranho que cientistas sociais se tenham envolvido em considera-
ções filosóficas sobre a natureza da realidade. Contudo, a visão que o cientista social tem 
da realidade exerce muita influência em seu comportamento científico. Em primeiro lu-
gar, determina o que pretende submeter à pesquisa empírica. Lewin indicou sucintamente 
esse tato, na seguinte afirmação (22, 190): 
 
Rotular uma coisa de “inexistente” equivale a declará-la “fora dos limites” para o 
cientista. Atribuir “existência” a um item, automaticamente faz com que o cientistatenha 
o dever de considerá-lo como objeto de pesquisa; inclui a necessidade de considerar suas 
características como “fatos” que não podem ser desprezados no sistema total de teorias; 
finalmente, implica que os termos com que se refere ao item são aceitáveis como “concei-
tos” científicos (e não como “simples palavras”). 
 
Em segundo lugar, a história da ciência mostra uma estreita interação entre as téc-
nicas de pesquisa, disponíveis em determinado momento, e as predominantes quanto à 
realidade. A insistência quanto à existência de fenômenos que, em determinado momen-
to, não podem ser objetivamente observados, medidos ou experimentalmente controlados, 
tem pouco valor científico, se não permite a invenção de técnicas adequadas de pesquisa 
empírica. Na prática, o cientista pode eliminar entidades supostamente reais, mas cuja 
investigação empírica parece impossível. Apesar disso, logo que uma nova técnica possi-
bilita o tratamento empírico de alguma nova entidade, [23] para o cientista, essa entidade 
adquire, imediatamente, uma “realidade”. Como observou Lewin (22, 193): “É provável 
que a maneira mais eficiente de destruir o tabu, quanto à crença na existência de uma 
entidade social, seja lidar experimentalmente com ela.” 
A história da controvérsia da “mentalidade coletiva” exemplifica muito bem esses 
aspectos. A insistência inicial na realidade da “mentalidade coletiva”, antes do desenvol-
vimento de técnicas de pesquisa desses fenômenos, pouco contribuiu para seu estudo 
científico. Allport, ao negar a realidade do grupo, exerceu, na verdade, uma grande in-
fluência libertadora para os psicólogos sociais, pois dizia: “Não nos imobilizemos ao in-
sistir na realidade de coisas com que não podemos lidar, através das técnicas de pesquisa 
atualmente existentes.” Allport e os psicólogos dessa tendência conseguiram empreender 
um programa de pesquisa extremamente produtivo quanto às atitudes dos indivíduos 
diante das instituições e quanto ao comportamento dos indivíduos nos contextos sociais. 
Embora essa visão da realidade fosse demasiadamente limitada para encorajar o estudo 
empírico das características dos grupos, estimulou o desenvolvimento das técnicas de 
pesquisa que, posteriormente, proporcionaram uma visão mais ampla da realidade cienti-
ficamente analisável. Até o aparecimento dessas técnicas, aqueles que continuavam a 
atribuir realidade aos grupos e instituições eram obrigados a apoiar-se em estudos pura-
mente descritivos ou especulações de gabinete, a partir de experiência pessoal, e esse 
trabalho foi legitimamente criticado como “subjetivo”, pois raramente as técnicas objeti-
vas da ciência eram aplicadas a tais fenômenos. 
 
Cartwright e Zander • Dinâmica de grupo | Origens da dinâmica de grupo 14 
O desenvolvimento de técnicas de pesquisa. Portanto, a organização de técnicas 
de pesquisa extensíveis à pesquisa de grupo teve a máxima importância para o apareci-
mento da dinâmica de grupo. Naturalmente, foi um processo demorado. Começou na 
última metade do século dezenove, com o aparecimento da psicologia experimental. Nos 
anos seguintes, um número cada vez maior de aspectos da experiência e do comporta-
mento humanos foi submetido a técnicas de mensuração e experimentação. Durante o 
primeiro terço deste século, por exemplo, fizeram-se progressos notáveis na mensuração 
das atitudes. Entre eles destaca-se a escala de “distancia social”, criada por Bogardus (8), 
o tratamento compreensivo dos problemas das escalas, por Thurstone (47) e Thurstone e 
Chave [24] (48), e a técnica de escala, muito mais simples, criada por Likert (24). Parale-
lamente a esses trabalhos, e em interação com eles, houve desenvolvimentos básicos na 
estatística. No fim da década de 1930, tinham sido formulados importantes métodos esta-
tísticos que possibilitaram eficientes planejamentos experimentais e a avaliação da signi-
ficação dos resultados quantitativos. Naturalmente, esses progressos tiveram importância 
não só para o aparecimento da dinâmica de grupo, como também para o desenvolvimento 
de todas as ciências do comportamento. 
Nesse desenvolvimento geral, podemos observar três progressos metodológicos, 
que contribuíram especificamente para o aparecimento da dinâmica de grupo. 
 
1. Experimentos de comportamento individual nos grupos. Como observamos 
acima, a pesquisa de dinâmica de grupo tem uma grande dívida para com a psicologia 
experimental, pela invenção de técnicas para realizar experimentos sobre as condições 
que influenciam o comportamento humano. Todavia, a psicologia experimental não se 
interessou, de início, pelas variáveis sociais; apenas no início deste século alguns pesqui-
sadores se empenharam em pesquisa experimental, planejada para pesquisar a influência 
das variáveis sociais no comportamento de indivíduos. G. W. Allport (2, 46) assim des-
creveu a natureza desses primórdios da psicologia social experimental: 
 
Formulou-se o primeiro problema experimental – na realidade o único, nas primeiras três 
décadas de pesquisa experimental – da seguinte maneira: Que mudança ocorre na ação 
isolada de um indivíduo normal quando outras pessoas estão presentes? 
 
E, segundo Allport, a primeira resposta de laboratório a essa questão foi dada por 
Triplett (49), que comparou a atividade de crianças ao enrolar a linha de pescar, sozinha 
ou junto a outras crianças. A partir desse experimento, Triplett concluiu que a situação 
coletiva tende a provocar um aumento no gasto de energia e na realização. 
O trabalho de Moede (28), iniciado em Leipzig, em 1913, teve maior significação 
para o desenvolvimento da psicologia social experimental. Procedeu a uma pesquisa sis-
temática das conseqüências da participação simultânea de várias pessoas nos diversos 
experimentos psicológicos então padronizados. Esse [25] trabalho teve influência no de-
senvolvimento da psicologia social sobretudo porque Münsterberg chamou a atenção de 
F. H. Allport, estimulando-o a repeti-lo e ampliá-lo. Allport (1) não só realizou diversos 
experimentos admiráveis, mas também criou um quadro de referência teórico para a in-
terpretação de seus resultados. Por volta de 1935, Dashiell (12) conseguiu escrever um 
longo resumo do trabalho, comparando o comportamento provocado quando o sujeito 
trabalha isolado e quando trabalha na presença de outros. Outro estudo importante dessa 
época foi o realizado por Moore (29), no qual demonstrou experimentalmente a influên-
cia, nos julgamentos morais e estéticos, da opinião do “especialista” e da “maioria”. Es-
ses experimentos iniciais não só demonstraram a possibilidade de realizar experimentos 
 
Cartwright e Zander • Dinâmica de grupo | Origens da dinâmica de grupo 15 
sobre a influência dos grupos no comportamento individual, mas também desenvolveram 
técnicas usadas até hoje. 
Uma tendência de pesquisa um pouco diferente, mas estreitamente ligada à pri-
meira, tentou comparar a realização dos indivíduos e dos grupos. Nesses estudos, como o 
exemplificam as obras de Gordon (16), Watson (50) e Shaw (41), empregaram-se tarefas 
que poderiam ser realizadas por indivíduos ou por grupos de pessoas, e procurava-se sa-
ber se o melhor trabalho seria realizado por indivíduos ou pelos grupos. Segundo se veri-
ficou, a pergunta era irrespondível, a menos que as condições fossem mais especificadas; 
apesar disso, essa pesquisa forneceu muitos ensinamentos. 
Todo esse trabalho, ao trazer os grupos para o laboratório, tornou muito mais pro-
vável a possibilidade de desenvolvimento da dinâmica de grupo. Embora, a rigor, esses 
experimentos iniciais não tratassem das características dos grupos, tornaram evidente que 
a influência dos grupos sobre os indivíduos pode ser estudada experimentalmente e facili-
taram a concepção de variações experimentais, no laboratório, das características do grupo. 
 
2. Observação controlada da interação social. Poder-se-ia pensar que o recurso 
mais óbvio para conhecer a natureza do funcionamento dogrupo seria apenas observar os 
grupos em ação. Na verdade, em toda a História, esse processo tem sido empregado por 
cronistas e jornalistas, e continua a ser uma fonte de dados, sobretudo quando empregada 
pelos antropólogos sociais em suas descrições do comportamento, da [26] cultura e da 
estrutura social das sociedades primitivas. O principal inconveniente do processo, como 
técnica científica é que as descrições (dados científicos) apresentadas por observadores 
dependem diretamente da capacidade e da sensibilidade do observador, assim como de 
suas interpretações prediletas. (Essa dificuldade pode ser facilmente demonstrada pela 
comparação de descrições feitas por diversas pessoas, que observaram independentemen-
te alguma interação social, ainda que pouco complexa. As primeiras tentativas sérias para 
aperfeiçoar métodos de observação, a fim de obter dados objetivos e quantitativos, ocor-
reram por volta de 1930, no campo da psicologia infantil. Despendeu-se grande esforço 
para a construção de categorias de observação que permitissem a um observador indicar 
apenas a presença ou a ausência, durante o período de observação, de um tipo específico 
de comportamento ou interação social. De modo geral, aumentou-se a precisão, limitan-
do-se a observação a interações muito evidentes, cujo “sentido” poderia ser revelado num 
curto limite de tempo e cuja classificação exigisse pouca interpretação do observador. 
Desenvolveram-se, também, métodos de amostragem das interações de um grande grupo 
de pessoas, durante um longo tempo, a fim de que fossem possíveis estimativas eficientes 
da interação total, a partir de observações mais limitadas. Conseguiu-se uma alta precisão 
dos dados quantitativos, através da utilização desses processos e de um treino cuidadoso 
dos observadores. Os principais pesquisadores responsáveis por esses melhoramentos 
foram Goodenough (15), Jack (19), Olson (34), Parten (35) e Thomas (44). 
A observação controlada da interação social, desenvolvida inicialmente para,a ob-
tenção de dados objetivos e quantitativos sobre o comportamento de crianças em seu am-
biente natural, difundiu-se, posteriormente, na pesquisa de dinâmica de grupo. Um aper-
feiçoamento importante foi a combinação das técnicas de observação com processos ex-
perimentais, a fim de obter avaliações quantitativas dos resultados, sobre a interação nos 
grupos, das diversas condições experimentais. Nos Capítulos 7, 22, 26, 28 e 33 encon-
tram-se exemplos do emprego da observação controlada. 
 
 
Cartwright e Zander • Dinâmica de grupo | Origens da dinâmica de grupo 16 
3. Sociometria. Uma outra maneira de estudar os grupos é fazer perguntas aos par-
ticipantes. Naturalmente, os dados obtidos desta maneira refletem unicamente o que o 
indivíduo é capaz de relatar e deseja dizer. Apesar disso, esses relatórios subjetivos dos 
membros de um grupo podem acrescentar [27] informações valiosas a observações mais 
objetivas de comportamento. Dentre os muitos recursos para obter informações dos parti-
cipantes do grupo, um dos primeiros e mais usados é o teste sociométrico inventado por 
Moreno (30). Durante a Primeira Grande Guerra, Moreno foi o administrador responsável 
por um campo de tiroleses deslocados de guerra e observou que era melhor o ajustamento 
das pessoas quando se permitia que formassem seus grupos no interior do campo. Mais 
tarde, nos Estados Unidos, empreendeu a verificação de sua idéia, com uma pesquisa 
mais sistemática com grupos de pessoas em instituições tais como escolas e reformató-
rios. Construiu, para isso, um questionário simples, onde a pessoa indicava aquelas com 
quem preferiria trabalhar em alguma atividade específica. Logo se tornou evidente que 
esse recurso e suas modificações poderiam fornecer informações valiosas sobre atrações 
e rejeições interpessoais no interior de um grupo. A publicação do principal livro de Mo-
reno (30), em 1934, baseado na experiência obtida com o teste, e a fundação, em 1937, da 
revista Sociometria, provocaram uma quantidade prodigiosa de pesquisas que empregam 
o teste sociométrico e suas numerosas variações. 
A significação da sociometria para a dinâmica de grupo está na provisão de uma 
técnica útil de pesquisa de grupos, assim como na atenção que dirigiu para alguns aspec-
tos dos grupos, tais como: posição social, padrões de amizade, formação de subgrupos e, 
de maneira mais ampla, estrutura informal. 
 
 
Origens da dinâmica de grupo 
 
Em meados da década de 1930, as ciências sociais estavam maduras para um rá-
pido desenvolvimento da pesquisa empírica com grupos. E, de fato, ocorreu nos Estados 
Unidos uma grande explosão dessa atividade, pouco antes de sua entrada na Segunda 
Grande Guerra. Essa pesquisa, além disso, passou a apresentar, nitidamente, as caracterís-
ticas hoje associadas ao trabalho em dinâmica de grupo. Num período de aproximada-
mente cinco anos, empreenderam-se vários e importantes projetos de pesquisa, mais ou 
menos independentes um do outro, mas todos apresentando esses aspectos distintivos. 
Examinaremos, agora, resumidamente, quatro dentre os mais influentes. [28] 
 
 
Criação experimental de normas sociais 
 
Em 1936, Sherif (42) publicou um livro contendo uma análise sistemática e teóri-
ca do conceito de norma social e uma engenhosa pesquisa experimental sobre a origem 
das normas sociais entre grupos de pessoas. Provavelmente o aspecto mais importante do 
livro foi a reunião de idéias e observações da sociologia e antropologia às técnicas da 
psicologia para a experimentação de laboratório. Sherif começou por aceitar a existência 
de costumes, tradições, padrões, regras, valores, modas e outros critérios de conduta (que 
subordinou ao título geral de norma social). Concordou, também, com Durkheim, supon-
do que essas “representações coletivas” tenham, do ponto de vista do indivíduo, caracte-
rísticas de exterioridade e coerção. Ao mesmo tempo, concordou com F. H. Allport, su-
pondo que as normas sociais tenham sido freqüentemente tratadas como uma coisa místi-
 
Cartwright e Zander • Dinâmica de grupo | Origens da dinâmica de grupo 17 
ca, e que o progresso científico só possa ser atingido sujeitando-se os fenômenos a técni-
cas aceitáveis de pesquisa empírica. Propôs o exame das normas sociais, realizado simul-
taneamente de duas maneiras: (a) como o produto de interação social e (b) como estímu-
los sociais que atingem todos os indivíduos, membros de um grupo com essas normas. 
Assim concebidas, seria possível estudar experimentalmente a origem das normas sociais 
e de sua influência sobre os indivíduos. 
Ao formular o seu problema de pesquisa, Sherif apoiou-se nitidamente nos resul-
tados obtidos, no campo da percepção, pela psicologia gestaltista. Observou que esse 
trabalho estabelecia não haver necessariamente uma correlação fixa, ponto-por-ponto, 
entre o estímulo físico e a experiência e o comportamento que provoca. O quadro de refe-
rência que a pessoa leva para a situação tem influência significativa na sua maneira de 
ver. Sherif propôs que, do ponto de vista psicológico, uma norma social funciona como 
esse quadro de referência. Portanto, se duas pessoas com normas diferentes enfrentam a 
mesma situação (por exemplo, um muçulmano e um cristão diante de uma refeição de 
costeletas de porco), verão e reagirão de maneiras totalmente diferentes. Para ambas, con-
tudo, a norma serve para dar um sentido e apresentar uma maneira estável de reagir ao 
ambiente. 
Depois de ligar as normas sociais à psicologia da percepção, Sherif procurou sa-
ber como surgem as normas. Ocorreu-lhe que poderia apreender esse problema se colo-
casse as [29] pessoas numa situação sem estrutura nítida, onde não se poderiam valer de 
qualquer quadro de referência ou norma social previamente adquiridos. Sherif assim 
apresentou o objetivo geral de sua pesquisa (42, 90, 91): 
 
... Que fará um indivíduo quando colocado numa situação objetivamente instável, 
em que falta qualquer base decomparação, no que se refere ao campo externo de estimu-
lação? Em outras palavras, que fará ele quando se eliminar o quadro de referência exter-
no, quanto ao aspecto em que estamos interessados? Apresentará uma miscelânea de jul-
gamentos insólitos? Ou estabelecerá seu próprio ponto de referência? Os resultados con-
sistentes nessa situação podem ser tomados como índices de um quadro de referência 
subjetivamente desenvolvido... 
No nível social, podemos ampliar o problema. Que fará um grupo de pessoas na 
mesma situação instável? Os diferentes indivíduos do grupo apresentarão uma miscelânea 
de julgamentos? Ou se estabelecerá uma norma comum, peculiar à situação específica do 
grupo e dependente da presença desses indivíduos reunidos e de sua influência mútua? Se 
percebem, a tempo, a incerteza e a instabilidade da situação que enfrentam em comum, de 
maneira a conferir-lhe algum tipo de ordem, percebendo-a como ordenada por um quadro 
de referência desenvolvido entre eles no decorrer do experimento, e se esse quadro de re-
ferência é peculiar ao grupo, podemos dizer que temos, pelo menos, o protótipo do pro-
cesso psicológico existente na formação de uma norma num grupo. 
 
A fim de submeter essas questões à análise experimental, Sherif empregou o que, 
em psicologia, se conhece como o efeito autocinético. Já se demonstrara antes, na pesqui-
sa de percepção, que, se um sujeito, numa sala totalmente escura, olhar para um ponto de 
luz parado, logo depois verá o ponto em movimento. Além disso, existem consideráveis 
diferenças individuais na amplitude do movimento percebido. O experimento de Sherif 
consistiu em colocar os sujeitos isolados na sala escura e obter os julgamentos sobre os 
limites do movimento aparente. Verificou que, com a repetição do teste, o sujeito estabe-
lece limites para seus julgamentos e que esses limites são específicos para cada pessoa. 
Sherif repetiu o experimento, mas, desta vez, grupos de sujeitos observavam a luz e apre-
sentam o julgamento em voz alta. Verificou que os limites individuais de julgamento 
 
Cartwright e Zander • Dinâmica de grupo | Origens da dinâmica de grupo 18 
convergiam para um limite coletivo, específico do grupo. Em novas variações, Sherif 
conseguiu demonstrar que “quando o indivíduo, que estabeleceu antes, individualmente, 
limites e uma norma entre os limites, é posto numa situação de grupo, com outros indiví-
duos, que:também vêm para a situação com seus limites e normas, estabelecidos em ses-
sões [30] individuais, os limites e as normas tendem a convergir” (42, 104). Além disso, 
“quando um membro de um grupo, posteriormente, enfrenta sozinho a mesma situação – 
depois do estabelecimento dos limites da norma de seu grupo – percebe a situação em 
função dos limites e da norma que trouxe da situação coletiva” (42, 105). 
O estudo de Sherif muito contribuiu para demonstrar a possibilidade da pesquisa 
experimental de fenômenos coletivos. Deve-se observar que não procurou estudar as 
normas sociais existentes em qualquer grupo natural. Ao contrário, formou novos grupos 
no laboratório e observou o desenvolvimento de uma norma social inteiramente nova. 
Embora, para o antropólogo e o sociólogo a situação experimental de Sherif possa pare-
cer artificial, e mesmo trivial, exatamente esse artificialismo deu aos resultados uma ge-
neralidade que não se obtém comumente, com a pesquisa naturalista. Ao submeter à aná-
lise psicológica um conceito de nível coletivo, como a norma social, Sherif contribuiu 
para suprimir o que considerava uma infeliz separação categórica entre o indivíduo e o 
grupo. E sua pesquisa permitiu estabelecer, entre os psicólogos, a idéia da realidade de 
determinadas características dos grupos, pois, como concluiu, “o fato de a norma, assim 
estabelecida, ser específica do grupo, sugere a existência de uma base, nos fatos psicoló-
gicos, para os argumentos dos psicólogos sociais e dos sociólogos, segundo os quais, nas 
situações coletivas, surgem qualidades novas e supra-individuais.” (42, 105). 
 
 
O alicerce social das atitudes 
 
Nos anos de 1935-39, Newcomb (32) dirigiu uma pesquisa intensiva, referente ao 
mesmo tipo geral de problema que interessou a Sherif, mas com métodos muito diferen-
tes. Newcomb escolheu um ambiente “natural” em vez do “laboratório”, a fim de estudar 
o funcionamento das normas sociais e dos processos de influência social; para a obtenção 
dos dados, apoiou-se, principalmente, em técnicas de medida de atitudes, sociometria e 
em entrevistas. O local do estudo foi o Bennington College; os sujeitos eram o corpo dis-
cente, e o conteúdo das normas sociais era constituído pelas atitudes diante de questões 
políticas. [31] 
Inicialmente, estabeleceu-se que a atmosfera política dominante da Universidade 
era “liberal” e que os estudantes, ao ingressar, vindos de lares predominantemente “con-
servadores”, traziam atitudes diversas das aceitas na cultura da escola Demonstrou-se o 
poder da comunidade universitária para mudar as atitudes dos alunos pelo fato de que, em 
cada ano, os da última série eram mais liberais que os calouros Todavia, o aspecto mais 
significativo desse estudo foi a cuidadosa documentação das maneiras pelas quais fun-
cionam essas influências Newcomb demonstrou, por exemplo, como a comunidade “re-
compensa” os alunos, quando adotam as atitudes aprovadas Um teste do tipo sociométri-
co – onde os alunos escolhem “os mais capazes de representar a Escola numa reunião 
intercolegial” – revelou que os alunos escolhidos em cada classe eram nitidamente, me-
nos conservadores que os não escolhidos E os alunos conhecidos como mais identificados 
com a Escola, como “bons cidadãos”, eram também relativamente mais liberais, em suas 
atitudes políticas Através de diversos recursos engenhosos, Newcomb conseguiu desco-
brir o “papel subjetivo” do aluno, ou a sua auto-impressão quanto à relação com a comu-
 
Cartwright e Zander • Dinâmica de grupo | Origens da dinâmica de grupo 19 
nidade estudantil. A análise desses dados revelou várias e diferentes maneiras pelas quais 
os alunos se acomodavam às pressões sociais da comunidade. Nessa análise, apresentam 
um interesse específico as provas de conflito entre lealdades coletivas quanto à participa-
ção na comunidade escolar e à participação no grupo familial, assim como algumas das 
condições que determinavam a relativa influência de ambas. 
O estudo de Newcomb demonstrou que as atitudes dos indivíduos estão fortemen-
te arraigadas nos grupos de que fazem parte, que a influência de um grupo sobre as atitu-
des de um indivíduo depende da natureza da relação entre o indivíduo e o grupo, e que, 
pelo menos em parte, os grupos avaliam os membros segundo seu conformismo às nor-
mas do grupo. Embora quase todas essas questões tenham sido formuladas, de uma ou de 
outra forma, por autores da fase especulativa da ciência social, esse estudo foi especial-
mente significativo porque apresentou provas minuciosas, objetivas e quantitativas. De-
monstrou assim – tal como já o fizera, de outra maneira, o estudo de Sherif – a possibili-
dade de realização de pesquisa científica sobre aspectos significativos da vida do grupo. 
[32] 
 
 
Grupos na sociedade de esquina 
 
Os fundamentos sociológicos e antropológicos da dinâmica de grupo estão ainda 
mais evidentes no terceiro estudo importante dessa fase. Em 1937 Whyte mudou-se para 
uma das áreas superpovoadas e decadentes de Boston e iniciou um estudo de três anos e 
meio dos clubes sociais, organizações políticas e negócios ilícitos. Seu método foi o de 
“observador participante”, que teve o maior desenvolvimento na pesquisa antropológica. 
Apoiou-se, mais especificamente, na experiência de Warner e Arensberg, derivada dos 
estudos de “Yankee City”. Conseguiu, de diversas maneiras, ser admitido na vida social e 
política da comunidade e anotou fielmente os vários acontecimentos que observou ou de 
que teve conhecimento. No livro que escreveu, Whyte (51) descreve,viva e minuciosa-
mente, a estrutura, a cultura e o funcionamento da “gang” de Norton Street e do Clube 
Italiano. Documentou extensivamente a importância desses grupos sociais na vida dos 
participantes e na estrutura política da sociedade mais ampla. 
Na interpretação e na sistematização dos resultados, Whyte foi muito influenciado 
pelo ponto de vista “interacionista”, que estava sendo desenvolvido por Arensberg e 
Chapple e, posteriormente, apresentado por vários autores, entre os quais Chapple (10), 
Bales (4) e Homans (18). A orientação – derivada por Mayo e colaboradores dos estudos 
da Western Electric – encontra-se, também, evidente na análise que Whyte faz dos seus 
dados. Embora não tenha feito qualquer esforço para quantificar as interações que obser-
vou, o grande cuidado com minúcias deu muita objetividade à apresentação das intera-
ções entre as pessoas observadas. Seus conceitos de “ordem mais elevada” – como estru-
tura social, coesão, liderança e status – ligam-se nitidamente a interações mais diretamen-
te observáveis entre pessoas, fornecendo-lhes um estreito elo com a realidade empírica. 
Para o trabalho posterior em dinâmica de grupo, esse estudo apresenta três aspec-
tos importantes: (a) dramatizou e descreveu, meticulosamente, a grande significação dos 
grupos, tanto para a vida dos indivíduos, quanto para o funcionamento dos sistemas so-
ciais mais amplos; (b) estimulou a interpretação de características e processos coletivos, 
em função de interações entre indivíduos; (c) formulou uma série de hipóteses [33] sobre 
as relações entre variáveis, tais como iniciativas da interação, liderança, status, obriga-
 
Cartwright e Zander • Dinâmica de grupo | Origens da dinâmica de grupo 20 
ções mútuas e coesão coletiva. Essas hipóteses orientaram muitos dos trabalhos posterio-
res que Whyte realizou sobre grupos, assim como as pesquisas de muitos outros cientistas. 
 
 
Controle experimental da atmosfera do grupo 
 
O trabalho de maior influência, nos primórdios da dinâmica de grupo foi o de Le-
win, Lippitt e White (23, 25, Cap. 28). Realizadas na lowa Child Welfare Research Stati-
on, entre 1937 e 1940, essas pesquisas sobre a atmosfera de grupo e estilos de liderança 
conseguiram uma síntese criadora das diversas tendências e dos vários desenvolvimentos 
acima considerados. Ao descrever o histórico dessa pesquisa, Lippitt observou que a dis-
cussão quanto à “boa” liderança surgiu entre especialistas em educação, serviço social e 
administração; observou que, com exceção dos estudos da Western Electric, poucas fo-
ram as pesquisas realizadas para orientar a ação nessas profissões. Ao propor o problema 
teórico, Lippitt partiu explicitamente do trabalho anterior de psicologia social, psicologia 
clínica e infantil, de sociologia, antropologia cultural e ciência política. E, ao planejar a 
pesquisa, empregou, com grandes modificações, as técnicas existentes de psicologia ex-
perimental, observação controlada e sociometria. Esse trabalho, portanto, apoiou-se mui-
to nos progressos anteriores das ciências sociais e das aplicações práticas, mas teve uma 
originalidade e uma significação que, imediatamente, provocaram um impacto marcante 
em todos esses campos. 
O objetivo básico dessa pesquisa foi estudar as influências no grupo como um to-
do, e em cada um dos participantes, de determinadas “atmosferas de grupo” ou “estilos de 
liderança”, experimentalmente provocados. Organizaram-se grupos de crianças de dez e 
onze anos de idade, que deviam reunir-se regularmente, durante um período de várias 
semanas, sob a liderança de um adulto, que provocaria as diferentes atmosferas de grupo. 
Ao criar esses grupos, procurou-se assegurar sua comparabilidade inicial; na medida do 
possível as características dos vários grupos foram equiparadas, através da utilização do 
teste sociométrico de observações no recreio e de entrevistas [34] com professores; a for-
mação e as características individuais dos participantes foram igualadas para todos os 
grupos, através dos boletins escolares e de entrevistas com as crianças; utilizaram-se as 
mesmas atividades coletivas e o mesmo ambiente físico para todos os grupos. 
O controle experimental consistiu em fazer com que cada um dos líderes adultos 
se comportasse, em cada tratamento experimental, de maneira preestabelecida; a fim de 
isolar as influências diferenciais das personalidades dos líderes, cada um orientou um 
grupo em uma das condições experimentais. Pesquisaram-se três tipos de liderança ou 
atmosfera coletiva: a democrática, a autocrática e a permissiva [“laissez-faire”]. 
À luz do conhecimento atual está claro que, em cada estilo de liderança, combina-
ram-se muitas variáveis independentes. Todavia, talvez exatamente por essa razão os 
efeitos produzidos no comportamento do grupo tenham sido grandes e dramáticos. Nos 
grupos autocráticos, por exemplo, ocorreram formas muito graves de aparecimento de 
bodes expiatórios; no final do experimento, as.crianças em alguns dos grupos autocráti-
cos resolviam destruir o que tinham construído. Além disso, cada grupo desenvolveu um 
nível característico de agressividade e ficou demonstrado que, quando um participante era 
transferido de um grupo para outro, mudava a sua agressividade, a fim de aproximá-la do 
nível existente no grupo. Permitiu-se uma interessante apreensão da dinâmica da agres-
são, através de uma “explosão” emocional bastante violenta, provocada quando alguns 
 
Cartwright e Zander • Dinâmica de grupo | Origens da dinâmica de grupo 21 
grupos, que reagiam com grande submissão à liderança autocrática, receberam um novo 
líder, mais liberal. 
Como se poderia esperar – sabendo-se que essa pesquisa era original e se referia a 
questões emocionalmente carregadas de ideologia política – foi imediatamente submetida 
a críticas, algumas justas, outras injustas. Todavia, o principal resultado, para as ciências 
sociais e para as aplicações especializadas, foi desvendar novos horizontes e elevar o ní-
vel de aspiração. A criação, no laboratório, de “sistemas políticos em miniatura” e a de-
monstração de sua influência no comportamento e nas relações sociais das pessoas de-
monstraram que é possível submeter ao método experimental os problemas práticos de 
direção dos grupos e que os cientistas sociais poderiam empregar os métodos da ciência 
para resolver problemas de significação vital para a sociedade. [35] 
Para as pesquisas posteriores de dinâmica de grupo, teve importância básica a 
maneira de Lewin formular o objetivo essencial desses experimentos. Selecionou-se, para 
pesquisa, o problema de liderança, em parte por sua importância prática na educação, no 
serviço social, na administração e nas questões políticas. Apesar disso, ao criar no labora-
tório os diferentes tipos de liderança, a intenção não foi copiar ou simular um “tipo puro”, 
que possa existir na sociedade. Ao contrário, o objetivo foi descobrir algumas das mais 
importantes variações de comportamento do líder e verificar como os vários estilos de 
liderança influenciam as características dos grupos e o comportamento dos participantes. 
De acordo com Lewin (21, 74), o objetivo não era repetir uma autocracia ou uma demo-
cracia determinada, ou estudar uma autocracia ou uma democracia “ideal”, mas criar am-
bientes para apreender a subjacente dinâmica de grupo. Essa afirmação, publicada em 
1939, parece ter sido a primeira em que Lewin empregou a expressão “dinâmica de gru-
po”. 
É importante observar, cuidadosamente, como Lewin generalizou o problema da 
pesquisa. Poderia considerar essa pesquisa, em primeiro lugar, como uma contribuição à 
tecnologia da direção do grupo no serviço social ou na educação. Ou poderia colocá-la no 
contexto da pesquisa de liderança. Todavia, na realidade, propôs o problema da maneira 
mais abstrata, como conhecimento da dinâmica subjacente à vida do grupo. Acreditou ser 
possível construir um conjunto coerente de conhecimento empírico a respeito

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