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1 
SANÇÕES NO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO 
Referência: 
Livro do Portela (material base) 
André de Carvalho Ramos 
Livro Hidelbrando Aciolly 
Valério Mazzuoli 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
O Direito Internacional Público é frequentemente associado a dificuldades referentes à eficácia de suas 
normas. Efetivamente, a aplicação das normas internacionais é peculiar, em vista de fatores como a 
complexidade da sociedade internacional, a inexistência de um poder mundial que, a exemplo do 
Estado, esteja encarregado de impor a observância dos dispositivos de Direito das Gentes, e a 
circunstância de que os mecanismos internacionais de solução de controvérsias nem sempre têm 
jurisdição automática sobre os Estados, dependendo destes para existir e de sua anuência para julgá-
los. Entretanto, isso não significa que o DI não disponha de meios que permitam que os violadores das 
normas internacionais respondam pelos ilícitos que cometam. (Portela, 2015) 
Mazzuoli define (2015) a responsabilidade internacional como o instituto que visa 
- a responsabilizar determinado Estado 
- pela prática de um ato atentatório ao Direito Internacional (ilícito) 
- perpetrado contra outro Estrado, 
- prevendo certa reparação a este último pelos prejuízos e gravames que injustamente sofreu. 
 
Obs.: O direito internacional admite a responsabilidade por fato de terceiro. 
Portanto, tem-se que a responsabilidade internacional do Estado é o processo de atribuição de 
determinadas consequências jurídicas ao ato de um Estado quando tal ato é tido pela sociedade 
internacional como ilícito, ou seja, não conforme às normas de direito internacional, sejam elas 
consuetudinárias ou convencionais. 
Consoante ensina Malcolm Shaw, as características essenciais da responsabilidade internacional do 
Estado dependem dos seguintes fatores: 
 
 
 
 
 
 
2 
• a existência de uma obrigação jurídica internacional em vigor entre dois Estados determinados; 
• que tenha ocorrido um ATO ou OMISSÃO que viole essa obrigação e seja imputado ao Estado 
responsável; 
• que tenha resultado perda ou dano desse ato ou omissão ilegal. 
 
Não obstante a importância desse assunto para as relações internacionais (ou até mesmo por isso), a 
sociedade internacional ainda hoje não chegou ao estágio de codificar as regras que devem reger o 
processo de responsabilização dos Estados por ilícitos internacionais, o que vem impedindo a 
sistematização de dispositivos que serviriam para resolver recorrentes conflitos internacionais. 
Entretanto, há diversos estudos e propostas de convenções internacionais para tratar do tema, sendo o 
mais conhecido deles os “Draft Articles on responsibility of States for internationally wrongful acts”, que 
vem a ser um material elaborado pela Comissão de Direito Internacional da ONU. 
 
Responsabilidade primária e secundária: 
A abordagem do tema da responsabilidade internacional do Estado passa necessariamente pela análise 
de dois planos normativos: o das normas que estatuem as chamadas obrigações primárias e o das 
normas que prescrevem as denominadas obrigações secundárias. 
As obrigações primárias decorrem diretamente de um determinado vínculo jurídico que impõe a 
realização ou abstenção de uma conduta. Em havendo a violação de norma dessa espécie, surge para o 
Estado violador uma obrigação secundária decorrente de sua conduta internacionalmente ilícita, a 
qual, por sua vez, pode assumir diferentes modalidades, como o dever de REPARAÇÃO, SATISFAÇÃO ou 
INDENIZAÇÃO. 
Segundo André de Carvalho Ramos, “as normas primárias de direito internacional representam as 
regras de conduta, que, se violadas, fazem nascer as obrigações secundárias. As normas primárias 
contêm regras de conduta impostas aos Estados e as secundárias visam determinar quando se dá o 
descumprimento da obrigação internacional e as consequências desse descumprimento” 
 
Qual é o fundamento para a responsabilidade internacional? 
Segundo André de Carvalho Ramos, os fundamentos são a igualdade soberana e a juridicidade das 
normas internacionais 
 
 
 
 
 
3 
Igualdade soberana pois, Se não existir a responsabilização, o infrator terá uma posição juridicamente 
superior aos demais membros da comunidade internacional, já que ele estaria violando uma norma de 
Direito internacional e ficando impune. 
Outro ponto que vale a pena debatermos é justamente que se a responsabilidade internacional não 
existisse a própria juridicidade das normas internacionais seria abalada. Se você viola uma norma e 
nada acontece, na verdade essa norma não é vinculante, é apenas uma exortação, um conselho. E isso 
indica, portanto, a importância da responsabilidade internacional. 
Portela, por sua vez, aponta como fundamento dois pilares: o dever de cumprir as obrigações 
internacionais livremente avençadas e a obrigação de não causar dano a outrem. A responsabilidade 
internacional visa, portanto, a contribuir para a aplicação prática das normas internacionais e a 
promover a eventual reparação dos prejuízos sofridos pelos sujeitos de Direito Internacional. 
 
A responsabilidade internacional se aplica à Organizações Internacionais? 
SIM. A responsabilidade, hoje, também atinge as organizações internacionais, como definiu a Corte 
Internacional de Justiça no parecer relativo ao assassinato do mediador da ONU no Oriente Médio, 
Folke Bernadotte (CASO BERNADOTTE), em que ficou definido que aquela Organização fazia jus a uma 
reparação adequada por danos infligidos por outro Estado. 
Então, a responsabilidade é ampla o suficiente para abarcar tanto os ESTADOS quanto às 
ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS, os dois sujeitos de Direito internacional mais comuns que temos na 
sociedade internacional. 
 
Histórico da responsabilização: 
No passado, especialmente no século XIX, houve quem discutisse a juridicidade da matéria. Diziam que 
o Direito internacional não seria Direito. Eram os chamados negacionistas do Direito internacional, que 
defendiam a inexistência de força vinculante das normas internacionais, uma vez que os sistemas de 
responsabilidade e coerção eram extremamente precários. Kelsen afirmava, nos anos 50 do século 
passado, que o Direito internacional seria um Direito primitivo, não seria um Direito como os outros, 
por que lhe faltaria a força cogente. Cada vez mais isso é algo que não se sustenta. 
Não precisamos divagar muito para percebermos que, em primeiro lugar, a inefetividade de normas 
não é uma característica unicamente do Direito internacional. No Brasil, temos diversos problemas com 
o Direito penal, processual etc. Em segundo lugar, quando existe violação das normas de direito 
internacional, em geral os faltosos, os infratores, alegam que estão cumprindo de acordo com a sua 
 
 
 
 
 
4 
peculiar ótica. Por exemplo, quando a Rússia anexou a Criméia, ela não alegou que não tem que 
respeitar a integridade territorial da Ucrânia, na verdade, ela fundamentou no Direito internacional, 
mais precisamente na autodeterminação da Criméia, ou seja, o Direito internacional reconhece a 
autodeterminação do povo da Criméia. E isso se aplica aos EUA também. Quando os EUA 
bombardearam a pequena ilha de Grenada e a invadiram, o presidente Reagan não falava que o uso da 
força estaria proibido no Direito internacional e que essa norma estaria afastada pelos EUA. Na 
verdade, eles justificaram o uso abusivo da força, alegando que era legítima defesa ideológica. E a 
pequena ilha do caribe foi bombardeada. 
Os negacionistas estão em franca decadência. 
 
Teorias acerca da natureza jurídica da responsabilidade internacional: 
Segundo Portela (2015), existem três teorias: a teoria subjetivista, a objetivista e a mista. 
A teoria subjetivista, ou teoria da culpa, formulada por Grócio, leva em conta a CONDUTA do Estado ou 
do organismo internacional para definir sua eventual responsabilização, entendendo que, para que se 
configure a responsabilidade internacional,não basta a mera configuração do ilícito exigindo-se 
também que haja dolo ou culpa na ação ou omissão do sujeito de Direito das Gentes. 
A teoria objetivista, ou teoria do risco, defende que a responsabilidade internacional emerge a partir 
da mera ocorrência de um dano que seja diretamente decorrente da violação de uma norma 
internacional, não levando em consideração o dolo, a culpa ou qualquer outro motivo pelo qual o 
sujeito de Direito Internacional violou o preceito. Para essa teoria, exige-se meramente o nexo causal 
entre o ato ilícito e a lesão daí decorrente. Os principais expoentes da teoria do risco (objetivista) são 
Triepel e Anzilotti e, no Brasil, Rezek, para quem não cabe perquirir a culpa subjetiva para que se apure 
a responsabilidade internacional de um ente estatal, bastando a “afronta a uma norma de direito das 
gentes, e que daí tenha resultado para outro Estado ou organização”. É a teoria empregada no tocante 
à responsabilidade por ATO LÍCITO, ligados, por exemplo, à exploração espacial, ao emprego da energia 
nuclear e a proteção do meio ambiente. 
A teoria mista, defendida por Strupp, entende que, quando houver OMISSÃO DO ESTADO ou da 
Organização internacional, deve ser verificada a existência de culpa, na modalidade de negligência, para 
que se configure a responsabilidade internacional. Por outro lado, nos atos COMISSIVOS dos entes 
estatais e OI’s, basta haver um liame entre conduta e o prejuízo. 
 
 
 
 
 
 
5 
2. CLASSIFICAÇÃO DA RESPONSABILIDADE 
 
Podemos dividir a responsabilidade em virtude de alguns critérios importantes. 
Em primeiro lugar, a responsabilidade pode ser dividida tendo em vista a posição do Estado – 
responsabilidade internacional direta e responsabilidade internacional indireta. 
Responsabilidade internacional direta: é aquela que nasce imediatamente das relações interestatais. 
Então, um Estado alega que o outro Estado descumpriu normas em relação a ele. 
Responsabilidade internacional indireta: É aquela que nasce depois de uma etapa anterior, na qual 
NÃO há uma relação direta entre um Estado e outro, mas sim entre o indivíduo e o Estado. Nasce a 
responsabilidade internacional indireta, que é conhecida por nós como proteção diplomática. O Estado 
se responsabiliza por um evento que não é inicialmente no plano internacional, mas no plano 
doméstico. Há um mecanismo, que é o endosso, que transforma esse litígio inicialmente doméstico, em 
um litígio internacional. 
É corrente falar também em responsabilidade direta e responsabilidade indireta, dizendo-se que a 
primeira deriva de atos do próprio governo ou de seus agentes, e que a segunda resulta de atos 
praticados por simples particulares, mas de maneira que possa ser imputável ao governo. Essa 
distinção, porém, é antes teórica do que prática. (ACCIOLY, 2012) 
Também é possível classificar a responsabilidade pelo tipo de ato: responsabilidade por ato comissivo e 
por ato omissivo. 
A responsabilidade pode ser comissional (comissão) quando decorrer da prática de um ato ilícito, ou 
omissional (omissão) quando o Estado ou o organismo internacional deixar de cumprir uma obrigação 
com qual tenha se comprometido internacionalmente. (Portela, 2015) 
E finalmente, alguns entendem que é possível diferenciar responsabilidade pela gravidade da conduta 
do Estado. Nasce a responsabilidade por crime internacional do estado. 
A responsabilidade pode ser convencional, quando resultar da violação de um tratado, ou delituosa, 
quando é consequência da transgressão de um costume. 
Por fim, a responsabilidade decorre, em regra, de atos ilícitos, mas pode também ser consequência de 
atos lícitos. 
Como caiu em prova: 
QUESTÃO TRF5: A responsabilidade de um sujeito de direito internacional decorre, necessariamente, de 
atos ilícitos. 
 
 
 
 
 
6 
Errado. 
 
3. TEORIA DA RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL 
 
3.1 Elementos 
 
Fato internacionalmente ilícito: 
Esse fato tem dois elementos: objetivo e subjetivo. 
 
Qual é o elemento objetivo? 
É a própria conduta que, depois, será imputada ao Estado. 
 
E o subjetivo? 
O elemento subjetivo é quem realizou a conduta. 
 
ATENÇÃO! O fato de o ato ilícito à luz do DI estar em conformidade com o Direito Interno do Estado 
NÃO exclui a transgressão e, portanto, a responsabilidade estatal, a teor da Convenção de Viena sobre o 
Direito dos Tratados, de 1969, que dispõe que “Uma parte não pode invocar as disposições de seu 
direito interno para justificar o descumprimento de um tratado” (art. 27). 
Além disso, compõe o fato internacionalmente ilícito, chamada imputação da conduta lesiva ao Estado 
(que pode ser também a organização internacional). É feita uma imputação da conduta ao próprio 
Estado ou à Organização internacional. Essa imputação é uma operação normativa, não é uma operação 
naturalística. 
A imputabilidade resulta, naturalmente, de ato ou omissão que possam ser atribuídos ao estado, em 
decorrência de comportamento deste. Nessa categoria estão apenas os atos ou as omissões de 
indivíduos que o representem. Mas como a imputabilidade exige certo nexo jurídico entre o agente do 
dano e o estado, é preciso que o agente tenha praticado o ato na qualidade oficial de órgão do estado 
ou com os meios de que dispõe em virtude de tal qualidade. (Accioly) 
 
O Direito internacional admite rompimento do nexo causal? 
 
 
 
 
 
7 
SIM. Admite, por exemplo, força maior, caso fortuito. Um evento imprevisto ou irresistível é admitido 
pelo Direito internacional para romper o nexo causal. 
O Direito Internacional admite também alegações de legítima defesa (contramedidas, por exemplo). O 
exercício da legítima defesa tem uma função protetora, punitiva e reparadora, estando voltado a 
interromper o ataque, a punir o agressor e a reparar o dano causado. No entanto, os atos de legítima 
defesa devem ser proporcionais à agressão ou ao perigo e devem ser praticados apenas até que o 
Conselho de Segurança tome as medidas necessárias para a manutenção ou restauração da paz. 
E o Direito internacional também admite o Estado de necessidade, ou seja, quando, em nome de um 
valor superior, é violada determinada norma internacional. Mas o Direito internacional admite que 
apesar de a conduta ser lícita, HÁ O DEVER DE REPARAR. O Estado de necessidade, portanto, NÃO 
elimina o dever de reparação. 
 
Voltando aos elementos, vimos que o fato internacionalmente ilícito tem o seu elemento objetivo 
(conduta) e o elemento subjetivo (quem). E depois temos o terceiro componente do fato 
internacionalmente ilícito, que é a imputação da conduta ao Estado. Então, esse fato não pode ser 
desconectado com o Estado. 
Além desses componentes, Portela (2015) aponta o dano. O dano é o prejuízo, decorrente de um ato 
ilícito, causado a outro Estado, a organização internacional ou a pessoa protegida pelo ente estatal ou 
organismo internacional. O dano pode ser material ou moral e pode ou não ter expressão econômica. 
Pode atingir a honra e a dignidade do Estado, seu território, seus bens etc. 
O dano pode ser, inclusive, imaterial. O Direito internacional não exige que o dano seja material 
apenas. 
O dano imaterial é o dano ao chamado patrimônio imaterial, inclusive do Estado. São danos que não 
geram consequências materiais. Um dano que é muito comum na prática internacional é a violação da 
integridade territorial. Por exemplo, se um avião militar brasileiro invade o espaço aéreo colombiano, o 
Brasil violou o Direito internacional. 
 
Qual é o impacto do dano material e do dano imaterial na teoria geral da responsabilidade? 
O impacto é na reparação. Veremos a teoria geral da responsabilidade em três momentos: teoria geral, 
reparação e sanção. O tipo de reparação tem um vínculo com o tipo de dano. O dano imaterial em 
geral é reparado pelo pedido de desculpas e pela garantia de não repetição. Por exemplo, “aceito as 
desculpas pela violação do meu espaço aéreo,mas exijo que isso nunca mais aconteça”. 
 
 
 
 
 
8 
 
Quais são os atos comissivos ou omissivos que são imputados aos estados? 
Como já afirmado anteriormente, a responsabilidade internacional pode ser: 
• Direta: decorre de atos do Poder Executivo do Estado, de seus órgãos ou de seus funcionários 
ou, ainda, de particulares que exercem atividades em nome do ente estatal. 
• Indireta: decorre de ações ou omissões de pessoas naturais ou jurídicas protegidas por um 
Estado, ainda que resultem de violação das próprias normas de direito interno. 
 
Analisando os precedentes arbitrais e judiciais do século XIX (arbitrais) e do século XX (arbitrais e 
judiciais), chegamos as seguintes conclusões. 
Primeiro - Ato do poder Executivo vincula, é imputável ao Estado. Por quê? O Direito internacional 
considera que o agente que atua no Poder Executivo vincula o próprio Estado. 
O Direito internacional afirma que cabe ao Estado agir para evitar o ato ultra vires. Por exemplo, um 
caso típico que aconteceu na comissão de repartição de danos entre México e EUA. Havia muitos 
problemas na fronteira entre os EUA e México, muitos proprietários norte-americanos residentes no 
México tiveram seus direitos violados por vários atos. Foi um caso envolvendo lesões corporais e o 
México alegou que não havia dado ordens para que seus funcionários ferissem os americanos. Não dá 
para acolher essa alegação porque os estados têm o dever de vigiar e escolher bem. Então, seja por 
culpa in vigilando ou in elegendo, o Estado responde. Portanto, a alegação de ato ultra vires no Direito 
internacional não prospera. 
Segundo – ato do Poder Legislativo – o Estado responde, inclusive por ato do Poder constituinte 
originário. 
Terceiro – atos do Poder judiciário – o Estado também responde. Aqui nasce a chamada deneração de 
justiça, que tem dois ângulos, ela pode ser em virtude da delonga, não há uma decisão, ferindo-se o 
Direito internacional, mas pode ser também o caso de uma decisão injusta. O Direito internacional 
entende que o Poder judiciário é parte do Estado. 
Quarto – ato de particular – a doutrina muito mal analisa o ato de particular. Em geral o ato de 
particular não vincula o estado. Entretanto, é possível que o Estado responda pelo ato do particular 
caso, no contexto de a conduta violar seus deveres de PREVENÇÃO e REPRESSÃO. É um pouco capcioso. 
O Estado não responde pelo ato do particular. Ele responde pela sua própria conduta no contexto do 
 
 
 
 
 
9 
ato do particular. Por exemplo: Estado que concorda com ações de seus nacionais que configuram 
ilícitos internacionais ou que se omite frente a tais atos. 
Veremos que há normas primárias de Direito internacional que exigem repressão – são os mandados de 
criminalização. Temos diversos tratados que estabelecem deveres de criminalização de condutas do 
Estado. 
Só assim podemos entender por que o Brasil foi responsabilizado pela COMISSÃO INTERAMERICANA 
pelo CASO MARIA DA PENHA. O caso Maria da Penha vem da Convenção de Direitos humanos e é fruto 
da Convenção de Belém do Pará. 
A Convenção de Belém do Pará estabelece um mandado de criminalização. O Brasil tem que prevenir e 
reprimir a violência doméstica. Quem atirou e tentou eletrocutar a senhora Maria da Penha? O marido, 
ou seja, um particular. E por que o Brasil foi responsabilizado no caso? Pela OMISSÃO na repressão. 
Houve tentativa de homicídio e ele quase prescreveu. O Brasil responde por ato do Poder judiciário 
também e nesse caso houve omissão do Judiciário. 
O CASO DAMIÃO XIMENES é o mesmo problema. É um caso da CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS 
HUMANOS. O Damião Ximenes foi assassinado em uma clínica de repouso paga com dinheiro público 
(clínica do SUS). Então, além da omissão na repressão, havia também o dever de prevenção, era uma 
clínica do SUS. E se comprovou que o SUS não exercia qualquer vigilância preventiva em relação ao que 
estava ocorrendo nessas clínicas de repouso. 
 
E quanto ao ato do ente federado? 
O Brasil também responde por atos do ente federado. O Brasil pode ter normas primárias que o 
desonerem, mas isso não é comum. Em geral, o Brasil não consegue emplacar a chamada cláusula 
federal. 
 
O que vem a ser “cláusula federal”? 
 Dispositivo inserido em tratados que desonera o estado federal de implementar os comandos do 
tratado perante os seus entes federados. A cláusula federal é uma bofetada na cara dos demais 
estados. Quem vai querer celebrar tratado com Estado federal que tem essa cláusula? Nunca vai haver 
certeza se a contraprestação vai ser cumprida. Então, a cláusula federal tem que estar expressa, 
obviamente. É um problema do Estado federal que celebrou um tratado que não podia cumprir. É 
novamente o problema da falta de reflexão antes de celebrar o tratado. 
 
 
 
 
 
10 
 
O Brasil é um Estado federal e sempre que celebra um tratado, ele o faz para todos os entes 
federados. Isso já foi muito discutido. Vimos na questão dos tratados tributários que quem celebra 
tratado no Brasil não é a União, mas sim o Brasil, a República federativa do Brasil. Então, vincula o 
Maranhão, vincula SP, vincula todo mundo, INDEPENDENTE DA VEDAÇÃO À ISENÇÃO HETERÔNOMA, 
norma de direito interno. 
 
 A Convenção Americana nos Estados Federais 
A respeito da cláusula federal da Convenção Americana estabelece: 
"Artigo 28. 
1. Quando se tratar de um Estado Parte constituído como Estado Federal, o governo nacional do 
aludido Estado Parte cumprirá todas as disposições da presente Convenção, relacionadas com as 
matérias sobre as quais exerce COMPETÊNCIA LEGISLATIVA E JUDICIAL. 
2. No tocante às disposições relativas às matérias que correspondem à competência das entidades 
componentes da federação, o governo nacional deve tomar imediatamente as medidas pertinentes, 
em conformidade com a sua constituição e suas leis, a fim de que as autoridades competentes das 
referidas entidades possam adotar as disposições cabíveis para o cumprimento desta convenção. 
3. Quando dois ou mais Estados Partes decidirem constituir entre eles uma federação ou outro tipo de 
associação, diligenciarão no sentido de que o pacto comunitário respectivo contenha as disposições 
necessárias para que continuem sendo efetivas no novo Estado assim organizado as normas presentes 
da convenção. 
Há países que já tentaram muitas vezes amparar-se em suas estruturas de Estados Federais para 
justificar o não cumprimento de suas obrigações internacionais. Daí, tal cláusula ter sido classificada 
como um "anacronismo", que gera dificuldades que ainda não foram solucionadas pelos órgãos do 
sistema. Os Estados são livres e soberanos para adotar a forma federal, unitária ou a que decidam como 
pertinente. Entretanto, não devem violar a Convenção amparando-se em sua forma federal de 
governo. A Corte já dispôs ao referir-se ao artigo 1.1 que a obrigação de garantia implica no dever dos 
Estados Partes de organizarem em todas as estruturas através das quais se manifesta o exercício do 
poder público sejam federais ou locais - e acrescentamos - de forma tal que sejam capazes 
juridicamente o livre e pleno exercício dos direitos humanos. 
A partir desta perspectiva, considera-se que a Convenção Americana estabelece como deveres 
fundamentais a cargo dos Estados Partes, como é o caso do Brasil, os de respeito e garantia do pleno 
 
 
 
 
 
11 
exercício dos direitos humanos nela reconhecidos (art. 1.1). Adicionalmente coloca para os Estados 
Partes com organização federal, como é o caso do Brasil, a obrigação de adotar as disposições de direito 
interno pertinentes necessárias para cumprir tais deveres (art. 2 e art. 28.3). 
Assim é pertinente considerar o disposto pela Comissão no seu informe no 8/91, caso no 10.180, contra 
o Estado do México: "... o artigo 28.2 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, reconhecendo e 
respeitando cada sistema federal em particular requer que o governocentral adote as medidas que 
permitirão às autoridades das entidades componentes da Federação alcançar "o cumprimento desta 
Convenção". Esta norma permite aos Estados Partes organizados em um regime federal assegurar o 
total cumprimento da Convenção no marco de seu sistema federal." 
 
Efetivamente, temos tido cada vez mais processos internacionais contra o Brasil com base em ato de 
ente federado. Por exemplo, temos os casos da Fundação para o bem-estar do menor, antiga FEBEM, 
hoje chamada de Fundação Casa. Há diversos casos de tortura. São atos de ente federado, mas não 
importa, O BRASIL RESPONDE. 
Por fim, no que se refere à responsabilidade estatal por atos praticados por forças envolvidas em 
guerras civis ou por revolucionários, o tema é polêmico. O ENTENDIMENTO MAJORITÁRIO é o de que o 
Estado deve ser responsabilizado pelas ações de grupos de revolucionários quando tiver concorrido para 
a ocorrência do conflito ou quando tiver faltado com a diligência devida para impedir ou reprimir o fato. 
Ressalte-se, entretanto, que o reconhecimento do caráter de beligerante ou de insurgente de um 
movimento revolucionário por parte do Estado que tenha sofrido o dano exclui a responsabilidade do 
Estado onde atua esse movimento, a qual passa a recair sobre o beligerante ou insurgente. Caso os 
revoltosos assumam o governo, a responsabilidade passa a caber ao Estado. 
 
3.2 Responsabilidade por abuso de direito 
 
Apenas parte da doutrina admite a responsabilização por tal motivo, em razão da sua imprecisão e pela 
pouca menção a respeito nos tratados e na jurisprudência internacional, o que poderia gerar uma maior 
insegurança às relações internacionais. 
O abuso de direito consiste, fundamentalmente, no exercício do direito de modo contrário à sua 
finalidade social, que cause um dano a outrem. A noção do instituto é controversa na doutrina, 
existindo várias ideias a respeito, por exemplo: intenção de prejudicar a outrem; desvio da finalidade do 
direito; ato contrário à consciência jurídica da comunidade; exercício antissocial do direito. 
 
 
 
 
 
12 
O abuso de direito configura-se a partir da reunião dos seguintes elementos, quais sejam: 
i) exercício de um direito; 
ii) abuso no modo pelo qual é exercido; 
iii) prejuízo para terceiros. 
O direito internacional tende a acolher a ideia de abuso de direito, que permite que a norma não se 
desvincule da necessidade de resguardar os direitos e liberdades das demais pessoas e de haja o 
necessário equilíbrio entre interesses individuais e sociais, bem como de que sejam resguardados bens 
jurídicos de incontestável valia na atualidade, como a dignidade humana. 
 
3.3. Responsabilidade e solução pacífica de controvérsias 
 
Temos o problema da determinação da responsabilidade. Como determinar que um Estado realmente 
violou o Direito internacional? 
 
Modos de determinação da responsabilidade: 
 
Modo unilateral – iudex in causa sua – esse é o modo mais comum. É quando o Estado lesionado exige 
reparação do Estado infrator. 
Qual é o problema desse modo unilateral? Em nome da igualdade soberana pode ser que o outro 
Estado infrator não aceite. O Estado infrator rechaça, afirma que não violou o Direito internacional. Isso 
gera um impasse. Esse impasse é conhecido como “guerra de sanção”. Por quê? O próximo passo é o 
Estado lesado sancionar o Estado infrator. Mas o Estado infrator não reconhece que violou Direito 
internacional, então ele vai receber a sanção como sendo algo indevido. Ele vai alegar violação ao 
Direito internacional pelo Estado pretensamente lesado. Com isso há uma guerra de sanção. Toda vez 
que é aplicada uma sanção e o Estado é inocente, há violação ao Direito internacional. Por exemplo, no 
congelamento de haveres, nos embargos, etc., e isso só é devido se o Estado pretensamente infrator de 
fato tiver violado o Direito internacional. 
 
Modo coletivo – existência de terceiros para avaliar a responsabilidade internacional. Nesse caso 
rompe-se o iudex in causa sua. Quais são os principais modos coletivos? Há diversas formas de 
intervenção de terceiros para determinar a responsabilidade internacional. 
 
 
 
 
 
13 
Pode ser por meio de mediação, conciliação e pode ser pelos chamados métodos jurídicos, tais como a 
arbitragem. 
 
Mediação - Os terceiros não fornecem uma solução, eles simplesmente tentam aproximar, mostrar que 
os pontos não são tão divergentes. Esse é um meio político. 
Conciliação – aqui os terceiros apresentam uma solução que não é vinculante. O conciliador apresenta 
uma solução, mas não a implementa. Esse também é um meio político. 
Arbitragem e tribunais internacionais – aqui temos o típico caso de gramática dos direitos. Não é meio 
político. Aqui temos um modo jurídico. 
 
Qual a diferença entre arbitragem e tribunais penais internacionais? 
A arbitragem existe desde o século XVIII no Direito internacional. Consiste na intervenção de terceiro, 
que é escolhido com a confiança das partes para dirimir a controvérsia (que no caso é a determinação 
da responsabilidade internacional). A decisão é vinculante. Existem vários tipos de arbitragem, mas 
podemos dizer que a arbitragem pode ser ad hoc (para o caso) ou arbitragem institucional. 
A grande vantagem da arbitragem é que ela é barata e célere. Ela não exige grandes investimentos. A 
grande desvantagem é que ela NÃO gera jurisprudência constante, não fornece segurança jurídica. Há 
muita dificuldade em se estabelecer a segurança jurídica usando a arbitragem. 
Se os litígios são em sequência, litígios de massa, se há uma sensação de que determinado tratado vai 
gerar muitos litígios, é melhor ter um tribunal ou então uma solução mista (adotada por órgãos quase 
judiciais, mas com uma permanência prolatada no tempo. 
Por exemplo, uma Comissão Mista de Reclamação. Aconteceu, por exemplo, depois da queda do Reza 
Shah Pahlavi no Irã, em 1979, na chamada revolução islâmica, quando ocorreram milhares de 
problemas envolvendo o Irã e EUA. Foram alguns problemas graves de empresas norte-americanas que 
perderam dinheiro no Irã e outros casos banais. Houve um precedente em que um norte-americano 
correu para o aeroporto para voltar para os EUA e o funcionário da empresa aérea pediu propina. Ele 
então pagou a propina e embarcou. Quando os EUA e o Irão, nos anos 80, entraram em um mínimo de 
acordo para tentar resolver as suas questões (os EUA haviam congelado os haveres do governo iraniano 
em bancos norte-americanos), montaram uma comissão mista de reclamações. Eram dois árbitros, um 
de cada lado e esses dois árbitros indicavam o terceiro. Tudo era resolvido no “dois ou um” sempre. 
Mas nesse caso foi unanimidade, porque quando o Executivo quis cobrar do governo iraniano à propina, 
 
 
 
 
 
14 
entendeu-se que era um ato de particular, não imputado ao governo iraniano. Pelo menos isso o 
governo iraniano não teve que indenizar. 
Então, a arbitragem não é ideal para litígios em sequência, litígios de massa, e não é ideal para gerar 
uma segurança jurídica ao longo do tempo. Por isso as críticas envolvendo o MERCOSUL. 
E aqui vamos ver a determinação coletiva da responsabilidade, que favoreceu muito à gramática dos 
direitos. Relativamente àquela parte introdutória de atos imputados ao Estado, temos as chamadas 
excludentes de responsabilidade, que são aferidas em uma gramática de Direitos, não por critérios 
políticos. Quais são as excludentes de responsabilidade? 
Como já mencionado, temos o caso fortuito e a força maior. O Direito internacional trata igualmente os 
eventos imprevisíveis ou os eventos previsíveis, porem irresistíveis, que rompem o nexo causal. Temos 
também a legítima defesa, que rompe a ilicitude do fato. 
A legítima defesa é uma conduta lícita. Também o estado de necessidade é lícito, porém exige 
indenização, reparação dos danos. 
E temos também a ausência de imputação do ato ao Estado. Aqui está muitoda defesa brasileira nos 
casos de responsabilidade internacional por violação de Direitos Humanos. Hoje temos cerca de 200 
casos contra o Brasil na comissão interamericana. O Brasil sempre alega que esses atos não são atos 
imputáveis ao Brasil. 
Nesse ponto, atenção, ato de particular pode sim gerar a responsabilização do Estado (dever de 
prevenção e reparação). 
E quanto ao ato do Poder público, temos que lembrar que o Estado é uno, não cabe ao Estado alegar, 
portanto, separação de poderes, federalismo, coisa julgada. Isso tudo é absolutamente pacífico no 
Direito internacional. No caso Gomes Lund o Estado brasileiro tentou essas alegações e só ganhou 
experiência. Não adianta também alegar que o ato é imputado ao governo do maranhão, por exemplo, 
porque o Estado é uno perante o Direito internacional. Não pode também o Estado alegar, na defesa de 
um ato do Judiciário, que o Judiciário é independente, alegar separação de poderes. Isso não é uma 
quebra de imputação reconhecida como legítima. 
EXTRA 
Gomes Lund e outros (Caso Guerrilha do Araguaia: procedência) 
A Corte determinou que o Estado realizasse uma série de medidas para reparação dos danos causados, 
dentre elas promover todos os esforços para determinar o paradeiro das pessoas desaparecidas e ainda 
investigar, processar e punir, no foro criminal comum (e não na justiça militar), os responsáveis pelas 
 
 
 
 
 
15 
graves violações de direitos humanos na ditadura militar. A Corte declarou a anistia aos agentes da 
ditadura militar incompatível com a Convenção. 
O julgamento da Corte representou importante contribuição no tratamento do caso de 
desaparecimento forçado de pessoas em período de regime militar, em benefício dos familiares dos 
desaparecidos. Novamente, a Corte IDH enfatizou o direito à justiça e à verdade, exigindo punições 
penais aos violadores de direitos humanos. Também enfatizou que o controle de convencionalidade 
internacional deve ser respeitado, tendo considerado inconvencional a Lei da Anistia. 
 
3.4. Responsabilidade e seus tipos 
 
Temos a Responsabilidade por culpa objetiva e absoluta. 
 
O que é a responsabilidade por culpa? 
É aquela na qual se investiga como elemento da responsabilidade, o estado anímico do agente. 
 
E quanto à responsabilidade objetiva? 
Quando vimos os elementos da responsabilidade internacional, não falamos do estado anímico do 
agente. Em geral a responsabilidade internacional do Estado é objetiva, NÃO precisa investigar o 
estado anímico do agente. Além disso, a partir da responsabilidade objetiva os Estados devem 
indenizar os prejuízos eventualmente causados por suas ações e omissões, ainda que para tais danos 
não tenham concorrido 
Coisa diferente é o termo “responsabilidade internacional absoluta”, que é aquela que não permite 
alegação de excludente. Mesmo ocorrendo força maior ou caso fortuito, o Estado tem que reparar. É 
muito raro e só é aceita nos fatos considerados extremamente perigosos. Temos aqui a 
responsabilidade do Estado lançador de objetos para a exploração do espaço, ele responde com base 
na responsabilidade internacional absoluta. O Estado não pode alegar caso fortuito e força maior se um 
satélite cai na terra e causa danos, justamente porque é uma atividade intrinsecamente perigosa, com 
inúmeras variáveis. O Estado sempre vai responder nesses casos. 
Eu entendo que o direito internacional do meio ambiente caminha para a responsabilidade 
internacional absoluta. No Brasil nós costumamos dizer que quem tem o bônus arca com o ônus. Então, 
 
 
 
 
 
16 
quem tem o bônus de energia nuclear, por exemplo, nem se existir um raio em céu azul que faça a 
usina explodir, ficará o Estado isento de responsabilidade. 
 
Como caiu em prova: 
QUESTÃO CESPE AGU (2004): O regime jurídico preponderante no sistema internacional de 
responsabilidade por danos ambientais, previsto nas principais convenções internacionais relativas ao 
tema, é o da responsabilidade objetiva. 
Certo. 
QUESTÃO CESPE: Entre os danos ambientais transfronteiriços, apenas aqueles causados por atividades 
de risco proibidas pelo direito internacional geram para as vítimas direito de reparação dos prejuízos. 
Errado. A resp. é objetiva. 
 
3.5 Reparação 
Diante do dano causado pelo ato ilícito, o Estado ou a organização internacional que tenha violado 
norma internacional deve oferecer a reparação correspondente ao ente estatal ou ao organismo 
prejudicado. 
Sendo assim, a reparação consiste no conjunto de medidas adotadas para eliminar as consequências 
oriundas da violação prévia da norma internacional. Temos aqui uma série de medidas capazes de 
eliminar os efeitos deletérios oriundos da violação da norma internacional. 
A reparação pode ou não ter expressão econômica. Em qualquer caso, a reparação deve corresponder à 
natureza da lesão e a seus efeitos e é, normalmente, compensatória e de natureza não-punitiva. 
O ente responsável pela reparação é o ESTADO SOBERANO ou organismo internacional, cabendo a 
estes exercer o direito de regresso contra o agente que deu causa a reparação. 
 
Como caiu em prova: 
QUESTÃO TRF 5ª: A responsabilidade internacional enseja a reparação de danos tanto da parte do 
agente causador quanto da parte do Estado do qual esse agente se origine. 
 
COMENTÁRIO: Errada. O agente não responde diretamente pelo ilícito internacional. A 
responsabilidade é do Estado Soberano ou da OI. 
 
 
 
 
 
 
17 
Vamos quais são as espécies de reparação. Cada caso merece uma resposta reparatória diferente: 
 
Restituição na íntegra: 
Consiste no retorno ao status quo ante. Retorno à situação anterior ao descumprimento da norma. 
Sem dúvida essa é a melhor forma reparatória, porque coloca o Estado lesado e o Estado infrator na 
mesma situação anterior. 
Porém, há casos em que não há como retornar ao status quo ante, é a chamada impossibilidade 
material. O Direito internacional não aceita a impossibilidade jurídica, só aceita a impossibilidade 
material. Não pode o Estado, por exemplo, alegar que não pode soltar uma pessoa porque há um 
trânsito em julgado, ou seja, uma impossibilidade jurídica. 
 
E se existir impossibilidade material? 
Nesse caso tudo bem. Por exemplo, como restituir uma violação ao direito à vida? Não tem jeito. 
Nesses casos teremos que ver outras formas reparatórias. 
 
Cessação do ilícito: 
Não precisa dizer que a cessação do ilícito também é uma maneira de restituição na íntegra. A 
jurisprudência internacional, todavia, separa a restituição na íntegra da cessação do ilícito, as tratando 
como espécies reparatórias distintas. 
A terceira forma de reparação é a satisfação. 
 
Satisfação: 
O que é a satisfação? A satisfação consiste no conjunto de medidas reparatórias, em geral, associadas à 
reparação do dano imaterial. Então, a satisfação está associada ao pedido de desculpas, abarca 
também obrigações de fazer e não fazer e as somas nominais e punitivas (punitive damage). 
Uma das medidas de satisfação mais comum à reparação ao dano imaterial, por exemplo, é o pedido de 
desculpas, que talvez seja o mais comum (mais comum do que a indenização, inclusive). 
Outro ponto importante é que temos diversas obrigações de fazer e não fazer. Além do pedido de 
desculpas, há a saudação à bandeira, há a publicação da sentença em um periódico de alcance nacional, 
dentre outras medidas. 
 
 
 
 
 
18 
Então, a satisfação é tudo aquilo que a prática internacional determina, é quase residual. Inicialmente, a 
satisfação é apenas para reparar o dano imaterial. 
 
Indenização: 
A indenização é a compensação dos danos causados pelo pagamento de uma quantia em pecúnia. Essa 
indenização também é por danos morais. Então, tem danos materiais e danos morais. 
 
Garantias contra a não repetição, dever de investigar e punir: 
Esse dever acaba ingressando na teoria das reparações pelas mãos da satisfação. Mas elas ganhamtanta importância (especialmente na jurisprudência da corte interamericana e corte europeia de 
direitos humanos), que hoje ela é estudada como garantia de não repetição. 
Então, entende-se que investigar e punir previne por que dissuade. A impunidade é um fator 
criminógeno conhecido. Desde Beccaria se entende que não importa se a Lei é muito dura, o que 
importa é se ela é cumprida. É importante que se dê instrumentação para que haja o combate à 
impunidade. Termos mais leis penais sem investigação não é um inibidor da criminalidade. 
Então, a investigação e a punição evitam novas violações de direitos humanos. 
O direito internacional penal e o direito internacional de Direitos Humanos têm uma essência 
punitivista. Ele tem uma fé (que alguns entendem que é ingênua) no Direito penal no fator de 
dissuasão. E o movimento de Direitos Humanos no Brasil reproduz isso também. Cada movimento novo, 
cada Lei nova no congresso é acompanhada de uma disposição penal. 
 
Sanção: 
A sanção consiste no conjunto de medidas que serve para COAGIR o Estado infrator a reparar os danos 
causados. Então, a sanção é uma medida instrumental, ela não é vingança. O Kelsen tem uma obra 
“princípios de Direito internacional” em que ele fala que a sanção é vingança, mas não é isso. Na 
verdade, a sanção visa coagir o Estado infrator. Ele vai receber tanta sanção que vai finalmente cumprir 
a reparação acordada. 
Temos sanções unilaterais e sanções coletivas, bem como as sanções morais, também chamadas de 
mobilização da vergonha (blame in shame, ou seja, acusar e envergonhar). As sanções também podem 
ser armadas, políticas e econômicas. 
 
 
 
 
 
 
19 
Sanção x retorsão: 
É importante diferenciarmos a sanção da retorsão. 
Apesar de alguns autores colocarem a retorsão como sanção, a doutrina mais contemporânea entende 
que não é sanção, porque a sanção é uma medida de coerção, mas caracterizada por um caráter 
inicialmente ilícito. 
A sanção é um conjunto de medidas inicialmente ilícitas, mas que perdem a ilicitude porque é reação à 
conduta ilícita anterior por parte do Estado alvo. 
A retorção, por outro lado, é uma medida lícita, adotada claramente em reação a uma conduta anterior 
que o Estado não concorda. 
Accioly destaca que a retorsão “inspira-se no princípio da reciprocidade e no respeito mútuo, que toda 
nação deve ter para com as demais. Não é ato de injustiça, nem violação de Direito; mas, também, não 
pretende ser punição”. 
Alguns anos atrás, os brasileiros para entrarem nos Estados Unidos precisavam ser identificados, isso 
era uma medida de segurança para evitar entrada de terroristas. O Brasil, devido ao constrangimento 
causado aos brasileiros, retribuiu da mesma forma, fazendo com que os Americanos quando chegassem 
ao país fossem identificados também. 
Qual é a retorsão mais evidente? Fechar a embaixada. Não é ilícito. O Estado não é obrigado a ter 
relacionamento diplomático com todos os estados do mundo. Seria o caso de fechar a embaixada, por 
exemplo, em reação a determinado comportamento descortês do Estado. Pode haver o chamamento 
do embaixador, a retirada do pessoal diplomático, a suspensão das relações diplomáticas e até mesmo 
a ruptura das relações diplomáticas. Pode decorrer também de um comportamento ilícito do Estado, 
quando se entender que não é o caso de aplicar uma medida mais drástica (sanção). 
Claro que podemos pensar em sanção em SENTIDO AMPLO para abarcar as sanções em sentido estrito, 
as retorsões e inclusive as sanções morais (mobilização da vergonha, acesso a mídia internacional, etc.). 
Mas, sanção em sentido estrito são as medidas de coerção. 
 
Sanções unilaterais: 
As sanções unilaterais sofrem o mesmo problema do iudex in causa sua. Eu entendo que a sanção 
unilateral pode levar também à guerra de sanção, bastando que o Estado vítima da sanção não aceite a 
responsabilização. Se isso acontecer ele pode sancionar o Estado adversário, gerando uma guerra de 
sanção. 
 
 
 
 
 
20 
 
Como caiu em prova: 
Ministério Público Federal – 26º CPR – 2012: São formas de reparação do dano como decorrência 
da responsabilidade internacional do Estado: 
(A) a persecução penal obrigatória, a indenização e a garantia de não repetição; 
(B) a cessação da violação continuada, a satisfação e a persecução penal obrigatória; 
(C) a garantia de não repetição, a restituição e a persecução penal obrigatória; 
(D) a restituição, a indenização e a satisfação. 
 
COMENTÁRIOS: A questão exige do candidato o conhecimento das formas de reparação do dano a 
cargo do Estado responsável pelo cometimento de um ilícito internacional. A resposta correta à 
questão se encontra na assertiva D, haja vista que a restituição, a indenização e a satisfação são de 
fato as três hipóteses de reparação do dano por um ato ilícito internacional. 
Como visto, a restituição representa o dever do Estado violador de restabelecer o status quo ante, 
ou seja, de recompor o estado de fato antes da conduta tida por ilícita (p. ex., a redefinição de 
fronteiras). 
A indenização, por sua vez, terá lugar quando não for possível obter-se a restituição e também 
para o reparo às formas imateriais de dano. 
Por fim, a satisfação representa a modalidade de reparação em que o Estado violador reconhece 
publicamente a falta cometida, manifesta arrependimento pelo ato ou pede desculpas pelo ilícito 
cometido. 
Relativamente às demais assertivas (A, B e C), a incorreção está na indicação da “persecução penal 
obrigatória” como modalidade de reparação pelo ato ilícito. Com efeito, um ilícito internacional, 
na maior parte das vezes, não virá atrelado a uma conduta criminosa praticada pelos 
representantes de um determinado Estado, pois em grande medida os ilícitos internacionais são 
de ordem comercial, ambiental ou política. 
 
Já falamos então do conceito de sanção, já falamos que há a sanção em sentido amplo, retorsão e 
sanção moral (ou publicidade negativa). 
 
O que significa o termo contramedida? 
 
 
 
 
 
21 
A contramedida é a sanção em sentido estrito, de caráter individual. 
Também chamada de represália, significa a faculdade de um Estado vítima de um ato ilícito 
internacional tomar medidas contra o Estado infrator que, se não fosse a infração cometida, seriam por 
si só ilícitas perante o direito internacional. 
Em outras palavras, a contramedida equivaleria a um ato praticado em legítima defesa ou estado de 
necessidade, haja vista que um específico contexto retira a ilicitude de uma ação de represália que, em 
situações de normalidade, seria ilícita. 
Não se usa esse nome para sanção coletiva. A Sanção coletiva veremos em seguida. 
O grande problema da ausência de um tratado internacional sobre a responsabilidade internacional não 
está somente na teoria geral da responsabilidade, mas nas sanções. É fácil o consenso dos Estados em 
relação a teoria geral, mas é difícil em relação as sanções. As sanções são um problema em virtude do 
poder dos estados mais centrais. Há uma assimetria muito grande. Os estados centrais, estados 
protagonistas da cena internacional podem impor sanções individuais, mas eles não querem restrições. 
A prática internacional, entretanto, criou requisitos para as contramedidas. 
Antes de serem adotadas, as contramedidas exigem: 
Chamamento anterior à solução pacífica de controvérsias. Caso seja inviável a solução pacífica de 
controvérsias, parte-se para a contramedida e aqui há que se observar a proporcionalidade. Há muitos 
casos de arbitragem em que o Estado que emitiu as contramedidas foi condenado, porque adotou 
medidas desproporcionais. 
Há proibição do uso da força armada. 
Assim, o dever legal dos Estados de não utilizar a força para solucionar suas controvérsias é visto em 
diversos diplomas normativos internacionais no pós-45. Cite-se, por exemplo, a Resolução n. 188 de 
1964 do Conselho de Segurança, que condenou o uso de contramedidas armadas.Da Assembleia Geral 
da ONU cite-se a edição da Declaração dos Princípios de Direito Internacional relativos às relações 
amistosas e a cooperação entre os Estados, na qual foi proclamado que (Princípio I) os Estados não 
devem recorrer às sanções (contramedidas) envolvendo o uso da força. 
Há, ainda, a exigência do respeito aos direitos fundamentais. Isso esbarra na questão das sanções 
inteligentes, ou seja, não se pode, nas sanções, constranger aquele que é inocente. É o respeito aos 
direitos fundamentais. Esse é um tema delicado, porque muitas vezes é quase impossível ter uma 
sanção inteligente que diferencie o culpado do inocente. 
Essa é uma discussão muito grande nos órgãos de defesas de direitos humanos, que especialmente nos 
casos de sanções a ditaduras (embargos aéreos, econômicos), que não haja dano, que não se provoque 
 
 
 
 
 
22 
fome. Esse foi o grande problema das sanções no Iraque. As sanções ao Iraque mataram crianças, 
porque houve dificuldade de acesso a medicamentos, por exemplo. 
Seguindo, existem algumas contramedidas que são proibidas pelo DIP, como o uso da força, a violação 
de normas de jus cogens, o afastamento de imunidades diplomáticas e consulares, dentre outras 
 
Como caiu em prova: 
QUESTÃO CESPE AGU (2010): O Estado B deslocou tropas e anunciou que invadiria, com o uso da 
força, o Estado C em um mês. Findo o período, o Estado B concretizou seu anúncio e anexou o 
território do Estado C ao seu. O Conselho de Segurança da ONU, em reunião extraordinária, impôs, 
então, embargo econômico ao Estado B. O Estado D, por considerar as medidas contra o Estado B 
ilícitas, declarou-se neutro no conflito e decidiu romper o embargo e praticar normalmente seu 
comércio exterior com B. 
Com base nessa situação hipotética, julgue os itens subsequentes. 
 
O embargo econômico imposto pelo Conselho de Segurança classifica-se como uma 
contramedida. 
 
COMENTÁRIOS: Contramedida, embora seja ilícita, é uma conduta que pode ser autorizada pelo 
direito internacional como forma de forçar o Estado violador a cumprir suas obrigações internacionais. 
Elas são muito usadas, por exemplo, no âmbito da OMC, quando o Estado perdedor não cumpre a 
sentença. Nesse contexto, o Estado vencedor frequentemente é autorizado a aplicar contramedidas 
para forçar o cumprimento da sentença. Existem algumas contramedidas que são proibidas pelo DIP, 
como o uso da força, a violação de normas de jus cogens, o afastamento de imunidades diplomáticas e 
consulares, dentre outras. Pode-se notar, portanto, que as contramedidas são aplicadas no plano 
horizontal, ou seja, entre Estados. Elas não têm natureza punitiva e devem ser proporcionais e 
reversíveis. 
No caso do embargo econômico imposto pelo Conselho de Segurança, trata-se de sanção Coletiva. As 
sanções só existem quando há relações verticais, como na situação entre um tribunal e um Estado. Elas 
possuem natureza punitiva e podem ocorrer quando são previstas em tratados celebrados pelos 
Estados. No caso da ONU, previu-se a possibilidade de aplicar sanções políticas, econômicas e militares, 
no âmbito do capítulo VII da Carta da ONU. Contramedida é uma excludente de ilicitude prevista no 
 
 
 
 
 
23 
Projeto da Comissão de Direito Internacional das Nações Unidas sobre Responsabilidade 
Internacional dos Estados. 
 
Sanções coletivas: 
As sanções coletivas são aquelas que são determinadas por organizações internacionais e por isso 
seriam qualitativamente superiores às sanções individuais, porque não da alçada do próprio Estado 
lesado. Combate à sanção coletiva o iudex in causa sua. 
Temos as sanções da ONU (conselho de segurança) e da OEA (sanções encaminhadas pelo conselho de 
representantes da OEA e aprovadas pela assembleia geral. A sanção coletiva pode ser de diversas 
espécies. 
Pode ser a sanção de não participação. 
Por exemplo, é a expulsão. O conselho da Europa pode expulsar um Estado que viole sistematicamente 
Direitos Humanos e não repare os danos, por exemplo, não cumpra as sentenças da corte europeia de 
Direitos Humanos. 
A OEA, por exemplo, pode suspender por maioria de 2/3 o Estado no qual houve ruptura do regime 
democrático. 
 Além dessas, são possíveis sanções econômicas. 
O conselho de segurança pode, inclusive, adotar a chamada SANÇÃO ARMADA, que do ponto de vista 
da SANÇÃO INDIVIDUAL só é possível na LEGÍTIMA DEFESA. E na SANÇÃO COLETIVA, atualmente, no 
mundo, só é possível quando autorizada pelo conselho de segurança. 
SANÇÃO ARMADA – POSSIBILIDADES: 
Na sanção individual: SÓ EM LEGÍTIMA DEFESA 
Na sanção coletiva: Só nos CASOS DE AUTORIZAÇÃO DO CONSELHO DE SEGURANÇA DA ONU 
 
E se, por exemplo, a Rússia agride a Polônia, que é membro da OTAN. A OTAN pode reagir contra a 
Rússia? Sim, mas no caso temos uma legitima defesa coletiva. 
A única organização que tem um mecanismo geral, amplo de defesa da paz, mesmo que o Estado 
agredido não seja membro, é a ONU. 
Dentre as sanções coletivas, temos medidas de comercio e temos o objetivo final da sanção, que é a 
coerção. A sanção é só uma coerção para que o faltoso cumpra suas obrigações, por exemplo, de 
reparação dos danos causados. 
 
 
 
 
 
24 
 
Como se implementa as sanções coletivas do conselho de segurança da ONU no Brasil? 
• Por edição de decreto presidencial, internalizando as resoluções vinculantes. 
• A internalização das medidas é um primeiro passo. Cada órgão, nas suas atribuições, 
deve cumprir o conteúdo das medidas propostas. Por exemplo, o congelamento de haveres – a 
AGU, representando a União, interpõe uma ação cautelar, visando o congelamento de haveres. 
Eventualmente se o conselho de segurança ordenasse, poderia haver uma ação principal para a 
perda da titularidade, para o confisco e eventual entrega ao conselho de segurança. 
 
4. RESPONSABILIDADE INDIRETA OU PROTEÇÃO DIPLOMÁTICA 
 
Alguns também chamam de responsabilidade por danos causados a estrangeiros. É um costume 
internacional, que dita que os estados são obrigados a cumprir um tratamento mínimo adequado aos 
estrangeiros, porventura, admitidos no seu território. 
Então, esse costume internacional foi forjado em virtude das movimentações, dos fluxos de pessoas 
(especialmente europeus) para países recém emancipados. Não era tão importante a proteção 
diplomática até o século XIX. Esse tema se tornou importante do século XIX em diante. 
 
Um indivíduo, prejudicado por uma violação do direito internacional, cometida por um ente estatal 
do qual não é nacional, pode pleitear reparação pelo dano sofrido? 
Em princípio, não é possível que uma pessoa, natural ou jurídica, solicite qualquer indenização no 
âmbito internacional, embora em geral possa acionar o próprio Judiciário do Estado que causou o dano. 
Entretanto, nada impede que o ente estatal de origem da vítima possa formular a outro Estado pedido 
de reparação em favor de seu nacional, configurando o instituto da PROTEÇÃO DIPLOMÁTICA, a qual, 
vale dizer, não tem qualquer relação com os privilégios e imunidades diplomáticos. De todo modo, a 
proteção só pode ser conferida se a nacionalidade do beneficiário for efetiva. 
Há uma quantidade absurda de precedentes internacionais sobre proteção diplomática, porém, essa 
somente ganha musculatura depois dos fluxos populacionais de europeus chegarem a estados 
independentes (e não mais às colônias). A proteção diplomática é um costume internacional, assim, 
temos que analisar os seus elementos com base na análise da prática internacional. 
 
 
 
 
 
25 
Primeiramente, tem-se que o Estado de acolhida NÃO TEM O DEVER DE ADMISSÃO. Nada no direito 
internacional que indique isso. Só há um caso hoje de dever de admissão, que é o caso do solicitante de 
refúgio. É o único caso em que o Brasil é obrigado a aceitar um estrangeiro. Imaginemos que um 
estrangeiro chega no aeroporto de Cumbica com documento falso e grite que é um refugiado, ele tem 
que ser aceitono território brasileiro, até que o CONARE (comitê nacional para os refugiados) delibere 
sobre a sua situação. E depois, se for o caso, cabe recurso ao ministro da justiça. 
Então, apesar de um Estado não ser obrigado a admitir um estrangeiro, caso o Estado venha a admiti-lo, 
esse Estado de acolhida é obrigado a oferecer um tratamento mínimo adequado (internacionalmente 
falando – standard internacional). 
 
E como é a mecânica da proteção diplomática? E quais são esses direitos? 
Temos aqui um costume internacional. Então, foi necessário o estudo de diversos precedentes 
internacionais: direito a vida, liberdade, igualdade, direito a não ser discriminado em razão da 
nacionalidade, devido processo legal etc. Há vários casos de violação da vida, maus tratos, de delonga 
etc. 
E o costume internacional se desenvolveu da seguinte maneira: 
Primeiro – requisito do esgotamento prévio dos recursos internos. Foi quase uma reação dos países 
alvo da proteção diplomática, que eram os países subdesenvolvidos. Eles conseguiram extorquir esse 
requisito de admissibilidade. O esgotamento prévio dos recursos internos consiste na exigência de 
provocação anterior do próprio Estado de acolhida, para que o dano seja reparado. O estrangeiro é 
obrigado a provocar primeiro o Estado de acolhida. Mas o que acaba ocorrendo é que o Estado de 
acolhida não decide, então, o esgotamento prévio dos recursos internos pode ser dispensado caso haja 
delonga. Há casos na justiça internacional de dispensa, porque não há como obter uma resposta do 
Poder judiciário de maneira mais célere. 
Basicamente esse é o grande requisito. 
Depois se analisa se a proteção diplomática vai ser ou não deferida. 
Houve alguns precedentes internacionais que exigiram ainda as “clean hands”, ou seja, a tentativa de 
evitar que o estrangeiro seja beneficiado por um comportamento malicioso dele mesmo. Por exemplo, 
ele mesmo se expôs, perdeu os bens, mas antes pagava propina. Então, isso visa evitar que a proteção 
diplomática seja concedida a pessoas que pelo seu comportamento, geraram aquela situação 
 
Pedido de endosso: 
 
 
 
 
 
26 
A proteção diplomática concretiza-se a partir do ENDOSSO, que é o ato pelo qual o ente estatal do qual 
o indivíduo ou entidade é nacional assume como sua a reclamação de particular contra outro Estado. O 
Estado concede a proteção diplomática, caso queira. Isso mostra que a proteção diplomática não é 
direito do indivíduo, mas do Estado. Ela é discricionária para o Estado. O Estado só pode conceder o 
endosso depois de comprovado o esgotamento dos recursos internos e, finalmente, se o solicitante for 
um nacional. 
 
A sua concessão requer o cumprimento de três condições, quais sejam: 
• Nacionalidade do prejudicado (que deve perdurar durante toda a demanda). 
• Esgotamento dos recursos internos (administrativos e judiciais); 
• Conduta correta do autor da reclamação. 
 
Então, a nacionalidade é indispensável para o deferimento do pedido de endosso. Isso mostra, para 
alguns, que a proteção diplomática é discriminatória, ela só se preocupa com o estrangeiro. A proteção 
diplomática é um instituto que consagra a nacionalidade como um tema internacional (a 
nacionalidade não é apenas um tema de direito constitucional, mas também de direito internacional). 
Tivemos o famoso caso da corte permanente de justiça internacional, o caso dos decretos de 
naturalização no Marrocos e na Tunísia, em 1912. Que caso é esse? A Inglaterra processou a França que 
havia editado decretos de naturalização nos seus protetorados de Marrocos e da Tunísia. Esses 
decretos naturalizavam os estrangeiros que não se manifestassem em sentido contrário. A ideia era 
naturalizar os ingleses que lá estivessem. E a França queria lançar raízes mais fortes no Marrocos e na 
Tunísia. A Inglaterra então pediu um parecer consultivo para que a corte permanente de justiça 
internacional analisasse esse caso. A França afirmou que não era um caso internacional. Nacionalidade 
seria, de acordo com a França, um tema doméstico. A corte disse que tema de direito internacional é 
sempre relativo. O direito internacional se expande tanto, que um tema que hoje pensamos ser um 
tema de direito interno, amanhã tem um tratado. Os direitos humanos hoje são temas extremamente 
locais, mas são também universais, e cada vez mais o Direito internacional se expande. O Canotilho fala 
que o Direito constitucional é um Direito mutilado. 
Então, temos a nacionalidade como fator central no regime jurídico da proteção diplomática. 
Ressalte-se que, dentre os requisitos indicados acima, temos o fato de que a pessoa não pode mudar 
sua nacionalidade após o fato que ensejou a reclamação, com fundamento no princípio de que a 
 
 
 
 
 
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demanda deve ser nacional desde a sua origem (a claim must be national in origin). Em outras 
palavras, a nacionalidade do beneficiário da proteção diplomática deve ser contínua, devendo o vínculo 
com o Estado que oferece essa proteção existir desde a ocorrência do dano e durante toda a demanda. 
A proteção diplomática vale dizer, não beneficia quem tiver contribuído para o ato ilícito, especialmente 
pela violação de normas internacionais ou internas. Além disso, a concessão da proteção NÃO É 
DIREITO DO NACIONAL, mas sim ATO DISCRICIONÁRIO do Estado. Em todo caso, ela pode ser oferecida 
independentemente de pedido do interessado. 
Uma vez concedido o endosso, o Estado assume a demanda como se fosse própria. Por esse motivo, 
inclusive, é que o conteúdo da reparação pertence, em princípio, ao ente estatal, embora possa ser 
repassado às pessoas protegidas, nos termos das normas cabíveis. 
 
Quais são os próximos passos? 
Se o Estado concede o endosso, transforma aquele caso de Direito interno em um caso internacional. 
Por isso, há vários casos da Corte Internacional de Justiça envolvendo Direito comercial, direito de 
propriedade intelectual. E como esses casos chegaram ao tribunal internacional? Por exemplo, o caso 
Brasil x França na corte permanente de justiça internacional, é um caso que envolveu reajuste em 
contrato de empréstimo, se o reajuste seria pelo franco ou por cláusula ouro. Ou seja, é uma questão 
de determinação da moeda a ser utilizada nos pagamentos. Esse caso típico de direito dos contratos foi 
submetido à corte permanente pela proteção diplomática. Os credores eram franceses e a França 
concedeu endosso, transformando aquele litígio em um litígio entre Brasil e França. 
Até hoje, tem no mínimo um caso por ano de proteção diplomática na Corte Internacional de Justiça. O 
litígio entre dois estados é solucionado por meios de solução de controvérsias. Só que, no século XIX, 
havia o uso legítimo da força. Nessa época, a proteção diplomática ficou associada ao uso abusivo da 
força, passou para a história como sendo cobrança de dívida pela força. E aí tivemos duas reações dos 
países latino-americanos. 
A primeira é a chamada “CLÁUSULA CALVO”. O que é a cláusula calvo? A cláusula Calvo consiste em 
uma cláusula prevista nos acordos celebrados por estrangeiros, nos quais o estrangeiro renuncia a 
proteção diplomática. Então, essa é uma cláusula de renúncia do direito à proteção diplomática. Ela é 
uma homenagem ao seu idealizador, que é o jurista argentino Carlos Calvo, doutrinador de Direito 
internacional do século XIX. 
 
 
 
 
 
28 
A cláusula Calvo não obteve repercussão, porque a jurisprudência arbitral entendia que essa cláusula 
seria ineficaz, porque o estrangeiro renunciava direito que não era dele, já que a proteção diplomática é 
um direito do Estado. 
 
Como caiu em prova: 
Ministério Público Federal – 25º CPR – 2011: A chamada “Cláusula Calvo” (assim designada em 
homenagem a jurista argentino), usual em contratos internacionais de concessão de Estados sul e 
centro-americanos com empresas estrangeiras, 
(A) estipula que os investimentos de empresas estrangeiras não poderão ser retiradosdo território do 
Estado que as contratar; 
(B) é o mesmo que cláusula de estabilização contratual; 
(C) visa a afastar o direito de outros Estados à proteção de seus nacionais e das empresas de sua 
nacionalidade em tudo que decorrer da aplicação do contrato; 
(D) visa a afastar pleitos de indenização por danos decorrentes de investimentos desvantajosos no 
âmbito do contrato. 
 
COMENTÁRIOS: A Cláusula Calvo surge no século XIX como criação do Ministro das Relações Exteriores 
da Argentina, Carlos Calvo, com o deliberado objetivo de afastar o recurso à proteção diplomática em 
determinados casos. Inserindo-a no mais das vezes em contratos firmados entre governos da América 
Latina e empresas estrangeiras, referida cláusula visava a afastar de eventuais contendas comerciais a 
intervenção de Estados com viés imperialista que poderiam criar embaraços aos Estados contratantes, 
no caso de estes tomarem medidas que desagradassem os investidores estrangeiros. Ao restringir 
eventuais questionamentos exclusivamente à ordem jurídica interna dos Estados contratantes, a 
Cláusula Calvo deu azo a contundentes críticas mundo afora, haja vista que, em essência, visava à 
renúncia de um direito que não era titularizado pelo particular, uma vez que a proteção diplomática é 
instrumento de manejo exclusivo do Estado do qual o particular é nacional, e que pode ser acionada 
até mesmo contra a vontade deste. 
Com base nessa definição, fica patente que a resposta correta à questão se encontra na assertiva C, 
pois a Cláusula Calvo de fato “visa a afastar o direito de outros Estados à proteção de seus nacionais e 
das empresas de sua nacionalidade em tudo que decorrer da aplicação do contrato”. 
 
 
 
 
 
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Cabe pontuar, relativamente à assertiva B, o que vem a ser a chamada cláusula de estabilização, 
referida na questão e que consta também no regulamento do concurso. Se a Cláusula Calvo é um 
instrumento para proteger os Estados contratantes de disputas com outros Estados que porventura 
quisessem proteger seus nacionais, a CLÁUSULA DE ESTABILIZAÇÃO visa justamente o oposto, ou seja, 
a proteção do particular/investidor em face do Estado contratante. Referida cláusula prevê a fixação 
(= congelamento) do regime jurídico na data da assinatura do contrato como aquele que regerá todos 
os desdobramentos da relação que será estabelecida a partir daquele momento, assegurando ao 
investidor mínima previsibilidade das normas a incidir sobre determinado contrato, “estabilizando”, 
assim, a relação entre o Estado e o investidor. 
 
O segundo instituto relacionado à proteção diplomática é a chamada DOUTRINA DRAGO. 
Foi uma doutrina consagrada na conferência de Haia de 1907, que diz que a cobrança de dívidas deve 
inicialmente ocorrer pelos meios pacíficos de controvérsia. Só depois de esgotados esses meios é que 
deve ser usada a força. 
 
Qual o vínculo entre a doutrina Drago e a cláusula Calvo? 
Ambos os institutos tentam restringir o uso da força. No caso da Cláusula Calvo se recusa a proteção 
diplomática e, no caso da doutrina Drago, exigindo uma solução pacífica de controvérsias antes.

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