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Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra 2ª Turma Teórica 
 
Direito Internacional Público I 
Casos Práticos Resolvidos 
 
1. Considere a seguinte hipótese: 
O Estado A e o Estado B concluíram, em 2016, uma convenção internacional destinada a prevenir a 
poluição e a regular a utilização conjunta do rio internacional x, que atravessa os respetivos territórios. 
Entretanto, em 2017, um terramoto de média intensidade provocou sérios danos na estrutura de uma 
fábrica de pesticidas e outros químicos, situada no território do Estado A, junto a uma das margens do rio 
x, o que originou um forte derrame de substâncias poluentes nas águas desse curso de água e, 
consequentemente, o incumprimento, por parte de A, do tratado de 2016. 
Dias mais tarde, eram já percetíveis os danos ambientais produzidos no Estado vizinho B. Confrontado 
com um pedido de reparação subsequente, A, invoca, porém, um estado de necessidade como 
circunstância exoneratória da sua responsabilidade. 
Pretendendo ver declarada a ilicitude do comportamento de A, B decide então intentar uma ação 
contenciosa no Tribunal Internacional de Justiça, ciente, no entanto, que, aquando da subscrição da 
cláusula facultativa de jurisdição obrigatória, A havia excluído os litígios relativos ao domínio fluvial do 
âmbito da sua aceitação da competência do Tribunal. 
Quid iuris, do ponto de vista da responsabilidade internacional do Estado e do funcionamento do Tribunal 
Internacional de Justiça? 
Estamos perante uma convenção internacional bilateral, isto é, um acordo celebrado entre o Estado A e o 
Estado B. 
A fim de tentar solucionar o caso apresentado há que ter em conta vários instrumentos normativos 
internacionais, nomeadamente: a Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados (CVT), o Projeto de Artigos 
sobre Responsabilidade Internacional do Estados da Comissão das Nações Unidas (“Draft Articles”) e o 
Estatuto do Tribunal Internacional de Justiça (ETIJ). 
Importa, desde logo, perceber se o Estado A pode invocar o “estado de necessidade”, no âmbito da 
responsabilidade internacional, como causa de exclusão da ilicitude, em virtude do não cumprimento do 
tratado celebrado em 2016, uma vez que, segundo a CVT, um dos princípios que rege as convenções 
internacionais é o princípio Pacta sunt servanda (art. 26.º CVT). 
Para se verificar responsabilidade internacional de um Estado têm que ser preenchidos os respetivos 
pressupostos, a saber: (1) prática de um facto internacionalmente ilícito (no caso vertente violação de uma 
obrigação internacional, em virtude de uma omissão – não cumprimento de uma convenção internacional) – 
art. 2.º dos “Draft Articles”; 2) nexo de imputação do facto ao Estado; (3) ocorrência de danos (materiais ou 
morais); (4) nexo de causalidade entre o comportamento e os danos. Houve, efetivamente, a violação de 
uma obrigação internacional de origem pactícia (art. 12.º dos “Draft Articles”). 
O Estado A invoca o “estado de necessidade” (uma das causas de exclusão da ilicitude previstas nos “Draft 
Articles” – art. 25.º). Não parece, contudo, que estejam preenchidos os requisitos para a invocação desta 
Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra 2ª Turma Teórica 
 
causa de exclusão da ilicitude, na medida em que, contrariamente ao disposto nesse preceito, a invocação 
desse “estado de necessidade” afecta gravemente o Estado B, em virtude do não cumprimento da 
convenção celebrada em 2016. Ou seja, a situação apresentada não preenche os requisitos previstos no art. 
25.º para a invocação dessa causa de exclusão da ilicitude. O Estado A deveria ter invocado uma outra causa 
de exclusão da ilicitude, prevista nos “Draft Articles” – a “força maior” (art. 23.º). Com efeito, dispõe essa 
norma que “A ilicitude de um ato de um Estado em desacordo com uma obrigação internacional daquele 
Estado será excluída se o ato se der em razão de força maior, entendida com a ocorrência de uma força 
irresistível ou de um acontecimento imprevisível, além do controle do Estado, tornando materialmente 
impossível, nesta circunstância, a realização da obrigação”. Foi o que, nesta particular situação, se verificou. 
Relativamente ao funcionamento do Tribunal Internacional de Justiça, o artigo 34º do ETIJ confere 
legitimidade ativa e passiva a Estados no exercício da competência contenciosa do tribunal. Por isso, há 
legitimidade das partes. É, ainda, referido no enunciado que, aquando da subscrição da cláusula facultativa 
de jurisdição obrigatória (art. 36.º ETIJ), o Estado A havia excluído “os litígios relativos ao domínio fluvial”. 
Poder-se-á questionar se, efetivamente, o caso configura um litígio relativo ao domínio fluvial. Não parece 
que a resposta seja afirmativa. Nesse sentido, o tribunal é competente para decidir. No entanto, se se 
entendesse que se tratava de uma situação em que o tribunal era incompetente estar-se-ia perante um 
incidente processual, que poderia ser suscitado ex officio pelo Tribunal. Tratar-se-ia de uma exceção 
preliminar, consubstanciada na (in)competência do Tribunal para julgar esta causa. 
 
2. O Estado A e o Estado B concluíram, em 2015, uma convenção internacional na que estabeleceram os 
termos e as condições da construção de um túnel, com a extensão de 10 Km, destinado a ligar os 
respetivos territórios, na zona montanhosa X. 
Dois anos após o início dos trabalhos, B pretende que seja anulado o referido tratado, alegando que, 
durante as negociações conducentes à sua conclusão, o representante oficial de A, ocultou do seu 
homólogo, plenipotenciário de B, um estudo técnico que desaconselhava a localização escolhida para o 
aludido túnel, porquanto as formações rochosas aí detetadas fariam disparar os custos estimados da sua 
construção, na parte de que ficara incumbido o Estado B. 
Mais aduz B que o tratado foi ratificado pelo seu Chefe de Estado, após haver sido aprovado pelo órgão 
parlamentar nacional sem que tenham sido cumpridos todos os requisitos formais constitucionalmente 
previstos. 
A, por seu turno, sustenta não assistir qualquer razão a B e que, de qualquer forma, já expirou o prazo 
para arguir a invalidade da convenção concluída em 2015. 
Quid iuris, do ponto de vista da validade das convenções internacionais? 
As convenções internacionais possuem três requisitos de validade, a saber: capacidade das partes, 
regularidade do consentimento e licitude do objeto. 
No que respeita à capacidade das partes, não parece levantarem-se quaisquer problemas, uma vez que 
estamos perante dois Estados – e como tal sujeitos de DIP – tendo, ao que se presume, havido 
Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra 2ª Turma Teórica 
 
representação adequada (cfr., art. 7.º CVT). Relativamente ao objeto, também parece que não se levantam 
problemas, uma vez que é lícito um acordo entredois Estados para a construção de um túnel. 
O mesmo já não pode ser afirmado no que toca à regularidade do consentimento, uma vez que, do 
enunciado, resultam dois vícios, um de natureza material e outro de cariz formal. 
Relativamente a este último, diga-se que, como regra, nos termos do art. 27.º da CVT, “Uma Parte não pode 
invocar as disposições do seu direito interno para justificar o incumprimento de um tratado”. Esta regra 
pode ser excecionada se “essa violação tiver sido manifesta e disser respeito a uma norma de importância 
fundamental do seu direito interno” (art. 46.º CVT). Ou seja, à partida uma irregularidade formal de direito 
interno não pode ser invocada no plano internacional. Ora, no enunciado afirma-se que “o tratado foi 
ratificado pelo seu Chefe de Estado, após haver sido aprovado pelo órgão parlamentar nacional sem que 
tenham sido cumpridos todos os requisitos formais constitucionalmente previstos”. Assim, parece não haver 
lugar à possibilidade de aplicação do disposto no art. 46.º da CVT. Caso diverso seria se se afirmasse que o 
tratado haviasido ratificado sem ter havido o acto de aprovação, caso em que se verifica o que no direito 
internacional se designa por “ratificação imperfeita”. 
Quanto ao vício de natureza material – vício do consentimento – a situação apresentada parece indiciar a 
existência de dolo (art. 49.º CVT). Com efeito, diz-se que “durante as negociações…o representante oficial de 
A, ocultou do seu homólogo…um estudo técnico que desaconselhava a localização escolhida para o aludido 
túnel, porquanto as formações rochosas aí detetadas fariam disparar os custos estimados da sua construção, 
na parte de que ficara incumbido o Estado B”, isto é, a ocultação do citado estudo assentou numa atitude 
fraudulenta de A que, assim, conseguiu a celebração do tratado com claras vantagens económicas para o seu 
Estado, em detrimento de B, ou seja, com a clara intenção de enganar a contraparte. O dolo gera a nulidade 
relativa da Convenção Internacional. 
Nestes termos, só a parte vítima pode invocar o vício (o que no caso se verifica); sendo possível a sanação 
(expressa ou tácita) deste vício (art. 45.º CVT) e a divisibilidade extintiva das disposições do tratado (art. 
44.º/2 a 4 CVT). 
No que respeita ao prazo, não assiste razão a A, uma vez que, contrariamente ao regime geral da 
anulabilidade (ao qual se poderia equivaler a nulidade relativa), não há qualquer prazo de caducidade para 
as partes arguirem a invalidade. De resto, o regime previsto na CVT não é claro, nem totalmente equivalente 
ao regime geral das invalidades de direito interno. 
De qualquer modo, deve salientar-se que, neste caso em concreto, não é exequível a divisibilidade extintiva 
das disposições do tratado, uma vez que não se verificam os requisitos do art. 44.º/3 da CVT, e que, havendo 
já decorrido dois anos desde a celebração do tratado, o Estado B (desde que tenha tido conhecimento do 
dolo logo em 2015) perderia o direito de arguir a respetiva invalidade, em virtude da sanação tácita. 
 
3. O Estado A e o Estado B concluíram, em 2015, uma convenção internacional destinada a prevenir a 
poluição e a regular a utilização conjunta do rio internacional x, que atravessa os respetivos territórios. 
Entretanto, em 2016, forças rebeldes que atuam no Estado A e que pretendem derrubar as autoridades 
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oficiais de governo para ascender ao poder, bombardearam uma fábrica de pesticidas e outros químicos, 
situada junto a uma das margens do rio x, o que originou um forte derrame de substâncias poluentes nas 
águas desse curso de água e, consequentemente, o incumprimento, por parte de A, do tratado de 2015. 
Dias mais tarde, eram já percetíveis os danos ambientais produzidos no Estado vizinho B. Confrontado 
com um pedido de reparação subsequente, A, sustenta, porém, que não lhe pode ser assacada qualquer 
responsabilidade pela atuação de grupos rebeldes, que escapam ao seu controlo, pelo que a situação 
ocorrida deverá ser levada à conta de força maior ou caso fortuito (“an act of God”). 
Pretendendo ver declarada a ilicitude do comportamento de A, B decide então intentar uma ação 
contenciosa no Tribunal Internacional de Justiça, ciente, no entanto, que, aquando da subscrição da 
cláusula facultativa de jurisdição obrigatória, A havia excluído os litígios relativos a tratados internacionais 
do âmbito da sua aceitação da competência do Tribunal. 
Quid juris, do ponto de vista da responsabilidade internacional do Estado e do funcionamento do Tribunal 
Internacional de Justiça? 
A responsabilidade internacional do estado emerge da conjugação de dois pressupostos essenciais (ato ilícito 
e nexo de imputação – art.º 2 do Draft da CDI da ONU sobre Responsabilidade Internacional dos Estados – 
DRIE por atos ilícitos), acrescidos, para efeitos de reparação, dos pressupostos da ocorrência de danos e do 
nexo de casualidade – os quais, na resposta, devem ser analisados individualmente à luz do caso enunciado 
para perquirição da existência, ou não, da responsabilidade do Estado A. 
Relativamente ao primeiro requisito, de facto, o incumprimento, por A, da convenção internacional resta 
patente e não é sequer disputado. 
No que concerne ao nexo de imputação, para alem da eventual análise da incidência dos artigos 8º e 10º do 
DRIE, o incumprimento é imputável ao Estado A (uma vez que a obrigação era devida por A e este deixou de 
cumpri-la, respondendo por omissão). Os danos encontram-se igualmente configurados, colocando-se o 
problema quanto ao nexo de casualidade. 
Em defesa, A alega que não lhe pode ser assacada qualquer responsabilidade pela atuação de grupos 
rebeldes, que escapam ao seu controlo, pelo que a situação ocorrida devera ser levada à conta de força 
maior ou caso fortuito. O que, procedente, seria causa de rompimento do nexo de causalidade entre os 
danos sofridos e a conduta do Estado A. 
Assim sendo, deverão ser analisados argumentativamente à luz do caso concreto os requisitos no art.º 23 do 
DRIE para configuração de fortuito ou força maior. 
Apresentando-se argumentos robustos em prol da viabilidade da defesa à luz do art.º 23 do DRIE, A não 
poderá ser responsável civilmente no plano internacional; na hipótese de entender-se que os requisitos do 
art.º 23 não estão preenchidos no caso concreto, haverá nexo de casualidade e, portanto, a há 
responsabilidade internacional do Estado A. 
Relativamente ao funcionamento do TIJ, consoante o artigo 36 do ETIJ, é valida a exclusão realizada pelo 
Estado A dos litígios relativos a tratados internacionais do âmbito da sua aceitação da competência do 
tribunal (arts. 19 e ss. CVDT). 
Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra 2ª Turma Teórica 
 
Contudo, o caso submetido ao TIJ não estaria abarcado pela exclusão realizada por A, uma vez que versa não 
sobre tratados internacionais propriamente ditos, mas sobre responsabilidade internacional do Estado. 
Embora a CI celebrada entre A e B seja a fonte obrigatória alegadamente incumprida por A, a causa de pedir 
imediata ou próxima é a responsabilidade do Estado – e não a existência, validade, eficácia e interpretação 
da convenção. 
Portanto, o litígio em questão não se enquadra na exclusão material realizada por A aquando da subscrição 
da cláusula facultativa de jurisdição obrigatória, segundo a qual reconhece como obrigatória ipso facto e sem 
acordo especial a jurisdição do TIJ. 
 
4. Os Estados A e B celebraram, em 2014, uma convenção internacional, através da qual o Estado A se 
comprometia a reduzir em 40% os impostos e taxas de importação de produtos lácteos, proteínas bovinas 
e avícolas provenientes do Estado B, devendo este, em contrapartida, reduzir em 20% os impostos e taxas 
de importação de produtos informáticos e eletrónicos exportados por nacionais do Estado A. 
Entretanto, em 2015, o Estado A teve conhecimento de uma Convenção Internacional celebrada entre B e 
C, mediante a qual B se comprometia, relativamente aos mesmos produtos informáticos e eletrónicos, a 
reduzir em 40% os seus impostos e taxas de importação. 
Inconformado, A decide então suspender unilateralmente o cumprimento da convenção internacional 
celebrada com B, alegando que o representante de B, dolosamente, omitiu, aquando das respetivas 
negociações, a existência da referida convenção mais vantajosa, celebrada entre B e C. 
Em face disso, a empresa XPTO Informática S.A., nacional do Estado A e exportadora de produtos 
informáticos para o Estado B, intenta uma ação no Tribunal Internacional de Justiça para ver reconhecida 
a responsabilidade internacional do Estado B e, consequentemente, ser reembolsada pela diferença de 
20% de todos tributos de importação por si pagos a B. 
Quid juris, do ponto de vista da validade e efeitos das convenções internacionais, da responsabilidade 
internacional do Estado e do funcionamento do Tribunal Internacional de Justiça?A Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, em seu artigo 49º, consagra, como vício material de 
consentimento a ensejar a nulidade relativa das CI, o dolo, quando um Estado tenha sido induzido a concluir 
um tratado por conduta fraudulenta de um outro Estado que participou na negociação. 
Para tanto, deve estar demonstrada, no caso concreto, a intenção ou consciência de estar a induzir 
prejudicialmente a outra parte na formação da base essencial do seu convencimento e, assim, uma conduta, 
comissiva ou omissiva, fraudulenta (destinada a enganar/convencer/dissuadir, culminando numa 
representação inexata da realidade por parte do representante do Estado vítima). 
No caso enunciado, o Estado A alega que o representante de B, dolosamente, omitiu, aquando das 
negociações, a existência de uma convenção mais vantajosa celebrada entre B e C. Sucede que em sua 
vertente omissiva, a configuração de dolo depende da existência do dever jurídico de informar aquilo que, 
afinal, foi ocultado no curso das negociações, bem como da analise das circunstancias do caso para 
identificar-se, por diligencia normal, o Estado vítima sabia ou deveria saber a informação ocultada. 
Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra 2ª Turma Teórica 
 
Diante disso, não está configurado o dolo no caso concreto, uma vez que os Estados, normalmente, podem 
celebrar convenções internacionais com outros Estados e possuem ampla margem de discricionariedade 
para conferir maiores ou menores vantagens a uma ou outra contraparte, não se lhes impondo um dever de 
conceder tratamento idêntico entre os Estados (Estado A e C, neste caso), tampouco e em consequência, um 
dever jurídico de informar aos Estados com os quais negoceia a existência e termos de todas as convenções 
internacionais que tenha celebrado com os demais Estados. 
Ademais, o Estado A, ao negociar uma convenção sobre matéria de comércio internacional com B, deveria e 
tinha plenas condições de, no âmbito da diligência normal, informar-se sobre os demais tratados celebrados 
por B. 
Logo, o vicio não se encontra configurado, embora seja possível argumentar, no limite, que, na hipótese de 
ter o Estado A questionado diretamente a existência de outros tratados mais vantajosos para ponderar a 
necessidade ou não de incluir na convenção uma clausula de nação mais favorecida e ter recebido resposta 
negativa pelo representante de B, poderia colocar-se a nulidade relativa da convenção. 
Independentemente disso, com base no princípio da relatividade dos efeitos dos tratados (art.º 34 da CVDT) 
e não mencionando o enunciado a existência, na convenção celebrada entre A e B, de cláusula de nação 
mais favorecida – pelo contrário, a conduta de A indica a inexistência desta cláusula -, os termos da 
convenção celebrada entre B e C não podem ser aplicadas a A (e, assim, à empresa XPTO). 
Por conseguinte, não há fundamentos para configuração da responsabilidade internacional de B, que 
pressupõe a ocorrência de um ato ilícito imputável ao Estado cujos efeitos diretos e imediatos sejam danos a 
outrem, porquanto não foi praticado qualquer ato ilícito por B tampouco existem direitos a A ou a empresa 
XPTO de valer-se dos termos da convenção de que o Estado C é parte. 
Relativamente ao funcionamento do TIJ, o art.º 34 do ETIJ confere legitimação ativa e passiva somente a 
Estados no exercício da competência contenciosa do tribunal, resultando em que uma empresa não possua 
legitimidade para propor uma ação contenciosa no TIJ, razão pela qual, ex officio ou mediante uma exceção 
preliminar rationae personae suscitada por B, a ilegitimidade ativa de XPTO Informática S.A. deve ser 
reconhecida no caso concreto para extinguir a ação, absolvendo o réu da instância. 
 
5. A – Estado desenvolvido – e B – Estado em vias de desenvolvimento – concluíram, em 2012, uma 
convenção internacional destinada a regular o fornecimento a este último de tecnologia avançada na área 
da informática. 
1 - Subitamente, em 2014, B deixou de assegurar as contrapartidas financeiras a que se havia 
comprometido, alegando, para justificar esse incumprimento, uma situação económica particularmente 
difícil. Em resposta, A decidiu então não respeitar os termos de um “acordo de cavalheiros”, concluído 
entre representantes de ambos os Estados, em 2013, acerca da delimitação das respetivas zonas 
económicas exclusivas. 
2 - Entretanto, em 2015, B intentou contra A, no Tribunal Internacional de Justiça, uma ação contenciosa, 
sustentando que, durante as negociações conducentes à conclusão do referido tratado de 2012, o seu 
Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra 2ª Turma Teórica 
 
delegado oficial foi vítima de uma tentativa de corrupção por parte do seu homólogo, representante de A. 
3 - Logo no início do processo, porém, A alegou que, aquando da subscrição da cláusula facultativa de 
jurisdição obrigatória, havia excluído os conflitos relativos à interpretação de convenções internacionais 
do âmbito da sua declaração de aceitação da jurisdição do TIJ. 
Aprecie a situação acima descrita do ponto de vista da responsabilidade internacional (1), da validade das 
convenções internacionais (2) e do funcionamento do Tribunal Internacional de Justiça. 
Consoante o princípio da pacta sunt servanda, positivado no art. 26º da Convenção de Viena sobre o Direito 
dos Tratados – CVDT, as convenções internacionais válidas e eficazes são vinculativas e obrigatórias às 
partes, que, assim, têm o dever de executar e dar cumprimento aos seus termos. 
Diante disso, o incumprimento de uma obrigação convencionalmente estipulada ao nível internacional – in 
casu, a obrigação de o Estado B realizar contrapartidas financeiras em sinalagma ao fornecimento de 
tecnologia avançada na área da informática pelo Estado A – afigura-se, como regra, ilícito internacional. 
Assim sendo, e considerando que a responsabilidade internacional do Estado emerge da conjugação de dois 
pressupostos essenciais (ato ilícito e nexo de imputação – art. 2º do Draft da CDI da ONU sobre 
Responsabilidade Internacional dos Estados por atos ilícitos) que se encontram presentes no caso concreto, 
porque o ilícito (incumprimento de uma obrigação convencionalmente estipulada ao nível internacional) é 
imputável diretamente a órgãos representativos do Estado B, afigurando-se, ainda, presente na hipótese 
colocada um dano ao Estado A (cessação da receção de contrapartidas financeiras) derivado da conduta, em 
tese, ilícita de B, estaria configurada a responsabilidade internacional no caso concreto. 
Não obstante, o regime jurídico da execução das convenções internacionais prevê exceções ou mitigações ao 
princípio da pacta sunt servanda, justificando/legitimando incumprimentos de obrigações em determinados 
casos. Um deles, passível de, argumentativamente, a ser aplicado ao caso concreto, é o da impossibilidade 
superveniente de cumprimento por alteração fundamental das circunstâncias, regulamentado pelo art. 62º 
da CVDT. 
Além disso, no sistema de responsabilidade internacional, poder-se-ia argumentar a ocorrência de estado de 
necessidade a afastar a culpabilidade do Estado B no caso concreto (art. 25 do Draft da CDI), desde que 
preenchidas as respetivas condições. 
Em ambos os casos, o ônus argumentativo e probatório recairia sobre o Estado B. 
De qualquer modo, caso fosse possível prevalecer o argumento de B de que a convenção é inválida, cujo 
mérito se avaliará no ponto (2), não estaria obrigado a dar continuidade ao cumprimento da convenção, 
desvanecendo-se, portanto, nesta hipótese, a sua responsabilidade internacional. 
Relativamente à conduta do Estado A de, em resposta, não respeitar a delimitação das respetivas zonas 
económicas exclusivas, é preciso ter em conta que tal delimitação derivava de um “acordo de cavalheiros” – 
portanto, sem natureza vinculativa. 
Sendo assim, não configuraria ilícito para efeitos de responsabilidade internacional,já que nenhuma 
obrigação vinculativa de Direito Internacional foi violada (arts. 12 e 13 do Draft da CDI). Ausente a 
configuração de ato ilícito, não há fundamentos à aplicação do sistema de responsabilidade. 
Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra 2ª Turma Teórica 
 
Do ponto de vista da validade das convenções internacionais, o art. 50º da CVDT consagra como vício de 
consentimento a corrupção. 
No entanto, no caso concreto, a alegação do Estado B é de que houve a mera tentativa de corrupção de seu 
representante pelo Estado A, o que não é bastante para colocar em causa a validade da convenção, já que o 
art. 50º aplica-se somente quando há consumação do ato de corrupção, com o cumprimento de todas as 
condicionantes ali prescritas. 
Considerando que, no enunciado da questão, não há elementos para verificar a consumação do ato de 
corrupção, tampouco a existência de outros vícios que coloquem em causa a validade da convenção, não é 
possível afirmar que o diploma é inválido. 
O exercício da jurisdição em um caso concreto pelo Tribunal Internacional de Justiça depende, como regra, 
de acordo especial expresso e formal das partes, forum prorrogatum, cláusula compromissória ou, nos 
termos do art. 36º do Estatuto do TIJ, declaração unilateral dos Estados de que “reconhecem como 
obrigatória ipso facto e sem acordo especial, em relação a qualquer outro Estado que aceite a mesma 
obrigação, a jurisdição do Tribunal em todas as controvérsias jurídicas (…)”. 
In casu, extrai-se do enunciado que o Estado A assinou cláusula facultativa de jurisdição obrigatória do 
Tribunal, o que o colocaria, automaticamente, sujeito à jurisdição do Tribunal na hipótese de o Estado B 
também ser signatário de cláusula desta espécie – o que parece ser o caso, já que B intentou diretamente 
ação contenciosa contra A no TIJ. 
O Estado A, porém, argumenta que, aquando da subscrição da cláusula facultativa de jurisdição obrigatória, 
havia excluído os conflitos relativos à interpretação de convenções internacionais do âmbito da sua 
declaração de aceitação da jurisdição do TIJ. 
Sucede que o conflito colocado por B no TIJ refere à validade de uma convenção internacional, não à sua 
interpretação, desaplicando-se, assim, a exclusão (reserva material) operada por A relativamente à cláusula 
de jurisdição obrigatória. 
Logo, a cláusula de jurisdição obrigatória vincula A no que concerne a matérias de validade de convenções 
internacionais, submetendo-o forçosamente à apreciação e julgamento do TIJ no caso concreto. 
 
6. O Estado A concluiu com B uma convenção internacional destinada a evitar a Dupla Tributação 
Internacional de impostos sobre o rendimento. 
No primeiro ano após a sua entrada em vigor, a empresa X solicitou ao Estado A o abatimento 
proporcional do imposto sobre royalties já pago ao Estado B. 
A, porém, alegou que, aquando da negociação da referida convenção, o seu representante oficial não se 
dera conta de que o “imposto sobre royalties”, existente no ordenamento jurídico de B, era um imposto 
sobre o rendimento e, que, por esse facto, jamais pretendera incluir os respetivos créditos na 
compensação para evitar a dupla tributação. 
Em face do exposto, responda, fundamentadamente: 
a) Poderá o Estado A desvincular-se das obrigações assumidas na convenção celebrada com B? 
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Considerando que o representante oficial de A não sabia que o imposto sobre royalties era um imposto 
sobre o rendimento e jamais pretendera incluir os respetivos créditos no âmbito da compensação acordada 
na Convenção, configura-se erro (representação inexata da realidade que constituiu base essencial do 
consentimento do Estado A e que, diante das circunstâncias e natureza da matéria, é desculpável), nos 
termos e condições prescritas no art. 48º da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados (CVDT), o 
qual, como vício de consentimento, opera no plano da validade da Convenção, afastando, assim, ainda que 
em parte, a vinculação jurídica obrigatória positivada no art. 26º da CVDT. 
 
b) Poderá, de qualquer modo, continuar válida e eficaz a parte geral da convenção, referente aos 
princípios e boas práticas internacionais sobre tributação e combate à fraude e evasão fiscais? 
O erro enseja nulidade relativa da Convenção, permitindo, assim, a sua divisibilidade extintiva. Diversamente 
do que ocorre na presença dos demais vícios que integram o rol das nulidades relativas, esta divisibilidade, 
no erro, em que não se configura má-fé, é obrigatória – e não facultativa – quando preenchidos os requisitos 
arrolados no art. 44º da CVDT, tal como no caso enunciado, em que a parte geral da Convenção, ao se limitar 
a regular princípios e boas práticas internacionais sobre tributação e combate à fraude e evasão fiscais, é 
separável do resto do tratado, não constituiu base essencial do consentimento nem seria de execução 
injusta. 
 
c) Poderá a empresa X intentar uma ação contenciosa no Tribunal Internacional de Justiça contra o Estado 
A, visando o reconhecimento do alegado direito ao crédito do imposto sobre royalties pago a B? 
Não. Embora leituras contemporâneas do Direito Internacional Público passem já a admitir (em 
determinados tipos de relação e matérias) as empresas transnacionais como um dos sujeitos de direito 
internacional público, o art. 34º do ETIJ é inequívoco ao estipular que “Só os Estados poderão ser partes em 
causas perante o Tribunal”, atribuindo-se, portanto, exclusivamente aos Estados, legitimação ativa e passiva 
nas ações contenciosas julgadas pelo Tribunal. 
 
7. A e B são dois Estados vizinhos, que, em 2010, concluíram um tratado internacional prevendo a realização 
de um empreendimento conjunto. Tratava-se, em concreto, da construção de um sistema de represas no 
rio internacional X, com vista ao aproveitamento energético das respetivas águas. 
1- Em 2012, sem que nada o fizesse prever, B suspendeu os trabalhos a cuja execução se comprometera, 
justificando essa atitude com uma situação económica particularmente difícil e com a previsão de danos 
ambientais irreversíveis no seu território caso o projeto inicial fosse avante nos termos previstos na 
aludida convenção de 2010. 
2- Mais aduziu B que, de qualquer forma, durante as negociações o seu representante oficial fora objeto 
de uma tentativa de corrupção por parte do delegado governamental de A. 
3-Considerando que o comportamento de B constituía uma clara violação do direito internacional 
convencional, A intentou, em 2013, uma ação contenciosa no Tribunal Internacional de Justiça, sendo que, 
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durante a fase da instrução, solicitou ao Tribunal a imposição a B do dever de preservação dos meios de 
prova. 
Pronuncie-se sobre a situação acima descrita do ponto de vista da responsabilidade internacional (1), da 
validade das convenções internacionais (2) e do funcionamento do Tribunal Internacional de Justiça (3). 
A responsabilidade internacional do estado emerge da conjugação de dois pressupostos essenciais (ato ilícito 
e nexo de imputação – art.º 2 do Draft da CDI da ONU sobre Responsabilidade Internacional dos Estados – 
DRIE por atos ilícitos), acrescidos, para efeitos de reparação, dos pressupostos da ocorrência de danos e do 
nexo de casualidade – os quais, na resposta, devem ser analisados individualmente à luz do caso enunciado 
para perquirição da existência, ou não, da responsabilidade do Estado B. 
Relativamente ao primeiro requisito, de facto, o incumprimento, por B, da convenção internacional resta 
patente e não é sequer disputado. 
No que concerne ao nexo de imputação, para alem da eventual análise da incidência dos artigos 8º e 10º do 
DRIE, o incumprimento é imputável ao Estado B (uma vez que a obrigação era devida por B e este deixou de 
cumpri-la,respondendo por omissão). Os danos encontram-se igualmente configurados, colocando-se o 
problema quanto ao nexo de casualidade. 
Importa, desde logo, perceber se o Estado B pode invocar o “estado de necessidade” no âmbito da 
responsabilidade internacional, como causa de exclusão da ilicitude, em virtude do não cumprimento do 
tratado celebrado em 2010, uma vez que, segundo a CVT, um dos princípios que rege as convenções 
internacionais é o princípio da pacta sunt servenda (art.º 26 da CVT). 
O Estado B invoca o “estado de necessidade (uma das causas de exclusão da ilicitude previstas nos “Draft 
Articles” – art.º 25). Não parece, contudo, que estejam preenchidos os requisitos para a invocação desta 
causa de exclusão da ilicitude, na medida em que, contrariamente ao disposto nesse preceito, a invocação 
desse “estado de necessidade” afecta gravemente o Estado B, em virtude do não cumprimento da 
convenção celebrada em 2010. Ou seja, a situação apresentada não preenche os requisitos previstos no art. 
25.º para a invocação dessa causa de exclusão da ilicitude. 
Do ponto de vista da validade das convenções internacionais, o art. 50º da CVDT consagra como vício de 
consentimento a corrupção. 
No entanto, no caso concreto, a alegação do Estado B é de que houve a mera tentativa de corrupção de seu 
representante pelo Estado A, o que não é bastante para colocar em causa a validade da convenção, já que o 
art. 50º aplica-se somente quando há consumação do ato de corrupção, com o cumprimento de todas as 
condicionantes ali prescritas. 
Considerando que, no enunciado da questão, não há elementos para verificar a consumação do ato de 
corrupção, tampouco a existência de outros vícios que coloquem em causa a validade da convenção, não é 
possível afirmar que o diploma é inválido. 
O exercício da jurisdição em um caso concreto pelo Tribunal Internacional de Justiça depende, como regra, 
de acordo especial expresso e formal das partes, forum prorrogatum, cláusula compromissória ou, nos 
termos do art. 36º do Estatuto do TIJ, declaração unilateral dos Estados de que “reconhecem como 
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obrigatória ipso facto e sem acordo especial, em relação a qualquer outro Estado que aceite a mesma 
obrigação, a jurisdição do Tribunal em todas as controvérsias jurídicas (…)”. 
In casu, extrai-se do enunciado que o Estado A assinou cláusula facultativa de jurisdição obrigatória do 
Tribunal, o que o colocaria, automaticamente, sujeito à jurisdição do Tribunal na hipótese de o Estado B 
também ser signatário de cláusula desta espécie – o que parece ser o caso, já que B intentou diretamente 
ação contenciosa contra A no TIJ. 
O Estado A, porém, argumenta que, aquando da subscrição da cláusula facultativa de jurisdição obrigatória, 
havia excluído os conflitos relativos à interpretação de convenções internacionais do âmbito da sua 
declaração de aceitação da jurisdição do TIJ. 
Sucede que o conflito colocado por B no TIJ refere à validade de uma convenção internacional, não à sua 
interpretação, desaplicando-se, assim, a exclusão (reserva material) operada por A relativamente à cláusula 
de jurisdição obrigatória. 
Logo, a cláusula de jurisdição obrigatória vincula A no que concerne a matérias de validade de convenções 
internacionais, submetendo-o forçosamente à apreciação e julgamento do TIJ no caso concreto. 
 
8. Os Estados A e B concluíram uma convenção internacional destinada a acordar os termos da construção de 
uma linha ferroviária de alta velocidade, com vista a otimizar a ligação entre as principais cidades de ambos 
os países. 
Algum tempo após a ratificação do referido pacto, B decidiu suspender unilateralmente os trabalhos a cuja 
execução se comprometera alegando: 
- Uma situação económico-financeira particularmente difícil, que, em seu entender, inviabiliza o 
cumprimento das suas obrigações contratuais; 
- Uma tentativa de corrupção de que terá sido vítima o seu representante oficial aquando das negociações 
do tratado. 
Considerando estar-se perante uma violação grosseira do direito internacional convencional, A, por sua vez, 
interrompeu, de imediato, vários programas de intercâmbio económico com B, definidos num acordo de 
cavalheiros previamente celebrado, e pretende ser indemnizado pelos avultados prejuízos (danos 
emergentes e lucros cessantes) que a atitude de B lhe causou. 
Submetido o caso ao Tribunal Internacional de Justiça, pelo Estado A, B alega que o pedido deverá ser 
considerado inadmissível porquanto a apreciação do conflito fora, entretanto, confiada a uma comissão de 
conciliação. 
Quid juris, do ponto de vista da responsabilidade internacional, da validade dos tratados e do 
funcionamento do Tribunal Internacional de Justiça? 
Relativamente às alegações apresentadas pelo Estado B, deve-se assinalar que a mera tentativa de corrupção 
não configura vício de consentimento. Assim, e não se podendo extrair do enunciado qualquer outra causa de 
invalidade da convenção, deve-se considerá-la plenamente válida e, portanto, apta a vigorar plenamente. 
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A licitude do comportamento do Estado B, então, depende da verificação da configuração, no caso concreto, 
de uma causa de suspensão ou cessão da vigência das convenções internacionais (termo, condição, 
denúncia/retirada, de-/revogação, exceptio non adimpleti contratus, impossibilidade superveniente de 
cumprimento e alteração fundamental das circunstâncias), que, no entanto, não parecem estar presentes no 
caso concreto, apontando para ilicitude do comportamento do Estado B (art. 26.º da CVDT). 
Tendo sido tal conduta praticada por um órgão do Estado B (nexo de imputação) e a causa direta e imediata 
(nexo de causalidade) dos danos emergentes e lucros cessantes sofridos pelo Estado A, pode-se suscitar a 
responsabilidade internacional do Estado B. 
Não obstante, a situação econômica particularmente difícil invocada pelo Estado B é passível de caracterizar 
estado de necessidade, vindo porventura a ilidir a responsabilidade do Estado, desde que os requisitos (v. art. 
25 do Draft da CDI da ONU sobre responsabilidade internacional dos Estados por atos ilícitos) para o efeito 
sejam demonstrados. 
Não sendo preenchidos os referidos requisitos, é internacionalmente responsável o Estado B, surgindo o dever 
de indenizar o Estado A pelos danos causados em razão do incumprimento de suas obrigações convencionais. 
Mais, e analisando a juridicidade da conduta do Estado A de interromper, de imediato, vários programas de 
intercâmbio económico com B, definidos num acordo de cavalheiros previamente celebrado, deve-se assinalar 
que, não sendo acordo de cavalheiros espécie de convenção internacional e, portanto, não se tratando de 
uma obrigação jurídica com forte grau de vinculatividade, a interrupção de seu cumprimento pelo Estado A 
não configura ato ilícito internacional, configurando-se como uma retorsão (contramedida lícita). 
Finalmente, no que concerne ao funcionamento do Tribunal Internacional de Justiça, embora sejam os Estados 
ativa e passivamente legitimados a integrar ações contenciosas, assinale-se, à partida, que a sua jurisdição é 
facultativa – devendo, em consequência, estar configurados o assentimento dos Estados em conflito (pela via 
de norma convencional, cláusula facultativa de jurisdição obrigatória, acordo especial ou forum prorogatum). 
No caso concreto, porém, uma vez que a apreciação do conflito já foi confiada a uma comissão de conciliação, 
configura-se falta de interesse em agir, o que deverá ser invocado pelo Estado B em sede de exceção 
preliminar. – Exame 2019

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