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LESÕES CORPORAIS 2020

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CRIMES CONTRA PESSOA - LESÕES CORPORAIS (Direito Penal III – Parte Especial). 
Antônio Carlos Araújo e Wanda Lima 
 
 1 
MATERIAL DE APOIO 
 
LESÕES CORPORAIS 
 
Lesão corporal – Lesão Corporal Simples 
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: 
Pena - detenção, de três meses a um ano. 
 
Lesão corporal de natureza qualificada 
§ 1º Se resulta (Lesão Corporal Grave ) 
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias; 
II - perigo de vida; 
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função; 
IV - aceleração de parto: 
Pena - reclusão, de um a cinco anos. 
§ 2° Se resulta (Lesão Corporal Gravíssima) 
I - Incapacidade permanente para o trabalho; 
II - enfermidade incurável; 
III - perda ou inutilização do membro, sentido ou função; 
IV - deformidade permanente; 
V - aborto: 
Pena - reclusão, de dois a oito anos. 
Lesão corporal seguida de morte 
§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de 
produzi-lo: 
Pena - reclusão, de quatro a doze anos. 
 
Lesão Corporal Privilegiada 
Diminuição de pena 
§ 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de 
violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. 
Substituição da pena 
§ 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela de multa, de duzentos 
mil réis a dois contos de réis: 
I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior; 
II - se as lesões são recíprocas. 
 
Lesão corporal culposa 
§ 6° Se a lesão é culposa: 
Pena - detenção, de dois meses a um ano. 
 
Aumento de pena ( Causas de Aumento de Pena) 
§ 7º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer qualquer das hipóteses dos §§ 4º e 6º do art. 121 deste 
Código. 
Perdão Judicial 
§ 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121 
 
Violência Doméstica – Circunstância Qualificadora 
CRIMES CONTRA PESSOA - LESÕES CORPORAIS (Direito Penal III – Parte Especial). 
Antônio Carlos Araújo e Wanda Lima 
 
 2 
§ 9º Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem 
conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de 
hospitalidade: 
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. 
 
Causas Especiais de Aumento de Pena 
§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1 o a 3 o deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no § 9 o deste 
artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço). 
§ 11. Na hipótese do § 9º deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for cometido contra 
pessoa portadora de deficiência. 
§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal , 
integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência 
dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição, a pena 
é aumentada de um a dois terços. 
 
OBJETIVIDADE MATERIAL DO CRIME 
 
O texto legal não define quando uma lesão corporal é leve. Ao contrário, o legislador apenas descreve 
expressamente quando uma lesão deve ser considerada de natureza grave (art. 129, § 1º CP), gravíssima (art. 129, § 
2º CP) ou seguida de morte da vítima ( art. 129, § 3º, do CP). 
 
Por isso, é por exclusão que se chega a conclusão de que uma lesão é de natureza leve, devendo ser assim 
considerada, portanto, aquela lesão corporal que não é grave nem gravíssima. 
 
É exatamente por isso que constam, no formulário próprio dos Exames de Corpo de Delito e de acordo com a 
Lei processual para os legistas apresentarem o laudo do exame de corpo de delito, respostas aos quesitos 
relacionados à configuração de cada uma das modalidades consideradas graves ou gravíssimas de lesão corporal. 
Apenas quando o legista responder negativamente a todas elas, é que será possível dizer que a lesão corporal é leve. 
 
Para que haja tipificação do crime de lesão corporal, o texto legal exige que o ato agressivo perpetrado contra a 
vítima tenha provocado ofensa em sua integridade corporal ou em sua saúde. 
 
• Ofensa à integridade corporal 
É o dano anatômico decorrente de uma agressão. É a alteração na anatomia prejudicial ao corpo humano. 
Pressupõe que o ato agressivo rompa ou dilacere algum tecido do corpo da vítima, externa ou internamente. Os casos 
mais comuns de lesão corporal são as escoriações, as equimoses, os cortes, as fraturas, as fissuras, os hematomas, as 
luxações, o rompimento de tendões ou ligamentos, as queimaduras etc. 
 
Equimoses decorrem do rompimento de pequenos vasos sanguíneos (capilares) no tecido subcutâneo, em 
razão de uma forte pancada recebida, e conferem coloração roxa à pele. A equimose constitui lesão porque é 
provocada pelo rompimento de tecidos — os vasos sanguíneos. 
 
A dor, desacompanhada de alteração anatômica ou ofensa à saúde, não constitui lesão. Nesse sentido: ―A dor 
física, por si só, sem o respectivo dano anatômico ou funcional, não constitui lesão corporal. Impõe-se a solução 
máxime porque, de índole inteiramente subjetiva, a dor só por falível presunção pode ser reconhecida como efeito da 
violência‖ (Tacrim-SP — Rel. Silva Franco — Jutacrim 40/89). 
 
Eritemas não constituem lesão, pois são o resultado do deslocamento sanguíneo momentâneo para certa 
parte do corpo, que conferem vermelhidão à pele. Podem decorrer, por exemplo, de um beliscão ou de um tapa. A 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art142
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art144
CRIMES CONTRA PESSOA - LESÕES CORPORAIS (Direito Penal III – Parte Especial). 
Antônio Carlos Araújo e Wanda Lima 
 
 3 
provocação de eritema como consequência de uma agressão pode configurar tentativa de lesão corporal ou 
contravenção de vias de fato, dependendo da existência da intenção de lesionar. 
 
Há divergência doutrinária em relação ao corte não autorizado de cabelo ou barba, exceto quando isso se dá a 
fim de humilhar a vítima, o que configura, pacificamente, o delito de injúria real (art. 140, § 2º, do CP). Fora dessa 
hipótese, para alguns a conduta constitui crime de lesão corporal de natureza leve e, para outros, contravenção de vias 
de fato. Se o agente, porém, raspa o cabelo de uma criança ou adolescente que está sob sua guarda, autoridade ou 
vigilância, a fim de lhe causar vexame, haverá crime mais grave, descrito no art. 232 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente (Lei n. 8.069/90). 
 
Como se trata de parte de ser humano, o cabelo não pode ser considerado objeto material de furto ou roubo, de 
modo que se alguém corta, clandestinamente ou com violência, os longos cabelos da vítima, com a intenção de vendê-
los para que sejam usados na confecção de perucas ou em apliques, o crime a ser reconhecido é o de lesão corporal 
ou a contravenção de vias de fato. 
 
• Ofensa à saúde 
Abrange a provocação de perturbações fisiológicas ou mentais na vítima. 
 
Perturbação fisiológica é o desajuste no funcionamento de algum órgão ou sistema que compõe o corpo 
humano. Ex.: transmissão intencional de doença que afete o sistema respiratório, ministração de alimento ou 
medicamento na bebida da vítima que provoque diarreia, vômito ou náuseas, ministração de diurético que a faça urinar 
repetidamente, uso de aparelho de choque elétrico que provoque paralisia muscular etc. Note-se que, nesses 
exemplos, a perturbação fisiológica é de duração transitória, pois o organismo trata de recompor o funcionamento do 
órgão afetado. Isso, todavia, não altera a conclusão de que houve ofensa à saúde e torna necessáriaa punição do 
agente. 
 
Perturbação mental abrange a causação de qualquer desarranjo no funcionamento cerebral. Ex.: provocar 
convulsão, choque nervoso, doenças mentais etc. Nesse sentido: “O conceito de dano à saúde tanto compreende a 
saúde do corpo como a mental também. Se uma pessoa, à custa de ameaças, provoca em outra um choque nervoso, 
convulsões ou outras alterações patológicas, pratica lesão corporal‖ (TJSC — Rel. Marcílio Medeiros — RT 478/374). 
 
É comum que um só ato agressivo provoque concomitantemente ofensa à integridade corporal e à saúde. Ex.: 
um chute no tórax que fratura uma costela e, ao mesmo tempo, faz com que a vítima tenha crises de vômito. Há, nesse 
caso, crime único. 
 
O núcleo do tipo é o verbo ―ofender‖, que significa lesar, ferir a integridade corporal ou a saúde de outrem1. O 
objeto material é a pessoa. Já o bem jurídico protegido é a integridade ou a saúde. 
 
Pune-se toda a conduta que: 
(a) cause à vítima um mal físico (ferimentos, fraturas, etc), ou seja, danos à integridade corporal; 
(b) que cause à vítima distúrbios fisiológicos (vômitos, insônia) ou alterações psíquicas (dano mental como 
perda de memória, de inteligência), ou seja, danos à saúde. 
Crime de forma livre - pode ser praticado por qualquer meio: 
(a) seja por ação direta (violência física: socos, etc ou moral: sustos, terror, etc); 
 
1
 Jurisprudência: (a) dor física e crise nervosa: a simples existência de dor física ou de crise nervosa, sem 
comprometimento físico ou mental, não configura o crime de lesão corporal (JTACrSP 67/340 e RT 483/346); (b) 
dano insignificante: p.ex. picada de alfinete, pequeno arranhão, beliscão, não configura o crime de lesões corporais, 
afastando-se a tipicidade, sob o fundamento da inexistência de efetiva ofensa ao bem jurídico penalmente tutelado 
(princípio da insignificância); 
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(b) seja por ação indireta (p. ex., uso de um cão como instrumento de agressão); 
(c) seja por omissão (médico que deixa de receitar medicamento ao paciente com o intuito de causar-lhe 
perturbação fisiológica). 
 
Delito único: o sujeito responde por delito único, ainda que produza vários ferimentos na vítima em decorrência 
de uma mesma conduta. 
 
Bem jurídico indisponível: o consentimento da vítima não exclui o crime de lesões corporais. Entretanto, em 
circunstâncias especiais, ―o Estado pode consentir na lesão de um bem por ele tutelado sempre que não destrua as 
condições de convívio social‖ (Moacyr Oliveira) – p. ex., não constitui crime a tatuagem em menor, quando precedida de 
consentimento dos pais (RT 739/665). 
 
Exclusão da antijuricidade: Hipóteses: 
 
(a) intervenção cirúrgica consentida: exercício regular de direito (CP, art. 23, III). 
Quando se tratar de cirurgia corretiva ou terapêutica, sem que haja situação de emergência, a operação só 
poderá ser feita se houver prévia autorização e, nessa hipótese, terá o cirurgião atuado sob a excludente do exercício 
regular de direito, conforme entendimento da maioria dos doutrinadores. 
 
Em se tratando de cirurgia meramente estética, implante de prótese no seio, por exemplo, em que não há 
nenhuma melhora na saúde, mas apenas mudança na aparência, aplica-se a excludente do exercício regular de direito 
em caso de autorização da paciente. 
 
Em suma, entende-se que o fato é típico, porque, nas intervenções cirúrgicas, o médico faz incisões, dilacerando 
alguns tecidos do corpo do paciente; porém, a conduta não é antijurídica em face da excludente do exercício regular de 
direito. Heleno Cláudio Fragoso,70 contudo, entende que, nesses casos, nem há tipicidade, uma vez que lesão é um 
dano à integridade corporal, o que não ocorre no caso de intervenção cirúrgica em que a finalidade é restituir ou 
melhorar a saúde do paciente. ―Típico só pode ser o resultado que prejudica, ou seja, o resultado de dano.‖ 
 
 
 
(b) intervenção cirúrgica para salvar a vida do paciente, ainda que contra a sua vontade: estado de 
necessidade (CP, art. 23, I); 
 
No caso de cirurgia de emergência, em que a necessidade da intervenção decorre da existência de risco para a 
vida do paciente, não haverá crime por parte do médico, mesmo que não exista consentimento do paciente ou de seus 
representantes legais, visto que, nesse caso, agiu ele acobertado pela excludente do estado de necessidade de 
terceiro (da própria pessoa submetida à cirurgia). 
 
Assim, se alguém chega acidentado em um hospital e, estando desacordado, o médico amputa sua perna para 
evitar mal maior, não responde por crime de lesão corporal. Mesmo que a vítima diga, posteriormente, que preferia ter 
morrido a ficar sem a perna, não se pode cogitar de punição ao médico, exceto se tiver havido erro de diagnóstico, 
quando responderá por lesão culposa. 
 
(c) remoção de órgãos genitais externos de transexual (cirurgia mutiladora): há exercício regular de um 
direito, desde que a intervenção jurídica se revele necessária para promover o ajustamento físico e mental do paciente 
(p. ex., em sendo este do sexo masculino, mas com personalidade inteiramente feminina) – vide RT 545/355. 
 
CRIMES CONTRA PESSOA - LESÕES CORPORAIS (Direito Penal III – Parte Especial). 
Antônio Carlos Araújo e Wanda Lima 
 
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(d) uso dos meios necessários contra quem resista à ordem legal de prisão . estrito cumprimento do dever 
legal (CP, art. 23, III CP). 
 
(e) Lesões praticados na prática do Esporte ( art. 23, III CP) 
Em certos esportes em que a lesão é uma consequência normal de sua prática (boxe, lutas marciais), também 
não há crime em face do exercício regular de direito. Todos esses esportes são regulamentados e, desde que 
observadas as regras, o fato não constitui crime. 
 
Sempre que houver abuso intencional, todavia, o fato constituirá crime, ainda que ocorra durante a prática 
esportiva. O boxeador que morde a orelha do opoente, arrancando-lhe um pedaço, comete crime. Igualmente, o jogador 
de futebol que, intencionalmente, desfere um soco no rosto de outro e lhe quebra os dentes ou o nariz, ainda que o fato 
ocorra com a bola em jogo. 
 
• Estatuto do torcedor e lesões corporais 
O Estatuto do Torcedor pune com reclusão, de um a dois anos, quem pratica violência durante evento esportivo 
ou nas proximidades do estádio em dia de jogo (raio de 5 km), ou em seu trajeto (art. 41-B, da Lei n. 12.299/2010). 
Como o texto legal não especifica, o crime se concretiza independentemente da superveniência de lesões em terceiros, 
como, por exemplo, atirar pedra em ônibus, explodir bomba de fabricação caseira, derrubar alambrado, atirar garrafa ou 
pedra em campo, lançar detrito, urina ou fogos de artifício em outros torcedores, trocar socos e chutes com outras 
pessoas. 
 
Caso se concretizem lesões corporais em terceiros, caberá aos tribunais definir se estas absorvem o novo crime 
ou o contrário ou, ainda, se ambos subsistem em concurso (formal ou material). É provável que prevaleça o 
entendimento de que o crime mais grave é que deve subsistir, de modo que eventual lesão leve fique absorvida, mas 
que a lesão grave absorva o delito da nova lei. 
 
• Doação de órgão por pessoa viva 
A Lei n. 9.434/97 regulamenta o transplante de órgãos e admite que pessoa viva seja doadora, desde que capaz 
e que a faça de forma gratuita. Além disso, só será possível se houver autorização do doador e desde que não haja 
possibilidade de graves prejuízos à sua saúde. O desrespeito a essas regras caracteriza crime específico do art. 14 da 
mesma Lei, que, aliás, possui qualificadoras idênticas às estabelecidas no Código Penal no que se refere aos crimes de 
lesões graves ou seguidas de morte. 
 
• Princípio da insignificância 
No crime de lesão corporal leve a doutrina e a jurisprudência têm aceitado a aplicação do princípioda 
insignificância para reconhecer a atipicidade da conduta quando a lesão for de tal forma irrisória que não justifique a 
movimentação da máquina judiciária, com os custos a ela inerentes. É o que ocorre quando alguém dá um alfinetada 
em outra pessoa, causando a perda de poucas gotas de sangue. 
 
Absorção das lesões leves 
Existem inúmeros crimes no Código Penal e em leis especiais em que o emprego de violência é elementar do 
delito, constituindo meio de execução da infração penal. É o que ocorre em crimes como roubo, extorsão, estupro, 
tortura etc. Como em nenhum dos tipos penais mencionados existe ressalva, dando autonomia ao crime de lesões 
corporais de natureza leve, a conclusão é de que, por ser meio de execução, a lesão corporal leva fica absorvida pelo 
crime. 
 Assim, se o agente, durante um roubo ou estupro, causar lesão leve na vítima, ele responde só pelo crime-fim ( 
roubo ou estupro), ficando absorvidas as lesões leves. 
 
CRIMES CONTRA PESSOA - LESÕES CORPORAIS (Direito Penal III – Parte Especial). 
Antônio Carlos Araújo e Wanda Lima 
 
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Por outro lado, há vários crimes cometidos com emprego de violência em que o texto legal expressamente 
ressalva a autonomia das lesões, de modo que, se, ao praticar o outro crime com emprego de violência, o agente 
causar também lesão leve na vítima, responderá pelos dois delitos. É o que ocorre em crimes como a injúria real, 
constrangimento ilegal, dano qualificado, resistência, exercício arbitrário das próprias razões etc. 
 
 
OBJETIVIDADE JURÍDICA: Protege-se a integridade física e psíquica da pessoa humana. 
 
SUJEITO ATIVO 
Pode ser qualquer pessoa. Trata-se de crime comum. 
 
Se o agressor for policial em serviço, responde também por abuso de autoridade, não reconhecendo a 
jurisprudência bis in idem em tais casos por serem diversos os bens jurídicos afetados. 
 
Nesse sentido: 
“Lesões corporais e abuso de autoridade. Se o agente, além do crime de abuso de autoridade (art. 3º, i, da Lei n. 
4.898, de 09.12.1965) também praticar lesões corporais na vítima, aplicar-se-á a regra do concurso material” (STF — 
HC — Rel. Cordeiro Guerra — RTJ 101/595); “A concomitante prática de lesão corporal não resta absorvida pelo crime 
de abuso de autoridade, devendo ser aplicada, em tal caso, a regra da cumulação das penas” (TJSP — Rel. Jarbas 
Mazzoni — RT 598/302). 
 
Autolesão: O Código Penal, por razões de política criminal, não erige como delito o fato do sujeito ofender a 
própria integridade corporal ou a saúde (autolesão). Entretanto, com a autolesão o agente pode cometer o crime de 
fraude para recebimento de indenização ou valor do seguro. (CP, art. 171, § 2º, V) ou o delito de criação ou simulação 
de incapacidade física para furtar-se à incorporação militar (CPM, art. 184). 
 
Esclareça-se que se o agente se auto lesiona ao mesmo tempo em que instiga ou auxilia outra pessoa a auto 
mutilar-se, responderá pelo crime tipificado no artigo 122, do CP, participação em auto mutilação. 
 
SUJEITO PASSIVO: qualquer pessoa. 
 
Pode ser qualquer pessoa. Como o tipo penal exige dano à integridade corpórea ou à saúde de outrem, a 
autolesão não se enquadra no conceito de lesão corporal. 
 
Assim, se o agente o fizer para simular uma agressão e, com isso, receber o valor do seguro que tinha feito em 
relação à sua integridade corpórea, incorrerá no crime de fraude para recebimento de seguro (art. 171, § 2º, V, do CP). 
Em tal caso, contudo, a vítima será a seguradora. 
 
 Quem se autolesiona para não prestar serviço militar comete o crime do art. 184 do Código Penal Militar. Cuida-
se de crime militar aplicável a quem ainda sequer se incorporou 
 
Caso a agressão seja feita a um cadáver o crime poderá ser de destruição de cadáver (CP, art. 211), vilipêndio 
(CP, art. 212) ou até crime de dano (CP, art. 163); 
 
Nas hipóteses de lesão corporal grave de que resulta aceleração do parto (CP, art. 129, § 1º, IV) e de lesão 
corporal gravíssima de que resulta aborto (CP, art. 129, §2º, V), o sujeito passivo deverá ser a mulher grávida. 
Na hipótese de violência doméstica o sujeito passivo deverá ser o cônjuge, companheiro, ascendente, 
descendente ou irmão. 
 
CRIMES CONTRA PESSOA - LESÕES CORPORAIS (Direito Penal III – Parte Especial). 
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TIPO SUBJETIVO: Dolo, que é a vontade livre e consciente de ofender a integridade corporal ou a saúde de 
outrem (animus laedendi ou animus vulnerandi). Doutrina tradicional: dolo genérico. Dolo eventual: admite-se. Ex. ação 
daquele que bate forte nas costas de terceiro, ciente de que este ali tem uma ferida, agravando-a. 
 
Culpa e preterdolo: são admitidos. Além do tipo doloso previsto no tipo fundamental, (CP, art. 129, caput), o 
crime de lesões corporais admite a culpa (CP, art. 129, § 6º) e o preterdolo (art. 129, § 3º). 
 
Consumação e tentativa: O crime se consuma com a efetiva ofensa à integridade física ou psíquica da vítima. 
 
Em regra é admissível a tentativa, inclusive de lesão corporal grave e gravíssima (p. ex., lançamento 
frustrado de ácido no rosto da vítima, visando causar-lhe deformidade permanente – CP, art 129, § 2º, IV, c/c art. 14, II). 
 
Porém, não cabe a tentativa na lesão qualificada pelo perigo de vida, pela aceleração de parto e aborto, bem 
como nas lesões com resultado morte, pois são modalidades preterdolosas. Ora, se a pessoa quis expor a outra a 
perigo de vida ela assumiu o risco de matá-la, se a pessoa quis acelerar o parto ou abortar é porque ela quis o aborto 
ou ao menos assumiu o risco de produzi-lo, da mesma maneira que, se ela quis a morte responderá pelo homicídio. 
 
Em caso de dúvida a respeito do dolo do agente ou da idoneidade do meio: tentativa de lesão corporal simples. 
 
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 
 
O crime se consuma no momento em que ocorre a ofensa à integridade corporal ou à saúde da vítima. Trata-se 
de crime material. 
 
A tentativa é possível, desde que se prove que o agente queria lesionar a vítima e não conseguiu. 
 
• Distinção entre a tentativa de lesões corporais e a contravenção de vias de fato (art. 21 da Lei das 
Contravenções Penais) 
Na tentativa, o agente quer lesionar a vítima e não consegue por circunstâncias alheias à sua vontade. 
 
Na contravenção, fica demonstrado que o agente, desde o início, não tinha a intenção de machucar a vítima. 
Ex.: empurrão, tapa, beliscão etc. Nesse sentido: ―Indiscutível a possibilidade da tentativa no uso de lesões corporais 
dolosas, impondo-se a condenação do réu se o conjunto probatório se mostra suficiente para embasar a conclusão de 
que ele agiu com dolo de ferir‖ (Tacrim-SP — Rel. Ralpho Waldo — Jutacrim 76/312). 
 
Se, por acaso, o agente quer cometer apenas a contravenção e, de forma não intencional, provoca lesões na 
vítima, responde por lesões culposas. Ex.: empurrar levemente a vítima e esta cair, fraturando o braço. 
 
• Distinção entre tentativa de lesões corporais e o crime de periclitação da vida e da saúde do art. 132 do 
Código Penal 
A diferença localiza-se também no dolo. Na tentativa, o agente, por circunstâncias alheias à sua vontade, não 
consegue concretizar a lesão que pretendia causar na vítima, enquanto no crime de perigo, a intenção é apenas de 
assustá-la, provocando-lhe situação de risco. 
 
Nesse sentido: ―A conduta do agente que investe contra a vítima armado de instrumento hábil a produzir 
ferimentos, presente o dolo direto, não configura o delito de perigo para a vida, se, só por motivos alheios à vontade do 
réu, o resultado lesivo não se consuma. A hipótese é a da chamada tentativa branca de lesão corporal‖ (Tacrim-SP — 
Rel. Francis Davis — Jutacrim 15/193). 
 
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CLASSIFICAÇÃO. Trata-se de crime: 
Comum - pode ser praticado por qualquer pessoa; 
De forma livre – admite qualquerforma de execução; 
Material – há uma conduta e um resultado exigido – efetiva ofensa à int. fís. ou psíquica da vítima; 
De dano – exige-se a lesão ao bem tutelado; 
Instantâneo – a consumação se dá em um momento; 
Plurissubsistente – exige mais de um ato para a consumação: um verbo + resultado; 
É necessária a realização de exame de corpo de delito (CPP, art. 158). 
 
ESPÉCIEIS DE LESÕES CORPORÁRIS: 
 
(A) LESÃO CORPORAL SIMPLES (CP, ART. 129, CAPUT); Também chamada de leve. 
 
O conceito de lesão corporal leve é dado por exclusão: ocorre sempre que o fato não configura crime de 
lesões corporais graves (CP, art. 129, § 1º), gravíssimas (CP, art. 129, § 2º), nem, tampouco, lesão corporal seguida de 
morte (CP, art. 129, § 3º). 
 
(B) LESÃO CORPORAL QUALIFICADA (CP, ART. 129, §§ 1º, 2º, 3º). 
 
Divide-se em grave, gravíssima e seguida de morte e hoje há uma modalidade que será vista em separado que 
é a chamada violência doméstica. 
 
LESÃO CORPORAL GRAVE (CP, art. 129, § 1º) 
 
Natureza jurídica: são circunstâncias de natureza objetiva, envolvendo diversos resultados que associados à 
figura fundamental, geram maior punibilidade do delito. 
 
Quanto à incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 dias, quanto à debilidade permanente de 
membro sentido ou função, tanto faz ter o agente atuado com dolo ou culpa no resultado. 
 
Já quanto ao perigo de vida, a existência do dolo no resultado representará verdadeiramente tentativa de 
homicídio, só sendo hipótese de lesão corporal grave se o agente tiver atuado com culpa. Da mesma forma para 
as hipóteses de lesão qualificada pela aceleração de parto e aborto, bem como nas lesões com resultado morte, onde 
se verificarmos o dolo no resultado causado o crime não será lesão qualificada, mas sim tentativa de aborto, aborto ou 
homicídio, respectivamente, podendo haver concurso com o crime de lesões. 
 
Esses resultados só podem agravar a pena do sujeito, se em relação aos mesmos o sujeito tiver agido, no 
mínimo, com culpa (evento mais grave previsível). Se o fato não for previsível, o resultado não é atribuível ao agente, 
que só responde pelo fato antecedente. 
 
Concurso de agentes: tratando-se de circunstâncias de natureza objetiva, comunicam-se em caso de concurso 
de agentes, desde que o fato que as constitui tenha ingressado previamente na esfera de conhecimento do agente (CP, 
art. 30). 
 
Hipóteses: 
 
(a) incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 dias (inciso I): 
A lesão é dolosa, mas o resultado causado pode ter sido a título de dolo ou culpa. 
 
CRIMES CONTRA PESSOA - LESÕES CORPORAIS (Direito Penal III – Parte Especial). 
Antônio Carlos Araújo e Wanda Lima 
 
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Ocupações habituais: são ocupações da vida em geral – prática de esportes, freqüência à escola (crianças), 
asseio corporal e recreação (aposentados), e não apenas o exercício de atividade econômica. Estão compreendidas as 
atividades imorais (ex: prostituta – RT 449/425, embora Frederico Marques seja contra) e excluídas as atividades ilícitas 
(ex: falsificador, traficante). 
 
(b) perigo de vida (inciso II): 
A lesão é dolosa, mas o resultado causado só pode ter ocorrido por culpa, pois se fosse por dolo seria crime de 
homicídio tentado (dolo eventual). 
 
Perigo de vida: é a probabilidade previsível, concreta de morte, (não a mera possibilidade) ocorrida a qualquer 
tempo no curso do processo patológico posterior à lesão, a ser comprovado através de exame pericial, no qual os 
peritos, em caso afirmativo, deverão fundamentar suas conclusões, descrevendo os sintomas relacionados com o 
afirmado perigo de vida. 
 
É indispensável o perigo concreto. É a perícia que irá dizer se houve ou não o perigo concreto. 
 
(c) debilidade permanente de membro, sentido ou função (inciso III): 
A lesão é dolosa, mas o resultado causado pode ter sido a título de dolo ou culpa. 
 
Debilidade: redução da capacidade funcional; Ex: o braço fica fraco, mas não paralisado ou arrancado. 
 
Permanente: não se exige que a debilidade seja perpétua, bastando que ela seja duradoura (estável), o que 
ocorre sempre que não se possa fixar seu limite temporal. 
 
Membro: braços (braços, antebraço e mão) e pernas (coxa, perna e pé); Obs: dedo é uma parte da mão ou do 
pé, portanto é debilidade permanente. Ex: perda de dedos: a perda de um ou de dois dedos configura debilidade 
permanente e não perda ou inutilização de membro (TJSP, RJTJSP 97/502). 
 
Sentido: visão, audição, olfato, paladar e tato; Ex.: ficar com redução auditiva, ficar cego de um olho, surdo de 
um ouvido. 
 
Função: atividade desempenhada por vários órgãos (função circulatória, respiratória, secretora, reprodutora, 
sensitiva, automotora). Se o órgão for duplo e só se perder um deles é debilidade permanente. Ex: perda de um dente 
só configura a qualificadora somente se enfraquecer a função mastigatória (RT 605/303). 
 
Obs: a possibilidade de uso de aparelho de prótese não afasta a qualificadora. 
 
(d) aceleração do parto (inciso IV): (Parto prematuro) 
A lesão é dolosa, mas o resultado causado só pode ter ocorrido por culpa, pois se fosse por dolo seria crime de 
aborto tentado (dolo eventual). 
 
Ocorre quando o feto, em conseqüência da lesão corporal produzida na vítima, é expulso antes do término 
normal da gravidez (antecipação do parto), conseguindo sobreviver. Para incidência da qualificadora exige-se: (a) 
ciência prévia pelo agente da gravidez da vítima; (b) ter o agente agido apenas com culpa com relação à aceleração do 
parto (CP, art. 19). Ex: agente dá um soco nas costas da grávida que 
vem a cair e tem seu parto antecipado. Ele só responderá pelas lesões com a qualificadora se soubesse que a 
mulher estava grávida. 
 
LESÃO CORPORAL GRAVÍSSIMA (CP, art. 129, § 2º) 
CRIMES CONTRA PESSOA - LESÕES CORPORAIS (Direito Penal III – Parte Especial). 
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Natureza jurídica: (igual à grave) são circunstâncias de natureza objetiva, envolvendo diversos resultados que 
associados à figura fundamental, geram maior punibilidade do delito. 
 
Concurso de agentes: (igual à grave). 
 
Hipóteses: 
 
(a) incapacidade permanente para o trabalho (inciso I): 
A lesão é dolosa, mas o resultado causado pode ter sido a título de dolo ou culpa. 
 
Incapacidade permanente: não se exige que a lesão seja perpétua, bastando que seja duradoura (estável), o 
que ocorre sempre que não se possa fixar seu limite temporal. 
 
Trabalho: o conceito aqui é econômico, referindo-se a lei a qualquer trabalho (genérico), não incidindo a 
qualificadora se a vítima puder exercer outro trabalho. Ex: pianista que perde os dedos pode dar aulas teóricas de 
música (Damásio e Hungria). Contra essa posição: Rogério Greco e Álvaro Mayrink que afirmam que a possibilidade de 
trabalho deve ser no campo do possível para a vítima. Ex: não se pode exigir que a vítima, que trabalhava em atividade 
intelectual em alto cargo executivo, passe a ser pedreiro. 
 
(b) enfermidade incurável (inciso II): 
A lesão é dolosa, mas o resultado causado pode ter sido a título de dolo ou culpa. 
 
É a moléstia que não apresenta probabilidade de cura integral no estágio atual da medicina, não se achando a 
vítima compelida a sujeitar-se a cirurgias de risco ou a tratamentos duvidosos. 
 
Atenção: HIV era considerado vírus mortal, por isso que passava a doença para outrem praticava homicídio 
(consumado ou tentado). Hoje essa doença não é mais considerada como mortal, mas sim como doença crônica pelo 
Ministério da Saúde. 
 
(c) perda ou inutilização de membro, sentido ou função (inciso III): 
A lesão é dolosa, mas o resultado causado pode ter sido a título de dolo ou culpa. 
 
Perda: é a ablação (ação de tirar por força, mutilar, amputar) de um membro (decepar um braço), sentido 
(arrancar os olhos) ou função (retirar um órgão, castrar um homem retirando-lhe o saco escrotal). 
 
Inutilização:é a perda da capacidade funcional do membro (paralisia total de um braço), sentido (cegueira total) 
ou função (impotência por castração química), ainda que permaneça ligado ao corpo. 
 
(d) deformidade permanente (inciso IV): 
A lesão é dolosa, mas o resultado causado pode ter sido a título de dolo ou culpa. 
 
Deformidade permanente: é o dano estético de certa monta, visível (não precisa ser visível para todos, podendo 
ser nas partes íntimas), irreparável, causador de impressão vexatória, não podendo a vítima ser compelida a submeter-
se a intervenção cirúrgica. Ser permanente não significa que seja perpétuo, bastando ser duradouro. 
 
Persiste a qualificadora ainda que a vítima dissimule a deformidade com artifícios: peruca, olho de vidros, etc). 
 
(e) aborto (inciso V): 
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A lesão é dolosa, mas o resultado causado só pode ter ocorrido por culpa, pois se fosse por dolo seria crime de 
aborto (dolo direto). 
 
Nesta hipótese o agente, ciente da gravidez da vítima, apenas lhe quer produzir lesões corporais, contudo, sua 
conduta produz um resultado mais grave que aquele por ele desejado (aborto). 
A qualificadora ―aborto‖ lhe é imputada a título de preterdolo: dolo (conduta) + culpa (resultado: o aborto era 
previsível). Se o agente quer ou assume o risco de produzir o aborto: responde por crime de aborto e por crime de lesão 
corporal simples em concurso formal impróprio. 
 
LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE (CP, art. 129, § 3º) 
A lesão é dolosa, mas o resultado causado só pode ter ocorrido por culpa, pois se fosse por dolo seria crime de 
homicídio (dolo direto). 
 
É o denominado ―homicídio preterdoloso‖, em que o sujeito age com ―animus laedendi‖ (intenção de lesionar) – 
antecedente (conduta dolosa) – vindo a vítima, contudo, a morrer – conseqüente (resultado culposo – ausência de 
previsão de fato previsível) em decorrência direta ou indireta da lesão (nexo de causalidade que precisa ser 
demonstrado). 
 
Se o resultado morte adveio em decorrência de caso fortuito ou força maior: não incide a qualificadora. 
 
Se o agente quisesse ou assumisse o risco do resultado morte da vítima seria hipótese de homicídio. Ex: Caio e 
Tício estão na calçada. Caio dá um soco em Tício, que vem a cair, bater a cabeça no asfalto e morrer. Ora, bater a 
cabeça no asfalto era previsível, devendo ele responder por lesão corporal seguida de morte. 
 
Natureza jurídica: trata-se de circunstância objetiva, comunicável em caso de concurso de agentes, desde que 
a morte tenha ingressado previamente na esfera de conhecimento dos participantes (CP, art. 30). 
 
Tentativa: tratando-se de crime preterdoloso, a lesão corporal seguida de morte não admite tentativa. 
 
(C) LESÃO CORPORAL PRIVILEGIADA (CP, ART.129, §§ 4º, 5º); 
 
Trata-se de causa de diminuição de pena: (CP, art. 129, § 4º) a pena será reduzida de 1/6 a 1/3, se o crime for 
cometido: (a) motivo de relevante valor social; (b) motivo de relevante valor moral; (c) sob o domínio de violenta 
emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima – vide conceituações no material alusivo ao homicídio 
privilegiado. 
 
Concurso de agentes: tratando-se de circunstância subjetivas, não se comunicam no caso de concurso de 
agente (CP, art. 30). 
 
A redução da pena é obrigatória. A faculdade diz respeito ao quantum da redução. 
 
Hipótese de substituição da pena: (CP, art. 129, § 5º): não sendo graves as lesões, o juiz pode substituir a 
pena de detenção pela de multa nas hipóteses: (a) nas lesões 
corporais leves praticadas por relevante valor social ou moral e por violenta emoção; (b) em havendo agressões 
recíprocas – atenção ao julgado: não sendo possível determinar qual dos dois deu início à agressão: absolvição de 
ambos por falta de provas (RT 654/271). 
 
(D) LESÃO CORPORAL CULPOSA SIMPLES (CP, ART. 129, § 6º); 
 
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Conceito: quando as lesões corporais decorrem não do dolo direto ou eventual do agente, mas sim da 
circunstância de ter obrado o mesmo com culpa (ausência de previsão do que era previsível), manifestada através 
de imprudência, negligência ou imperícia. 
 
Gravidade das lesões: não interfere na classificação legal do crime, devendo ser considerada pelo juiz na fixação 
da pena (CP, art. 59). 
 
Delitos de trânsito: tratando-se de lesão corporal culposa na direção de veículo automotor: aplica-se o art. 303 
da Lei nº 9.503/97 (Código de Trânsito Brasileiro), e não o art. 129, § 6º do CP. 
 
(E) CAUSAS DE AUMENTO DE PENA (CP, ART. 129, § 7º) 
 
Causas de aumento da pena (CP, art. 129, § 7º): aumenta-se de 1/3 a pena do crime de lesão corporal culposa 
se ocorrer qualquer das hipóteses do art. 121, § 4º (vide conceituações no material alusivo ao homicídio culposo). A 
respeito de causas de aumento de pena da lesão corporal culposa provocada na direção de veículo automotor: vide art. 
302, § 1.º c/c art. 303, § 1.º da Lei nº 9.503/97. 
 
(F) PERDÃO JUDICIAL (CP, ART. 129, § 8º). 
 
Na hipótese de lesão corporal culposa, o juiz poderá deixar de aplicar a pena se as conseqüências da infração 
atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária – vide conceituações no 
material alusivo ao homicídio culposo. 
 
(G) CIRCUNSTÂNCIA QUALIFICADORA (CP, ART. 129, § 9º) – VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: 
Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva 
ou tenha convivido (não precisa coabitar), ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação 
ou de hospitalidade, a pena será de detenção de 3 meses a 3 anos (§ 9º). Ex: um irmão vem visitar o outro e o agride, 
um morador de uma república agride o outro. 
 
Tal pena será aumentada de um terço caso haja lesões graves, gravíssimas ou morte (§ 10º). 
 
Tal pena também será aumentada de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência (§ 
11º). 
 
A pena também será aumentada de um a dois terços se o crime for cometido contra integrantes dos órgãos de 
segurança pública (§ 12º). 
 
Em regra, a lesão corporal não é crime hediondo. As exceções foram criadas pela Lei 13.142/2015, ao 
acrescentar o inciso I-A ao art. 1.º da Lei 8.072/90. Portanto, as lesões corporais de natureza grave (CP, art. 129, § 2.º) 
e gravíssimas (CP, art. 129, § 3.º) quando praticadas contra autoridade ou agentes descrito nos arts. 142 e 144 da 
CF/88 são consideradas hediondas. 
 
CONFRONTO: 
Lesão corporal x vias de fato (LCP, art. 21): (a) lesão corporal: o agente age com a intenção de ofender a 
integridade física de outrem (animus laedendi). Ex: desferir paulada, soco; (b) vias de fato: o sujeito não age com esse 
animus vulnerandi (RT 504/429). Ex: empurrão. 
 
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Homicídio culposo x lesão corporal seguida de morte: (a) morte da vítima decorrente de empurrão (vias de 
fato) com queda: homicídio culposo (CP, art. 121, § 3º). (b) morte da vítima em conseqüência de soco (violência física – 
animus laedendi) com queda: lesão corporal seguida de morte (CP, art. 129, § 3º). 
 
Lesão corporal x maus tratos (CP, art. 136): quando a ofensa à integridade corporal ou à saúde da vítima tem 
finalidade corretiva: há o crime de maus tratos. Ex: tapas desferidos pelo pai no filho menor. 
 
AÇÃO PENAL: é publica incondicionada, salvo: lesão corporal leve (CP, art. 129, caput), lesão corporal culposa 
(CP, art. 129, § 6º e Lei nº 9.503/97, art. 303), quando é pública condicionada à representação do ofendido, por força do 
disposto no art. 88, da Lei nº 9.099/95. 
 
A doutrina tradicional sustenta que a incolumidade físicaé bem indisponível, de forma que o consentimento não 
exclui o crime, exceto nas situações social e culturalmente aceitas, como no caso de colocação de brincos em meninas 
e na circuncisão realizada em recém-nascidos em algumas religiões. 
 
Heleno Cláudio Fragoso argumentava que: ―o consentimento do ofendido exclui a ilicitude, desde que 
validamente obtido e a ação não ofenda os bons costumes‖. 
 
Após o advento da Lei n. 9.099/95, é forçoso, todavia, reconhecer que a incolumidade física passou a ser bem 
apenas relativamente indisponível. No que se refere a lesões de natureza leve, o prévio consentimento do ofendido, 
desde que capaz, exclui o crime. 
 
Com efeito, a partir do momento em que a lei estabeleceu que a ação penal só pode ser promovida se houver 
representação da vítima, tornou-se possível o seguinte raciocínio: se a vítima não consente na agressão, porém, 
posteriormente, deixa de oferecer representação, faz com que a punibilidade do agente seja extinta. Assim, por lógica, a 
prévia autorização impede o próprio surgimento do direito de punir do Estado. 
 
A realização de tatuagem e a colocação de piercings só é permitida em pessoas maiores de idade e mediante 
prévio consentimento. Se feitas ou colocadas em menores constitui crime. 
 
Ressalte-se que a violência doméstica (CP, art. 129, § 9º), trata-se de ação penal pública incondicionada.

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