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Objetivos 1. Diferenciar radiação ionizante de não ionizante. 2. Descrever os efeitos das radiações (ionizantes e não ionizantes) no organismo humano (sistemas), a curto e a longo prazo. 3. Identificar as lesões de pele benignas mais comuns e suas diferenças com o câncer de pele. 4. Caracterizar os tipos de cânceres de pele (melanoma e não melanoma) quanto à: epidemiologia, fatores de risco, fisiopatologia, aspectos clínicos, prognóstico, estadiamento e prevenção. 1. Radiação Ionizante e Não Ionizante. REFERÊNCIA: Dermatologia – Azulay ➢ Princípios das radiações A luz solar é a principal fonte de radiação que envolve os seres humanos. Ela é constituída de radiações de comprimentos de ondas diversos que, por sua vez, são parte do chamado espectro eletromagnético. A radiação eletromagnética é uma forma de energia, como as energias mecânica, química, sonora, térmica etc. Dentre as radiações que compõem o espectro eletromagnético, são de especial interesse para a dermatologia a radiação ultravioleta (UV), a luz visível e a radiação infravermelha, tanto pelas doenças cutâneas causadas ou agravadas por elas quanto pelas diversas formas de tratamento que proporcionam. ➢ Espectro eletromagnético A radiação eletromagnética é constituída por campos elétricos e magnéticos que se propagam de modo variável no espaço e no tempo, sendo bem caracterizada pela amplitude (tamanho) e pela frequência (ou, alternativamente, pelo comprimento de onda) da oscilação. A energia eletromagnética é emitida por qualquer corpo com temperatura acima de zero absoluto (O Kelvin), sendo, na prática, o sol a maior fonte natural de emissão eletromagnética. A radiação eletromagnética pode ser ordenada de maneira contínua em função de seu comprimento de onda ou de sua frequência, sendo esta disposição denominada "espectro eletromagnético", que se estende desde comprimentos de onda muito curtos (raios cósmicos) a grandes comprimentos de onda de baixa frequência (ondas de rádio). É importante mencionar que, quanto menor o comprimento de onda, maior é sua energia. O espectro eletromagnético pode ser dividido em três regiões distintas: a da radiação elétrica (inclui as ondas de rádio e micro-ondas, com grande comprimento de onda e baixa energia), a da radiação óptica (radiação infravermelha visível e ultravioleta) e outra na qual se localizam os raios X, raios gama e os raios cósmicos (com pequeno comprimento de onda e grande energia). A energia associada às ondas eletromagnéticas é conhecida pelo nome de energia fotônica, cuja unidade de medida é o fóton ou quantum. Os fótons não têm massa e, quando absorvidos, a energia incorpora-se à matéria absorvente, exercendo o seu efeito, que guarda relação com a frequência e o comprimento de onda. As radiações com comprimento de onda inferior a 10 nm geralmente ionizam as moléculas que as absorvem (removem elétrons), enquanto as radiações com comprimento de onda superior a 10 nm têm a capacidade de excitar as moléculas que as absorvem. Em química molecular, a energia fotônica pode ser expressa em kcal/mol (quilocaloria por molécula). Sabe-se que a maioria das reações fotoquímicas requer energia da ordem de 40 a 120 kcal/mol, o que demonstra a importância do espectro UV na medicina cutânea. Assim, as radiações de alta frequência e energia são ditas ionizantes (incluem, além dos já mencionados raios X, raios gama e os raios cósmicos, também a radiação UVC), sendo as demais, de menor energia e frequência, ditas não ionizantes (geram apenas movimentos rotacionais e vibracionais nas moléculas). Estas radiações não ionizantes, quando interagem com a matéria viva, produzem efeitos biológicos diversos. ➢ Composição da radiação solar Essas radiações que atingem a Terra constituem o chamado espectro fotobiológico e são responsáveis pela melanogênese, pela fotopercepção visual, pela fotossíntese e por outras reações fotoquímicas de interesse biológico. Das radiações que compõem a luz solar, cerca de 39% correspondem à luz visível, 54% encontram-se na faixa do infravermelho, 7% na faixa da UV e uma fração desprezível é representada por raios X e ondas de rádio (hertzianas). • Radiação ultravioleta A radiação UV (10 a 400 nm) pode ser didaticamente dividida em UVA (320 a 400 nm), UVB (290 a 320 nm) e UVC (200 a 290 nm); o espectro UVA, por sua vez, é subdividido arbitrariamente em UVA-1 (340 a 400 nm) e UVA-2 (320 a 340 nm). A radiação com comprimento de onda inferior a 200 nm é bastante absorvida pelo ar e, consequentemente, as faixas UV que se aproximam da radiação ionizante apresentam pouca importância nesse contexto. Aproximadamente 95% da radiação UV que chega à superfície da Terra é formada por UVA e somente 5% por UVB. • Radiação visível e infravermelha A radiação visível (400 a 760 nm) corresponde aos comprimentos de onda percebidos como cores pela retina, respondendo por cerca de 39% da composição da radiação solar, e a infravermelha (760 nm a 1 µm), invisível e responsável pela produção de calor, corresponde a cerca de 54% do total da radiação emitida pelo sol que chega à superfície terrestre. 2. Efeitos das radiações (ionizantes e não ionizantes) no organismo (sistemas) a curto e a longo prazo. REFERÊNCIA: CECIL ➢ LESÃO POR RADIAÇÃO IONIZANTE As radiações ionizantes ocorrem na forma de ondas eletromagnéticas de comprimento de onda extremamente curto e de partículas atômicas aceleradas (p. ex:., elétrons, prótons, nêutrons, partículas alfa). As lesões causadas por radiações ionizantes incluem efeitos mutagênicos, carcinogênicos e teratogênicos, além de diversas reações teciduais agudas e crônicas, como eritema, catarata do cristalino, esterilidade e depressão da hematopoese. ➢ Fisiopatologia Os efeitos biológicos da radiação ionizante decorrem dos danos infligidos ao DNA e a outras moléculas vitais por meio da energia depositada localmente. As doses da radiação ionizantes são medidas, portanto, em função da deposição de energia. Todos os humanos são continuamente expostos à radiação ionizante natural de base oriunda de: (1) raios cósmicos; (2) rádio e outros elementos radioativos presentes na crosta terrestre; (3) potássio-40, carbono-14 e outros radionuclídeos normalmente presentes em tecidos humanos; e (4) radônio inalado e produtos de sua degradação. Em populações que residem em altitudes da ordem de 1.500 metros (como em Denver, Colorado), a contribuição dos raios cósmicos pode dobrar e, nas altitudes em que voam as aeronaves a jato, pode aumentar mais de 100 vezes, ultrapassando 0,005 mSv (1 Sv = 100 rem) por hora. Da mesma forma, nas regiões em que a crosta terrestre é rica em rádio a contribuição desse radionuclídeo pode aumentar substancialmente. Entre as fontes de radiação geradas pelo homem, a maior é o uso dos raios X no diagnóstico médico. Quantidades menores de radiação também são emitidas por minerais radioativos presentes em materiais de construção, fertilizantes à base de fosfato e rochas trituradas; por componentes de aparelhos de TV que emitem radiação, detectores de fumaça e outros produtos de consumo; por precipitação radioativa na atmosfera resultante do uso de armas atômicas; e pela energia nuclear. Trabalhadores de diversas profissões silo expostos a doses extras de radiação ionizante, dependendo de suas tarefas e condições de trabalho. Nos Estados Unidos, a dose efetiva anual média recebida pelos trabalhadores monitorados com relação à radiação é inferior a 1 mSv, e menos de 1% deles aproxima-se do limite máximo permitido (50 mSv) cm qualquer ano estudado. ➢ Patogênese A colisão aleatória da radiação ionizante com átomos e moléculas durante sua trajetória dá origem a íons e radicais livres, que rompem ligações químicas, provocam outras alterações moleculares e são capazes de, em última instância, danificar a célula afetada pela radiação e tambémsuas vizinhas. Qualquer molécula pode, portanto, ser alterada, mas o DNA é o alvo biológico critico, por causa da redundância limitada de sua informação genética. Uma dose de radiação grande o suficiente para destruir uma célula média em processo de divisão (2 Sv) provoca centenas de lesões em suas moléculas de DNA. A maioria delas é corrigida, mas as lesões produzidas por uma radiação densamente ionizante (p. ex., prótons ou partículas alfa) costumam ser menos passíveis de reparação do que aquelas produzidas por uma radiação esparsamente ionizante (p. ex., raios X ou raios y). Danos ao DNA que não são reparados ou que são mal reparados podem ser expressos na forma de mutações, cuja frequência se aproxima de 10-5 a 10-6 por locus por sievert. Uma vez que a troca de mutação tende a aumentar proporcionalmente à dose, pode-se inferir que tuna única partícula ionizante que atravesse um alvo genético pode ser suficiente para provocar uma mutação. A lesão por radiação também pode causar alterações no número e na estrutura dos cromossomos, cujas consequências já foram tão bem caracterizadas que sua frequência nos linfócitos pode servir como um dosímetro biológico. O dano a genes, cromossomos e outras organelas vitais induzido pela radiação pode matar as células, especialmente aquelas em processo de divisão, que compõem um grupo muito sensível à radiação. A sobrevida das células em divisão, medida em função da capacidade proliferativa, tende a diminuir exponencialmente com o aumento da dose; a rápida exposição a 1 a 2 Sv em geral reduz a população sobrevivente dessas células em cerca de 50%. Com exceção dos linfócitos e oócitos, que tendem a morrer na intérfase, a maioria das células exterminadas pela irradiação morre durante a mitose. Embora a morte das células seja um processo estocástico (aleatório), uma dose inferior a 0,5 Sv destrói muito poucas células para causar uma lesão clinicamente detectável na maioria dos órgãos, exceto os testículos e os órgãos do embrião. O extermínio das células progenitoras em divisão, quando suficientemente extenso, pode interferir na reposição ordenada das células senescentes, principalmente em tecidos como a epiderme, a medula óssea e o epitélio intestinal, que normalmente se caracterizam por apresentar taxas elevadas de renovação celular. O período de tempo até o aparecimento da atrofia resultante varia, dependendo da dinâmica populacional das células no interior do tecido em questão; em órgãos como o fígado e o endotélio vascular, que se caracterizam por apresentar uma renovação celular lenta, a manifestação da lesão é retardada. Além disso, se o volume do tecido exposto for pequeno ou se a dose for acumulada de modo suficientemente lento, os efeitos da irradiação podem ser em parte combatidos por respostas adaptativas e pela hiperplasia regenerativa compensatória das células sobreviventes. ➢ Manifestações Clinicas • Pele Após uma rápida exposição a uma dose de 6 Sv ou superior, geralmente surge no período de 1 dia um eritema que dura algumas horas e é seguido 2 a 4 semanas depois por uma ou mais ondas de eritema mais intenso e mais prolongado e queda de pêlos. Uma exposição breve a uma dose situada no intervalo de 10 a 20 Sv pode causar lesão transepitelial, surgindo descamação úmida, necrose e ulceração dentro de 2 a 4semanas. A subsequente fibrose da derme e da vasculatura subjacente pode levar à atrofia e a uma segunda onda de ulcerações meses ou anos mais tarde. • Medula Óssea e Tecido Linfoide Uma dose de 2 a 3 Sv aplicada rapidamente em todo o corpo destrói um número de linfócitos suficiente para reduzir a contagem de linfócitos e a resposta imunológica dentro de horas. Tal dose também pode danificar as células hematopoéticas o suficiente para causar leucopenia e trombocitopenia profundas dentro de 3 a 5 semanas. Se a dose ultrapassar 5 Sv, é provável que ocorram infecção fatal e hemorragia. • Intestino Após uma dose aguda de 10 Sv, a morte de células-tronco epiteliais é suficientemente extensa para causar um rápido desnudamento das vilosidades intestinais. Se a região afetada for grande, poderá ocorrer a morte em decorrência de uma síndrome fatal semelhante à disenteria em alguns dias. • Aparelho Respiratório A rápida exposição dos pulmões a uma dose de 6 a 10 Sv danifica as células dos alvéolos e a vasculatura pulmonar em um grau suficiente para provocar pneumonite aguda dentro de 1 a 3 meses. Quando extenso, o processo pode levar à insuficiência respiratória fatal em 6 meses ou à fibrose pulmonar e ao cor pulmonale meses ou anos mais tarde. • Gônadas Os espermatozoides são relativamente radiorresistentes, mas as espermatogônias são altamente sensíveis à radiação; uma dose de 0,15 Sv aplicada rapidamente em ambos os testículos causa oligospermia após um período de latência de cerca de 6 semanas, e uma dose de 2 a 4 Sv pode provocar esterilidade permanente. Os oócitos também são radiossensíveis; a administração de uma dose de 1,5 a 2,0 Sv a ambos os ovários causa esterilidade temporária, e uma dose maior produz esterilidade permanente, dependendo da idade da mulher na época da exposição. • O Cristalino do Olho A exposição aguda do cristalino a mais de 0,5 Sv pode causar uma opacificação polar posterior microscópica em alguns meses, e 2 a 3 Sv recebidos em uma única exposição breve ou 5,5 a 14 Sv acumulados durante meses podem provocar uma catarata que prejudica a visão. • Outros Tecidos e Órgãos Outros tecidos e órgãos, exceto os do embrião, são relativamente pouco radiossensíveis. Entretanto, todos os tecidos são mais radiossensíveis quando estão crescendo rapidamente. • Lesão do Corpo Inteiro por Radiação A breve exposição da maior parte do corpo a mais de 1 Sv pode causar a síndrome da radiação aguda, que se caracteriza por: (1) uma fase inicial prodrômica de mal-estar, anorexia, náuseas e vômitos; (2) um período de latência subsequente; (3) uma segunda fase (principal) de doença, e (4) recuperação ou morte. A principal fase da doença geralmente assume uma de quatro formas básicas: (1) hematológica; (2) gastrointestinal; (3) neurovascular ou (4) pulmonar, dependendo do tamanho e da distribuição anatómica da dose. • Lesão por Radiação Localizada ou Regional Ao contrário da síndrome de radiação aguda, cujas manifestações são drásticas e relativamente imediatas, as reações da maioria dos tecidos à irradiação localizada tendem a evoluir mais lentamente sem produzir sintomas ou sinais, a menos que o volume de tecido irradiado ou a dose seja grande. A lesão produzida por um radionuclídeo segue a distribuição anatômica desse elemento e a radiação por ele emitida, a qual pode ser influenciada pelo estado físico-químico do radionuclídeo e pela sua porta de entrada no organismo. • Efeitos Hereditários (Genéticos) da Radiação As mutações hereditárias e as anormalidades cromossômicas induzidas pela radiação estão bem documentadas em outros organismos, mas ainda precisam ser observadas em humanos. Um estudo intensivo que envolveu mais de 76.000 filhos de sobreviventes japoneses das bombas atômicas não revelou nenhuma evidência clara de efeitos hereditários causados pela radiação. Os efeitos pesquisados consistiram em gravidezes com final adverso, óbitos neonatais, neoplasias malignas, rearranjos cromossômicos balanceados, aneuploidia dos cromossomos sexuais, alterações fenotípicas das proteínas séricas ou eritrocitárias, alteração na proporção dos sexos ou distúrbios do crescimento e desenvolvimento. Com base na evidência existente, infere-se que é necessária uma dose de, no mínimo, 1 Sv para duplicar a taxa de mutações hereditárias nas células germinativas humanas e que, consequentemente, menos de 1% de todas as doenças genéticas pode ser atribuída à irradiação natural de base. • Efeitos Carcinogênicos da Radiação Observou-se que muitos dos tipos de crescimentos benignose malignos podem ser induzidos por irradiação; entretanto, os crescimentos induzidos levaram geralmente anos ou décadas para aparecerem e não apresentaram características que os distinguissem dos crescimentos resultantes de outras causas. Além disso, salvo umas poucas exceções, tais crescimentos puderam ser detectados somente após doses relativamente grandes (> 0,5 Sv), e sua frequência variou de acordo com o tipo de neoplasia, a idade e o sexo da população exposta. Uma vez que os dados existentes não são suficientes para descrever com precisão a relação dose-incidência ou para definir por quanto tempo após a irradiação o risco de câncer permanece elevado cm uma população exposta, a avaliação dos riscos da irradiação de níveis baixos precisa ser baseada em modelos que incorporam suposições sobre esses parâmetros. Tais avaliações têm dependido em grande parte do que foi encontrado nos sobreviventes das bombas atômicas, e pode-se inferir que a incidência total de câncer nesses indivíduos aumentou como uma função linear, sem limiar, da dose de radiação recebida. Contudo, não se pode presumir que essas estimativas sejam preditivas do risco de câncer atribuído a uma dose acumulada ao longo de semanas, meses ou anos, pois experimentos com animais de laboratório mostraram que a potência carcinogênica dos raios X e dos raios gama diminui de duas a 10 vezes quando a exposição é suficientemente prolongada. Além disso, as estimativas tabuladas correspondem a médias relativas a uma população nominal de homens e mulheres de todas as idades, ao passo que as estimativas relativas ao câncer de mama em mulheres e ao câncer de tireoide em pessoas irradiadas durante a infância são substancialmente mais altas do que aquelas mostradas. • Efeitos sobre a Duração da Vida A mortalidade por doenças cardiovasculares, respiratórias e outras não neoplásicas, assim como por diversas formas de câncer, está aumentada nas populações que foram irradiadas de modo intenso. Entretanto, nas populações levemente irradiadas esses efeitos não são evidentes e, em alguns casos, parece ter ocorrido um aumento da sobrevida. Esse achado levou alguns autores a sugerir que os efeitos de pequenas doses de radiação podem ser no final das contas benéficos (hormese por radiação), mas essa hipótese é altamente controversa e ainda precisa ser validada. • Efeitos da Irradiação Pré-natal O embrião é particularmente vulnerável à morte quando exposto antes da implantação; é suscetível a malformações e a outros transtornos do desenvolvimento quando exposto durante os estágios subsequentes da organogênese, e é sensível aos efeitos carcinogênicos da radiação durante toda a sua vida intrauterina. Entre os diversos distúrbios de crescimento e desenvolvimento são particularmente dignos de nota o aumento dose-dependente da frequência de retardo mental grave e a redução, também dose-dependente, das pontuações obtidas nos testes de QI observados nos sobreviventes das bombas atômicas que foram irradiados entre a 8ª e a 15ª semana e, em menor grau, aqueles irradiados entre a 16ª e a 25ª semana após a concepção. ➢ LESÃO POR RADIAÇÃO NÃO IONIZANTE • Radiação Ultravioleta O espectro da radiação ultravioleta (UV) está subdividido, por conveniência, em três faixas: UVA ou “luz negra”; de 315 a 400 nm; UVB, de 280 a 315 nm; e UVC, que é germicida, de 200 a 280 nm. A radiação UV não penetra profundamente nos tecidos humanos, por isso as lesões por ela causadas restringem- se basicamente à pele e aos olhos. ➢ Fisiopatologia Os efeitos da radiação UV são basicamente atribuídos à sua absorção pelo DNA; são produzidos dímeros de pirimidina que causam mutações nas células expostas. A sensibilidade à radiação UV pode aumentar quando há defeitos no reparo do DNA (como ocorre no xeroderma pigmentoso), ou pela ação de agentes (p. ex, a cafeína) que inibem as enzimas reparadoras e de agentes fotossensibilizantes (p. ex., psoralênicos, sulfonamidas, tetraciclinas, ácido nalidíxico, sulfonilureias, tiazídicos, fenotiazinas, furocumarinas e alcatrão da hulha) que produzem fotoprodutos do DNA que absorvem a radiação UV. A ação carcinogênica da radiação UV é mediada por efeitos diretos sobre as células expostas e pela queda da imunidade local. ➢ Manifestações Clinicas A UVB presente na luz solar, embora muito menos intensa que a UVA, desempenha um papel mais importante na queimadura solar e na carcinogênese cutânea, mas a UVA também contribui para a carcinogênese cutânea, o bronzeamento, algumas reações de fotossensibilidade e o envelhecimento da pele. • Luz Visível A luz visível compreende ondas eletromagnéticas com comprimentos de ondas que variam de 380 nm (violeta) a 760 nm (vermelha). ➢ Fisiopatologia Luz visível brilhante e contínua normalmente desencadeia uma resposta de aversão para proteger os olhos de lesões. Sob condições normais de visão, poucas fontes de luz, além do laser e do sol durante um eclipse solar, são grandes ou brilhantes o suficiente para causar queimaduras na retina. ➢ Patogênese As reações fotoquímicas na retina resultantes de exposição prolongada a intensidades que ultrapassam 0,1 mW/cm2, como as que podem resultar do conserto de uma fonte de luz brilhante, podem ser suficientes para produzir lesão fotoquímica por luz azul. Uma breve exposição da retina a intensidades que ultrapassam 10 W/cm2, dependendo do tamanho da imagem, pode provocar queimadura retiniana. ➢ Manifestações Clinicas Uma iluminação escassa pode causar fadiga ocular ou transtorno afetivo sazonal, enquanto uma iluminação muito intensa pode lesar a retina. • Radiação Infravermelha A radiação infravermelha consiste em ondas eletromagnéticas com comprimentos de onda que variam de 7x l0-5 m a 3 x 10-2 m. As lesões causadas pela radiação infravermelha são basicamente queimaduras de pele e cataratas do cristalino ocular. ➢ Manifestações Clinicas Sopradores de vidro, ferreiros, operadores de fornos e pessoas que trabalham próximo de lâmpadas para aquecimento e secagem correm um risco maior de desenvolver catarata induzida por radiação infravermelha. • Radiação por Microondas As radiações de microondas e de radiofrequência consistem em ondas eletromagnéticas com frequências que variam de aproximadamente 3 kHz a 300 GHz. ➢ Fisiopatologia Os efeitos biológicos das radiações de microondas e de radiofrequência são basicamente de natureza térmica. Por causa da penetração profunda desses tipos de radiação, as queimaduras cutâneas causadas por elas tendem a envolver tecidos dérmicos e subcutâneos e a cicatrizar lentamente. ➢ Manifestações Clinicas Existem relatos de casos isolados de queimaduras de pele, lesão térmica de tecidos mais profundos e morte por hipertemia provocados por fontes industriais de radiação de microondas e radiofrequência. Foram, descritas também, queimaduras como consequência do uso incorreto ou impróprio de fomos de microondas domésticos e da exposição excessiva de pacientes com comprometimento das percepções cutâneas de dor e temperatura, as quais geralmente alertam contra lesões iminentes. Outros efeitos descritos na literatura, ainda não documentados de forma conclusiva, incluem catarata, comprometimento da fertilidade, distúrbios do desenvolvimento, anormalidades neurocomportamentais, depressão da imunidade e aumento do risco de câncer. As radiações de microondas e de radiofrequência também podem interferir em marcapassos cardíacos e em outros dispositivos médicos. REFERÊNCIA: Patologia Geral – Bogliolo – Geraldo Brasileiro Filho. As lesões produzidas por radiações ionizantes no ser humano resultam de: (1) inalação ou ingestão de poeira ou alimentos que contêm partículas radioativas, o que ocorre em trabalhadores de minas – onde são abundantes minerais radioativos, como o rádio; (2) exposição a radiações com fins terapêuticos ou diagnósticos; (3) contato acidental comradiações emanadas de artefatos nucleares como reatores, aparelhos de radioterapia ou de radiodiagnóstico; (4) bombas nucleares. Como o efeito das radiações ionizantes é o mesmo, independentemente da fonte ou do tipo de radiação, serão discutidos apenas os aspectos gerais dos mecanismos pelos quais as radiações produzem lesões, sem a preocupação de se estudar os aspectos específicos das doenças por irradiação. As radiações ionizantes lesam os tecidos por dois mecanismos: (1) ação direta sobre as macromoléculas – especialmente proteínas, lipídeos, carboidratos e ácidos nucleicos, nas quais podem produzir quebras, novas ligações e ionização de radicais, alterando a função dessas moléculas; (2) ação indireta, produzindo radicais livres a partir da ionização da água (radicais O2, OH, H2O2). Fatores que interferem nas lesões As lesões produzidas por radiações dependem de vários fatores, entre os quais: (1) dose e tempo de exposição – doses repetidas são mais lesivas do que a mesma dose aplicada de uma só vez; (2) oxigenação dos tecidos – pois, quanto maior a disponibilidade de O2, maior a radiossensibilidade; (3) substâncias radiossensibilizantes, como os análogos de bases orgânicas pirimídicas, as quais aumentam o poder lesivo das radiações; (4) elementos que removem radicais livres, como acisteína e a cisteamina, exercem efeito radioprotetor; (5) diferentes fases do ciclo celular, as quais tornam as células mais ou menos radiossensíveis: células em G2 ou em M são mais sensíveis do que em G1, enquanto a menor sensibilidade é encontrada em células no final da fase S. Os tecidos com maior atividade mitótica são geralmente os mais radiossensíveis e os primeiros a apresentar alterações após radiações. Como muitos cânceres são formados por células com alta atividade mitótica, a radioterapia é muito utilizada no seu tratamento. Todavia, a radiossensibilidade dos tumores malignos é variada, havendo alguns mais e outros menos radiossensíveis. Há cânceres radiossensíveis e cânceres radiocuráveis; estes podem ser erradicados com radioterapia, mas aqueles sofrem grande regressão após a radioterapia, embora esta não elimine todas as células cancerosas. • Efeitos locais de radiações ionizantes. As alterações produzidas pelas radiações são denominadas lesões actínicas. Dependendo da dose e do tempo de irradiação, podem surgir lesões agudas (imediatas), lesões crônicas e lesões tardias. Na fase aguda, encontram-se: (1) lesões degenerativas, que vão desde degeneração hidrópica até necrose. Se são células com grande atividade mitótica, há inibição da proliferação e aparecimento de mitoses atípicas. Além disso, são frequentes células com núcleos pleomórficos resultantes de aneuploidia e poliploidia; células gigantes, com núcleos bizarros, também são comuns. Tais aberrações nucleares podem trazer dificuldade ao patologista que examina tecidos após irradiação para verificar possível persistência de células cancerosas, que também possuem núcleos pleomórficos e aberrantes. O estudo citogenético de células irradiadas revela todos os tipos de aberrações cromossômicas conhecidas: quebras, deleções, translocações, inversões etc. A análise dos descendentes dessas células pode mostrar o aparecimento das mais variadas mutações; (2) alterações vasculares, muito frequentes. Há vasodilatação e tumefação e vacuolização de células endoteliais, que podem sofrer necrose. Além do aumento de permeabilidade vascular (edema), pode haver ruptura da parede, hemorragia, formação de trombos e lesões decorrentes de obstrução do vaso. Na fase tardia, os vasos apresentam proliferação endotelial e fibrose hialina da parede, com redução da luz. Dilatações vasculares (telangiectasias) podem persistir por longo tempo; (3) migração de fagócitos (neutrófilos e macrófagos), que removem as células mortas e iniciam os estímulos para a cicatrização. Úlceras de irradiação na pele são de difícil cicatrização por causa da inibição da regeneração do epitélio e da proliferação endotelial e fibroblástica. No processo de cura, há intensa deposição de colágeno com tendência a hialinização. A fibrose intersticial difusa, maior do que a esperada por lesões induzidas por irradiações repetidas, é encontrada nos pulmões e no coração após irradiações múltiplas. • Irradiação total do corpo. A irradiação total do corpo pode produzir desde pequenas alterações funcionais até uma doença aguda grave, seguida de morte, além de complicações tardias, como aumento na incidência de câncer e aceleração do envelhecimento. As lesões aparecem primeiro em órgãos formados por tecidos mais radiossensíveis. O Quadro resume as manifestações que aparecem após a irradiação total do corpo por diferentes doses de radiação. Pessoas que sobrevivem à irradiação total do corpo apresentam, anos depois, sinais de envelhecimento acelerado. Camundongos irradiados também têm redução significativa da expectativa de vida. Não se sabe se isso decorre de possíveis mutações em genes que controlam os processos do envelhecimento ou se é devido a alterações vasculares observadas após irradiação (proliferação endotelial e fibrose da parede), que reduzem a nutrição dos tecidos. • Irradiação e câncer. O papel das radiações ionizantes na etiologia do câncer é inquestionável. Observações experimentais e epidemiológicas mostram aumento da incidência de diversos tipos de câncer, em tempos diversos, após determinadas doses de radiação. O período de latência entre a irradiação e o aparecimento do câncer é variável, sendo menor para os tumores do sistema hemolinfopoético (leucemias e linfomas). O mecanismo responsável é a capacidade que as radiações têm de induzir mutações gênicas, translocações ou deleções cromossômicas, podendo alterar, qualitativa ou quantitativamente, genes relacionados com neoplasias. • Irradiação do corpo no período pré-natal e de crescimento pós-natal. Se a irradiação ocorre na fase de blástula e, portanto, antes da implantação do ovo, é possível que haja eliminação do embrião sem que a mãe perceba ter ocorrido sua formação. A irradiação no período embrionário pode acarretar grande número de malformações, dependendo do estágio de desenvolvimento do embrião, pois é nessa época que ocorre a formação das estruturas básicas do corpo. Durante esse período, é comum abortamento após a irradiação. Irradiação durante o período fetal pode determinar manifestações observadas somente após o nascimento: redução de células neuronais, levando a retardo mental; depleção de células gonadais, causando disfunção reprodutiva; alteração em áreas de crescimento dos ossos, resultando em distúrbios do crescimento pós-natal; e aumento na incidência de cânceres na infância e na adolescência, especialmente leucemias e linfomas. ➢ LUZ SOLAR A luz solar contém um amplo espectro de radiações, que vão desde pequenos comprimentos de onda (radiações cósmicas) até aqueles ao nível das ondas hertzianas. A radiação infravermelha produz calor, sendo responsável em parte por queimaduras solares. No entanto, são as radiações ultravioleta as mais importantes e potencialmente as mais lesivas. Além dos demais efeitos descritos a seguir, os raios ultravioleta (UV) diminuem o número de células de Langerhans da epiderme e reduzem as respostas imunitárias local e sistêmica, especialmente a imunidade celular. Existem três faixas de ultravioleta: < 290 nm (UVC), entre 290 e 320 nm (UVA) e entre 320 e 400 nm (UVB). Os raios UVC são absorvidos na camada de ozônio e não chegam à superfície da Terra (a proteção da camada de ozônio tem, pois, grande importância para as pessoas). Os raios UVA e UVB são os responsáveis pelas lesões provocadas pela luz solar, que podem ser agudas ou crônicas. Entre as agudas, têm-se hipertermia (insolação, intermação por choque térmico) e queimaduras. Estas se manifestam por eritema, edema e, maisraramente, formação de bolhas; em seguida, surgem descamação e hiperpigmentação. Os efeitos crônicos são mais importantes. Os raios UVB têm ação melanogênica, induzem pigmentação, são os responsáveis principais por fenômenos de fotossensibilização, associam-se ao envelhecimento acelerado e provocam lesões proliferativas, incluindo neoplasias (carcinomas, melanomas). Agindo por período prolongado, os raios UVB induzem enrugamento da pele, a qual se torna progressivamente coriácea (como pele curtida), e, portanto, o chamado envelhecimento cutâneo precoce. Isso se deve à degeneração e à fragmentação de fibras elásticas na derme e, consequentemente, a modificações nas propriedades elásticas da pele (daí o enrugamento). Os raios UVA causam degenerações em células da epiderme e alterações no seu DNA, o que pode provocar lesões proliferativas benignas (ceratose actínica) ou de malignidade variável (epitelioma basocelular, carcinoma de células escamosas e melanomas). A relação entre radiação solar e câncer da pele parece inquestionável: os carcinomas são mais frequentes em regiões expostas à luz solar – nos lábios, são mais comuns no inferior do que no superior. A ação carcinogênica de raios UV se deve à formação de dímeros de timina nas moléculas de DNA. Quase sempre, tal mutação é corrigida por produtos dos genes de reparo do DNA; quando isso não ocorre, as mutações são transmitidas às células-filhas e podem resultar no aparecimento de um câncer. Fotossensibilização Reações de fotossensibilização são induzidas por substâncias que se depositam na pele e, por absorverem raios UV, podem ser ativadas, originar radicais livres e ter efeitos tóxicos sobre células epidérmicas; com isso, causam eritema, edema e, às vezes, bolhas, exacerbando os efeitos da luz. Essa sequência constitui uma reação do tipo fototóxica. Outras vezes, uma substância se deposita na pele e, por ação de raios UV, é ativada e forma radicais que funcionam como haptenos, os quais se ligam a proteínas da epiderme e induzem uma resposta imunitária do tipo celular, desencadeando reações semelhantes às dadermatite de contato. Surge eczema, em geral dias após a exposição à substância e à luz solar, período em que se está montando a resposta imunitária. O quadro é de uma dermatite eczematosa, com vermelhidão, edema, prurido e formação de bolhas. Trata-se de uma reação tipicamente fotoalérgica. Há fármacos que são eminentemente fototóxicos, como fenotiazínicos, psoralenos e metotrexato, e outros predominantemente fotoalérgicos, como quinidina e quinino; outros ainda podem ter os dois efeitos, como sulfonamidas e ciclamatos. Quando o produto fotossensibilizador é de natureza vegetal, fala-se em fitofotodermatose (comum após contato com folhas de figo, sumo do limão etc.). A fotossensibilização pode ocorrer em doenças sistêmicas, como o lúpus eritematoso, no qual a exposição aos raios UV pode induzir a atividade da doença. Nas porfirias, os depósitos de protoporfirinas na pele induzem lesões fototóxicas; na pelagra, há exacerbação dos efeitos epidérmicos da radiação solar, com eritema, edema e hiperpigmentação. ➢ CARCINOGÊNESE POR RADIAÇÕES Tanto as radiações excitantes (ultravioleta) como as ionizantes podem provocar tumores em humanos e em animais. As formas de exposição a esses agentes físicos são muito variadas e frequentes, de modo que, em conjunto, eles têm grande interesse prático. Como na carcinogênese química, as radiações também provocam mutações e são capazes de ativar oncogenes (principalmente RAS) e/ou inativar genes supressores de tumor, podendo atuar sinergicamente com outros carcinógenos. Os efeitos carcinogênicos das radiações podem ocorrer muitos anos ou décadas depois da exposição. • Radiação ultravioleta Os raios ultravioleta (UV) da luz solar são provavelmente o agente cancerígeno mais atuante na espécie humana. Os cânceres da pele, que são os mais frequentes em humanos, têm estreita relação com exposição ao sol e são encontrados predominantemente em pessoas expostas à luz solar por período prolongado. Indivíduos que trabalham ou ficam muito tempo em contato com raios solares desenvolvem diversas lesões pré-cancerosas da pele (ceratose solar), carcinomas basocelular ou de células escamosas e melanomas. O risco de aparecimento desses tumores depende da intensidade e da duração da exposição e da proteção natural de cada indivíduo. A suscetibilidade a esses tumores é inversamente proporcional à pigmentação cutânea, já que melanina é um filtro eficiente da radiação ultravioleta. A faixa ativa das radiações UV é de 200 a 400 nm (ver Luz solar, no Capítulo 3). Os raios UVB são os mais implicados em tumores da pele. O alvo principal da radiação é o DNA, no qual podem ser produzidas várias alterações, das quais a formação de dímeros de timina é a mais importante. Trata-se da formação de uma mutação puntiforme que pode afetar oncogenes ou genes supressores de tumor; em cânceres humanos ou experimentais, encontram-se mutações nos genes RAS e TP53 associadas a exposição a UVB. Em condições normais essas modificações na molécula de DNA podem ser reparadas pelos sistemas enzimáticos, aparecendo tumores somente quando esses sistemas protetores falham. No xeroderma pigmentoso (doença de herança autossômica recessiva), o sistema reparador é defeituoso e os pacientes desenvolvem vários cânceres da pele já na juventude. Além disso, pelo menos em animais, radiação UV estimula linfócitos T supressores a inibir a resposta imunitária, o que também pode favorecer o aparecimento de neoplasias. • Radiação Ionizante As radiações ionizantes podem ser eletromagnéticas (raios X e gama) ou particuladas (partículas alfa e beta, prótons e nêutrons). As principais evidências da ação cancerígena dessas radiações são: ■ Maior incidência de câncer cutâneo ou leucemias em radiologistas ou operadores de aparelhos de raios X que, no passado, não usavam a devida proteção ■ Exposição excessiva aos raios X na infância aumenta a incidência de leucemias e câncer da tireóide ■ Câncer broncopulmonar é mais comum em trabalhadores de minas que contêm compostos radioativos ■ Aparecimento de osteossarcomas em operários que envernizavam mostradores luminosos e que tinham o hábito de umedecer com os lábios o pincel com material fluorescente contendo substâncias radioativas ■ Aumento da incidência de leucemias e de tumores sólidos (mama, cólon etc.) em sobreviventes das explosões atômicas de Hiroshima e Nagasaki ■ Aumento de câncer da tireoide em crianças que viviam nas proximidades do local do acidente de Chernobil ■ Aplicação experimental de radiações induz neoplasias em diferentes animais. Figura 10.36 Formação de dímero de timina por radiação ultravioleta (UV) e reparo do DNA. A. Molécula de DNA de dupla fita. B. Formação de dímero de timina por radiação UV. C. Início de reparo por ação de uma endonuclease que cliva as ligações fosfodiéster de nucleotídeos. D. Remoção da sequência contendo o dímero por uma exonuclease. E. Preenchimento da porção removida por DNA polimerase. F. Ligação do segmento copiado por uma ligase. Diante de tantos indícios do potencial oncogênico desses agentes, existe justificada preocupação em reduzir a exposição das pessoas às radiações ionizantes. Graças às precauções tomadas, atualmente essas radiações são responsáveis por poucos cânceres humanos. O efeito carcinogênico das radiações ionizantes também deve-se ao seu potencial mutagênico, uma vez que podem provocar diversas alterações cromossômicas (translocações, quebras, mutações puntiformes e, principalmente, deleções). O poder mutagênico depende ainda dos seguintes fatores: ■ Tipo de células-alvo. Diferentes tecidos têm sensibilidade distinta. Quanto maior a taxa de renovação celular e menor o grau de diferenciação das células, maior é a sensibilidade. A medula óssea, por exemplo, é muito sensível às radiaçõesionizantes. Essa regra geral vale também para o tratamento dos próprios tumores, ou seja, neoplasias pouco diferenciadas ou em acelerada taxa de proliferação respondem mais à radioterapia ■ Idade do indivíduo. Fetos, recém-nascidos e crianças são mais vulneráveis aos efeitos de radiações do que os adultos ■ Eficiência dos mecanismos de reparo do DNA: mutações herdadas nos genes RAD e BRCA tornam o indivíduo mais suscetível à ação de radiações ■ A resposta imunitária e o estado hormonal também influem na ação cancerígena de radiações. REFERÊNCIA: Dermatologia – Azulay Camada de ozônio e vida na Terra O espectro eletromagnético solar impediu, durante milhões de anos, a existência da vida na superfície terrestre. Por esse motivo, a vida iniciou-se no fundo do mar, fora do alcance dessas radiações. No fundo do mar formaram-se algas unicelulares, que iniciaram a produção de O2, enviado em quantidade cada vez maior à superfície terrestre. Os raios UV agiram sobre o O2, transformando- o em O3 (ozônio). Lentamente, o O3 foi se acumulando na estratosfera, formando, assim, a camada de ozônio. Essa camada impediu a chegada de radiações UVC (a vida é incompatível com a presença de UVC), de quantidade expressiva de UVB e de quantidade pequena de UVA. Desse modo, a camada de ozônio possibilitou o surgimento da vida na superfície terrestre. A maior ou menor chegada dos raios UV à superfície terrestre depende dos seguintes fatores: ■ horário: ao meio-dia, a radiação solar está na menor distância da Terra ■ latitude: a radiação é gradativamente maior a partir dos polos para o Equador (neste ponto a camada de ozônio é menos espessa) ■ estação: a radiação é maior no verão (o ângulo de incidência é perto dos 90°) ■ altitude: a radiação é mais intensa em grandes altitudes porque há menos atmosfera para absorvê-la ■ poluição atmosférica: as nuvens diminuem a radiação entre 10 e 80%. A quantidade de UVA que atinge a superfície terrestre é praticamente constante durante o dia, uma vez que o UVA é pouco filtrado pela camada de ozônio, ao passo que a quantidade de radiação UVB é maior no período entre 10 e 14 h, com pico ao meio-dia (entre 11 e 15h no horário de verão), em função do posicionamento da Terra em relação ao sol, pois a camada de ozônio absorve grande quantidade de UVB. Vale ressaltar o fato de a radiação UVA ter uma intensidade 20 vezes maior que a radiação UVB ao chegar à Terra e ser capaz de atravessar vidros comuns, diferentemente do UVB que não atravessa. • Interação das radiações com a pele As radiações, ao atingirem a pele, são parcialmente refletidas, refratadas e, em parte, absorvidas. É importante ressaltar que apenas a radiação absorvida dá início à reação fotoquímica inaugural da resposta biológica (lei de Grotthus e Draper). A pele é constituída de moléculas orgânicas (lipídios, glicídios, proteínas e ácidos nucleicos) e água, trazendo em solução íons inorgânicos. Uma das características das moléculas orgânicas é o chamado espectro de absorção, que guarda relação com a estrutura eletrônica delas. A maioria dessas moléculas tem o seu espectro de absorção máximo na faixa do UV; como exemplos podem ser citados o triptofano e a tirosina, que absorvem 280 nm; os esteroides, que absorvem acima de 300 nm. Assim, essas radiações de diferentes comprimentos de onda, interagindo sobre diferentes moléculas orgânicas que se encontram na epiderme e derme, determinam reações fotoquímicas cujo efeito final está relacionado com a importância do papel biológico da molécula envolvida. A molécula que absorve o fóton é denominada cromóforo. Quando o cromóforo absorve o fóton, a molécula deixa o estado de repouso e torna-se excitada e, portanto, capaz de reagir com moléculas do meio biológico, levando à formação de fotoprodutos (oxidação de fosfolipídios de membrana), ou, ainda, a modificações bioquímicas (síntese de prostaglandinas), ou mesmo a alterações celulares (apoptose) e, finalmente, a alterações teciduais identificáveis do ponto de vista clínico (eritema, bolha, pigmentação). Deve-se assinalar que o DNA é o principal cromóforo da pele, relacionando-se não apenas com as modificações da resposta imunológica da pele como também com a indução de mutações celulares e o desenvolvimento de malignidades como consequência da interação da radiação UV com a pele. • Efeitos da radiação ultravioleta sobre a pele A luz UV atinge diferentes camadas da pele dependendo do comprimento de onda, e assim, interage com diferentes células localizadas em profundidades distintas. A radiação UV de comprimento de onda curto (UVB) é absorvida predominantemente na epiderme, afetando os queratinócitos. A radiação de comprimento de onda longo (UVA) penetra profundamente e interage tanto com queratinócitos da epiderme quanto com fibroblastos dérmicos (Figura 75.5). Em linhas gerais, a luz UVA atua principalmente gerando radicais livres que irão, posteriormente, ser responsáveis pela peroxidação lipídica e ativação dos fatores de transcrição. Já a radiação UVB, embora possa também gerar radicais livres, tem como principal mecanismo de ação a interação direta com o DNA, causando diversas alterações. Em termos práticos, os efeitos perceptíveis da radiação UV podem ser divididos em precoces (eritema, queimadura, bronzeamento, espessamento da epiderme, imunossupressão) e tardios (fotoenvelhecimento, fotocarcinogênese) • Efeitos precoces da radiação ultravioleta Eritema A reação eritematosa à radiação UV é um processo inflamatório, e depende do comprimento de onda em questão, sendo maior quanto menor for o comprimento de onda; assim, a radiação UVB é a mais eficaz na indução de eritema, e a radiação UVA é 1.000 vezes menos potente na indução de eritema, sendo responsável por cerca de 15% do eritema induzido pelo sol. O eritema ocorre de 4 a 8 h após a exposição solar, e é resultante de um processo de oxidação das proteínas aromáticas pericapilares; essa alteração molecular leva à liberação de substâncias mediadoras da vasodilatação, dentre as quais sobressaem as prostaglandinas. Acrescente-se, ainda, que os fótons absorvidos degranulam os mastócitos, liberando histamina, com as suas já conhecidas consequências. Por outro lado, a lesão dos leucócitos, dos lisossomos e dos queratinócitos libera substâncias eritrogênicas. O pico do eritema ocorre entre 6 e 24 h, desaparecendo gradativamente ao longo de 1 dia ou pouco mais, dependendo do fototipo. Esse eritema pode ser retardado ou diminuído pelo uso, em tempo, de inibidores das prostaglandinas, como o ácido acetilsalicílico e a indometacina. A avaliação do eritema se faz pela determinação, experimentalmente, da dose eritematosa mínima (DEM), ou seja, a menor quantidade de radiação necessária para produzir discreto, porém nítido eritema 24 h após a exposição. Em geral, a DEM é determinada exclusivamente pelos UVB. Queimadura Não difere das queimaduras em geral; na queimadura solar de primeiro grau, observam-se apenas eritema e edema das áreas irradiadas, com desconforto relativo; na queimadura de segundo grau, como o edema é muito intenso, há formação de bolhas que, ao se romperem, eliminam grandes quantidades de eletrólitos e proteínas. Dependendo da extensão e/ou intensidade do processo, ocorre sintomatologia geral: náuseas, febre, calafrios, taquicardia, delírio, prostração e, até mesmo, choque. Acrescente-se, ainda, que nos climas quentes a superexposição solar leva à hiperidrose, com grandes perdas de água e eletrólitos, e graves repercussões para o equilíbrio térmico e hidreletrolítico. O tratamento dos casos leves é feito por emulsões, uso de pasta d’água e administração de corticosteroides locais; os casos graves necessitam de terapêutica sistêmica com corticosteroide, sobretudo triancinolona (intramuscular), e cuidados especiais (reidratação, reposição de eletrólitos etc.), sendo muitas vezes necessáriaa internação em CTI. Até certo ponto, após exposição solar exagerada, sobretudo em pessoas de pele fototipos I a III, impõe- se, nas primeiras horas, bloquear o efeito das prostaglandinas pelo uso de ácido acetilsalicílico ou indometacina. A ocorrência de queimaduras em pacientes que fazem tratamento com o método PUVA-sol é frequente. Pigmentação Há dois tipos de pigmentação melânica da pele: a cor intrínseca da pele, geneticamente determinada e imutável; e a facultativa, decorrente da ação dos raios solares e dos hormônios, que é mutável. Esta, quando estimulada pelos raios solares ou UV artificialmente produzidos, é conhecida com o nome de bronzeamento. Chama-se unidade melanina-epiderme o conjunto constituído funcionalmente por um melanócito e cerca de 36 queratinócitos; é do funcionamento dessas unidades que dependem a cor genética da pele e a cor facultativa (bronzeamento). Os melanócitos fabricam grânulos – os melanossomos –, que sofrem a melanização por meio da tirosinase, que, pela oxidação da tirosina, leva à formação da melanina; os melanócitos injetam, por meio de seus dendritos, os melanossomos no interior dos queratinócitos que os incorporam. Com a maturação dos queratinócitos, os melanossomos são eliminados. O bronzeamento é induzido tanto pela radiação UVA quanto pela UVB, e pode ser classificado em duas categorias: ■ bronzeamento imediato (BI): conhecido pelo nome fenômeno de Meirowsky, ocorre poucos minutos após a exposição solar e persiste até 24 h ■ bronzeamento tardio (BT): se inicia de 2 a 3 dias após a irradiação e dura, em média, semanas a meses. O BI decorre de melanização, isto é, da foto-oxidação da melanina previamente existente, enquanto o BT deriva da melanogênese e transferência da melanina aos queratinócitos. A radiação UVA provoca o BI, que por seu caráter efêmero, não oferece proteção contra os efeitos da radiação UVB. Doses subsequentes de luz UVA promovem BT e pigmentação persistente. Já a radiação UVB em dose eritrogênica produz BT, visível após cerca de 72 h e capaz de fornecer proteção contra doses subsequentes de radiação UVB. Assim, tanto a radiação UVA quanto a UVB podem causar bronzeamento, mas a UVA é menos eficaz (sendo a UVA curta um pouco mais eficaz). Convém lembrar que os raios infravermelhos e os raios visíveis (luz) também produzem BT, mas em escala muito menor. Para mais informações sobre os mecanismos de proteção contra luz e irradiação UVA, UVB e UVC, veja o quadro. Do ponto de vista prático, é interessante saber que: ■ antes das 9 e depois das 15 h, o eritema solar é mínimo e o bronzeamento é máximo (sobretudo BI, mas também BT), pois a quantidade de UVB que chega à Terra é pequena, e a de UVA é grande ■ ao meio-dia, a quantidade de UVB é máxima, por isso o eritema é intenso, bem como o BT, embora se saiba que, nesse momento, o UVB represente 1/100 em relação ao UVA ■ além da quantidade de radiação que chega à Terra, deve-se considerar o acréscimo decorrente da reflexão na neve, na areia e no mar; essa reflexão é bem maior com o UVA do que com o UVB. Em decorrência dos diferentes padrões de resposta à radiação determinados geneticamente, criou-se uma classificação dos vários fototipos de pele (classificação de Fitzpatrick), que até certo ponto é arbitrária, porém de grande valor prático. REFERÊNCIA: Patologia Básica – Robbins Agressão por Radiação Ionizante A radiação é um tipo de energia que se transmite na forma de ondas ou partículas de alta velocidade. A radiação tem uma ampla variedade de energias que abrangem o espectro eletromagnético; ela pode ser dividida em radiação não ionizante e ionizante. A energia da radiação não ionizante, como a luz UV e a infravermelha, micro-ondas e ondas sonoras, consegue mover átomos em uma molécula ou colocá-los para vibrar, mas não é suficiente para deslocar elétrons dos átomos. Em contrapartida, a radiação ionizante possui energia suficiente para remover elétrons fortemente unidos nos átomos. A colisão dos elétrons com outras moléculas libera mais elétrons, em uma reação em cascata, chamada de ionização. As principais fontes de radiação ionizante são raios X e raios gama (ondas eletromagnéticas de altas frequências), nêutrons de alta energia, partículas alfa (compostas de dois prótons e dois nêutrons), e partículas beta, que são essencialmente elétrons. Em quantidades equivalentes de energia, as partículas alfa induzem grandes danos em uma área restrita, ao passo que os raios X e raios gama dissipam a energia em um trajeto mais longo e penetrante e produzem um dano consideravelmente menor por unidade de tecido. Cerca de 50% da dose total de radiação ionizante recebida pela população dos Estados Unidos é produzida pelo homem, sendo a maioria proveniente de dispositivos médicos e radioisótopos. De fato, a exposição dos pacientes à radiação ionizante durante exames de imagem radiológica quase duplicaram entre o começo dos anos 1980 e 2006, principalmente devido ao uso mais difundido dos exames de tomografia computadorizada (TC). A radiação ionizante é uma faca de dois gumes. É indispensável na prática da medicina, sendo utilizada no tratamento de câncer, no diagnóstico por imagem, e nos radioisótopos para diagnósticos ou tratamento, mas também produz efeitos adversos a curto e longo prazo, como fibrose, mutagênese, carcinogênese e teratogênese. Principais Determinantes dos Efeitos Biológicos da Radiação Ionizante Além das propriedades físicas da radiação, os seus efeitos biológicos dependem em grande parte dos seguintes fatores. • A taxa de distribuição modifica de maneira significativa o efeito biológico. Embora o efeito da energia radiante seja cumulativo, doses divididas podem permitir as células reparar alguns dos danos entre as exposições. Dessa forma, doses fracionadas da energia radiante têm efeito cumulativo somente na extensão em que o reparo durante os intervalos de “recuperação” é incompleto. A terapia por radiação de tumores explora a capacidade geral das células normais de se repararem e se recuperarem mais rapidamente do que as células tumorais, e, dessa forma, não sofrerem tanto dano cumulativo pela radiação. • O tamanho do campo (área que recebe a irradiação) possui grande influência nas consequências de irradiação. O corpo pode suportar doses relativamente altas de radiação quando são distribuídas em campos pequenos e cuidadosamente delimitados, ao passo que doses menores, mas distribuídas em áreas maiores, podem ser fatais. • Proliferação celular. Em função de a radiação ionizante danificar o DNA, as células que se dividem rapidamente são mais vulneráveis à lesão que as células quiescentes. Exceto nas doses extremamente altas que prejudicam a transcrição do DNA, a irradiação não mata células que não se dividem, como os neurônios e as células musculares estriadas. No entanto, nas células em divisão, o dano ao DNA é detectado por sensores que produzem sinais que ativam o p53, o “guardião do genoma”. O p53, por sua vez, regula a expressão dos genes que, inicialmente, param o ciclo celular, e caso o dano no DNA seja grande demais para ser reparado, genes que causam a morte celular através da apoptose. Compreensivelmente, então, os tecidos com uma alta taxa de divisão celular, como as gônadas, medula óssea, tecido linfoide e a mucosa do trato gastrointestinal, são extremamente vulneráveis à radiação, e a lesão é manifestada logo após a exposição. • Efeitos no oxigênio e hipoxia. A produção de espécies reativas de oxigênio a partir de reações com radicais livres gerados pela radiólise da água é o principal mecanismo pelo qual o DNA é danificado pela radiação ionizante. Tecidos pouco vascularizados com baixa oxigenação, como a zona central de tumores que crescem rapidamente, geralmente são menos sensíveis à terapia de radiação do que os tecidos não hipóxicos.• Dano vascular. Dano às células endoteliais, que são moderadamente sensíveis à radiação, causa estreitamento ou obstrução dos vasos sanguíneos, provocando prejuízo na restauração tecidual, fibrose e atrofia isquêmica crônica. Essas alterações podem aparecer meses ou anos após a exposição. Os efeitos tardios nos tecidos com baixa taxa de proliferação celular, como o cérebro, rins, fígado, músculos e tecido subcutâneo, consistem em morte celular, atrofia e fibrose. Esses efeitos estão associados ao dano vascular e à liberação de mediadores pró-inflamatórios nas áreas irradiadas. 3. Lesões de pele benignas mais comuns, diferenciando do câncer de pele. REFERÊNCIA: Dermatologia - Azulay ➢ TUMORES BENIGNOS DA PELE Os tumores benignos que se desenvolvem a partir de outros tipos de células da pele incluem: - A maioria dos tipos de pintas. - Queratoses seborreicas – Pontos salientes marrons ou pretos com superfície áspera. - Hemangiomas - Crescimentos benignos dos vasos sanguíneos muitas vezes chamados de manchas de cereja, morango ou vinho do porto. - Lipomas - Tumores benignos das células adiposas (gordura). - Verrugas - Crescimentos de superfície áspera, causados por vírus. A maioria desses tumores raramente, ou nunca, se transforma em câncer. Existem ainda outros tipos de tumores benignos na pele, mas são incomuns. • Quisto sebáceo O quisto sebáceo é um tumor cutâneo benigno muito comum que pode surgir nos adolescentes ou jovens adultos, provavelmente devido a fatores hereditários. O quisto sebáceo costuma ser constituído por uma fina membrana de tecido conjuntivo revestida interiormente por células epiteliais que, ao desunirem-se, se transformam numa massa mole e branca, semelhante ao sebo, correspondente ao conteúdo do quisto. O tumor desenvolve-se na espessura da pele e evidencia-se como um nódulo redondo e liso, com uma consistência firme e de tamanho variável, por vezes com vá- rios centímetros de diâmetro, que embora afete principalmente o couro cabeludo (sendo, nestes casos, designado "quisto"), também pode manifestar-se na face, ouvidos, genitais ou costas. Embora possa adquirir dimensões consideráveis, o quisto sebáceo não costuma gerar dor, nem provocar grandes problemas. Contudo, por vezes, pode infectar e inflamar, evidenciando uma tonalidade vermelha e provocando dor intensa. Para além disso, ocasionalmente, a cápsula rompe para o exterior, permitindo a saída do conteúdo, embora volte posteriormente a formar-se. Caso um quisto sebáceo adquira dimensões significativas ou infecte, deve-se recorrer à sua extração cirúrgica, uma simples intervenção realizada sob anestesia local, através da qual se deve extrair toda a cápsula, para que não se volte a formar. • Quisto epidermoide O desenvolvimento deste tumor benigno é provocado por uma invaginação da epiderme na derme, em que as células epidérmicas formam uma membrana que constitui uma espécie de bolsa onde se acumulam restos celulares e MEM no seu interior. Embora possa ser provocado por fatores congénitos, por vezes, desenvolve- se como complicação de lesões inflamatórias ou feridas que proporcionam a penetração do tecido epidérmico na derme. O quisto epidermóide costuma manifestar-se na adolescência ou na idade adulta e evidencia-se como um nódulo redondo de consistência sólida, que cresce até adquirir dimensões que oscilam entre 1 a 5 cm de diâmetro. Este tipo de quisto costuma localizar-se na face, nuca ou tronco, embora possa formar-se noutras partes do corpo. Depois de se desenvolver, permanece estável, sem que o seu tamanho se reduza com o passar do tempo. Embora normalmente não gere problemas, por vezes, pode infectar e inflamar, adoptando uma cor vermelha e provocando dor. Nestes casos, deve-se proceder à realização de uma intervenção cirúrgica, que também pode ser realizada quando, devido à sua localização e aspecto, o paciente o considerar pouco estético. • Queratose seborreica Este tumor, igualmente designado verruga seborreica, é provocado por um desenvolvimento exagerado, de causa ainda desconhecida, das células epidérmicas, ainda que se pense que dependa de fatores hereditários. Normalmente, aparece na idade adulta, após os 40 anos, ou nas mulheres, após a menopausa, e a sua frequência aumenta a partir dos 60 anos. Inicialmente, manifesta-se como uma pequena zona de pele pigmentada, de cor acinzentada, que começa a crescer e a tornar-se proeminente, formando um tumor consistente de superfície rugosa, revestido por escamas espessas até se assemelhar a uma grande verruga, já que alcança um diâmetro de 1 a 2 cm e, por vezes, maior. Embora possa evidenciar-se apenas um tumor, por vezes, o passar do tempo permite a formação de vários, uns junto aos outros. A sua localização mais comum corresponde à face, às costas e ao dorso das mãos. Depois de o tumor finalizar o seu crescimento, permanece estável, raramente diminui de tamanho e, apenas em casos raros, chega a desaparecer. Embora não gere grandes problemas, ocasionalmente, pode originar prurido, que incita o paciente a coçar-se e ao consequente perigo de uma erosão que favoreça a sua infecção. • Acrocórdio O acrocórdio, igualmente designado fibroma pêndulo, é um tumor cutâneo benigno frequente, que se manifesta nos adultos e, sobretudo, nos idosos. Embora a sua origem ainda seja desconhecida, provavelmente está relacionada com fatores hormonais, já que surge, por vezes, durante a gravidez ou após a menopausa. Trata-se de um tumor redondo de consistência mole e elástica de pequenas dimensões, em média 2 a 3 mm de diâmetro, que sobressai da pele, à qual se encontra unido através de um fino pedículo. Embora o tumor tenha habitualmente a mesma cor da pele, por vezes é mais escuro. Na maioria dos casos, evidencia-se no pescoço, mas também se pode manifestar na face, tronco, axila ou virilha. Por vezes, apenas se forma um acrocórdio; porém, normalmente, surgem vários tumores semelhantes, que permanecem estáveis, sem que o seu aspecto e tamanho se alterem com o tempo, embora não gerem qualquer tipo de problemas. • Dermatofibroma Este tumor, igualmente designado histiofibroma fibroso, é formado pela acumulação de fibras e células do tecido conjuntivo, nomeadamente histiócitos. O dermatofibroma é um tumor bastante frequente que, regra geral, se manifesta após a puberdade. Embora ainda não se conheçam as causas do seu desenvolvimento, por vezes, constata-se que a formação pode ser desencadeada como consequência de um traumatismo. O dermatofibroma evidencia-se como um nódulo de consistência firme e bem delimitado de tom rosa ou cinzento, com um diâmetro de 1 a 2 cm. Embora possa haver apenas um, por vezes, podem aparecer vários. Podem surgir em todo o corpo, mas o tumor localiza-se preferencialmente nas pernas, ombros e glúteos. Depois de se desenvolver, permanece estável e não costuma provocar qualquer problema, provocando apenas em alguns casos um ligeiro prurido. • Nevo sebáceo Como este tumor é congênito, está presente no momento do nascimento, embora de início seja muito pouco evidente e apenas se manifeste de maneira notória a partir da puberdade. Costuma ser provocado por um exagerado desenvolvimento circunscrito das estruturas cutâneas, nomeadamente das glândulas sebáceas, de origem ainda desconhecida. No nascimento, surge uma pequena placa, por vezes ligeiramente elevada, de cor amarela ou castanha. Embora mantenha estas características ao longo da infância, durante a adolescência começa a crescer, até alcançar um tamanho variável entre 1 a 10 cm de diâmetro, enquanto que a superfície se torna áspera e irregular, com um aspecto verrugoso. Normalmente, localiza-se no couro cabeludo, onde o seu crescimento pode originar uma placa alopécica (sem pêlos), ou evidenciar-se atrás dos pavilhões auriculares, onde permanece mais dissimulada. Ainda que, na maioria dos casos, a lesão não provoque qualquerproblema, por vezes, pode adoptar uma evolução maligna e transformar-se num cancro da pele, que pode ser detectado pelo seu crescimento e por apresentar uma úlcera dolorosa. Este potencial perigo faz com que os médicos optem por recorrer à extração cirúrgica de todos os nevos sebáceos, mesmo quando parecem inofensivos. • Nevo verrugoso Este tumor é provocado por uma alteração circunscrita da epiderme e da pele, aparentemente de origem genética, já que a sua incidência é muito mais comum entre membros da mesma família do que na população em geral. Embora normalmente já esteja presente desde o nascimento, por vezes, pode manifestar-se ao longo da infância. Na maioria dos casos, evidencia-se um único nevo verrugoso, mas ocasionalmente é possível observar-se a formação de múltiplos tumores. O nevo verrugoso único surge como um tumor elevado e de forma irregular, normalmente com 1 a 2 cm de diâmetro, com a mesma cor da pele, por vezes com um tom amarelo acastanhado ou até fortemente pigmentado, com uma superfície verrugosa que justifica a sua denominação. Embora se manifeste principalmente no tronco ou nos membros, também pode surgir no pescoço, face ou couro cabeludo, estando neste caso coberto por pêlos de características normais. Quando o nevo verrugoso é múltiplo, costumam aparecer inúmeros tumores de reduzido tamanho, distribuídos em várias camadas, muitas vezes em apenas um dos lados do corpo. Quando estas camadas se manifestam num braço ou numa perna, uma das suas localizações mais frequentes, costumam ter uma direção longitudinal, adoptando uma direção transversal quando se evidenciam no tronco ou numa nádega, outras das suas localizações mais comuns. REFERÊNCIA: Medicina Interna – Harrison A detecção precoce poderá ser facilitada aplicando-se a regra ABCDE: - Assimetria (lesões benignas em geral são simétricas), - Bordas irregulares (a maioria dos nevos apresenta bordas claras), - Cores variadas (lesões benignas em geral têm pigmento claro ou escuro uniforme), - Diâmetro > 6 mm (o tamanho de uma borracha de lápis) e - Evolução (qualquer alteração no tamanho, na forma, na cor ou na elevação ou novos sintomas como sangramento, coceira e espessamento). Nevos benignos costumam surgir na pele exposta ao sol acima da cintura, envolvendo raramente o couro cabeludo, os seios ou as nádegas; manchas atípicas normalmente aparecem na pele exposta ao sol, com mais frequência nas costas, porém podem envolver o couro cabeludo, os seios ou as nádegas. Nevos benignos estão presentes em 85% dos adultos, com 10 a 40 manchas espalhadas por todo o corpo; nevos atípicos podem estar presentes em centenas. Toda a superfície cutânea, incluindo o couro cabeludo e as membranas mucosas, assim como as unhas, deverá ser examinada em cada paciente. É importante uma iluminação brilhante do ambiente, e uma lupa de mão pode ser útil para se avaliar a variação no padrão do pigmento. Quaisquer lesões suspeitas deverão sofrer biópsia, ser avaliadas por um especialista, ou ser registradas por desenho e/ou fotografia para acompanhamento. Um método focado no exame de lesões individuais, a dermoscopia (é o método de visualização da pele com o dermatoscópio, um aparelho que amplia a imagem 10 ou 20 vezes , ilumina permitindo a observação das camadas mais profundas por efeito óptico de imersão com meio líquido, gel ou luz polarizada), utiliza um pequeno aumento da epiderme e pode permitir uma visualização mais precisa de padrões de pigmentação do que seria possível a olho nu. O exame físico completo, com atenção aos linfonodos regionais, é parte da avaliação inicial em um paciente suspeito de melanoma. Os pacientes que se encaixem nos grupos de alto risco deverão ser instruídos a realizar autoexames mensais. 4. Tipos de cânceres de pele (melanoma e não melanoma) quanto à: epidemiologia, fatores de risco, fisiopatologia, aspectos clínicos, prognóstico, estadiamento e prevenção. REFERÊNCIA: Medicina Interna – Harrison ➢ MELANOMA As lesões pigmentadas estão entre os achados mais comuns do exame da pele. O desafio é diferenciar os melanomas cutâneos, responsáveis pela grande maioria das mortes que advêm do câncer de pele, do restante, que geralmente é benigno. O melanoma cutâneo pode ocorrer em adultos de todas as idades, mesmo em indivíduos jovens e de todas as etnias; sua localização na pele e suas características clínicas distintas o tornam detectável em um momento no qual é possível ser feita a excisão cirúrgica completa. Exemplos de lesões pigmentadas malignas e benignas são mostrados na figura: • Epidemiologia O melanoma é uma malignidade agressiva dos melanócitos, células produtoras de pigmento, que se originam na crista neural e migram para a pele, as meninges, as membranas mucosas, o esôfago superior e os olhos. Os melanócitos de cada uma dessas regiões apresentam o potencial para a transformação maligna. O melanoma cutâneo é uma malignidade que ocorre predominantemente em indivíduos brancos (98% dos Lesões pigmentadas atípicas e malignas. O melanoma mais comum é o melanoma extensivo superficial (não está ilustrado). A. O melanoma lentiginoso acral é o melanoma mais comum em negros, asiáticos e hispânicos, apresentando-se como uma mácula ou placa hiperpigmentada que aumenta de tamanho nas palmas das mãos eplantas dos pés. Ocorre difusão lateral do pigmento. B. A manifestação mais comum do melanoma nodular é um nódulo negro de crescimento rápido, em geral ulcerado ou crostoso. C. O lentigo maligno-melanoma ocorre na pele exposta ao sol, como uma grande mácula ou placa com margens irregulares e pigmentação variável. D. Nevos displásicos são lesões nevomelanocíticas de formato e pigmentação irregulares que podem estar associadas ao melanoma familiar. casos), e a incidência relaciona-se com a latitude de residência, fornecendo fortes evidências do papel da exposição ao sol. Os homens são afetados ligeiramente mais do que as mulheres (1,3:1), e a idade mediana de diagnóstico é o final da década dos 50 anos. A população de pele morena (como os indianos e porto- riquenhos), negros e asiáticos do leste também desenvolvem melanoma, porém em taxas 10 a 20 vezes inferiores àquelas dos brancos. Nessas populações, os melanomas cutâneos são diagnosticados mais frequentemente em um estágio mais avançado, e os pacientes tendem a apresentar piores prognósticos. Além disso, em populações não brancas, ocorre uma frequência muito maior de melanomas acral (subungual, plantar, palmar) e mucoso. Em 2014, esperou-se que mais de 76.000 indivíduos nos EUA desenvolvessem melanoma e que aproximadamente 9.700 chegassem ao óbito. No futuro, ocorrerão cerca de 50.000 mortes anuais resultantes de melanoma. Dados do Connecticut Tumor Registry suportam aumento incessante na incidência e na mortalidade causada pelo melanoma. Nos últimos 60 anos, houve aumento de 17 vezes e de 9 vezes em sua incidência em homens e mulheres, respectivamente. Nas mesmas seis décadas, as taxas de mortalidade triplicaram para os homens e dobraram no caso das mulheres. As taxas de mortalidade começam a se elevar aos 55 anos, sendo observado o maior aumento nos homens > 65 anos. De particular interesse é o aumento das taxas entre mulheres < 40 anos. Acredita-se que uma parte desse aumento esteja associada a uma ênfase maior da pele bronzeada como um marcador de beleza, à maior disponibilidade e ao uso de bronzeamento artificial e à exposição à luz ultravioleta (UV) intensa na infância. Essas estatísticas apontam para a necessidade de se promover a prevenção e a detecção precoce. • Fatores de risco Presença de nevos. O risco de desenvolver melanoma está relacionado com fatores genéticos, ambientais e do hospedeiro. Os maiores fatores de risco para o melanoma são a presença de múltiplos nevos benignos ou atípicos e uma história familiar ou pessoal demelanoma. A presença de nevos melanocíticos, comuns ou displásicos, é um marcador para o risco aumentado de melanoma. Os nevos têm sido considerados como lesões precursoras porque podem se transformar em melanomas; entretanto, o risco real de qualquer nevo específico é muito baixo. Cerca de um quarto dos melanomas é histologicamente associado aos nevos, porém a maioria se origina de novo. O número de sinais clinicamente atípicos varia de uma a várias centenas e, em geral, eles diferem entre si na aparência. As margens com frequência são obscuras e indistintas, e o padrão de pigmentação é mais altamente variável que o dos nevos benignos adquiridos. Indivíduos com sinais clinicamente atípicos e uma forte história familiar de melanoma têm apresentado risco > 50% de desenvolver melanoma ao longo da vida e são encaminhados para um acompanhamento estrito com um dermatologista. Dos 90% dos pacientes com melanoma cuja doença é esporádica (i.e, não têm história familiar de melanoma), cerca de 40% apresentam sinais clinicamente atípicos, comparados com uma estimativa de 5 a 10% na população geral. Os nevos melanocíticos congênitos, que são classificados como pequenos (≤ 1,5cm), médios (1,5-20 cm) e gigantes (> 20 cm), podem ser precursores de melanomas. O risco é mais elevado para o nevo melanocítico gigante, também chamado de nevo do calção do banhista, uma malformação rara que afeta 1 em cada 30.000 a 100.000 indivíduos. Como o risco do desenvolvimento do melanoma ao longo da vida é elevado, estimado em 6%, é prudente a realização da excisão profilática precoce. Esta normalmente deve ser realizada em etapas com cobertura por enxertos cutâneos de espessura parcial. A cirurgia não poderá remover todas as células do nevo em risco, pois algumas poderão penetrar nos músculos ou no sistema nervoso central (SNC) abaixo do nevo. Os nevos melanocíticos congênitos pequenos a médios acometem cerca de 1% das pessoas; o risco de desenvolver melanoma nessas lesões é desconhecido, mas parece ser relativamente baixo. O tratamento dos nevos melanocíticos congênitos de tamanho pequeno a médio permanece controverso. História pessoal e familiar. Uma vez diagnosticados, os pacientes com melanoma necessitarão de vigilância por toda a vida, pois o risco de virem a desenvolver outro melanoma é de 10 vezes o da população em geral. Parentes em primeiro grau apresentam maior risco de desenvolver melanoma do que indivíduos sem história familiar, porém apenas 5 a 10% de todos os melanomas são verdadeiramente familiares. No melanoma familiar, os pacientes tendem a ser mais jovens no primeiro diagnóstico, as lesões são mais finas, a sobrevida é melhor e os melanomas primários múltiplos são comuns. Suscetibilidade genética. Cerca de 20 a 40% dos casos de melanoma hereditário (0,2 a 2% de todos os melanomas) são devidos às mutações germinativas no gene regulador do ciclo celular, que codifica o gene inibidor da quinase 2A dependente de ciclina (CDKN2A, de cyclin-dependent kinase inhibitor 2A). Na verdade, 70% de todos os melanomas cutâneos apresentam mutações ou deleções afetando o locus CDKN2A no cromossomo 9p21. Esse locus codifica duas proteínas supressoras de tumor distintas a partir de dois frames de leitura alternados: p16 e ARF (p14ARF). A proteína p16 inibe a fosforilação mediada por CDK4/6 e a inativação da proteína do retinoblastoma (RB), enquanto ARF inibe a degradação de p53 mediada pela ubiquitina MDM2. O resultado da perda de CDKN2A é a inativação de duas vias críticas supressoras de tumor, RB e p53, que controlam a entrada das células no ciclo celular. Diversos estudos mostraram um risco aumentado de câncer pancreático em famílias com tendência ao melanoma com mutações em CDKN2A. Um segundo locus de alto risco para a suscetibilidade ao melanoma, CDK4, está localizado no cromossomo 12q13 e codifica a quinase inibida por p16. Mutações em CDK4, que também inativam a via RB, são mais raras do que mutações em CDKN2A. Mutações germinativas no oncogene linhagem-específico de melanoma que codifica o fator de transcrição associado à microftalmia (MITF, de microphthalmia-associated transcription factor) predispõem a ambos os melanomas familiar e esporádico. O gene que codifica o receptor de melanocortina-1 (MC1R, de melanocortin-1 receptor) é um fator de suscetibilidade ao melanoma hereditário de risco moderado. A radiação solar estimula a produção de melanocortina (hormônio α estimulador dos melanócitos [α-MSH, de α-melanocyte-stimulating hormone]), o ligante para MC1R, que é um receptor acoplado à proteína G que sinaliza via monofosfato de adenosina (AMP, de adenosine monophosphate) cíclico e regula a quantidade e o tipo de pigmento produzido. MC1R é altamente polimórfico, e entre suas 80 variantes estão aquelas que resultam na perda parcial de sinalização e levam à produção de feomelaninas vermelhas/amarelas, que não protegem do sol e produzem cabelo ruivo, em vez das eumelaninas marrons/pretas que são fotoprotetoras. O fenótipo de cor de cabelo ruivo (RHC, de red hair color) está associado a pele sensível, cabelo vermelho, sardas, sensibilidade aumentada ao sol e risco aumentado para o melanoma. Além de sua fraca capacidade de proteção ao UV em relação à eumelanina, a produção aumentada de feomelanina em pacientes com polimorfismos inativadores de MC1R também proporciona uma contribuição carcinogênica UV-independente à melanogênese via lesão oxidativa. Diversos outros polimorfismos mais comuns de baixa penetrância que causam pequenos efeitos na suscetibilidade ao melanoma incluem outros genes relacionados com pigmentação, contagem de nevo, respostas imunes, reparo de DNA, metabolismo e com o receptor de vitamina D. • Prevenção e detecção precoce A prevenção primária do melanoma e do câncer de pele não melanoma (CPNM) baseia-se na proteção solar. Iniciativas de saúde pública, tais como o programa SunSmart, que teve início na Austrália e hoje funciona na Europa e nos EUA, demonstraram que a alteração comportamental pode reduzir a incidência de CPNM e de melanoma. As medidas preventivas devem se iniciar no início da vida porque a lesão causada pela luz UV começa precocemente, apesar do fato do câncer se manifestar anos mais tarde. Os fatores biológicos estão cada vez mais sendo compreendidos, como a dependência do bronzeamento, na qual postula-se envolver o estímulo dos centros de recompensa do cérebro e as vias de dopamina, e a secreção cutânea de β-endorfinas após exposição ao UV, e poderão representar outra área de intervenção preventiva. O uso regular de filtros solares de amplo espectro que bloqueiam UVA e UVB com um fator de proteção solar (FPS) de pelo menos 30 e de roupas protetoras deverá ser encorajado. Recomenda-se evitar o bronzeamento artificial e a exposição ao sol ao meio-dia (das 10:00 às 14:00 horas). A prevenção secundária abrange educação, rastreamento e detecção precoce. Os pacientes devem ser instruídos sobre as características clínicas do melanoma (ABCDEs; ver adiante a seção “Diagnóstico”) e aconselhados a informar qualquer crescimento ou outra alteração em uma lesão pigmentada. Folhetos informativos estão disponíveis na American Cancer Society, na American Academy of Dermatology, no National Cancer Institute e na Skin Cancer Foundation. O autoexame com intervalo de 6 a 8 semanas pode aumentar a probabilidade de se detectar alterações. Embora a instituição norte-americana Preventive Services Task Force preconize que as evidências são insuficientes para se posicionar a favor ou contra o rastreamento de câncer de pele, um exame completo do corpo parece ser uma forma simples e prática de se conseguir a redução da taxa de mortalidade por esse tipo de câncer. Dependendo da presença ou ausência de fatores de risco, as estratégias para a detecção precoce poderão ser individualizadas. Esse fato é particularmente verdadeiro para os pacientes com manchas
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