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15 2ºAula Excepcionalidade, defi ciência ou pessoas com necessidades especiais? Boa aula! Figura 10: Pessoas com defi ciências. Fonte: http://4.bp.blogspot.com.2012. Depois de conhecermos as concepções do desenvolvimento e aprendizagem, podemos agora, investigar o universo da inclusão, mas antes de entrarmos diretamente no tema, precisamos estudar os conceitos relacionados ao atendimento das pessoas com deficiência, como exatamente devemos chamá-las? O que significa cada termo? O que seria mais adequado, excepcionais, deficientes, pessoas com deficiências, portadores de necessidades especiais? Enfim, existe uma vasta terminologia, vamos estudá-las! Educação Especial e Escola Inclusiva 16 Objetivos de aprendizagem 1 − Diferença ou igualdade? 2 − Excepcionalidade e deficiência Ao término desta aula, vocês serão capazes de: • refletir sobre as diferenças; • compreender o processo histórico e a evolução dos termos relacionados às pessoas com deficiência; • identificar qual terminologia seria mais adequada a ser utilizada no modelo de inclusão. Seções de estudo 1 – Diferença ou igualdade? Ser diferente é um risco de qualquer maneira (FERREIRA, 2003 p.40). Antes de abordamos os conceitos de excepcionalidade e defi ciência, falaremos um pouco sobre igualdade e desigualdade. Assunto muito discutido nos dias atuais. Segundo Ferreira (2003), a questão gira em torno de: todos são iguais ou diferentes? Nesse sentido, diante das leis de Deus e do próprio homem a resposta seria que todos são considerados iguais. A ideia de igualdade surge então com o cristianismo, pois na antiguidade clássica a desigualdade não era encarada como um problema, não gerava questionamentos. Dessa forma, a ideia cristã de igualdade perante Deus foi aperfeiçoada e transmitida como igualdade perante a lei e assim todos os seres são iguais com os mesmos direitos e deveres. Para Refl etir Qual é a sua opinião? Somos iguais ou diferentes? No que diz respeito à discussão sobre igualdade, diferença, desigualdade e diversidade, percebe-se que é cada vez mais difícil negar a política e a organização que as diferenças vem assumindo, ultimamente, tanto nos países avançados quanto no chamados subdesenvolvidos (FERREIRA, 2003, p. 39) É visível o desenvolvimento da sociedade para a aceitação das diferenças, diante de tanta diversidade como: etnia, cor, classe social, fica impossível ser indiferente. Por que há tanto interesse na igualdade? As escolas, por exemplo, padronizam os estudantes ao usarem o mesmo instrumento de avaliação. O que está por traz disso? Do mesmo modo, considerar a diferença também pode ser um risco. Enfatizar as diferenças pode trazer prejuízos, pois é possível que haja a estigmatização da pessoa, que, por isso, vez pode ser barrada em empregos, escolas e outras oportunidades na sociedade. De toda forma, será que se tratarmos de maneira semelhante os diferentes poderíamos nos tornar insensíveis as essas diferenças? E assim também estigmatizá-los. Em ambos os casos existem riscos (PIERUCCI, 1999 apud FERREIRA, 2003). Para Refl etir Vamos refl etir!! Você alguma vez já se sentiu diferente? Como se comporta diante da diversidade ou diferença do outro? Entraremos a seguir na discussão sobre a evolução do conceito de deficiência. 2 − Excepcionalidade e defi ciência Figura 11: Corcunda de Notre Dame Fonte: http://blogs.diariodepernambuco.com.br. 2012. 17 Após discutimos alguns aspectos da educação e seu processo de ensino-aprendizagem e abordamos as dificuldades em considerar as diferenças, teremos agora um momento para refletirmos acerca das deficiências, excepcionalidades ou, ainda, pessoas com necessidades educacionais especiais. Segundo a Organização Mundial de Saúde, o termo Deficiência trata-se da ausência ou a disfunção de uma estrutura psíquica, fisiológica ou anatómica, inserida na biologia da pessoa. Dessa forma, o termo pessoa com deficiência refere-se a qualquer pessoa que possua uma deficiência. É preciso observar, pois em contextos legais o termo pessoas com deficiências é utilizado de forma mais restrita, estando sob o amparo da lei. Ao longo dos séculos, a forma concebida de deficiência vem sofrendo alterações estruturais, assim como a forma de a sociedade lidar com os portadores de tal deficiência. Olá, Pessoal! A seguir faremos uma retomada desde a antiguidade, para percebermos esta transformação que vem acontecendo tanto na terminologia aplicada quando aos preconceitos e atitudes referentes as pessoas com deficiências. Na Grécia antiga, a perfeição do corpo era algo extremamente cultuado. Os portadores de deficiência eram sacrificados ou escondidos. Em Roma, eram levados a participar de purificações, para livrá-los dos seus maus desígnios. Na idade média, somente os portadores de deficiência eram considerados loucos, criminosos ou, ainda, possuídos por demônios. Eram, portanto, excluídos e afastados do convívio social ou até mesmo sacrificados em alguns momentos. Santo Agostinho (354-430 d.C.) atribuía à deficiência mental a culpa, punição e expiação dos antepassados pelos pecados cometidos. São Tomás de Aquino, seis séculos mais tarde, considerou a deficiência como uma espécie de demência natural e não absolutamente um pecado. Tanto na antiguidade quanto na idade média, os portadores de deficiências eram vistos de formas distintas, ora eram sacrificados, como um mal a ser evitado, perseguidos e evitados como possuídos pelos demônios, ora privilegiados, como detentores de poderes, protegidos e isolados como insanos e indefesos ou ainda lamentados, como reparadores de pecados cometidos contra Deus (VIZIN, 1997). Segundo o mesmo autor, o Renascimento foi uma época de perspectivas humanistas para o portador de deficiências, pois era visto de maneira mais natural, no entanto, não mais aceitável. Esse pensamento marcado por preconceitos, desvalorização e por incapacidades, durou até o advento da ciência no século XVIII e permaneceu até o século XX. Na atualidade, os acontecimentos apontam para uma crescente evolução do conceito de deficiência, assim como das condições das pessoas com deficiência, tratando-se dos direitos, necessidades de inserção e de integração. Olá pessoal, estão acompanhando??? Parece que as atitudes e pensamentos em relação às deficiências começam a mudar a partir do final do século XX, entrando no século XXI com atitudes mais positivas e proativas. Vizin (1997), em seu histórico sobre deficiência, mostra que o termo está carregado de negatividade e foi construído por meio de práticas sociais de exclusão. O que se torna evidente é a visão de algo incompleto, ineficiente, deficiente, não funcional dentro dos parâmetros legítimos da sociedade. Dando continuidade, a autora coloca que a ideologia cristã defendeu que essas pessoas, apesar de deficientes, eram consideradas humanas, impedindo assim a prática de eliminação dos deficientes vivos. Eram amparadas pela igreja em troca de serviços braçais, ou eram torturadas e condenadas nos tribunais da Santa Inquisição. Um exemplo clássico é retratado na história do “Corcunda de Notre Dame”. Figura 12: Corcunda de Notre Dame Fonte: http://blogs.diariodepernambuco.com.br. 2012. Na imagem acima podemos observar o menino com deficiência e sua autoridade com a feição um tanto hostil! usuario Realce Educação Especial e Escola Inclusiva 18 Curiosidade Pode parece estranho e inacreditável, mas a imagem demoníaca sobre a defi ciência se faz presente nos dias atuais, conduzindo famílias a benzimentos e exorcização na busca de cura ou ainda pelo sentimento de castigo divino. Importante frizar É possível observar que o conceito tem avançando por meio de estudos da ciência moderna, dando agora uma visão, mais naturalista e pedagógica. Nesse processo, a defi ciência deixa de ser entendida como lesões irreversíveis e passa a ser considerada uma carência de experiências sensoriais oumotoras. O termo excepcionalidade está mais especifi camente relacionado à defi ciência mental, contudo não muito utilizado. Na verdade, definir saúde e doença, normalidade e patologia são tarefas difíceis, pois perpassa o âmbito da subjetividade, através de construções sociais, a partir de interesses políticos, entre outros. O que gera mais tarde o preconceito. Conceito A subjetividade é a forma não objetiva ou concreta de pensar, sentir e perceber, ou seja, é a forma emocional e peculiar de cada ser interpretar os acontecimentos externos e internalizá-los a sua maneira (BOCK, 2004). Para Refl etir E você, por onde andam seus preconceitos? O que você está sentindo em relação a toda essa evolução da defi ciência? Entre as décadas de 60 e 80, muitas terminologias foram aplicadas a fim de tentar esclarecer a diversidade, vejamos algumas delas: indivíduos “defeituosos”, “deficientes” ou “excepcionais”. Nesse período, a sociedade não se direcionou para a ausência de qualquer capacidade mental ou física das pessoas. Passando para os anos 90 o termo que mais se utilizou foi: pessoas portadoras de deficiências, passando a atribuir à deficiência um valor agregado à pessoa. Dessa forma, substituiu-se o termo deficiência por “necessidade”, contudo este também foi eliminado. E, na atualidade, o termo aplicado é pessoas com deficiência dando lhes o aumento da autonomia na tomada de decisões e aumento das responsabilidades no sentido de favorecer a inclusão (ZAVAREZSI, 2009). Diante do exposto, é possível perceber que o termo deficiente é considerado impróprio, pois levar consigo uma carga negativa, o que pode gerar ou levar ao preconceito. Não podemos considerar as pessoas por parte, é preciso vê-las como um todo. O fato de ser ou ter dificuldades ou comprometimentos para executar determinadas tarefas não as impede de realizar outras. Se pararmos para pensar, todos nós somos deficientes em algo, ninguém é possivelmente perfeito ou possui habilidades em diversas tarefas. Fica difícil, então, consideramos uma pessoa como deficiente. O que devemos é ver as pessoas como capazes de superação. Contud, é sabido que existem pessoas com deficiências um pouco mais acentuadas em determinados aspectos, como aquelas que necessitam de cadeiras de rodas ou que tenham deficiência auditiva, visual, mental, entre outras. Estas, geralmente precisam de atendimento especializado, seja para fins terapêuticos, como fisioterapia ou estimulação motora, seja para que possam aprender a lidar com a deficiência e a desenvolver as potencialidades. Mas isso não quer dizer que não possam compartilhar e desempenhar tarefas úteis ao convívio social. Figura 12: Criança com defi ciência física. Fonte: <http://2.bp.blogspot.com>.2012. Ao abordar o legado da história, explicando através da mitologia, da religiosidade e da supersticiosidade, alguns aspectos se destacam, ou melhor, ideias e sentimentos que marcaram profundamente a consciência coletiva, gravados na psique humana, através de inúmeras e sucessivas vivências do homem em relação à deficiência. Tal legado, que traz a discriminação como fardo social, reflete no imaginário coletivo que se forma sobre a concepção de corpo ideal, corpo novo, desejado, usuario Realce usuario Realce 19 belo, forte, produtivo, com profunda repercussão em leis e na educação das pessoas, de uma maneira geral (FERREIRA, 2003, p. 49) O contexto vem sendo discutido ao longo da história e na atualidade se torna emergente. Com a Declaração de Salamanca (1994, UNESCO), surgiu o termo necessidades educativas especiais, que veio a substituir o termo criança especial, anteriormente utilizado em educação para designar a criança com deficiência. Porém, esse novo termo não se refere apenas à pessoa com deficiência, pois engloba toda e qualquer necessidade considerada atípica e que demande algum tipo de abordagem específica por parte das instituições, seja de ordem comportamental, seja social, física, emocional ou familiar. Aqui são consideradas também as dificuldades de aprendizagem ou, ainda, as crianças chamadas de superdotadas, as que apresentam problemas de conduta e de ordem emocional. (WIKIPÉDIA, 2012 ) É importante entender que jamais houve ou haverá um único termo correto válido defi nitivamente em todos os tempos e espaços, ou seja, latitudinal e longitudinalmente. A razão disso reside no fato de que a cada época são utilizados termos cujo signifi cado seja compatível com os valores vigentes em cada sociedade enquanto esta evolui em seu relacionamento com pessoas que possuem este ou aquele tipo de defi ciência (SASAKI, 2005, p.12). A partir da Declaração de Salamanca, dentre outros documentos importantes, a sociedade concentra-se no trabalho especializado e inclusivo com crianças que apresentem necessidades educativas especiais. É o que veremos nas próximas aulas. Texto complementar: música de Rita Lee, que retrata um pouco, a realidade de ser diferente. Balada do Louco Dizem que sou louca Por pensar assim Se eu sou muito louca Por eu ser feliz Mais louco é quem me diz E não é feliz, não é feliz Se eles são bonitos Eu sou a Sharon Stone Se eles são famosos I’’m a Rolling Stone Mais louco é quem me diz E não é feliz, não é feliz Eu juro que é melhor Não ser um normal Se eu posso pensar Que Deus sou eu Se eles têm três carros Eu posso voar Se eles rezam muito, eu sou santa Eu já estou no céu Mais louco é quem me diz E não é feliz, não é feliz Eu juro que é melhor Não ser um normal Se eu posso pensar Que Deus sou eu Sim, sou muito louca Não vou me curar Já não sou a única Que encontrou a paz Mais louco é quem me diz E não é feliz Eu sou feliz ! Retomando a aula Chegamos, assim, ao fi nal da segunda aula. É importante que o conceito de defi ciência e a aplicabilidade do mesmo tenham fi cado claros. É preciso recordar que: Com a Declaração de Salamanca, (1994) (UNESCO), surgiu o termo necessidades educativas especiais, que veio a substituir o termo criança especial, anteriormente utilizado em educação para designar a criança com defi ciência. 1 – Diferença ou igualdade? É importante salientar o que é ser igual ou diferente. Pois, em uma sociedade na qual se estabelece padrões de beleza, comportamento, fica difícil harmonizar tais conceitos. A grande questão, aqui, é que estes pontos perpassam pela subjetividade. Assim, o que pode ser diferente pra você pode ser igual pra mim. Desta forma, é preciso tratar diferente para tratar com igualdade. usuario Realce usuario Realce usuario Realce usuario Realce Educação Especial e Escola Inclusiva 20 2 – Excepcionalidade e deficiência Tenha em mente qual é o conceito de deficiência, e toda a sua trajetória. Para fixar, apresento novamente o conceito pela OMS. “Deficiência é a ausência ou a disfunção de uma estrutura psíquica, fisiológica ou anatómica, inserida na biologia da pessoa”. Portadores de necessidades especiais segundo a Declaração de Salamanca A declaração de Salamanca não se remete exatamente às pessoas com deficiências. Ela coloca a importância das necessidades educativas especiais e estas se relacionam também as altas habilidades, dificuldades de aprendizagem e déficit de atenção e hiperatividade. Vale a pena • O corcunda de Notre Dame, 300 e Borboletas de Zagorsk. <http://www.youtube.com/watch?v=bA_ GMtqUGeQ>. Vale a pena assistir SASSAKI, R.K. Como chamar as pessoas com deficiência. São Paulo: Cortez, 2005. ZAVAREZE, T. E. (2009). A construção histórico cultural da deficiência e as dificuldades atuais na promoção da inclusão. Disponível em: <www.psicologia.com. pt>. Acesso: 2012. MACIEL.R.,C. Portadores de deficiência a questão da inclusão social. São Paulo em perspectiva. v.14, n.2, 2000. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ spp/v14n2/9788.pdf>. Acesso em fev. 2012. <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/ pdf/aee_da.pdf>. Formação Continuada a Distância de Professores para oAtendimento Educacional Especializado/ Pessoa com Surdez. <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/ pdf/aee_df.pdf>. Formação Continuada a Distância de Professores para o Atendimento Educacional Especializado/ Deficiência física. <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/ pdf/aee_dm.pdf>. Formação Continuada a Distância de Professores para o Atendimento Educacional Especializado/ Deficiência mental. <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/ pdf/aee_dv.pdf>. Formação Continuada a Distância de Professores para o Atendimento Educacional Especializado/Deficiência visual. Vale a pena ler