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2ºAula Contextos educacionais Alunos, Após a apresentação dos conceitos de Língua e Linguagem, é preciso defini-las por meio dos contextos educacionais. Para tal, nossa aula contará com textos produzidos por diversos e consagrados estudiosos que apresentam suas definições sobre o tema. Com isso, objetiva-se propiciar uma base teórica para o pensar a respeito do ensino-aprendizagem e, assim, dimensionar o trabalho contextualizando-o a partir dos elementos essenciais para o entendimento do processo. Esses elementos expressam a necessidade do saber fazer quando se trata de formação do sujeito, de maneira a fornecer-lhe subsídios para a utilização dos elementos comunicativos plenos e que ultrapasse o simples reproduzir regras e, sim, capaz de ampliar sua relação com o mundo. Faz-se necessário ressaltar que, sem base teórica, será um trabalho infrutífero, visto que aquele que ensina deve entender todos os conceitos inseridos no processo para que este seja pertinente. Porém, como tudo que envolve a educação, é apenas uma etapa cumprida para que possamos chegar ao objetivo sonhado, uma sociedade competente nas relações com a Língua Portuguesa. Assim, não poderíamos deixar de apresentar um olhar mais humanizado nas questões de prática. A seção 1: Teoria e Prática, buscar-se-ão caminhos além dos propostos pelas políticas públicas de educação para o ensino da língua materna. Não há formação sem ação e essa não deve se restringir ao Estado nem a um grupo privilegiado, já que, no Brasil, o acesso aos meios educacionais é um direito de todos, constituído por lei. Porém, não se deve esquecer que só isso não basta, é preciso que, além de uma educação de qualidade, a sociedade civil como um todo assuma seu papel de disseminadora das questões que envolvem o aprendizado da língua, afinal, contemporaneamente, os indivíduos que não agem no mundo de maneira transformadora tendem a serem massa de manobra. Ao longo das reflexões propostas destacou-se o papel formador e transformador da educação no contexto social, portanto, não é possível pensar em ações para o seu desenvolvimento sem o olhar questionador da sociedade, já que é nela que se concretizam todos os aspectos elencados. Porém assumir essa função formadora não é tarefa fácil, principalmente, em uma sociedade acostumada, e acomodada, a transferir as obrigações de educar ao Estado. Bons estudos! Objetivos de aprendizagem Ao término desta aula, vocês serão capazes de: • compreender a importância dos PCN’s na organização dos temas educacionais; • refletir sobre o processo de ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa em seus contextos pedagógicos e sociais; • desenvolver os aspectos estruturantes do ensino significativo da Língua Portuguesa; • definir os elementos fundamentais da transformação social pautada no domínio da língua materna. 18Conteúdo e Met. do Ens. da Lingua Portuguesa e Matemática nos Anos Iniciais do Ens. Fund. 1 - Teoria e Prática 2 - PCN’s: Língua Portuguesa 3 - Sobre o ensino da Língua Portuguesa 4 - O que ensinar em Língua Portuguesa? Seções de estudo 1 - Teoria e Prática Esta aula da disciplina de Conteúdo e metodologia do ensino da Língua Portuguesa nos anos iniciais do ensino fundamental propõe uma reflexão a respeito dos PCN’s no fomento das ações educacionais. Sob esse olhar, buscar-se-ão os contextos nos quais é possível que, não só a comunidade escolar, mas, também, toda a sociedade civil deixe de ser espectadora e adote uma postura ativa que não dependa apenas das ações estatais de formação do indivíduo competente, construindo, assim, o verdadeiro significado da aprendizagem. Não se aprende sem estrutura, mas, esperar que o Estado se responsabilize por todos os elementos que possibilitam que a educação signifique acesso ao conhecimento e, consequentemente, à inserção social como cidadão, é abrir mão de decidir que futuro construir para uma nação mais justa e igualitária, pois, nem sempre é de interesse daquele que gerencia o pensamento crítico e transformador que advém do conhecimento por meio do pensamento. (Fonte: https://www.cpt.com.br/pcn/pcn-parametros-curriculares-nacionais-do- 1-ao-5-ano. Acesso em 20 ago 2017.) Antes de tudo, vale ressaltar: não existe fórmula mágica para a educação, muito menos para os contextos relacionados ao ensino da Língua Portuguesa nos anos iniciais do ensino fundamental, especialmente, porque, como visto nas aulas anteriores, a língua materna antes de ser formalizada pertence ao falante, ou seja, chega até ele de maneira natural. Esclarecida essa relação, tomaremos os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) como uma ferramenta de auxílio e orientação para a realização de um trabalho mais significativo na busca pelo domínio dos elementos formais da Língua Portuguesa; lembrando não ser a única regulação do processo de ensino/ aprendizagem no Brasil. Cabe aos Parâmetros Curriculares Nacionais nortearem os educadores em sua tarefa educativa para a formação de cidadãos conscientes de seu papel na sociedade. Por meio dos PCN, os professores podem rever objetivos, conteúdos, formas de encaminhamento das atividades, expectativas de aprendizagem e maneiras de avaliar. Da mesma forma, os parâmetros podem auxiliar o educador, ajudando-o a refl etir sobre a prática pedagógica, de forma coerente com os objetivos propostos. Visto por esse ângulo, o professor se apresenta como um coordenador de atividades que organiza e atua em conjunto com os alunos, guiado pelos PCN’s, ele auxilia na construção e no acesso à uma relação mais precisa com a Língua Portuguesa, pois, só ele é capaz e capacitado para a observação dos pontos que devem ser estimulados e reforçados no contexto da aprendizagem escolar. 1.1 - Organização dos PCN’s É importante observar a organização proposta pelos PCN’s quanto à área de conhecimento: Disponível em: https://www.cpt.com. br/pcn/pcn-parametros-curriculares- nacionais-do-1-ao-5-ano. Acesso em 20 ago 2017. Disponível em: http://parametros- curricularesnacionais.blogspot.com. br/2016/05/estrutura-dos-parame- tros-curriculares.html. Acesso em 20 ago 2017. Para uma melhor atuação docente é importante que se conheça e entenda a proposta elencada pelos parâmetros; não se busca aqui criar uma unanimidade em relação a eles, mas, sim, ressaltar que, considerando as dimensões geográficas e, principalmente as culturais que formam a nação brasileira; é 19 necessário que as ciências da educação tenham um ponto de partida, com objetivo de oportunizar a todos, docentes e discentes, o acesso democrático ao contexto educacional, como ressaltado anteriormente, a base de uma educação significativa. Assim, vale lembrar, que cabe a cada professor agir de maneira que sua prática educacional ultrapasse as barreiras da teoria. Uma característica predominante nas propostas atuais e presente nos parâmetros voltados ao Ensino Fundamental de 1º ao 5º ano é a organização da escolaridade em ciclos que objetiva maior integração do conhecimento, não se deve confundi-la com a não reprovação, apenas como uma melhor maneira de entender os conteúdos sem a segmentação do regime seriado. A cumprir tal objetivo, formaram-se as áreas de acordo com sua função instrumental e, assim como algumas das questões abordadas, foram separadas em livros e sua incorporação dá-se por um tratamento transversal, ou seja, a concepção teórica das áreas e de seus componentes curriculares são permeadas pelas questões sociais. Assim, confirma-se a necessidade de que a ação educacional seja pensada por todos os envolvidos no processo, pois, não basta seguir uma metodologia de estruturação de conteúdos escolares, é imprescindível que essa seja um retrato das necessidades para o desenvolvimento do cidadão pautado no conhecimento lato, amplo, e que possa permiti-lo modificar sua relação com o mundo. É claro que há muito a ser feito e melhorado nos PCN’s, mas só a prática pode lançar luz àqueles pontos que aindaprovocam o debate, afinal, quando o assunto é a qualidade da educação, não se pode negar a influência política e econômica que envolvem as políticas públicas no contexto real de sua ação. Porém, cabe aos educadores participarem da busca por uma educação mais igualitária e agir nesse sentido, envolvendo- se nas decisões e conscientizando a comunidade escolar das necessidades de melhoria para diminuição das desigualdades. Por terem uma estrutura flexível, os PCN poderão possibilitar uma proposta pedagógica, voltada às decisões regionais e locais sobre currículos e sobre programas de transformação da realidade educacional empreendidos pelas autoridades governamentais, pelas escolas e pelos professores. Tudo isso com o objetivo de garantir que, respeitadas as diversidades culturais, regionais, étnicas, religiosas e políticas, a educação possa participar do processo de construção da cidadania, com base na igualdade de direitos entre os cidadãos. Outro a aspecto que deve ser analisado quanto à ação dos parâmetros são as tendências pedagógicas, longe de haver uma unanimidade, inúmeras são as seguidas pelas escolas brasileiras, sejam públicas ou privadas, também não havendo uma forma pura delas, pois, a diversidade de olhares permite que haja uma mescla de aspectos de mais de uma presente nas propostas pedagógicas. No entanto, é possível identificar a presença de quatro grandes tendências: a tradicional, a renovada, a tecnicista e as marcadas centralmente por preocupações sociais e políticas. • Pedagogia tradicional é uma proposta de educação, centrada no professor, cuja função se define como a de vigiar e aconselhar os alunos, corrigir e ensinar a matéria. • Pedagogia renovada, o centro da atividade escolar não é o professor nem os conteúdos disciplinares, mas sim o aluno, como ser ativo e curioso. O mais importante não é o ensino, mas o processo de aprendizagem. • Pedagogia tecnicista valoriza a tecnologia. O professor passa a ser um mero especialista na aplicação de manuais e sua criatividade fica restrita aos limites possíveis e estreitos da técnica utilizada. A função do aluno é reduzida a um indivíduo que reage aos estímulos de forma a corresponder às respostas esperadas pela escola, para ter êxito e avançar. • Vertentes pedagógicas, centradas nas preocupações sociais e políticas. – Pedagogia libertadora: analisam-se os problemas, seus fatores determinantes e organiza-se uma forma de atuação para que se possa transformar a realidade social e política. O professor é um coordenador de atividades que organiza e atua conjuntamente com os alunos. – Pedagogia crítico-social dos conteúdos: entende que não basta ter como conteúdo escolar as questões sociais atuais, mas que é necessário que se tenha domínio de conhecimentos, habilidades e capacidades mais amplas para que os alunos possam interpretar suas experiências de vida e defender seus interesses de classe. Todas essas considerações devem ser pautadas nas necessidades de cada unidade escolar, bem como, permeadas quando da estruturação de um planejamento eficaz que realmente possa orientar os professores em seu trabalho em sala de aula, além de nortear as questões que envolvem o diagnóstico e a resolução de problemas que dificultam o êxito nas atividades escolares. Porém, tudo o que foi dito até agora não terá efeito sem, do aspecto docente, formação continuada, salários adequados, planos de carreira; e os discentes, livros didáticos e acesso aos recursos multimidiáticos, além do contexto adequado ao aprendizado. Esses aspectos ultrapassam os PCN’s e devem ser uma preocupação de todos. Por meio dos parâmetros, a prática escolar deve favorecer o desenvolvimento das habilidades dos alunos para que estes, além de aprenderem os conteúdos, possam compreender melhor a realidade, participando, de forma crítica, das relações sociais, políticas e culturais diversificadas. Isso levará os educandos a exercerem, de forma efetiva, a cidadania. E é a escola que irá escolher, como objeto de ensino, conteúdos que estejam ligados às questões sociais, que marcam cada momento histórico, cuja aprendizagem e assimilação são as consideradas essenciais para que os alunos possam exercer seus direitos e deveres. Disponível em: https://www.cpt.com. br/pcn/pcn-parametros-curriculares- nacionais-do-1-ao-5-ano. Acesso em 20 ago 2017. Disponível em: https://www.cpt.com. br/pcn/pcn-parametros-curriculares- nacionais-do-1-ao-5-ano. Acesso em 20 ago 2017. Disponível em: https://www.cpt.com.br/pcn/pcn-parametros- curriculares-nacionais-do-1-ao-5-ano. Acesso em 20 ago 2017. 20Conteúdo e Met. do Ens. da Lingua Portuguesa e Matemática nos Anos Iniciais do Ens. Fund. 2 - PCN’s: Língua Portuguesa Observando-se a relação dos sujeitos com o mundo, a relação no contexto escolar também se pauta na apropriação, transformação e interação quando se deparam com o conteúdo, ou seja, com o processo de desenvolvimento da linguagem. Isso contribui para que as dimensões que influenciam o conhecimento da língua sejam pertinentes em sua estruturação formal, assim, é preciso que haja o espaço para a prática em um contexto histórico, aliada à sistematização teórica dos conhecimentos. A partir desse contexto, apresentam-se como eixos da ação no ensino da linguagem: (Fonte: PCN, Brasil, 1998) De maneira mais específi ca, considerar a articulação dos conteúdos nos eixos citados signifi ca compreender que tanto o ponto de partida como a fi nalidade do ensino da língua é a produção/recepção de discursos. Quer dizer: as situações didáticas são organizadas em função da análise que se faz dos produtos obtidos nesse processo e do próprio processo. Essa análise permite ao professor levantar necessidades, difi culdades e facilidades dos alunos e priorizar os aspectos que serão abordados. Isso favorece a revisão dos procedimentos e dos recursos linguísticos utilizados na produção e a aprendizagem de novos procedimentos/ recursos a serem utilizados em produções futuras. Tem-se, assim, os conteúdos das práticas, ligados à caracterização do processo de interlocução (USO) e os que se referem à construção de instrumentos para análise do funcionamento da linguagem com objetivo de ampliar a competência discursiva do sujeito (REFLEXÃO).. USO REFLEXÃO Prática de escuta e de leitura de textos / Prática de produção de textos orais e escritos Desenvolvidos sobre os do eixo USO 1. historicidade da linguagem e da língua. 1. variação linguística: modalidades, variedades, registros. 2. constituição do contexto de produção, representações de mundo e interações sociais: sujeito enunciador; interlocutor; fi nalidade da interação; lugar e momento de produção. 2. organização estrutural dos enunciados. 3. implicações do contexto de produção na organização dos discursos: restrições de conteúdo e forma decorrentes da escolha dos gêneros e suportes. 3. léxico e redes semânticas. 4. implicações do contexto de produção no processo de signifi cação: representações dos interlocutores no processo de construção dos sentidos; articulação entre texto e contexto no processo de compreensão; relações intertextuais. 4. processos de construção de signifi cação. 5. modos de organização dos discursos. (Fonte: PCN, Brasil, 1998. Adapt.) Disponível em: https://www.cpt.com. br/pcn/pcn-parametros-curriculares- nacionais-do-1-ao-5-ano. Acesso em 20 ago 2017. Quanto aos conteúdos relacionados como pertinentes para o domínio da Língua Portuguesa, esses devem considerar a realidade de cada escola, bem como, sua proposta pedagógica e os elementos que a sustentam, além de respeitarem o grau de autonomia do sujeito, isso implica em observar as possibilidades e necessidades de aprendizagem. Objetivos gerais de língua portuguesa para o ensino fundamental O ensino de Língua Portuguesa deverá organizar-se de modo que os alunos sejam capazes de: • Expandir o uso da linguagem em instânciasprivadas e utilizá-la com efi cácia em instâncias públicas, sabendo assumir a palavra e produzir textos — tanto orais como escritos — coerentes, coesos, adequados a seus destinatários, aos objetivos a que se propõem e aos assuntos tratados; • Utilizar diferentes registros, inclusive os mais formais da variedade linguística valorizada socialmente, sabendo adequá-los às circunstâncias da situação comunicativa de que participam; • Conhecer e respeitar as diferentes variedades linguísticas do português falado; • Compreender os textos orais e escritos com os quais se defrontam em diferentes situações de participação social, interpretando-os corretamente e inferindo as intenções de quem os produz; • Valorizar a leitura como fonte de informação, via de acesso aos mundos criados pela literatura e possibilidade de fruição estética, sendo capazes de recorrer aos materiais escritos em função de diferentes objetivos; 21 • Utilizar a linguagem como instrumento de aprendizagem, sabendo como proceder para ter acesso, compreender e fazer uso de informações contidas nos textos: identifi car aspectos relevantes; organizar notas; elaborar roteiros; compor textos coerentes a partir de trechos oriundos de diferentes fontes; fazer resumos, índices, esquemas, etc.; • Valer-se da linguagem para melhorar a qualidade de suas relações pessoais, sendo capazes de expressar seus sentimentos, experiências, ideias e opiniões, bem como de acolher, interpretar e considerar os dos outros, contrapondo-os quando necessário; • Usar os conhecimentos adquiridos por meio da prática de refl exão sobre a língua para expandirem as possibilidades de uso da linguagem e a capacidade de análise crítica; • Conhecer e analisar criticamente os usos da língua como veículo de valores e preconceitos de classe, credo, gênero ou etnia. (Fonte: PCN, Brasil, 1998. Adapt.) Assim, configura-se o ensino da língua materna, guiado pelos parâmetros com o objetivo, pelo menos teórico, de possibilitar o entendimento da língua em todas as suas vertentes, possibilitando que o aluno possa dominá-la em diversos contextos e, a partir dessa relação, transformar sua realidade utilizando o conhecimento comunicativo. Como dito anteriormente, não basta só o debate acadêmico sem a inclusão da sociedade como um todo, contribuindo para a fomentação de um currículo pertinente às necessidades e expectativas em busca de uma melhoria da relação com o mundo; além de construir uma ponte com as políticas públicas para a efetivação desse currículo com medidas práticas de investimento e valorização da educação. Esse discurso pode soar um tanta empoeirado, mas, apesar disso, ainda não se fez real. 3 - Sobre o ensino da Língua Portuguesa O ensino da Língua Portuguesa no contexto escolar tem centralizado o debate sobre a melhoria da qualidade da educação no Brasil desde a década de 1980. No que tange o ensino fundamental é inegável que as relações de leitura e escrita são tidos como o aspecto mais contundente do que podemos chamar “fracasso escolar” , termo que possui dupla interpretação, pois refere- se tanto ao desempenho dos alunos quanto ao dos professores, sem deixar de lado a ação do Estado e sua estruturação do ensino. Sabe-se que os índices brasileiros de repetência nas séries iniciais — inaceitáveis mesmo em países muito mais pobres — estão diretamente ligados à difi culdade que a escola tem de ensinar a ler e a escrever. Essa difi culdade expressa-se com clareza nos dois gargalos em que se concentra a maior parte da repetência: no fi m da primeira série (ou mesmo das duas primeiras) e na quinta série. No primeiro, por difi culdade em alfabetizar; no segundo, por não conseguir garantir o uso efi caz da linguagem, condição para que os alunos possam continuar a progredir até, pelo menos, o fi m da oitava série. Percebe-se assim a necessidade de uma reestruturação no ensino da Língua como forma de garantir, de fato, a apreensão dos conteúdos necessários ao domínio dos elementos básicos para a comunicação no mundo contemporâneo. Nos últimos dez anos, a quase-totalidade das redes de educação pública desenvolveu, sob a forma de reorientação curricular ou de projetos de formação de professores em serviço (em geral os dois), um grande esforço de revisão das práticas tradicionais de alfabetização inicial e de ensino da Língua Portuguesa. Seja porque a demanda quantitativa já estava praticamente satisfeita — e isso abria espaço para a questão da qualidade da educação —, seja porque a produção científi ca na área tornou possível repensar sobre as questões envolvidas no ensino e na aprendizagem da língua, o fato é que a discussão da qualidade do ensino avançou bastante. O avanço dos últimos anos possibilitou o surgimento de uma corrente de ensino pautada na democratização das oportunidades educacionais, além de sua dimensão política além do que relaciona-se aos aspectos intra-escolares. Isso só foi possível quando a pauta passou a considerar que o aluno não deveria ser o único responsabilizado pelo descrédito social da educação como um todo, foi necessário rever todos os pontos dessa complexa estrutura: dos professores às políticas públicas, passando por aspectos de gestão e orçamento. Esse processo caracterizou-se pela mudança no eixo investigativo, ou seja, considerou-se como foco as questões de aprendizagem, esse deslocamento contou com a circulação entre os educadores de material científico que propunha um olhar mais aprofundado na gênese do trabalho docente considerando as diferenças sociais e econômicas entre os alunos, assim o “como se aprende” passou a figurar no rol dos problemas da educação, criando um pensamento de mão dupla com o “como se ensina”. Assim, é possível salientar a importância dos estudos da Linguística que, a partir de autores como Cagliari (1989), Geraldi (1997, 2004), Lopes (1991), Possenti (1996), contribuíram para uma compreensão mais aprimorada da relação entre linguagem escrita e oral, pois elencaram as especificidades dessas modalidades, ressaltando que não falamos como escrevemos ou vice-versa. Esse aspecto colaborou com a superação da concepção na qual a escrita é uma mera representação da fala, bem como, auxiliaram na reformulação do conceito de texto, democratizando-a, ao considerar a relação entre aquele que escreve e aquele que lê. Outra contribuição da ciência Linguística deu-se a partir de uma nova forma de interpretação do fenômeno das variações linguísticas como um processo absolutamente normal. Vale ressaltar que muitas crianças foram estigmatizadas no interior BRASIL, PCN’s de Língua Portuguesa para o Ensino Fundamental.1997. BRASIL, PCN’s de Língua Portuguesa para o Ensino Fundamental.1997. BRASIL, PCN’s de Língua Portuguesa para o Ensino Fundamental.1997. 22Conteúdo e Met. do Ens. da Lingua Portuguesa e Matemática nos Anos Iniciais do Ens. Fund. da própria escola por apresentarem um padrão de fala diferente da norma culta. Possenti (2004), nesta perspectiva afirma: As variações linguísticas são condicionadas por fatores internos da língua ou por fatores sociais, ou por ambas ao mesmo tempo (...) os alunos que falam dialetos desvalorizados são tão capazes quanto os que falam dialetos valorizados [...] (p.35). Assim contextualizado, o binômio ensino-aprendizagem passou a figurar com um sentido mais amplo do que se ensina e como se aprende, o que gerou uma reestruturação nos conceitos, bem como, nas relações escolares. Foi preciso considerar que não era mais possível agir somente nas estruturas pedagógicas formais e, sim, adequá-las as necessidades de cada educando, pois, só se aprende quando há sentido prático, ou seja, quando há aprendizagem significativa: “[...] para aprender a ler e a escrever, o aluno precisa construir um conhecimento de natureza conceitual: ele precisa compreender não só o que a escrita representa, mas também de que forma ela representa graficamente a linguagem”.Atualmente, o ensino da Língua Portuguesa, bem como de outras disciplinas, considera não só o conhecimento didático acumulado, mas conta com outras áreas como a psicologia (de aprendizagem e cultural) e as ciências da linguagem. Essas relações permitem uma contextualização social dos conteúdos escolares, atribuindo a eles um significado real, reforçando sua relevância no desenvolvimento educacional. Esse pensamento também atingiu a linguagem oral, pois, ao perceber que o aluno tem conhecimentos prévios da língua, linguagem e do mundo, a escola é capaz de adequar seus conteúdos a fazê-los parte do processo comunicativo cotidiano, auxiliando no desenvolvimento da adequação do contexto discursivo. Práticas que partem do uso possível aos alunos e pretendem provê-los de oportunidades de conquistarem o uso desejável e efi caz. Em que a razão de ser das propostas de leitura e escuta é a compreensão ativa e não a decodifi cação e o silêncio. Em que a razão de ser das propostas de uso da fala e da escrita é a expressão e a comunicação por meio de textos e não a avaliação da correção do produto. Em que as situações didáticas têm como objetivo levar os alunos a pensarem sobre a linguagem para poderem compreendê-la e utilizá-la adequadamente. No que se refere ao presente, a competência quanto ao domínio da língua transformou-se na principal característica do agente transformador da sociedade, apesar de inúmeras considerações a respeito da ação da tecnologia e sua desconstrução do conhecimento acadêmico, o que se percebe é que os sujeitos BRASIL, PCN’s de Língua Portuguesa para o Ensino Fundamental.1997. cada vez mais dependem da educação formal para uma efetiva participação social, sem ela continuarão à margem. Pois, não é a tecnologia que transforma as relações educacionais e, sim, as mudanças na sua finalidade e o perfil social e cultural, assim, as necessidades de transformar acesso em sucesso no contexto educacional é o que realmente rege a demanda por um ensino de qualidade. 4 - O que ensinar em Língua Portuguesa? As mudanças e reestruturações pelas quais têm passado o ensino da língua materna levam ao questionamento: O QUE ENSINAR EM LÍNGUA PORTUGUESA?. Já que o que se apresentou até agora foi uma nova contextualização do ensino diante da nova concepção de educação na sociedade contemporânea. Atualmente é necessário que o ensino da disciplina ultrapasse as paredes da sala de aula, ou seja, é preciso inserir na estrutura formal a prática do cotidiano além de contemplar as especificidades da fala, leitura e produção de textos desde os primeiros anos escolares. Só assim, haverá sentido no que se aprende e o aluno, sujeito dessa relação, desejará fazer parte desse mundo letrado, consciente do que lhe é oferecido. BRASIL, PCN’s de Língua Portuguesa para o Ensino Fundamental.1997. Para refl etir Para refl etir sobre o ensino, vejamos um trecho do poema Pronominais de Oswald de Andrade: Dê-me um cigarro Diz a gramática Do professor e do aluno E do mulato sabido Mas o bom negro e o bom branco Da Nação Brasileira Dizem todos os dias Deixa disso camarada Me dá um cigarro. (ANDRADE, Obras completas, Volumes 6-7. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1972.). Para sedimentar sua aprendizagem, sugerimos que procure refl etir e anote suas intepretações sobre o poema! Análise do poema Pronominais O poema “Pronominais”, de Oswald de Andrade ressalta a proposta de reduzir a distância entre a linguagem falada e a escrita, uma das principais característica do Primeiro Tempo Modernista (1922-1930), renegando, desse modo, o passadismo acadêmico. Neste poema, observa-se a defesa da colocação pronominal que segue o padrão fonético brasileiro – a próclise é mais comum -, diferente do padrão português que orienta a norma culta pela valorização da ênclise. No primeiro verso de Pronominais “Dê-me um cigarro”, exemplifi ca uma das muitas diferenças existentes entre a língua que a gramática normativa considera correta – norma culta – e a língua, geralmente, falada pela maioria das pessoas, como se percebe no último verso “Me dá um cigarro.” Ao analisar Pronominais outra característica modernista foi destacada 23 pelo autor, o uso do verso livre, a fim de traduzir a liberdade plena da forma, a qual não significa ausência de ritmo, mas criar a cada verso um ritmo. Ao escrever este poema o autor optou por ressaltar essas duas características, com o intento de acentuar outras particularidades como a procura pelo moderno, pelo polêmico e, ao mesmo tempo, o nacionalismo se manifesta em relação à linguagem, pois uma das mais importantes propostas do projeto artístico desse poeta é a ruptura com os padrões da língua literária culta e busca de uma língua brasileira, que incorporasse todos os “erros” gramaticais, vistos por ele como verdadeiras contribuições para a definição da nacionalidade. Com essa produção Oswald de Andrade reitera o pensamento de Anibal Machado – “Não sabemos definir o que queremos mas sabemos discernir o que não queremos.” Disponível em: https://faciletrando.wordpress.com/2015/05/15/analise-poema- pronominais-2/. Acesso em 20 ago 2017. É possível observar que já no contexto literário do início do século XX havia uma crítica à linguagem culta, não somente por esta ser uma herança dos portugueses, mas, sobretudo nota-se o distanciamento daquela falada pelo brasileiro em suas relações cotidianas. Assim, o desafio que hoje se apresenta diante dos professores de ensinar dentro de um contexto social significativo, não é algo novo, pois permeia a imaginação dos autores brasileiros há bastante tempo. Dessa perspectiva, a língua é um sistema de signos histórico e social que possibilita ao homem significar o mundo e a realidade. Assim, aprendê-la é aprender não só as palavras, mas também os seus significados culturais e, com eles, os modos pelos quais as pessoas do seu meio social entendem e interpretam a realidade e a si mesmas. Assim, é possível observar que a produção da linguagem, diante dos aspectos históricos da língua, é uma ação orientada por uma finalidade dentro de um processo interlocutório realizado nas práticas sociais, portanto, relaciona-se a diversos grupos em diferentes momentos. Pode-se, então, afirmar que sua produção realiza-se, também, em diversas situações e práticas do cotidiano, tanto individuais quanto coletivas. Outro aspecto relevante é considerar essas interações sociais como fundamentais para o desenvolvimento da cidadania, bem como, da inserção em determinados grupos específicos, o que, mesmo na comunicação do cotidiano fará diferença quanto ao vocabulário, objetivo e assunto abordado. Por exemplo, é possível identificar, mesmo em conversas corriqueiras, a qual grupo de conhecimento pertencem aqueles que se comunicam, visto que, uma interação entre professores será essencialmente diferente que uma entre advogados. Essas relações pautadas na linguagem verbal possibilitam uma representação da realidade (física e social) a partir do momento em que se vincula ao pensamento o que possibilita a representação e regulação do pensamento e da ação, além de permitir a comunicação de ideias interagindo com diversas naturezas do conhecimento; o que amplia os horizontes das relações interpessoais. Essas diferentes dimensões da linguagem não se excluem: não é possível dizer algo a alguém sem ter o que dizer. E ter o que dizer, por sua vez, só é possível a partir das representações construídas sobre o mundo. Também a comunicação com as pessoas permite a construção de novos modos de compreender o mundo, de novas representações sobre ele. A linguagem, por realizar-se na interação verbal7 dos interlocutores, não pode ser compreendida sem que se considere o seu vínculo com a situação concreta de produção. É no interior do funcionamento da linguagem que é possível compreender o modo desse funcionamento. Produzindo linguagem, aprende-se linguagem. Produzirlinguagem significa produzir discursos. Significa dizer alguma coisa para alguém, de uma determinada forma, num determinado contexto histórico. Isso significa que as escolhas feitas ao dizer, ao produzir um discurso, não são aleatórias — ainda que possam ser inconscientes —, mas decorrentes das condições em que esse discurso é realizado. Quer dizer: quando se interage verbalmente com alguém, o discurso se organiza a partir dos conhecimentos que se acredita que o interlocutor possua sobre o assunto, do que se supõe serem suas opiniões e convicções, simpatias e antipatias, da relação de afinidade e do grau de familiaridade que se tem, da posição social e hierárquica que se ocupa em relação a ele e vice-versa. Isso tudo pode determinar as escolhas que serão feitas com relação ao gênero no qual o discurso se realizará, à seleção de procedimentos de estruturação e, também, à seleção de recursos linguísticos. É evidente que, num processo de interlocução, isso nem sempre ocorre de forma deliberada ou de maneira a antecipar-se ao discurso propriamente. Em geral, é durante o processo de produção que essas escolhas são feitas, nem sempre (e nem todas) de maneira consciente. Portanto, faz-se imprescindível que aquilo que se ensina deve compor não somente o contexto conteudista, visto que o ensino no país ainda está sob a tutela da avaliação teórica, mas, também, permear todo o processo comunicativo social, ou seja, há de se buscar o equilíbrio entre teoria e prática dentro do ambiente escolar. Para isso é necessário que os educadores tenham a consciência de seu papel de mediadores do conhecimento, que sejam sensíveis quanto à percepção das dificuldades e anseios de seus alunos, bem como, estejam preparados para o desafio educacional imposto na sociedade contemporânea, o que só é possível quando formamos e somos formados sujeitos leitores. BRASIL, PCN’s de Língua Portuguesa para o Ensino Fundamental.1997. 24Conteúdo e Met. do Ens. da Lingua Portuguesa e Matemática nos Anos Iniciais do Ens. Fund. Durante o estudo de cada Seção da Aula é importante que faça resumos, utilize planilhas ou esquemas para condensar os conteúdos, reclassifi cando-os mentalmente. Estas estratégias podem facilitar a compreensão, bem como o link dos conteúdos com os conhecimentos adquiridos em outras disciplinas ou mesmo contextualizá-los na prática. Bons estudos! Retomando a aula Findamos a aula. É claro que o debate em torno do currículo e suas infl uências não se encerra, e nem deve, a partir do pensar em quem, o quê e como se aprende, as transformações acontecem de maneira muito mais signifi cativa. Porém, é preciso um trabalho pautado em teoria e prática, esperamos tê-los inspirado nos contextos que regem os conteúdos e metodologias do ensino da Língua Portuguesa. ... Vamos, então, recordar: 1 - Teoria e Prática A primeira seção apresentou um olhar para os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa colocando-o como um guia para os anos iniciais do ensino fundamental, pautou-se na observação de que, mesmo com aspectos ainda em debate, é necessário que haja uma configuração básica a respeito do ensino/aprendizagem no país, e isso deve servir como ponto de partida, não chegada. Ressaltou-se, também, a necessidade da participação de toda a comunidade escolar para uma melhor aplicação dos contextos educacionais. 2 - PCN’s: Língua Portuguesa Nesta seção final, apresentou-se um olhar aos conteúdos contemplados como básicos ao ensino fundamental, bem como os objetivos gerais do ensino da Língua Portuguesa. Não há receitas nem soluções para a implantação deles, porém, mais uma vez, o papel docente é decisivo para as ações educacionais. 3 - Sobre o ensino da Língua Portuguesa Nessa seção apresentou-se um retrospecto dos pensamentos que permeiam o debate sobre o ensino da língua materna no tocante aos anos iniciais do ensino fundamental, procurou-se mostrar a cronologia e os aspectos que influenciaram e influenciam o pensar no currículo como apenas um elemento do processo ensino-aprendizagem, não o único, mas que influencia diretamente no caráter democrático da educação. 4 - O que ensinar em Língua Portuguesa? AA proposta dessa seção foi confrontar as relações entre conteúdos e metodologias relacionadas ao ensino da língua materna, alertando, assim, para as autonomias envolvidas em todo o processo e como lidar com essas variáveis sem excluí- las do processo de domínio da Língua Portuguesa, ressaltado seu aspecto ligado à leitura e sua influência na transformação do sujeito. Vale a pena FREIRE, PAULO. Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. Paz e Terra, 1993. JOLIBERT, J. (coord.). Formando crianças leitoras. Trad. B. C. Magne. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994. KOCH, I. G. V.; ELIAS, V. M.. Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2006 MORAIS, José. A arte de ler. São Paulo: Ed. da Universidade Estadual Paulista, 1996. PCN Vol. 2 - Parâmetros Curriculares Nacionais - Língua Portuguesa, Vários Autores. Vale a pena ler Coursera.org - É um dos mais conhecidos e uma das maiores plataforma de cursos online gratuitos do mundo. O site oferece conteúdo em Português também e esse ano a USP e a Unicamp entraram para o time de universidades que disponibilizam cursos por lá. Os temas são variados… dá para apender desde Chinês Básico com a Universidade do Arizona até Fundamentos do Design com a Universidade da Califórnia. Programaê - O site acredita que a tecnologia tem o poder de transformar, inclusive a educação. Por lá é possível aprender ou ensinar usando a tecnologia, através de games, desenhos e animações, e assim simplificar o aprendizado da programação. MEC <http://portal.mec.gov.br> <http://cev.org.br/biblioteca/critica-critica-dos-pcns- uma-comcepcao-dialetica/> <http://artenaescola.org.br/sala-de-leitura/artigos/ artigo.php?id=69395> Vale a pena acessar A História Sem Fim (Die unendliche Geschichte). Alemanha. 1984 O Senhor das Moscas (Lord of the Flies). Inglaterra. 1990 Forrest Gump – O contador de histórias. EUA. 1994 O menino do pijama listrado (The Boy in the Striped Pyjamas). Inglaterra. 2008 Escola Primária ou Lições da infância (Obecná skola/ The Elementary School). (República Checa, 1991). Ser e Ter. (França, 2002). Waiting for Superman. (EUA, 2010) A educação proibida. (Argentina, 2012) Vale a pena assistir
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