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Prof: Me. Helton Lima Pedagogia Interdisciplinar FORTALEZA-CEARÁ 2020 Licenciatura Plena em Educação Física – 2006 Especialista em Educação Física Escolar – 2008 Formação em Educação a distância - 2019 Mestre em Ciências da Educação – 2020 Professor da Prefeitura de Fortaleza – PMF 2007 Professor da Faculdade Ratio Fortaleza Professor do IAMP – Instituto Antônio Mesquita Parente Professor da UNIP – Universidade Paulista Coordenador do PELC Coordenador do Projeto Segundo Tempo - PST Projeto Esporte Amigo do Idoso. PMF E-mail: heltonblima@gmail.com http://lattes.cnpq.br/9173320359418041 CREF: 10992-G/CE Instagram: heltonbbblima mailto:heltonblima@gmail.com http://lattes.cnpq.br/9173320359418041 APRESENTAÇÃO A disciplina Pedagogia Interdisciplinar estuda a relação entre os diferentes saberes e o conhecimento. É a integração dos saberes disciplinares que implica a colaboração de, no mínimo, duas disciplinas que objetiva acabar com as supostas divisões existentes entre elas. A interdisciplinaridade é de fundamental importância, pois possibilita a troca de informação e de discussão, ampliando a formação, compreensão e enfoque do que se está estudando, pois este conteúdo é visto dentro de um universo maior. Ser interdisciplinar é admitir uma postura de trabalho em equipe que ultrapassa as paredes da disciplinaridade e da fragmentação científica. Ela provoca trocas de informações e saberes. Encontra-se em Jean Piaget (1972) a definição de interdisciplinaridade como uma concepção de integração entre disciplinas, que, no final, enriquecerá todos os envolvidos. Nesse envolvimento interdisciplinar, nascerá uma nova visão sobre o objeto pesquisado ou estudado, pois houve uma junção, uma organização entre duas ou mais disciplinas a fim de compreender melhor o objeto a ser estudado. O pedagogo interdisciplinar Iniciamos esta obra fazendo alguns questionamentos como: o que é ser pedagogo? E qual é o significado da palavra pedagogia? O pedagogo é o profissional formado em Pedagogia. A palavra pedagogia teve sua origem na Grécia Antiga: paidós (criança) e agogé (condução), conduzir a criança. Portanto, o pedagogo é aquele que conduz a criança, ou seja, faz que o aluno alcance o conhecimento. Nos tempos hodiernos ( Atual, modernos), o termo pedagogo é utilizado para se referir aos estudiosos da educação e do processo de ensino-aprendizagem, entendendo que um pedagogo é o profissional capacitado para discutir o caminho que a aprendizagem percorre em todas as fases e espaços, já que se sabe que ela não se limita à escola, pois o ser humano aprende em todo e qualquer espaço. A aprendizagem acontece em casa, na comunidade, na rua, na igreja, na internet, no convívio diário com as pessoas nas empresas, nos parques etc. O pedagogo pode ter sua formação em: O termo Lato Sensu é de origem latina e quer dizer “sentido amplo” Lato sensu — os profissionais que transitam na educação e lecionam nas mais variadas instituições educativas; e o O termo Stricto Sensu, em latim, significa “sentido específico”. Strictu sensu — o profissional que trabalha na área da pesquisa, documentação, tem uma formação específica. A sociedade contemporânea é conhecida como sociedade do conhecimento, ou seja, a sociedade pedagógica, em que o aprender é eminente. Este perpassa os espaços intra e extraescolares, formal e informal. Você já parou para pensar sobre esse assunto? O fazer pedagógico vai além da sala de aula, requer um olhar e preparo diferentes do professor. Se o conhecimento está em todos os espaços e não pertence mais unicamente à escola, a prática pedagógica deve ser repensada e modificada, adaptando-se à situação atual. Pensar que a pedagogia apenas forma professores é pensar de forma muito simples. Ela deve preparar o profissional da educação para a pesquisa, para a reflexão e para a transformação. Pensar sistematicamente na educação e em seu processo requer uma reflexão sobre a prática educativa dos professores como parte do processo social. Essa prática exige um olhar amplo, que percorra as várias áreas do conhecimento — filosófica, científica e técnica, a fim de investigar o fenômeno educativo em pormenores. Ao desenvolver essa habilidade, o professor não só conseguirá discutir com mais fundamentação as questões da educação, como estará preparado para agir interdisciplinarmente, utilizando sua percepção e seus conhecimentos diversos para solucionar e discutir problemas. O pedagogo pode atuar como professor na Educação Infantil; nas séries iniciais do Ensino Fundamental — do primeiro ao quinto ano; na Educação de Jovens e Adultos; na orientação pedagógica; na coordenação educacional; na área administrativa da escola — como diretor. O docente também pode trabalhar em outras esferas que não sejam educacionais: pedagogia empresarial, hospitalar, clínica; pode analisar softwares educativos em empresas; analisar livros didáticos em editoras etc. Há diversos setores que se abrem para o professor trabalhar com a diversidade cultural, étnica, social e econômica. Para tal, é preciso que o mestre seja capaz de trabalhar em equipe, de lidar com conflitos, buscar soluções para problemas presentes e desenvolver projetos que mobilizem as pessoas. A Pedagogia, por abranger disciplinas como Filosofia, Sociologia, Antropologia, Psicologia, entre outras, tem, por excelência, a interdisciplinaridade. Um fator muito importante no ensino- aprendizagem é a interdisciplinaridade; esta surge da necessidade de uma reconstrução epistemológica, porque há uma fragmentação do conhecimento, quando, na verdade, o correto é que haja a associação de conhecimentos e a articulação de diferentes saberes, visando a um desenvolvimento global do aluno. Lembrete A epistemologia é um ramo da filosofia que estuda o conhecimento, sua origem e sua validade; é um estudo aprofundado, ocorre desde a raiz do conhecimento. Interdisciplinaridade, transdisciplinaridade e multidisciplinaridade A interdisciplinaridade, a transdisciplinaridade e a multidisciplinaridade podem parecer muito semelhantes, mas se você interpretá-las com atenção perceberá que cada qual possui suas idiossincrasias. A interdisciplinaridade surgiu no final do século XIX, pois havia a necessidade de uma resposta frente à fragmentação causada pela concepção positivista — as ciências foram subdivididas, ou seja, surgiram várias disciplinas. Após longas décadas convivendo com um reducionismo científico, a ideia de interdisciplinaridade foi elaborada visando a restabelecer um diálogo entre as diversas áreas do conhecimento científico. A interdisciplinaridade deve ser entendida e concebida não apenas no campo do conhecimento, e sim nas atitudes dos professores e dos diferentes profissionais que se proponham a tê-la como seu princípio de postura e de visão do mundo. Dessa forma, podemos considerá-la um meio de levar o aluno ao conhecimento dos fatos de uma forma ampla. Compreendendo a extensão do fenômeno e da complexidade que envolve a realidade, o docente precisa ter a noção da dimensão da diversidade que circunda o fato a ser estudado, aprendido ou pesquisado. Veja a seguinte definição para a interdisciplinaridade: O prefixo ‘inter’, dentre as diversas conotações que podemos lhe atribuir, tem o significado de troca, reciprocidade, e disciplina, ensino, instrução, ciência. Logo, a interdisciplinaridade pode ser compreendida como sendo a troca de reciprocidade entre as disciplinas ou ciências, ou melhor, áreas do conhecimento (FAZENDA, 1993, p. 21-22, grifo nosso). Vamos estudar agora o que é transdisciplinaridade. Trans + disciplinaridade = transcender, ultrapassar as disciplinas. Disciplinaridade = disciplinas de fragmentação do saber. Organização de conhecimento científico, subdivisão do conhecimento.Transdisciplinaridade = um saber que transcende a disciplinaridade, é a dinâmica gerada pela ação de vários níveis, é a realidade multidimensional do conhecimento a ser pesquisado, substituindo o conhecimento clássico e tradicional do objeto a ser estudado ou pesquisado. Piaget, no I seminário Internacional sobre pluri e interdisciplinaridade, na Universidade de Nice, em 1970, referiu-se à interdisciplinaridade como uma interação dialética entre diversas disciplinas e à transdisciplinaridade como um método que transpõe o individualismo do assunto a ser estudado, pesquisado ou compreendido, na busca de uma visão holística da realidade. A transdisciplinaridade é colocada como uma forma de articular as novas compreensões da realidade, que vai além das disciplinas tradicionais. Ela percorre a disciplinaridade na busca da compreensão da complexidade dos saberes a serem absorvidos. A transdisciplinaridade não implica uma ligação ou cooperação entre as disciplinas, mas que haja um entendimento para organizar e ultrapassar a fronteira entre as disciplinas. Para que se consiga desenvolver um pensamento transdisciplinar, é necessário nos remetermos a Edgar Morin (1999); este mencionava a necessidade de desenvolver nos alunos e em todos o “pensamento complexo”, a metadisciplina, e não pensar sobre um único ponto de vista. Assim, todo conhecimento transdisciplinar pressupõe um processo sempre aberto, que vai além do horizonte que conhecemos, implicando a criação e recriação permanente, a aceitação do diferente e a renovação das formas aparentemente acabadas do conhecimento. Para Maria Cândida Moraes: Pela transdisciplinaridade, transcendemos, criamos algo novo e diferente do conhecimento original, algo que pode surgir a partir de um insight, de um instante de luz na consciência, de um processo sinérgico qualquer envolvendo as diferentes dimensões humanas. Portanto, é a subjetividade objetiva do sujeito aprendente que expressa o conhecimento de uma nova maneira, demonstrando que o conhecer envolve todas essas dimensões humanas, dimensões estas não hierarquizadas e nem dicotomizadas, mas articuladas, funcionalmente complementares em sua dinâmica operacional e que atuam a partir de uma cooperação global que acontece em todo o organismo. A multidisciplinaridade A multidisciplinaridade refere-se a um conjunto de disciplinas dentro de um mesmo ramo do conhecimento. Podemos exemplificar da seguinte maneira: um trabalho que envolva várias disciplinas de Psicologia (como a Psicologia Sociointeracionista, Psicologia do Consumidor etc.). Nessa perspectiva, podemos considerar este trabalho como uma tarefa multidisciplinar. Citamos como exemplo de multidisciplinaridade uma cirurgia para separar dois bebês siameses, que pode contar com a participação de várias equipes médicas. Projetos e interdisciplinaridade Para utilizar projetos em sala de aula, é preciso entender que a educação vai além do aluno, que ela envolve o professor, a escola, os espaços de interação e a comunidade que a rodeia; o ensino transforma o espaço escolar em um verdadeiro ambiente de aprendizagem, desenvolve a autonomia do estudante e permite que ele crie estratégias para a construção de seu conhecimento. Para ter sucesso com essa prática, deve-se interagir e transitar nas diferentes áreas do conhecimento, resolver situações-problema a partir dos seus conhecimentos prévios e mobilizar-se na construção de conhecimentos científicos. O projeto mobiliza e motiva o aluno na busca desse conhecimento mais organizado e estruturado, e cabe ao professor fazer que ele busque teorias e que estabeleça as relações necessárias entre elas. O aluno precisa aprender a lidar com as incertezas, com as possibilidades diversas, com as soluções provisórias, com a ambiguidade, com o sim e com o não juntos. Para Fazenda (1994), um projeto como prática interdisciplinar corresponde a articular a teoria e a prática, é dialogar com conceitos diferentes. Para a autora, esse processo é a ação do ir e vir na busca de um conhecimento. Esse exercício da dúvida, da pergunta e da incerteza leva o aluno ao verdadeiro conhecimento, pois haverá uma articulação horizontal e vertical entre as disciplinas, desfragmentando o saber. Quando trabalhamos com projetos, objetivamos envolver várias disciplinas, estudando o tema escolhido dentro da especificidade de cada uma delas. O uso de projetos nas escolas nos conduz a um aprendizado mais aprofundado e significativo, contribuindo para o desenvolvimento cognitivo do aluno. O educando não é visto como um simples receptor, e a informação é tratada de forma construtiva e proveitosa. Com isso, o estudante desenvolve a capacidade de selecionar, organizar, priorizar, analisar, sintetizar etc. Sempre elaboramos um projeto a partir de um questionamento; para obter sucesso, é preciso atentar-se à sua base: a curiosidade, a necessidade de saber, de compreender a realidade, afastando a dicotomia entre teoria e prática. Fernando Hernandez (1998) diz que, ao trabalhar um projeto, devemos: pensar de forma globalizada, possibilitando aos alunos a relação entre informações e procedimentos; levar o professor à reflexão e à interpretação da prática de maneira cotidiana, empregando significado à relação de ensino-aprendizagem; dar um novo significado às práticas na sala de aula e possibilitar a discussão de temas diversos, conforme o interesse dos alunos e o desafio estabelecido pelo professor. Podemos, portanto, ensinar por meio de projetos todos os assuntos que tragam uma dúvida inicial, e, a partir do pressuposto levantado, pesquisar e buscar evidências sobre a questão, sem perder de vista a importância dos trabalhos individuais e em grupo, as aulas expositivas, os seminários, os debates etc. Depois da escolha do tema, devemos partir para as hipóteses. Depois, é preciso haver a definição do material de apoio para a pesquisa, que será utilizada para a busca de respostas — de confirmação ou não — das hipóteses levantadas. Certamente, as ações a serem desenvolvidas serão determinadas pelo tipo de pesquisa. Ao trabalhar com projetos interdisciplinares: [...] tanto educadores quanto alunos envoltos numa pesquisa não serão mais os mesmos. Os resultados devem implicar em mais qualidade de vida, devem ser indicativos de maior cidadania, de maior participação nas decisões da vida cotidiana e da vida social. Devem, enfim, alimentar o sonho possível e a utopia necessária para uma nova lógica de vida. (FREIRE, 1996, p. 156). Essa transformação mútua professor/aluno será concretizada quando o projeto tiver claro sua justificativa, a situação problema encontrada, a hipótese levantada, os objetivos traçados, a metodologia que será utilizada etc. Diante disso, algumas etapas precisam ser seguidas e obedecidas. São elas: • Delimitação da área: para que seja fácil a escolha da bibliografia a ser lida, deve-se saber a qual área o trabalho se refere; • Justificativa: é ter a noção do que está acontecendo, ou seja, saber o que precisa ser pesquisado. Os argumentos devem ser convincentes e claros; • Delimitação do tema: um tema amplo inviabiliza a realização do trabalho. Deve-se selecionar um aspecto a ser abordado de acordo com as características de cada série e idade; • Problema: um questionamento surge de uma curiosidade, de uma pergunta a ser respondida durante o trabalho; • Hipóteses: são as possíveis respostas à pergunta feita; • Objetivos: aonde se pretende chegar com esse trabalho? Qual a finalidade de sua realização? Nos objetivos, encontraremos o objetivo geral e mais amplo, que se insere nas competências a serem desenvolvidas no aluno e o objetivo específico: saber as habilidades que devem ser desenvolvidas; • Revisão bibliográfica: são os livros lidos e que servirão como embasamento teóricopara o seu trabalho; • Procedimentos metodológicos: são instrumentos utilizados na pesquisa; • Recursos financeiros: quanto vai custar e quem vai pagar ou patrocinar o projeto; • Divulgação: como vai ser divulgada a pesquisa; • Avaliação: toda atividade deve ser avaliada no processo da pesquisa e após o seu término. A avaliação deve compreender os conceitos procedimentais e atitudinais. A avaliação procedimental deverá ser analisada pelas ações que foram utilizadas para se conseguir o objetivo estabelecido. Deverão ser ações ordenadas, que envolvam destrezas, habilidades e as estratégias utilizadas. A avaliação atitudinal, como o próprio nome diz, refere-se às atitudes durante o trabalho desenvolvido, como a cooperação, a solidariedade e a empatia. Modelo de projeto Pensar em projeto é pensar em desenvolver, na criança ou no aluno, um olhar amplo sobre o assunto que está pesquisando. Pensemos em um trem, que passa em várias cidades, e, conforme as pessoas vão entrando, ele vai incorporando as informações e formando uma identidade com tudo o que foi acrescido. Aos poucos, as pessoas vão deixando seus hábitos, linguagens, jeitos, e o trem, ao ser visto e analisado por outra pessoa, terá um pouco de cada um que por lá passou e interagiu. Modelo de projeto Pense em um projeto que, conforme se desenvolve, seus participantes vão interagindo com as diversas áreas de conhecimento, diferentes maneiras de desenvolvê-lo e diferentes olhares sobre o mesmo objeto. No fim, este trabalho terá desenvolvido o conhecimento sobre o tema de maneira ampla, dinâmica, pois os alunos terão a noção das múltiplas facetas e visões existentes. Tal aprendizado não se limita ao tema pesquisado ou desenvolvido, ele possibilita a inter-relação desse saber com as outras áreas e situações. Vejamos um exemplo de projeto com o rio Tietê: 1) Justificativa O rio Tietê é um dos rios mais importantes economicamente para o estado de São Paulo e para o país. Ficou mais conhecido pelos seus problemas ambientais crescentes na história, especialmente no trecho em que banha a cidade de São Paulo, esquecendo-se da sua importância na história do país. No século XXVIII, ele serviu de rota para os bandeirantes, que ampliaram o território brasileiro. Esse rio divide o estado ao meio, cruzando-o de leste a oeste. É considerado o símbolo de São Paulo. 2) Objetivo O foco é compreender a história e a problemática do rio Tietê, que cruza a região metropolitana de São Paulo e percorre 1.136 quilômetros ao longo de todo o interior do estado. 3) Planejamento das atividades Pesquisas teóricas realizadas pelos alunos sobre o processo histórico de ocupação da Grande São Paulo, sobre a urbanização, a industrialização e a progressiva degradação ambiental do rio. Análise de mapas antigos e atuais. Visita à nascente do rio Tietê, em Salesópolis. 4) Elaboração de um caderno de campo orientado pelo professor Indicações de observações a serem feitas no trajeto para a nascente por meio de fotos, desenhos e outros registros. Nesse caderno, poderá haver o mapa da área percorrida. 5) Trabalho de campo Este trabalho compreende: observações, fotos e uma entrevista com o monitor que organiza a visita à nascente. É preciso que haja o entendimento da degradação do rio por poluição industrial e esgotos domésticos no trecho da Grande São Paulo, que teve origem principalmente no processo de industrialização e de expansão urbana desordenada ocorrido nas décadas de 1940 a 1970. 6) Após a realização do trabalho de campo Depois do trabalho em campo, deve-se apresentar as fotos, os desenhos e as produções de textos sobre a história do rio Tiete e o processo histórico da poluição e as perspectivas para uma despoluição em um mural ou numa revista. 7) Avaliação Na avaliação, será discutido todo o caminho percorrido pelo grupo e se os objetivos foram alcançados. Os alunos, ao se depararem com a importância do rio, localizando-o geograficamente e entendendo sua história, ampliarão seu olhar sobre o Tietê, encarando a situação atual de forma diferente e buscando possíveis discussões e soluções. Trazer para discussão temas e/ou situações-problema é a melhor forma de aguçar a curiosidade do aluno. Piaget definia a inteligência como a capacidade de estabelecer relações. Quando um projeto interdisciplinar consegue ligar conceitos, encoraja os estudantes a encontrar respostas a partir de suas próprias perguntas e inquietações. A UNESCO compôs uma comissão internacional de educação, presidida por Jacques Delors (2001), que, após profunda reflexão sobre a visão de pessoa e de mundo, elaborou um relatório, propondo uma educação para o século XX I baseada nos seguintes pilares: 1) aprender a ser; 2) aprender a conviver; 3) aprender a conhecer; 4) aprender a fazer. Aprender a conhecer O aprender a conhecer significa ensinar o aluno a buscar respostas para suas dúvidas e curiosidades em múltiplas fontes, proporcionando-lhe autonomia para construir o próprio saber. É uma aprendizagem que não visa a um repertório de conhecimento, mas sim a dominar as ferramentas que possibilitam o saber. É importante que o professor medeie a relação do aluno com o mundo, conhecendo o meio que o circunda, afinal, este está inserido nesse espaço. Aprender a conhecer O conhecimento não é estático, ele muda e evolui. É impossível conhecer tudo, o conhecimento, hoje, significa, primeiramente, saber procurar, selecionar e utilizar as fontes e pesquisas. É necessário desenvolver nos discentes a capacidade de buscar novos saberes, de ampliar sua visão, de entender as diferentes culturas existentes e de compreender o ambiente sob seus diversos aspectos. Para que isso aconteça, é necessário que a criança tenha acesso aos diferentes tipos de metodologias científicas. No Ensino Médio e no Superior, a instituição escolar deve oferecer condições para que os estudantes adquiram ferramentas necessárias para entender a sociedade e o mundo. Aprender a conhecer Atualmente, a internet é um meio muito eficaz para se buscar conhecimento e informações, mas o professor deve alertar os alunos para pesquisarem em sites fidedignos. Sendo assim, o aprender a conhecer exige um pensamento reflexivo, e pensar reflexivamente é criar atitudes de questionamentos, é construir o conhecimento cientificamente, isto é, com bases sólidas. O aprender, então, envolve o pensar dialético, ou seja, aquele que transforma as ideias em atitudes. Aprender a fazer O aprender a fazer é uma consequência do conhecer. É o colocar em prática o conhecimento adquirido, adaptando-o a diferentes situações. Aprender a fazer relaciona-se à autorrealização, pois, a cada pequeno avanço que conseguimos em nossos objetivos, ficamos satisfeitos. Portanto, aprender a fazer é caminhar em direção ao alvo que pretendemos atingir. Quando percebemos que estamos no caminho certo, já experimentamos a sensação da ação realizada. Para explicar melhor, pense em um adolescente que deseja ser um médico e que ainda está cursando o segundo grau. A cada ano escolar, o aluno estará realizando e se aproximando de seu projeto. Aprender a fazer Diversos estudiosos já relataram a importância de seguirmos um passo de cada vez rumo aos nossos objetivos, e nossa própria experiência nos remete a isso. Cada passo consciente é uma fonte de realização para nossa vida. O aprender a conhecer e o aprender a fazer não se separam, pois, ao conhecer, a ação se transforma. Ao saber buscar o conhecimento e a utilizar suas ferramentas para tal, passa-se a fazer, a agir. Aprender a conviver Aprender a conviver é uma competência social. A família e a escola devem auxiliar o aluno a se descobrir, para que ele possa se colocar no lugar do outro nas diversas situações do cotidiano, aprendendo a lidar com a diversidade de problemas que existem.O ser humano é social e só sobrevive na relação interpessoal. Essa aprendizagem é o grande desafio do professor dos tempos contemporâneos: educar o aluno a conviver com o outro e com a suas limitações implica conduzi-lo ao autoconhecimento. Aprender a conviver A história humana é feita de conflitos, e, devido às rápidas mudanças que acontecem, há certa intensificação no elemento autodestrutivo no decorrer do século XX. A educação pode trabalhar para evitar os conflitos e desenvolver a consciência moral do educando. Deve transmitir ao estudante o respeito e a solidariedade, para que ele possa reconhecer o outro como alguém com direito de participar socialmente do grupo. Aprender a ser A identidade é o que singulariza uma pessoa, é o que a torna única no mundo, diferente de todas as outras. O Templo de Apolo, em Delphos, na Grécia Antiga, menciona: “conhece-te a ti mesmo”. Este conhecimento é a base de todos os demais. Conhecer a si mesmo implica saber quem você é, suas qualidades, os pontos que precisam ser melhorados, seus sonhos, suas frustrações e o significado que você dá a tudo isso. Nossas relações interpessoais também se beneficiam com a definição de nossa identidade. Aprendemos a nos colocar no lugar do outro, sentindo o que ele pode estar pensando. Fazemos isso com base em nossas emoções e em nossa racionalidade. Aprender a ser Quando raciocinamos e mudamos nossas opiniões, muitas vezes alteramos nossas estruturas mentais para um nível melhor, deixando de lado as nossas opiniões formadas. Conhecer-se e aceitar-se facilita o gostar de si mesmo. Afinal, quando conhecemos e aceitamos algo, é mais fácil de gostar. Estudiosos da atualidade mostram que a educação deve contribuir para o desenvolvimento global da pessoa, deve favorecer o crescimento do espírito, do corpo, da inteligência, da sensibilidade, do sentido estético e da responsabilidade pessoal. É preciso desenvolver a autonomia no ser humano, torná-lo capaz de resolver uma situação, decidir sobre um problema e criticar uma ideia ou um posicionamento. Enfim, é muito importante ser capaz de formar seu próprio juízo de valor e atuar de forma consciente na sociedade. A afetividade na relação professor/aluno Vários teóricos da educação abordam a questão da afetividade na relação professor/ aluno como um fator facilitador da aprendizagem. A afetividade pode ser definida como um sentimento de afeição por alguém, como uma simpatia e amizade pelo outro. Para Wallon (1959), a afetividade é o ponto de desenvolvimento do indivíduo, e, juntamente com os aspectos cognitivos (quando integrados), constituem um par inseparável e permitem à criança atingir níveis de evolução cada vez mais elevados. Wallon nasceu em Paris, em 13 de junho de 1879, e dedicou sua vida à compreensão do outro. Além de acadêmico, foi um homem político. Vivenciou as duas Guerras Mundiais, sendo que, na primeira, era um dos médicos que cuidava dos feridos do exército francês, e isso o fez discutir o antagonismo das emoções e do automatismo. A primeira etapa dos trabalhos de Wallon diz respeito às questões relativas à afetividade; a segunda, aos estudos da inteligência. Ele formulou uma teoria da afetividade baseada na emoção e no caráter, e, ainda que o nascimento da afetividade seja anterior ao da inteligência, ambas progridem em etapas evolutivas. Para Wallon, a afetividade é um componente importante para o desenvolvimento da personalidade da criança e depende de dois fatores: o orgânico e o social. Ao nascer, as condições biológicas encontradas nas crianças não terão total responsabilidade pelo desenvolvimento da criança, neste processo também estão presentes o fator social, psicológico e a escolha do indivíduo. Para Wallon (1959), a inteligência e a afetividade se influenciam ao longo do desenvolvimento, mas são inseparáveis. Para o autor, nenhuma atividade inibe a emoção, e nenhuma situação elimina e a presença da razão. A emoção provoca a inteligência quando o conhecimento está sendo aclamado; a inteligência, por sua vez, precisa que a emoção esteja presente para se desenvolver. Portanto, pode-se dizer que a ambas se complementam, auxiliam uma a outra no processo de desenvolvimento. Wallon foi um educador incansável, autor de inúmeras obras dedicadas aos problemas da educação. Para ele, a afetividade é um domínio funcional, sendo a primeira etapa que a criança percorre. O autor destaca que a afetividade é anterior à inteligência. As emoções sentidas pelo bebê, portanto, são enviadas para o universo social por gestos, espasmos, descargas musculares e reflexos, que, posteriormente, irão formar a personalidade. Na afetividade humana, a emoção e a inteligência exercem um papel fundamental, estão presentes constantemente na vida de todos os indivíduos, mesmo no estado de maior serenidade. Sendo assim, qualquer atividade, por mais intelectual que seja, supre a emoção. A emoção motiva a inteligência, que, por sua vez, precisa das “tormentas” das emoções para ser estimulada e se desenvolver. Vygotsky Vygotsky (1991) defende que cada cultura produz um modo diferente de funcionamento psicológico e diz que a afetividade evolui e norteia toda a ação humana. Para este pesquisador russo, a evolução mental se dá por etapas, isto é, fases qualitativas de um nível de conhecimento para outro. Desenvolveu a Zona do Desenvolvimento Proximal, Real e Potencial. O primeiro refere-se ao momento da assimilação do conhecimento, em que a ajuda do outro social se faz necessária; o segundo, ao momento em que realizamos algo com o conhecimento que consolidamos, aquele que já está alicerçado em nossas estruturas superiores; o último, é a habilidade de realização da ação de cada pessoa, isto é, aquilo que somos capazes de executar com nossos conhecimentos adquiridos. Na atualidade, não se pode separar a afetividade da habilidade emocional. A vida afetiva nas relações interpessoais envolve as transformações de nossas ações. Primeiramente, há o desenvolvimento dos sentimentos interindividuais (afeições, simpatia e antipatias); depois, ocorrem as socializações das ações. Então, surgem os sentimentos morais intuitivos, provenientes de nossas experiências vitais e, logo depois, são acrescidas aos nossos interesses e valores, formando, assim, um “todo” equilibrado e harmônico. As relações interpessoais entre professores e alunos constitui uma importante ferramenta no processo de ensino-aprendizagem, pois o uso da afetividade possibilita a disciplina na sala de aula, além de contribuir para uma educação que visa à autonomia e liberdade, cabendo ao professor ser o mediador do processo evolutivo do educando.
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