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Teoria da Educação e o Papel da Geografia Profa. Norma Olinda Giordano Boacnin Colaboradores Profa. Ma. Ivete Maria Soares Ramirez Ramirez Prof. Dr. Antonio Sergio da Silva Unidade I APRESENTAÇÃO DO PROFESSOR-AUTOR Profa. Norma Olinda Giordano Boacnin Cursou Magistério na Escola Normal Particular Cristo Rei; possui graduação em Pedagogia com Especialização em Orientação Educacional pela Universidade São Marcos; Pós-Graduação em Psicopedagogia Clínica Institucional UNIB; Coordenação de Grupos Operativos e Aperfeiçoamento: Formadora de coordenadores de grupos operativos – Enrique Pichon-Revière. Espaço Transforma. Tem experiência na área da Educação Infantil Fundamental e Ensino Médio. Autora do Material Didático do Sistema Objetivo – História/Geografia 2º e 3º ano do Ensino Fundamental. Atualmente é Assessora Pedagógica – Sistema Objetivo de Ensino. Ministra Cursos Diversos nos Encontros Pedagógicos do Sistema/UNIP. APRESENTAÇÃO DOS PROFESSORES COLABORADORES Profa. Ma. Ivete Maria Soares Ramirez Ramirez Profa. Ivete Maria Soares Ramirez Ramirez (Ivy Ramirez) é mestre em Comunicação, pós‑graduada em Jornalismo Científico pelo Laboratório de Estudos Avançados de Jornalismo Científico da Universidade de Campinas – Labjor/Unicamp –, Pós-graduada em Formação em EaD (UNIP), bacharel e licenciada em Ciências Sociais e Geografia pela Universidade de São Paulo – USP. Em 2006, estudou as seguintes disciplinas em nível de pós‑graduação stricto sensu no Nepam/Unicamp (Núcleo de Pesquisas Ambientais): Qualidade de Vida em Sociedades Complexas, Sustentabilidade e Políticas Públicas, Desenvolvimento e Meio Ambiente e Mudanças Ambientais Globais na área de Sociedade e Ambiente e Economia Ambiental como aluna especial do Programa de Doutorado. É autora de material didático do Ensino Médio do Sistema de Ensino Objetivo, da disciplina Geografia, autora do livro Tiwanaku um olhar sobre os Andes, resultado de pesquisa de campo e residência durante seis anos no Chile, na Região de Atacama, elaborado em parceria com o laboratório de editoração da ECA- USP em 2005. Realiza trabalho de assessoria de Coordenação do Ensino Médio, no Departamento de Programação Geral (DPG), apoio pedagógico do Colégio Objetivo, em São Paulo. Ministra cursos para professores nos Encontros Pedagógicos promovidos pelo DPG, departamento este que assessora as unidades conveniadas do Sistema Objetivo no Brasil e as unidades situadas no Japão, com cursos para professores e atendimento aos alunos. Ministra aulas no programa Atualidades On line do Sistema Objetivo de Ensino e realiza comentários nos exames do ENEM e vestibulares. Coordena, ministra aulas e elabora materiais didáticos para o curso de Licenciatura em Geografia, na modalidade de ensino a distância – EAD –, na Universidade Paulista – UNIP. Coordenadora Geral do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Ensino de Geografia (UNIP). Professor Dr. Antonio Sergio da Silva Prof. Antonio Sergio, graduado em Geografia, realizou seu curso de Especialização em Educação Ambiental (USP-CRHEA) em São Carlos, cidade em que posteriormente fez o Mestrado (2006) pela Universidade Federal (UFSCar). O Doutorado (2011) fora realizado na Universidade Estadual Paulista-UNESP- Presidente Prudente, com formulação de indicadores de sustentabilidade, incluindo processos participativos e a lógica do referencial coletivo de sustentável. O Pós- doutorado (2016) fora realizado na UNESP-Rio Claro com determinação de níveis de vulnerabilidade humana segundo o uso e ocupação do solo em homogenia territorial em espaços urbano e rural. Tem experiência na área de Ensino em Geografia, com ênfase em Geografia Humana. Como docente em curso de graduação em Geografia, foi responsável pela Coordenação do Laboratório de Geografia e do Centro de Apoio à Gestão Ambiental e Territorial. Responsável pela Coordenação de Pesquisa e Pós-Graduação da UEG- UnU-Formosa e Coordenador de Edição da Revista Ideias Universitárias da Universidade Estadual de Goiás (ISSN 1807-6386). Docente convidado nos Cursos de Especialização em Educação pela USP-EESC, responsável pelo Módulo Ecopedagogia e em Curso Pós-graduação pela UFSCar, responsável pelos Módulos: Conceito de bacia hidrográfica e Processos democráticos: a organização em sociedade e o ambientalismo. Assim como participou em atividades de docência em acompanhamento pedagógico no Curso de Licenciatura em Educação do/no Campo pela UnB-FUP. Professor universitário, autor de capítulos de livros e artigos em revistas científicas vem atuando com formação continuada de professores, tendo atuado como consultor e autor de material didático para a ONU-PNUMA, em parceria com o MMA, segundo propostas do MEC. Como pesquisador convidado do Laboratório de Análise Espacial em Políticas Públicas (LAPP-UNESP-Rio Claro), dentre outras pesquisas, desenvolveu análises em uma microrregião paulista, com 24 municípios, sobre a realidade das taxas de escolaridade, taxas de abandono escolar, de reprovação e aprovação no Ensino Fundamental e Médio, assim como o desempenho e metas do IDEB nesses municípios. É responsável pela disciplina de Metodologia de Pesquisa Científica no curso de graduação em Geografia na UNIP e Coordenador Pedagógico do Curso Pós- Graduação em nível de Especialização Lato Sensu em Ensino de Geografia (UNIP- Cidade Universitária). 4 INTRODUÇÃO Os assuntos aqui apresentados pretendem caracterizar o estudo de Geografia não só com marcas de um componente que faz parte do currículo escolar há tempos, considerando-se necessidades e especificidades de cada época vivida geográfica, história e socialmente, mas, acima de tudo, procurando lançar mão de reflexões e questionamentos que traduzam a problematização que os dias atuais provocam seja em alunos ou em professores. A Geografia que outrora caracterizava-se por concepções e fatos de âmbito natural, atualmente assumiu uma nova visão, social e humanística. Essa área de conhecimento é composta por elementos que propiciam a análise e a interpretação do processo de apropriação e organização do espaço pelo ser humano. Hoje aborda o compromisso de uma análise crítica da realidade vivenciada, potencializando processos de transformação, em detrimento de ideias que meramente apresentavam os conhecimentos de forma quantitativa e funcionalista (Geografia Tradicional). O estudo aqui disponibilizado pretende despertar o interesse cada vez maior no ensino que visa a aprendizagem real e significativa por parte do educando, considerado como ser social, participativo, ético, responsável, criativo, cidadão, agente transformador da realidade em que vive. Procura explicar o espaço geográfico como local em que acontecem as relações sociais, econômicas, políticas e do ser humano com a natureza, em âmbito local, regional, nacional e global. Contribuir para a formação de “pessoas coletivas” é uma das intenções desse trabalho, que ora se apresenta. Longe de ser considerada uma obra acabada, ela é representativa de que as ideias aqui defendidas lhes garantam condições de prosseguimento, uma vez que pelo diálogo proposto e estabelecido haverá a continuidade presente no desenvolvimento do pensamento geográfico pelos docentes em sala de aula para com os seus alunos. Propicia também reflexões que vão além dos padrões de igualdade e inclusão sociais, como também das condições de equidade para todos, pois só assim se poderá afirmar que de fato a inclusão social estará estabelecida. Onde houver um professor que ensina e que, também, aprende, haverá esperança, segundo Freire, de contribuição de dias melhores para a construção de uma sociedade mais justa, solidária, participativa e, principalmente, democrática, com oportunidades para todos, de fato! Nesse sentido a presença do estudo da Geografia não pode e não deveficar omissa a todas essas transformações intelecto-sociais que se apresentam e se sucedem em escalas de fatos e contingências de dias em constantes sequência de acontecimentos isolados, locais ou que refletem contextos mias generalizados, a partir desdobramentos do próprio movimento global que interfere o pensamento cotidiano em todas as instâncias. A proposta é propiciar momentos de consciência reflexiva com condições de analisar fatos e contribuir para que haja de constituição de futuro promissor e transformador na ordem sócio-histórico-geográfica. 5 Ao adentramos em uma nova era, assistimos ao surgimento de necessidades que denotam questões e problemáticas até então desconhecidas. Como desdobramento, vemos despertar novas áreas de atuação como a informática na educação. Diante disso é imprescindível compreender e interpretar que, frente a tais condições, a ideia que deve prevalecer é a de que a ligação à épocas passadas que traduzem pensamentos e apegos a territórios marcados por valores que constituíram outros tempos, já em superação, devem ser renovadas por pensamentos e crenças de que a navegação compartilhada, timbradas pelo espírito investigativo, simbólico e colaborativo determinam uma nova fase humanitária que caracteriza a organização e a cultura em nossa época. Acompanhar todos esses movimentos requer das pessoas e, principalmente, dos educadores, a crença de que ainda é possível agir diante de tanta profusão de informações que nos assolam, invadindo espaços, outrora preservados, tanto no individual quanto no coletivo. Mas, a esperança de que é possível sonhar com relações mais criativas e criadoras, uma vez que estamos lidamos com informações, culturas e conhecimento em distintos espaços culturais nos impulsiona a desafios e obstáculos a serem superados. Assim, a educação humanística, pensando em todos esses aspectos abordados, enfrentará desafios presentes que permitem vislumbrar um futuro promissor em todas as escalas de que o homem necessita para viver, conhecer, compreender e melhor interpretar o mundo em que vive, buscando novas e saudáveis formas de, com ele, interagir. Basta acreditar! Aqui fica o convite para a leitura e apreciação do trabalho exposto!!! Que gere dúvidas, questionamentos, sempre tendo em mente a proposta do ser inacabado e da provisoriedade do conhecimento em uma nova era e em um mundo em constante transformação, que acontece de forma acelerada e acirrada. 6 1. CONCEPÇÕES TEÓRICAS DE EDUCAÇÂO E DOS PROCESSOS PEDAGÓGICOS E AS RELAÇÕES PRÁTICAS AO PENSAMENTO GEOGRÁFICO. A autoridade do educador e as qualificações do professor não são a mesma coisa. Embora certa qualificação seja indispensável para a autoridade, a qualificação, por maior que seja, nunca engendra por si só autoridade. A qualificação do professor consiste em conhecer o mundo e ser capaz de instruir os outros acerca deste, porém sua autoridade se assenta na responsabilidade que ele assume por este mundo. Face à criança, é como se ele fosse um representante de todos os habitantes adultos, apontando os detalhes e dizendo à criança: - Isso é o nosso mundo. (ARENDT, 2001, p.239) Nesse assunto, faz-se necessária a presença da discussão acerca da concepção de criança e de educação que se tem e fundamenta a prática educativa a ser adotada como orientadora da abordagem de conteúdos, vistos não como um fim em si mesmo, mas como veículos pelos quais as habilidades e competências serão desenvolvidas e conquistadas, tendo em mente, tanto docentes quanto discentes. A concepção de criança vem se modificando através dos tempos. Na Grécia antiga, era considerada por alguns como a mais intratável das criaturas, indisciplinada, necessitando ser tratada com rédeas curtas para que se aquietasse e obedecesse. Com o decorrer da história, na Idade média, a criança apenas passava a receber um nome depois de completar 7 anos e, assim, introduzidas no mundo adulto. As roupas que vestiam eram nada confortáveis, impossibilitando que corressem, brincassem, sujassem-se e locomovem-se livremente, de acordo com as necessidades que caracterizam a infância, como se sabe hoje. Nos séculos XVI e XVII começa a surgir o sentimento de infância despertado em duas situações diversas: na família em que era percebida e tratada como objeto de divertimento, bem como na igreja que, contrapôs a ideia da família em relação a ela, tendo como objetivo, torná-la disciplinada. Embora não obtivesse voz, a criança passou a ser cuidada em sua higiene pessoal e saúde, atitude que se estendeu às famílias da época, também. Ainda no século XVIII os grandes artistas plásticos não viam a criança como criança e não as representavam em suas obras. Com o surgimento do sentimento de infância passou a ser modelo para os pintores da época, todavia, sempre vestida como adulto. Ao notarem que as crianças eram dependentes de outra pessoa que lhes providenciasse o alimento, cuidasse de sua saúde física e emocional, protegesse do frio e do calor, tendo como foco prepará-la para a vida adulta, começou um movimento de descoberta em relação a elas, mesmo com o enfoque na vida adulta. É possível a infância ter variações independentemente do tempo e do espaço, tais como tempo de duração em que é considerada, o trabalho infantil, as formas de 7 punir, de aplicar sanções e de discipliná-las, inclusive levando em conta a idade com que ingressava ou ingressa na escola. Atualmente, um dos mais importantes marcos histórico-sociais é a transversalidade. Embora ainda tenhamos adultos ou responsáveis que enxergam a criança como antigamente, acreditando que precisa ser dominada, que não dão voz a ela, pois não acreditam que sejam capazes de pensar ou de resolver problemas do cotidiano de diferentes ordens; hoje a criança é encarada e respeitada em sua identidade, características próprias de cada faixa etária em que se encontra, portadora de necessidades, mas com condição de ser promotora do saber em construção. Ela existe por si própria, constitui-se como pessoa considerada em todas as suas características, potencialidades e não necessita de que se faça por ela. É concebida como sujeito que tem desejos, pensa, levanta hipóteses, posiciona-se, legisla, inventa, cria, manifesta ideias, opiniões e sentimentos desde cedo, por meio de movimentos, expressões, olhar, nas vocalizações e falas. Em outras palavras, comunica-se! Diante disso, a relação entre o adulto e a criança tem que ser dialógica e não unilateral, a fim de possibilitar aos pequenos diversificadas situações para construção de sua subjetividade, como criança e futura formação de adulto como sujeito pensante e falante. Na concepção de educação tradicional o enfoque maior está na memorização dos conhecimentos transmitidos pelo professor, único arguidor do processo de ensino, objetiva a valorização da resposta certa, semelhante ao livro didático e a concepção de erro é algo desprezível e não é visto como construtor de aprendizagem. As considerações registradas pelos alunos, mesmo que estivesse, conceitualmente, correta, todavia distinta e representativa de criatividade na elaboração, não era bem vista e aceita, uma que que não era reprodutora dos manuais e livros didáticos, considerados como modelos indiscutíveis. Toda a responsabilidade pela não comprovação da aprendizagem era delegada aos alunos, figuras passivas na relação com o professor. Era bastante comum encontrar-se o seguinte discurso por parte do docente: eu ensinei, mas ele não aprendeu. Claro não presta atenção aos ensinamentos que eu ministrei... Já na concepção de educação comportamentalista o enfoque se dá na memorização dos conteúdos, dos conhecimentos transmitidos, treino, baseando-se no concreto e nos padrões de comportamentos impostos como regras e verdades absolutas, por intermédio do castigo e da recompensapelos atos praticados, desencadeando o condicionamento humano. Nessas duas concepções se dá a heteronomia da criança e não a tão pretendida autonomia, a ser conquistada por ela, de acordo com suas condições e desenvolvimento, com responsabilidade e respeito ético, bem como pela forma como é mediada e orientada em situações de conflitos, não só emocionais, assim como de desafios que provoquem o desequilíbrio cognitivo, a dúvida pelo novo, marcada pelo 8 desejo de busca para a resolução, com os elementos e condições dos quais dispõe o sujeito em pauta. Para a concepção de educação atual a defesa pela utilização de situações- problema e de atividades desafiadoras, instigantes, que provoquem o conflito cognitivo, gerador de ideias em prol da construção do conhecimento é a palavra de ordem pedagógica que mais condiz com a concepção de criança e de educação acreditada, defendida e compatível com as demandas da contemporaneidade. Nesse sentido, como analisar e avaliar se o que está sendo proposto aos alunos contempla os aspectos citados? Piaget (1976) sugere a formulação de observáveis que nos indicam se a proposta atende a esses pressupostos, pois é um meio eficaz que muito contribui para o estudo e conclusão por parte da docência. O mais fundamental nessa reflexão é saber se as crianças estão pensando a partir das atividades propostas. Os temas elencados para a situação-problema desencadeiam discussões, favorece o levantamento de hipóteses, instiga as trocas intelectuais no trabalho em grupo? Ou, simplesmente, requer dos alunos a aplicação de fórmulas prontas, técnicas operatórias ou mesmo conceitos já conhecidos e memorizados? Para a Pedagogia crítico-social dos conteúdos, a escola tem a função político-social, na qual uma vez estudados, socializados e sistematizados, os assuntos devem ser postos em discussão e confrontados com as experiências dos alunos, culturais, regionais, espaciais, político-sociais, econômicas, ora de forma individual, ora coletivamente. Pretende oferecer as condições necessárias em favor do avanço dos processos de aprendizagem, com intenção de contribuir para a formação de agentes/sujeitos ativos que visem à transformação social. A memorização pura e simples dos fatos, cede lugar à compreensão e interpretação do que acontece em favor de uma consciência crítica diante da realidade social tal como se apresenta. A apresentação de propostas de trabalho que se configurem por causar conflito cognitivo são as mais recomendadas para o desenvolvimento do espírito livre e criador, que utilizam dos recursos pessoais na busca de soluções cabíveis para a resolução de situações problemáticas e inéditas para o educando. A ideia que aqui prevalece é de que o novo considerado em toda a sua abrangência seja o disparador como ponto de partida tanto para a reflexão docente, quanto discente. 9 2. TENDÊNCIAS E CORRENTES DA EDUCAÇÃO As tendências pedagógicas brasileiras da educação sofreram influências por meio dos movimentos cultural e político da sociedade, pois foram explicitadas devido aos aspectos sociais e filosóficos, que formaram a prática pedagógica do país. Pensadores atuais refletem acerca das tendências pedagógicas, enfatizando que as principais usadas na educação brasileira se dividem em duas grandes linhas de pensamento pedagógico. São elas: Tendências Liberais e Tendências Progressistas. Tendências Liberais – Tradicional, Renovadora Progressista, Renovadora não diretiva (Escola Nova) e Tecnicista. Tendências Progressistas: Libertadora, Libertária e “Crítico-social dos conteúdos” ou “Histórico-Crítica”. Algumas explicações básicas dos pressupostos teóricos que caracterizam cada uma dessas formas de ensino. 2.1 Tendências Liberais Liberal não tem a ver com ensino aberto ou democrático, mas com uma instigação da sociedade capitalista e resposta a ela, que sustenta a ideia de que o aluno deve ser preparado para desempenhar papéis sociais de acordo com as suas aptidões, aprendendo a viver em harmonia com as regras desse tipo de sociedade, tendo uma cultura individual. Figura 1: No ensino tradicional, o ensino é centralizado no professor e os alunos são considerados meros receptores. Fonte: www.pixabay1 1 https://cdn.pixabay.com/photo/2016/07/17/11/12/board-1523537__480.jpg http://www.pixabay/ 10 2.1.1 Tradicional Foi a primeira a ser instituída no Brasil por questões históricas. Nela o professor é a figura central e o aluno é um receptor passivo dos conhecimentos considerados como verdades absolutas. Há repetição de exercícios, com exigência de memorização com o objetivo de aprendizagem por meio de atividades de fixação. 2.1.2 Renovadora Progressiva Foi a próxima tendência a aparecer no cenário da educação brasileira por recomposição da hegemonia burguesa. Centraliza-se no aluno, considerado como ser ativo e curioso. Defende a noção de que ele só aprenderá fazendo”, valorizam-se as tentativas experimentais, a pesquisa, a descoberta, o estudo do meio natural e social. Aprender se torna uma atividade de descoberta, autoaprendizagem. O professor é um facilitador no processo. 2.1.3 Renovadora não diretiva (Escola Nova) Anísio Teixeira foi o grande pioneiro da Escola Nova no Brasil. Caracteriza-se também em um método centrado no aluno. A escola tem o papel de formadora de atitudes, preocupando-se mais com a parte psicológica do que com a social ou pedagógica. Para aprender é preciso estar significativamente ligado às próprias percepções, modificando-as. 2.1.4 Tecnicista Skinner foi o marco principal dessa corrente psicológica, behaviorista. Nesse ensino, o educando é considerado mero depositário passivo dos conhecimentos, acumulados na mente por intermédio de associações. O professor deposita os conhecimentos, especialista na aplicação de manuais; sendo sua prática extremamente controlada. Está intimamente relacionado ao sistema produtivo, tendo em vista aperfeiçoar a ordem social vigente, capitalismo, apoiando-se na formação de mão de obra especializada com vistas ao mercado de trabalho. 2.2 Tendências Progressistas Partem de uma análise crítica das realidades sociais, sustentam implicitamente as finalidades sociopolíticas da educação e não ideias defendidas pelo capitalismo. O desenvolvimento e popularização da análise marxista da sociedade, a abordagem progressista, se desdobra em três ideias: 11 2.2.1 Libertadora Pedagogia de Paulo Freire, tendência que vincula a educação à luta e organização de classe do oprimido. O saber mais importante é a de que o oprimido, tenha consciência da realidade em que vive. Propõe a busca pela transformação social, que representa a libertação pelo desenvolvimento da consciência crítica e sua organização de classe. Ocupa-se da discussão de temas sociais e políticos; o professor coordena atividades e atua com os alunos. 2.2.2 Libertária Propõe a transformação da personalidade num sentido libertário e de autogestão. Pressupõe que somente o vivenciado pelo aluno é apreendido e aplicado em situações novas, por isso o saber sistematizado só terá relevância se favorecer a transposição prática. Valoriza a livre expressão do pensamento, bem como o contexto cultural em que se apresenta e a formação estética. Embora os conteúdos sejam disponibilizados, não são exigidos pelos alunos e o professor é orientador à disposição do aluno. 2.2.3 Crítico-social dos conteúdos ou Histórico-Crítica Tendência que apareceu no Brasil ao final da década de 70, prioriza o enfoque de conteúdos confrontados com as realidades sociais. Enfatizar o conhecimento histórico é preciso! Visa preparar o aluno para o mundo em que vive, com participação organizada e ativa na democratização da sociedade; por meio da aquisição deconteúdos e da socialização. Professor é mediador entre conteúdos e alunos. O ensino/aprendizagem tem como centro o aluno. Os conhecimentos são construídos pela experiência pessoal e subjetiva. Com o advento da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9.394/96), ideias como de Piaget, Vygotsky e Wallon foram muito difundidas, tendo uma perspectiva sócio-histórica e interacionistas. Concebem que o conhecimento se constrói e ocorre pela interação entre o sujeito e o objeto em questão, ambos se modificando, mutuamente. 12 Figura 2: Escola antes Fonte: www.pixabay.com2 Figura 3: Escola atual Fonte: www.pixabay.com3 2 https://cdn.pixabay.com/photo/2014/04/03/10/45/teaching-311356__480.png 3 https://cdn.pixabay.com/photo/2014/03/31/17/50/class-302116__480.jpg http://www.pixabay.com/ http://www.pixabay.com/ 13 3. O PROCESSO DE REFLEXÃO-AÇÃO SOBRE A PRÁTICA EDUCATIVA Nos tempos mais recentes e, principalmente, atuais, participamos frequentemente da discussão acerca da problemática da ação-reflexão-ação sobre a prática pedagógica (SCHÖN, 2000), que envolve a formação docente, de forma continuada dos professores que se encontram em serviço. Temos plena consciência de que a formação por toda a vida profissional se faz necessária, uma vez que vivemos em mundo totalmente distinto de outrora, que requer dos educadores uma visão plena do papel formativo e complexo, que esse profissional desempenha com os alunos, com a escola em geral, com a sociedade e, principalmente, consigo mesmo, para que haja não só transformação territorial, bem como a expansão alargada e irrestrita dos saberes e dos dilemas ou paradigmas que a Geografia trata, deixando de lado que a docência se faz por um dom ou talento herdado. Acima de tudo, que se contempla com o estudo acadêmico proporcionado até então. Sem dúvida alguma, para exercer a prática docente é necessário, conforme afirma Celso Vasconcellos (2003), dotar-se de uma paixão pelo ato de ensinar e de aprender, de acordo, também, com o mestre Paulo Freire. O que significa compartilhar desse debate tratando-se dos assuntos que dizem respeito à Geografia? Há mudanças de concepção no processo de ensino e aprendizagem nessa área de conhecimento? Qual é a visão atual da Geografia, tendo em mente que as transformações no tempo e no espaço foram, embora marcantes, transitórias e provisórias, que dependem de fatores externos sociais, políticos, econômicos, culturais, que circulam de forma mutável e, nem sempre, evidente aos olhos de quem as observa? É a modernidade gerando a certeza da incerteza da qual desfrutamos no dia a dia, todos os momentos que vivenciamos em sociedade, seja de forma individual ou compartilhada... Esses fatores, atrelados a outros que interferem nesse processo, causam a desestabilização das ideias e práticas docentes conhecidas há anos a fio. Faremos assim, porque dessa forma não haverá risco de erro ao doutrinar os ensinamentos, considerados até o momento presente, verdades absolutas, imutáveis, como se fossem algo mágico, com plenos poderes de atuação e de aplicação no cotidiano de vida prática. Essa concepção de educação bancária (FREIRE, 1996), na qual os alunos eram meros espectadores e, o professor, o único detentor do saber, caiu por terra, como se diz popularmente, uma vez que já não garante a aprendizagem real e significativa, como se acreditava outrora. 14 Figura 4: Educação bancária Fonte: www.pixabay.com4 O mundo contemporâneo solicita que se instaure a dialogicidade entre as partes integrantes de um mesmo processo, como afirma Morin (2009), a relação entre parte e todo e vice-versa, seja ele qual for considerando-se a relação assimétrica presente nos intercâmbios sociais, tratando-se de qualquer instância dos relacionamentos, que solicitam trocas de experiências e intelectuais, sobremaneira presentes na diversidade humana e relacional entre as partes, que compõem e participam de um mesmo processo. É a complexidade do pensamento presente nos atos educativos. A troca de informações fundamentada nas experiências de vida prática e vivenciadas ao longo do processo de intercâmbio cultural possibilitam que o sujeito seja protagonista de sua própria história, uma vez que participa e desencadeia um processo de assimilação, desequilibração e acomodação ao meio, pois exerce atitudes de adaptação ativa à realidade vivida, conforme Pichon-Rivière (1998). Como a Geografia não se faz, ou realiza, independentemente da ação do homem, é preciso repensar a sua atuação em termos práticos e de sustentabilidade, não só ecológica, mas, também, sociocultural. 4 https://cdn.pixabay.com/photo/2017/02/06/23/57/lecture-2044621__480.jpg http://www.pixabay.com/ 15 3.1 Reflexão-ação na articulação teoria e prática TEORIA E PRÁTICA De que se trata? Teoria versus prática ou Teoria atrelada à prática!? O que vem em primeira instância? O que pratico ou O embasamento que norteia e fundamenta minha prática? Por que ação-reflexão-ação? Sabe-se que o desenvolvimento do pensamento reflexivo Vai além de novas projeções ou atividades Já planejadas Ou simplesmente revistas! Pensar sobre a prática é pensar acerca de que os atos pedagógicos praticados Oportunizaram em termos de reflexão para que os alunos tivessem condições de avançar em seus processos de desenvolvimento Ou ainda promover reflexões acerca das ações docentes como ponto de partida e Primordial para tornar a aprendizagem significativa?!? Refletir sobre esses aspectos faz-se necessário para a atuação docente responsável e geradora de aprendizagem real, significativa e com sentido atribuído! Por parte do aluno!!! Norma Boacnin Pautar-se na teoria é fundamental para o exercício da prática educativa, buscando, continuadamente, a reflexão sobre a práxis. É a tematização da prática refletida no cotidiano escolar, ou seja, analisar a ação educativa realizada sob a luz da teoria que a fundamenta. Tendemos a buscar sempre novas ações deixando de lado a reflexão sobre a prática educativa, segundo Schön (2000), uma vez que essa reflexão, sobre o ato pedagógico já praticado, promove indagações acerca do que a situação didática apresentada provoca (ou não) desequilíbrios cognitivos nos alunos em relação ao aprendizado esperado. Considerando-se certa aula dada, educadores e equipe pedagógica tendem a pensar em outras maneiras ou atividades que podem ou poderiam ser aplicadas no contexto de aulas futuras. 16 Aliás, essa ideia permeia o imaginário humano, talvez pela dificuldade que se encontra em pensar acerca do já praticado, uma vez que implica em repensar atitudes e valores consequentes de ações feitas. Fomos acostumados a imaginar outras formas de agir e de atuar no mundo, sem perspectivas de reflexão que promovam o pensamento e análise crítica a partir do que as ações implicam e seus desdobramentos. O que se propõe atualmente, é que se faça uma análise crítico-reflexiva sobre os pontos da aula já ministrada, a fim de que se repense a aprendizagem dos alunos, a partir das experiências vivenciadas, atividades propostas, procedimentos didático- metodológicos adotados, fragilidades ou desafios que desencadearam o processo de avanço cognitivo dos alunos. A partir daí, sim, novos planos de ações devem ser criados e depois da transposição didática ser realizada, reinicia-se o processo de investigação e reflexão sobre a prática realizada. Esse movimento requer que o docente desenvolva cada vez mais o ato de pesquisa dentro dos propósitos educacionais não só em Geografia, bem como nas demaisáreas de conhecimento. De muito vale a experiência profissional em qualquer âmbito que seja. Mas muitas vezes agimos de forma intuitiva e, no caso de se ter que lançar mão de determinado recurso, tal como já experimentado em situação, anteriormente vivenciada, muitas vezes não se tem consciência do ato realizado e o porquê, como funcionou, resultando ou não, em boas consequências para a situação ou problemática enfrentada no momento. O fazer, o refletir, o tornar a fazer, ações tidas antes como automática e que não exigiam a menor atenção, por parecerem atos puramente mecânicos, assumem novo caráter educacional na contemporaneidade. O olhar em relação ao mundo e para o que nele existe passou a ser mais abrangente, intra e interligado entre as partes e o todo que o compõem. A visão da escola também vem se ampliando e buscando novas formas de se lidar com toda a demanda que se apresenta nos dias de hoje. Nesse sentido, a abordagem e o desenvolvimento do estudo da postura de ordem reflexiva traz contribuições e desdobramentos favoráveis à construção da prática pedagógico-educativa transformadora, que apresenta caráter processual, uma vez que contribui para o exercício acerca do que representa a ação-reflexão-ação sobre essa prática, tão difundida, importante e primordial em nosso tempo. 17 3.2 Reflexão-ação no ensino da Geografia ESPAÇO Todo local tem uma história... Toda história acontece em um determinado tempo e espaço... Quem faz essa história interage com o local? De que forma? Harmoniosamente? Analisando- o e refletindo criticamente sobre ele? Preservando-o? Transformando-o? Tornando-o acessível a todos? Respeitando a geografia local? Dialogando com a natureza? Apreciando a estética nela presente? Contemplando a qualidade de vida, Tão em evidência atualmente e necessária à vida na Terra? Vamos à escola... e lá... Aprendemos uma série de conceitos, procedimentos... Outrora bastava esses saberes básicos, Conteúdos que nos eram ensinados, transmitidos, passados Sem a menor intenção de desenvolver a consciência crítica! Hoje o mundo está outro, diferente... Faz-se necessário rever alguns conceitos Valores e atitudes frente à realidade planetária tal como se apresenta... Repleta de certezas incertas, pois a cada dia Manifestações naturais nos surpreendem, tragicamente. A certeza que permanece é a incerteza! Requer que não nos mantenhamos dispersos Alheios ao que ocorre à volta sob os desígnios da mãe natureza! É tempo de mudança, momento de fazer diferente... A proposta é pensar que mundo temos o propósito de ajudar a construir 18 Que futuro solidarizamos individual e coletivamente? Torna-se fundamental que se... Batalhe em prol da ideia de formação e de existência da ‘‘pessoa coletiva’’ Tão necessária e condizente com este século!!! Norma Boacnin Para que haja um ensino de qualidade em Geografia é preciso rever algumas ações didáticas que se tornam imprescindíveis sobre a maneira de ensinar os conteúdos da área. Decorar rios e seus afluentes, memorizar países, estados e capitais já não são mais suficientes para o aprendizado da matéria, que bastava como outrora, uma vez que a tecnologia avançada e informações disponíveis a toda hora, mais democráticas do que nunca, possibilitam que todos tenham acesso aos assuntos quando desejarem, não importando o momento e a distância. Hoje os fatos acontecem em determinado local, próximo ou distante, e podem ser acompanhados em tempo real. Pode-se afirmar que a informação de ontem, hoje é passível de ser considerada ultrapassada, graças ao avanço tecnológico-científico que se modifica, surpreendentemente, pelas pesquisas científicas, renovação e comprovação de dados. Saber localizar-se no mapa geográfico, no local em que reside, em situações monitoradas pelos aplicativos disponíveis e compreender que o que ocorre em certo território também faz parte da nossa realidade e é fundamental, pois como reflete Milton Santos (2003), a globalização trouxe mudanças radicais no mundo contemporâneo acompanhadas de todos os seus benefícios e, também, com todos os seus desdobramentos... a serem considerados. A educação ou letramento cartográfico, leitura de mapas, tabelas, gráficos por meio da utilização de diferentes linguagens é proposta pela BNCC (BRASIL, 2018), em qualquer que seja a instância educacional, faixa etária e segmento de ensino. Além da pesquisa na internet e mídia, é preciso ensinar a desenvolver o espírito crítico em relação à análise de conteúdos, a fim de que se construa meios de investigação para validação ou não da matéria disponibilizada. Esse assunto faz parte do papel do professor em relação a seus alunos, sejam eles de qualquer faixa etária. Não importa! Deixar envolver-se, até mesmo seduzir-se, por ideias distorcidas do que ocorre verdadeiramente na vida real é algo a ser evitado com jovens estudantes. Avaliar causas e consequências das ações humanas geradoras de fatos, refletindo sobre... circunstâncias que as promovem, enfatizando que o território geográfico precisa ser humanizado e que é vítima do desencadeamento de ações arbitrárias que atingem o ser humano em todas as suas instâncias, entre tantas outras. 19 De que adianta ter informações de conteúdos se não se muda a forma de pensar e agir no mundo? Bachelard (1978) contribui para essa reflexão, trazendo a poética do espaço, que considera o espaço como tal, a partir da representação simbólico-afetiva que provoca no sujeito. Uma casa só é uma casa, tendo em vista as memórias socioafetivas que desencadeia no protagonista. Ou seja, o significado e sentido atribuídos é que tornam esse local, um local memorável, um território único e particular! Com lembranças que fazem dele, um lugar marcante para o sujeito em questão... O espaço territorial tem cheiro e sabor especiais que estão, intimamente, relacionados às experiências vivenciadas, seja de modo particular ou em âmbito mais abrangente, no social, envolvendo outros, que causam autenticidade para essa circunstância. Portanto a Geografia deixou de ser a disciplina conteudista que tratava de assuntos fenomenológicos como se fossem esperados há tempos e tratados como mero acaso. Essa mentalidade vem sendo superada e dando vazão a outra que atribui significado ao que ocorre e procura atribuir sentido para aquilo que promove a situação em destaque e em estudo. A ação docente requer que se tenha consciência do papel desenvolvido e representativo frente a todas essas demandas. Desde os primórdios dos tempos, nos quais os homens buscavam formas de deixar suas marcas no mundo, a disputa territorial se fez presente e, com ela, as demarcações geográficas no tempo e no espaço também se fizeram constantes. Muitos foram os recursos utilizados por esses habitantes terrestres que deixaram seus registros no decorrer do tempo e pela história que acontece com a intervenção do ser humano. Com o passar dos anos, desenhar mapas cobrindo os contornos com material apropriado, tendo como objetivo localizar rios, oceanos, florestas e locais, registrando os nomes e colorindo partes, já não são mais suficientes para a aprendizagem significativa em Geografia. Essa disciplina vem com o propósito de contribuir para que os homens possam compreender, interpretar e interagir nos espaços terrestres, na vida, sejam eles campestres ou urbanos. Não fomos educados para essa pedagogia participativa que propõe reflexões e interação dos alunos com tudo o que os cercam, seja de forma concreta ou mesmo virtual, levando em conta que é importante os sujeitos perceberem a realidade objetiva, considerando suas manifestações por meio dos indicadores observáveis que a natureza sinaliza. Nas atividades humanas o papel que a linguagem ocupa é de fundamental importância uma vez que está atrelada ao pensamentoe envolve a cultura em que se 20 insere, apresentando-se com formas diferenciadas em suas representações e significações. Isso ocorre, também, com as ciências que são caracterizadas pela constituição e expressão da própria linguagem. Em Geografia há a linguagem expressiva do pensamento que representa essa ciência, como a cartográfica e seus símbolos, bem como os conceitos que definem essa área de conhecimento. Como já afirmado anteriormente, a visão da Geografia estudada outrora não cabe mais nos dias atuais, pois a população era tema de estudo, mas não a sociedade, nem tampouco as relações sociais que se estabelecem no convívio humano, nem as técnicas e ferramentas de trabalho, nem o processo de produção. Podemos assim dizer que o homem era abstraído do seu caráter social. Então o que caracterizava essa Geografia? Dados empíricos, fragmentada em suas articulações e ligada aos aspectos naturais. Um estudo descritivo de paisagens naturais e humanizadas, desassociado de espaços vividos pela sociedade e de contradições que decorrem do processo produtivo, alheio à própria organização espacial. Retomando, metodológica e didaticamente, o foco estava na descrição e memorização de componentes da paisagem, sem proposição de reflexões que instiguem o estabelecimento de relações entre as partes, observações, comparações e até generalizações possíveis de serem realizadas, e tão indispensáveis na construção do conhecimento. Embora esse pensamento geográfico tenha sido constante até a década de 70, ainda podemos encontrar resquícios dessa prática no cotidiano de escolas que adotam a concepção tradicional de ensino. Metodologias recentes caracterizam o estudo do espaço geográfico de forma globalizada em toda a sua complexidade e adotam práticas de ensino que muito favorecem o protagonismo do aprendiz. Nesse sentido, arriscamo-nos até a afirmar que essa ideia prevalece tanto para alunos, quanto para professores que atuam com essa performance, correspondente às demandas contemporâneas e do mundo em constante transformação. Muito ainda temos a fazer na projeção do estudo de Geografia, uma vez que o homem, cujas ações desencadeiam consequências obscuras e desrespeitosas para natureza, precisa aprender a desenvolver que na lei do universo, que nos envolve o tempo todo, traz com retorno ao ato ecológico praticado, seja ele favorável e construtor, ou simplesmente avassalador. Portanto, ampliar os espaços de interação dialógica entre os atores protagonistas do cenário educacional é essencial para o bom andamento do trabalho consciente em Geografia. Inseridos nesse contexto, estamos, direta ou indiretamente, envolvidos e responsáveis pelo que ocorre no entorno. Um aspecto importante de ser salientado é o fato de que apesar de todo o avanço tecnológico que nos cerca, torna-se necessário o tratamento dedicado ao livro, 21 uma vez que pelo fato de ser objeto físico, tem vantagens que atendem à necessidade outras. Além de ser portado a qualquer local e circunstância, tem utilidade única no quesito pesquisa detalhada e estudo mais aprofundado, com a retomada de leituras constantes, registro de ideias para fichamento, acesso a apontamentos.... Sendo assim, cabe ao docente alimentar o uso desse objeto de estudo e pesquisa, que acompanha o desenvolvimento da humanidade há muitos e muitos anos, levando o livro para dentro da sala de aula, manuseando-o, utilizando-o, demonstrando interesse por descobertas, lendo para os alunos e, principalmente, valorizando-o em suas atitudes. 22 4. AS TEORIAS CRÍTICAS EM EDUCAÇÃO 4.1. As teorias críticas e a construção de práticas transformadoras em Geografia Tendo como base a construção de práticas transformadoras em Geografia, reflete-se e coloca-se em destaque a excelência que o papel do professor desempenha nesse processo educacional. Professor que abraça as aulas acreditando que muito pode contribuir para as ações didáticas mais eficazes que promovem a reflexão sobre a presença do homem no planeta.... Na pedagogia Crítico-social dos conteúdos a escola tem função social- política, na qual, uma vez sistematizados, devem ser confrontados com as experiências culturais dos alunos, individual e coletivamente. Para tanto, pretende oferecer as condições necessárias, em favor do avanço dos processos de aprendizagem, tendo em vista a formação de agentes ativos que visem à transformação social. Pretende, também, a compreensão, em detrimento da memorização, tendo em mente a consciência crítica, diante das realidades observadas e consideradas nos estudos. Diante disso, pergunta-se como transformar um determinado conteúdo escolar na Geografia em um conhecimento científico? Eis aí uma forte questão a ser refletida com profundidade, a fim de possamos tornar realidade tão desejada situação. Do ponto de vista geográfico, o conhecimento científico, ao contrário do que é apregoado de que só se estabelece no meio acadêmico universitário, é aquele em que o aluno aprende a desenvolver a capacidade de aprender a aprender, ou seja, num processo de autoconhecimento, conforme proposta da BNCC, o educando trilha o caminho da metacognição. Assim adquire condições de evoluir em seus processos de aprendizagem em desenvolvimento e em constantes transformações, fato que comprova que não se encontram respostas prontas, ou ainda, em conclusões que se evidenciam, muitas vezes, precipitadas; mas, sim no exercício de elaboração de boas perguntas, que nasce da posição de análise e crítica em relação ao mundo que nos cerca e no qual vivemos. O ato de questionar ponderada e reflexivamente o que acontece ao redor e, tido, muitas vezes, como verdade absoluta, pode cair por terra desde que em questionamentos feitos de forma crítica e analítica, mas considerando o todo e as contingências por ele demandadas sejam colocadas em pauta. O que se sabe, ou ainda que se pode afirmar com segurança, é o fato de que o questionamento e dúvidas acerca dos assuntos em evidência, em todos os campos de estudo e de atuação, conhecimento incompreendido e incompleto que promovem o avanço das ciências em todos os campos. 23 É fundamental ter em mente que existe uma ampla gama de assuntos e estudos pedagógicos específicos que envolvem a Geografia, que se complementam com os de diversas outras áreas, assim como os complementam. É a correlação existente entre as demais áreas se conhecimento, confirmando a interdependência entre elas, e enfocando a necessidade e importância do 0lhar transdisciplinar na abordagem dos conteúdos. Dessa forma, o aspecto relacional que se desenvolve no interior da sala de aula, bem como nos demais ambientes e espaços pedagógicos em que ocorrem a aprendizagem, precisa ser considerado em uma perspectiva de novos contatos que se estabelecem, no ensino e aprendizagem. No exercício do trabalho docente, não é só o aluno que aprende, mas sim, o professor também aprende com os discentes. Ambos aprendem ao mesmo tempo em que ensinam, cada qual com sua história de vida marcada por experiências, conhecimentos em construção, conceitos ressignificados. Para que haja essa troca e se alcance os objetivos esperados nesse novo contexto educacional e relacional que se estabelece, é preciso que o aluno sinta e reciprocidade presente na figura do professor, bem como o prazer em ensinar, a fim de que se evidencie o caráter empático que deve caracterizar a comunicação no estudo da Geografia tão marcado pelas relações e concepções humanas através dos tempos. No desenvolvimento do ofício docente, esse profissional precisa manter acesa a chama da paixão por aquilo que faz, pelas aulas que ministra, e, fundamentalmente, manter os estudos bem atualizados, sob postura pesquisadora e investigativa dominante na área. Com essa atitudes, crenças e valores adotados como parte de sua trajetória, muitocontribuirá para desmistificar a ideia, que ainda pode prevalecer, de que os conteúdos estudados são difíceis e distantes do entorno. Como só se aprende a ler, lendo; só se aprender a escrever, escrevendo; só se aprende os ensinamentos geográficos vivendo-os, analisando-os, criticando-os de forma consciente, refletindo sobre eles em todos os ângulos que os compõem e no contexto em que estão inseridos. Sentir-se integrante, parte da natureza e, portanto, corresponsável por aquilo que acontece ao redor é sentimento fundamental para desenvolver o senso de consciência crítica no estudante e no docente. 24 4.2 O papel do professor no contexto teórico-crítico-prático em Geografia PROJETO DE VIDA: SER PROFESSOR! Que professor é esse que eu quero me tornar e que a escola precisa? Dono do saber, das verdades e certezas incontestáveis? Absoluto e soberano em sala de aula? Aquele, cuja palavra, somente, é validada? Como planejo as aulas que serão dadas? Tudo é muito bem amarradinho? Cronologicamente organizado e previsto? Sem condições para o emergente?! Quem fala nessas aulas? Eu? Os alunos também...? Ou o silêncio reina absoluto? A aprendizagem é colaborativa ou meramente competitiva? Há espaços para criação ou apenas para a reprodução? Que professor é esse que a escola me tornou? Fruto de ideias perpetuadas ou de possíveis inovações? Conhecimento construído em rede? De forma significativa, com sentido atribuído? Ou repetitivo, memorizado, mecânico... A qual escola pertenço? Que concepção de criança defendo? E de ser humano? Que mundo eu quero ajudar a construir? Que marcas educacionais deixar? Como coordenar o avanço tecnológico às experiências ativas em sala de aula? Essas, entre tantas outras indagações, me perseguem a cada vez que tenho a apropriação de uma sala de aula. Muito temos a fazer para uma educação de qualidade que tenha como lema principal o atendimento e o respeito à diversidade! Que currículo abraçar? Quais conteúdos tratar? Acredito que, para um professor deste século assim me tornar, antes de mais nada preciso aprender a uma sala de aula gerenciar, considerando: A provisoriedade do conhecimento; 25 As relações que se estabelecem no cotidiano escolar; O trabalho em equipe e, principalmente, como diz Yves de La Taille, tendo o cuidado de aproximar a criança da cultura e não o inverso, ou seja, aproximar a cultura da criança!!! Só assim poderemos contribuir para uma escola contemporânea e transformadora! Norma Boacnin Refletindo acerca da importância do papel do professor nesse contexto e demanda atual, torna-se cada vez mais evidente que a figura desse profissional se torna mais necessária do que nunca, pois deve atuar como mediador atento que intervém, propõe, instiga, reflete e contribui para a construção da aprendizagem significativa e com sentido atribuído pelos alunos. Portanto seu papel é fundamental tendo como meta um ensino de qualidade que oportuniza as ações propostas. O relacional promovido pela figura do docente responsável ativo para que as relações sociais sejam oportunizadas, configuradas e estabelecidas em contexto que traduz a historicidade recente, atual, local ou distante fisicamente do aprendiz, mas que não deixa de representar e de pertencer ao mundo contemporâneo, é fundamental e exerce papel primordial na constituição do novo paradigma educacional que transcende ideias obsoletas e ultrapassadas diante das demandas do mundo em que vivemos. O professor que abraça o ofício em Geografia precisa trazer em si o espirito de pesquisa, de investigação de fatos decorrentes sempre relacionados à realidade do aluno, extrapolando para outras mais distantes, mas que, também, pertencem ao mundo em que vive. A Geografia vista como ciência que nasceu junto com a humanidade, pois registra fatos, situações locais próximas ou distantes em termos espaciais e não só temporais, que transcendem a época vivenciada, representa o estudo que marca e que contempla toda a exploração físico-temporal dos homens no Planeta. Que responsabilidade a ser desenvolvida e assumida diante de tantas reflexões, questionamentos e problematizações que outrora não se faziam presentes!!! Para a proposta de professor reflexivo podemos levantar alguns aspectos que podem contribuir nesse processo, tais como: A formação de grupos de trabalho que sejam organizados de forma produtiva, de acordo com o pendendo do objetivo e da proposta em questão. Pautar as ações didáticas no projeto pedagógico da instituição em busca de práxis coletiva. 26 A concepção por ele defendida e acreditada. A complexidade do trabalho que envolve professor e escola pelas tecnologias da informação e do conhecimento em constante construção e transformação. Os aspectos processuais que se referem à vida pessoal, profissional, história de vida que contribuem para a formação da identidade docente. As demandas que se apresentam pela sociedade atual para as instituições de ensino a aos professores diante do trabalho e formação continuada em serviço, entre outros. Dessa forma o professor desenvolverá atitudes e procedimentos que aplicados à prática de sala de aula, constituir-se-ão de subsídios que, certamente, o auxiliarão no bom desenvolvimento da docência de qualidade em prol da efetivação da aprendizagem significativa e de sentido atribuído, com poder de transformações tão evidentes e necessárias à condição de sobrevivência e de vida na Terra. A dicotomia de pensamento entre o sujeito observador e o objeto a ser investigado pode trazer consequências ambientais devastadoras em termos ambientais, já que a natureza tem sido interpretada ao longo do tempo, tratada como um sistema puramente mecânico, sendo controlada pelo homem e pela ciência na busca pelo retorno imediato de bens materiais. Essa visão tem que ser modificada e o docente de Geografia pode e deve contribuir para que esse processo seja implantado e implementado nas escolas em que o padrão de educação seja o de transformação constante e, não, de reprodução de mesmices praticadas ao longo do tempo escolar. O mundo hoje é outro! O que estava longe, pode estar próximo quase que acompanhado, imediatamente, em tempo real! O homem com toda sua potencialidade criativa e imagética, transpôs caminhos, outrora desconhecidos e desacreditados na possibilidade de se tornarem realidade. Com isso um alerta deve ser despertado ou uma bandeira levantada, contendo os seguintes dizeres: o homem não pode ser vítima de suas próprias conquistas, sejam elas de ordem tecnológica ou científicas. As conquistas humanas só podem ter credito se contribuírem para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e solidária para todos que nela vivem e convivem. Nossa morada se constitui tanto de nossa casa, assim como do planeta que habitamos e que podemos ajudar a construir, quanto a destruir. Portanto, fica evidente o papel e a função da escola, instituição tão presente e, fundamentalmente, participativa na educação das crianças e jovens, além da família, com sua 27 responsabilidade formativa e educativa, precisa ensinar conteúdos não só com significados em si mesmo, mas principalmente, ensinar a questionar para transformar o que for preciso, de acordo com as necessidades locais, regionais, nacionais e globais. Com isso, a instituição escolar estará traçando caminhos e trilhando rumos para a formação cidadã de alunos e professores e de todos os que nela se encontram participativos. A elaboração desse trabalho volta-se para a ideia de que podemos cada vez mais ampliar a visão educacional e contribuições que o pensamento geográfico pode trazer, favorecendo a formação de profissionais que atuem de forma colaborativa em Geografia, compreendendo-a, encarando-a e interpretando-a comouma ciência de síntese que estuda lugares, paisagens territórios e a sociedade que neles habitam, bem como as contribuições que essa área de conhecimento pode trazer com o estudo das demais. Nesse enfoque, é essencial desenvolvermos a compreensão e a consciência concreta de que os espaços, os territórios, as regiões, as paisagens e os lugares se transformam com o passar do tempo. Porém, essa modificação não pode e nem deve ser vista e entendida como algo ou fenômeno que acontece por si só, de forma independente, ao qual não se tem acesso imediato e somente resta observá-los de forma passiva, tal como se estivéssemos assistindo ao espetáculo que acontece de forma independente, resultado da natureza e sem menor influência social. Torna-se evidente e essencial que se atue em prol de que essas mudanças transformem e promovam a melhoria da estética, funcionalidade e qualidade de vida que também leva em conta a ética como padrão fundamental a ser considerado para a humanidade. Podem parecer repetitivas todas essas ideias e considerações. Todavia, é preciso destacar novamente esses aspectos, uma vez que são de suma relevância para a conquista da vida de qualidade que procuramos atingir no desenvolvimento do estudo e do trabalho em Geografia, bem como a apropriação dos conceitos que ela aborda, tendo como foco a aplicação das aprendizagens no contexto prático e cotidiano. Acompanhe as reflexões no site abaixo https://www.youtube.com/watch?v=sa5y-GWWrSs https://www.youtube.com/watch?v=sa5y-GWWrSs 28 REFERÊNCIAS ARENDT. H. Entre o passado e o futuro. São Paulo, Perspectiva, 2001. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. BNCC. 2018. BACHELARD. G. A poética do espaço. São Paulo, Abril cultural. 1978. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e. Terra. 1996. MORIN, E. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. 2009. PIAGET, J. A Linguagem e o Pensamento da Criança. 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São Paulo: Cortez. 2011. KAMII, C. A Criança e o Número. Campinas: Papirus. 2012. LÉOPOLDO, P; PHILIPPE, P; MARGUERITE, A; ÉVELYNE C. Formando Professores Profissionais: Quais estratégias? Quais competências? Porto Alegre: Artmed. 2001. 29 PETRAGLIA, I. Edgar Morin: A Educação e a Complexidade do Ser e do Saber. Petrópolis: Vozes. 2008. TARDIF, M. Saberes Docentes e Formação Profissional. Petrópolis: Vozes. 2002. 1 Teoria da Educação e o Papel da Geografia Profa. Norma Olinda Giordano Boacnin Colaboradores Profa. Ma. Ivete Maria Soares Ramirez Ramirez Prof. Dr. Antonio Sergio da Silva Unidade II APRESENTAÇÃO DO PROFESSOR-AUTOR Profa. Norma Olinda Giordano Boacnin Cursou Magistério na Escola Normal Particular Cristo Rei; possui graduação em Pedagogia com Especialização em Orientação Educacional pela Universidade São Marcos; Pós-Graduação em Psicopedagogia Clínica Institucional UNIB; Coordenação de Grupos Operativos e Aperfeiçoamento: Formadora de coordenadores de grupos operativos – Enrique Pichon-Revière Espaço Transforma. Tem experiência na área da Educação Infantil Fundamental e Ensino Médio. Autora do Material Didático do Sistema Objetivo – História/Geografia 2º e 3º ano do Ensino Fundamental. Atualmente é Assessora Pedagógica – Sistema Objetivo de Ensino. Ministra Cursos Diversos nos Encontros Pedagógicos do Sistema/UNIP. APRESENTAÇÃO DOS PROFESSORES COLABORADORES Profa. Me. Ivete Maria Soares Ramirez Ramirez Profa. Ivete Maria Soares Ramirez Ramirez (Ivy Ramirez) é mestra em Comunicação, pós‑graduada em Jornalismo Científico pelo Laboratório de Estudos Avançados de Jornalismo Científico da Universidade de Campinas – Labjor/Unicamp –, Pós-graduada em Formação em EaD (UNIP), bacharel e licenciada em Ciências Sociais e Geografia pela Universidade de São Paulo – USP. Em 2006, estudou as seguintes disciplinas em nível de pós‑graduação stricto sensu no Nepam/Unicamp (Núcleo de Pesquisas Ambientais): Qualidade de Vida em Sociedades Complexas, Sustentabilidade e Políticas Públicas, Desenvolvimento e Meio Ambiente e Mudanças Ambientais Globais na área de Sociedade e Ambiente e Economia Ambiental como aluna especial do Programa de Doutorado. É autora de material didático do Ensino Médio do Sistema de Ensino Objetivo, da disciplina Geografia, autora do livro Tiwanaku um olhar sobre os Andes, resultado de pesquisa de campo e residência durante seis anos no Chile, na Região de Atacama, elaborado em parceria com o laboratório de editoração da ECA- USP em 2005. Realiza trabalho de assessoria de Coordenação do Ensino Médio, no Departamento de Programação Geral (DPG), apoio pedagógico do Colégio Objetivo, em São Paulo. Ministra cursos para professores nos Encontros Pedagógicos promovidos pelo DPG, departamento este que assessora as unidades conveniadas do Sistema Objetivo no Brasil e as unidades situadas no Japão, com cursos para professores e atendimento aos alunos. Ministra aulas no programa Atualidades On line do Sistema Objetivo de Ensino e realiza comentários nos exames do ENEM e vestibulares. Coordena, ministra aulas e elabora materiais didáticos para o curso de Licenciatura em Geografia, na modalidade de ensino a distância – EAD –, na Universidade Paulista – UNIP. Coordenadora Geral do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Ensino de Geografia (UNIP). Prof. Dr. Antonio Sergio da Silva Prof. Antonio Sergio, graduado em Geografia, realizou seu curso de Especialização em Educação Ambiental (USP-CRHEA) em São Carlos, cidade em que posteriormente fez o Mestrado (2006) pela Universidade Federal (UFSCar). O Doutorado (2011) fora realizado na Universidade Estadual Paulista-UNESP- Presidente Prudente, com formulação de indicadores de sustentabilidade, incluindo processos participativos e a lógica do referencial coletivo de sustentável. O Pós- doutorado (2016) fora realizado na UNESP-Rio Claro com determinação de níveis de vulnerabilidade humana segundo o uso e ocupação do solo em homogenia territorial em espaços urbano e rural. Tem experiência na área de Ensino em Geografia, com ênfase em Geografia Humana. Como docente em curso de graduação em Geografia, foi responsável pela Coordenação do Laboratório de Geografia e do Centro de Apoio à Gestão Ambiental e Territorial. Responsável pela Coordenação de Pesquisa e Pós-Graduação da UEG- UnU-Formosa e Coordenador de Edição da Revista Ideias Universitárias da Universidade Estadual de Goiás (ISSN 1807-6386). Docente convidado nos Cursos de Especialização em Educação pela USP-EESC, responsável pelo Módulo Ecopedagogia e em Curso Pós-graduação pela UFSCar, responsável pelos Módulos: Conceito de bacia hidrográfica e Processos democráticos: a organização em sociedade e o ambientalismo.Assim como participou em atividades de docência em acompanhamento pedagógico no Curso de Licenciatura em Educação do/no Campo pela UnB-FUP. Professor universitário, autor de capítulos de livros e artigos em revistas científicas vem atuando com formação continuada de professores, tendo atuado como consultor e autor de material didático para a ONU-PNUMA, em parceria com o MMA, segundo propostas do MEC. Como pesquisador convidado do Laboratório de Análise Espacial em Políticas Públicas (LAPP-UNESP-Rio Claro), dentre outras pesquisas, desenvolveu análises em uma microrregião paulista (24 municípios), sobre a realidade das taxas de escolaridade, taxas de abandono escolar, de reprovação e aprovação no Ensino Fundamental e Médio, assim como o desempenho e metas do IDEB nesses municípios. É responsável pela disciplina de Metodologia de Pesquisa Científica no curso de graduação em Geografia na UNIP e Coordenador Pedagógico do Curso Pós- Graduação em nível de Especialização Lato Sensu em Ensino de Geografia (UNIP- Cidade Universitária). 4 INTRODUÇÃO Os assuntos aqui apresentados pretendem caracterizar o estudo de Geografia não só com marcas de um componente que faz parte do currículo escolar há tempos, considerando-se necessidades e especificidades de cada época vivida geográfica, história e socialmente, mas, acima de tudo, procurando lançar mão de reflexões e questionamentos que traduzam a problematização que os dias atuais provocam seja em alunos ou professores. A Geografia que outrora caracterizava-se por concepções e fatos de âmbito natural, atualmente assumiu uma nova visão, social e humanística. Essa área de conhecimento é composta por elementos que propiciam a análise e a interpretação do processo de apropriação e organização pelo ser humano. Hoje aborda o compromisso de uma análise crítica da realidade vivenciada, potencializando processos de transformação, em detrimento de ideias que meramente apresentavam os conhecimentos de forma quantitativa e funcionalista (Geografia Tradicional). O estudo aqui disponibilizado pretende despertar o interesse cada vez maior no ensino que visa a aprendizagem real e significativa por parte do educando, considerado como ser social, participativo, ético, responsável, criativo, cidadão, agente transformador da realidade em que vive. Procura explicar o espaço geográfico como local em que acontecem as relações sócias, econômicas, políticas e do ser humano om a natureza, em âmbito local, regional, nacional e global. Contribuir para a formação de “pessoas coletivas” é uma das intenções desse trabalho, que ora se apresenta. Longe de ser considerada uma obra acabada, ela é representativa de que as ideias aqui defendidas lhes garantem condições de prosseguimento, uma vez que pelo diálogo proposto e estabelecido, haverá a continuidade presente no desenvolvimento do pensamento geográfico pelos docentes em sala de aula para com os seus alunos. Propicia reflexões que vão além dos padrões de igualdade e inclusão sociais, como também das condições de equidade para todos, pois só assim se poderá afirmar que de fato a inclusão social estará estabelecida. Onde houver um professor que ensina e que, também aprende, haverá esperança, segundo Freire, de contribuição de dias melhores para a construção de uma sociedade mais justa, solidária, participativa e, principalmente, democrática, com oportunidades para todos, de fato! Nesse sentido a presença do estudo da Geografia não pode e não deve ficar omissa a todas essas transformações intelecto-sociais que se apresentam e se sucedem em escalas de fatos e contingências de dias em constantes sequência de acontecimentos isolados, locais ou que refletem contextos mias generalizados, a partir desdobramentos do próprio movimento global que interfere o pensamento cotidiano em todas as instâncias. 5 A proposta é propiciar momentos de consciência reflexiva com condições de analisar fatos e contribuir para que haja de constituição de futuro promissor e transformador na ordem sócio-histórico-geográfica. Ao adentrarmos em uma nova era, assistimos ao surgimento de necessidades que denotam questões e problemáticas até então desconhecidas. Como desdobramento disso, vemos despertar novas áreas de atuação como a informática na educação. Diante disso é imprescindível compreender e interpretar que frente a tais condições, a ideia que deve prevalecer é a de que a ligação à épocas passadas que traduzem pensamentos e apegos a territórios marcados por valores que constituíram outros tempos, já em superação, devem ser renovadas por pensamentos e crenças de que a navegação compartilhada, timbradas pelo espírito investigativo, simbólico e colaborativo determinam uma nova fase humanitária que caracteriza a organização e a cultura em nossa época. Acompanhar todos esses movimentos requer das pessoas e, principalmente, dos educadores, a crença de que ainda é possível agir diante de tanta profusão de informações que nos assolam, invadindo espaços, outrora preservados, tanto no individual quanto no coletivo. Mas, a esperança de que é possível sonhar com relações mais criativas e criadoras, uma vez que estamos lidamos com informações, culturas e conhecimento em distintos espaços culturais, nos impulsiona a desafios e obstáculos a serem superados. Assim, a educação humanística, pensando em todos esses aspectos abordados, enfrentará desafios presentes que permitem vislumbrar um futuro promissor em todas as escalas de que o homem necessita para viver, conhecer, compreender e melhor interpretar o mundo em que vive, buscando novas e saudáveis formas de, com ele, interagir. Basta acreditar! Aqui fica o convite para a leitura e apreciação do trabalho exposto!!! Que gere dúvidas, questionamentos, sempre tendo em mente a proposta do ser inacabado e da provisoriedade do conhecimento em uma nova era e em um mundo em constante transformação, que acontece de forma acelerada e acirrada. 6 1. TEORIA EDUCACIONAL E PRÁTICA EDUCATIVA A educação é o ponto em que decidimos se amamos o mundo o bastante para assumirmos a responsabilidade por ele e, com tal gesto, salvá-lo da ruína que seria inevitável não fosse a renovação e a vinda dos novos e dos jovens. A educação é, também, onde decidimos se amamos nossas crianças o bastante para não expulsá-las de nosso mundo e abandoná-las a seus próprios recursos e, tampouco arrancar de suas mãos a oportunidade de empreender alguma coisa nova e imprevista para nós, preparando-as em vez disso com antecedência para a tarefa de renovar um mundo comum. (ARENDT, 2001, p.247) A teoria que mais se aproxima das necessidades do mundo contemporâneo e sustenta a prática educativa é aquela que propõe a ação do sujeito sobre o objeto em estudo, pois dessa forma o transformará, assim como, também, será transformado por ele, de maneira interativa e dialógica, conforme já exposto anteriormente. O conhecimento será construído de forma ativa, participativa, colaborativa, seja de ordem individual ou coletivamente. A prática educativa que melhor representa a teoria educacional eu atende ás demandas e condições que desenvolvem o raciocínio geográfico e de acordo de premissa difundida pela BNCC (BRASIL, 2018) tem que corresponder ao modo pelo qual os participantes do processo de ensino e de aprendizagem formem parcerias dialógicas na construção do conhecimento de forma coletiva e individual. Certa vez, quando ainda ministrava aulas na antiga quarta série do segmento, na época denominado de primário, por volta dos anos 80, deparei-me com um texto bastante criativo e que me tocou sensivelmente por todos os dizeres e mensagem que trazia. Não lembro autor e nem a fonte da qual foi retirado. Nessa época, na escola em que trabalhava, produzíamos o nosso próprio material didático, que ia sendo construído de acordocom as necessidades e desenvolvimento dos processos de aprendizagem dos alunos. Utilizávamos textos dos mais variados possíveis, tais como retirados de jornais e de revistas, obras literárias, entre outros, e que nos davam condições de trabalho com diferentes perspectivas. Já naquele tempo, o foco não se encontrava nos conteúdos, mas sim, originariamente, no desenvolvimento de habilidades e competências, considerando- se as diferentes áreas de conhecimento. Bem moderno e atual!!! Não é mesmo!? O conteúdo era tratado como veículo condutor da aprendizagem. O referido texto trazia mais ou menos esta ideia: Vivemos dias de muita confusão na ordem das coisas.... É fogão que congela, geladeira que esquenta, ventilador que não refresca o ar, entre outros... 7 Parece que tudo está trocado, mas em seus devidos lugares! Qual a atitude que pode tomar e tornar a realidade diferente…? Da continuidade do texto, não me recordo mais, pois o que marcou significativamente foi a desorganização na ordem das coisas e seus propósitos com os quais foram criados. Defendemos a criatividade e a capacidade de inovação do ser humano. Mas ao considerarmos os fatos e fenômenos ecológicos que têm se tornado presentes e de forma constante, fica evidente o aspecto central de nossa conversa: considerar-se de forma crítico-analítico-reflexiva o jeito de estar e ser no mundo. Ao leitor pode parecer desconexa essa reflexão. Porem vou procurar explicitá- la de acordo com o sentimento e memória afetiva da época. Tenho a impressão de que muitas das coisas estão invertidas e precisamos retomar as rédeas, principalmente no âmbito educacional, uma vez que se constitui no aspecto central de caráter transformador social. Com o propósito de modificar o que necessita, aprimorar o que precisa ser ajustado e de manter o que tem se mostrado eficaz e produtivo, temos por objetivo contribuir para que possa ser alcançado o objetivo pretendido. Inovar no modelo tradicional de ensino significa transformar os alunos em protagonistas do próprio aprendizado. É a proposta do século XXI, que mescla orientação mediadora do professor com a participação ativa do aluno em sala de aula. Estudos revelam que quando o docente fala menos e medeia mais, realiza boas intervenções, possibilita que o educando tome a frente de seu estudo, de seu trabalho. 1.2. Diálogo entre as teorias da educação Nesse contexto reflexivo salienta-se a ideia do diálogo interativo entre as partes integrantes do processo educativo, bem como a necessidade de se considerar os aspectos que cada teoria educacional oferece como oportunidades favoráveis para que haja o aprendizado efetivo. Uma vez que cada conhecimento ou atitudes educativas ao longo da história tiveram sua razão e explicação de existir, em determinada época ou situação social, econômica e política e que justificou a sua permanência ao longo dos anos. Despreza-se a concepção unilateral do ensino e aprendizagem, considerados como algo ação e reação/consequência, automaticamente. Hoje já se concebe que isso não existe, pois para que haja condição de aprendizagem efetiva faz–se necessário evidenciar a questão da empatia que deve estar presente no ato educativo. Ou seja... é preciso que haja conexão e sintonia estabelecida entre os envolvidos no processo de aprendizagem: professor, alunos e seus pares. Enfim, cabe manter a conversa entre as teorias, uma vez que cada qual tem concepções e condições de manter sua presença viva no cenário educacional, uma vez que não se deve desprezar aquilo que foi construído em termos de educação ao longo da história. O que importa é ter clareza de que cada ação educativa irá promover 8 em relação ao ensino e aprendizagem, e não que seja adotada simplesmente como receita ou até mesmo desprezada por sua aparente inconsistência pedagógica. Vale sempre pensar a respeito de que se uma prática pedagógico-educacional em determinada época teve sua presença explicitada com razão, significa que, de certa ordem, trouxe e por que não dizer ainda traz desdobramentos significativos para a construção do conhecimento humano, histórico, geográfico cultural, econômico, político, ético ou social. A história do homem e sua constituição no que envolve o avanço nos estudos científicos nos mostra o quanto é importante consideramos o passado de nossas ações, afim de que se possa melhor entender o presente e vivenciar com plenitude o futuro que estamos construindo. Estudos nos mostram que é fundamental, na adoção de determinada estratégia, saber o que ela promove em termos de aprendizado. Não basta simplesmente aplica-la sem ter consciência dos desdobramentos que ela traz. Abandonar o que traz bons resultados e que fazem parte da experiência da construção histórica humana é desaconselhável pois sabemos que a cada retomada e ressignificação de conceitos representa a busca pelo aprimoramento do desenvolvimento histórico-geográfico-social do homem. Nada é criado a partir do nada. A escola tem a função de apresentar e tratar os conteúdos reconhecidos socialmente, mas, também, tem o dever de propiciar a reflexão sobre os assuntos e conteúdos escolares de forma crítica e responsável, a fim de que seja possível transformar o que for necessário. Considera-se os sujeitos como ativos e participantes na promoção de transformações sociais e espaciais. Desta forma, estarão, também, fazendo história. O que precisa ser tratado para que o ensino seja considerado de qualidade eficaz? Trata-se daquele que cumpre sua função escolar, contribuindo para a formação de cidadão autônomo e crítico com condições de superar problemas que preocupam a sociedade. As práticas que caracterizam o pensamento geográfico são marcadas pelo social e pelo âmbito espacial. A modernidade científica traz maiores condições de previsões que explicam de forma segura e são asseguradas pelas tecnologias mais eficazes. Abordamos alguns enfoques da contemporaneidade educacional que tratam de alguns aspectos relevantes no âmbito educacional, ao considera-se que o aluno necessita ter condições de ao atingir a escolaridade de: 9 Dominar a leitura e a escrita autonomamente, com alfabetização e letramento nas diversas linguagens para que se constitua a leitura de mundo. Capacidade de resolver situações-problema diversas em distintas circunstâncias que envolvem áreas de conhecimento. Condição de observar, comparar, analisar, deduzir, compreender, interpretar dados, fatos e situações em diferentes contextos que se apresentam sob diferentes formas, a fim de possa sintetizá-los. Consciência para aceitar e interagir criticamente com os meios de comunicação e mídias em geral, discernindo o que é real do que permeia o imaginário na rede de informação. Compreensão para leitura de mundo e da circunstância que o cerca, com a possibilidade de interagir e de integrar-se ao entorno social. Capacidade de saber localizar-se, locomover-se, com o apoio de recursos tecnológico modernos e atuais, acessar e utilizar da melhor forma os meios de informação que chega de forma avassaladora. Exercer a pró atividade na busca da construção e do exercício de planejar, trabalhar em grupo de forma colaborativa, bem como em prol da decisão coletiva. No exercício e amplitude que envolve o raciocínio geográfico, cada vez mais acentua-se a ideia de que é um estudo em constante movimento, caracterizado por idas e vindas e que detém a condição e exercício do poder de influência sobre os seres, pois se trata da natureza e do homem em relação a tudo que os envolve. A ciência geográfica dispõe de recursos e conceitos estruturantes para o aprimoramento do estudo da área e inserção no mundo, com o qual interagimos, para melhor compreender as noções de espaço, tempo, sociedade, lugar, paisagem, região e território. Assim é provável
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