Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ CURSO DE PEDAGOGIA ROSINE MAIA PEREIRA [O ELEMENTO LÚDICO NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM INFANTIL SÃO PAULO 2019 ROSINE MAIA PEREIRA O ELEMENTO LÚDICO NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM INFANTIL Trabalho de Pré-Projeto apresentado como exigência da disciplina PPE – Pré- Projeto Orientador : GLÁUCIA DINIZ MARQUES SÃO PAULO 2019 LINHA DE PESQUISA TEMA: EDUCAÇÃO LÚDICA TÍTULO: O LÚDICO NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM-INFANTIL. 1. INTRODUÇÃO A sociedade moderna é atravessada a todo momento por complexos processos de mudanças no que tange o comportamento das famílias e suas relações. Essas mudanças atravessam também as crianças e, nesse sentido, a própria infância, pondo sempre em questão o que ela ainda é, ou passou a ser. É, portanto, dever de todo e toda educadora se colocar com um olhar atencioso nesse processo, para que então seja possível pensar com mais êxito estratégias e táticas pedagógicas. O lúdico entra aqui como uma ferramenta a ser pensada nessa infância que se modifica, tendo sua relevância circunscrita na possibilidade de extrair dessa reflexão uma série de parâmetros que qualificariam a prática pedagógica como um todo. Com as mudanças das relações sociais, e assim com as mudanças da própria infância, modifica-se, também, o brincar. As mudanças no brincar se caracterizam por uma crescente onda de distribuição tecnológica, que coloca os jogos e brincadeiras tradicionais em um espaço de competição com computadores e celulares, no que se refere a preferência infantil. Em outras palavras: os jogos e brincadeiras estão perdendo espaço para a tecnologia, e cada vez mais é mais comum que as crianças deixem de brincar com eles para ficarem de olho em seus tablets e celulares. 1.1. APRESENTAÇÃO DO TEMA E DO PROBLEMA Dado o problema da substituição do jogo e da brincadeira pela tecnologia, o enfoque aqui pretendido é mostrar como o lúdico em suas várias formas (no brincar, no jogo, na arte) se constituí como parte fundamental do processo de desenvolvimento da criança? Uma vez que é na brincadeira onde a criança se descobre, vivencia coisas novas, se coloca em diversas situações, além de expressar seus sentimentos e suas vontades. Assim, o objetivo desse trabalho é compreender a importância do elemento lúdico no desenvolvimento infantil, avaliar sua utilização, a fim de compreender de que maneira o elemento lúdico pode aparecer e favorecer o processo de ensino-aprendizagem como um todo. Para isso, a metodologia estabelecida foi o empreendimento de um estudo de leitura bibliográfica a fim de construir um repertório conceitual e teórico que seja capaz de amarrar a problemática estabelecida. 2. LEVANTAMENTO DO REFERENCIAL DA PESQUISA Antes de mais nada é preciso discutir a noção de infância, pois não se trata de uma noção estática e imutável, uma vez que o termo “apresenta um caráter genérico, cujo significado resulta das transformações sociais” (ANDRADE, 2010, p.55) e que, então, “demonstra que a vivência da infância modifica-se conforme os paradigmas do contexto histórico e outras variantes sociais como raça, etnia e condição social” (Idem). Deste modo, a infância pode assumir uma grande gama de significados, mudando conforme mudam também as relações e seus processos. Para Chaves (2014), por exemplo, os conceitos “infância” e “criança” são, por si, indissociáveis, uma vez que não se pode pensar a infância sem ter na criança o elemento centralizador, uma vez que “criança” é justamente o conceito utilizado para se referir ao “não adulto”, além de ser uma referência biológica presente em múltiplas culturas e em diversas sociedades, sendo a “infância” o dado período em que essa criança é criança, determinado cronologicamente por diversos aspectos da organização social, como a história, a política e a cultura, entre outros. No Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), define como criança toda pessoa de até 12 anos de idade incompletos, no entanto, tal como nos lembra Andrade (2010), os limites da infância se respaldam também em níveis da cultura e da biologia, onde ela identifica na puberdade a fronteira desse respaldo. Deste modo, o brincar aparece como um elemento característico da infância, uma vez que toda criança tem não só o direito, mas a necessidade de brincar, tal como sublinha Martins (2013), lembrando que o brincar também é uma característica da infância que inclusive está presente em formato de lei1, que reconhece o direito da criança ao lazer, a brincadeira e às atividades recreativas. Desde o nascimento, a vida humana passa por mudanças significativas que, em relação às demais espécies, possuem características únicas. A criança ao nascer dispõe de um cérebro preparado para receber estímulos, logo, aprender; e, assim, fazer aquisições que serão importantes para que seja bem-sucedida nas etapas seguintes do seu desenvolvimento. Isso só será possível se compreendermos esse desenvolvimento como algo dinâmico, que depende das interações que a criança estabelece com o meio físico (objetos, brinquedos, diferentes espaços e ambientes) e com o meio social (diferentes grupos de adultos e crianças). (MARTINS, 2013, p. 10). Em outras palavras, o brincar também é definido como “a fase mais importante da infância, do desenvolvimento” (WAJSKOP,1995, p. 68) uma vez que, nesse período, o brincar acontece como “a representação de necessidades e impulsos internos” (Idem), isso é: a criança, ao brincar, adquire experiências que se convertem em aprendizado, transmitem conhecimentos para outras crianças, aprendem regras da vida e da sociedade, e se integram no mundo. Para Vygotsky (1989), o brincar estimula o desenvolvimento infantil em diversos aspectos, como a afetividade, na medida em que a brincadeira proporciona situações de formação e escolha afetiva para as crianças; a motricidade, que se desenvolve enquanto a criança usa do próprio corpo para dar vida a própria dinâmica do jogo e da brincadeira; a inteligência, na medida em que a criança instiga seu intelecto para entender e resolver as diversas situações postas pela brincadeira; a sociabilidade, conforme a criança se situa no espaço do jogo e da brincadeira, se envolve e se comunica com as outras que lá também estão; e a criatividade, na medida em que ela monta e altera a própria dinâmica do jogo e da brincadeira, de acordo com formas dadas pela sua imaginação. Segundo Martins (2013), as crianças que aprendem a brincar, controlam livremente as brincadeiras, por meio de sinais, gestos, objetos, sentem um prazer natural com isso e recriam acontecimentos, sabendo que estão brincando. Brincar 1 Evidenciado, inclusive, pela Declaração dos Direitos da Criança de 1959 e fortalecido pela Convenção dos Direitos da Criança de 1989, artigo 31. Também a Constituição brasileira de 1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990) e a Lei federal 11.104 de 21/03/2005 asseguram esses mesmos direitos, inclusive para as crianças que se encontram hospitalizadas. permite que as crianças explorem o mundo e encontrem seu lugar nele. A brincadeira favorece a autoestima das crianças, ajudam a aprender, a vencer e a perder, uma vez que influenciam o autocontrole. Enquanto brincam, as crianças adquirem os conceitos de valores, limites e responsabilidades, irão, pouco a pouco, aprendendo a se conhecer melhor e a aceitar a existência dos outros, organizando suas relações emocionais e aprendendo a estabelecer suas relações sociais. Assim, para Morais e Araújo (2015), o ato de brincar deve ser prazeroso e a falta desse prazer, pode acarretar na criança alguns distúrbios de comportamento. O brincar vai semodificando em cada etapa evolutiva da criança, sendo essencial para o seu desenvolvimento que ela tenha oportunidade de explorar todas as fases do brincar. O brincar, numa perspectiva sociocultural, define-se por uma maneira que as crianças têm para interpretar e assimilar o mundo, os objetos, a cultura, as relações, os afetos das pessoas. Por causa disso, transformou-se no espaço característico da infância para experimentar o mundo do adulto, sem adentrá-lo como partícipe responsável. (WAJSKOP, 1995, p. 66) Assim, o lúdico é um adjetivo masculino com origem no latim ‘ludos’ que remete para jogos e divertimento. Vemos que a ludicidade é uma necessidade do ser humano em qualquer idade, mas principalmente na infância, na qual ela deve ser vivenciada, não apenas como diversão, mas com objetivo de desenvolver as potencialidades da criança, visto que o conhecimento é construído pelas relações interpessoais e trocas recíprocas que se estabelecem durante toda a formação integral da criança (FANTACHOLI, 2009, p.2) E mais: (...) uma necessidade do ser humano em qualquer idade e não pode ser vista apenas como diversão. O desenvolvimento do aspecto lúdico facilita a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, social e cultural, colabora para uma boa saúde mental, prepara para um estado interior fértil, facilita os processos de socialização, comunicação, expressão e construção de conhecimento. (SANTOS, 2002, p.12 apud FANTACHOLI, 2009, ONLINE) Albarelli et al (2011) comenta que o lúdico por si só não permitirá a aprendizagem e o desenvolvimento da criança, é, sobretudo, a ação de jogar, de brincar o grande impulso para o aprender, e essa ação depende da compreensão. O corpo está muito presente em toda situação lúdica, situações de grande desenvolvimento podem se associar à excitação de zonas exógenas. Quando a excitação é muito grande compromete o brincar, pois pode fazer com que a criança se sinta ameaçada e insegura frente a situações que não consegue controlar de forma ativa. Esse comportamento quer aparece sob a forma de uma desorganização motora e ou verbal, que pode ser acompanhada ou não de agressividade frente aos objetos; quer através de um fechamento em si mesmo, inibindo a atividade; quer através de um comportamento repetitivo e estereotipado, que não ousa se arriscar ou se soltar; ou ainda, de uma grande compulsiva preocupação com a ordem e a limpeza dos objetos, por projetar neles a desordem e o 'sujo' que sente em si. As situações de ameaça, de pressão que dá a criança a possibilidade de se organizar e de vir a controlar de forma ativa. (SALOMÃO; MARTINI; JORDÃO, 2007, p.13) Dallabona e Mendes (2004) menciona que os jogos e brincadeiras na educação infantil é um assunto bem aceito, contudo nas primeiras séries do ensino fundamental, começa a ser questionado se brincar, ajuda ou distrai. Nas demais séries, no segundo e terceiro grau, o lúdico fica absolutamente esquecido, pois o ensino e aprendizagem se tornam sérios. Menezes (2000) contesta que o lúdico somente deve ser usado na educação infantil e menciona que a ludicidade também pode ser aplicada no ensino e aprendizagem da redação escolar, pois provoca insatisfação em alguns alunos e professores. Muitas vezes, a insatisfação ocorre devido a proposta pedagógica se apresentar ineficaz, por outro lado, os aprendizes não sentem prazer no ato de escrever. Em sua pesquisa, o autor procura conciliar o lúdico, a interação construtiva e a perspectiva teórica escrita como processo em sua proposta na tentativa de expandir e inovar o repertório dos alunos, respeitando os níveis de conhecimento, predileções e aptidões dos aprendizes, despertando a vontade, o prazer em desenvolver a escrita. Segundo Morais e Araújo (2015), todo educador deve ser instigado a enxergar o lúdico na educação infantil, como oportunidade de transmitir seus conhecimentos através de jogos e brincadeiras. Dessa forma, a brincadeira já não deve ser mais atividade utilizada pelo professor apenas para recrear as crianças, mas como atividade que faça parte do plano de aula da escola. Deste modo, “as crianças formam estruturas mentais pelo uso de instrumentos e sinais. A brincadeira e a criação de situações imaginárias surgem da tensão do indivíduo e da sociedade. O lúdico liberta a criança das amarras da realidade.” (VYGOTSKY, 1989, p.84), e as atividades lúdicas são, de acordo com Salomão; Martini e Jordão (2007), exercícios necessários e úteis à vida, tanto as brincadeiras quanto os jogos são elementos indispensáveis para uma aprendizagem divertida, além de facilitar as práticas pedagógicas em sala de aula. Sendo, por meio das brincadeiras, nos diz Wajskop (1995), o desenvolvimento infantil pode alcançar níveis mais complexos, devido as experiências que a interação das situações imaginárias proporcionam, ao decidir quais papeis querem representar, pensar, sentir, confrontar e resolver problemas. O brincar é uma experiência fundamental para qualquer idade, tal como afirma Fantacholi (2009) que, principalmente para as crianças da Educação Infantil, o brincar potencializa a aprendizagem, além de promover uma alfabetização significativa, a criança vai descobrindo o mundo no espaço escolar, através das brincadeiras, exercitando a imaginação, desenvolvendo sua personalidade e suas habilidades, pois o lúdico promove o rendimento escolar além do conhecimento, oralidade, pensamento e o sentido. O jogo é, portanto, sob as suas duas formas essenciais de exercício sensório-motor e de simbolismo, uma assimilação da real à atividade própria, fornecendo a esta seu alimento necessário e transformando o real em função das necessidades múltiplas do eu. Por isso, os métodos ativos de educação das crianças exigem de todos que se forneça às crianças um material conveniente, a fim de que, jogando, elas cheguem a assimilar as realidades intelectuais que, sem isso, permanecem exteriores à inteligência infantil. (PIAGET 1990, p.160). Para Dallabona e Mendes (2004), o brincar e jogar estimulam o pensamento lógico, quando a criança raciocina, pensa, sente e compreende o meio. O jogo permite desenvolver a empatia e a solidariedade, o compartilhamento de brinquedos e a superação do egocentrismo. Assim, retomando Piaget (1990), os jogos, com regras, se tornam uma ferramenta indispensável para a criança internalizar conceitos básicos de convivência e limites. 3. REFERÊNCIAS ANDRADE, LBP. Educação infantil: discurso, legislação e práticas institucionais [online]. São Paulo: Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010 ALBARELI, Ana Carolina et al. O lúdico, a criança e o educador. EFDesportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, ano 16, n 163, 2011. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd163/o-ludico-a-crianca-e-o-educador.htm. Acesso em: 18 de out, 2016. DALLABONA, Sandra Regina; MENDES, Sueli Maria Shmitt. O lúdico na educação infantil: jogar, brincar, uma forma de educar. ICPG - Instituto Catarinense de pós graduação. Vol 1, n 4 – jan-mar 2004. Disponível em: http://www.posuniasselvi.com.br/artigos/rev04-16.pdf. Acesso em: 01 de out, 2019. FANTACHOLI, Fabiane das Neves. A importância do brincar na educação infantil. 2009. Disponível em: <http://monografias.brasilescola.uol.com.br/educacao/a- importancia-brincar-na- educacao-infantil.htm>. Acesso em: 23 de set, 2019. MARTINS, Alice Fátima. A arte no contexto escolar: um espaço de exercício da cidadania e, nela, de alteridade. Revista Integração, Edição Especial, 12/2000. MARTINS, Marilena Flores. Artigo 31 da Convenção dos direitos da criança: o desenvolvimento infantil e o direito de brincar. Disponível em: http://brinquedoteca.net.br/wp-content/uploads/2013/04/DireitodaCrianca.pdf.Acesso em: 16 de out, 2016. MENEZES, EbenezerTakuno de. Por uma travessia lúdica para a escrita. Educabrasil. São Paulo: Midiamix, 2000. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd163/o-ludico-a-crianca-e-o-educador.htm http://brinquedoteca.net.br/wp-content/uploads/2013/04/DireitodaCrianca.pdf <http://www.educabrasil.com.br/por-uma-travessia-ludica-para-a-escrita/>. Acesso em: 10 de out, 2016. MORAIS, Elirian de Oliveira; ARAUJO, Eudeiza Jesus de. Jogos e brincadeiras: O lúdico na educação infantil e o desenvolvimento intelectual. 2015. Disponível em: https://docplayer.com.br/15962112-Jogos-e-brincadeiras-o-ludico-na-educacao- infantil-e-o-desenvolvimento-intelectual.html . Acesso em: 01 de out, 2019. PIAGET, Jean. A classificação dos jogos e sua evolução, a partir do aparecimento da linguagem. In: A formação do símbolo na criança. 3º ed. Rio de janeiro LTC, 1990. SALOMÃO, Herica Aparecida Souza; MARTINI, Marilaine; JORDÃO, Ana Paula Marinez. A importância do lúdico na educação infantil: enfocando a brincadeira e as situações do ensino não direcionado. O portal dos psicólogos. 2007. Disponível em: http://www.psicologia.pt/artigos/textos/A0358.pdf. Acesso em: 18 de out, 2019. VYGOTSKY, L. S. Pensamento e Linguagem. Trad. Jeferson Luiz Camargo. São Paulo: Martins Fontes, 1993. WAJSKOP, Gisela. O brincar na educação infantil. Cad. Pesq., São Paulo, n.92, p.62-69,fev.1995. Disponível em: http://www.fcc.org.br/pesquisa/publicacoes/cp/arquivos/742.pdf. Acesso em: 05 de out, 2019.
Compartilhar