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Terapia Colaborativa por Marilene Grandesso

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TERAPIA COLABORATIVA: QUE PRÁTICA É ESSA? 
Marilene Grandesso* 
Neste ano que estamos recebendo pela primeira vez no Brasil Harlene Anderson, faz-se 
interessante ressaltarmos qual o diferencial de sua prática, a Terapia Colaborativa. 
Fundada nas idéias Construcionistas Sociais, a Terapia Colaborativa faz do diálogo sua 
principal ferramenta para mudança terapêutica (Anderson, 2007a), entendida mais como 
uma transformação pessoal e social do que como uma forma de resolução de problemas. 
Considerando que os sistemas humanos são sistemas organizados na linguagem em 
torno de significados comuns, a Terapia Colaborativa abandona a idéia de sistemas 
organizados por estrutura e papéis para ater-se ao como as pessoas constroem juntas o 
seu mundo, suas formas de vida mais ou menos dignas e em maior ou menor condição 
de bem estar e felicidade. 
Tendo o cliente como o especialista, na Terapia Colaborativa, o terapeuta é um parceiro 
conversacional que constrói um contexto para uma conversação dialógica em torno de 
trocas colaborativas entre os participantes, das quais significados comuns emergem. 
Anderson & Goolishian (1988), referem-se a ele como um “arquiteto do diálogo”. Para 
isso, a postura do terapeuta organiza-se pelo genuíno lugar de não-saber e para tanto, 
desenvolve uma escuta generosa, conforme é comum encontrarmos nos dizeres de 
Harlene e outros terapeutas colaborativos como Lynn Hoffman. O saber do ofício do 
terapeuta colaborativo consiste, portanto, na habilidade de construir contextos de 
diálogo e relacionamentos colaborativos, a partir de uma curiosidade genuína para 
aprender com o cliente sobre suas circunstâncias. 
A conversação terapêutica, nas terapias colaborativas apresenta-se como uma via de 
duas mãos, resultando numa exploração conjunta e um co-desenvolvimento de novas 
habilidades. Convidando o terapeuta a tornar públicos seus pensamentos, as práticas 
colaborativas enfatizam o envolvimento do terapeuta no processo de mudança, no qual 
tanto o cliente como o próprio terapeuta se transformam. Assim, o principal recurso que 
um terapeuta leva para o contexto de terapia é a si mesmo como ser humano 
(Grandesso, 2009). 
A Terapia colaborativa coloca sua ênfase nos processos reflexivos, tendo o processo de 
questionamento como uma ferramenta fundamental para a abertura para novos 
significados. Trata-se de perguntas generativas, em que o significado das palavras é 
aberto para compreender de forma hermenêutica os dilemas que as pessoas vivem a 
partir de dentro da sua própria experiência e da conversação. Assim, o processo 
terapêutico apóia-se no momento interativo que se desenvolve no contexto da terapia. 
Procurando deixar de lado suas pré-compreensões, o terapeuta parte daquilo que é dito 
em busca do ainda-não-dito, favorecendo novos conhecimentos, novas identidades com 
maior auto-agência e expertise, construindo futuros possíveis (Grandesso, 2009). Numa 
postura mais lateral e não hierárquica, o terapeuta procura sustentar e promover uma 
conversação respeitosa, abrindo espaço e dando as boas vindas para a incerteza e o 
inesperado, o todavia ainda-não-dito. 
Dentre os diferenciais teórico-práticos das Práticas Colaborativas destaca-se o conceito 
de sistema determinado pelo problema, contrapondo-se à tradicional noção em terapia 
familiar de que o sistema cria o problema. Num sistema organizado pelo problema as 
definições objetivas do que vem a ser um problema e sua solução, são substituídas por 
um multiverso de possibilidades, legitimando os múltiplos olhares construídos a partir 
das distintas experiências. Portanto, a ênfase do terapeuta é colocada sobre a 
particularidade das histórias narradas e pelo convite de diferentes vozes para a 
conversação terapêutica, considerando cada cliente - uma pessoa, uma família, uma 
comunidade ou uma organização - como único e especial. Assim, interessam as 
descrições particulares e especiais e não as genéricas e impessoais, olhando para o 
cliente como pessoa, e também para a dimensão humana do terapeuta, que deixa de se 
colocar, portanto, como um técnico ou interventor. 
Enfim, nos dizeres de Harlene Anderson, a terapia colaborativa, mais do que uma 
abordagem informada por uma teoria, define-se como uma instância filosófica ou uma 
atitude de vida: “[...] ‘uma forma de estar’ em relacionamento e conversação: uma 
forma de pensar com, de experimentar com, de estar em relação com, agir com e 
responder para com as pessoas, que encontramos em terapia” (ANDERSON, 2007b, p. 
43). 
 
 
* Terapeuta de Famílias, Casais, Indivíduos e Comunidade. 
 Membro do NUFAC- Núcleo de Família e Comunidade da PUC-SP 
 Membro/fundafora do INTERFACI – Instituto de Terapia: Família, casal e indivíduo 
 
 
 
 
 
 
Referências Bibliográficas 
 
ANDERSON, H. Dialogue: people creating meaning with each other and finding ways to go 
on. In Anderson, H. & Gehart, D. (Ed.) Collaborative Therapy: Relationships and 
Conversations that Make a Difference.New York: Routledge, 2007a, p. 33-41. 
 
________________. The heart and spirit of collaborative therapy: the philosophical stance 
– “A way of being” in relationship and conversation. In Anderson, H. & Gehart, D. (Ed.) 
Collaborative Therapy: Relationships and Conversations that Make a Difference, New York: 
Routledge, 2007b, p. 43-59. 
 
ANDERSON, H. & GOOLISHIAN, H. Human systems as linguistic systems: preliminary and 
evolving ideas about the implications for clinical theory. Family Process: 1988, 27: 371-393. 
 
GRANDESSO, M. A. Desenvolvimentos em terapia familiar: das teorias às práticas e das 
práticas às teorias. In L. c. Osório & M. e. P. do Vallle (Ed.) Manual de Terapia Familiar. 
Porto Alegre: Artmed, 2009 p. 104-118.

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