Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE SAÚDE CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM GESTÃO HOSPITALAR ARTHUR LEONARDO DA SILVA IRACIARA RODRIGUES DE SANTANA ALVES VIEIRA MARIA APARECIDA RAMOS DA SILVA MARIA EDUARDA DA CUNHA BANDEIRA LOPES MARIA JOSINEIDE BEZERRA DA SILVA LOPES UDICELI SILVA MAFRA DO NASCIMENTO ATIVIDADE DA SEGUNDA SEMANA DE APRENDIZAGEM SEGUNDA ATIVIDADE AVALIATIVA Disciplina de Políticas de Saúde II Profa. Dra. Sandra Michelle Bessa de Andrade Fernandes Natal 2020 O caso Ana e os caminhos do cuidado: uma proposta de percurso itinerante dentro das Redes de Atenção à Saúde1 Arthur Leonardo da Silva2 Iraciara Rodrigues de Santana Alves Vieira3 Maria Aparecida Ramos da Silva4 Maria Eduarda da Cunha Bandeira Lopes5 Maria Josineide Bezerra Da Silva Lopes6 Udiceli Silva Mafra do Nascimento7 1 Introdução As Redes de Atenção à Saúde (RAS) são essenciais para garantir a organização dos serviços de atenção à saúde, no âmbito do Sistema Único de Saúde, em que são criados “corredores funcionais”, visando conduzir o paciente ao longo da rede. Isso vai permitir integrar as ações e ele dirigidas, ainda que realizadas por diferentes profissionais e em diferentes unidades, inclusive que podem estar localizadas em mais de um município. Com essa perspectiva e com embasamento nos estudos teóricos, este trabalho tem o objetivo de reestruturar uma nova Rede de Atenção à Saúde (RAS) para o caso Ana, em que os atores possam ser inseridos de forma planejada e estruturada para que a sociedade em geral possa usufruir de forma integrada, organizada e objetivada, na qual não haja a necessidade de ¨GATO¨ para se conseguir um procedimento médico com agilidade no processo do cuidado. É um direito da sociedade ter um sistema de saúde que a assista com universalidade, equidade e integralidade, como princípios do Sistema Único de 1 Trabalho apresentado para a disciplina Políticas de Saúde II, ministrada pela Profa. Dra. Sandra Michelle Bessa de Andrade Fernandes.E-mail: michellebessa@hotmail.com. 2 Discente do curso Superior de Tecnologia em Gestão Hospitalar da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail: arthurcoelhosilva@hotmail.com. 3 Discente do curso Superior de Tecnologia em Gestão Hospitalar da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail: iraciararodrigues@gmail.com. 4 Discente do curso Superior de Tecnologia em Gestão Hospitalar da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail: ciramoss@ufrn.edu.br. 5 Discente do curso Superior de Tecnologia em Gestão Hospitalar da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail: dudinha.bandeira15@hotmail.com. 6 Discente do curso Superior de Tecnologia em Gestão Hospitalar da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail: josibezesilva@gmail.com. 7 Discente do curso Superior de Tecnologia em Gestão Hospitalar da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail: udicelimafra@hotmail.com. Saúde (SUS). O caso Ana mostra um sistema fragmentado, que não proporciona ao usuário ter um serviço de qualidade, onde se trilhe um caminho para se chegar a solução de um problema de forma rápida, garantindo assim um tratamento mais eficaz no início de uma patologia. Para isso, este trabalho está dividido em quatro tópicos, sendo o primeiro esta introdução. O segundo tópico trata dos conceitos apresentados pela literatura sobre as Redes de Atenção à Saúde, sua regionalização e desafios. No terceiro tópico, será proposto um novo itinerário da saúde para o caso Ana, com a apresentação do caso e suas proposições para um novo caminho da saúde. Por fim, estão as considerações finais e as referências utilizadas neste estudo. 2 Redes de Atenção à Saúde As Redes de Atenção à Saúde surgem como contraposição à fragmentação dos sistemas de saúde. Conforme Mendes (2010, p. 2300), as RAS são: organizações poliárquicas de conjuntos de serviços de saúde, vinculados entre si por uma missão única, por objetivos comuns e por uma ação cooperativa e interdependente, que permitem ofertar uma atenção contínua e integral a determinada população, coordenada pela atenção primária à saúde - prestada no tempo certo, - no lugar certo, - com o custo certo, - com a qualidade certa - de forma humanizada - e com responsabilidades sanitárias e econômicas por esta população. Com essa definição, entende-se que as RAS apresentam missão e objetivos comuns, devem operar de maneira cooperativa e interdependente e intercambiar constantemente seus recursos. Além disso, essas redes são definidas sem hierarquia entre os diferentes componentes, com uma organização de forma poliárquica. De acordo com esse autor, para se definir uma rede, deve-se observar os seguintes elementos: a situação populacional de uma determinada região; a estrutura organizacional; e os modelos de atenção à Saúde. Segundo Mendes (2010, p. 2303), estudos mostram “evidências de boa qualidade de que as redes de atenção à saúde podem melhorar a qualidade clínica, os resultados sanitários, a satisfação dos usuários e reduzir os custos dos sistemas de atenção à saúde”. Contudo, ainda existem muitos empecilhos para que as redes de atenção realmente funcionem. Para Viana et al. (2018, p. 1794), um dos muitos desafios do SUS foi/é o de transformar uma insuficiente Rede de serviços de saúde, voltada apenas para o atendimento de condições agudas e à saúde materno-infantil, em um sistema de saúde capaz de enfrentar a nova situação epidemiológica e demográfica da sociedade brasileira. Isso porque, apesar de existirem muitos avanços ao longo do tempo, esses muitas vezes apresentam-se como insuficientes para proporcionar um cuidado integral a usuários que necessitam “acessar com frequência vários pontos da rede de atenção, diferentes categorias profissionais e ser beneficiários de ações de promoção e prevenção contínuas, além de desenvolver habilidades para o autocuidado” (VIANA et al., 2010, p. 1794). Dessa maneira, o caminho do cuidado surge como um elemento que tem a função de organizar as redes por meio de nós em toda linha de cuidado, ou seja, a organização do cuidado deve ser articulado à organização do sistema de saúde. Nesse sentido, deve-se levar em consideração as implicações de uma política de organização do sistema de saúde para a produção do cuidado em saúde, pois isso pode afetar diretamente a vida e o destino das pessoas e populações, assim como o próprio projeto político do SUS. A seguir, iremos refletir a respeito do caminho do cuidado e sua importância na vida das pessoas, a partir do caso Ana. 3 O caso Ana: refazendo o itinerário da saúde Encontramos no Caso de Ana anteriormente visto, inúmeras falhas, em que foi esquecido por vezes o cuidado integral, a integralidade do sistema, a funcionalidade das RAS, a burocracia encontrada em diversos momentos e em regras criadas no município acabam retirando a autonomia médica e esquecendo os princípios do SUS, sem levar em consideração a equidade e as linhas do cuidado. Essa sucessão de erros levam à desordem e ao desmonte do nosso SUS, sabemos que é um grande desafio tratar do nosso Sistema Único de Saúde em um país com tantas desigualdades,com uma grande extensão territorial e sua imensa população, mas colocando em prática seus princípios e utilizando os sistemas de saúde de forma integralizada, dando a devida importância e disponibilizando ferramentas para a atenção primária de saúde, certamente conseguiremos ter um sistema de melhor qualidade e disposição. O município onde Ana reside é de pequeno porte, conta com 10 Equipes de Saúde da Família (ESF), cobrindo 80% da população, um hospital municipal, com um pronto-socorro, ambulatórios e 50 leitos de clínica médica e pediatria, tem ainda dois laboratórios de apoio diagnóstico conveniado. O bairro em que mora é assistido por uma ESF que atende de segunda a sexta-feira das 7h às 17h, Ana faz parte de uma das famílias que são acompanhadas pelo programa. O pronto-socorro municipal Zilda Arns, situado no município de Lagoa D’Anta, é dirigido pelo gestor Marcos Antônio, formado no curso Superior de Tecnologia em Gestão Hospitalar da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). A saga de Ana começa no sábado pela manhã ao acordar, a mesma sente uma dor na mama direita e observa que sai uma secreção, se sentindo incomodada e sabendo que só iria ter atendimento pela ESF na segunda-feira, ela procura o pronto-socorro Zilda Arns em seu município. A estrutura hospitalar é inovadora para o município, não por ter grandes tecnologias, mas por ter uma equipe que desenvolve o processo de trabalho não burocrático demais, formando nós para conduzir um atendimento voltado para as necessidades da população do município. O critério adotado pela gestão do Sr. Antônio, que permitiu ao nosso grupo expor, com a autorização de D. Ana, como procedeu o atendimento do problema mamário detectado no pronto atendimento pelo médico Mário Villar. O Dr. Mário em seus plantões seguia a proposta participativa do pronto-socorro, em que todo cidadão tem direitos garantidos pela Lei n.8.080, de 19 de setembro de 1990, que dispõe sobre a promoção, proteção e recuperação da saúde (BRASIL, 1990). Ao chegar no hospital municipal Zilda Arns, Ana faz seu primeiro contato com a recepção e é encaminhada para a triagem (que é muito bem preparada para administrar o tempo de espera de cada paciente), em seguida é encaminhada ao consultório para ser atendida pelo plantonista Dr. Mário Villar, um médico com uma visão 360º para os cuidados e detalhes dos pacientes. No consultório do Dr. Mário, Ana é assistida da melhor forma, onde o mesmo fez os primeiros exames e teve uma conversa para saber alguns detalhes do seu processo saúde/doença, para poder assim encaminhá-la para o mastologista de outra cidade que tinha convênio com o município de Lagoa D’Anta. Prescreveu uma medicação paliativa para dor e pediu urgência na ficha de referência para ela ir fazer o agendamento no município vizinho, que tem uma política de saúde séria. O município de Vem-Vem é responsável por médicos especialista para que Lagoa D'Anta e outros municípios não tenham a necessidade de ir para capital, diminuindo um alto custo da população mais pobre, visto que os municípios conveniados oferecem o serviço de transporte sanitário. Tendo em vista uma estrutura operacional de qualidade do hospital Zilda Arns, o Dr. Mário pulou uma etapa, não encaminhando Ana para ESF, ao seu entender o caso era muito grave. Na segunda-feira, Ana se locomoveu ao município de Vem-Vem para o agendamento da consulta com o mastologista, sem nenhum “nó” e nenhum “gato”. Ana teve a consulta marcada para quinta-feira às 14:30h, mas ao voltar para o seu município chegou sentido muitas dores, ela procurou o pronto-socorro novamente e o médico plantonista era novamente o Dr. Mário Villar, o mesmo a examinou e percebeu um lado da mama mais escuro e mais denso, então conversou com ela e a encaminhou ao ESF para um acompanhamento psicossocial para um maior apoio durante o tratamento que viria e nutricional. No momento, passou outra medicação paliativa e pediu para ela tivesse paciência que tudo daria certo, aconselhou que em caso de muita dor voltasse ao pronto-socorro. Assim Ana fez, na terça-feira procurou a ESF, que a acolheu com o primeiro contato com a ESF nessa situação que se encontra, a Dra. Iraikare que lhe ofereceu um acolhimento e deu continuação assistencial para Ana. Na quarta-feira, Ana conhece a psicóloga Lúcia Regina que também vai lhe dar suporte, e a nutricionista Tatiana Maia que, além de explicar a importância dos alimentos, encaminhou Ana para o projeto Comer bem é comer saudável. Com tudo funcionando de forma integrada, Ana se sentiu segura e acreditou que tudo daria certo. Na quinta-feira às 14:30h, Ana entra no consultório da Dra. Virgínia e explica o caminho que percorreu até chegar a ela, a mesma parabenizou o médico do pronto-socorro e disse que fará toda diferença para o tratamento a agilidade que foi dada ao caso. A examinou, viu a gravidade pela sua experiência e mudou suas medicações, solicitou com urgência uma ressonância. Ana saiu do consultório satisfeita mesmo com muitas dores. Seu exame de alta complexidade foi marcado para a quarta-feira da próxima semana. O grande dia chegou, Ana fez seu exame, na sexta-feira recebeu o resultado e voltou para Dra. Virgínia como encaixe no mesmo dia que recebeu o resultado, a mesma analisou o seu exame e solicitou uma biópsia, que consiste na retirada de um fragmento do nódulo ou da lesão suspeita por meio de punção (extração por agulha) ou de uma pequena cirurgia. O material retirado é analisado pelo patologista para a definição do diagnóstico. Ana durante esse processo estava tendo apoio psicológico, familiar e nutricional para prevenir uma depressão. Com o resultado do exame, Ana volta ao consultório. A Dra. Virgínia avalia e constata que ela tem um nódulo, mas como todo processo saúde/doença e todos os profissionais que a atenderam foram rápidos ela tem grandes de recuperação. Foi marcada a retirada do nódulo no instituto de referência da capital (o INCA). Ana fez a retirada de um carcinoma lobular, não precisa fazer a retirada total da mama, Ana passou por algumas quimioterapias para vencer a metástase. Um longo percurso foi feito por Ana, depois de algumas quimioterapias ela venceu a metástase. A Dra. Virgínia deu a grande notícia para a sua querida paciente e hoje ela está feliz com sua famíla e agradecida ao sistema de saúde de Lagoa D'Anta, Vem-Vem e sua maravilhosa capital Pernambuco. Ana teve sucesso pois o sistema funcionou de forma integrada, em que todos os seus elementos, como setorização, descentralização, integralidade e continuação social, foram respeitados, para que não apenas Ana, mulher pobre, de 53 anos, mas as milhares de “Anas” e outros usuários possam ter um atendimento universal e igualitário. 4 Considerações finais Referências BAPTISTA, T. W. F.; MACHADO, C. V.; LIMA, L. D. O caso de Ana. In: OLIVEIRA, R. G.; GRABOIS, V.; MENDES JÚNIOR, W. V. (Orgs). Qualificação de gestores do SUS. Rio de Janeiro/RJ:EAD/Ensp, 2009, pp. 77-95. BRASIL. Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990, dispõe principalmente sobre a organização e regulação das ações e serviços de saúde em todo território nacional. Brasília: Diário Oficial da União, 1990. MENDES, E. V. As redes de atenção à saúde. Ciência & Saúde Coletiva, v. 15, n. 5, p. 2297-2305, 2010. VIANA, A. L. D’Ávila et al. Regionalização e Redes de Saúde. Ciência & Saúde Coletiva, v. 23, n. 6, p. 1791-1798, 2018.
Compartilhar