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Metabolismo Aeróbio Os piruvatos, por meio de carreadores específicos, entram na mitocôndria e sofrem descarboxilação (1CO2 de cada piruvato), criando 2 Acetil-CoA, o qual passa pelo ciclo do ácido cítrico. Etapa 1 - Produção de Acetil-CoA A enzima Complexo da piruvato desidrogenase (PDH), exclusiva da matriz mitocondrial, catalisa reações sucessivas de metabolização do piruvato, que faz a descarboxilação oxidativa (CO2) do piruvato, gerando Acetil-CoA (contém 2 carbonos). A PDH contém 3 enzimas, E1, E2 e E3, com sítios catalíticos próprios e por demanda dos seus cofatores. Esse complexo, para que possa fazer essa descarboxilação, necessita de 5 coenzimas participando da reação: CoA, NAD+, TPP, Lipoato e FAD, sendo que apenas o NAD+ funciona como cofator transitório, as demais enzimas são grupos prostéticos da PDH. Com essa reação, há a formação também de NADH. Esse processo é essencialmente irreversível (DeltaG < 0). OBS! A deficiência de tiamina (E1), compromete a ação catalítica do PDH, fazendo com que não haja a descarboxilação do piruvato, criando um déficit energético, perda de funções neurais, o que caracteriza a condição do beribéri. Etapa 2 - Oxidação do Acetil-CoA O acetil-CoA, por meio de reações enzimáticas, se associa ao oxaloacetato (4 carbonos), formando o citrato (6 carbonos). Posteriormente, com a passagem pelo ciclo de Krebs, há a descarboxilação oxidativa dos intermediários (libera 2CO2) e há a formação de carreadores de elétrons, NADH e FADH2. Com relação à velocidade desse ciclo, 3 fatores se destacam: ● Disponibilidade dos substratos: para que a reação ocorra, é necessário uma disponibilidade de substratos. ● Necessidade de intermediários do ciclo TCA como precursores biossintéticos: alguns intermediários desse ciclo podem ser desviados para participarem de outras rotas biossintéticas. ● Demanda por ATP O ciclo de Krebs ocorre em 8 reações enzimáticas, sendo uma rota cíclica que não pode parar; trata-se de uma via anfibólica (apresenta dois papéis): estimula as reações catabólicas (estimula o catabolismo da glicose) e as rotas anabólicas (síntese de intermediários que podem ser utilizados em outras vias). A conservação de energia ocorre por meio das coenzimas (NAD+ e FAD+, as quais serão reduzidas) e fosforilação ao nível de substrato. Nesse processo, além da formação das coenzimas e do GTP, há liberação de prótons, os quais serão utilizados na cadeia respiratória. Etapa 3 - Transferência de elétrons e fosforilação oxidativa As coenzimas NADH e FADH2 formadas pelo ciclo de Krebs são reoxidadas na cadeia respiratória de elétrons, as quais liberam um e- e H+ , favorecendo condições, por meio da cadeia de transporte de elétrons, para a síntese de ATP, gerando H2O como resíduo. A relação ADP:O é o poder de fosforilação de ADP mediante o consumo (redução) do oxigênio em H2O; o NADH apresenta ADP:O de 2,5; já o FADH2 apresenta 1,5 (ou seja, pode formar 1,5 ATP). A cadeia transportadora de elétrons é formada por 4 complexos, por uma coenzima Q (presente na membrana interna da mitocôndria) e por um citocromo C. O Complexo I (NADH desidrogenase) catalisa a transferência de equivalentes redutores (e- e H+) da NADH para a coenzima Q (composto lipofílico dentro da membrana); já o Complexo II (succinato desidrogenase) transfere os equivalentes redutores do FADH2 para a coenzima Q; já o complexo III, recebe esses equivalente da coenzima Q e os transfere para o citocromo C (proteína periférica que garante esse fluxo de e-), a qual, por sua vez, transfere os e- para o Complexo IV, que os leva para a redução do O2 (+ 2H+) em água metabólica. Enquanto ocorre essa transferência de elétrons, os complexos utilizam a energia desse composto para bombearem prótons para espaço intermembrana. O fluxo de elétrons entre os complexos ocorre pela presença de grupos de ferro, enxofre, cobre, bem como de outras coenzima, aos quais fazem garantem a manutenção do potencial redox, a fim de carrear os e- até a redução com o O2. Com o extravasamento de prótons para o espaço intermembranas, é formado um potencial químico (alcalino o lado interno) e elétrico (negativo lado interno) entre o espaço intermembrana e interno da membrana, o qual permite que haja a síntese de ATP impulsionada pela força próton-motriz criada. Essa força criada pelo retorno de prótons à membrana interna é utilizada pelo complexo V para fosforilar o ADP em ATP. Lançadeiras - destino dos NADH formados no citosol A participação da coenzima NADH citosólica para o saldo energético é feito por lançadeiras, que são proteínas acopladas à membrana mitocondrial interna, as quais fazem a comunicação entre o citosol e a matriz mitocondrial; são 2 lançadeiras principais: a glicerol-3-fosfato e a malato aspartato. Lançadeira Glicerol-3-fosfato O complexo enzimático glicerol-3-fosfato, que é muito presente e ativo no encéfalo e músculo esquelético. Por meio da enzima glicerol-3-fosfato-desidrogenase citosólica, ocorre a transferência dos coeficientes redutores do NADH + H+ (gerado na etapa 6 da glicólise) para a triose Di-hidroxiacetona-fosfato (DHAP), que gera como produto a glicerol-3-fosfato, que, por sua vez, transfere os seus coeficientes redutores (H+ + H- = H2) para o grupo prostético FAD (que vira FADH2) da enzima glicerol-3-fosfato-desidrogenase mitocondrial (acoplada ao lado externo da membrana interna), formando novamente o Di-hidroxiacetona-fosfato. Esse FADH2 adquirido cede os coeficientes redutores para a coenzima Q (ubiquinona) presente na membrana interna da mitocôndria, dando continuidade ao fluxo de elétrons no sistema da cadeia transportadora de elétrons. Lançadeira Malato-Aspartato É uma lançadeira ativa em fígado, rins e coração. Essa lançadeira se inicia com a formação do malato na via de krebs, o qual é rapidamente formado em oxaloacetato com a formação de um NADH + H+; este composto é desviado do ciclo de krebs e forma o aspartato, por meio da reação com o glutamato (que forma o alfa-cetoglutarato), catalisada pelo aspartato-aminotransferase; assim, o aspartato é transportado para o espaço intermembrana pela transportador de glutamato-aspartato, onde é convertido novamente em oxaloacetato, por meio da reação com o alfa-cetoglutarato (que forma o glutamato), catalisada pela mesma enzima da outra reação (reação reversível - tende a direções diferentes de acordo com o meio citosólico ou na matriz); esse oxaloacetato é convertido em malato (com a utilização dos equivalentes redutores do NADH + H+ citosólico, advindo da glicólise); dessa forma, este composto é transferido para a matriz mitocondrial pelo transportador de malato-alfa-cetoglutarato, onde é convertido novamente em oxaloacetato, completando ciclo e dando continuidade ao ciclo de krebs. Sendo assim, é perceptível que essa lançadeira criou um ciclo, onde ela transfere o NADH + H+ citosólico para a matriz mitocondrial, por meio desses compostos carbonados intermediários. OBS! Observar queentre as duas lançadeiras, a lançadeira de malato-aspartato é mais eficiente que a lançadeira glicerol-3-fosfato, já que a primeira transfere o NADH citosólico para a matriz sem perda (forma 2,5 ATP), já a outra lançadeira converte o NADH citosólico em FADH2 (que forma somente 1,5 ATP) OBS! Oxidação de 1 mol de glicose = 2849 KJ/Mol energia; já no metabolismo aeróbio, que forma 32 a 30 ATP, 32 ATP x 30,5 KJ/Mol = 976 KJ/Mol. Assim, a eficácia do metabolismo aeróbio é de 34% na geração de energia pelas células em condição padrão. 32 ATPs são formados nos locais da lançadeira malato aspartato, já 30 ATPs são formados nos locais de lançadeiras glicerol-3-fosfato. Regulação do Ciclo de Krebs O fluxo de átomos de C do piruvato através do ciclo é estreitamente regulado em 2 níveis: 1. Conversão de piruvato em acetil-CoA, pelo complexo PDH (piruvato desidrogenase) 2. Entrada de Acetil-CoA no ciclo: é um fator limitante para o controle/fluxo da via. OBS! A oxidação dos nutrientes converge para a formação do Acetil-CoA Já com relação à velocidade do ciclo, 3 fatores se destacam: ● Disponibilidade de substrato ● Necessidade de intermediários do ciclo de Krebs como precursores biossintéticos ● Demanda por ATP OBS! Vale ressaltar que o NAD+ atua como um efetor alostérico de diversas enzimas do ciclo de Krebs (coenzima), pois, para funcionar, é necessário esse aceptor de elétrons para criar os produtos intermediários do ciclo Regulação da Produção de Acetil-CoA Trata-se de uma reação complexa, pois necessita de um conjunto de 3 enzimas acoplados a cofatores que funcionam como grupos prostéticos às enzimas. Os moduladores negativos (alostéricos negativos ou efetores alostéricos negativos) são componentes que desestimulam/desaceleram essa reação em questão; os principais moduladores (-) são: o ATP (já tem muita energia), NADH (balanço redox desfavorável) e Acetil-CoA (já tem muito produto, provavelmente de outras vias - pool de Ac-CoA). Já os moduladores positivos são o AMP (a célula apresenta baixa carga energética) e o NAD+ (balanço redox favorável). Esses moduladores atuam na modulação da PDH (velocidade da sua atividade catalítica) e são importantes para otimizar os destinos dos produtos formados, otimizar o aporte energético da célula, evitando desperdício de produtos e de energia química. Uma outra forma de regulação da PDH é por modificação covalente reversível, que ocorre no fígado e nos mms. esqueléticos. Essa regulação, ocorre por meio da fosforilação da PDH, pois a ação da insulina nos hepatócitos resulta em várias respostas intracelulares, a qual uma delas é a desfosforilação da PDH pela ativação da enzima PDP (piruvato desidrogenase fosfatase), que ativa a PDH e promove a produção de Acetil-CoA, a fim de diminuir o índice glicêmico do sangue. Dessa forma, se ocorrer diminuição dos níveis de insulina no sangue, ocorre aumento dos moduladores negativos e diminuição do substrato piruvato, ativando a enzima PDK (piruvato desidrogenase cinase), que fosforila a PDH, inativando-a, para evitar que ocorra uma maior diminuição dos índices glicêmicos do sangue. No músculo esquelético, o Cálcio funciona como modulador alostérico positivo da PDP, demonstrando aos miócitos que é necessário a produção de ATP (balanço energético positivo). Algumas outras enzima do ciclo de krebs, como a citratosintase (que catalisa a produção do citrato), também apresentam moduladores alostéricos iguais a PDH, para o ATP e NADH (-) e para o ADP e Ca (+). OBS! A inibição da PDH no jejum e na atividade física, momentos de baixa quantidade de glicose no organismo, seleciona o substrato a ser preferencialmente consumido, que será o ácido graxo, pois para a produção do Acetil-CoA com tal nutriente, não é necessário a produção de piruvato, o que torna desnecessário a utilização da PDH. Esse estratégia é crucial para a economia de glicose para o cérebro e hemácias (só faz fermentação). Papel do ciclo TCA nas reações anapleróticas Diversos intermediários do ciclo de krebs são desviados para a formação de outros compostos (caráter anfibólico). Assim, com esses desvios, ocorre a falta de intermediários para terminar o ciclo. Logo, é necessário essas reações anapleróticas (de preenchimento, ou seja de reposição), como a reação de transformação do piruvato em oxaloacetato ou em malato. Regulação da cadeia transportadora de elétrons Os compostos que regulam a cadeia transportadora de e- estão detalhados na tabela. É interessante dar destaque ao cianeto, monóxido de carbono, oligomicina e termogenina. A atuação da citocromo c oxidase (Complexo IV) é inibida pelo CN, que tem afinidade pelo Fe+3 dessa enzima, bloqueando o papel de finalizar a transferência de elétrons para o O2. O fármaco metformina atua como inibidor do complexo I da cadeia transportadora de elétrons, criando um baixo nível energético nas células, trazendo efeitos de melhora da ação da insulina e melhora na internalização da glicose. OBS! O CO se liga também à hemoglobina e ocupando o espaço que poderia ser ocupado pelo O2. O citocromo c oxidase estará mais ativo em altas [NADH] (tem muitos cofatores a serem oxidados) e com altas concentrações de ADP + Pi. Quando uma célula está em hipóxia, como em um ataque cardíaco, a transferência de elétrons para o oxigênio fica mais lenta, da mesma forma que o bombeamento de prótons. Então, nessa situação, ocorreria um aumento da [H+] na matriz mitocondrial; assim o Complexo V (ATP sintase), iria começar a funcionar de maneira reversa, devido à força eletromotriz dos H+ querendo passar para a face intermembranas; logo, esse complexo iria começar a clivar o ATP existente na matriz em ADP + Pi (fazer sua atuação reversa). Dessa forma, para evitar essa situação de diminuição drástica de ATP, a proteína IF1 (que é ativada em pH abaixo de 6,5 - situação que ocorre em hipóxia, pela produção de ácido lático) inibe a atuação da ATP sintase. Espécies reativas de oxigênio são geradas durante a fosforilação oxidativa Em mitocôndrias que respiram ativamente, cerca de 0,1 até 4% do O2 utilizado na respiração formam ânion superóxido (O2-) - mais do que o suficiente para ter efeitos letais. Então, a formação de EROs é favorecida quando: ● As mitocôndrias não estão produzindo ATP (por falta de ADP ou de O2) e portanto, têm grande força próton-motriz e elevada razão QH2/Q. ● Há uma alta razão NADH/NAD (ou seja, alta [NADH]) na matriz; nessas situações, a mitocôndria está sobre um estresse oxidativo. Assim, existem mecanismos de defesa para evitar a produção dessas EROs, como a superóxido dismutase (SOD) e a ciclo glutationa redutase/peroxidase. 1. SOD: transforma o ânion superóxido em H2O2 2. Glutationa redutase/peroxidase: A glutationa-peroxidase faz a formação de água com a utilização do peróxido de H, às custas dos equivalentes redutores da glutationa (GSH - glutationa reduzida), oxidando a glutationa (GSSG); assim a glutationa-redutase reduz a GSSG com a utilização da coenzima NADPH (que vira NADP+),restabelecendo os níveis de GSH. OBS! O estresse oxidativo faz com que muitas proteínas fiquem em seu estado inativado, pois no estresse oxidativo os grupos tióis presentes no aminoácido cisteína são oxidados; assim, a glutationa (tri-peptídeo) também é importante por reduzir novamente esses grupos tióis, ativando a molécula novamente. Efeitos de desacopladores na cadeia transportadora de elétrons As proteínas desacopladoras (UCP), conhecidas também como termogeninas, permitem a reentrada de prótons para a matriz mitocondrial sem passar pelo complexo V (ATP sintase). Isso permite a oxidação contínua de combustível (ácidos graxos com adipócitos marrons) sem síntese de ATP, dissipando, então, a energia na forma de calor e consumindo as calorias da dieta ou as gorduras em grandes quantidades. Essas UCPs impedem a formação da força próton-motriz para a ativação da ATP sintase. A função dessas proteínas é de termogênese adaptativa ao frio (UCP1 - abundante em tecido adiposo marrom) e para proteção ao estresse oxidativo (UCP5 - já que impede o funcionamento da cadeia transportadora corretamente). OBS Tecido adiposo branco e tecido adiposo marrom possuem metabolismo glicolítico ativo, oxidam piruvatos e ácidos graxos pelo ciclo do ácido cítrico e fazem fosforilação oxidativa. Todavia, o adipócito branco tem muito mais gordura que o adipócito marrom, o qual tem bem mais mitocôndrias, apresentando a função de gerar calor (termogênese), devido à prevalência de termogeninas.
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