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DIREITO EMPRESARIAL TEMA 6 Prof. Alberto Wunderlich 1 NESTE CAPÍTULO VOCÊ IRÁ APRENDER: • A compreender quais são as sociedades empresárias previstas na legislação brasileira. • A reconhecer as principais características das sociedades empresárias personificadas. • A conceituar o princípio da autonomia patrimonial e o instituto da desconsideração da personalidade jurídica. • A verificar as formas de operações societárias. • A conceituar alguns contratos empresariais modernos. INTRODUÇÃO Neste sexto capítulo abordaremos as sociedades, indicando quais são as sociedades empresárias personificadas previstas na legislação brasileira. Analisaremos as características das sociedades, iniciando pela sociedade em nome coletivo, passando pelas sociedades em comandita simples, limitada, anônima, até chegar na sociedade em comandita por ações. Estudaremos o princípio da autonomia patrimonial e o instituto da desconsideração da personalidade jurídica. Na última parte, iremos verificar as formas de operações societárias, conceituando a transformação, a fusão, a incorporação e a cisão, além de estudar os principais contratos empresariais modernos. DIREITO EMPRESARIAL TEMA 6 Prof. Alberto Wunderlich 2 SOCIEDADES EMPRESÁRIAS O Código Civil divide as sociedades em simples e empresárias (art. 982 C.C). Pela legislação, as sociedades empresárias são aquelas que têm por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 966 e 967 C.C) as demais são consideradas sociedades simples. As sociedades empresárias personificadas devem adotar um desses tipos societários: a) sociedade em nome coletivo; b) sociedade em comandita simples; c) sociedade limitada; d) sociedade anônima; e) sociedade em comandita por ações. SOCIEDADE EM NOME COLETIVO (arts. 1.039 a 1.044 C.C) A principal característica desse tipo societário o qual somente aceita pessoas físicas como sócias, é a responsabilidade solidária e ilimitada de todos os sócios, assim, esgotado o patrimônio da sociedade em nome coletivo, seus credores podem executar o restante das dívidas sociais no patrimônio pessoal dos sócios. DIREITO EMPRESARIAL TEMA 6 Prof. Alberto Wunderlich 3 Observações importantes sobre a sociedade em nome coletivo a) Os sócios tem ampla liberdade para disciplinar suas relações sociais, desde que não desnaturem o tipo societário. b) Deve sempre adotar firma empresarial (nome empresarial). c) A sua administração compete aos próprios sócios, não se admitindo a designação de não sócios para o desempenho de tal função. d) O sócio que, na insolvência da sociedade, tiver o seu patrimônio atingido poderá, regressivamente, e de acordo com as normas internas do contrato social, acionar os demais sócios. f) Os sócios poderão limitar entre si a responsabilidade pelas obrigações sociais, mas essa limitação terá efeitos apenas entre eles, não sendo, portanto, oponível a terceiros. g) À sociedade em nome coletivo, assim como aos demais tipos societários, aplicam-se subsidiariamente as normas próprias da sociedade simples. SOCIEDADE EM COMANDITA SIMPLES (arts. 1.045 e 1.051 C.C) A sociedade em comandita simples é conhecida por ser a mais antiga forma de sociedade e se caracteriza pela existência de dois tipos de sócios, que exercem funções diferentes para a atividade da sociedade. Tipos de Sócios a) sócio comanditado I.) devem ser pessoa física; II) somente o sócio comanditado pode administrar a sociedade; DIREITO EMPRESARIAL TEMA 6 Prof. Alberto Wunderlich 4 III) só o nome do comanditado pode constar na firma social (nome empresarial); IV) a responsabilidade do comanditado é ilimitada; V) compromete todo o seu patrimônio no exercício da atividade pela sociedade. b) sócio comanditário I) os sócios comanditários, que são contribuidores de capital, desfrutam dos direitos normais de sócio, mas não podem exercer as funções de administradores nem ter o seu nome incluído na firma social; II) contribui com determinada quantia para a formação do capital social, e uma vez realizada sua contribuição, nada mais pode lhe ser exigido em virtude de obrigações da sociedade. Compromete apenas uma parte do seu patrimônio, respondendo, em regra, de forma limitada pelo capital investido. SOCIEDADE LIMITADA LTDA (arts. 1052 a 1087 C.C) O primeiro país a legislar sobre a sociedade por quotas limitada foi a Alemanha em 1829. Portugal, em 1901, em decorrência da influência alemã. As sociedades por quotas limitadas foram introduzidas em nosso ordenamento jurídico pelo Decreto n. 3.708/19. Apesar da influência das leis alemã e portuguesa, a verdade é que o Decreto n. 3.708/19 instituiu entre nós um tipo societário com características próprias. Em 2002 a Sociedade Limitada passou e integrar o Código Civil a partir do artigo 1.052. Pela classificação do Código Civil, a sociedade limitada é uma sociedade empresária, porque desenvolve atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou serviços. DIREITO EMPRESARIAL TEMA 6 Prof. Alberto Wunderlich 5 Principais características a) contratualidade – as relações entre sócios podem pautar-se nas disposições de vontades destes, sem os rigores ou balizamentos próprios do regime legal da sociedade anônima. Na limitada existe uma maior margem para negociações entre sócios. b) limitação da responsabilidade dos sócios – os empreendedores e investidores podem limitar as perdas, em caso de insucesso da empresa. A responsabilidade dos sócios é restrita ao valor das quotas de capital subscritas por cada um, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social. OBS: Capital subscrito - é o montante de recursos que os sócios se comprometem a entregar para a formação da sociedade. Capital Integralizado - é a parte do capital social que eles efetivamente entregaram. Ex: Os sócios podem estipular, ao firmarem o contrato social, que o capital social será de R$ 10.000,00 dividido em 100 quotas no valor de R$ 100,00 cada. Se o sócio Ricardo subscreve 70 quotas e sócio Juliano 30, eles se comprometeram a entregar respectivamente R$ 7.000,00 e R$ 3.000,00 para a formação da sociedade. Nome empresarial A sociedade limitada pode adotar firma ou denominação como nome empresarial, delas fazendo parte a palavra final “limitada”, por extenso ou abreviada (LTDA). Legislação aplicada É disciplinada pelos artigos 1.052 a 1.087 do Código Civil. Nas omissões do capítulo do Código Civil de 2002 referente às sociedades Limitadas, aplicam-se as regras das sociedades simples, também dispostas neste mesmo DIREITO EMPRESARIAL TEMA 6 Prof. Alberto Wunderlich 6 Código. O diploma legal de regência supletiva da limitada pode ser, porém, a lei das sociedades anônimas (6.404/76). Para isto, é necessário que os sócios contratem neste sentido. As novidades em 2019 foram os parágrafos 1º e 2º do artigo 1.052 do Código Civil, os quais foram inseridos por força da Lei nº 13.874, de 2019 e que instituiu a possibilidade da constituição de uma sociedade limitada por uma única pessoa. Assim, desde 2019 é possível constituir uma limitada com uma ou mais pessoas: “§ 1º A sociedade limitada pode ser constituída por 1 (uma) ou mais pessoas. § 2º Se for unipessoal, aplicar-se-ão ao documento de constituição do sócio único, no que couber, as disposiçõessobre o contrato social.” O registro da Limitada A sociedade limitada adquire personalidade jurídica com a sua inscrição na Junta Comercial, a quem cabe a execução do Registro Público de Empresas Mercantis. Os documentos que compõe o ato constitutivo devem ser apresentados para registro no prazo de 30 (trinta) dias, contados da data da sua lavratura. Apresentados além desse prazo, o registro somente produzirá efeito a partir da data da aprovação pela Junta Comercial. Elementos que devem constar no contrato social A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas partes, mencionará: I - nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios, se pessoas naturais, e a firma ou a denominação, nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas; DIREITO EMPRESARIAL TEMA 6 Prof. Alberto Wunderlich 7 II - denominação, objeto, sede e prazo (determinado ou indeterminado) da sociedade; III - capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária; IV - a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la; V - as pessoas incumbidas da administração da sociedade, e seus poderes e atribuições; VI - a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas; VII - se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais. Além dos elementos citados acima, outros podem constar no contrato, como por exemplo: as cláusulas que disciplinam as regras das reuniões dos sócios; que tratam da previsão supletiva das sociedades limitadas pelas normas da sociedade anônima; e a instituição de conselho fiscal. SOCIEDADE ANÔNIMA S/A (Lei 6.404/76) A Sociedade Anônima ou companhia é uma pessoa jurídica de direito privado, de natureza empresária, instituída por um estatuto social, onde o capital se divide em ações de livre negociabilidade, limitando‐se a responsabilidade dos subscritores ou acionistas ao valor de emissão das ações por eles subscritas. Principais características da sociedade anônima a) é sempre empresária; DIREITO EMPRESARIAL TEMA 6 Prof. Alberto Wunderlich 8 b) é uma sociedade de capitais; c) é apropriada para grandes empresas; d) o seu capital é dividido em ações transferíveis pelos processos aplicáveis aos títulos de crédito; e) a responsabilidade dos acionistas é limitada ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas; f) o nome empresarial deve ser por denominação. Valores mobiliários • Ações - são os títulos representativos do capital social das sociedades anônimas; • Debêntures - São títulos negociáveis que conferem direito de crédito contra a sociedade; • Comercial paper - tem o mesmo mecanismo das debêntures, inclusive é chamado por alguns autores de nota promissória da S/A; • Bônus de subscrição - é um direito de preferência; • Partes beneficiárias - são títulos negociáveis, estranhos ao capital social que conferirão aos seus titulares direito de crédito eventual contra a companhia consistente na participação dos lucros anuais durante determinado tempo. Espécies de S/A a) capital fechado: Ela escolhe quem serão seus acionistas, colocando suas ações nas mãos de pessoas previamente escolhidas. Chama-se fechada, porque seu mercado é fechado, restrito, com poucos investidores. Entretanto, não pode colocar suas ações à venda no mercado de capitais. b) capital aberto: é aquela cujos valores mobiliários podem ser vendidos no mercado de capitais. Existe obrigatoriedade de registro da DIREITO EMPRESARIAL TEMA 6 Prof. Alberto Wunderlich 9 empresa em órgão público especializado, na CVM (Comissão de valores Mobiliários). A venda de ações, que são os principais valores mobiliários emitidos pela S/A, é feita a um público massivo, indiscriminado. Ações a) Ordinárias - ações normais, que atribuem os direitos comuns de acionista, cuja criação é obrigatória em toda companhia. É um tipo de ação que garante ao seu proprietário o direito a voto e à participação nas decisões da empresa. b) Preferenciais – Ações que dão preferência no recebimento de valores, como ocorre na distribuição de lucros. O seu traço característico vem marcado pelos privilégios de ordem patrimonial. Em contrapartida, seu proprietário não tem direito a voto e a participar das decisões da empresa. c) Fruição - ações de gozo, são ações integralmente amortizadas, ou seja, que receberam, por antecipação, durante a vida social, o valor que lhes caberia em caso de liquidação da companhia. Diretoria A diretoria revela o poder executivo da S/A. Ela é composta por dois ou mais diretores, pessoas naturais residentes no país, eleitos e destituíveis, a qualquer tempo. Não se exige dos diretores a condição de acionista, visto que a função requer, prioritariamente, capacitação técnica para exercê-la. SOCIEDADE EM COMANDITA POR AÇÕES (Lei 6.404/76) DIREITO EMPRESARIAL TEMA 6 Prof. Alberto Wunderlich 10 Nesse tipo societário, preserva-se a ideia de comanditamento, ou seja, sócios que investem e sócios que administram, razão pela qual somente o acionista tem qualidade para administrar a sociedade, podendo ocupar a condição de diretor. Principais características a) Está regulamentada pela lei das sociedades anônimas. b) O capital social é dividido em ações. c) O nome empresarial pode ser por firma ou denominação. d) Existem dois tipos de sócios: d.1) Acionistas comanditados – respondem de forma solidária e ilimitada pelas obrigações sociais, mas no sentido subsidiário, admite-se que antes de lhe imporem a responsabilidade, lhes é facultado a execução da totalidade do patrimônio da sociedade. d.2) Acionistas comanditários – a responsabilidade se circunscreve a integralização do montante de ações subscritas. e) Somente os comanditados poderão exercer o cargo de administrador da empresa. AUTONOMIA PATRIMONIAL X DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA Como consequência da constituição da pessoa jurídica, a sociedade empresária passa a ser personalizada, tendo vinculado às suas relações jurídicas o princípio da autonomia patrimonial, que é um dos elementos fundamentais do direito empresarial. Por conta deste princípio, como regra, o patrimônio dos sócios não responde pelas obrigações da sociedade. Como mencionado acima, a regra é que o patrimônio pessoal dos sócios não será responsável pelas dívidas da empresa. Porém, existe uma exceção a DIREITO EMPRESARIAL TEMA 6 Prof. Alberto Wunderlich 11 essa regra e que está prevista no artigo 50 do Código Civil: “Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares de administradores ou de sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso”. Assim, o credor da empresa que não encontrar patrimônio suficiente na pessoa jurídica para satisfazer seu crédito, poderá, desde que preencha os requisitos da Lei, requerer a desconsideração da personalidade jurídica. OPERAÇÕES SOCIETÁRIAS a) Transformação - é a modificação do tipo societário. Por exemplo, uma sociedade anônima que se transforma em uma sociedade limitada. Não ocorre a extinção da sociedade, somente é realizadaa alteração de tipo societário. b) Fusão – é a união de duas ou mais sociedades formando uma nova que lhes sucede em todos os direitos e obrigações. Nesta operação, surge uma nova pessoa jurídica, e todas as envolvidas deixam de existir. c) Incorporação - na incorporação, uma ou várias sociedades são absorvidas por outra que lhes sucede em todos os direitos e obrigações. d) Cisão - é a operação pela qual a empresa transfere (vende) parcelas do seu patrimônio para uma ou mais sociedades, constituídas para esse fim ou já existentes, extinguindo-se a empresa cindida, se houver transferência de todo seu patrimônio. Então, só haverá extinção da empresa, se ocorrer a venda total do patrimônio. Se for transferida apenas uma parcela do patrimônio, isso vai se chamar cisão parcial. DIREITO EMPRESARIAL TEMA 6 Prof. Alberto Wunderlich 12 CONTRATOS EMPRESARIAIS MODERNOS Compra e venda mercantil – Contrato onde as partes envolvidas são empresárias ou sociedades empresariais e uma se obriga a transferir o domínio de certa coisa para a outro, a qual deve pagar-lhe certo preço em dinheiro. Contrato estimatório – É o contrato onde o consignatário recebe um bem móvel de outra pessoa (consignante) para efetuar sua venda, obrigando- se a pagar o preço previamente ajustado se deixar de restituir a coisa consignada, no prazo contratado. Contrato de Hedging – Contrato utilizado em operações para assegurar os preços de determinados ativos financeiros para compra ou venda futura, diminuindo, assim, os riscos oferecidos pelas oscilações do mercado financeiro. Contrato de empréstimo bancário – É o contrato pelo qual o mutuário obriga-se a pagar ao banco mutuante a quantia recebida, dentro do prazo contratado, com os devidos juros e encargos acordados. Contrato de representação comercial – O representante é um parceiro empresarial, não podendo ser confundido como um empregado da empresa. O representante receberá do representado uma comissão pelas vendas realizadas, a qual ficará estipulada no contrato de representação. Contrato de franquia – É o contrato pelo qual o franqueador (proprietário da franquia) com clientela cativa e detentor de marca já consagrada no mercado, expande o seu negócio, mediante uma licença, para que o franqueado comercialize seus produtos e serviços. Contratos eletrônicos – É o encontro de vontades que se estabelece por meio das tecnologias de informação para a aquisição de bens de consumo ou prestações de serviços. DIREITO EMPRESARIAL TEMA 6 Prof. Alberto Wunderlich 13 REFERÊNCIAS BORBA, José Edwaldo Tavares. Direito societário. 17ª ed. Atlas: São Paulo: Atlas, 2019. CAMPINHO, Sérgio. Curso de direito comercial - sociedade anônima. 5ª ed. Saraiva Educação: São Paulo, 2020. CHAGAS, Edilson Enedino das. Direito Empresarial Esquematizado. 7ª ed. Saraiva: São Paulo, 2020. FILHO, Calixto Salomão. O novo direito societário: eficácia e sustentabilidade. 5ª. ed. Saraiva Educação: São Paulo, 2019. MAMEDE, Gladston. Direito Societário – Sociedades Simples e Empresárias. 11ª ed. Atlas: São Paulo, 2019. NEGRÃO, Ricardo. Manual de Direito Empresarial. 10ª ed. Saraiva: São Paulo, 2020. SACRAMONE. Marcelo, Barbosa. Manual de Direito Empresarial. Saraiva: São Paulo, 2020. TEIXEIRA, Tarcisio. Direito Empresarial Sistematizado: doutrina, jurisprudência e prática. 8ª ed. Saraiva: São Paulo, 2019. TOMAZETTE, Marlon. Curso de Direito Empresarial: Teoria Geral e Direito Societário. 11ª ed. Saraiva: São Paulo, 2020.
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