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Legislação penal aplicada

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LEGISLAÇÃO 
PENAL 
APLICADA
Carolina Soares 
dos Santos
Revisão técnica:
Gustavo da Silva Santanna
Bacharel em Direito
Especialista em Direito Ambiental Nacional 
e Internacional e em Direito Público
Mestre em Direito
Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin CRB -10/2147
L514 Legislação penal aplicada / Mariana Gloria de Assis... [et al.] ; 
[revisão técnica: Gustavo da Silva Santanna]. – Porto 
Alegre: SAGAH, 2018.
418 p. : il. ; 22,5 cm
ISBN 978-85-9502-433-5
1. Direito penal. I. Assis, Mariana Gloria de.
CDU 343
Dos crimes contra a 
administração pública 
estrangeira e contra 
as finanças públicas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Reconhecer a importância do estudo dos crimes contra a administra-
ção pública estrangeira e contra as finanças públicas.
  Analisar os tipos penais dos crimes contra a administração pública 
estrangeira e contra as finanças públicas.
  Explorar a jurisprudência dos tribunais superiores acerca dessas 
temáticas.
Introdução
O objeto jurídico das infrações contra a administração pública estrangeira 
é a honestidade nas relações do comércio exterior, tendo em vista uma 
economia mundial moralmente hígida, nas palavras de Estefam (2018). 
No que concerne aos crimes de finanças públicas, busca-se proteger 
a higidez das contas públicas, a boa gestão da receita decorrente dos 
tributos e o respeito à legalidade, à probidade e à moralidade. A anco-
ragem constitucional desses delitos se encontra em vários preceitos da 
nossa Constituição, iniciando pelo compromisso de instituir-se um Estado 
Democrático de Direito que conta com o desenvolvimento, a igualdade 
e a justiça como valores supremos.
Diante do atual momento do País, o estudo dos crimes desse capítulo 
se torna mais relevante. Os tipos penais surgiram justamente na Conven-
ção de Combate à Corrupção e buscam a punição dos administradores 
públicos que coloquem seus interesses pessoais em detrimento da co-
letividade e da administração pública.
Desse modo, neste capítulo você vai analisar os tipos penais que en-
volvem a violação desses preceitos no âmbito das relações internacionais. 
Você vai estudar os crimes contra a administração pública estrangeira e 
os crimes contra as finanças públicas e vai explorar a jurisprudência dos 
Tribunais Superiores acerca dessas temáticas.
A importância da tipificação 
dos delitos estudados 
A confi guração dos delitos que você estudará neste capítulo busca estabelecer 
limites aos maus administradores públicos, de forma que impeçam que os 
interesses particulares sejam trabalhados em detrimento do poder público.
Os tipos penais foram introduzidos no Código Penal pela Lei nº. 10.028, 
de 19 de outubro de 2000, substituindo o art. 315 do CP, que abrangia a 
maioria das condutas (BRASIL, 2000b). Essa tipificação foi necessária, 
considerando-se que atualmente se tratam os delitos de forma mais deta-
lhada; além disso, algumas condutas praticadas pelos agentes públicos não 
encontravam respaldo no art. 315 do CP.
No preâmbulo da Convenção sobre o Combate da Corrupção de Fun-
cionários Públicos Estrangeiros nas Transações Comerciais Internacionais, 
também chamada Convenção da OCDE (Organização para a Cooperação e 
Desenvolvimento Econômico), as partes consideram que:
[...] a corrupção é um fenômeno difundido nas Transações Comerciais In-
ternacionais, incluindo o comércio e o investimento, que desperta sérias 
preocupações morais e políticas, abala a boa governança e o desenvolvimen-
to econômico, e distorce as condições internacionais de competitividade 
(BRASIL, 2007, p. 12). 
Buscou-se, por intermédio da Lei nº. 10.467, de 11 de junho de 2002, dar 
efetiva aplicação à Convenção da OCDE, a qual foi ratificada pelo Decreto 
Legislativo nº. 125, de 2000. Estefam (2018, p. 817) afirma que: 
[...] toda e qualquer incriminação, para se justificar dentro do Estado Demo-
crático de Direito, há que se encontrar alguma referência, expressa ou implícita 
na Constituição Federal. Deve-se considerar a norma penal teleologicamente, 
isto é, perscrutando sua finalidade, a ratio de sua existência, isto é, o valor 
fundamental para o qual foi criada.
Dos crimes contra a administração pública estrangeira e contra as finanças públicas400
Os artigos penais relacionados à administração pública estrangeira pos-
suem diversas previsões na CF brasileira, especialmente no preâmbulo, cujo 
conteúdo garante que o Estado Democrático de Direito será fundamentado no 
desenvolvimento, na igualdade e na justiça como valores supremos.
Dessa forma, o art. 4º, V, da CF estabelece o princípio da igualdade entre os 
Estados, no que tange às relações internacionais (BRASIL, 1988). O art. 170, 
IV, da CF, por sua vez, assegura o princípio da livre concorrência, sendo esse 
o ponto que sofria mais abalo com as práticas ilícitas nas relações comerciais 
internacionais (BRASIL, 1988).
Sobre as finanças públicas, Capez (2016, p. 500) explica que:
[...] o legislador, visando a coibir o descalabro do dinheiro público pela má 
gestão fiscal, criou diversos diplomas legais que incidirão concomitantemente 
sobre uma mesma conduta atentatória às finanças públicas.
Dessa forma, na CF, os arts. 163 a 169 configuram um conjunto com maior 
hierarquia do que o CP, por exemplo, acerca das finanças públicas, e reforçam 
as punições dos dispositivos penais. 
Dos crimes contra a administração 
pública estrangeira
Corrupção ativa em transação comercial internacional 
(art. 337-B do CP)
O Capítulo II-A — Dos Crimes Praticados por Particular contra a Adminis-
tração Pública Estrangeira, do CP, art. 337-B, dispõe o seguinte: 
Corrupção ativa em transação comercial internacional
Art. 337-B. Prometer, oferecer ou dar, direta ou indiretamente, vantagem 
indevida a funcionário público estrangeiro, ou a terceira pessoa, para deter-
miná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício relacionado à transação 
comercial internacional:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 8 (oito) anos, e multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada de 1/3 (um terço), se, em razão da 
vantagem ou promessa, o funcionário público estrangeiro retarda ou omite 
o ato de ofício, ou o pratica, infringindo dever funcional (BRASIL, 1940, 
documento on-line).
401Dos crimes contra a administração pública estrangeira e contra as finanças públicas
Trata-se de crime de tipo misto alternativo e possui grande semelhança 
com a corrupção ativa (prevista no art. 333 do CP). A Lei brasileira pune o 
corruptor, enquanto o funcionário público corrupto será punido pela legislação 
estrangeira. É importante salientar que o tipo possui relação direta com algum 
ato de ofício que seja praticado.
O tipo penal da corrupção ativa em transação comercial internacional 
consiste em prometer, oferecer e dar promessa, oferta ou dação de vantagem 
indevida. Diz respeito às condutas do funcionário estrangeiro ou da ter-
ceira pessoa que pratique, retarde ou omita um ato de ofício relacionado a 
uma transação comercial internacional. A conduta pode ocorrer de forma 
expressa ou implícita e pode ser realizada pessoalmente ou por pessoa inter-
posta. Do mesmo modo, a vantagem indevida pode ser patrimonial ou não; 
porém, quando a oferta é impossível de se concretizar, não haverá tipicidade 
do crime. Haverá tipicidade da conduta ao se realizar promessa absolutamente 
impossível de ser efetivada.
A ação pressupõe dolo e se consuma no momento que a oferta ou a pro-
messa, expressa ou implícita, chega ao conhecimento do funcionário. Porém, 
é importante atentar-se para a modalidade “dar”, na qual a consumação ocorre 
somente com a entrega do bem.
Classificação do crime de corrupção ativa em transação comercial 
internacional:
1. de forma ou ação livre (pode ser cometido por qualquer meio);
2. comum (não se exige condição especial ou qualidade do agente);
3. monossubjetivo (pode ser cometido por uma pessoa só);
4. formal (exceto na modalidade “dar”, que é crime material);
5. instantâneo(a fase consumativa não se prolonga no tempo);
6. plurissubsistente (o iter criminis admite cisão).
Tráfico de influência em transação comercial 
internacional (art. 337-C do CP) 
Art. 337-C. Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, direta 
ou indiretamente, vantagem ou promessa de vantagem a pretexto de influir 
em ato praticado por funcionário público estrangeiro no exercício de suas 
funções, relacionado a transação comercial internacional: 
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. 
Parágrafo único. A pena é aumentada da metade, se o agente alega ou insinua 
que a vantagem é também destinada a funcionário estrangeiro (BRASIL, 
1940, documento on-line). 
Dos crimes contra a administração pública estrangeira e contra as finanças públicas402
O tipo penal do crime de tráfico de influência em transação comercial 
internacional é misto alternativo, configurando-se delito único em caso de 
realização de mais de uma conduta prevista no diploma legal, e ocorrendo 
somente na modalidade dolosa. Há muita semelhança com o art. 332 do CP, 
no entanto, refere-se exclusivamente à influência sobre funcionário público 
estrangeiro, e o ato do servidor deve ser relacionado a uma transação co-
mercial internacional.
A consumação do crime ocorre no momento da solicitação, exigência, 
aceitação ou obtenção da promessa de vantagem. É possível a forma tentada na 
modalidade obtenção e nas modalidades de solicitação, cobrança ou exigência, 
quando realizadas por escrito.
Classificação do crime de tráfico de influência em transação comercial 
internacional:
1. de forma ou ação livre (pode ser cometido por qualquer meio);
2. comum (não se exige condição especial ou qualidade do agente);
3. monossubjetivo (pode ser cometido por uma pessoa só);
4. formal (não exige a produção de resultado naturalístico);
5. instantâneo (a fase consumativa não se prolonga no tempo);
6. unissubsistente (o iter criminis não se fraciona, com exceção da 
conduta “obter”).
Dos crimes contra as finanças públicas
Contratação de operação de crédito (art. 359-A do CP)
Art. 359-A. Ordenar, autorizar ou realizar operação de crédito, interno ou 
externo, sem prévia autorização legislativa: 
Pena – reclusão, de 1 (um) a 2 (dois) anos. 
Parágrafo único. Incide na mesma pena quem ordena, autoriza ou realiza 
operação de crédito, interno ou externo: 
I – com inobservância de limite, condição ou montante estabelecido em lei 
ou em resolução do Senado Federal; 
II – quando o montante da dívida consolidada ultrapassa o limite máximo 
autorizado por lei (BRASIL, 1940, documento on-line). 
Para o entendimento do tipo penal é necessário conhecer o conceito de 
operação de crédito, conforme exigência do próprio tipo penal, por se tratar de 
403Dos crimes contra a administração pública estrangeira e contra as finanças públicas
norma penal em branco. Assim dispõe o art. 29, III, da Lei de Responsabilidade 
Fiscal (Lei Complementar nº. 101, de 04 de maio de 2000):
Art. 29. [...] III - operação de crédito: compromisso financeiro assumido em 
razão de mútuo, abertura de crédito, emissão e aceite de título, aquisição 
financiada de bens, recebimento antecipado de valores provenientes da ven-
da a termo de bens e serviços, arrendamento mercantil e outras operações 
assemelhadas, inclusive com o uso de derivativos financeiros (BRASIL, 
2000a, documento on-line). 
O procedimento também é relevante. No momento de contratação da 
operação de crédito, é necessário obter prévia autorização legislativa, na qual 
constarão os limites, as condições e o montante da operação. A concessão 
advém do Senado, da Assembleia Legislativa ou da Câmara Municipal.
Desse modo, o crime de contratação de operação de crédito consiste no 
ato de ordenar, autorizar ou realizar operação de crédito, seja interna ou ex-
ternamente, sem a devida autorização legislativa; a conduta é punida somente 
na forma dolosa.
Se o autor do crime for prefeito municipal, o delito praticado por ele será o exposto no 
art. 1º, XX, do Decreto-Lei n°. 201, de 27 de fevereiro de 1967, considerando o princípio 
da especialidade (BRASIL, 1967). 
A tentativa só ocorre com a efetiva abertura do crédito, mesmo nas 
modalidades “ordenar” e “autorizar”, considerando que não haverá lesão 
ao bem jurídico se a operação não for efetivada.
Classificação do crime de contratação de operação de crédito:
1. de conteúdo variado ou ação múltipla (várias condutas nucleares 
vinculadas);
2. de conduta vinculada (o meio executivo deve ser aquele previsto em lei);
3. próprio (o autor deve ser funcionário público);
4. monossubjetivo (pode ser praticado por um agente);
5. formal (não exige a produção de resultado naturalístico); 
6. instantâneo (a fase consumativa não se prolonga);
7. unissubsistente, exceto na modalidade realizar.
Dos crimes contra a administração pública estrangeira e contra as finanças públicas404
Inscrição de despesas não empenhadas em restos 
a pagar (art. 359-B do CP)
Art. 359-B. Ordenar ou autorizar a inscrição em restos a pagar, de despesa que 
não tenha sido previamente empenhada ou que exceda limite estabelecido em lei: 
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos (BRASIL, 1940, docu-
mento on-line). 
O art. 42 da LRF assim dispõe:
Art. 42. É vedado ao titular de Poder ou órgão referido no art. 20, nos últimos 
dois quadrimestres do seu mandato, contrair obrigação de despesa que não possa 
ser cumprida integralmente dentro dele, ou que tenha parcelas a serem pagas no 
exercício seguinte sem que haja suficiente disponibilidade de caixa para este efeito.
Parágrafo único. Na determinação da disponibilidade de caixa serão conside-
rados os encargos e despesas compromissadas a pagar até o final do exercício 
(BRASIL, 2000a, documento on-line).
Como no delito anterior, deve-se buscar a complementação da norma no 
art. 36 da LRF, cujo conteúdo disciplina o conceito de restos a pagar:
Art. 36. É proibida a operação de crédito entre uma instituição financeira 
estatal e o ente da Federação que a controle, na qualidade de beneficiário 
do empréstimo.
Parágrafo único. O disposto no caput não proíbe instituição financeira con-
trolada de adquirir, no mercado, títulos da dívida pública para atender investi-
mento de seus clientes, ou títulos da dívida de emissão da União para aplicação 
de recursos próprios (BRASIL, 2000a, documento on-line).
Diante disso, é vedado que os administradores assumam obrigações 
no final do mandato para que somente o sucessor cumpra. Assim, o tipo 
penal se dá somente na forma dolosa e pune o administrador que ordenar ou 
autorizar a inscrição em restos a pagar de despesa sem a devida autorização 
legal ou que não tenha sido previamente aprovada. Segundo Estefam (2018, 
p. 824), “o objetivo da lei é evitar que a obrigação de despesas seja passada 
às próximas gestões, prejudicando o bom andamento da administração 
fiscal do Estado”.
A consumação do crime ocorre somente quando a ordem ou autorização 
é executada, quando a despesa é efetivamente incluída em restos a pagar. 
Se não for atendida a ordem, não se produz qualquer efeito, permitindo-se, 
portanto, a tentativa do delito.
405Dos crimes contra a administração pública estrangeira e contra as finanças públicas
Classificação do crime de inscrição de despesas não empenhadas em 
restos a pagar:
1. de conteúdo variado ou ação múltipla (várias condutas nucleares 
vinculadas);
2. de conduta vinculada (o meio executivo deve ser aquele previsto em lei);
3. próprio (o autor deve ser funcionário público);
4. monossubjetivo (pode ser praticado por um agente);
5. formal (não exige a produção de resultado naturalístico);
6. instantâneo (a fase consumativa não se prolonga);
7. plurissubsistente (iter criminis fracionável).
Assunção de obrigação no último ano do mandato 
ou legislatura (art. 359-C do CP)
Art. 359-C. Ordenar ou autorizar a assunção de obrigação, nos dois últimos 
quadrimestres do último ano do mandato ou legislatura, cuja despesa não 
possa ser paga no mesmoexercício financeiro ou, caso reste parcela a ser 
paga no exercício seguinte, que não tenha contrapartida suficiente de dis-
ponibilidade de caixa: 
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos (BRASIL, 1940, documento on-line).
Esse delito também possui direta relação com o art. 42 da LRF, visto no 
delito anterior, e tem a mesma finalidade; ocorre somente na forma dolosa.
O tipo penal do crime de assunção de obrigação no último ano do mandato 
ou legislatura consiste no ato de ordenar ou autorizar. Porém, se faz necessário 
que o compromisso realize algum tipo de prejuízo ao erário; a obrigação deve 
ser assumida nos dois últimos quadrimestres do último ano de mandato ou 
legislatura, e de forma que a despesa não possa ser paga no mesmo exercício 
financeiro, ou caso no ano seguinte não tenha contrapartida disponível no caixa.
A consumação do crime ocorre somente com a ordem executada, admi-
tindo-se, portanto, a forma tentada.
Classificação do crime de assunção de obrigação no último ano do mandato 
ou legislatura:
1. de conteúdo variado ou ação múltipla (várias condutas nucleares 
vinculadas);
2. de conduta vinculada (o meio executivo deve ser aquele previsto em lei);
3. próprio (o autor deve ser funcionário público);
4. monossubjetivo (pode ser praticado por um agente);
Dos crimes contra a administração pública estrangeira e contra as finanças públicas406
5. formal (não exige a produção de resultado naturalístico);
6. instantâneo (a fase consumativa não se prolonga);
7. plurissubsistente (iter criminis fracionável).
Ordenação de despesa não autorizada (art. 359-D do CP)
Art. 359-D. Ordenar despesa não autorizada por lei: 
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos (BRASIL, 1940, documento 
on-line). 
O tipo penal do crime de ordenação de despesa não autorizada possui 
relação com outros dispositivos legais, como o art. 167, I, da CF, e os arts. 15 
a 17 da LRF, os quais disciplinam que não poderá o administrador ordenar 
despesa não autorizada em lei. A Lei a que se refere o tipo penal é aquela 
que autoriza a ordenação da despesa no exercício financeiro, qual seja, a Lei 
Orçamentária Anual.
Desse modo, se o administrador assumir encargos em nome do Poder 
Público, deve se submeter à prévia disposição legal, sendo punível somente 
na forma dolosa. A consumação ocorre somente no momento da ordem efe-
tivamente executada, admitindo-se, portanto, a tentativa.
Classificação do crime de ordenação de despesa não autorizada:
1. de conduta vinculada (o meio executivo deve ser aquele previsto em lei);
2. próprio (o autor deve ser funcionário público);
3. monossubjetivo (pode ser praticado por um agente);
4. formal (não exige a produção de resultado naturalístico);
5. instantâneo (a fase consumativa não se prolonga);
6. plurissubsistente (iter criminis fracionável).
Prestação de garantia graciosa (art. 359-E do CP)
Art. 359-E. Prestar garantia em operação de crédito sem que tenha sido 
constituída contra garantia em valor igual ou superior ao valor da garantia 
prestada, na forma da lei: 
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano (BRASIL, 1940, documento 
on-line).
O art. 40, caput, § 1º, da Lei Complementar n°. 101/2000, estabelece que 
“os entes poderão conceder garantia em operações de crédito ou externas, 
407Dos crimes contra a administração pública estrangeira e contra as finanças públicas
desde que condicionada ao oferecimento de contragarantia a ser concedida, 
e à adimplência da entidade que a pleitear relativamente a suas obrigações 
junto ao garantidor e às entidades por este controladas” (BRASIL, 2000a, 
documento on-line). 
Existe obrigação de se exigir uma contragarantia se concedida alguma 
garantia em operações de crédito. A garantia oferecida deve ter valor igual ou 
superior à operação de crédito realizada, caso contrário, configurará o delito. 
Nesse sentido, Costa Júnior e Costa (2010, p. 120) explicam que
quando a União, os Estados ou Municípios captarem recursos junto a organismo 
financeiro interno ou internacional, como o FMI, o Banco Mundial, o Banco 
do Brasil, a Caixa Econômica, o BNDES e outros, tais organismos haverão de 
exigir do tomador a comprovação de que a dívida será honrada, mediante o 
oferecimento de garantia real ou fidejussória. Os prestadores dessa garantia irão 
exigir, do ente que buscou recursos, que lhes seja prestada uma contragarantia, 
a qual irá assegurar o ressarcimento do valor se este não vier a ser pago. Uma 
das contragarantias mais difundidas é a vinculação das receitas tributárias.
O crime consuma-se com a concessão da garantia graciosa, ou seja, sem 
a contragarantia, sendo inadmissível tentativa.
Classificação jurídica do crime de prestação de garantia graciosa:
1. de conduta vinculada (o meio executivo deve ser aquele previsto em lei);
2. próprio (o autor deve ser funcionário público);
3. monossubjetivo (pode ser praticado por um agente);
4. de mera conduta;
5. instantâneo (a fase consumativa não se prolonga);
6. unissubsistente.
Não cancelamento de restos a pagar (art. 359-F do CP)
Art. 359-F. Deixar de ordenar, de autorizar ou de promover o cancelamento 
do montante de restos a pagar inscrito em valor superior ao permitido em lei: 
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos (BRASIL, 1940, documento 
on-line).
O art. 359-F do CP pune aquele administrador que deixa de ordenar, auto-
rizar ou promover o cancelamento do montante de restos a pagar inscrito em 
valor superior ao permitido em lei. Trata-se de crime omissivo próprio, pois o 
administrador tem o dever jurídico de agir, e ocorre somente na forma dolosa. 
Dos crimes contra a administração pública estrangeira e contra as finanças públicas408
A consumação do crime de não cancelamento de restos a pagar ocorre 
com a omissão propriamente dita. Conforme ensina Bitencourt (2018, p. 125): 
[...] a responsabilidade penal não pode ser presumida, e, ademais, não responde 
por algo que não se conhece; consequentemente, essa responsabilidade não 
pode ser automática, decorrente da simples assunção do cargo ou função, 
pois configuraria autêntica responsabilidade objetiva, que foi proscrita do 
direito penal da culpabilidade. Esse momento consumativo, por evidente, está 
completamente afastado, por ser dogmaticamente insustentável. 
Desse modo, no momento em que o funcionário público tomou conheci-
mento e não agiu, ocorrerá a consumação do crime.
Classificação jurídica do crime de não cancelamento de restos a pagar:
1. de ação múltipla ou conteúdo variado (prevê mais de uma conduta 
nuclear);
2. omissivo próprio (a conduta está vinculada com o não fazer);
3. de conduta vinculada (não admite qualquer meio executivo, somente 
o previsto em lei);
4. próprio (o autor deve ser funcionário público);
5. monossubjetivo (pode ser praticado por um agente);
6. de mera conduta;
7. instantâneo (a fase consumativa não se prolonga);
8. unissubsistente.
Aumento de despesa total com pessoal no último ano 
do mandato ou legislatura (art. 359-G do CP)
Art. 359-G. Ordenar, autorizar ou executar ato que acarrete aumento de 
despesa total com pessoal, nos cento e oitenta dias anteriores ao final do 
mandato ou da legislatura:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos (BRASIL, 1940, documento on-line).
Ao final do mandato era comum o administrador aumentar os salários dos 
servidores estatais, com o objetivo de agradar ao eleitorado e, especialmente, ao 
funcionalismo público. Desse modo, o tipo penal do crime de aumento de des-
pesa total com pessoal no último ano do mandado ou legislatura busca punir 
essa prática, que na maioria das vezes era punida sem responsabilidade fiscal.
A norma necessita de complementação do conceito referente à despesa com 
pessoal, qual seja, aquele previsto no art. 18 da Lei Complementar n°. 101/2000, 
409Dos crimes contra a administração pública estrangeira e contra as finanças públicas
e a conduta é punida somente na forma dolosa. A consumação do crime ocorre 
no momento da execução do ato durante o período proibido(seis meses do final 
do mandato).
Classificação do crime de aumento de despesa total com pessoal no último 
ano do mandado ou legislatura:
1. de ação múltipla ou conteúdo variado (prevê mais de uma conduta nuclear);
2. de conduta vinculada (não admite qualquer meio executivo, somente 
o previsto em lei);
3. próprio (o autor deve ser funcionário público);
4. monossubjetivo (pode ser praticado por um agente);
5. de mera conduta;
6. instantâneo (a fase consumativa não se prolonga);
7. unissubsistente.
O art. 18 da Lei Complementar n°. 101/2000 estabelece o seguinte:
Para os efeitos desta Lei Complementar, entende-se como despesa 
total com pessoal: o somatório dos gastos do ente da Federação com 
os ativos, os inativos e os pensionistas, relativos a mandatos eletivos, 
cargos, funções ou empregos, civis, militares e de membros de Po-
der, com quaisquer espécies remuneratórias, tais como vencimentos 
e vantagens, fixas e variáveis, subsídios, proventos da aposentadoria, 
reformas e pensões, inclusive adicionais, gratificações, horas extras e 
vantagens pessoais de qualquer natureza, bem como encargos sociais e 
contribuições recolhidas pelo ente às entidades de previdência (BRA-
SIL, 2000a, documento on-line).
Oferta pública ou colocação de títulos no mercado 
(art. 359-H do CP):
Art. 359-H. Ordenar, autorizar ou promover a oferta pública ou a colocação 
no mercado financeiro de títulos da dívida pública sem que tenham sido 
criados por lei ou sem que estejam registrados em sistema centralizado de 
liquidação e de custódia: 
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos (BRASIL, 1940, documento on-line).
Dos crimes contra a administração pública estrangeira e contra as finanças públicas410
Novamente o delito pressupõe a ausência de observância ao procedimento 
legal exigido. Assim, deve-se ter conhecimento de que a colocação de títulos 
da dívida pública no mercado financeiro exige a prévia criação legal ou 
ainda o devido registro em sistema centralizado de liquidação e custódia. 
Não se observando os trâmites legais, há tipicidade do crime, logicamente 
somente na forma dolosa, consumando-se somente no momento de o ato 
ser efetivamente executado.
Classificação do crime de oferta pública ou colocação de títulos no mercado:
1. de ação múltipla ou conteúdo variado (prevê mais de uma conduta 
nuclear);
2. de conduta vinculada (não admite qualquer meio executivo, somente 
o previsto em lei);
3. próprio (o autor deve ser funcionário público);
4. monossubjetivo (pode ser praticado por um agente);
5. de mera conduta;
6. instantâneo (a fase consumativa não se prolonga);
7. unissubsistente.
O que dizem os tribunais superiores 
Os crimes contra as fi nanças públicas permanecem em quantidade muito pe-
quena nos tribunais superiores. Todavia, percebe-se que, no Superior Tribunal 
de Justiça, o principal crime processado é o tipifi cado no art. 359-D do CP, o 
crime de ordenação de despesa não autorizada. 
Do mesmo modo, é possível perceber que, em alguns casos, esse crime é 
absorvido por outros tipos penais pelo princípio da consunção; por exemplo, 
quando o crime de ordenação de despesa não autorizada é absorvido pelo 
crime de peculato na modalidade desvio, conforme art. 312 do CP. 
Isso ocorreu, por exemplo, na Ação Penal nº. 702 do Supremo Tribunal 
de Justiça, de 03 de junho de 2015 (Relator: João Otávio de Noronha). No 
caso, o réu era Conselheiro e Presidente do Tribunal de Contas e, diante das 
suas atribuições, em conjunto com servidores do órgão, emitia cheques para 
ressarcimento de verbas ilegais, despesas médicas inidôneas e tratamentos 
estéticos. Esses cheques eram sacados em espécie por Conselheiros do pró-
prio Tribunal. Entenderam os ministros do STJ que o crime tipificado no art. 
359-D do CP (ordenação de despesa não autorizada) era, em princípio, crime 
411Dos crimes contra a administração pública estrangeira e contra as finanças públicas
meio para o crime de peculato, conforme o art. 312 do mesmo diploma legal. 
Segue jurisprudência: 
PENAL E PROCESSO PENAL. RECEBIMENTO DE DENÚNCIA. PE-
CULATO (ART. 312 DO CP), ORDENAÇÃO DE DESPESAS NÃO AUTO-
RIZADAS EM LEI (ART. 359-D DO CP) E ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA 
(ART. 288 DO CP). CHEQUES EMITIDOS PELA DIREÇÃO DO TRIBU-
NAL DE CONTAS E SACADOS EM ESPÉCIE POR CONSELHEIROS E 
SERVIDORES OU UTILIZADOS PARA PAGAMENTOS INDEVIDOS. 
PAGAMENTOS DE VERBAS ILEGAIS A CONSELHEIROS E REEMBOL-
SO DE DESPESAS MÉDICAS INIDÔNEAS E PARA TRATAMENTOS 
ESTÉTICOS. CONCERTO DOS ENVOLVIDOS DE MODO COMISSIVO E 
OMISSIVO. INDÍCIOS SUFICIENTES DE AUTORIA E MATERIALIDA-
DE. PRESENTE A JUSTA CAUSA PARA ABERTURA DE AÇÃO PENAL.
1. A denúncia deve ser recebida quando o Ministério Público narra fatos subsu-
míveis aos tipos penais do peculato, da ordenação de despesas não autorizadas 
e da associação criminosa. Além disso, as condutas devem ser suficientemente 
individualizadas a fim permitir o pleno exercício do direito de defesa.
2. A descrição de conduta de conselheiro de tribunal de contas que, no exercício 
da presidência, em conjunto com servidores, saca e se apropria de vultosas 
quantias em espécie oriundas do próprio tribunal preenche o tipo do peculato-
-apropriação (art. 312, caput, 1a. parte, do CP).
3. Tipifica, em tese, o crime de peculato-desvio (art. 312, caput, 2a. parte do 
CP) utilizar-se do mesmo expediente para pagar ajuda de custo, estruturação 
de gabinete, segurança pessoal, despesas médicas e estéticas em proveito de 
conselheiros, passagens aéreas e verbas em favor de servidores inexistentes 
ou “fantasmas”, entre outras despesas sem amparo legal.
4. A prática atribuída a conselheiros e membro do Ministério Público atuante 
no tribunal de contas que, de maneira comissiva ou omissiva, organizam-se 
para reforçar rubrica orçamentária genérica e dela subtrair quantias expres-
sivas ou desviá-las sem destinação pública tem aptidão para caracterizar 
associação criminosa.
5. Ordenação de despesa não autorizada é, em princípio, crime meio para o pe-
culato. Pelo princípio da consunção, ele é absorvido pelo peculato mais gravoso 
se o dolo é de assenhoramento de valores públicos. A certificação do elemento 
subjetivo – o dolo – exige, no entanto, o exaurimento da instrução criminal, 
sendo prematuro atestá-lo ou afastá-lo em fase de recebimento de denúncia.
6. Denúncia recebida integralmente.
(APn 702/AP, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, CORTE ES-
PECIAL, julgado em 03/06/2015, DJe 01/07/2015) (BRASIL, 2015, docu-
mento on-line). 
Outro ponto interessante é que os crimes contra as finanças públicas que 
alcançam o STJ foram realizados por funcionários públicos de altíssimos 
cargos, consequentemente transformando-se em ações penais com competência 
Dos crimes contra a administração pública estrangeira e contra as finanças públicas412
originária desse Tribunal. Como exemplos desse ponto têm-se dois casos, o 
primeiro supracitado, realizado pelo Conselheiro e Presidente do Tribunal de 
Contas (AP 702 / STJ), e o segundo realizado pelo Desembargador e Presidente 
do TJ do Estado do Maranhão (AP 398 / STJ).
Entretanto, nesse segundo caso, a denúncia foi rejeitada pelo Superior Tribu-
nal de Justiça por atipicidade das condutas imputadas pelo Ministério Público. 
Dessa forma, o Tribunal declarou inepta a denúncia, com fundamento nos arts. 
41 do Código de Processo Penal e art. 5º, LV, da CF. Segue jurisprudência: 
AÇÃO PENAL ORIGINÁRIA. DIREITO PENAL E DIREITO PROCES-
SUAL PENAL.
PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO. PODER INVESTIGATÓRIO DO 
MINISTÉRIO PÚBLICO. LEGALIDADE. PROVA ILÍCITA. INOCORRÊN-
CIA. PROCEDIMENTO DE NATUREZA INQUISITORIAL. VIOLAÇÃO 
DAS GARANTIAS CONSTITUCIONAIS DO CONTRADITÓRIO E DA 
AMPLA DEFESA. INOCORRÊNCIA. ARTIGO 359-D DO CÓDIGO PENAL. 
DESPESA NÃO AUTORIZADA POR LEI. ATIPICIDADE.
PREVARICAÇÃO. ATIPICIDADE E INÉPCIA FORMAL DA DENÚNCIA. 
DENÚNCIA REJEITADA.
1. O respeito aos bens jurídicos protegidos pela norma penal é, primariamente, 
interesse de toda a coletividade, sendo manifesta a legitimidade do Poder do 
Estadopara a imposição da resposta penal, cuja efetividade atende a uma 
necessidade social.
2. Esta, a razão pela qual a ação penal é pública e atribuída ao Ministério 
Público, como uma de suas causas de existência. Deve a autoridade policial 
agir de ofício. Qualquer do povo pode prender em flagrante. É dever de toda 
e qualquer autoridade comunicar o crime de que tenha ciência no exercício de 
suas funções. Dispõe significativamente o artigo 144 da Constituição da Re-
pública que “A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade 
de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade 
das pessoas e do patrimônio.”.
3. Não é, portanto, da índole do direito penal a feudalização da investigação 
criminal na Polícia e a sua exclusão do Ministério Público. Tal poder inves-
tigatório, independentemente de regra expressa específica, é manifestação 
da própria natureza do direito penal, da qual não se pode dissociar a da 
instituição do Ministério Público, titular da ação penal pública, a quem foi 
instrumentalmente ordenada a Polícia na apuração das infrações penais.
4. Diversamente do que se tem procurado sustentar, como resulta da letra do 
seu artigo 144, a Constituição da República não fez da investigação criminal 
uma função exclusiva da Polícia, restringindo-se, como se restringiu, tão-
-somente a fazer exclusivo, sim, da Polícia Federal o exercício da função de 
polícia judiciária da União (parágrafo 1º, inciso IV). Essa função de polícia 
judiciária – qual seja, a de auxiliar do Poder Judiciário –, não se identifica 
com a função investigatória, isto é, a de apurar infrações penais, bem distin-
guidas no verbo constitucional, como exsurge, entre outras disposições, do 
413Dos crimes contra a administração pública estrangeira e contra as finanças públicas
preceituado no parágrafo 4º do artigo 144 da Constituição Federal, verbis: 
“§ 4º às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incum-
bem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a 
apuração de infrações penais, exceto as militares.”. Tal norma constitucional, 
por fim, define, é certo, as funções das polícias civis, mas sem estabelecer 
qualquer cláusula de exclusividade.
5. O exercício desse poder investigatório do Ministério Público não é, por óbvio, 
estranho ao Direito, subordinando-se, à falta de norma legal particular, no que 
couber, analogicamente, ao Código de Processo Penal, sobretudo na perspec-
tiva da proteção dos direitos fundamentais e da satisfação do interesse social.
6. Não constitui prova ilícita, a decorrente de investigação realizada pelo 
Ministério Público, por induvidoso o seu poder investigatório, inexistindo, 
por consequência, qualquer impedimento de seus membros que tenham par-
ticipado da fase investigatória, para a actio poenalis.
7. As garantias constitucionais do contraditório e da ampla defesa, insculpidas 
no inciso LV do artigo 5º da Constituição da República, não são próprias da 
investigação criminal procedida pela Polícia ou pelo Ministério Público, por 
se cuidar, como se cuida, de procedimento de natureza inquisitorial, destinado 
à própria ação penal e, não, de processo penal. Precedentes do STJ.
8. O tipo do artigo 359-D do Código Penal reclama, para sua configuração, 
a ordenação de despesa “não autorizada por lei”.
9. O complemento legal necessário do tipo inserto no artigo 359-D do Código 
Penal, por força de sua própria letra, há de dizer direta e imediatamente da 
despesa proibida, em nada se identificando com norma jurídica outra, mesmo 
se referente a ato mediato que possa ser relacionado com a despesa pública, 
como seu antecedente, ainda que necessário.
10. Requisita, por sem dúvida, o tipo penal norma legal complementar de 
proibição expressa da despesa, afastando interpretações constitutivas e amplia-
doras da tutela penal, que desenganadamente violam o princípio da legalidade, 
garantia constitucional do direito fundamental à liberdade, enquanto limite 
intransponível do ius puniendi do Estado.
11. Faltasse outro argumento, não seria, como não é, outro o resultado da inter-
pretação sistemática do tipo do artigo 359-D do Código Penal, especialmente da 
elementar “despesa não autorizada por lei”, pois que a Lei nº 10.028/2000 não só 
acrescentou o Capítulo IV ao Título XI do Código Penal, Dos Crimes contra as 
Finanças Públicas, mas também os itens 5 a 12 ao artigo 10 da Lei nº 1.079/50, 
relativamente aos crimes de responsabilidade do Presidente dos Tribunais, e 
os incisos XVI a XXIII ao artigo 1º do Decreto-Lei nº 201/67, aperfeiçoando 
especificamente a tutela jurídica das finanças públicas, que parte da Constituição 
da República, Capítulo II do Título VI, Das Finanças Públicas, principalmente o 
artigo 163, inciso I, e passa pela Lei Complementar nº 101/2000, que estabelece 
normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal.
12. Há de se declarar atípicas as condutas imputadas pelo Ministério Público 
Federal aos denunciados, que, de qualquer modo, quando e se contrataram, o 
fizeram, na letra mesma da denúncia, pautados “(...) em inúmeras leis estaduais 
que supostamente ‘autorizariam’ a criação dos cargos e, consequentemente, a 
nomeação dos servidores”, às quais se acresceram leis orçamentárias discutidas 
e votadas pela Assembleia Legislativa, não se sabendo, afinal, qual a realidade 
Dos crimes contra a administração pública estrangeira e contra as finanças públicas414
e a verdadeira causa da situação legal-institucional da Justiça Maranhense, 
existente há mais de duas décadas de anos e sem qualquer notícia de propo-
situra de ação civil pública ou de declaração de inconstitucionalidade de lei 
ou ato do Poder Público pelos legitimados.
13. Não se imputando o crime de prevaricação como definido na lei penal, 
porque não há confundir a prática de ato contra disposição expressa da lei, 
com o fundado em lei abstratamente afirmada inconstitucional, de rigor a 
rejeição da demanda penal.
14. É inepta a denúncia, por infringente ao artigo 41 do Código de Processo 
Penal e ao inciso LV do artigo 5º da Constituição da República, que não 
particularizou os atos de nomeação, não demonstrou a sua irregularidade à 
luz do seu título jurídico, não definiu o objeto do interesse ou do sentimento 
satisfeito pelos agentes, nem estabeleceu o alegado grau de parentesco que 
existiria entre os nomeados e o Presidente do Tribunal ou outro membro do 
Poder Judiciário, não ultrapassando os limites da acusação genérica.
15. Denúncia rejeitada.
(Apn 398/MA, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, CORTE ES-
PECIAL, julgado em 18/10/2006, DJ 09/04/2007, p. 218) (BRASIL, 2006). 
No que tange aos crimes praticados por particulares contra a administração 
pública estrangeira, não há jurisprudência no STJ, nem no Supremo Tribunal 
Federal, sendo que nesse último também não há nada sobre crimes contra as 
finanças públicas.
1. Um prefeito municipal incluiu nas 
contas de restos a pagar despesas 
acima do índice permitido por lei. 
Nas eleições seguintes não é reeleito, 
tendo Mariana assumido como nova 
prefeita da cidade, em novembro 
de 2017. Ela operou o cancelamento 
das contas referidas somente em 
março de 2018, momento em que 
recebeu ofício do setor jurídico em 
questão. Diante do quadro, assinale 
o tipo penal realizado por Mariana.
a) Nenhum, o fato é atípico.
b) Art. 359-F do CP.
c) Art. 359-B do CP.
d) Art. 359-H do CP.
e) Art. 359-A do CP.
2. Assinale a alternativa correta sobre 
os crimes contra as finanças públicas.
a) O sujeito passivo sempre será a 
sociedade, considerando que 
os atos atentatórios contra as 
finanças públicas possuem 
direta relação com a sociedade, 
interferindo nas finanças de todos.
b) São todos crimes próprios, 
tendo em vista que só podem 
ser cometidos por funcionários 
públicos, sendo inadmissível a 
coautoria ou a participação.
c) Se o autor do crime de 
contratação de operação de 
415Dos crimes contra a administração pública estrangeira e contraas finanças públicas
crédito for prefeito municipal, 
o delito praticado por ele será 
o do art. 1º, XX, do Decreto-Lei 
n°. 201/67, considerando-se o 
princípio da especialidade.
d) São crimes comuns, 
considerando que todo particular 
poderá auxiliar na realização 
do crime, realizando-se do 
mesmo modo o tipo penal.
e) Não é admissível tentativa 
em todos os delitos.
3. Sobre o crime de oferta pública ou 
colocação de títulos no mercado, 
assinale a alternativa correta.
a) É prescrito na modalidade 
culposa e dolosa, possuindo 
pena de 6 meses a 1 ano de 
reclusão para a primeira.
b) É aplicável o erro de proibição 
previsto no art. 21 do CP.
c) O procedimento aplicável é 
aquele previsto na Lei n°. 9.099/90.
d) Caberá transação penal; contudo, 
não é possível a suspensão 
condicional do processo pela 
reprovabilidade social do delito.
e) É crime de mera conduta.
4. Quanto ao crime de aumento 
de despesa total com pessoal 
no último ano do mandado ou 
legislatura (art. 359-G do CP), 
assinale a alternativa correta.
a) A norma necessita de 
complementação do conceito 
referente à despesa com 
pessoal, qual seja, aquela 
prevista no art. 18 da Lei 
Complementar n°. 101/2000.
b) A consumação do crime ocorre 
na ordem do aumento.
c) É crime omissivo próprio.
d) É crime plurissubjetivo.
e) É crime plurissubsistente.
5. Sobre os crimes contra a 
administração pública estrangeira, 
assinale a alternativa correta.
a) O tipo penal previsto no art. 
337-C não é misto alternativo, 
configurando-se mais de um delito 
ao realizar-se dois verbos diversos.
b) A consumação do crime previsto 
no art. 337-C ocorre no momento 
do recebimento da vantagem 
indevida em todas as modalidades.
c) No caso de solicitação ou 
exigência de vantagem, 
previstas no art. 337-C, é 
necessário que chegue ao 
conhecimento do terceiro para 
fins de consumação do crime.
d) No crime de corrupção ativa 
em transação comercial 
internacional, a conduta somente 
pode ocorrer de forma expressa.
e) A vantagem indevida no crime 
de corrupção ativa em transação 
comercial internacional é de 
natureza somente patrimonial.
Dos crimes contra a administração pública estrangeira e contra as finanças públicas416
BITENCOURT, C. Tratado de direito penal: parte especial. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 
2018. v. 4. 
BRASIL. Constituição Federal de 1988: promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível 
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>. Acesso 
em: 15 maio 2018.
BRASIL. Controladoria Geral da União - CGU. Convenção da OCDE sobre o Combate da 
Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações Comerciais Internacionais. 
Brasília: CGU, 2007.
BRASIL. Decreto-lei nº. 201, de 27 de fevereiro de 1967. Dispõe sobre a responsabilidade 
dos Prefeitos e Vereadores, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del0201.htm>. Acesso em: 15 maio 2018.
BRASIL. Decreto-lei nº. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm>. Acesso 
em: 15 maio 2018.
BRASIL. Lei Complementar nº. 101, de 4 de maio de 2000a. Estabelece normas de finanças 
públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências. 
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp101.htm>. Acesso 
em: 15 maio 2018.
BRASIL. Lei nº. 10.028, de 19 de outubro de 2000b. Altera o Decreto-Lei no 2.848, de 7 de 
dezembro de 1940 – Código Penal, a Lei no 1.079, de 10 de abril de 1950, e o Decreto-
-Lei no 201, de 27 de fevereiro de 1967. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/Leis/L10028.htm>. Acesso em: 15 maio 2018.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça STJ. Ação Penal: APn 398, MA 2004/0180188-3. 
Relator: Ministro Hamilton Carvalhido. Julgamento: 18/10/2006. JusBrasil, 2006. Dispo-
nível em: <https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/8959892/acao-penal-apn-398-
-ma-2004-0180188-3>. Acesso em: 15 maio 2018.
CAPEZ, F. Curso de direito penal: parte especial. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. v. 3. 
COSTA JUNIOR, J.; COSTA, F. J. da. Curso de direito penal. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
ESTEFAM, A. Direito penal: parte especial. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. 
Leitura recomendada 
PRADO, L. R. Curso de direito penal brasileiro: parte especial. 15. ed. São Paulo: RT, 2017. v. 4. 
417Dos crimes contra a administração pública estrangeira e contra as finanças públicas
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da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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