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Procedimento de Inventário e Partilha 1) Introdução - Conforme previsto no art. 1.7841 do CC, a partir da morte da pessoa natural, seus bens transmitem-se aos sucessores legítimos e testamentários, por meio de um fenômeno jurídico conhecido como “saisine”. Constituindo-se o patrimônio do “de cujus” de uma universalidade jurídica de bens, será necessária a definição do que exatamente o compõe, além da individualização do que cabe a cada um dos sucessores na hipótese de existir mais de um sujeito nessa condição. - Em razão disso, o procedimento de inventário e partilha envolverá essas duas atividades, isto é, a partir do inventário haverá uma identificação do patrimônio deixado, com a indicação dos bens (natureza móvel ou imóvel), créditos, débitos e quaisquer outros direitos de natureza patrimonial que possa compor o acervo hereditário; quanto a partilha, teremos o momento de divisão do acervo entre os sucessores, com o estabelecimento e consequente adjudicação do quinhão hereditário a que cada um tenha direito. - O inventário constitui medida de jurisdição contenciosa, já que admite plena controvérsia sobre os bens a serem partilhados e sobre a forma da partilha em si. Além disso, prevê a lei – no art. 611 do CPC – que o inventário deve ser iniciado em prazo máximo de dois meses da abertura da sucessão e finalizado em no máximo dozes meses após o seu início. - Porém, isso não implica dizer que passado o prazo de sessenta dias, perca-se o direito de ajuizar a medida. Ao contrário, sempre haverá esse direito, mas poderão os interessados ficarem sujeitos a eventual multa – atrelado à obrigação tributária – fixada por lei estadual. Por fim, importante dizer que, caso não seja possível a conclusão em até doze meses da sua abertura, este procedimento poderá ser prorrogado, a requerimento das partes ou de ofício pelo magistrado. - Esse procedimento pode ser realizado tanto pela via judicial quanto administrativa, ou seja, sendo permitido sua realização de maneira extrajudicial. Entretanto, apesar de haver essa possibilidade, não há obrigatoriedade, podendo os herdeiros valerem-se do procedimento judicial caso queiram. - Quando se discute a respeito do procedimento extrajudicial, uma das maiores divergências havidas era se a escritura pública seria documento hábil para realização de qualquer ato de registro. O artigo 610, § 1º do CPC, veio esclarecer essa dúvida indicando que, além de ser o documento hábil para registro, é também válido para levantamento de importância diante instituições financeiras. 1 Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários. - Um fator importante a respeito da lavratura da escritura pelo tabelião, é a obrigatoriedade da presença de advogado, já que sua expedição está condicionada a participação de um patrono, que tem como objetivo garantir uma representação técnica na partilha, visando evitar possíveis prejuízos às partes em razão de desconhecimento. (art. 610, § 2º). OBSERVAÇÃO: Em regra, para que haja a efetiva transferência do patrimônio do de cujus aos herdeiros, será necessário a realização do inventário e partilha, entretanto, há casos em que há dispensa da realização deste para prática de atos pelos sucessores. Possibilidade 01: Saque de FGTS e PIS-Pasep – Possibilidade 02: Levantamento de restituição de imposto de renda, tributos, saldos bancários, cadernetas de poupança e fundos de investimento (desde que não superior a 500 ORTN). 2) Inventário Negativo - Não há uma previsão legal a respeito desse procedimento. Porém, há algumas situações que não podem ser realizadas enquanto não for inventariado bens e feita a partilha. - Conforme artigos do Código Civil – art. 1.523, I e 1.641, I – enquanto não fizer inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros não pode a viúva ou viúvo contrair novo casamento. O artigo subsequente indica que, mesmo havendo casamento, a consequência será o regime obrigatório de separação de bens. - Para que seja possível a realização do casamento e/ou sua realização em outro regime, o inventário negativo pode funcionar como prova de que não foi deixado pelo de cujus bens a serem partilhados. Apesar dessa possibilidade, o inventário negativo serve especialmente para comprovação de inexistência de patrimônio deixado pelo falecido. Como sabemos, caso o falecido deixe dívidas, os herdeiros só responderão nos limites da herança deixada. - Essa modalidade de inventário poderá ser realizada extrajudicial ou judicialmente. No caso do procedimento judicial, após ouvirem Ministério Público (se for o caso) e Fazenda Pública, o juiz extinguirá o processo declarando – por sentença – a inexistência de bens a serem partilhados. 3) Competência e Universalidade do Foro Sucessório - Conforme previsão no art. 23, II do CPC, a justiça brasileira é a única competente para julgar as ações de inventário e partilha de bens situados em território nacional, significando dizer que as sentenças estrangeiras que tenham como objeto tais bens são serão homologadas pelo STJ. - Quanto às questões internas, a competência é determinada pelo art. 48 do CPC. 4) Discussões acessórias ao inventário: Dependência do TIPO de Prova - Eventualmente, ao longo da discussão a respeito do inventário e partilha, outras questões surjam para definição do acervo hereditário e da maneira como será dividido esses bens entre os herdeiros. Do mesmo modo, surge dúvidas a respeito da exata definição de quem são eles, cabendo ao juiz decidir essas questões para que o resultado do processo de inventário e partilha seja atingido. - Entretanto, nem todas as questões acessórias poderão ser resolvidas no processo de inventário e partilha, o que obriga os interessados a ajuizar uma nova ação para a solução de algumas questões, questões essas que eram chamadas de “questões de alta indagação”. - O atual CPC, no art. 612, indica que apenas as questões fundadas em prova documental serão julgadas pelo juízo do inventário e partilha, ou seja, todas as questões que não forem fundadas em provas documentais – provas não documentais – serão remetidas ao juízo competente para apreciação e julgamento. - Essa questão diz respeito à complexidade da prova a ser produzida, o que implica na necessidade de processo autônomo para produção de prova não documental e, assim, ter uma solução. - Quanto ao tema, a doutrina é pacífica no entendimento de que o pronunciamento judicial pelo qual o juiz do inventário se nega a decidir a questão, remetendo as partes às vias ordinárias é uma decisão interlocutória que, portanto, será recorrível por agravo de instrumento nos termos do parágrafo único do artigo 1.015. ATENÇÃO: O STJ já decidiu (REsp 1.480/81/ES – 2018) que essa decisão do juízo de inventário não é condição para a propositura da ação autônoma. 5) Administrador Provisório e Inventariante Administrador Provisório - No período entre o falecido e o ajuizamento da ação de inventário e partilha, com a consequente designação do inventariante, o patrimônio deixado deverá ser administrado por alguém. Por essa razão, o art. 613 do CPC estabelece a figura do “administrador provisório”, isto é, alguém responsável pela administração da herança até que o espólio passe a ser representado pelo inventariante. - O administrador provisório, em regra, é aquela pessoa que já se encontra na administração do patrimônio em razão do falecimento – abertura da sucessão – e, independente de determinação judicial já se encontra tomando medidas necessárias para conservação daquele acervo patrimonial. - Apesar de ser uma atividade “informal”, vez que não depende de decisão e/ou denominação judicial, o administrador provisório, nos termos do art. 614, é obrigado a levar ao acervo hereditário os frutos que recebeu durante o período de administração, respondendo pelo danoque, por culpa ou dolo, der causa aos herdeiros. Além dessa necessidade – levar ao acervo os frutos percebidos – a prestação de contas de sua administração, que pode ser feita no próprio processo de inventário e partilha. - Mesmo tendo deveres, terá o administrador direito a reembolso de todas as despesas necessárias e úteis à boa manutenção do acervo hereditário. OBSERVAÇÃO: Caso seja situação de herança jacente, não existirá a figura do administrador provisório, devendo para o caso aplicar o art. 739 do CPC, que prevê a indicação de um curador que terá o encargo de guardar, conservar e administrar a herança até a sua entrega aos sucessores legalmente habilitados ou até a declaração de vacância da herança. Inventariante - O inventariante é considerado uma figura auxiliar do juízo, já que será dela o encargo de administrar o acervo hereditário e representar o espólio – em juízo e fora dela – até que ocorra a partilha. Essa figura que exerce esse múnus público é chamada de inventariante, função que exige a prestação de um compromisso, momento em que indica que desempenhará “bem” o papel (art. 617, parágrafo único). - A inventariança pode ser legítima, recaindo sobre um dos sujeitos previstos no art. 617 do CPC, sendo que, para sua nomeação, o juiz deve seguir a ordem de preferência ali estabelecida. IMPORTANTE: Apesar de haver uma ordem de preferência para nomeação do inventariante, na ordem estabelecida no art. 617, admite-se a inversão em casos excepcionais, notadamente quando o juiz tiver fundadas razões para tanto, sendo esse o entendimento adotado pelo Superior Tribunal de Justiça (REsp 1.055.633/SP – 2008). OBSERVAÇÃO: Caso não seja possível estabelecer a inventariança legítima, nos moldes do artigo 617, será estabelecido a inventariança dativa, recaindo essa função a qualquer sujeito estranho ao acervo que o juiz entenda idôneo para desenvolver o encargo de inventariante. Uma das hipóteses para sua ocorrência é a verificação de inexistência de nenhum dos sujeitos indicados no art. 617 do CPC. Outra hipótese para sua caracterização é a existência de algum ou alguns dos sujeitos, entretanto, ter esse(s) sujeito(s) ter sido removido da inventariança (art. 622 do CPC) ou não puder, por justa causa, assumir o encargo. ATENÇÃO: Caso haja nomeação de inventariante dativo, o artigo 75, § 1º do CPC, indica que este representará o espólio em juízo, havendo apenas a necessidade de que os herdeiros sejam intimados nos processos em que o espólio seja parte. Isso quer dizer que, mesmo sendo dativo, os herdeiros e sucessores, uma vez intimados da existência do processo, ingressarem como assistentes litisconsorciais do espólio. - Ao ser nomeado inventariante, este não tem apenas a responsabilidade de administrar o patrimônio e representar o espólio – em juízo ou fora dele – devendo, conforme prevê o artigo 6182, atentar-se à uma série de encargos. 2 Art. 618. Incumbe ao inventariante: I - representar o espólio ativa e passivamente, em juízo ou fora dele, observando-se, quanto ao dativo, o disposto no art. 75, § 1º ; II - administrar o espólio, velando-lhe os bens com a mesma diligência que teria se seus fossem; III - prestar as primeiras e as últimas declarações pessoalmente ou por procurador com poderes especiais; ATENÇÃO: Em que pese o inventariante – dativo ou legítimo – poder representar o espólio em juízo, no que diz respeito aos poderes processuais, os atos de disposição de direitos não são admitidos, necessitando de expressa manifestação do titular do direito (no caso TODOS OS HERDEIROS). Assim, não poderá o inventariante, reconhecer juridicamente o pedido, renunciar ou transigir sem o consentimento de todos os herdeiros. - Além do consentimento dos herdeiros para a prática de determinados atos processuais, caso seja necessário alienar bens, pagar dívidas e fazer despesas para conservação e/ou melhoramento dos bens do espólio, estes atos também dependerão de consentimento expresso dos sucessores (art. 619 do CPC). Entretanto, esse consentimento poderá ser suprido por autorização judicial, especialmente quando houver resistência injustificada dos herdeiros. - Caso a alienação seja realizada sem prévia oitiva dos herdeiros e sem autorização judicial, esta será considerada nula. OBSERVAÇÃO: Caso a inventariança seja dativa, a ausência de anuência dos herdeiros torna o ato de alienação anulável, mesmo que tenha havido autorização judicial. - Por conta de exercer uma função pública, auxiliando o juízo na condução do processo de inventário e partilha, o inventariante poderá, eventualmente, ser removido de suas funções, caso seja caracterizado uma das causas previstas no art. 622 do CPC. Entretanto, apesar das causas apresentadas, a doutrina e jurisprudência interpretam o rol como meramente exemplificativo, indicando que o inventariante poderá ser removido por outra causa não prevista em lei, desde que essa conduta seja traduzida como desleal, ímproba ou viciada de qualquer forma. - Percebe-se que essa remoção tem um caráter punitivo, motivo pelo qual deve ser precedida por um procedimento incidental com contraditório. O pedido de remoção, seja ele requerido por interessado ou determinado de ofício, deve ser realizado em autos apensados ao processo de inventário e partilha. - Nele, o inventariante será intimado a manifestar-se no prazo de 15 dias, sendo oportunizado produzir provas para reforçar e demonstrar suas alegações (art. 623). Ainda que seja realizada em autos apensados, a decisão dada tem natureza interlocutória e, portanto, é recorrível por agravo de instrumento. OBSERVAÇÃO: Apesar de ter natureza interlocutória e, portanto, ser recorrível por agravo de instrumento com fundamento no art. 1015, parágrafo único, o STJ aplica o princípio da fungibilidade recursal nos casos de interposição de recurso de apelação contra decisão dada no incidente de remoção do inventariante. (REsp 714.035/RS – 2005). IV - exibir em cartório, a qualquer tempo, para exame das partes, os documentos relativos ao espólio; V - juntar aos autos certidão do testamento, se houver; VI - trazer à colação os bens recebidos pelo herdeiro ausente, renunciante ou excluído; VII - prestar contas de sua gestão ao deixar o cargo ou sempre que o juiz lhe determinar; VIII - requerer a declaração de insolvência. - Com a aplicação da pena de remoção do inventariante, este deverá entregar imediatamente os bens do espólio ao substituto nomeado e, em caso de inércia pelo inventariante removido ou resistência, poderá ser aplicado medidas de execução indireta (busca e apreensão, por exemplo). Além dessa possibilidade, o art. 625 inova em relação ao CPC anterior, prevendo a aplicação de multa não superior a 3% dos bens inventariados. - Daniel Assumpção (2020) entende que essa multa tem natureza sancionatória, o que torna aplicável – no caso concreto – a multa (astreintes) como forma de execução indireta, no intuito de pressionar o inventariante removido a entregar os bens. 6) Arrolamento Sumário e Arrolamento Comum - O inventário e partilha é um procedimento voltado para questões mais complexas. Visando estabelecer procedimentos alternativos ao inventário ordinário, o legislador trouxe dois novos procedimentos, simplificados e rápidos: arrolamento sumário e arrolamento comum. Arrolamento Sumário - O caput do art. 659, traz o arrolamento sumário, indicando como requisito para sua realização serem todos os herdeiros capazes e existir acordo quanto à partilha. Conforme § 1º do mesmo artigo, mesmo que exista apenas um herdeiro, este é o procedimento cabível. - Esse procedimento é indicado em razão da ausência de conflitos entre herdeiros/sucessores ou no caso de haver apenas um herdeiro. Assim, os sucessores deverão tomar a seguinte providência, a partir da petição inicial: a) Requerer ao juiz a nomeação do inventariante,que já será indicado na petição inicial e estará dispensado do compromisso; b) Declarar os títulos dos herdeiros e os bens deixados pelo espólio (art. 630 CPC) c) Atribuir valor aos bens para fins de partilha (art. 660, III CPC) - Caso haja dívidas, já na petição inicial, os bens reservados ao pagamento deverão ser indicados. De igual modo, conforme parágrafo único do art. 663, o valor desses bens reservador OBRIGATORIAMENTE será indicado na petição inicial. O(s) credor(es) indicado(s) na inicial será intimado para manifestar-se acerca dos bens, podendo apresentar impugnação, momento em que o juiz decidirá o valor correto a ser atribuído ao patrimônio reservado. Obs: Caso seja necessário, poderá ser determinada a avaliação dos bens. OBSERVAÇÃO: No arrolamento sumário, não se admite a apreciação de questões relativas ao lançamento, pagamento ou quitação de taxas judiciárias e tributos incidentes sobre a transmissão de propriedade dos bens do espólio (art. 662). A discussão a respeito dessa matéria deverá ser realizada em outro processo, administrativo ou judicial, que suspende o arrolamento sumário enquanto não for decidido. Arrolamento Comum - Diferente do que ocorre no arrolamento sumário, que exige plena concordância e capacidade entre os sucessores, o inventário poderá prosseguir pelo arrolamento comum, ainda que haja divergência e/ou incapaz. - Esta modalidade de inventário está prevista no art. 664 do CPC e é cabível quando os bens que compuserem o espólio não tiverem valor superior a mil salários mínimos. OBSERVAÇÃO: Caso exista herdeiro incapaz, o Ministério Público será intimado. - Ao ser instaurado, o inventariante será nomeado (na ordem de preferência do art. 617), dispensando-o do compromisso. Após sua nomeação, deverá apresentar as declarações sobre o acervo hereditário, inclusive sendo permitido que já atribua os valores dos bens do espólio e o eventual plano de partilha dos bens (art. 664, caput). - Após, os herdeiros serão citados e havendo concordância com os termos sugeridos pelo inventariante, o formal de partilha será imediatamente expedido, aplicando-se o previsto no art. 662 do CPC. - Caso haja impugnação – seja pelas partes ou pelo MP – o juiz nomeará um avaliador que terá prazo de 10 dias para oferecer laudo a respeito do valor dos bens que compõem o espólio (art. 664, § 1º do CPC). Após a apresentação desse laudo, o juiz designará audiência, resolvendo todas as questões relativas à demanda, procedendo-se a partilha, dando solução aos pedidos de pagamento de eventuais dívidas do espólio. - Apesar de haver uma previsão para realização da audiência, parcela considerável da doutrina aponta pela desnecessidade de realização dessa audiência, sendo legítimo a intimação das partes para manifestarem por escrito. ATENÇÃO: Conforme previsto no art. 664, § 5º, no arrolamento comum há necessidade de demonstração de quitação dos tributos relativos aos bens do espólio e suas rendas para que haja o julgamento da partilha. 7) Procedimento do Inventário - De acordo com o art. 611 do CPC, o processo de inventário e partilha deve ser aberto dentro de dois meses a contar da abertura da sucessão e finalizando nos 12 meses subsequentes, porém, pode o juiz prorrogar tais prazos, seja de ofício ou a requerimento. OBSERVAÇÃO: Esse prazo é impróprio, sendo que sua inobservância não gera consequências processuais, porém, cada Estado-membro pode estabelecer multa, especialmente nos tributos devidos. - Seguindo a linha de raciocínio do novo CPC, em especial o princípio da economia processual, o art. 672 do CPC prevê a possibilidade de cumulação de inventários para a partilha de heranças de pessoas diversas, desde que preenchidos três requisitos: identidade de pessoas entre as quais devam ser repartidos os bens; herança deixada pelos dois cônjuges ou companheiros e dependência de uma das partilhas em relação à outra. - Em relação a esse último requisito, o parágrafo único do art. 672 indica que, se a dependência for parcial, por haver outros bens, o juiz poderá ordenar a tramitação separada, se melhor convier ao interesse das partes ou à celeridade processual. - Quanto aos legitimados para ajuizamento da ação de inventário e partilha, os artigos 615 e 616 regulamentam a legitimidade ativa. Via de regra, o administrador provisório ajuíza a ação, porém, qualquer dos sujeitos indicados pela lei pode dar início ao processo, o que caracteriza a legitimidade concorrente. ATENÇÃO: O Ministério Público tem legitimidade, entretanto, sua legitimidade está condicionada à presença de herdeiros incapazes (art. 616, VII, do CPC). Apesar disso, existe corrente doutrinária – ainda que minoritária – que defende a legitimação do MP em outras situações, desde que – no caso concreto – esteja caracterizada o interesse público. Petição Inicial - A petição inicial seguirá as exigências do art. 319 do CPC, sendo que há um documento indispensável à propositura da demanda: a certidão de óbito (art. 615, parágrafo único). Caso não haja esse documento, este poderá ser substituído por declaração judicial. - Estando regular a petição inicial, o juiz procederá a nomeação do inventariante que prestará compromisso em termo a ser lavrado nos autos. - A partir do momento que o inventariante prestar compromisso, ele terá o prazo de 20 dias para apresentar as primeiras declarações, nos moldes do art. 620 do CPC. Este prazo, contudo, pode ser prorrogado de ofício ou a requerimento do inventariante. - Após as primeiras declarações serem prestadas, o cônjuge/companheiro, herdeiros, legatários, testamenteiro – caso o de cujus tenha deixado testamento – serão citados e formarão um litisconsórcio necessário. Acompanha o mandado citatório cópia das primeiras declarações. - Realizadas as citações, abrir-se-á prazo comum de 15 dias para as partes se manifestarem a respeito das primeiras declarações. Estas manifestações serão realizadas nos próprios autos do inventário, indicando o art. 627 o que cabe à parte: a) Alegar eventuais erros, omissões ou sonegações de bens. • Caso essa alegação seja acolhida, haverá a determinação de retificação das declarações prestadas pelo inventariante. b) Manifestar-se contrariamente à nomeação do inventariante. • Poderá ser nomeado novo inventariante, desde que respeitada a ordem legal. ATENÇÃO: Há hipóteses distintas de remoção do inventariante. Naquelas condições do art. 622, exige-se uma determinada conduta para sua destituição. Quanto à previsão do art. 627, II, a discussão estará limitada a uma possível inversão da ordem legal, falta de capacidade ou idoneidade para o exercício da função. c) Contestar a qualidade de quem foi incluído a título de herdeiro. • Em regra, remeterão as partes às vias ordinárias se a questão exigir prova não documental, com o sobrestamento do inventário. Essa decisão tem natureza interlocutória e, portanto, agravável por instrumento. - Concomitante ao prazo para os citados manifestarem sobre as condições das primeiras declarações, à Fazenda Pública – nos termos do art. 627/629 do CPC – caberá informar ao juízo o valor dos bens descritos nas primeiras declarações, o que fará tomando como base os dados que constam de seu cadastro imobiliário. Mesmo que não haja manifestação nesse momento procedimental, a Fazenda Pública poderá divergir posteriormente do valor indicado pelas partes ou obtido em avaliação. - Encerrada essa fase procedimental, o juiz nomeará perito para avaliar os bens do espólio, dando-se preferência ao avaliador judicial nas comarcas em que existir (art. 630 do CPC). Esse trabalho do perito tem como objetivo estabelecer o correto valor da herança, dos quinhões cabíveis aos herdeiros, além do eventual cálculo do imposto causa mortis. ATENÇÃO: De modo específico, o art. 630, parágrafo único do CPC, trata da hipótese de a herança envolver estabelecimentoou quotas de sociedade empresária. Nesse caso, a perícia será obrigatoriamente realizada por perito, mesmo que haja no foro avaliador judicial. IMPORTANTE: A avaliação dos bens do espólio deve seguir as regras de execução de pagar quantia certa. Quanto à possibilidade de segunda avaliação o STJ entende que ela é plenamente possível, cabendo, inclusive, em hipóteses diversas daquelas previstas no art. 873 do CPC, sendo uma delas “o longo transcurso de tempo desde a primeira avaliação”. (AgRg no REsp 1.171.641/SP – 2011). - Apesar da possibilidade de avaliação dos bens do espólio, esta poderá ser dispensada quando todos os herdeiros forem maiores e capazes e houve concordância expressa da Fazenda Pública com os valores indicados na primeira declaração (art. 633 CPC) e/ou quando os sucessores concordarem com os valores indicados pela Fazenda Pública. OBSERVAÇÃO: Caso haja divergência parcial entre os valores indicados pelos sucessores e aqueles indicados pela Fazenda Pública, a perícia terá como objeto somente a parcela controvertida (art. 634 do CPC). - Após a avaliação, as partes serão intimadas para manifestar no prazo comum de 15 dias (art. 635, caput). Caso haja impugnação, decidirá o juiz: a) de plano, caso a impugnação verse apenas sobre o valor dado pelo perito; b) caso a impugnação verse sobre outra matéria que não o valor indicado pelo perito, obrigatoriamente abrirá vista às outras partes e ao próprio perito para que este manifeste sobre a impugnação. IMPORTANTE: Caso haja acolhimento da impugnação, a avaliação realizada pelo perito deverá ser retificada. Igualmente, é importante deixar claro que, por tratar-se de decisão interlocutória, ela é recorrível por agravo de instrumento – art. 1.015, parágrafo único do CPC. - Caso as partes aceitem a avaliação – ou a impugnação seja resolvida – caberá ao inventariante prestar as últimas declarações. Nas últimas declarações estará, efetiva e definitivamente, a herança a ser partilhada entre os herdeiros. Aqui, deverão as partes serem intimadas para manifestar sobre as últimas declarações no prazo de 15 dias (art. 637, CPC), cabendo ao juiz a solução de plano de eventuais controvérsias. Novamente, estaremos diante de uma decisão interlocutória, o que a fazer ser recorrível por agravo de instrumento. - Após as partes serem ouvidas sobre as últimas declarações, preceder-se-á ao cálculo do imposto de transmissão causa mortis. Ao realizar o cálculo, abrir-se-á prazo de 5 dias sucessivos para as partes e depois para a Fazenda Pública. Colação - Este instituto está regulamentado no direito material (art. 2.002 a 2.012) e diz respeito ao instituto jurídico que tem por objetivo igualar as legítimas, obrigando os descendentes e donatários a trazer ao inventário os bens recebidos em doação. - Como entre os herdeiros necessários não deve existir diversidade de quinhões, deve-se aditar o patrimônio do de cujus, trazendo de volta ao montante total, os bens que foram objetos de doação em vida aos seus descendentes. Até mesmo aquele herdeiro que renunciou à herança ou que foi excluído deverá trazer à colação os bens recebidos por doação (art. 640 do CPC). - O objetivo, como dissemos, é igualar a legítima, uma vez que se presume que houve adiantamento da herança. A legitimidade ativa para a ação de sonegados é dos herdeiros necessários. - No prazo de 15 dias após a citação, caberá ao donatário – aquele que recebeu a doação – reconstituir o acervo hereditário, com o fim de igualar a legítima. Essa reconstituição do acervo poderá ser feita por meio da restituição do(s) bem(ns) ao acervo hereditário – chamada de colação in natura – ou poderá o donatário fazer a colação da soma correspondente ao valor do bem, quando não estiver mais em posse ou quando não quiser dele se desfazer. OBSERVAÇÃO: Há uma divergência quanto ao valor a ser informado sobre o bem que não será colacionado in natura. O Código Civil (art. 2.004), determina que o valor informado seja aquele determinado no ato da liberalidade; lado outro, o art. 639, parágrafo único do CPC, prevê que o cálculo seja feito com base no valor ao tempo da abertura da sucessão. Para resolver a questão, o STJ tem se posicionado no sentido de que seja realizado perícia nos bens doados para apuração do valor atual, especialmente por haver uma diferença e desvalorização do bem quando o cálculo realizado remete ao tempo da liberalidade. ATENÇÃO: Caso o herdeiro não realize espontaneamente a colação, o juiz poderá decidir a questão no próprio inventário. Havendo a necessidade de produção de outras provas, as partes resolverão a questão pela via ordinária, ficando o herdeiro que não realizou a colação, impedido de receber seu quinhão hereditário enquanto não prestar caução com valor correspondente ao bem a ser restituído. - A ação autônoma cabível para discussão dos bens não trazidos à colação denomina-se: “Ação de Sonegados” – cujo prazo prescricional é de 20 anos a contar do registro do ato jurídico impugnado. - Caso a decisão ocorra no próprio inventário, por ser decisão interlocutória, caberá agravo de instrumento. Além disso, após a decisão no próprio processo, a parte terá prazo improrrogável de 15 dias para fazer a conferência desses bens, razão pela qual, caso haja resistência em atender a ordem judicial, poderá ser decretado o sequestro do bens – caso o herdeiro ainda possua – ou que o valor correspondente seja imputado ao quinhão do donatário. Sonegação - Haverá sonegação quando um herdeiro maliciosamente oculta um bem do inventário ou da colação, ato que naturalmente gera um prejuízo aos demais herdeiros. Entretanto, para configuração da sonegação é necessário que haja dois elementos: • Objetivo: Representado pela ocultação dos bens • Subjetivo: Representado pela intenção de prejudicar o ocultador. - O ônus da prova cabe à parte que alega ter ocorrido fraude e má-fé por parte do ocultador. Isso porque, para que haja a aplicação de eventual penalidade, deverá ser demonstrada a má-fé, uma vez que a sonegação somente é caracterizada por aquele que a pratica com intenção de prejudicar. - Nesse sentido, é importante destacar que a pena imposta ao sonegador é a perda do direito sucessório em relação ao objeto sonegado OU se o bem não mais estiver em poder do sonegador, terá que pagar ao espólio valor acrescido de perdas e danos. OBSERVAÇÃO: Caso o sonegador seja o inventariante, além dessa sanção, isto é, perda do direito sucessório em relação ao bem sonegado, ele será removido da inventariança. IMPORTANTE: Mitidiero (2020) indica que a sonegação de bens deve ser arguida em via própria (por meio da chamada AÇÃO DOS SONEGADOS), a ser iniciada por herdeiro ou por credor do espólio (art. 1994 do CC/02). Observe que essa ação somente poderá ser promovida contra o inventariante APÓS o encerramento da descrição dos bens, isto é, após a fase de últimas declarações, já que a partir desta declaração estabelece-se a presunção de que não há outros bens a partilhar; poderá ser promovida, ainda, em face de herdeiro quando este declarar não possuir bens abrangidos pelo inventário ou passíveis de colação. ATENÇÃO: Feito tramitará pelo rito comum, tendo a prescrição em dez anos (art. 205 CC/02). Pagamento das Dívidas - Como dissemos, as dívidas não desaparecem com a morte, sendo transferidas aos herdeiros do devedor, que responderão por elas nos limites da herança. Até a realização da partilha, poderá o credor cobrar do espólio, porém, verificada a partilha, o credor deverá ingressar com uma ação em desfavor dos herdeiros, nos limites de seus quinhões. - Nesse sentido, poderão os credores (art. 642) ANTES DA PARTILHA peticionar no processo de inventário, comprovando por prova literal a dívida (prova documental), sendo tal petição autuada em apenso. Aqui, admitem-se dívidas vencidas ou ainda não vencidas, hipótese em queo pagamento apenas será realizado após o vencimento, entretanto, poderá ser reservada uma parcela dos bens para a satisfação do direito do credor. - Caso haja concordância das partes com o pagamento, o juiz habilitará o credor, determinando a separação do dinheiro para o pagamento OU de bens suficientes para a satisfação do seu direito. - Em contrapartida, caso não haja concordância de todas as partes, o pedido será remetido às vias ordinárias, reservando-se em poder do inventariante bens suficientes para o pagamento do credor desde que a dívida conste de documento que comprove suficientemente a obrigação e a impugnação não esteja fundada em quitação. Herdeiro Preterido - Eventualmente, poderá um herdeiro ser preterido, isto é, ser indevidamente deixado de fora do rol dos herdeiros. Assim, se porventura tomar conhecimento do inventário, poderá pedir seu ingresso por meio de uma “simples petição”, desde que o faça até a concretização da partilha. - Caso a pessoa só tome conhecimento após a realização da partilha, poderá ingressar com ação ordinária contra os herdeiros aquinhoados e pedir a anulação da partilha nos termos do art. 657 e 658. Em sendo o pedido realizado pelas vias ordinárias, o suposto herdeiro preterido proporá AÇÃO DE PETIÇÃO DE HERANÇA, para ver reconhecida sua condição de herdeiro e, consequentemente, seu direito ao quinhão, devendo o quinhão que tocaria a esse herdeiro preterido ser reservado até o julgamento do litígio. IMPORTANTE: Caso o pedido de ingresso seja feito no próprio inventário, as partes deverão ser ouvidas no prazo de 15 dias (art. 628, § 1º) e, após o seu transcurso, o juiz decidirá sobre a questão. Por ser uma decisão interlocutória, será recorrível por agravo de instrumento. OBSERVAÇÃO: Há entendimento doutrinário (Assumpção, 2020) que apenas o possível deferimento do pedido justifica a oitiva das partes, já que a aceitação de mais um herdeiro prejudicará os outros, haja vista que haverá mais sujeitos a partilhar a herança. Assim, em caso de indeferimento, poderá o magistrado não ouvir as outras partes – nos termos do art. 9º, caput do CPC – já que a decisão a elas beneficia. ATENÇÃO: Há uma questão interessante levantada pela doutrina. Na hipótese de todos os herdeiros presentes no processo concordarem expressamente com o pedido do terceiro, poderá o juiz indeferir o pedido caso entenda que o terceiro não tem a qualidade de herdeiro? R: Majoritariamente entende a doutrina que a qualidade de herdeiro está também vinculada à legitimidade de participar do processo, de forma que ainda que haja anuência expressa de todos os herdeiros caberá o indeferimento do pedido caso o juiz interprete faltar aos terceiro essa legitimidade para participar no processo de inventário. OBSERVAÇÃO: Se a questão da qualidade de herdeiro envolver a necessidade de prova de natureza diversa da documental, o juiz remeterá as partes para as vias ordinárias, porém, ao fazê-lo, o juiz reservará em poder do inventariante, o quinhão do herdeiro excluído até que se decida sobre a sua intervenção no processo. Partilha - Há três espécies de partilha: amigável, judicial e em vida. Assim, sempre que existir acordo entre todos os sucessores, a partilha será amigável. Quanto a partilha em vida, a única observação necessária é que esta não pode prejudicar a legítima dos herdeiros necessários. - Diferentemente dessas outras, a partilha judicial resolve-se por sentença e esta somente será dada quando existir divergência entre os sucessores. - Para que haja essa partilha por sentença, deve o juiz, de acordo com o art. 648, realiza- la seguindo regras objetivas, isto é, atentando-se para 1) a máxima igualdade possível entre os herdeiros, quanto aos bens, valores; 2) a prevenção de litígio futuros; 3) a máxima comodidade dos herdeiros, cônjuges ou companheiros. 1º Requisito: Quanto ao primeiro requisito, isto é, máxima igualdade possível, não significa que os quinhões devam ser idênticos, nem mesmo quanto ao valor. O que se propõe é uma igualdade material, isto é, além do valor dos bens, deverão ser levados em consideração a liquidez, a perspectiva de valorização, localização e utilização para o herdeiro, por exemplo. 2º Requisito: Quanto à prevenção de litígios futuros, deve o juiz evitar que a partilha institua servidões ou que herdeiros em situação de conflitos tornem-se condôminos. 3º Requisito: Quanto a comodidade, trata-se de elemento vinculado à utilidade do bem para cada herdeiro, ou seja, que o herdeiro que já ocupa determinado bem imóvel nele permaneça. - Apesar do estabelecimento desses requisitos, pode haver bens que não permitam uma divisão cômoda, o que provocará uma licitação entre os herdeiros e, caso nenhum se manifeste interessado em sua aquisição, haverá alienação com a consequente partilha do produto entre todos eles. - Ainda que não seja o objetivo, os herdeiros poderão concordar com a adjudicação do bem em favor de todos, formando condomínio entre eles. Entretanto, é importante deixar claro que – tanto o CPC quanto o CC – tendem a evitar a formação de condomínio entre sucessores, especialmente pela alta probabilidade de gerar litígio futuro. - Após todo esse procedimento, inclusive com a separação do quinhão hereditário para o nascituro, se houver, os autos serão encaminhados ao partidor do juízo que organizará o esboço da partilha. Este esboço seguirá a decisão da deliberação da partilha, observando a seguinte ordem: 1) pagamento das dívidas atendidas; 2) meação do cônjuge; 3) meação disponível; 4) quinhões hereditários, iniciando-se pelo herdeiros mais velho – o que não significa hierarquia ou preferência entre herdeiros, mas sim uma forma de organizar. - Transcorrido o prazo após decisão proferida (decisão essa recorrível por apelação) e havendo o trânsito em julgado da decisão, os herdeiros receberão os bens e o formal de partilha, sendo que o formal de partilha é o documento – título – para a transcrição no Registro Imobiliário, valendo também como título executivo judicial entre os herdeiros, sucessores e inventariante para exigir o cumprimento de obrigações de pagar e entregar coisas. OBSERVAÇÃO: Caso os bens sejam de pequeno valor, ou seja, não excedam a quantia de 5 vezes o salário mínimo, não haverá a expedição de formal de partilha, mas sim de mera certidão indicando a existência desses bens. ATENÇÃO: Caso haja interesse em desconstituir partilha já transitada em julgado, a parte interessada poderá valer-se de dois mecanismos, a depender da espécie da partilha. 1ª Forma de Desconstituição: Caso a partilha tenha sido amigável, a sentença meramente homologatória do acordo de vontade entre as partes será desconstituída por meio de ação anulatória, nos termos do art. 657 do CPC. 2ª Forma de Desconstituição: Caso a partilha tenha sido judicial, a sentença que homologou a partilha será desconstituída após o trânsito em julgado por meio de ação rescisória, nos termos do art. 658 do CPC.
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