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FACULDADE FUTURA MULTICULTURALISMO E DIREITOS HUMANOS VOTUPORANGA – SP http://faculdadefutura.com.br/ 1 15 DIREITOS HUMANOS, CIDADANIA E DEMOCRACIA Fonte: www.ibradd.org.br É no período pós-guerra que surge o Direito Internacional dos Direitos Humanos como uma tentativa de situar os direitos fundamentais na base da ordem internacional contemporânea. Para que esse objetivo fosse alcançado, seria necessária uma universalização e internacionalização desses direitos, ou seja, a questão dos Direitos Humanos deveria ir além das fronteiras dos Estados Nacionais. Esse processo de internacionalização acabou gerando o surgimento de um sistema normativo internacional, voltado para a proteção e amparo dos direitos fundamentais. O sistema internacional de proteção dos direitos humanos dialoga com os sistemas nacionais para a garantia e o respeito aos direitos e às liberdades fundamentais dos indivíduos. Todavia, se o Estado se torna negligente frente ao compromisso de promoção dos Direitos Humanos, o sistema internacional possui legitimidade para cobrar desses Estados. Essa legitimidade tem lugar, sobretudo, quando se estabelece uma efetiva relação do Estado Nacional com a ordem internacional, no sentido de garantia dos direitos fundamentais. De outra maneira: quando o Estado aceita o aparato internacional. Nessa perspectiva, a intervenção internacional é uma medida que reflete apenas em um auxílio ou em um complemento à proteção interna desses direitos. O processo de internacionalização dos direitos humanos desencadeia a democratização do cenário internacional, uma vez que surge a sociedade civil 2 internacional, composta por organizações não governamentais e por indivíduos, que passam a poder acionar órgãos internacionais em casos de violação dos direitos humanos. Por essas razões, a dimensão da cidadania no exercício de garantia dos direitos humanos, sobretudo no plano internacional, sugere que o favorecimento do acesso às Cortes internacionais a indivíduos ou grupos organizados, não só contribui para a efetivação dos direitos humanos, como se realiza, propriamente, o entendimento de que o sistema internacional de proteção desses direitos envolve um sistema legal juridicamente vinculante, podendo ser exigível, portanto, diretamente pela cidadania. É preciso, no entanto, refletir sobre como a proteção dos direitos humanos costuma se realizar no interior de ordenamentos jurídicos internos dos Estados democráticos e, sobretudo para os objetivos deste trabalho, na democracia brasileira. As declarações francesas de 1789 e americana de 1776, no início da idade contemporânea, trazem a ideia de cidadania apoiada em um discurso liberal, em que os direitos fundamentais se relacionavam à ideia de liberdade, segurança e propriedade. Estabeleciam, desse modo, os direitos civis e políticos. Já no período entre guerras, surge a preocupação com o discurso social da cidadania, sendo valorizada a ideia de igualdade (na dimensão dos direitos sociais e econômicos), como uma tentativa de eliminar a exploração econômica conforme tratava a Declaração dos Direitos do Povo Trabalhador e Explorado de 1918, da extinta República Soviética Russa. A separação entre os direitos civis e políticos e os direitos sociais acerca da cidadania tem fim com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948. Aquele texto reúne todos os tipos direitos fundamentais, que agora não podem mais ser pensados isoladamente. Além disso, a Declaração Universal estabelece que os Direitos Humanos são universais e inerentes aos seres humanos. Somando esses dois aspectos, a Declaração de 1948 traz a concepção contemporânea de cidadania. Representando uma nova dimensão sobre o que passa a ser um sujeito de direito: a partir de então, se fala em categorias de direitos, segundo suas condições particulares. Nessa linha, ganha relevo discussões sobre os direitos das mulheres, dos grupos raciais e de quaisquer sujeitos que costumam ser discriminados ou constitua alguma espécie de minoria que precise de uma dimensão de afirmação de seus direitos. É preciso pensar, nesse cenário, se a Constituição brasileira de 1988 3 acolhe essa nova dimensão de cidadania, tal como descrita. A Constituição brasileira adota a indivisibilidade dos direitos humanos. Ou seja, ela proclama ser inconcebível separar os direitos civis e políticos dos direitos sociais, econômicos e culturais. Nesse quesito, ela atende a concepção de cidadania que se delineou. No que diz respeito ao alcance universal dos Direitos Humanos, a Carta de 1988 também está em consonância com a concepção contemporânea de cidadania, tendo em vista que seu texto afirma que todos são iguais e que os direitos fundamentais são inerentes à pessoa humana. A Constituição brasileira também concebe os direitos fundamentais como um tema de interesse internacional. Além disso, a ordem constitucional estabelecida em 1988 acolhe aquela nova dimensão de sujeito de direito, concreto e categorizado, segundo suas particularidades. Em seu texto, fica clara a divisão em capítulos dedicados a categorias como idosos, crianças e adolescentes, direitos dos índios, entre outros, dessa maneira propondo um tratamento específico para esses grupos. Dessa forma, a Constituição brasileira parece dialogar fortemente com essa nova dimensão de sujeito de direito internacional, e propriamente com a nova concepção de cidadania, tal como apresentada. Para além disso, é possível analisar a responsabilidade do Estado na consolidação da cidadania brasileira observando três elementos essenciais da ideia de cidadania no cenário da discussão sobre Direitos Humanos, refletidos na Constituição brasileira: a indivisibilidade e a universalidade da ideia de direitos humanos, e a característica de especificidade dos sujeitos de direito. A Constituição brasileira assegura todos os tipos de direitos fundamentais e garante a efetividade de seus preceitos. Por essa razão, a todos esses direitos são assegurados a mesma garantia de proteção na ordem jurídica interna. A Carta de 1988 também estabelece o princípio da aplicabilidade imediata dos direitos fundamentais, dessa forma vinculando os Poderes Públicos ao dever de promover esses direitos de forma plena e efetiva. Quanto à universalidade dos direitos fundamentais, o Estado brasileiro leva isso em consideração em relação a todos os indivíduos. Além disso, o país é obrigado a observar plenamente na ordem interna os acordos internacionais firmados que tratam dos direitos e garantias fundamentais e que foram ratificados pelo Estado brasileiro. Uma reflexão sobre Direitos Humanos, sobretudo quando se pensa a democracia brasileira e seu passado (recente) de autoritarismo, passa pela 4 necessidade de se analisar a responsabilidade do Estado na consolidação da cidadania no Brasil. A Constituição Federal de 1988 é considerada, por muitos, um marco da transição democrática e da institucionalização dos direitos humanos no Brasil26, importando, desse modo, em uma redefinição do Estado e dos direitos fundamentais no país, após longos vinte e um anos de ditadura militar. A importância com o bem-estar social e a preservação da dignidade humana é tão expressiva que a Constituição eleva os direitos e garantias fundamentais ao patamar de cláusulas pétreas. A Carta de 1988 inova ao extrapolar os limites dos direitos individuais e tutelar também os direitos coletivos (direitos que se aplicam a classes ou categorias sociais). Além disso, ela estabelece a aplicabilidade imediata das normas que dizem respeito aos direitos fundamentais. Aquilo que Flávia Piovesan chama de um “constitucionalismo concretizador dos direitos fundamentais”.29 Os direitos sociais também são tratados na Constituição com a mesma dimensão. O artigo 6º da Constituiçãoestabelece uma série de direitos, como à educação, à saúde e ao trabalho, entre outros. Não obstante, o importante é ressaltar que a Constituição estabelece “uma ordem social com um amplo universo de normas que enunciam programas, tarefas, diretrizes e fins a serem perseguidos pelo estado e pela sociedade”.30 Por outro lado, além da ordem social, a Constituição de 1988 também estabeleceu uma ordem econômica, marcada pelo intervencionismo estatal em prol do bem-estar social. Isto corresponderia, em linhas gerais, ao modelo de “Estado de Bem-Estar Social. 16 CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS HUMANOS E SUA RELAÇÃO COM O ESPAÇO ESCOLAR Direitos humanos é uma expressão que abrange diversas concepções e abordagens em torno de um conjunto de direitos que fazem parte da própria natureza humana e da dignidade a ela inerente. A proteção a tais direitos é resultado de um lento processo histórico que foi se reconhecendo legislativamente a partir dos imperativos sociais postos ao longo do tempo. No entanto, ressalte-se que este processo ainda está em evolução, tendo em vista que em algumas sociedades ainda se identificam poucos avanços em relação 5 aos direitos humanos. Bobbio (2004) destaca que os direitos humanos são históricos, modificáveis, suscetíveis de constante transformação e alargamento de seus horizontes, relacionando-se à própria civilização humana em seus diferentes níveis sociais de desenvolvimento. Dessa forma, torna-se essencial discutir acerca deste conceito para que se possa compreendê-lo em sua amplitude diante das constantes transformações histórico-sociais, bem como sua relação intrínseca com a educação. Fonte: www.patriciapaulausp.blogspot.com.br Os direitos humanos podem ser definidos como um conjunto de instituições que concretizam, em cada tempo histórico, as necessidades sociais relacionadas à sua dignidade. Tais necessidades devem ser reconhecidas positivamente pelo ordenamento jurídico conferindo a estes direitos o caráter de universalidade. Nesse sentido, Pérez Luño (1999, p. 48) leciona que os direitos humanos são um “[...] conjunto de faculdades e instituições que, em cada momento histórico, concretiza as exigências da dignidade, da liberdade, da igualdade humana”. No entanto, embora o reconhecimento dos direitos humanos e sua consequente positivação em algumas regulamentações, como a Declaração Universal dos Direitos do Homem, tenham se expandido ao longo dos anos, ainda se vislumbram constantes afrontas a tais direitos evidenciando-se a necessidade de constante observância dos dispositivos postos visando o respeito e a garantia de proteção a todos em suas diversidades. Para Gorczevski (2005), os direitos humanos são universais, absolutos e inerentes ao homem, não dependendo de concessão por parte do Estado, entretanto, 6 apesar de inerentes à natureza humana, o “[...] seu reconhecimento e proteção é o resultado de um longo processo histórico, que ocorreu de forma lenta e gradual, passando por várias fases e, eventualmente, com alguns retrocessos”. Os direitos humanos trazem o sentido de igualdade entre os sujeitos ao representarem o reconhecimento de que todos são dignos do mesmo respeito, independentemente de diferenças biológicas ou sociais. Não há, pois, distinção entre os sujeitos de direitos. Ainda que não se identifique um conceito único de tais direitos, pode-se indicar um núcleo central comum: a ideia de universalidade. Esta característica de universalidade é essencial para se chegar à uma definição de direitos humanos, pois, sem atribuir a estes o caráter de universalidade, corre-se o risco de criarem-se fragmentações em sua titularidade, concebendo-se a existência de direitos cabíveis apenas a determinados grupos sociais. Assim, falar que os direitos humanos apresentam a característica da universalidade, significa dizer que os mesmos são inerentes a todos os homens, pelo simples fato de serem humanos, em todas as épocas e espaços sociais, devendo ser respeitados indistintamente. Nesse contexto, a lei escrita positiva tais direitos, tornando-se igualmente aplicável a todos. Segundo Gorczevski (2009) os direitos humanos constituem-se em valores superiores existentes no mundo axiológico concretizados por meio dos direitos fundamentais positivados. Tem-se, portanto, a necessidade de evidenciar a distinção entre direitos fundamentais e direitos humanos, tendo em vista as constantes concepções de serem termos sinônimos. Os direitos humanos são direitos naturais cabíveis a todos os homens, independente de nacionalidade, enquanto que os direitos fundamentais se referem à positivação destes direitos nos respectivos ordenamentos jurídicos pátrios. Pode-se afirmar que os direitos fundamentais nascem da positivação dos direitos humanos, significa a consolidação dos direitos naturais do indivíduo na ordem jurídica positiva. A positivação por meio da letra da lei constitui-se em maior garantia ao sujeito, tendo em vista a concretização da tutela jurídica destes direitos pelo Estado, que assume o dever de observá-los e respeita-los como fundamento da igualdade e respeito aos seus cidadãos. No entanto, apesar da existência de inúmeros instrumentos internacionais de proteção aos direitos humanos, estes ainda são constantemente violados desencadeando situações de violência e caos social em algumas situações. As condições mínimas para a existência digna são comumente inobservadas, direitos 7 fundamentais como a vida e a liberdade são desrespeitados pelos próprios sujeitos, destacando-se ainda as situações de omissão e afronta aos direitos humanos pelo próprio Estado como na deterioração do meio ambiente, na desigualdade social, no desemprego e na omissão diante da criminalidade (RAYO, 2004). O respeito aos direitos humanos é, portanto, indispensável à sobrevivência do próprio homem no planeta, observando-se que não nos são dados pelo Estado ou construídos a partir da luta de terceiros, mas são construídos pelo cotidiano social. Estes direitos acompanham a evolução social, sendo alvo de contínuas mudanças e refletindo as lutas e necessidades dos sujeitos. Dessa forma, estes direitos precisam de instrumentos que colaborem na sua conscientização para uma efetiva aplicabilidade dos mesmos. A educação é certamente um dos instrumentos mais poderosos de consolidação dos direitos humanos. Como prática social, a educação em direitos humanos constitui-se em política transformadora da sociedade e do homem, trazendo em si a possibilidade de superação de fenômenos como a pobreza, a violência, a desigualdade e a exclusão social. Assim, o processo educativo traz em si a potencial formação humana e promoção dos direitos humanos. A educação constitui-se em instrumento que possibilita a promoção dos direitos humanos, visto que é parte integrante da dignidade humana por formar e conscientizar socialmente o indivíduo para o exercício pleno de sua cidadania. Pode-se dizer que a educação é pressuposto fundamental para o indivíduo realizar-se plenamente como ser humano na sociedade. Em se tratando de direitos humanos a educação assume papel considerável, pois abrange a função de humanizar o humano (SAVIANI, 1989). No entanto, educar não se trata apenas de depositar ou transmitir conteúdos dissociados da realidade vivenciada pelo aluno, esta prática, reconhecida por Freire (1997) como “educação bancária”, ainda predomina no sistema educativo formal pátrio e não colabora na emancipação dos indivíduos. Dessa forma, ao evidenciar o papel preponderante da educação na consolidação dos direitos humanos faz-se necessário destacar que aquela se refere a um processo educativo crítico, participativo, que visa a superação dos contextos de alienação e opressão a que estão submetidos os sujeitos no contexto capitalista. Este processo, que habilita o indivíduo para a conscientização docontexto sóciohistórico em que vive e seu consequente questionamento, perpassa https://jus.com.br/tudo/desemprego https://jus.com.br/tudo/desemprego 8 necessariamente pelo estudo e reflexão constante da temática relativa aos direitos humanos. A educação para os direitos humanos deve contribuir: • Para o fortalecimento do respeito aos direitos e liberdades fundamentais do ser humano. • Ao pleno desenvolvimento da pessoa humana e sua dignidade; a prática da tolerância, do respeito à diversidade de gênero e cultura, da amizade entre todas as nações, povos indígenas e grupos raciais, étnicos e religiosos. • E a possibilidade de todas as pessoas participarem efetivamente de uma sociedade livre. Assim, os princípios da igualdade e da não discriminação devem nortear a educação em direitos humanos de maneira que, neste contexto, desenvolvam-se atividades que considerem a experiência e o contexto social vivenciado pelos alunos, permitindo que os mesmos compreendam e atendam às suas necessidades a fim de buscar as devidas soluções compatíveis com o ordenamento jurídico na garantia de proteção aos direitos humanos. Dessa forma, estabelece-se um processo educativo que visa não apenas a transmissão de conteúdos técnicos a fim de capacitar o aluno para o mercado de trabalho, mas, antes de tudo, busca-se prepará-lo para a vida, para a construção de uma cultura onde prevaleça o respeito a todos em suas diversidades. O sistema educacional posto não contribui com a construção desta cultura quando aceita as desigualdades sociais como naturais, legitimando as diferenças de classe, raça, gênero, etnia, dentre outras, executando o processo de reprodução das diferenças sociais em sala de aula e promovendo a exclusão. Faz-se necessário suscitar um exercício contínuo de reflexão crítica que ofereça aos alunos condições de posicionarem-se como sujeitos ativos no processo educativo. Nesse sentido, desenvolveram-se regulamentações nacional e internacionalmente a fim de efetivar a educação em direitos humanos. Em 2003 iniciou-se a elaboração do I Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH). Em 2005 foram realizados encontros estaduais para difundi-lo, que resultaram em contribuições da sociedade para aperfeiçoar também o https://jus.com.br/tudo/direitos-humanos https://jus.com.br/tudo/direitos-humanos https://jus.com.br/tudo/direitos-humanos https://jus.com.br/tudo/direitos-humanos 9 documento. Em 2004, a Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou o Programa Mundial de Educação em Direitos Humanos com o objetivo de avançar na implementação de programas de educação em direitos humanos, bem como na promoção de ações e fortalecimento de parcerias desde o nível internacional até os níveis locais. 17 PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS (PNEDH) Fonte: www.edu-cacao.blogspot.com.br No Brasil, em 1996, foi instituído o Programa Nacional de Direitos Humanos - PNDH I, com o objetivo de identificar os principais obstáculos à promoção e defesa dos direitos humanos, promovendo o planejamento de políticas para a efetivação dos atos internacionais sobre direitos humanos. Mais tarde, em 2002, promulga-se o Decreto nº 4.229, conhecido como Programa Nacional de Direitos Humanos II - PNDH II, ampliando as atribuições e criando propostas de ações governamentais. No programa reformulado há a inclusão dos direitos sociais, econômicos e culturais, preocupando-se com as propostas capazes de ter uma concretude com as políticas públicas e a destinação de recursos para sua execução (GORCZEVSKI; KONRAD, 2013). O enfoque da educação em direitos humanos é interdisciplinar, não podendo restringir-se à mera reprodução de conteúdo curriculares pré-estabelecidos, mas deve promover uma cultura de consolidação dos direitos humanos de maneira que todas https://jus.com.br/tudo/direitos-humanos https://jus.com.br/tudo/direitos-humanos http://www.edu-cacao.blogspot.com.br/ http://www.edu-cacao.blogspot.com.br/ 10 as disciplinas assumam o compromisso de efetivar os valores humanos visando maior participação e emancipação dos alunos no contexto social em que vivem. Destaque-se que a educação em direitos humanos deve iniciar-se nos primeiros anos de inserção escolar estendendo-se por todos os níveis de ensino, ela abrange a instituição educativa e a comunidade em se insere como um todo, não se restringindo à sala de aula, tendo em vista que os valores incentivados neste processo educativo devem consolidar-se na comunidade em sua totalidade e não apenas na escola, concebida de forma fragmentada. Mais ainda, a educação para os direitos humanos deve estar voltada para o desenvolvimento de valores e de atitudes de solidariedade, que levem ao comprometimento e a mudança das práticas sociais que garantam a efetividade dos direitos humanos. A educação é decisiva para a promoção dos direitos humanos ao motivar um processo emancipatório, que busque instrumentalizar os educandos para exercer os direitos que lhe são assegurados pelos instrumentos jurídicos. Deve-se ter em conta que, para que se efetive uma educação em direitos humanos, faz-se necessário que o conhecimento construído se relacione com a realidade na qual o indivíduo está inserido, para que o saber possa fazer sentido. Neste processo educativo o papel do professor é essencial, observando-se a superação da reprodução de conteúdo para a construção de uma relação dialógica entre professor e aluno, abrindo-se espaço para a problematização dos conteúdos e a reflexão crítica na compreensão da relação destes com a realidade. A problematização dos conteúdos é um elemento essencial na construção da educação em direitos humanos. É esta problematização que conduz à criticidade em relação aos conteúdos postos, levando os alunos a pensarem-se como homens inconclusos. Contudo, esse pensamento não se faz possível pela prática bancária de ensino, uma vez que a palavra e o diálogo se fazem necessários para essa compreensão, na medida em que é através delas que o sujeito consegue “emergir” de dentro do ambiente no qual vive para, a partir daí, identificar quais os problemas que se apresentam e, então, buscar a superação de suas situações geradoras. Ademais, a educação problematizadora é um esforço permanente através do qual os homens vão percebendo-se criticamente no mundo (FREIRE, 1996). Dessa forma, a educação em direitos humanos promove, essencialmente, a formação de uma cultura de respeito à dignidade humana, através da vivência de atitudes, hábitos, comportamentos e valores como igualdade, solidariedade, 11 cooperação e tolerância. Nesse sentido, a educação constitui-se em meio de formação de sujeitos capazes de desvelar criticamente o mundo das injustiças e práticas que ferem a dignidade humana e de engajar-se ativamente para a transformação social. O papel da educação em direitos humanos é criar condições de conhecimento e transformação da consciência sobre o contexto sócio histórico e cultural em que os indivíduos se inserem, criando condições de questionamento crítico e transformação social por meio do processo educativo reflexivo. Ressalte-se que este papel não é exclusivamente do Estado, tendo em vista que, a formação de indivíduos éticos, solidários, comprometidos com a justiça social e os direitos humanos requer o engajamento de toda a sociedade, de modo que cada cidadão assuma a sua quota de responsabilidade. Assim, educar em direitos humanos é “[...] criar uma cultura preventiva, fundamental para erradicar a violação dos mesmos. Com ela conseguiremos efetivamente dar a conhecer os direitos humanos, distingui-los, atuar a seu favor e, sobretudo, desfrutá-los” (GORCZEVSKI, 2009, p. 221), sendo, portanto, imprescindível para o desenvolvimento do Estado e da formação humana. 18 OS DIREITOS HUMANOS NA HISTÓRIA 18.1 Antiguidade Iniciandonosso estudo pelo período Axial, K. JASPERS, analisou o nascimento espiritual do ser humano, afirmando que tal período, (...) se situaria no ponto de nascimento espiritual do homem, onde se realizou de maneira convincente, tanto para o Ocidente como para a Ásia e para toda a humanidade em geral, para além dos diversos credos particulares, o mais rico desabrochar do ser humano; estaria onde esse desabrochar da qualidade humana, sem se impor como uma evidência empírica; seria, não obstante, admitido de acordo com um exame dos dados concretos; ter-se-ia encontrado para todos os povos um quadro comum, permitindo a cada um melhor compreender sua realidade histórica. 12 Ora este eixo da história nos parece situar-se entre 500 a.C. no desenvolvimento espiritual que aconteceu entre 800 e 200 anos antes de nossa era. É aí que se distingue a mais marcante cesura na história. É então que surgiu o homem com o qual convivemos ainda hoje. Chamamos breve essa época de período axial. A partir desse período que o ser humano passa a ser considerado como ser dotado de liberdade, razão em sua igualdade essencial e nas múltiplas diferenças de sexo, raça, religião e costumes sociais. Essa nova visão do ser humano se deu devido as várias conquistas realizadas nesse período. Veremos abaixo, os acontecimentos mais relevantes que contribuíram para essa evolução. 18.2 Conquista da Babilônia No início da civilização humana os primeiros Estados constituíam sua ordem interna através da religião. Nesse tempo as leis eram elaboradas e apresentadas aos súditos pelos sacerdotes que afirmavam tê-las recebido diretamente dos Deuses, os quais conferiam autoridades a essas regras para que todos obedecessem. E assim ocorreu na Babilônia em 1700 a.C. O rei Hamurabi recebeu do Deus “Shamash”, o Deus do sol e da justiça, um conjunto de leis, que o obrigava a aplicá-la ao povo da Babilônia. Consequentemente, o indivíduo que a infringisse, estaria desobedecendo a Lei Divina e seria submetido aos terríveis castigos impostos por essa lei. Fonte: www.quersaberdequer.blogspot.com.br 13 Além desses castigos cruéis, o Código de Hamurabi, pregava o ‘olho por olho e dente por dente’, proibia os súditos de escolherem suas religiões, desfavoreciam determinadas classes trazendo vantagens em detrimento de outras, e ainda, mantinham pessoas como escravas. Diante disso, no ano de 550 a. C, Ciro, o Rei da Persa, insatisfeito com as atrocidades cometidas pelo Império da Babilônia, resolveu reunir sua pequena tropa e tomar o poder para libertar o povo. Então, Ciro fez algo completamente revolucionário. Com base na estratégia de conquista e tolerância, anunciou que todos os escravos eram livres e estabeleceu a liberdade de religião. Além de agradar a sociedade, esse comportamento de Ciro fez com que as pessoas aceitassem seu governo sem qualquer ato de rebeldia. Essas conquistas foram registradas em um tablete de barro conhecido como Cilindro de Ciro. Tornou-se um documento de grande importância para os Direitos Humanos, pois para alguns autores, foi a primeira carta de Direitos Humanos da história. O Cilindro de Ciro, basicamente, associava o Rei Ciro com um Deus chamado Marduk. Demonstrava que esse Deus estava insatisfeito com o Rei anterior, e que por esse motivo, resolveu colocar Ciro para Governar seu povo por ser considerado um Rei mais correto. Na verdade, o escopo do Rei Persa era buscar a paz universal e evitar qualquer desejo de vingança, para que pudesse dar continuidade ao seu governo. Dessa forma, acreditavam que a única forma de alcançar esse objetivo era construir um Império Universal, concedendo liberdade individual e religiosa. Fonte: www.penapensante.com.br 14 Inspirado nesses princípios, Ciro partiu para novas conquistas expandindo seu império. A Persa tornou-se muito extensa, compreendendo os atuais países: Irã, Iraque, Síria, Líbano, Jordânia, Israel, Egito, Turquia, Kuwait, Afeganistão, parte do Paquistão, parte da Grécia e da Líbia. Sua existência manteve-se por mais de duzentos anos até a conquista definitiva por Alexandre, O Grande em 332 a. C. Ciro foi um imperador que deixou um legado sobre a arte da liderança, no qual a administração embora centralizada, tinha como foco trabalhar para o proveito de seus súditos. 18.3 O Império Romano Dando seguimento ao contexto histórico, em Roma, por volta do ano de 509 a.C, os abusos dessas leis ditas Divinas, começaram a incomodar o povo, provocando a desconfiança de que ao invés dos Deuses, havia por de trás dessas leis, indivíduos interessados em obter proveitos. Foi então que os súditos começaram a exigir que as leis fossem feitas pelos homens e não pelos Deuses. Nesse período, Roma dividia-se em dois grupos sociais: os Patrícios e os Plebeus. Os Patrícios eram a classe privilegiada da sociedade que era sustentada pelos Plebeus. Mas, isso logo mudou, os Plebeus estavam cansado dessa situação e então deram início a uma revolta que alterou profundamente o sistema legal romano. Revoltados, os Plebeus se juntaram e se deslocaram para um local chamado Monte Sagrado. Nesse local fundaram um Estado independente e abandonaram os Patrícios a sua própria sorte. A estratégia deu certo porque como os Patrícios dependiam dos Plebeus para garantir o seu sustento, era mais vantajoso deixá-los ter uma pequena participação administrativa na política e continuar desfrutando da exploração dos Plebeus. Mas, insatisfeitos, os Plebeus não contentaram apenas com a participação política, queriam mudanças nas Leis Romanas, que até então eram secretas por se tratarem de Leis Divinas. 15 Fonte: www.esquerda.net Com isso, os Plebeus exigiram que essas leis fossem mostradas para a sociedade, mas os Patrícios recusavam. Então, com o intuito de pressiona-los, os Plebeus começaram a pregar para a sociedade que essas leis divinas eram uma farsa, e que sua existência era apenas para manter os súditos aceitassem a sua condição de submissão. Consequentemente, a Plebe revoltou-se e quase ocorreu uma guerra civil dentro de Roma. Com receio de que essa guerra civil ocorresse, o Senado cedeu o pedido da Plebe, para que as Leis Romanas fossem refeitas de forma que limitasse a exploração do povo pelas classes dominantes e que fosse exposta para a sociedade com o escopo de conscientizar todos os cidadãos dos seus direitos. O resultado disso, foi a elaboração das Leis das XII Tábuas, um documento de relevante valor histórico, pois representou a abolição do ius divino (direito divino) e deu início ao ius civilis (direito civil). As Doze Tábuas foram afixadas na porta do fórum para que todos tivessem conhecimento das Leis. Abordava sobre Direito Processual, Família, Sucessões, Negócios Jurídicos e Direito Penal. Foi o primeiro diploma escrito que eliminou as diferenças de classes dando origem ao Direito Civil. Mas, assim como todas as leis primitivas, ainda mantinha um sistema onde as penas e os procedimentos eram rigorosos. 16 Fonte: www.quadrosartejur.com.br http://www.quadrosartejur.com.br/ http://www.quadrosartejur.com.br/
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