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AULA-31-a-40-1

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FACULDADE FUTURA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MULTICULTURALISMO E 
DIREITOS HUMANOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
VOTUPORANGA – SP
http://faculdadefutura.com.br/
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15 DIREITOS HUMANOS, CIDADANIA E DEMOCRACIA 
 
Fonte: www.ibradd.org.br 
 
É no período pós-guerra que surge o Direito Internacional dos Direitos 
Humanos como uma tentativa de situar os direitos fundamentais na base da ordem 
internacional contemporânea. Para que esse objetivo fosse alcançado, seria 
necessária uma universalização e internacionalização desses direitos, ou seja, a 
questão dos Direitos Humanos deveria ir além das fronteiras dos Estados Nacionais. 
Esse processo de internacionalização acabou gerando o surgimento de um 
sistema normativo internacional, voltado para a proteção e amparo dos direitos 
fundamentais. O sistema internacional de proteção dos direitos humanos dialoga com 
os sistemas nacionais para a garantia e o respeito aos direitos e às liberdades 
fundamentais dos indivíduos. Todavia, se o Estado se torna negligente frente ao 
compromisso de promoção dos Direitos Humanos, o sistema internacional possui 
legitimidade para cobrar desses Estados. 
Essa legitimidade tem lugar, sobretudo, quando se estabelece uma efetiva 
relação do Estado Nacional com a ordem internacional, no sentido de garantia dos 
direitos fundamentais. De outra maneira: quando o Estado aceita o aparato 
internacional. Nessa perspectiva, a intervenção internacional é uma medida que 
reflete apenas em um auxílio ou em um complemento à proteção interna desses 
direitos. O processo de internacionalização dos direitos humanos desencadeia a 
democratização do cenário internacional, uma vez que surge a sociedade civil 
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internacional, composta por organizações não governamentais e por indivíduos, que 
passam a poder acionar órgãos internacionais em casos de violação dos direitos 
humanos. 
Por essas razões, a dimensão da cidadania no exercício de garantia dos 
direitos humanos, sobretudo no plano internacional, sugere que o favorecimento do 
acesso às Cortes internacionais a indivíduos ou grupos organizados, não só contribui 
para a efetivação dos direitos humanos, como se realiza, propriamente, o 
entendimento de que o sistema internacional de proteção desses direitos envolve um 
sistema legal juridicamente vinculante, podendo ser exigível, portanto, diretamente 
pela cidadania. É preciso, no entanto, refletir sobre como a proteção dos direitos 
humanos costuma se realizar no interior de ordenamentos jurídicos internos dos 
Estados democráticos e, sobretudo para os objetivos deste trabalho, na democracia 
brasileira. 
As declarações francesas de 1789 e americana de 1776, no início da idade 
contemporânea, trazem a ideia de cidadania apoiada em um discurso liberal, em que 
os direitos fundamentais se relacionavam à ideia de liberdade, segurança e 
propriedade. Estabeleciam, desse modo, os direitos civis e políticos. Já no período 
entre guerras, surge a preocupação com o discurso social da cidadania, sendo 
valorizada a ideia de igualdade (na dimensão dos direitos sociais e econômicos), 
como uma tentativa de eliminar a exploração econômica conforme tratava a 
Declaração dos Direitos do Povo Trabalhador e Explorado de 1918, da extinta 
República Soviética Russa. 
A separação entre os direitos civis e políticos e os direitos sociais acerca da 
cidadania tem fim com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 
1948. Aquele texto reúne todos os tipos direitos fundamentais, que agora não podem 
mais ser pensados isoladamente. Além disso, a Declaração Universal estabelece que 
os Direitos Humanos são universais e inerentes aos seres humanos. Somando esses 
dois aspectos, a Declaração de 1948 traz a concepção contemporânea de cidadania. 
Representando uma nova dimensão sobre o que passa a ser um sujeito de direito: a 
partir de então, se fala em categorias de direitos, segundo suas condições 
particulares. Nessa linha, ganha relevo discussões sobre os direitos das mulheres, 
dos grupos raciais e de quaisquer sujeitos que costumam ser discriminados ou 
constitua alguma espécie de minoria que precise de uma dimensão de afirmação de 
seus direitos. É preciso pensar, nesse cenário, se a Constituição brasileira de 1988 
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acolhe essa nova dimensão de cidadania, tal como descrita. A Constituição brasileira 
adota a indivisibilidade dos direitos humanos. Ou seja, ela proclama ser inconcebível 
separar os direitos civis e políticos dos direitos sociais, econômicos e culturais. Nesse 
quesito, ela atende a concepção de cidadania que se delineou. 
No que diz respeito ao alcance universal dos Direitos Humanos, a Carta de 
1988 também está em consonância com a concepção contemporânea de cidadania, 
tendo em vista que seu texto afirma que todos são iguais e que os direitos 
fundamentais são inerentes à pessoa humana. A Constituição brasileira também 
concebe os direitos fundamentais como um tema de interesse internacional. Além 
disso, a ordem constitucional estabelecida em 1988 acolhe aquela nova dimensão de 
sujeito de direito, concreto e categorizado, segundo suas particularidades. Em seu 
texto, fica clara a divisão em capítulos dedicados a categorias como idosos, crianças 
e adolescentes, direitos dos índios, entre outros, dessa maneira propondo um 
tratamento específico para esses grupos. Dessa forma, a Constituição brasileira 
parece dialogar fortemente com essa nova dimensão de sujeito de direito 
internacional, e propriamente com a nova concepção de cidadania, tal como 
apresentada. 
Para além disso, é possível analisar a responsabilidade do Estado na 
consolidação da cidadania brasileira observando três elementos essenciais da ideia 
de cidadania no cenário da discussão sobre Direitos Humanos, refletidos na 
Constituição brasileira: a indivisibilidade e a universalidade da ideia de direitos 
humanos, e a característica de especificidade dos sujeitos de direito. A Constituição 
brasileira assegura todos os tipos de direitos fundamentais e garante a efetividade de 
seus preceitos. Por essa razão, a todos esses direitos são assegurados a mesma 
garantia de proteção na ordem jurídica interna. A Carta de 1988 também estabelece 
o princípio da aplicabilidade imediata dos direitos fundamentais, dessa forma 
vinculando os Poderes Públicos ao dever de promover esses direitos de forma plena 
e efetiva. Quanto à universalidade dos direitos fundamentais, o Estado brasileiro leva 
isso em consideração em relação a todos os indivíduos. Além disso, o país é obrigado 
a observar plenamente na ordem interna os acordos internacionais firmados que 
tratam dos direitos e garantias fundamentais e que foram ratificados pelo Estado 
brasileiro. 
Uma reflexão sobre Direitos Humanos, sobretudo quando se pensa a 
democracia brasileira e seu passado (recente) de autoritarismo, passa pela 
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necessidade de se analisar a responsabilidade do Estado na consolidação da 
cidadania no Brasil. A Constituição Federal de 1988 é considerada, por muitos, um 
marco da transição democrática e da institucionalização dos direitos humanos no 
Brasil26, importando, desse modo, em uma redefinição do Estado e dos direitos 
fundamentais no país, após longos vinte e um anos de ditadura militar. 
A importância com o bem-estar social e a preservação da dignidade humana é 
tão expressiva que a Constituição eleva os direitos e garantias fundamentais ao 
patamar de cláusulas pétreas. A Carta de 1988 inova ao extrapolar os limites dos 
direitos individuais e tutelar também os direitos coletivos (direitos que se aplicam a 
classes ou categorias sociais). Além disso, ela estabelece a aplicabilidade imediata 
das normas que dizem respeito aos direitos fundamentais. Aquilo que Flávia Piovesan 
chama de um “constitucionalismo concretizador dos direitos fundamentais”.29 Os 
direitos sociais também são tratados na Constituição com a mesma dimensão. O 
artigo 6º da Constituiçãoestabelece uma série de direitos, como à educação, à saúde 
e ao trabalho, entre outros. Não obstante, o importante é ressaltar que a Constituição 
estabelece “uma ordem social com um amplo universo de normas que enunciam 
programas, tarefas, diretrizes e fins a serem perseguidos pelo estado e pela 
sociedade”.30 Por outro lado, além da ordem social, a Constituição de 1988 também 
estabeleceu uma ordem econômica, marcada pelo intervencionismo estatal em prol 
do bem-estar social. Isto corresponderia, em linhas gerais, ao modelo de “Estado de 
Bem-Estar Social. 
 
16 CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS HUMANOS E SUA RELAÇÃO COM O 
ESPAÇO ESCOLAR 
Direitos humanos é uma expressão que abrange diversas concepções e 
abordagens em torno de um conjunto de direitos que fazem parte da própria natureza 
humana e da dignidade a ela inerente. A proteção a tais direitos é resultado de um 
lento processo histórico que foi se reconhecendo legislativamente a partir dos 
imperativos sociais postos ao longo do tempo. 
No entanto, ressalte-se que este processo ainda está em evolução, tendo em 
vista que em algumas sociedades ainda se identificam poucos avanços em relação 
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aos direitos humanos. Bobbio (2004) destaca que os direitos humanos são históricos, 
modificáveis, suscetíveis de constante transformação e alargamento de seus 
horizontes, relacionando-se à própria civilização humana em seus diferentes níveis 
sociais de desenvolvimento. Dessa forma, torna-se essencial discutir acerca deste 
conceito para que se possa compreendê-lo em sua amplitude diante das constantes 
transformações histórico-sociais, bem como sua relação intrínseca com a educação. 
 
 
 
Fonte: www.patriciapaulausp.blogspot.com.br 
 
Os direitos humanos podem ser definidos como um conjunto de instituições que 
concretizam, em cada tempo histórico, as necessidades sociais relacionadas à sua 
dignidade. Tais necessidades devem ser reconhecidas positivamente pelo 
ordenamento jurídico conferindo a estes direitos o caráter de universalidade. Nesse 
sentido, Pérez Luño (1999, p. 48) leciona que os direitos humanos são um “[...] 
conjunto de faculdades e instituições que, em cada momento histórico, concretiza as 
exigências da dignidade, da liberdade, da igualdade humana”. 
No entanto, embora o reconhecimento dos direitos humanos e sua 
consequente positivação em algumas regulamentações, como a Declaração Universal 
dos Direitos do Homem, tenham se expandido ao longo dos anos, ainda se 
vislumbram constantes afrontas a tais direitos evidenciando-se a necessidade de 
constante observância dos dispositivos postos visando o respeito e a garantia de 
proteção a todos em suas diversidades. 
Para Gorczevski (2005), os direitos humanos são universais, absolutos e 
inerentes ao homem, não dependendo de concessão por parte do Estado, entretanto, 
6 
 
apesar de inerentes à natureza humana, o “[...] seu reconhecimento e proteção é o 
resultado de um longo processo histórico, que ocorreu de forma lenta e gradual, 
passando por várias fases e, eventualmente, com alguns retrocessos”. Os direitos 
humanos trazem o sentido de igualdade entre os sujeitos ao representarem o 
reconhecimento de que todos são dignos do mesmo respeito, independentemente de 
diferenças biológicas ou sociais. Não há, pois, distinção entre os sujeitos de direitos. 
Ainda que não se identifique um conceito único de tais direitos, pode-se indicar 
um núcleo central comum: a ideia de universalidade. Esta característica de 
universalidade é essencial para se chegar à uma definição de direitos humanos, pois, 
sem atribuir a estes o caráter de universalidade, corre-se o risco de criarem-se 
fragmentações em sua titularidade, concebendo-se a existência de direitos cabíveis 
apenas a determinados grupos sociais. 
Assim, falar que os direitos humanos apresentam a característica da 
universalidade, significa dizer que os mesmos são inerentes a todos os homens, pelo 
simples fato de serem humanos, em todas as épocas e espaços sociais, devendo ser 
respeitados indistintamente. Nesse contexto, a lei escrita positiva tais direitos, 
tornando-se igualmente aplicável a todos. Segundo Gorczevski (2009) os direitos 
humanos constituem-se em valores superiores existentes no mundo axiológico 
concretizados por meio dos direitos fundamentais positivados. 
Tem-se, portanto, a necessidade de evidenciar a distinção entre direitos 
fundamentais e direitos humanos, tendo em vista as constantes concepções de serem 
termos sinônimos. Os direitos humanos são direitos naturais cabíveis a todos os 
homens, independente de nacionalidade, enquanto que os direitos fundamentais se 
referem à positivação destes direitos nos respectivos ordenamentos jurídicos pátrios. 
Pode-se afirmar que os direitos fundamentais nascem da positivação dos 
direitos humanos, significa a consolidação dos direitos naturais do indivíduo na ordem 
jurídica positiva. A positivação por meio da letra da lei constitui-se em maior garantia 
ao sujeito, tendo em vista a concretização da tutela jurídica destes direitos pelo 
Estado, que assume o dever de observá-los e respeita-los como fundamento da 
igualdade e respeito aos seus cidadãos. 
No entanto, apesar da existência de inúmeros instrumentos internacionais de 
proteção aos direitos humanos, estes ainda são constantemente violados 
desencadeando situações de violência e caos social em algumas situações. As 
condições mínimas para a existência digna são comumente inobservadas, direitos 
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fundamentais como a vida e a liberdade são desrespeitados pelos próprios sujeitos, 
destacando-se ainda as situações de omissão e afronta aos direitos humanos pelo 
próprio Estado como na deterioração do meio ambiente, na desigualdade social, 
no desemprego e na omissão diante da criminalidade (RAYO, 2004). 
O respeito aos direitos humanos é, portanto, indispensável à sobrevivência do 
próprio homem no planeta, observando-se que não nos são dados pelo Estado ou 
construídos a partir da luta de terceiros, mas são construídos pelo cotidiano 
social. Estes direitos acompanham a evolução social, sendo alvo de contínuas 
mudanças e refletindo as lutas e necessidades dos sujeitos. Dessa forma, estes 
direitos precisam de instrumentos que colaborem na sua conscientização para uma 
efetiva aplicabilidade dos mesmos. 
A educação é certamente um dos instrumentos mais poderosos de 
consolidação dos direitos humanos. Como prática social, a educação em direitos 
humanos constitui-se em política transformadora da sociedade e do homem, trazendo 
em si a possibilidade de superação de fenômenos como a pobreza, a violência, a 
desigualdade e a exclusão social. Assim, o processo educativo traz em si a potencial 
formação humana e promoção dos direitos humanos. A educação constitui-se em 
instrumento que possibilita a promoção dos direitos humanos, visto que é parte 
integrante da dignidade humana por formar e conscientizar socialmente o indivíduo 
para o exercício pleno de sua cidadania. Pode-se dizer que a educação é pressuposto 
fundamental para o indivíduo realizar-se plenamente como ser humano na sociedade. 
Em se tratando de direitos humanos a educação assume papel considerável, 
pois abrange a função de humanizar o humano (SAVIANI, 1989). No entanto, educar 
não se trata apenas de depositar ou transmitir conteúdos dissociados da realidade 
vivenciada pelo aluno, esta prática, reconhecida por Freire (1997) como “educação 
bancária”, ainda predomina no sistema educativo formal pátrio e não colabora na 
emancipação dos indivíduos. 
Dessa forma, ao evidenciar o papel preponderante da educação na 
consolidação dos direitos humanos faz-se necessário destacar que aquela se refere 
a um processo educativo crítico, participativo, que visa a superação dos contextos de 
alienação e opressão a que estão submetidos os sujeitos no contexto capitalista. 
Este processo, que habilita o indivíduo para a conscientização docontexto 
sóciohistórico em que vive e seu consequente questionamento, perpassa 
https://jus.com.br/tudo/desemprego
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necessariamente pelo estudo e reflexão constante da temática relativa aos direitos 
humanos. 
A educação para os direitos humanos deve contribuir: 
 
• Para o fortalecimento do respeito aos direitos e liberdades 
fundamentais do ser humano. 
• Ao pleno desenvolvimento da pessoa humana e sua dignidade; a 
prática da tolerância, do respeito à diversidade de gênero e cultura, da 
amizade entre todas as nações, povos indígenas e grupos raciais, 
étnicos e religiosos. 
• E a possibilidade de todas as pessoas participarem efetivamente de 
uma sociedade livre. 
Assim, os princípios da igualdade e da não discriminação devem nortear a 
educação em direitos humanos de maneira que, neste contexto, desenvolvam-se 
atividades que considerem a experiência e o contexto social vivenciado pelos alunos, 
permitindo que os mesmos compreendam e atendam às suas necessidades a fim de 
buscar as devidas soluções compatíveis com o ordenamento jurídico na garantia de 
proteção aos direitos humanos. 
Dessa forma, estabelece-se um processo educativo que visa não apenas a 
transmissão de conteúdos técnicos a fim de capacitar o aluno para o mercado de 
trabalho, mas, antes de tudo, busca-se prepará-lo para a vida, para a construção de 
uma cultura onde prevaleça o respeito a todos em suas diversidades. 
O sistema educacional posto não contribui com a construção desta cultura 
quando aceita as desigualdades sociais como naturais, legitimando as diferenças de 
classe, raça, gênero, etnia, dentre outras, executando o processo de reprodução das 
diferenças sociais em sala de aula e promovendo a exclusão. Faz-se necessário 
suscitar um exercício contínuo de reflexão crítica que ofereça aos alunos condições 
de posicionarem-se como sujeitos ativos no processo educativo. 
Nesse sentido, desenvolveram-se regulamentações nacional e 
internacionalmente a fim de efetivar a educação em direitos humanos. Em 2003 
iniciou-se a elaboração do I Plano Nacional de Educação em Direitos 
Humanos (PNEDH). Em 2005 foram realizados encontros estaduais para difundi-lo, 
que resultaram em contribuições da sociedade para aperfeiçoar também o 
https://jus.com.br/tudo/direitos-humanos
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documento. Em 2004, a Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou o Programa 
Mundial de Educação em Direitos Humanos com o objetivo de avançar na 
implementação de programas de educação em direitos humanos, bem como na 
promoção de ações e fortalecimento de parcerias desde o nível internacional até os 
níveis locais. 
 
17 PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS (PNEDH) 
 
Fonte: www.edu-cacao.blogspot.com.br 
 
No Brasil, em 1996, foi instituído o Programa Nacional de Direitos Humanos - 
PNDH I, com o objetivo de identificar os principais obstáculos à promoção e defesa 
dos direitos humanos, promovendo o planejamento de políticas para a efetivação dos 
atos internacionais sobre direitos humanos. Mais tarde, em 2002, promulga-se o 
Decreto nº 4.229, conhecido como Programa Nacional de Direitos Humanos II - PNDH 
II, ampliando as atribuições e criando propostas de ações governamentais. No 
programa reformulado há a inclusão dos direitos sociais, econômicos e culturais, 
preocupando-se com as propostas capazes de ter uma concretude com as políticas 
públicas e a destinação de recursos para sua execução (GORCZEVSKI; KONRAD, 
2013). 
O enfoque da educação em direitos humanos é interdisciplinar, não podendo 
restringir-se à mera reprodução de conteúdo curriculares pré-estabelecidos, mas deve 
promover uma cultura de consolidação dos direitos humanos de maneira que todas 
https://jus.com.br/tudo/direitos-humanos
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http://www.edu-cacao.blogspot.com.br/
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as disciplinas assumam o compromisso de efetivar os valores humanos visando maior 
participação e emancipação dos alunos no contexto social em que vivem. 
Destaque-se que a educação em direitos humanos deve iniciar-se nos 
primeiros anos de inserção escolar estendendo-se por todos os níveis de ensino, ela 
abrange a instituição educativa e a comunidade em se insere como um todo, não se 
restringindo à sala de aula, tendo em vista que os valores incentivados neste processo 
educativo devem consolidar-se na comunidade em sua totalidade e não apenas na 
escola, concebida de forma fragmentada. Mais ainda, a educação para os direitos 
humanos deve estar voltada para o desenvolvimento de valores e de atitudes de 
solidariedade, que levem ao comprometimento e a mudança das práticas sociais que 
garantam a efetividade dos direitos humanos. 
A educação é decisiva para a promoção dos direitos humanos ao motivar um 
processo emancipatório, que busque instrumentalizar os educandos para 
exercer os direitos que lhe são assegurados pelos instrumentos jurídicos. Deve-se ter 
em conta que, para que se efetive uma educação em direitos humanos, faz-se 
necessário que o conhecimento construído se relacione com a realidade na qual o 
indivíduo está inserido, para que o saber possa fazer sentido. 
Neste processo educativo o papel do professor é essencial, observando-se a 
superação da reprodução de conteúdo para a construção de uma relação dialógica 
entre professor e aluno, abrindo-se espaço para a problematização dos 
conteúdos e a reflexão crítica na compreensão da relação destes com a realidade. 
A problematização dos conteúdos é um elemento essencial na construção da 
educação em direitos humanos. É esta problematização que conduz à criticidade em 
relação aos conteúdos postos, levando os alunos a pensarem-se como homens 
inconclusos. Contudo, esse pensamento não se faz possível pela prática bancária de 
ensino, uma vez que a palavra e o diálogo se fazem necessários para essa 
compreensão, na medida em que é através delas que o sujeito consegue “emergir” de 
dentro do ambiente no qual vive para, a partir daí, identificar quais os problemas que 
se apresentam e, então, buscar a superação de suas situações geradoras. Ademais, 
a educação problematizadora é um esforço permanente através do qual os homens 
vão percebendo-se criticamente no mundo (FREIRE, 1996). 
Dessa forma, a educação em direitos humanos promove, essencialmente, a 
formação de uma cultura de respeito à dignidade humana, através da vivência de 
atitudes, hábitos, comportamentos e valores como igualdade, solidariedade, 
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cooperação e tolerância. Nesse sentido, a educação constitui-se em meio de 
formação de sujeitos capazes de desvelar criticamente o mundo das injustiças e 
práticas que ferem a dignidade humana e de engajar-se ativamente para a 
transformação social. 
O papel da educação em direitos humanos é criar condições de conhecimento 
e transformação da consciência sobre o contexto sócio histórico e cultural em que os 
indivíduos se inserem, criando condições de questionamento crítico e transformação 
social por meio do processo educativo reflexivo. Ressalte-se que este papel não é 
exclusivamente do Estado, tendo em vista que, a formação de indivíduos éticos, 
solidários, comprometidos com a justiça social e os direitos humanos requer o 
engajamento de toda a sociedade, de modo que cada cidadão assuma a sua quota 
de responsabilidade. 
Assim, educar em direitos humanos é “[...] criar uma cultura preventiva, 
fundamental para erradicar a violação dos mesmos. Com ela conseguiremos 
efetivamente dar a conhecer os direitos humanos, distingui-los, atuar a seu favor e, 
sobretudo, desfrutá-los” (GORCZEVSKI, 2009, p. 221), sendo, portanto, 
imprescindível para o desenvolvimento do Estado e da formação humana. 
 
18 OS DIREITOS HUMANOS NA HISTÓRIA 
18.1 Antiguidade 
 Iniciandonosso estudo pelo período Axial, K. JASPERS, analisou o 
nascimento espiritual do ser humano, afirmando que tal período, (...) se situaria no 
ponto de nascimento espiritual do homem, onde se realizou de maneira convincente, 
tanto para o Ocidente como para a Ásia e para toda a humanidade em geral, para 
além dos diversos credos particulares, o mais rico desabrochar do ser humano; estaria 
onde esse desabrochar da qualidade humana, sem se impor como uma evidência 
empírica; seria, não obstante, admitido de acordo com um exame dos dados 
concretos; ter-se-ia encontrado para todos os povos um quadro comum, permitindo a 
cada um melhor compreender sua realidade histórica. 
12 
 
Ora este eixo da história nos parece situar-se entre 500 a.C. no 
desenvolvimento espiritual que aconteceu entre 800 e 200 anos antes de nossa era. 
É aí que se distingue a mais marcante cesura na história. É então que surgiu o homem 
com o qual convivemos ainda hoje. Chamamos breve essa época de período axial. 
A partir desse período que o ser humano passa a ser considerado como ser 
dotado de liberdade, razão em sua igualdade essencial e nas múltiplas diferenças de 
sexo, raça, religião e costumes sociais. Essa nova visão do ser humano se deu devido 
as várias conquistas realizadas nesse período. Veremos abaixo, os acontecimentos 
mais relevantes que contribuíram para essa evolução. 
 
18.2 Conquista da Babilônia 
No início da civilização humana os primeiros Estados constituíam sua ordem 
interna através da religião. Nesse tempo as leis eram elaboradas e apresentadas aos 
súditos pelos sacerdotes que afirmavam tê-las recebido diretamente dos Deuses, os 
quais conferiam autoridades a essas regras para que todos obedecessem. E assim 
ocorreu na Babilônia em 1700 a.C. O rei Hamurabi recebeu do Deus “Shamash”, o 
Deus do sol e da justiça, um conjunto de leis, que o obrigava a aplicá-la ao povo da 
Babilônia. Consequentemente, o indivíduo que a infringisse, estaria desobedecendo 
a Lei Divina e seria submetido aos terríveis castigos impostos por essa lei. 
 
 
Fonte: www.quersaberdequer.blogspot.com.br 
 
13 
 
Além desses castigos cruéis, o Código de Hamurabi, pregava o ‘olho por olho 
e dente por dente’, proibia os súditos de escolherem suas religiões, desfavoreciam 
determinadas classes trazendo vantagens em detrimento de outras, e ainda, 
mantinham pessoas como escravas. Diante disso, no ano de 550 a. C, Ciro, o Rei da 
Persa, insatisfeito com as atrocidades cometidas pelo Império da Babilônia, resolveu 
reunir sua pequena tropa e tomar o poder para libertar o povo. 
Então, Ciro fez algo completamente revolucionário. Com base na estratégia de 
conquista e tolerância, anunciou que todos os escravos eram livres e estabeleceu a 
liberdade de religião. Além de agradar a sociedade, esse comportamento de Ciro fez 
com que as pessoas aceitassem seu governo sem qualquer ato de rebeldia. Essas 
conquistas foram registradas em um tablete de barro conhecido como Cilindro de Ciro. 
Tornou-se um documento de grande importância para os Direitos Humanos, pois para 
alguns autores, foi a primeira carta de Direitos Humanos da história. 
O Cilindro de Ciro, basicamente, associava o Rei Ciro com um Deus chamado 
Marduk. Demonstrava que esse Deus estava insatisfeito com o Rei anterior, e que por 
esse motivo, resolveu colocar Ciro para Governar seu povo por ser considerado um 
Rei mais correto. Na verdade, o escopo do Rei Persa era buscar a paz universal e 
evitar qualquer desejo de vingança, para que pudesse dar continuidade ao seu 
governo. Dessa forma, acreditavam que a única forma de alcançar esse objetivo era 
construir um Império Universal, concedendo liberdade individual e religiosa. 
 
 
Fonte: www.penapensante.com.br 
 
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Inspirado nesses princípios, Ciro partiu para novas conquistas expandindo seu 
império. A Persa tornou-se muito extensa, compreendendo os atuais países: Irã, 
Iraque, Síria, Líbano, Jordânia, Israel, Egito, Turquia, Kuwait, Afeganistão, parte do 
Paquistão, parte da Grécia e da Líbia. Sua existência manteve-se por mais de 
duzentos anos até a conquista definitiva por Alexandre, O Grande em 332 a. C. Ciro 
foi um imperador que deixou um legado sobre a arte da liderança, no qual a 
administração embora centralizada, tinha como foco trabalhar para o proveito de seus 
súditos. 
18.3 O Império Romano 
Dando seguimento ao contexto histórico, em Roma, por volta do ano de 509 
a.C, os abusos dessas leis ditas Divinas, começaram a incomodar o povo, provocando 
a desconfiança de que ao invés dos Deuses, havia por de trás dessas leis, indivíduos 
interessados em obter proveitos. Foi então que os súditos começaram a exigir que as 
leis fossem feitas pelos homens e não pelos Deuses. 
Nesse período, Roma dividia-se em dois grupos sociais: os Patrícios e os 
Plebeus. Os Patrícios eram a classe privilegiada da sociedade que era sustentada 
pelos Plebeus. Mas, isso logo mudou, os Plebeus estavam cansado dessa situação e 
então deram início a uma revolta que alterou profundamente o sistema legal romano. 
Revoltados, os Plebeus se juntaram e se deslocaram para um local chamado 
Monte Sagrado. Nesse local fundaram um Estado independente e abandonaram os 
Patrícios a sua própria sorte. A estratégia deu certo porque como os Patrícios 
dependiam dos Plebeus para garantir o seu sustento, era mais vantajoso deixá-los ter 
uma pequena participação administrativa na política e continuar desfrutando da 
exploração dos Plebeus. Mas, insatisfeitos, os Plebeus não contentaram apenas com 
a participação política, queriam mudanças nas Leis Romanas, que até então eram 
secretas por se tratarem de Leis Divinas. 
 
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Fonte: www.esquerda.net 
 
Com isso, os Plebeus exigiram que essas leis fossem mostradas para a 
sociedade, mas os Patrícios recusavam. Então, com o intuito de pressiona-los, os 
Plebeus começaram a pregar para a sociedade que essas leis divinas eram uma farsa, 
e que sua existência era apenas para manter os súditos aceitassem a sua condição 
de submissão. 
Consequentemente, a Plebe revoltou-se e quase ocorreu uma guerra civil 
dentro de Roma. Com receio de que essa guerra civil ocorresse, o Senado cedeu o 
pedido da Plebe, para que as Leis Romanas fossem refeitas de forma que limitasse a 
exploração do povo pelas classes dominantes e que fosse exposta para a sociedade 
com o escopo de conscientizar todos os cidadãos dos seus direitos. 
O resultado disso, foi a elaboração das Leis das XII Tábuas, um documento de 
relevante valor histórico, pois representou a abolição do ius divino (direito divino) e 
deu início ao ius civilis (direito civil). As Doze Tábuas foram afixadas na porta do fórum 
para que todos tivessem conhecimento das Leis. Abordava sobre Direito Processual, 
Família, Sucessões, Negócios Jurídicos e Direito Penal. Foi o primeiro diploma escrito 
que eliminou as diferenças de classes dando origem ao Direito Civil. Mas, assim como 
todas as leis primitivas, ainda mantinha um sistema onde as penas e os procedimentos 
eram rigorosos. 
 
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Fonte: www.quadrosartejur.com.br 
 
 
http://www.quadrosartejur.com.br/
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