Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
HISTÓRIA DO INSTRUMENTO O psicólogo suíço Hans Zulliger (1893-1965) desenvolveu sua técnica baseada em manchas de tintas durante a Segunda Guerra Mundial, em 1948. A experiência que tinha com o método de Herman Rorschach possibilitou um aprofundamento teórico e prático no manuseio de técnicas que envolvessem a organização de estímulos não estruturados e o motivou a realizar estudos com novos estímulos, seguindo os fundamentos e os princípios do método original (Zulliger & Salomon, 1970). Salomon (Zulliger & Salomon, 1970) trouxe interessantes informações biográficas sobre Hans Zulliger, quando realizou a edição norte-americana de sua obra. Relata que Zulliger foi inicialmente professor de crianças e assim permaneceu mesmo quando já envolvido com as atividades da psicologia. Interessou-se desde cedo pela psicanálise e fez sua análise pessoal com Oskar Pfister, grande amigo e discípulo de Freud, e foi o primeiro a introduzir a psicanálise no contexto pedagógico. Aplicou o método psicanalítico em um aluno com problemas de fala em 1913, tendo obtido êxito completo e sem recaídas. Criou uma técnica de jogo para tratamento psicanalítico de crianças, tendo publicado diversos livros e artigos científicos, entre eles o Psychoanalytische Erfahrungen aus der Volksschulpraxis (Experiências psicanalíticas na escola primária), de 1921. Mais de 20 livros de Zulliger versavam sobre a psicanálise infantil e as aplicações da psicanálise nos casos de problemas educacionais e de psicoprofilaxia. Foi na Sociedade Psicanalítica Suíça que Zulliger conheceu Hermann Rorschach e logo tornou-se seu amigo e discípulo, de modo que em 1932 publicou o livro Der Rorschachsche Testversuch im Dienste der Erziehungsberatung (Teste de Rorschach a serviço do assessoramento educacional) e a seguir diversas outras obras sobre o Rorschach até que em 1948 publicou o seu próprio teste. Criou seu teste no ano de 1942, quando foi psicólogo do exército suíço. No período da guerra, Zulliger pretendia usar o Método de Rorschach na avaliação de oficiais das forças armadas suíças, entretanto, o tempo consumido na administração individual dos 10 cartões do Rorschach dificultava a realização de rápidas avaliações, o que impulsionou suas pesquisas para modificar a técnica. Desde o início, estava claro que o uso das manchas de Rorschach projetadas em uma tela, ou mesmo a escolha de somente algumas delas, traria grandes prejuízos para o teste original, o que apontava para a necessidade de criação de novos estímulos. Então, desenvolveu algumas experiências diminuindo o número de estímulos, diferentes dos que compunham o conjunto do Rorschach, e alterando a forma de apresentação, agora como diapositivos projetados em uma tela. Inicialmente criados para aplicações coletivas e para serem usados especialmente em situações de triagem, logo foram publicados em cartões para aplicações também individuais, seguindo a sugestão de Robert Heiss, diretor do Instituto de Psicologia da Universidade de Friburgo. Foi assim que um teste coletivo para uma triagem inicial se transformou em um teste individual para realização de psicodiagnósticos. Após inúmeros estudos de comparação com o Rorschach e as versões de três estímulos, em diapositivos ou impressas, Zulliger constatou que os resultados diferiam se as imagens eram projetadas e observadas à distância ou se eram impressas em cartão manuseado pelo sujeito, observando respostas diferentes em uma ou outra condição (Zulliger & Salomon, 1970). Desse modo, manteve as duas versões com propósitos relativamente distintos. O princípio fundamental que legitima o uso de manchas de tinta remete ao fato de que a pessoa tende a expressar seu modo de ser e agir de maneira tão mais significativa quanto maior for a ambiguidade do estímulo ao qual responde. Diante de uma situação pouco definida, a pessoa precisará apoiar-se principalmente nos seus recursos e registros internos para dar-lhe sentido. Portanto, o pressuposto é de que o modo como a pessoa responde à tarefa evidencia um estilo próprio de enfrentar situações ambíguas e de resolver problemas. Suas respostas, portanto, expressam um modo de funcionamento psíquico, resultante da combinação de recursos mentais pessoais e das tensões geradas pela ambiguidade do estímulo externo. Para a análise dos resultados no Zulliger, tal como no Rorschach, as respostas não são interpretadas considerando-se apenas seu conteúdo, mas são classificadas de acordo com inúmeros critérios que resultam em códigos, que, por sua vez, serão computados para constituir fórmulas e proporções. Esses cálculos levam a uma série de valores quantitativos que são comparados às expectativas normativas, para uma compreensão dinâmica dos dados da pessoa avaliada. Certamente uma análise do conteúdo idiográfico das respostas, do ponto de vista simbólico, ancorada firmemente em teorias da personalidade, complementa a interpretação dos resultados. Algumas transformações no método original criado por Zulliger ocorreram ao longo dos anos. No Brasil, há três versões do Zulliger com parecer favorável do Conselho Federal de Psicologia para uso (Conselho Federal de Psicologia [CFP], 2016). Entre essas versões está a do Zulliger pelo Sistema Compreensivo (ZSC), que se apoia na proposta de John Exner (1999), feita para o Método de Rorschach, que foi adaptada, padronizada e normatizada para administração exclusivamente individual (Mahmood, 1990; Mattlar et al., 1990; Zdunic, 2007; Villemor- Amaral & Franco, 2008; Villemor-Amaral & Primi, 2009). PESQUISAS COM O ZULLIGER NO BRASIL E SUAS PROPRIEDADES PSICOMÉTRICAS A partir de um levantamento realizado em agosto de 2017 na base de dados Biblioteca Virtual em Saúde (BVS-PSi), foram encontradas 17 publicações em periódicos científicos com esse teste no Brasil. Dessas, 13 artigos adotaram o ZSC, três, o sistema Klopfer, e uma era revisão de literatura. As 13 pesquisas com o ZSC visaram à análise das qualidades psicométricas do instrumento, sendo um de precisão, sete de evidências de validade para uso com adultos voltados para o contexto de saúde mental e organizacional e, mais recentemente, cinco de evidências de validade para uso com crianças. As três pesquisas com sistema Klopfer envolveram a aplicação do Zulliger em contextos diferentes. Primeiramente serão descritos os estudos com o ZSC organizados por data de publicação, posteriormente os que envolvem o uso do Zulliger pelo sistema Klopfer e, por último, o estudo de revisão de literatura. Ferreira e Villemor-Amaral (2005) correlacionaram o desempenho no Zulliger com um questionário de avaliação de desempenho de 86 colaboradores da área de exatas que passaram por um processo de seleção em uma empresa de telecomunicações. O ZSC foi administrado durante a seleção dos funcionários, e o questionário de avaliação de desempenho de cada um dos funcionários foi respondido pela chefia imediata após 6 ou 12 meses de permanência na empresa. O questionário de desempenho profissional respondido pela chefia envolvia aspectos do Relacionamento Interpessoal (RI); Presença de Atuação Interna e Externa (PAIE); Tomada de Decisões Oportunas (TDO); Competência na Especialização (CE); Busca por Aprimoramento e Inovação (BAI); Absorção, Organização, Registro e Divulgação de Conhecimento (AORDC); Organização (ORG); Relacionamento com Pares e Colegas (RPC); Solução de Problemas (SP) e Orientação para o Cliente (OC). As autoras constataram a presença de correlações positivas e significativas do Zulliger com as avaliações de desempenho. Entre essas correlações, pode-se citar que o foco de atenção (lambda) correlacionou com AORDC (r = 0,23, p < 0,05) e RPC (r = 0,24, p < 0,05), a tendência a objetividade e interesse por trabalhos práticos e concretos (D) se correlacionou com AORDC (r = 0,26, p < 0,05) e ORG (r = 0,22, p < 0,05) e que o ajustamento ao convencional (X+%) se correlacionou com ORG (r = 0,33, p < 0,01) e SP (r = 0,21, p < 0,05). Além disso, detalhismo (Dd), forma de pensar menos elaborada (DQv) e oposicionismo (S-) tiveram correlaçãonegativa com SP (r = -0,22, p < 0,05; r = -0,22, p < 0,05 e r = 0,21, p < 0,05, respectivamente). Já as pessoas que demonstraram maior capacidade para tomar iniciativa e solucionar problemas [Ma:Mp (r = 0,21, p < 0,05)] e indícios de tensão situacional [Y (r = 0,22, p < 0,05)] apresentaram mais competências para Solução de Problemas na opinião dos líderes. O índice de egocentrismo no Zulliger se correlacionou com TDO (r = -0,29, p < 0,01) e AORDC (r = -0,26, p < 0,05). Desse modo, os profissionais de exatas que foram bem avaliados pelos chefes apresentaram tendência a maior formalidade nos relacionamentos, reserva social e preferência por atividades de execução solitária, de cunho intelectual e mecânico ou artístico. Também foram valorizados os funcionários que demostraram um funcionamento cognitivo mais prático e que tendiam a se comportar de maneira realista e independente. Os resultados indicaram evidências de validade para o uso do ZSC em processos de seleção de profissionais da área de exatas. Villemor-Amaral, Machado e Noronha (2009) estudaram a fidedignidade temporal do ZSC. As administrações do Zulliger foram realizadas individualmente com um intervalo de cinco meses entre o teste e o reteste. Participaram do estudo 25 homens, sem histórico de busca de ajuda psicológica ou psiquiátrica. Os pesquisadores selecionaram 16 indicadores do ZSC mais relevantes para análise de componentes cognitivos, afetivos e de relacionamento interpessoal. Foram feitas as estatísticas descritivas e a correlação de Pearson entre os dados da primeira e da segunda administração. Considerando o nível de significância de 0,01, as correlações de R, S, Dd, D, C, M, H, Hd, (H) e (Hd) foram satisfatórias (entre 0,60-0,99), H:Hd+(H)+(Hd), W, Sum_SH e CF foram moderadas (entre 0,40-0,60), e FC e EB não tiveram índices aceitáveis. As autoras concluíram que, pelo fato de a maioria dos índices ter boa precisão, a pesquisa contribuiu para a credibilidade do método. Villemor-Amaral e Machado (2011) observaram que os indicadores de depressão que compõem a Constelação de Depressão (DEPI) do Sistema Compreensivo no Rorschach podem auxiliar no diagnóstico de depressão pelo Zulliger. Para chegar a essa conclusão, as pesquisadoras administraram o ZSC em 27 pacientes diagnosticados com depressão e 27 não pacientes e compararam os grupos. Entre as variáveis do DEPI, alcançaram valores significativos o índice FD + V (t = 4,29, p < 0,001), Sum-SH (t = 2,15, p = 0,038), Egocentrismo (t = 2,57, p = 0,013), FC>CF+C (t = 2,89, p = 0,006), Determinantes-mistos (t = 2,54, p = 0,014) e Intelectualização (t = 3,10, p = 0,003), sugerindo que o ZSC pode contribuir no diagnóstico da depressão. Villemor-Amaral e Cardoso (2012) buscaram evidências de validade convergente do Tipo de Vivência (EB) do Sistema Compreensivo no Método de Rorschach e de Zulliger. Foram correlacionados 51 protocolos de adultos que responderam ao Zulliger e ao Rorschach em dias consecutivos, alternando-se a ordem de aplicação das técnicas. Ainda que os resultados indicassem correlações significativas, as diferenças nos estímulos oferecidos entre as duas técnicas tornaram menos confiável a definição do Tipo de Vivência no Zulliger segundo os parâmetros do Rorschach. A inconsistência observada sugere a necessidade de estabelecer novas proporções entre M e WSumC no Zulliger para definir o Tipo de Vivência. Além disso, as autoras consideram que há a necessidade de alterar as instruções do Zulliger, estimulando um número maior de respostas dadas a cada prancha, o que naturalmente demandaria novas pesquisas de padronização do Zulliger. Franco e Villemor-Amaral (2012) analisaram 141 protocolos do teste de Zulliger, sendo 1/3 de pacientes psiquiátricos com diagnóstico confirmado pela SCID-I e os demais de não pacientes. Compararam as variáveis que compõem as constelações de psicopatologia do Sistema Compreensivo entre os dois grupos. Os resultados foram considerados insuficientes para indicar evidências de validade de uso das constelações de psicopatologia do Rorschach pelo Sistema Compreensivo com o Zulliger, não sendo possível simplesmente transpor esses dados de um método para outro. As pesquisadoras concluíram que o ZSC é mais eficaz para a compreensão de aspectos da dinâmica de personalidade que independem de quadros psicopatológicos, sendo mais indicado para a compreensão do funcionamento psíquico de uma pessoa do que para a atribuição de um diagnóstico nosográfico. Grazziotin e Scortegagna (2012) encontraram evidências de validade das variáveis de relacionamento do ZSC correlacionando-as com o Inventário de Habilidades Sociais (IHS). Participaram do estudo 19 trabalhadores que atuavam em funções que envolviam o relacionamento com o público. Após correlacionar os dois instrumentos, observou-se que percepção positiva da representação humana (GPHR) no ZSC se correlacionou positivamente com índice geral de Habilidades Sociais (GIHS) (r = 0,51, p < 0,05) e com conversação e desenvoltura social (F3) (r = 0,54, p < 0,05). A soma de conteúdo Humano (Sum H) do ZSC teve correlação positiva com autoafirmação e enfrentamentos com risco (F1) (r = 0,53, p < 0,05), e conteúdo Humano Inteiro (Pure H) correlacionou-se positivamente com conversação e desenvoltura social (F3) (r = 0,42, p < 0,05). Já código especial de agressividade (AG) do ZSC teve correlação negativa com autocontrole da agressividade em situações aversivas (F5) com o IHS (r = -0,49, p < 0,05), indicando que, quanto maiores forem os indicadores de agressividade no ZSC, menor será o autocontrole pelo IHS. Além disso, o sombreado Textura (Sum T) apresentou tendência de se correlacionar negativamente com autocontrole da agressividade em situações aversivas (F5) (r = -0,53, p < 0,05), indicando que quanto maiores forem os indicadores de necessidade de contato no ZSC menor será o autocontrole pelo IHS. Todos esses resultados estão de acordo com as expectativas teóricas e contribuíram para evidências de validade para uso do Zulliger no contexto de trabalho. Em outro estudo, Grazziotin e Scortegagna (2013) evidenciaram a validade das variáveis de relacionamento e de produtividade do ZSC correlacionando-as com os resultados no Inventário de Habilidades Sociais (IHS). Nessa pesquisa, os instrumentos foram administrados em 40 participantes com idade entre 18 e 43 anos. Os resultados corroboraram o estudo anteriormente realizado pelas pesquisadoras. Além disso, o número de respostas (R) não obteve correlação significativa do ponto de vista estatístico com os fatores do IHS, mas qualitativamente denotou conexão. Desse modo, os resultados desse estudo também contribuíram para evidências de validade do ZSC. Villemor-Amaral e Quirino (2013) buscaram evidências de validade do ZSC por meio da correlação entre as respostas envolvendo o uso do determinante cor (FC, CF e C) no Zulliger com o aspecto formal (Tapetes, Formações e Estruturas) no teste de Pfister. As pesquisadoras administraram o ZSC e o TPC em 60 crianças, sendo metade com 6 anos e a outra metade com 12 anos. Uma das principais hipóteses da pesquisa era de que crianças mais velhas teriam maior controle emocional. No entanto, as crianças de 12 anos apresentaram mais respostas de impulsividade (C) no ZSC, que se correlacionaram com o aumento de Estruturas do Pfister (r = 0,44; p = 0,01). As autoras problematizaram a possibilidade de esse resultado ser decorrente da puberdade, sugerindo a necessidade de mais estudos no mesmo sentido. As correlações foram baixas, e a única correlação significativa não condiz com o esperado, indicando a necessidade de mais estudos correlacionando essas técnicas. Tavella e Villemor-Amaral (2014) buscaram evidências de validade para uso do ZSC para a avaliação da criatividade infantil. Para tal, 90 crianças de 11 e 12 anos de ambos os sexos realizaram o Teste de Criatividade Figural Infantil (TCFI). A partir dos resultados no TCFI, foram compostos dois grupos que responderam ao ZSC: um de crianças consideradas mais criativas (n = 26), e outrode crianças menos criativas (n = 35). O desempenho no ZSC foi comparado entre os dois grupos por meio do t de Student e houve diferenças significativas nas variáveis que mais frequentemente são indicadas na literatura como relacionadas com a criatividade [M (t = -3,33, p = 0,001) e Ma (t = -2,93, p = 0,001)]. Além disso, o grupo das crianças mais criativas demonstrou propensão a uma visão mais subjetiva, por vezes distorcida da realidade, demonstrando certa flexibilidade e capacidade de observar o que é de senso comum [FQ- (t = -3,74, p = 0,001) com P (t = -3,40, p = 0,001)] e tendências mais criativas e produtivas [R (t = -2,70, p = 0,001)]. O ZSC demonstrou potencial para ser usado com crianças, havendo a necessidade de mais estudos para verificar as evidências de validade para identificação de criatividade. Biasi e Villemor-Amaral (2016) constataram que o ZSC pode diferenciar crianças mais populares de crianças menos populares, indicando evidências de validade de critério para a avaliação de relacionamento interpessoal de crianças. A pesquisa foi realizada em duas etapas. Na primeira, participaram 119 crianças de ambos os sexos do 4º ao 6º ano do ensino fundamental de escolas públicas de uma cidade do interior de São Paulo. Todas as crianças responderam a um sociograma indicando com quais colegas da sala de aula elas mais gostariam de brincar e com quais não gostariam de brincar. Na segunda etapa, as crianças foram organizadas em dois grupos, sendo G1 (n = 26) de crianças mais populares e G2 (n = 22) de crianças menos populares. As crianças participantes da segunda etapa realizaram o ZSC individualmente em sessão única e após seus desempenhos foram comparados. Os resultados indicaram que as crianças consideradas mais populares tendem a se referenciar em suas próprias vivências no momento de tomar decisões, mostrando-se mais empáticas e com interesse pelas pessoas [Mp (U = 221,00, p = 0,04) e P (U = 210,5, p = 0,05)]. Já as crianças menos populares revelaram uma tendência a se afastar das figuras humanas inteiras e reais, dando preferência pelas partes das pessoas e por figuras fictícias [H<(H)+Hd+(Hd) (x2 = 4,16, p = 0,04)]. Esses resultados indicam boas evidências de validade de critério. Villemor-Amaral, Pavan, Tavella, Cardoso e Biasi (2016) encontraram evidências de validade do ZSC para identificar diferenças cognitivas e emocionais em diferentes fases do desenvolvimento infantil. Participaram 103 crianças com idade entre 6 e 12 anos, estudantes de escolas públicas do interior do estado de São Paulo. Foi comparado o desempenho no ZSC entre as crianças de 6 e de 12 anos. As crianças de 6 anos demonstraram mais contenção da expressão emocional de afetos desprazerosos [C’ (p = 0,032, d = 0,60)], identificação com figuras humanas reais e fantasiosas [H (p = 0,029, d = 0,49) e (H) (p = 0,022, d = 0,53)], expectativas de que suas necessidades sejam satisfeitas por outras pessoas [Fd (p = 0,050, d = 0,48)], preocupações com o corpo [An (p = 0,003, d = 0,66); An+Xy (p = 0,001, d = 0,47)], tendência ao oposicionismo [S- %; (p = 0,042, d = 0,46)], percepções mais inusuais e distorcidas dos fatos [FQ- (p = 0,007, d = 0,56), WD com FQ- (p = 0,001, d = 0,93), X-% (p = 0,001, d = 0,80) e Wsum6 (p = 0,007, d = 0,55)]. Já os participantes de 12 anos demonstraram mais criatividade conseguindo observar os fatos de um modo mais subjetivo [M (p = 0,042, d = 0,42) e M com FQu (p = 0,044, d = 0,35)], capacidade de reflexão de um modo mais racional e menos impregnado de afetos disfóricos [FD (p = 0,045, d = 0,31)] e uma percepção adequada da realidade [XA% (p = 0,001, d = 0,72), WDA% (p = 0,001, d = 0,96) e X+% (p = 0,048, d = 0,42)]. Os adolescentes também indicaram estados de ansiedade [FY (p = 0,024, d = 0,28) e ΣY (p = 0,004, d = 0,48)] com indícios de carência afetiva [FT (p = 0,018, d = 0,38) e ΣT (p = 0,018, d = 0,38)] e maior tendência ao isolamento [Ls (p = 0,029, d = 0,37)]. As pesquisadoras concluíram que o Zulliger diferenciou aspectos emocionais, sociais e cognitivos do desenvolvimento infantil típicos das diferentes faixas etárias, contribuindo para evidências de validade de uso do instrumento com o público infantil. Villemor-Amaral e Vieira (2016) buscaram por evidências de validade para o ZSC na avaliação da maturidade para o relacionamento interpessoal em crianças. O ZSC foi administrado em dois grupos de crianças com 6 e 12 anos, totalizando 115 crianças. Foram feitas comparações por sexo e por idade. Nessa pesquisa, meninos apresentaram mais controle emocional [FC (t = -2,803, p = 0,005)], com certa imaturidade intelectual e desconfiança [Ad (t = -2,442, p = 0,015)]. Já as meninas indicaram mais capacidade de empatia e de relacionamentos interpessoais [H (t = 2,010, p = 0,045)] e menor eficiência cognitiva [A (t = 2,098, p = 0,036)]. Na comparação por idade, as crianças menores mostraram uma tendência de perceber as relações como hostis [(H) (t = 2,812, p = 0,006)], enquanto os participantes de 12 anos indicaram maturidade relacional e interesse pelos outros [H (t = -1,877, p = 0,063)] e mais estabilidade nas ações [M (t = -1,940, p = 0,050)]. Os resultados indicam que o teste de Zulliger identificou aspectos de maturidade para o relacionamento interpessoal em crianças, sugerindo boas evidências de validade para uso do Zulliger. Gregoleti e Scortegagna (2017) objetivaram verificar a utilidade do ZSC para avaliar idosos com doença renal crônica (DRC), em especial os construtos cognitivo e de relacionamento e a relação com variáveis externas. Participaram do estudo 60 idosos do Rio Grande do Sul com média de 73 anos (DP = 5,8), organizados em dois grupos: idosos com DRC e idosos sem um quadro clínico, pareados conforme o sexo. Os instrumentos adotados no estudo foram um protocolo elaborado pelas pesquisadoras para levantamentos das características sociodemográficas e de saúde, a escala de avaliação do estado mental Minimental e o ZSC. Após comparação entre o grupo com DRC e o grupo não clínico, verificou-se diminuição das variáveis Xu% (p = 0,031, d = 0,58), R (p = 0,002, d = 0,78), Fd (p = 0,021, d = 0,65) e índice de isolamento (p = 0,006, d = 0,61) e uma tendência não significativa para aumento de X-% (p = 0,337 e d = 0,23) e PHR > GHR. Foram encontrados resultados importantes que sugerem a utilidade do uso do ZSC para a compreensão do funcionamento cognitivo e do relacionamento interpessoal de idosos com DRC. É importante acrescentar que, como já mencionado, além do Sistema Compreensivo, há também no Brasil publicações na perspectiva do sistema que Bruno Klopfer desenvolveu para a análise do Rorschach. No estudo de Angelini e Oliveira (2003) defenderam a possibilidade de uso de um teste verbal, como o Zulliger, na avaliação psicológica de pessoas surdas bilíngues. Os pesquisadores aplicaram o Zulliger individualmente em 10 pessoas com perdas profundas na audição. Para administração, traduziram as instruções padronizadas do Zulliger pelos Sistema Klopfer para a língua brasileira de sinais (Libras). Os resultados foram organizados em três tópicos. No primeiro, referente ao uso de um teste verbal com crianças surdas, as autoras consideraram ser viável o uso de testes verbais com surdos desde que o examinador seja fluente em Libras. No segundo tópico, sobre a necessidade de adaptações, destacaram que o tempo de sinalização na Libras difere do tempo da oralização dos ouvintes. Por fim, no terceiro tópico, compararam o desempenho dos surdos com as tabelas normativas de ouvintes e concluíram que é possível o uso do instrumento com surdos. As pesquisadoras destacaram a relevância de serem conduzidos mais estudos sobre a aplicação do teste em pessoas surdas. Montes e Vaz (2003) utilizaram o Zulliger para constatar as condições afetivo-emocionais em mulheres com síndrome pré-menstrual (SPM). Participaram da pesquisa 43 universitárias, com idade entre 18 e 35 anos, distribuídas em dois grupos: um com 25 mulheres que relataram ter SPM e outro por 18 mulheres sem SPM. Após comparar os gruposusando o t de Student, os resultados indicaram que as mulheres com SPM reagem emocionalmente de forma mais intensa e têm tendência à perda de controle emocional em comparação às mulheres do grupo sem sintomas pré-menstruais. Rodrigues e Alchieri (2009) investigaram a manifestação da afetividade em crianças e jovens com síndrome de Down (SD) e a percepção de pais e educadores quanto à sua expressão no comportamento e nas atividades sociais. Os 70 participantes com SD tinham entre 4 e 26 anos de idade e responderam ao Zulliger pelo Sistema Klopfer, enquanto os pais e os professores responderam a um questionário sobre a percepção da afetividade dos participantes. As crianças e os adolescentes com SD expressaram sua afetividade mediante características positivas e negativas, tal como as crianças que não tinham a síndrome. Na revisão de literatura realizada por Graziotin e Scortegagna (2016), foram encontrados 15 artigos com o Zulliger, publicados entre 2004 e 2014, no cenário brasileiro. As autoras usaram o método Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA). Dos estudos obtidos, identificaram que 73% eram de normatização, validade e precisão, com a utilização do ZSC. As pesquisadoras identificaram que 20% eram com crianças (20%) e 80% eram com adultos idosos, sendo dois (13%) com idosos. Os resultados mostraram que, embora o número de publicações tenha se expandido, são escassos os trabalhos de investigações com o uso do instrumento, especialmente com crianças e idosos. O conjunto de pesquisas relatadas demonstra a utilidade do método de Zulliger para a avaliação da personalidade. É notável nos últimos anos o aumento dos estudos que conferem validade e fidedignidade, mas novos estudos ainda precisam ser feitos visando a ampliar o conhecimento e sua aplicabilidade. Observa-se ainda que as lacunas apontadas por Graziotin e Scortegagna (2016) aparentemente foram consideradas pelos pesquisadores da área de modo que, das cinco pesquisas realizadas após 2014, quatro eram com crianças e uma com idosos. Por fim, destaca-se que além das publicações nacionais, há estudos internacionais que podem ser encontrados na Rorschachiana, revista da Sociedade Internacional de Rorschach (International Society of Rorschach – ISR), ou por meio do ResearchGate, uma rede social para cientistas. CARACTERÍSTICAS DO TESTE E SUA APLICAÇÃO Neste capítulo, será considerada a versão do ZSC (Villemor-Amaral & Primi, 2009). Nesse sistema, o material é composto por três cartões que contêm manchas de tinta ambíguas, e uma folha de localização das respostas para uso exclusivo do psicólogo que vai aplicar o teste. O instrumento pode ser aplicado em qualquer pessoa que tenha condições de se expressar verbalmente e que tenha suficiente acuidade visual, não importando a idade ou o nível cultural. A aplicação é sempre individual e dura cerca de meia hora, tendo duas fases distintas. Na primeira, chamada fase de associação ou de resposta, os cartões são apresentados um de cada vez em uma sequência fixa predeterminada. Ao receber o cartão, o examinando deve dizer com o que cada uma das manchas se parece, enquanto o examinador deve fazer anotações completas e literais da fala do examinando, considerando cada detalhe da fala e do comportamento durante as respostas. É desejável que a pessoa examinada forneça um número suficiente de respostas para que seja feita uma boa análise. Protocolos com menos de seis respostas podem ter sua confiabilidade reduzida. Por isso, um bom preparo da pessoa antes de fazer a prova é fundamental para que ela responda ao teste com interesse e engajamento. Estimular um número maior de respostas, caso apenas uma seja dada na primeira prancha, é absolutamente necessário para que o examinando entenda que é preciso produzir mais para que os resultados sejam confiáveis. Após a fase de respostas, inicia-se a etapa seguinte, chamada de inquérito, na qual o examinando deve indicar em que área da mancha localiza sua resposta, que pode ocorrer na mancha toda ou em partes dela (localização das respostas), e esclarecer quais características da mancha possibilitaram que ele achasse parecido com aquilo (determinantes das respostas). Nessa fase, também é preciso que o psicólogo registre todas as falas da pessoa, tal como foram ditas, e anote a área de localização da resposta em uma folha que contenha uma reprodução reduzida de cada cartão. Após a aplicação individual, caso o examinando não tenha emitido o número mínimo de respostas durante a primeira fase, haverá uma fase intermediária entre a associação e o inquérito. Essa fase é conhecida como repassagem. Na repassagem, é explicado ao examinando que ele demonstrou compreensão da tarefa, mas que para a análise do material é importante que forneça uma quantidade maior de respostas. Desse modo, todos os cartões são repassados na mesma sequência para que ele tente produzir novas respostas, diferentes daquelas anteriormente dadas. Estas serão consideradas respostas adicionais e serão computadas igualmente na análise quantitativa dos dados. O fato de terem sido vistas posteriormente, mediante solicitação extra do examinador, será considerado na análise qualitativa dos dados. Após a aplicação do teste, as respostas são rigorosamente codificadas, o que varia conforme o sistema interpretativo adotado. No Quadro 16.2.1, é possível visualizar uma síntese da aplicação. QUADRO 16.2.1 Síntese dos procedimentos de aplicação Fase de associação ou fase de respostas • Inicialmente sem interferência do aplicador. • Aplicador interfere se for dada resposta única na prancha 1 ou se dar mais de 5 respostas aos estímulos na prancha 1. Fase de inquérito ou de esclarecimento de respostas • Participação ativa do aplicador, esclarecendo a localização e o determinante de cada resposta. Fase da repassagem • (Eventual) Deverá ocorrer entre a fase da associação e de inquérito se houver um número reduzido de respostas. 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. PANORAMA GERAL SOBRE ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DAS RESPOSTAS Não é propósito deste capítulo apresentar detalhadamente o processo de classificação e interpretação das respostas dadas ao teste devido à sua complexidade. Para trabalhar com o teste, é necessária a leitura cuidadosa dos manuais disponíveis. Entretanto, para uma compreensão geral de como a análise funciona, o sistema de codificação com os seus principais passos será apresentado a seguir e sintetizado no Quadro 16.2.2. QUADRO 16.2.2 Síntese dos critérios de codificação das respostas Localização: W, D, Dd e S Qualidade evolutiva: +, o, v e v/+ Determinantes: F, M, FM, m, FC, CF, C, FC’, C’F, C’, FT, TF, T, FV, VF, V, FY, YF, Y, FD, Fr e rF Qualidade formal: +, o, u e - Par: (2) Conteúdo: H, (H), Hd, (Hd), A, (A), Ad, (Ad), An, Xy, Cg, Bl, Cl, Na, Bt, Fd, Hh, Ge, Ls, Sc, Fi, Ex, Sx, Ay, Art e Id Popular: (P) Atividade organizativa: ZW, ZS, ZA e ZD Códigos Especiais: DV, DR, INC, FAB. CONTAM, ALOG, PSV, AB, AG, COP, MOR, PER, CP, GHR e PH Classificação das respostas Conforme já mencionado, com base no inquérito, as respostas recebem diversos códigos que representam as suas características, conforme se verá no esquema a seguir: Localização: registra em que área da mancha a pessoa viu sua resposta e pode ser de quatro tipos básicos: Globais (W), partes frequentemente destacadas para se dar uma resposta (D), áreas menos frequentes (Dd) ou S, para quando a pessoa usa a parte branca da mancha, em uma inversão ou combinação de figura-fundo. Qualidade evolutiva, que indica o grau de definição da resposta dada e sua complexidade, podendo ser respostas que combinam vários objetos (+), um objeto único percebido (o), um objeto vago (v) ou vários conceitos vagos combinados em uma única resposta (v/+). Determinantes: indicam que aspecto da mancha sugeriu aquela resposta para a pessoa. Os determinantes podem ser de um modo geral a Forma, a Cor, a impressão de movimento ou as características de sombreado e tonalidades das manchas, cada uma dessas categorias com os devidossubtipos, totalizando 22 tipos diferentes de determinantes. A qualidade formal: indica o quanto a resposta adequa-se ao formato da área onde está localizada, conforme estatisticamente demonstrado, ou o quanto se afasta dela. São quatro os tipos de qualidade formal, que vão da mais precisa à mais distorcida (+, o, u, -). Respostas par sinalizam quando a pessoa se refere a dois objetos iguais devido à característica simétrica das manchas. Categorias de conteúdo que se referem ao tipo de objeto identificado, tais como figuras humanas, animais, plantas e paisagens, constituindo 27 tipos. Um código que indica se aquela resposta é muito comum na população (vista por 25% ou mais das pessoas). 8. 9. Atividade organizativa que indica o grau de complexidade e sofisticação do raciocínio quando há combinação de mais de um objeto em uma resposta, podendo ser de quatro tipos (ZW, ZS, ZD e ZA). Códigos especiais que se referem a deslizes cognitivos evidenciados na verbalização ou na percepção da resposta ou a características especiais de conteúdo. Essa categoria envolve 15 subcategorias. A interpretação dos dados Após a classificação das respostas de acordo com as nove categorias descritas, atribuindo-se vários códigos a cada uma, são feitas contagens de frequência e cálculos com esses códigos que vão levar a resultados que serão comparados com dados normativos. Estes se originam em estudos estatísticos e vão ajudar a construir o psicograma ou sumário estrutural do indivíduo, que sintetiza a análise quantitativa dos resultados. Para a realização dessa análise, os dados são organizados em agrupamentos de indicadores que envolvem aspectos como recursos e controle, tolerância ao estresse, dinâmica afetiva, autopercepção, relacionamento interpessoal e as funções cognitivas que consideram o processamento da informação, a mediação e a ideação. Posteriormente, deve ser feita uma análise qualitativa, considerando seu conteúdo idiográfico, que extrapola a classificação padronizada das respostas e verifica suas especificidades individuais. Na continuidade da interpretação dos dados, a combinação da análise quantitativa (sumário estrutural) com a análise qualitativa deve ser verificada à luz da história do examinando e do motivo de realização da avaliação. E, por fim, integram-se esses dados com os obtidos por meio da entrevista e de outros testes, para uma visão abrangente e mais fidedigna da pessoa avaliada. Dessa forma, fica clara a abrangência de dados sobre o funcionamento psíquico que o Zulliger permite revelar. É essa abrangência que o torna um instrumento útil nos mais variados campos de atuação do psicólogo, tais como os contextos organizacional, educacional, clínico e forense. CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE O INSTRUMENTO E SEU USO O Zulliger, como método projetivo, permite explorar aspectos mais profundos do funcionamento psíquico da pessoa assim como ocorre no Método de Rorschach. Portanto, é possível fazer interpretações estruturais, associadas aos critérios de codificação das respostas, e temáticas, envolvendo uma análise interpretativa do conteúdo pessoal que é projetado sobre a mancha de tinta (Weiner, 2000), o que vai revelar aspectos mais idiossincráticos do examinando. No que se refere aos aspectos estruturais, é preciso que se considerem as características psicométricas envolvidas no uso do instrumento, a começar pela padronização da aplicação. O Zulliger é bastante complexo e requer treinamento intenso para que seja administrado de modo adequado, conforme padronização. A administração exige também um conhecimento técnico prévio quanto aos critérios de codificação, interpretação das respostas, já que isso auxiliará na realização do inquérito sobre as respostas do sujeito. Isso demanda muito treino e habilidade do profissional que pretende usar o método, demandando supervisão para um efetivo aprendizado. Conforme visto nas pesquisas mencionadas, o ZSC foi alvo de diversos estudos que buscaram por evidências de sua validade tanto para adultos quanto para crianças. Entretanto, ainda assim, há algumas lacunas relacionadas com a validade da interpretação de alguns indicadores e às normas para faixas etárias específicas, tais como adolescência e velhice. Além disso, as pesquisas têm sido realizadas em algumas regiões do Brasil sendo necessárias mais investigações que verifiquem semelhanças ou diferenças normativas devidas a diferenças culturais. Quanto aos estudos de precisão, embora esses ainda sejam incipientes no Brasil (Villemor-Amaral, Machado, & Noronha, 2009), há no manual do ZSC para adultos (Villemor-Amaral & Primi, 2009) os estudos de consistência entre avaliadores e de estabilidade temporal, que são os mais indicados no caso dos métodos projetivos (Fensterseifer & Werlang, 2008). Parte das dificuldades para realizar esse tipo de pesquisa envolve particularidades do próprio instrumento. Pesquisar com os métodos projetivos é uma tarefa bastante complexa (Fensterseifer & Werlang, 2008), em especial no que se refere à coleta e à interpretação dos dados. No caso das pesquisas com o ZSC, destaca-se a dificuldade de acesso à quantidade representativa de amostra, uma vez que a administração ocorre de modo individual, exige estabelecimento de um rapport e boa interação entre aplicador e avaliado. Quanto à interpretação do desempenho no Zulliger, reforça-se que este é muito abrangente. Assim, além do rigor na codificação e análise do sumário estrutural do Zulliger, consideram-se os demais fenômenos que emergem durante a avaliação, tais como verbalizações e comportamentos expressos durante o exame, as temáticas preferenciais e, sobretudo, a associação dos dados gerados pelo Zulliger com os demais dados obtidos no decorrer do processo de avaliação como um todo, que deve associar outros instrumentos. Para a interpretação do material, não devem ser considerados os indicadores de modo isolado, devendo ser relacionados com as demais informações sobre o examinando (Weiner, 2000; Villemor- Amaral & Primi, 2009). Por fim, consideramos que o Zulliger é um método relativamente rápido quando comparado a outros métodos projetivos e que, nos últimos anos, vem acumulando uma série de estudos psicométricos. Esses estudos sugerem tratar-se de um instrumento interessante para uso em diversos contextos, em especial o organizacional e clínico. Esperamos que, a partir do exposto, mais pesquisadores sigam ampliando as pesquisas com o método, contribuindo com o aprimoramento constante para uso do Zulliger no Brasil. REFERÊNCIAS Angelini, S. N., & Oliveira, R. V. (2003). Aplicação do teste verbal Zulliger (forma individual) em pessoas surdas. Psic: revista da Vetor Editora, 4(1), 82-93. Biasi, F. C., & Villemor-Amaral, A. E. (2016). Evidências de validade no Zulliger-SC para avaliação do relacionamento interpessoal de crianças [Evidence of validity of Zulliger-sc to the assessmentof children’s interpersonal relationship]. Psico, 47(1), 13-23. Conselho Federal de Psicologia. (CFP). (2016). Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos. Recuperado de: http://satepsi.cfp.org.br/. Exner, J. E. (1999). Manual de Classificação do Rorschach para o Sistema Compreensivo. São Paulo: Casa do Psicólogo. Fensterseifer, L., & Werlang, B. S. G. (2008). Apontamentos sobre o status científico das técnicas projetivas. In A. E. Villemor-Amaral, & B. S. G. Werlang. Atualizações em Métodos projetivos para avaliação psicológica (pp.15-33). São Paulo: Casa do Psicólogo. Ferreira, M. E. A., & VillemorAmaral, A. E. de (2005). O teste de Zulliger e avaliação de desempenho [The Zulliger test and job performance evaluation]. Paidéia, 15(32), 367-376. Franco, R. da R. C., & Villemor-Amaral, A. E. (2012). O Zulliger e as constelações do rorschach no sistema compreensivo [Zulliger and Constellations of the Rorschach applied in System- Comprehensive]. Avaliação Psicológica, 11(1), 141-152. Grazziotin, J. B. D. D., & Scortegagna, S. A. (2016). Revisão de pesquisas brasileiras sobre o Teste de Zulliger publicadas em artigos. Avaliação Psicológica, 15(2),227-235. Grazziotin, J. B. di D., & Scortegagna, S. A. (2012). Zulliger e Habilidade Social: Evidências de validade no contexto empresarial [Zulliger and social skills: validity evidences in business context]. Psicologia: Reflexão e Crítica, 25(1), 69-78. Grazziotin, J. B. di D., & Scortegagna, S. A. (2013). Relacionamento interpessoal, produtividade e habilidades sociais: um estudo correlacional [Interpersonal relationships, productivity and social skills: a correlational study]. Psico-USF, 18(3), 491-500. Gregoleti, V., & Scortegagna, S. A. (2017). The Zulliger-CS in Elderly on Hemodialysis and the Relationship Between External Variables. Paidéia, 27(66), 43-50. Mahmood, Z. (1990). The Zulliger Test, its past and future. British Journal of Projective Psychology, 35(2), 2-16. Mattlar, C. E., Sandahl, C., Lindber, S., Lehtinen, V., Carlsson, A., Vesala, P., & Mahmood, Z. (1990). Methodological issues associated with the application of the comprehensive system when analyzing the Zulliger, and the structural resemblance between the Zulliger and the Rorschach. British Journal of Projective Psycology, 35(2), 17-27. Montes, R. M., & Vaz, C. E. (2003). Condições afetivoemocionais em mulheres com síndrome pré-menstrual através do ZTeste e do IDATE. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 19(3), 261267. Rodrigues, E. C., & Alchieri, J. C. (2009). Avaliação das características de afetividade em crianças e jovens com síndrome de Down. Psico-USF, 14(1), 107-116. Tavella, R. R., & Villemor-Amaral, A. E. (2014). O teste de Zulliger-SC: Avaliação da criatividade em crianças [The Zulliger-SC test: assessment of children’s creativity]. Estudos de Psicologia, 31(4), p. 489-497. Villemor-Amaral, A. E., & Cardoso, L. M. (2012). Validade Convergente do Tipo de Vivência (EB) no Teste de Zulliger/SC [Convergent Validity Evidence of the Personality Style (EB) in Z- test/SC]. Psico, 43(1), 109-115. Villemor-Amaral, A. E., & Franco, R. R. C. (2008). O teste de Zulliger no Sistema Compreensivo. In A. E. Villemor-Amaral, & B. S. G. Werlang (2008). Atualização em Métodos Projetivos para Avaliação Psicológica [Updates on projective methods for psychological evaluation] (pp.15-33). São Paulo: Casa do Psicólogo. Villemor-Amaral, A. E., & Machado, M. A. dos S. (2011). Indicadores de depressão do Zulliger no Sistema Compreensivo (ZSC) [The depression index in the Zulliger Comprehensive System (ZSC)]. Paidéia, 21(48), 21-27. Villemor-Amaral, A. E., & Primi, R. (2009). Teste de Zulliger no Sistema Compreensivo ZSC: Forma individual [Zulliger test the Comprehensive System ZSC: Individual form]. São Paulo, SP: Casa do Psicólogo. Villemor-Amaral, A. E., & Quirino, G. de S. (2013). Estudo comparativo entre indicadores afetivos das técnicas de Pfister e Zulliger [Comparative study between the affective indicators of Zulliger and Pfi ster tests]. Avaliação Psicológica, 12(1), 1-7. Villemor-Amaral, A. E., & Vieira, P. G. (2016). Zulliger (CS) in Assessing the Relational Maturity of Children. Paidéia, 26(5), 369-376. Villemor-Amaral, A. E., Machado, M. A. dos S., & Noronha, A. P. P. (2009). O Zulliger no sistema compreensivo: um estudo de fidedignidade [The Zulliger in the Comprehensive System: A Reliability Study]. Psicologia ciência profissão, 29(4), 656-671. Villemor-Amaral, A. E., Pavan, P. M. P., Tavella, R. R., Cardoso, L. M., & Biasi, F. C. (2016). Validity Evidence of the Z-Test-SC for Use With Children. Paidéia, 26(64), 199-206. Weiner, I. B. (2000). Princípios de interpretação do Rorschach. São Paulo: Casa do Psicólogo. Zdunic, A. L. (2007). El test de Zulliger en la evaluación de personal: aportes del Sistema Comprehensivo de Exner [Zulliger test in evaluating personal: contributions Exner Comprehensive System]. (3a ed.). Buenos Aires: Paidós. Zulliger, H., & Salomon, F. (1970). El Test de Zulliger. Kapelusz: Buenos Aires. LEITURAS RECOMENDADAS Salomon, F (1970). Algumas Notas biográficas sobre o autor. H. Zulliger, & F. Salomon. El Test de Zulliger. Kapelusz: Buenos Aires. Zulliger, H. (1970) Prefácio à Primeira Edição do Teste Individual de Zulliger. In H. Zulliger, & F. Salomon. El Test de Zulliger. Kapelusz: Buenos Aires.
Compartilhar